SEGUNDA PALESTRA
JUÍZO PARTICULAR
I. Ninguém escapará do Juízo Particular
Santo Afonso Maria
de Ligório diz:
“... a alma comparecerá perante o juiz”.
Deus Eterno e a alma imortal... somente!
Em 2 Cor 5, 10 diz:
“Porquanto todos nós teremos de comparecer manifestamente
perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a
retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo,
seja para o bem, seja para o mal”, e:
“Pois todos nós
compareceremos ao tribunal de Deus” (Rm 14,
10).
Esse trecho bíblico diz:
“... todos nós teremos de comparecer
manifestamente perante o tribunal de Cristo...”
Está claro que
ninguém escapará do Juízo Particular.
Você pode até fugir
da igreja... da oração... de um santo retiro... mas do Juízo
você não fugirá:
“Ninguém pode fugir a esse juízo, que
decidirá... o que cada um tiver merecido para toda a
eternidade. Convém refletir nisto enquanto dispomos de tempo
para fazê-lo”
(Monge Edouard Clerc).
Os preguiçosos,
tíbios, relaxados... todos comparecerão diante do tribunal de
Deus.
II. Onde seremos julgados?
O Pe. Leo J. Trese escreve:
“No exato momento em que a alma
abandona o corpo é julgada por Deus. Quando os que estão junto
ao leito do defunto se ocupam ainda em fechar seus olhos e
cruzar-lhes as mãos, a alma já foi julgada; já sabe qual é o
seu destino eterno. É um momento terrível para todos, o
momento para o qual fomos vivendo todos estes anos na terra, o
momento para o qual toda a vida esteve orientada. É o dia da
retribuição para todos”.
Santo Afonso Maria
de Ligório diz:
“... o juízo particular se efetua no mesmo
instante em que o homem morre... no próprio lugar onde a alma
se separa do corpo”.
III. Seremos julgados sobre o quê?
Seremos julgados! E sobre o quê? – Sobre
os pecados passados; sobre o bem que não fizemos e sobre o mal
que praticamos! Tudo há de ser submetido a um exame
rigoroso!
Santo Afonso Maria
de Ligório escreve:
“Haverá dois livros: o Evangelho e a
consciência. No Evangelho, ler-se-á o que o réu devia fazer;
na consciência, o que fez. Na balança da divina justiça não se
pesarão as riquezas nem as dignidades e a nobreza das pessoas,
mas somente suas obras...”
São Francisco de
Sales comenta:
“Clara e distintamente há de ver-se nos
corações de uns e de outros, tudo o que fizeram de bom e de
mau – as afrontas a Deus e a fidelidade a suas graças, os
pecados e a penitência”.
O Monge Edouard
Clerc diz:
“A matéria desse Juízo serão as nossas ações,
as nossas obras... Os nossos atos são bons ou maus, nunca
indiferentes, isto é, nunca destituídos de valor moral. Ou se
faz o bem ou se faz o mal. Dizer: ‘Nunca fiz nada de mau’, ou:
‘Não mato nem roubo’, constitui sem dúvida uma tentativa de
nos tranquilizarmos, mas a desculpa é demasiado esfarrapada,
porque ninguém é capaz de fazer unicamente atos bons. Por
acaso não existem os pecados de omissão? O Juízo examinará
também sobre o modo como se correspondeu às graças recebidas
de Deus, e como se utilizaram os seus dons para amar o Senhor
e fazer bem ao próximo. A nós, também nos serão pedidas contas
do que tivermos feito com os dons divinos. E o que é que Deus
nos deu? Ora, absolutamente tudo: a vida natural e a vida
sobrenatural pelo Batismo, e tudo aquilo que elas implicam. O
tempo da nossa vida, as qualidades pessoais, as próprias
coisas materiais e até o dinheiro de que necessitamos são dons
de Deus”.
IV. Quem será o juiz?
O juiz será Jesus Cristo, Deus e Homem
verdadeiro. Ele conhece todos os nossos pecados, pois,
diante de seus olhos os cometemos. Ele vai avaliar a gravidade
de cada pecado... Ele conhece a malícia de cada um, por isso,
aplicará o castigo merecido.
Santo Agostinho escreve:
“O Senhor virá com amor para os fiéis
e com terror para os ímpios”.
Santo Afonso Maria
de Ligório diz:
“Virá, pois, o Salvador a julgar-nos,
ostentando aquelas mesmas chagas sagradas que tinha quando
deixou a terra”.
O Monge Edouard
Clerc escreve:
“O Juiz é Deus. Ninguém tem dúvidas acerca
deste ponto. Deve-se apenas esclarecer que o Pai a ninguém
julga, mas deu ao Filho todo o poder de julgar (Jo 5, 22),
porque o Filho de Deus é também Filho do Homem, e porque a fé
em Cristo é a regra pela qual se realizará esse Juízo:
Tanto amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Filho Unigênito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna (Jo 3, 16). Quem crê em Cristo, Filho de Deus, e
aceita os seus ensinamentos, esforçando-se por praticá-los
durante a vida e lutando por ser fiel, não corre o risco de
condenar-se. É uma delicadeza de Deus Pai dar-nos como Juiz o
próprio Jesus, que é Homem e conhece a nossa fraqueza”.
É um Deus que nos há de julgar! A sua
misericórdia é infinita, porém, naquela hora oculta-a para dar
lugar à justiça. Ali não se atende nem à pessoa nem à
dignidade do julgado: cultos e ignorantes, pobres e ricos,
patrões e empregados... cada um se apresentará com as suas
boas ou más obras nas mãos para receber por elas o prêmio ou o
castigo.
