Método para
assistir à Santa Missa pela meditação da Paixão
(São Pedro Julião Eymard, A Divina
Eucaristia, Vol 2)
Para assistir
devotamente à Santa Missa, meditai nos diversos passos da Paixão do
Salvador, renovados ali de maneira tão admirável.
Preparação — Considerai o
Templo como o lugar mais santo e respeitável do mundo, como um novo
Calvário. O Altar, de pedra, contém os ossos dos Mártires. Os
círios, que ardem e se consomem, são o símbolo da fé, esperança e
caridade. As toalhas brancas, que cobrem o Altar, lembram-nos as
mortalhas em que foi envolvido o Corpo de Jesus Cristo. O Crucifixo
no-lo representa morrendo por nós.
No sacerdote, vede
Jesus Cristo com as vestes de sua Paixão: no amito, o pedaço de
tecido com que os carrascos velaram a Face do Salvador; na alva, a
túnica branca de escárnio com que o vestiu o impudico Herodes; no
cordão, os laços com que os Judeus o ataram no Jardim das Oliveiras,
a fim de levá-lo aos tribunais; no manípulo, as cadeias com que foi
preso à coluna de flagelação; na estola, as cordas com que o puxaram
pelas ruas de Jerusalém com a Cruz às costas; na casula, o manto
púrpura que lhe lançaram no pretório, ou a Cruz que lhe impuseram.
Numa palavra, o
ministro, trazendo as vestes sacerdotais, representa-nos o próprio
Jesus Cristo, caminhando para o suplício do Calvário. E, além disso,
ensina-nos quais as disposições com que nos devemos apresentar ao
Santo Sacrifício.
O amito, colocado
primeiro na cabeça e logo depois nos ombros, é símbolo da modéstia e
do recolhimento; a alva branca e o cordão, da pureza; o manípulo, da
contrição; a estola, da veste de inocência; a casula, do amor da
cruz e do jugo do Senhor.
O
sacerdote entra e se aproxima do altar levando o cálice.
Vede Jesus dirigindo-se ao Jardim de Getsêmani para ali começar sua
Paixão de Amor. Com os Apóstolos, acompanhai-o, mas ficai a velar e
rogar com Ele. Afastai toda distração e todo pensamento alheios a
tão tremendo Mistério.
O
sacerdote, aos pés do Altar, inclina-se, ora e humilha-se
profundamente, à vista dos seus pecados.
Jesus, no Jardim, prostra-se com a face por terra; humilha-se pelos
pecadores; um suor de Sangue, fruto de sua imensa dor, corre-lhe
pelo Corpo, ensangüentando-lhe as vestes, manchando a terra. É que
Ele tomou para si nossos pecados, com toda a amargura inerente.
A vós, então, cabe
confessar com o sacerdote vossas faltas; com ele pedir humildemente
perdão e receber a absolvição, para que, purificado, possais
assistir ao Santo Sacrifício. Se esta só consideração vos ocupar
durante todo o Sacrifício; se vos for dado participar dos
sentimentos e da agonia de Jesus; se a graça vos retiver ao seu
lado, está bem. De outra forma, acompanhai-o no percurso da Paixão.
O
sacerdote, subindo o Altar, beija-o.
Judas, chegando ao Jardim das Oliveiras, dá a Jesus um beijo
pérfido. Ah! Quantos não tem ele recebido dos seus filhos e
ministros infiéis!
Ai de mim! Nunca o
traí eu? Nunca o entreguei aos seus inimigos ou às minhas paixões?
E, no entanto, Ele muito me amou!
Podeis também
contemplar a Jesus preso, tornando a Jerusalém, a fim de comparecer
perante seus inimigos e deixando-se levar com a doçura do Cordeiro.
Pedi-lhe a paciência e a mansidão nas provações por parte do
próximo.
O
sacerdote começa o intróito e benze-se.
Jesus é conduzido à presença do sumo Pontífice Caifás, onde Pedro o
renega. Ah! Quantas vezes não reneguei a sua verdade, a sua lei, as
minhas promessas! E não foi nem o temor, nem a surpresa que me
levaram a renegar meu Salvador. Ai de mim! Sou, por conseguinte,
mais culpado do que Pedro, cujas lágrimas correram sem demora, uma
vez cometida a culpa. E ele chorou-a toda a vida, enquanto meu
coração permanece duro e insensível.
O
sacerdote recita o Kyrie.
Jesus clama ao Pai por nós. Aceitai, com Ele, todos os sacrifícios
que Deus vos pedir.
O
sacerdote recita as Orações e a Epístola.
Jesus, em presença de Caifás, confessa sua Divindade, ciente de que
a sentença de morte lhe virá punir semelhante declaração.
Meu Deus,
fortificai, aumentai minha fé nessa mesma Divindade, para que, mesmo
em perigo de vida, eu a adore, a ame e a confesse, feliz em poder
dar meu sangue para defendê-la.
