Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

PRIMEIRA PALESTRA

 

Introdução

 

Grave mutilação

 

Quem omite a pregação sobre: Morte, Juízo, Inferno e Céu mutila a DOUTRINA CATÓLICA.

Não adianta os covardes e omissos esconderem a Doutrina sobre os Novíssimos do homem; porque a Sagrada Escritura, os Documentos Pontifícios e os escritos dos Doutores da Santa Igreja não a esconde.

Em Eclo 7, 36 diz: “Em tudo o que fazes, lembra-te de teu fim e jamais pecarás”.

O Bem-aventurado João Paulo II escreve: “A Igreja não pode omitir, sem grave mutilação da sua mensagem essencial, uma catequese constante sobre o que a linguagem cristã tradicional designa como os quatro últimos fins do homem: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso”, e: “Novíssimos são chamados nos Livros Santos as últimas coisas que há de acontecer ao homem. Os Novíssimos, ou últimas coisas do homem, são quatro: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso. Os Novíssimos chamam-se últimas coisas que acontecerão porque a Morte é a última coisa que nos acontece neste mundo; o Juízo de Deus é o último entre os juízos que temos de passar; o Inferno é o último mal que hão de sofrer os maus; e o paraíso é sumo bem que hão de receber os bons. É bom pensarmos nos Novíssimos todos os dias e principalmente ao fazer a oração da manhã, assim que despertarmos; à noite, antes de deitar e todas as vezes que somos tentados a fazer algum mal, porque este pensamento é eficacíssimo para nos fazer evitar o pecado” (São Pio X), e também: “O segundo remédio (contra o pecado) é proposto pelo Eclesiástico: a recordação da morte e do dia do juízo: ‘Lembra-te de teus novíssimos e para sempre deixarás de pecar’ 7, 36. O sentido destas  palavras é como se dissesse: Lembra-te, muitas e muitas vezes, que em breve terás de morrer. Naquele transe, ser-te-á sumamente desejável e absolutamente necessário alcançar a infinita misericórdia de Deus. Por isso, é indispensável que desde já tenhas a morte continuamente diante dos olhos” (Catecismo Romano, Parte III, VI, 25).

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Quanto ao que meditar, não há assunto mais útil do que as verdades da vida: a morte, o julgamento, o inferno e o céu. Devemos meditar especialmente na morte, imaginando estarmos para morrer numa cama, com o crucifixo nas mãos e próximos a entrar na eternidade”.

O Monge Edouard Clerc comenta: “Esse texto (Exortação Apostólica ‘Reconciliação e Penitência’) declara com toda clareza, sem deixar margem a dúvidas, que é FALTA GRAVE omitir a catequese sobre a morte e o que há para além dela, e exige que se transmitam os ensinamentos necessários para esclarecer os fiéis acerca do tema. Caso contrário, haveria o perigo das pessoas se instalarem na vida terrena, deixando de buscar a felicidade eterna que lhes foi preparada. Quando pensamos no inevitável final da nossa vida – na nossa morte, e não somente na dos outros -, desprendemo-nos necessariamente de muitas coisas inúteis e esforçamo-nos por agradar a Deus e evitar o pecado. É por isso que encontramos em toda a Tradição da Igreja essa recordação dos últimos fins do homem”.

 

MORTE

 

I. O que é a morte?

 

O que é a morte? – O fim da vida, a separação da alma do corpo. É um adeus para sempre a tudo que nos cerca; é um separar, sem remédio, de amigos, de irmãos, de pai e mãe, de bens da fortuna, de dignidades, de ofícios... de tudo! “A morte é a separação da alma do corpo. Pelo desgaste da velhice ou da doença, por acidente, o corpo decai e chega um momento em que a alma não mais pode operar por seu intermédio. Então abandona-o, e dizemos que tal pessoa morreu. Raras vezes se pode determinar o instante exato em que isso ocorre. O coração pode cessar de bater, a respiração parar, mas a alma pode ainda estar presente. É o que se demonstra pelo fato de algumas vezes pessoas aparentemente mortas reviverem pela respiração artificial ou por outros meios. Se a alma não estivesse presente, seria impossível reviver. Isto permite que a Igreja autorize os seus sacerdotes  a dar a absolvição e a unção dos enfermos condicionais até duas horas depois da morte aparente, para o caso de a alma ainda estar presente. No entanto, uma vez que o sangue começa a coagular, sabemos com certeza que a alma deixou o corpo” (Pe. Leo J. Trese).

