Na Carta de São Paulo aos Gálatas diz:
“Quanto a mim, não aconteça gloriar-me
senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo
está crucificado para mim e eu para o mundo”
(Gl 6, 14).
Quem quiser ser amigo de Jesus Cristo e entrar
na Vida Eterna deve percorrer o caminho percorrido pelo Senhor.
Ele sofreu e a nossa vida não pode ser diferente. Aquele que
busca uma vida fácil jamais terá paz na alma e alegria de seguir
o Salvador, porque Ele não está na porta larga e no caminho
espaçoso. Jesus está a caminho para Jerusalém, onde será
crucificado, e à multidão que o segue declara a necessidade de
carregar, com Ele, a cruz, com amor e constância. Carregou a
cruz até morrer cravado nela; não há de pensar o cristão em
carregá-la só uma ou outra vez na vida e, sim, abraçá-la cada
dia até a morte. Como não é lícito preferir a Cristo criatura
alguma, nem a mais querida, muito menos o seria antepor-lhe o
próprio bem-estar, vantagens ou satisfações próprias. Para
acompanhar quem morreu na cruz para nos salvar, havemos de estar
dispostos a também arriscar a vida; é a sabedoria ensinada por
Jesus, tão oposta aos raciocínios humanos que se preocupam com
os bens transitórios e descuidam os eternos (Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena).
Santa Gema Galgani “cantou” sobre a cruz:
“Paixão de
Jesus… Vamos todos a Jesus na Cruz. Um Deus crucificado! Junto
de Ti não se sofre mais. Paixão de Jesus… Que eu possa sofrer
tanto e contigo; é sempre para mim um dia de festa. Ó espinhos,
ó Cruz, ó pregos, quantas vezes eu vos disse? Vingai sobre mim,
não sobre Jesus. Ó Cruz, por que te vingas sobre Jesus? Sobre
Jesus não, sobre mim… Estou na Cruz de verdade. Ó Cruz santa,
contigo quero viver, contigo quero morrer. Agradeço-te, que por
teu amor, me reténs na Cruz. Se Tu não me retivesses assim na
Cruz, quantas vezes te haveria abandonado! Ó Paixão, Paixão de
Jesus, eu te amo! Amo sim a Cruz, por que sei que a Cruz está
sobre os ombros de Jesus. Paixão de Jesus!… Anjos do céu vinde,
vinde todos a compadecer Jesus. Se eu devesse estar no mundo, um
momento sequer sem sofrer, dir-te-ia: Faze-me morrer neste
instante. Àquele mesmo cálice ao qual Jesus, aproximaste teus
lábios, desejo beber eu também. Ó Jesus, eu sei que te é cara a
Cruz… Peço-te: ou crucifica minha alma, ou faze-me morrer… Não
te importes com o meu pranto: podes crucificar-me… Ó pudesse
mergulhar na Paixão de Jesus como desejo!… Quando estarei toda
imersa nas chagas do meu Jesus, naqueles espinhos, pregos,
tormentos?… Meu Deus, a mim as tuas chagas. Elas são minhas e
não mais tuas: quero-as. Sim, meu Jesus, as chagas que te fiz
não são tuas, são minhas. Que eu sofra ó Jesus, que eu sofra
sempre, e este sofrer me sirva de expiação. Quando meus lábios
se aproximarem dos teus para beijar-te, faze-me sentir o teu
fel. Quando meus ombros se apoiarem nos teus, faze-me sentir os
teus flagelos. Quando tua carne se unir à minha, faze-me sentir
tua paixão. Quando minha cabeça se aproximar da tua, faze-me
sentir teus espinhos. Quando o meu coração se achegar ao teu,
faze-me sentir tua lança e Tu estarás sempre comigo – assim – na
cruz. Ó Jesus eu te percebo: sinto o teu sangue que corre nas
minhas veias. Jesus eu te sinto! Quem me separará de ti Jesus? A
tribulação talvez, a cruz? Quanto me alegra, que depois de tanto
cansada pelo combate, posso repousar-me um pouco junto ao Teu
coração. E junto ao Teu coração, como se está bem… A cruz, pois,
será minha consolação, minha doçura, glória minha. Mesmo se
gemer os meus sentidos, se entristecer o amor próprio, tremendo
as paixões, se ressentir a natureza… Se eu for tua companheira
nas penas, sê-lo-ei também na glória”
(Trecho do canto sobre a cruz).
Um religioso anônimo escreve:
“Seja o teu crucifixo o
primeiro recurso no tempo das tribulações. Por muito que esteja
enfraquecida a tua coragem, nele encontrarás a força necessária.
Por muita amargura que te encha o coração, serás consolado.
Sofres por parte dos homens? A cruz há de mostrar-te o maior dos
Pais, dos Mestres, dos Justos, dos Amigos – ultrajado,
abandonado e perseguido. Da parte do Inferno é que sofres? Vê na
cruz o bom Jesus – alvo de todas as fúrias infernais. Pensarás
que te trate rigorosamente o Céu? Considera um momento todo o
rigor que o Pai Celeste exerceu sobre o Filho bem-amado!
Castiga-te Deus os pecados com algumas penas temporais? Que são
tais penas em comparação com as que sofreu Jesus para te livrar
das eternas?” (Imitação de Maria).
Dom Duarte Leopoldo escreve:
“Meu crucifixo! Tu me ensinas como e até
quando me será preciso amar o meu próximo. ‘Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei’… me dizes tu. Mandamento difícil e
humilhante. Se se tratasse de fazer bem aos que me fizeram bem,
fácil e deleitoso me seria o cumprir a tua vontade, pois ela
encontraria eco dentro do meu próprio coração. Mas tu queres que
eu perdoe aos que me fizeram mal, não somente que lhes perdoe,
mas que os ame ainda como tu mesmo nos amaste. E eu vi as tuas
chagas, contemplei-te as mãos e os pés transpassados de duros
cravos, a cabeça coroada de espinhos, os braços abertos em
atitude de perdão. E eu disse e repito, inteiramente rendido aos
argumentos do teu amor: Sim, ó meu Jesus, perdoo-lhes por amor
de ti, perdoo-lhes porque mais gravemente tenho eu te ofendido,
do que eles a mim” (Trecho: Meu crucifixo).
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C)
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