O
sacerdote lê o Evangelho.
Jesus, na presença de Pilatos, dá testemunho de sua realeza. Sede
sempre, ó Jesus, rei do meu espírito pela vossa Verdade, rei do meu
coração pelo vosso Amor, rei do meu corpo pela vossa Pureza, rei de
toda a minha vida pela vontade que tenho de consagrá-la à vossa
maior Glória.
Recitai em seguida
o Credo, com fé e piedade, lembrando-vos de que o Salvador
morreu em defesa da Verdade.
O
sacerdote oferece o pão e o vinho do sacrifício, a hóstia a Deus Pai.
Pilatos apresenta Jesus ao povo exclamando: Ecce Homo, eis o Homem!
Seu estado excita compaixão. A flagelação feriu-o até o Sangue, e a
coroa de espinhos lhe ensangüentou a Face. Um manto de púrpura, já
gasto, junto à vara que leva na mão, fazem dele um rei de comédia.
Pilatos propõe ao povo que lhe conceda a liberdade. Mas este não
quer e responde: Seja crucificado! Crucifigatur! E nesse
momento Jesus se oferecia ao Pai pela salvação do mundo todo e do
seu povo em particular, e o Pai aceitava sua oblação.
Ofereço-vos, com o
sacerdote, ó Pai Santo, a Hóstia pura e imaculada de minha salvação
e da salvação de todos os homens. Ofereço-vos, em união com essa
oblação divina, minha alma, meu corpo e minha vida. Quero continuar
a fazer reviver em mim a santidade, as virtudes e a penitência de
vosso divino Filho. O Domine, regna super nos.
O
sacerdote lava as mãos.
Pilatos também lavou as mãos para protestar a inocência de Jesus.
Ah! Meu Salvador, lavai-me no vosso Sangue puríssimo e purificai-me
dos muitos pecados e imperfeições que maculam minha vida.
O
sacerdote convida os fiéis, no Prefácio, a louvar a Deus.
Jesus, Homem das Dores, há pouco aclamado por aqueles que hoje o
coroam de espinhos e o atam num poste, recebe ali as homenagens
derrisórias e sacrílegas de seus carrascos, que o atormentam com
ultrajes indignos, lhe cospem na Face e dele zombam. Ai de nós! Tais
são as homenagens que nosso orgulho, nossa sensualidade, nosso
respeito humano rendem a Jesus Cristo!
No
Cânon, o sacerdote inclina-se, ora e santifica as ofertas por
numerosos Sinais-da-Cruz.
Jesus curva os ombros sob o fardo da Cruz. Toma-a com amor, beija-a,
leva-a com carinho, encaminhando-se para o Calvário, dobrado sob
esse peso de amor. Ah! Ele carrega meus pecados a fim de expiá-los,
e minhas cruzes a fim de santificá-las. Sigamos Jesus Cristo,
levando a Cruz e subindo penosamente o monte Calvário.
Acompanhemo-lo com Maria, as santas mulheres e Simão, o Cireneu.
O
sacerdote impõe as mãos sobre o cálice e a hóstia.
Os carrascos, apoderando-se de Jesus Cristo, despem-no
violentamente, e estendem-no sobre a Cruz, onde o crucificam.
Consagração e Elevação. O
sacerdote consagra o pão e vinho no Corpo, Sangue, Alma e Divindade
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Adora, de joelhos, seu Salvador e seu
Deus, real e verdadeiramente presente em suas mãos. Eleva-o, em
seguida, apresentando-o à adoração dos fiéis. É Jesus erguido na
Cruz, entre o céu e a terra, qual Vítima e Mediador entre Deus
irritado e nós, míseros pecadores.
Adorai e oferecei
esta Vítima Divina em expiação, não somente pelos vossos próprios
pecados, mas também pelos pecados dos homens em geral e dos vossos
pais, parentes e amigos em particular. Prostrados a seus pés, seja o
grito de vosso coração: Meu Senhor e meu Deus!
Considerai a Jesus
estendido no Altar, como outrora na Cruz, adorando ao Pai, no
profundo aniquilamento de sua própria Glória, rendendo-lhe graças
por todos os bens concedidos aos homens seus irmãos — e irmãos
redimidos — mostrando-lhe as Chagas, ainda abertas, que pedem graça
e misericórdia pelos pecadores; rezando por nós de tal forma, que o
Pai nada lhe pode recusar, a Ele, seu Filho, e Filho que se imolou
por amor à sua Glória.
Prestai ao próprio
Jesus o culto que Ele presta ao Pai. Adoro-vos, ó meu Salvador
presente realmente sobre o Altar para renovar em meu benefício o
Sacrifício do Calvário. A vós que sois o Cordeiro, ainda e
diariamente imolado, bênção, glória e poder nos séculos dos séculos!