Santo Afonso Maria de Ligório diz: “Os mundanos só consideram feliz a quem goza dos bens deste mundo: honras, prazeres e riquezas. Mas a morte acaba com toda esta felicidade terrestre... Aquele poderoso do mundo, hoje tão acatado, tão temido e quase adorado; amanhã, quando estiver morto, será desprezado, esquecido e amaldiçoado. A morte obriga a deixar tudo... A morte despoja o homem de todos os bens deste mundo. Que espetáculo ver arrancar este príncipe de seu próprio palácio para nunca mais entrar nele, e considerar que outros tomam posse de seus móveis, de seus tesouros e de todos os demais bens! Quando a morte chega, tudo se acaba e tudo se deixa; de todas as coisas deste mundo nenhuma levamos para o túmulo”.

São Basílio Magno escreve: “Contempla os túmulos e não saberás distinguir quem foi o servo e quem foi o patrão”.

Sêneca diz: “Neste mundo todos os homens nascem em condições desiguais, mas a morte os iguala”.

 

II. Todos morrerão

 

Todos havemos de morrer: “E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez...” (Hb 9, 27). É esta a sentença a que todos vivemos condenados neste mundo.

São Gregório de Nissa escreve: “A morte é uma estátua de terra condenada a converter-se em pó”.

Santo Agostinho diz: “A vida não é mais que uma morte lenta; cada dia morremos, cada dia a morte leva-nos parte da nossa vida”.

São Bernardo de Claraval escreve: “A morte vos espera em toda a parte; se fores prudentes, esperai vós por ela em todo o lugar”.

O Abade Guerrico diz: “Morre o velho que vê e sente a morte portas a dentro; morre o jovem que a tem pelas costas traiçoeiramente”.

O Pe. Conceição Cabral escreve: “Em vão percorremos as planícies, os mares, os banquetes, os bailes, os concertos, os espetáculos; - a morte anda o mesmo caminho que nós”.

Teófilo Ortega diz: “Nascer e morrer parecem juntar-se na sepultura como dois namorados que se estendem os braços sobre um abismo; e o abismo é a vida”.

O Pe. Muñana escreve: “Pinta-se a morte em figura de um esqueleto com uma foice na mão. Sem olhos, como a dizer que não repara em classes, em idades, nem em riquezas; sem ouvidos, porque não se deixa vencer pelos rogos, nem pelas lágrimas; sem nariz, pois não se subjuga pelos perfumes mundanos; não tem entranhas nem coração, só pés para correr e mãos para ferir”.

Tomás de Kempis diz: “Muito depressa chegará teu fim neste mundo, por isso, olha como vives. Hoje está vivo o homem e amanhã já não existe!”

Esta sentença, ou melhor, esta lei de morte é nos intimada pela natureza da nossa vida. Este decorrer acelerado dos anos, dos dias e das horas, denota que há de haver um termo de paragem. Por isso o paciente Jó viu uma bela imagem da vida na folha seca que o vento arrebata, na flor do campo que um dia nasce e nesse mesmo dia morre, na ligeira brisa que perpassa veloz sobre a copa das árvores (Cf. Jó 14, 1 ss).

Santo Afonso Maria de Ligório diz: “A morte corre velocíssima sobre nós, e nós, a cada instante, corremos para ela”, e: “Meus dias correm mais depressa que um atleta” (Jó 9, 25).

 

III. Aviso de que havemos de morrer

 

O aviso de que havemos de morrer é nos dado por toda a criação. – Olha como tudo nela tem fim! Vê como as árvores, chegando a certa idade enfraquecem, perdem a folha e a seiva que as alimentava e ficam no meio dos campos, no fundo dos vales, no cume dos montes, como esqueletos sem vida, como despidos mastros do navio a quem a tempestade rasgou as velas. – Vê os animais, como se vão uns após outros despedindo da vida! – Vê como os teus semelhantes, hoje um, amanhã outro, vão deixando a tua companhia para se irem associar aos que dormem o sono da morte!

O mesmo se passará contigo! Um dia virá em que se há de desmoronar a casa do teu corpo, não ficando pedra sobre pedra. Hão de fecharem-se teus olhos, hão de gelarem as tuas mãos, hão de, enfim, desatarem-se os teus ossos dos liames da carne!

