AMAR A
JESUS CRISTO
Amas-me? –
Eis a voz do coração, a voz do amor, a voz que sai do peito de toda
a humanidade. Todos queremos ser amados, porque todos temos um
coração para amar, mas para amar é preciso encontrar amor.
Se sabemos
que alguém nos ama, estamos cativos do seu amor: amamos até
sem o querer.
Se
encontramos um amigo que nos responde com amor a esta voz do
coração, damo-nos por felizes; pois, ainda que todo o mundo nos
odeie, nesse amigo temos quem nos quer bem, quem nos ama, quem está
disposto a sacrificar os próprios interesses e a cortar por suas
comodidades para nos obsequiar.
Deus,
querendo se amado por nós, e conhecendo este fraco do nosso coração,
amou-nos primeiro, para com seu amor nos prender o nosso.
Se o homem
perguntasse ao céu por amor! Receberia a resposta: Eu te amo!
Porque te amei, te fiz criatura minha. Porque te amei, te fiz filho
meu e herdeiro do meu reino. Porque te amei, me fiz homem, como tu,
para que, na semelhança das pessoas, fosse mais estreito o nosso
amor.
Lê o que
disse o meu apóstolo: Nisto conhecemos o amor de Deus, porque
deu sua vida por nós (1 Jo 4,9).
Lê o que
escreveu o meu discípulo amado: Amou Deus de tal modo o mundo,
que deu por ele o seu Unigênito Filho (Jo 3,16).
Se te amo!
Olha para toda a minha vida na terra! Quem foi a causa de tudo que
fiz e sofri, senão tu mesmo?
Porque te
amei, deixei o céu pela terra; vesti-me de tua mesma carne; dei por
ti a vida, para que tu vivesses eternamente comigo!
Porque te
amei, derramei por ti todo o meu sangue, até a última gota, para com
ele te comprar o céu!
Porque te
amei, entreguei o meu corpo às mãos dos carrascos desumanos, que o
puseram numa só chaga, dos pés à cabeça!
Se te amo!
Não busques grandes tratados do meu amor. Abre o Evangelho e diga-me
qual é a pagina que não fala do meu amor aos homens! Em cada milagre
encontrarás uma prova dele. À minha passagem os paralíticos
levantam-se, os cegos vêem, os surdos ouvem, os mudos falam e os
mortos ressuscitam. O que é isto? Provas de quanto amei os homens!
Se te amo!
Não duvides mais do meu amor. Amei-te, e amei-te como ninguém!
Porque te amei, dei-te o meu corpo e o meu sangue na Eucaristia,
porque me queria unir contigo pelo modo mais íntimo. Porque te amei,
quis permanecer contigo na terra para que em mim tivesses um amigo
fiel, um amigo amoroso, para em cujos braços te lançares na hora do
abandono e da tribulação.
Esta é a
resposta de Jesus à nossa pergunta – se nos ama! Com esta resposta,
porém, faz-nos Ele outra pergunta: se o amamos nós a Ele!
Amas-me? –
diz Ele a cada um de nós, como outrora a Pedro, nas praias do mar de
Tiberíades. Amas-me? – Que respondes?
Sim,
Senhor, Vós bem sabeis que vos amo – Esta é a nossa resposta que
devemos dar a Jesus. Mas ai! De quantos recebe Ele um não
ingrato, acompanhado talvez de agravos e blasfêmias!
Como Jesus
é pouco amado! Quem pensa n’Ele? Quem se lembra do que fez pela
salvação do mundo? Pensa-se em levantar uma estátua a um imperador,
a um rei, a um estadista que talvez perseguiu a Igreja, oprimiu os
pobres, demoliu os templos e despovoou os claustros! Pensa-se em
fazer uma apoteose a um herói que volta da campanha, talvez mais
onerado de crimes do que de vitórias! Projetam-se festejos
estrondosos para a celebração do centenário de um escritor que fez
profissão de ateu: e quem pensa no Libertador do gênero humano? Quem
pensa em levantar estátuas ao rei do céu que veio conquistar-nos o
reino da glória e libertar-nos do cativeiro do demônio? Quantos nem
sequer o nome sabem d’Aquele que os salvou?
Estudam-se
as histórias dos grandes homens e ignora-se a história do
Homem-Deus, a história da Redenção do mundo, a história do
famosíssimo drama do Calvário. Com quanta razão diz o apóstolo:
Seja anatematizado aquele que não amar a Nosso Senhor Jesus
Cristo! (1 Cor 16, 22).
Como se
ama a Jesus Cristo?
Quem ama,
pensa na pessoa amada. – Quem pensa em Jesus? Quem pensa no infinito
amor com que Ele amou os homens? Quem pensa na sua encarnação, no
seu nascimento, na sua vida oculta em Nazaré, no seu jejum de
quarenta dias? Quem pensa na sua vida pública, no seu zelo de salvar
as almas, nos seus milagres, na sua doutrina? – Quem pensa na sua
morte e paixão? Muito poucos!
Os Santos,
que deveras amavam a Jesus, passavam grande parte do dia com o
Evangelho diante dos olhos, meditando nos padecimentos a que se
entregou por nosso amor.
Quem ama,
visita a pessoa amada. Onde mora Jesus todos o sabemos. A sua casa
salienta-se de todas as mais. Talvez passemos, muitas vezes ao dia,
por diante da sua porta, para irmos visitar um amigo, e deixamos
Jesus, só no seu palácio, sem o irmos cumprimentar com um –
Bendito e louvando seja!
Quem ama,
gosta de receber em sua casa a pessoa amada. Jesus aí está na
solidão dos templos à espera de quem lhe abra o coração para nele
entrar, pois para isto ficou no Sacramento da Eucaristia. A quantos
não bate à porta do coração pedindo pousada, e recebe só repulsas e
negativas!
És tu
deste número? Ai de nós, se não amamos a Jesus! Se não amamos com
verdadeiro amor nesta vida não poderemos esperar ter n’Ele um amigo
para a hora da morte e um Juiz de misericórdia para o dia do juízo.
Quem não
ama a Jesus é um amigo que não ama o seu amigo; um soldado que não
ama o seu rei; um irmão que não ama o seu irmão; um filho que não
ama o seu pai.
Quem
não ama a Jesus não se ama a si mesmo; pois não amar a Jesus é amar
o mundo; não amar a Jesus é amar a terra; não amar a Jesus é amar as
criaturas; e amar o mundo, amar a terra, amar as criaturas é amar o
que não tem valor, é preparar para si mesmo a ruína espiritual
(cfr. Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz).
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