Rendo-vos, agora, e por toda a eternidade vos renderei ações de
graças pelo grande Amor que me manifestastes.
O
sacerdote invoca, profundamente inclinado, a Clemência Divina para
si e para todos.
É Jesus quem diz: Pai, perdoai-lhes, que não sabem o que fazem.
Adorai tamanha Bondade que, desculpando sempre os criminosos, não
lhes quer chamar nem inimigos, nem carrascos.
Perdoai-me, ó meu
Salvador, que minha culpa excede a deles, porquanto eu vos ofendi,
embora soubesse que éreis o Messias, meu Salvador e meu Deus.
Perdoai-me. Vossa Misericórdia será maior e, por conseguinte, mais
digna ainda do vosso Coração. Se sou pródigo, sou todavia, filho.
Eis-me aos vossos pés.
O
sacerdote ora pelos mortos.
Jesus na Cruz reza pelos mortos espirituais, pelos pecadores. Sua
prece converte um dos dois celerados que primeiro o haviam
insultado, blasfemando contra Ele. “Lembrai-vos de mim, Senhor,
quando estiverdes no vosso Reino”, diz-lhe o bom ladrão. E Jesus
responde-lhe: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”.
Ó meu Deus,
pudesse eu, na hora da morte, fazer-vos o mesmo pedido e ouvir a
mesma resposta! Lembrai-vos de mim nesse momento terrível, como vos
lembrastes do ladrão penitente.
No “Pater”,
o sacerdote invoca o Pai Celeste.
Jesus na Cruz recomenda sua Alma ao Pai. Pedi a graça da
perseverança final.
No
“Libera nos”,
o sacerdote roga para ser preservado dos males desta vida.
Jesus, no grande Amor que nos tem, tem sede de novos sofrimentos e
bebe, para expiar nossas gulodices, o fel misturado com vinagre.
O
sacerdote divide a Hóstia santa.
Jesus inclina a cabeça, a fim de lançar sobre nós um último olhar
todo de amor e expira, exclamando: Tudo está consumado.
É a Alma que se
separa do Corpo! Adora, ó minha alma, a Jesus morrendo, e já que Ele
morreu por ti, saibas tu também viver e morrer por Ele. Implorai a
graça de uma morte boa e santa, nos braços de Jesus, Maria e José.
O
sacerdote, no “Agnus Dei”, bate três vezes no peito.
Enquanto Jesus expira, o sol se eclipsa de dor, a terra estremece
apavorada, os túmulos se abrem. Então, carrascos e espectadores,
batendo no peito, confessam publicamente seu erro, em presença de
Jesus na Cruz, proclamam-no Filho de Deus e afastam-se contritos e
perdoados. Uni-vos à sua contrição e merecereis o mesmo perdão.
O
sacerdote bate no peito e comunga.
Jesus é descido da Cruz, e colocado nos braços de sua Mãe dolorosa.
É embalsamado, amortalhado num lençol branco e colocado num sepulcro
novo.
Ó Jesus, ao
receber-vos no meu corpo e na minha alma, desejo que meu coração
seja não um túmulo, mas sim um templo alvo e puro, ornado de belas
virtudes, onde só Vós reinareis.
Ofereço-vos minha
alma para morada. Vinde nela habitar, qual Senhor supremo. Não seja
eu um túmulo de morte, mas um tabernáculo vivo. Ah! Aproximai-vos de
mim, pois longe de vós, desfaleço.
Acompanhai a Alma
de Jesus enquanto desce ao limbo a levar às almas dos justos a sua
libertação. Uni-vos à sua alegria, ao seu reconhecimento e dai-vos
para sempre ao vosso Salvador e vosso Deus.
O
sacerdote purifica o cálice e cobre-o com o véu.
Jesus ergue-se do túmulo, glorioso e triunfante, encobrindo,
todavia, por amor aos homens, o esplendor de sua Glória.
O
sacerdote, em ação de graças, recita as orações.
Jesus convida aos seus a se regozijarem pela sua vitória sobre a
morte e sobre o inferno. Uni-vos ao júbilo dos discípulos e das
santas mulheres em presença de Jesus ressuscitado.
O
sacerdote abençoa o povo.
Jesus abençoa seus discípulos. Inclinai-vos, confiante de receber
uma Bênção que há de realizar tudo quanto promete.
O
sacerdote lê o último Evangelho.
É quase sempre o de São João, onde está descrita a Geração Eterna,
temporal e espiritual do Verbo Encarnado.
Adorai a Jesus que
subiu ao Céu para ali vos preparar um lugar. Contemplai-o reinando
num trono de glória e enviando aos Apóstolos seu Espírito de Verdade
e de Amor.
Pedi que esse
Espírito divino habite em vós e vos dirija em tudo o que fizerdes no
correr do dia, e que este, pela graça do Santo Sacrifício, seja todo
santificado e tornado fecundo em obras de graça e de salvação. |