Ou queiramos ou não, teremos de receber um dia a visita da morte! “Só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos” (Santo Agostinho), e: “Todos nascemos com a corda ao pescoço, e a cada passo que damos mais nos aproximamos da morte” (São Cipriano), e também: “... quer pensemos na morte, quer não, os anos passam e a hora do nosso fim aproxima-se” (Monge Edouard Clerc).

Que dia esse! Que angústias quando “ouvirmos os seus passos”, quando a “virmos abeirar-se do nosso leito”, quando “sentirmos a sua mão gelada pousar” sobre a nossa fronte!

Que momento terrível! Que hora de consternação! – É o momento do desenlace fatal, é a hora mais solene da vida humana! Somos, então, chegados ao último capítulo dessas memórias que todos temos de escrever no decurso da nossa viagem! Vai pôr-se o selo a todas as nossas obras, vai consumar-se a carreira, vai terminar o combate. Ou vitorioso ou vencido, o homem vai ser citado perante o tribunal divino e receber o prêmio ou castigo de seus atos!

Vai deixar tudo!

O que no mundo tinha, aí fica para os seus herdeiros. Só lhe resta um adeus final à terra onde nasceu, à habitação que lhe serviu de abrigo, aos parentes e amigos que o rodeiam.

Que momento o da morte! Momento de dúvidas e de agonias, de perplexidades e incertezas: - Se me salvarei... se me condenarei! Ponto terrível em que o tempo se junta com a eternidade, passo arriscado deste para o outro mundo, tão novo e desconhecido!

Transe difícil para o pobre enfermo! Se olha para o passado, vê a série de todos os atos nascidos de sua liberdade. Se olha para o futuro, vê duas eternidades: uma, prêmio das virtudes; outra, castigo dos vícios.

São Bernardo de Claraval diz que “os pecados se aproximarão do enfermo e lhe dirão: ‘Somos a tua obra e não te deixaremos. Acompanhar-te-emos à outra vida e contigo nos apresentaremos ao eterno Juiz”.

Deus preveniu os pecadores que na hora da morte o procurarão e não o hão de achar: “Vós me procurareis e não me achareis” (Jo 7, 34).

Verdadeiramente é aquela hora sobre todas tremenda e, mais que todas, amarga! Que diferente não é tudo agora! Que juízo tão diverso não se forma da vida! Como aparecem vãos todos os prazeres e bens mundanos, como a virtude se mostra preferível ao vício, o sacrifício mais meritório que o prazer, a vida dos justos mais sábia que a dos ímpios!

Naquele momento todo o homem que viveu mal desejaria ou não ter nascido ou poder tornar a nascer, para corrigir na segunda vida os erros da primeira. Mas já é tarde! Ou bem ou mal gasta, a vida vai terminar!

Católico, não deixe para a morte o morrer; mas, antes que venha essa hora, morre para todos os divertimentos ilícitos do mundo, para as excessivas comodidades do teu corpo e, sobretudo, para o pecado. Não adies para a enfermidade o arrependimento e a penitência pelos desregramentos de tua vida passada, pois diz Santo Agostinho: “A contrição na enfermidade é enferma”.

A morte vem correndo para nós a passos de gigante. Cada ano que passa, cada dia que decorre é terreno conquistado pela morte no campo da nossa vida. Cada hora que bate o relógio é um aviso de que a morte já está mais perto.

A morte vem para uns mais depressa, para outros mais devagar, mas a todos chega! Seremos colocados num caixão e depositados num túmulo.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Imagina que estás na presença de uma pessoa que acaba de morrer. Contempla aquele cadáver estendido ainda em seu leito mortuário: a cabeça inclinada sobre o peito; o cabelo em desalinho e banhado ainda em suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acinzentado, os lábios e a língua cor de chumbo; imóvel e pesado o corpo... Treme e empalidece quem o vê... É ainda mais horrível o aspecto do cadáver quando começa a corromper-se... Nem um dia se passou após o falecimento daquele jovem e já se percebe o mau cheiro. É preciso abrir as janelas e queimar incenso; é mister que prontamente levem o defunto à igreja ou ao cemitério e o entreguem à terra para que não infeccione toda a casa... Observa como aquele cadáver, de amarelo que é, se vai tornando negro. Não tarda a aparecer por todo o corpo uma espécie de penugem branca e repugnante. Sai dela uma matéria pútrida,nasce uma multidão de vermes que se nutrem das própria carnes. Às vezes, se associam a estes os ratos para devorar aquele corpo, saltando por cima dele, enquanto outros penetram na boca e nas entranhas. Caem a pedaços as faces, os lábios e o cabelo; descarna-se o peito, e em seguida os braços e as pernas. Quando as carnes estiverem todas consumidas, os vermes passam a se devorar uns aos outros, e de todo aquele corpo só resta afinal um esqueleto fétido que com o tempo se desfaz, desarticulando-se os ossos e separando-se a cabeça do tronco”.