Edições Theologica comenta:
“Verdade que foi definida pelo
Magistério da Igreja, assinalando que as almas recebem o
prêmio ou castigo eternos imediatamente depois da sua morte,
ou da sua passagem prévia pelo Purgatório, no caso das almas
que dele necessitem antes de passar para o Céu (cf. Benedictus
Deus)”.
Esta sentença de
prêmio ou castigo – recebida no juízo particular e ratificada
no juízo universal no fim dos tempos -, depende dos
merecimentos da alma durante a sua vida na terra, já que com a
morte termina o tempo e a possibilidade de merecer.
É Deus quem nos há de julgar! Conhecedor de
tudo, não tem precisão de testemunhas para nos convencer de
nossas faltas, nem de acusadores que lhos levem ao
conhecimento. Tudo sabe, tudo conhece, tudo vê com tanta
clareza, como se estivéssemos praticando: palavras,
pensamentos, afetos, desejos, intenções, tudo se lhe mostra
tão claro, como se fosse iluminado com a luz do sol:
“Cada alma adquire naquele momento,
inesperadamente iluminada pela imensa luz de Deus, a
consciência nítida e clara de tudo o que fez de bom e de mau
na vida. E como esse conhecimento procede de Deus, está livre
de erro e de qualquer esquecimento; a sua evidência impõe-se
por si. Pode-se dizer, pois, que a alma se julga a si mesma,
sem poder alegar circunstâncias atenuantes, pois enxerga à luz
da eterna Verdade todo o mal que cometeu e o bem que deixou de
fazer, entristecendo-se com ele, mas também todo o bem que
realizou, maravilhando-se com ele... Uma vez que essa sentença
da alma sobre si mesma é evidente, não há necessidade de
nenhuma espera, nem a possibilidade de nenhum recurso. A
execução do Juízo é, portanto, instantânea: uns entram no gozo
do Paraíso ou na purificação transitória do Purgatório, à
espera do Céu, e outros no sofrimento para sempre”
(Monge Edouard Clerc).
É Deus quem nos julgará! E não é Ele superior a
todos os reis e governantes do mundo? Não é Ele o Rei dos reis
e Senhor dos senhores? O seu tribunal é, pois, sem apelação.
Se a sentença for condenatória, não há esperanças de mudá-la
em tribunal de segunda instância:
“Antes do juízo podemos ainda aplacar o Juiz; mas durante o
juízo, não” (Santo Agostinho).
E não é Ele a mesma retidão? – Logo, a sentença
saída dos seus lábios não pode ser senão traçada pela justiça
mais imparcial e tal que traduza na íntegra o valor moral de
todas as nossas ações.
Será dada a sentença! Que momento! Vai decidir
nesse momento para qual eternidade iremos – ou para o céu ou
para o inferno! Será um momento terrível!
“Quão terrível ressoará aquele trovão”
(Dionísio, o Cartuxo), e:
“Será tão grande o
terror dos pecadores ao ouvirem a sua condenação, que se não
fossem já imortais morreriam de novo” (Santo
Anselmo).
Vida pecaminosa e morte impenitente – sentença
de reprovação: “Quanto ao servo
inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de
dentes” (Mt 25, 30). Vida
ajustada com os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja –
sentença de salvação:
“Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco
foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o
teu senhor!” (Mt 25, 21). Eis
a sentença do santo.
Deus é grande na sua justiça! Se castiga, é com
o inferno; se premia, é com o céu.
É para essa hora decisiva e melindrosa que
todos caminhamos. Dentro em breve se há de dar conosco
esta cena. Hora tremenda a dos juízos de Deus! Aqui
vem parar todos os sonhos da vida. Aqui se hão de desvendar os
olhos de tantos cegos pelo falso brilho das vaidades mundanas.
Aqui se hão de ver os caminhos errados do vício, os laços do
Demônio, a falsidade de tantas máximas com que a impiedade
pretende desviar do caminho da salvação as almas remidas com o
Sangue de Jesus Cristo.
Mas será tarde! Os caminhos mal andados já não
se podem desandar; as blasfêmias, as heresias, as calúnias já
não se podem retratar; as máximas errôneas já não se podem
substituir pelas verdadeiras, nem os pecados mudar em
virtudes! – Passou o tempo do perdão; a hora presente é de
justiça!
Como nos iludimos! Como nos cegamos! – Se todos
os dias lançássemos um olhar para essa hora, andaríamos mais
acautelados e teríamos menos de que nos temer num juízo de tão
sérias consequências.
Se queremos que nesse tribunal Jesus Cristo
seja nosso amigo e não condenador implacável, vamos ter com
Ele e pedir-Lhe que nos absolva de nossos pecados. Abrandemos
a sua cólera em chorar os nossos erros e pratiquemos, então,
somente aquilo que Lhe agrada para não sermos reprovados
naquela hora solene.
Se queremos ver em Nosso Senhor a mansidão, O
amemos com amor de filho e não O ultrajemos com a nossa
rebeldia em não sujeitarmos à sua vontade. Os humildes
encontrarão n’Ele graça; os soberbos encontrarão resistência.
Se queremos que o juízo de Deus nos seja
favorável, julguemo-nos a nós mesmos. Imaginemos qual será o
castigo que nos pode acarretar a vida que levamos: céu ou
inferno? “Se nos julgássemos não
seríamos julgados” (1 Cor 11, 31).
São Bernardo de Claraval escreve:
“Julguei as minhas obras – as boas e
as más – para que, quando vier o Senhor que há de julgar
Jerusalém, nenhuma coisa encontre que não tenha sido julgada”.
Julguemo-nos agora, se não quisermos ser tão severamente
julgados depois de nossa morte. Julguemos as nossas ações, as
nossas palavras, os nossos pensamentos, e façamos penitência
por tudo aquilo que acharmos digno de castigo.
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