Em Isaías 14, 11 diz: “Sob o teu corpo os vermes formam como um colchão, os bichos te cobrem como um cobertor”.

Em Jó 17, 14 diz: “Digo à cova: ‘Tu és meu pai!’; ao verme: ‘Tu és minha mãe e minha irmã!”

 

IV. Incertezas da hora da morte

 

Em Eclo 14, 12 diz: “Lembra-te, ó homem, que a morte não tarda”. Quantos não morrem jovens? Quantas criancinhas não foram transladadas do berço ao túmulo? Não é só no outono que secam as folhas das árvores; também na primavera lhes entra o mal e caem secas ao chão.

Assim é a vida! – Não é só na velhice que se morre, também se morre na juventude.

São Francisco de Sales escreve: “Considera, minha alma, a incerteza do dia da morte. Um dia sairás do teu corpo. Quando será? Será no inverno ou no verão ou em alguma outra estação do ano? No campo ou na cidade, de noite ou de dia? Será dum modo súbito ou com alguma preparação? Será por um acidente violento ou por uma doença? Terás tempo e um sacerdote para te confessares? Tudo isto é desconhecido, de nada sabemos, a não ser que havemos de morrer indubitavelmente e sempre mais cedo que pensamos”.

O Monsenhor Tihamer Tóth escreve: “Uma coisa, porém, é terrivelmente certa: Havemos de morrer. Tudo o mais é terrivelmente incerto: quando, onde, como e em que estado de alma me surpreenderá a morte?”

Quando havemos de morrer? Na primavera?Num dia quente de verão?Desceremos à sepultura no outono, quando as folhas se desprenderem das árvores? Ou numa tarde fria de inverno? Não sabemos!

Onde havemos de morrer?Num quarto ou na área? Na rua ou numa praça?Em casa ou no hospital? Em terra firme ou no mar?Não sabemos?

Como havemos de morrer?Depois de longo e doloroso sofrimento ou repentinamente?Na sossegada inação (falta de ação) da velhice ou no meio de convulsões de dores agudíssimas? Rodeado de parentes, de amigos ou num ambiente estranho, abandonado por todos? De morte natural ou num choque de comboios ou debaixo das rodas dum carro?Não sabemos!

Pouco importa saber quando, onde e como havemos de morrer; o mais importante é lutar fervorosamente para morrer bem, isto é, na graça de Deus (graça santificante).

O grande mal da morte é não se repetir. Se a morte fosse dupla, poderíamos na segunda emendar os erros da primeira.

Mas este mal ainda tem remédio: fazer em vida o que desejaremos fazer na hora da morte.

A morte é um combate com inimigos formidáveis. Todos nós temos de entrar nesse combate, e nele ou vencer ou ser vencidos.

O soldado antes de entrar em cheio no combate com os seus inimigos, exercita-se primeiro na pátria em preparação para a guerra. Expõe-se na pátria à morte para não temer o que há de sofrer no campo da batalha. O mesmo se dá conosco.

Para acertarmos a morrer bem é necessário que morramos antes que chegue essa hora, como fez São Paulo que, muito antes de morrer, dizia: “Combati o bem combate, acabei a minha carreira, conservei a fé e já me espera a coroa da justiça” (2 Tm 4, 7).

Católico, faça o mesmo. Não queiras adiar este negócio tão importante, pois a incerteza da morte não te dá direito ao dia de amanhã.

Seja, pois, esta a conclusão final: Morramos antes que a morte chegue. Quando vier a morte fechar os nossos olhos, que já os encontre fechados a todas as vaidades deste mundo. Quando vier despojar-nos dos nossos bens, encontre-nos sem nada, ao menos no afeto. Quando vier separar-nos dos amigos, encontre-nos soltos de seus laços e presos com outros mais fortes ao nosso Criador.

 

 

 

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