Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

QUARTA PALESTRA

 

CÉU

 

I. O céu existe

 

O Céu é o lugar da eterna felicidade onde Deus recompensa os justos.

A resposta sobre a existência do Céu tem que ser baseada em Jesus Cristo.

1. Se não há Céu, toda a vida de Jesus Cristo carece de sentido, pois, toda a sua vida terrena, a sua doutrina e a sua paixão não tiveram outro fim mais do que conduzir os homens, resgatados do pecado, para o reino eterno do Pai celestial, para o Céu.

2. Percorramos os Evangelhos. Quantas vezes e de quantas maneiras falou Nosso Senhor Jesus Cristo da existência do Céu!

Em Mt 19, 29 diz: “E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filho, ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará a vida eterna”, e: “Alegrai-vos  e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus...” (Mt 5, 12), e também: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam” (Mt 6, 19-20).

Além disso, por meio de quantas parábolas, de quantas comparações, se referiu o Senhor à existência do Céu! Umas vezes chama-lhe “casa do Pai” (Jo 14, 2), outras o compara ao “palácio dum rei” (Mt 22, 2), outras o apelida “tesouro escondido” (Mt 13, 44) pelo qual o homem há de dar tudo.

Em Mt 25, 34 diz: “Vinde, benditos do meu Pai, tomar posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo”.

 

II. Deus criou o céu?

 

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “O Símbolo dos Apóstolos professa que Deus é o ‘Criador do céu e da terra’, e o Símbolo niceno-constantinopolitano explica: ‘... do universo visível e invisível’. Na Sagrada Escritura, a expressão ‘céu e terra’ significa tudo aquilo que existe, a criação inteira. Indica também o nexo no interior da criação, que ao mesmo tempo une e distingue céu e terra: ‘a terra’ é o mundo dos homens; ‘o céu’ ou ‘os céus’ pode designar o firmamento, mas também o ‘lugar’ próprio de Deus: ‘nosso Pai nos céus’ (Mt 5, 16) e, por conseguinte, também o ‘céu’ que é a glória escatológica. Finalmente, a palavra ‘céu’ indica o ‘lugar’ das criaturas espirituais – os anjos – que estão ao redor de Deus”.

O Monselhor Cauly escreve: “Deus, pelo poder da sua palavra, fez do nada o céu e a terra... Pela palavra céu, entende-se aqui não só o firmamento e os astros, ou a matéria que devia servir a formá-los, senão ainda o céu com seus moradores, isto é, os anjos”.

 

III. Em que consiste o céu?

 

Mas, em que consiste o céu? Que constituirá a vida eterna? Que faremos no céu por toda a eternidade?

O céu consiste em:

1. Contemplar a Deus face a face: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1 Jo 3, 2).

Nessa visão imediata de Deus tal como é, e de todas as coisas em Deus, a vida da graça e a filiação divina alcançam o seu pleno desenvolvimento. Pela sua natureza, o homem não é capaz  de ver a Deus face a face; é necessário que Ele o ilumine mediante uma luz especial, que chamamos lumen gloriae. Com ela não abarca de todo a Deus – coisa impossível para qualquer criatura – mas pode sem dúvida contemplá-Lo diretamente: “A bem-aventurança consiste em duas coisas: uma, que veremos a Deus tal como é na sua natureza e substância; e a outra, que seremos transformados como deuses, pois os que gozam d’Ele, ainda que conservem a sua própria natureza, todavia, revestem-se de certa forma admirável, semelhante à divina, de modo que mais parecem deuses que homens” (Catecismo Romano).

Em 1 Cor 13, 12 diz: “Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido”.

A felicidade no céu consiste nesse conhecimento imediato de Deus. Para o entender melhor São Paulo põe a semelhança do espelho: antigamente os espelhos eram feitos de metal, e a imagem que ofereciam era baça e obscura. A comparação em todo o caso é igualmente compreensível para nós, tendo em conta que – como explica Santo Tomás de Aquino – no céu “veremos a Deus face a face, porque O veremos imediatamente, tal como face a face vemos um homem. E por   esta via assemelhamo-nos especialmente a Deus, tornando-nos participantes da sua bem-aventurança: pois Deus compreende a sua própria substância na sua essência e nisso consiste a sua felicidade. Por isso escreve São João (1 Jo 3, 2): E quando aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como é”.

Em relação a este ponto, ensina o Magistério da Igreja que, “segundo a ordenação comum de Deus, as almas de todos os santos que saíram deste mundo (...) vêem a essência divina com visão intuitiva e também face a face, sem mediação de criatura alguma que tenha razão de objeto visto, mas por lhes ser mostrado a essência divina de modo imediato e descoberto, clara e patentemente, e que vendo-a assim gozam da mesma essência divina e que, por tal visão e fruição, as almas dos que saíram deste mundo são verdadeiramente bem-aventuradas e têm vida e descanso eterno” (Benedictus Deus).

Veremos a Deus! Chegaremos a compreendê-Lo e a ver todas as profundezas do seu ser?

Não! O ser criado não pode compreender completamente o seu Criador. O ser finito não pode compreender o infinito. A água do mar não cabe dentro dum copo.

Não veremos só o reflexo de Deus como num espelho; mas veremos o mesmo Deus. Vê-lo-emos e nunca nos cansaremos de vê-Lo.

Veremos a Deus e em Deus as suas obras. Que espetáculo! Ver os planos da divina Providência que muitas vezes durante a vida julgamos duros e  injustos!

Veremos as leis da natureza e suas forças ocultas, e aquelas que o homem não chegou a descobrir!

Veremos tudo isso no resplendor da claridade eterna, sem nunca nos saciarmos nem nos enfastiarmos.

2. Felicidade eterna: “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Cor 2, 9).

Em Ap 21, 4 diz: “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais”.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Esses trabalhos, penas, angústias, perseguições e temores hão de acabar um dia e, se nos salvarmos, serão para nós motivos de gozo e alegria inefável no reino dos bem-aventurados”.

A felicidade do céu é eterna. Trata-se de uma verdade de fé, de um dogma: Creio... na vida eterna. Mas é também uma condição necessária para que a felicidade seja perfeita. Aqui na terra, quando nos sentimos felizes, pensamos: “Isto não vai durar”, e no mesmo instante a felicidade diminui. Uma vida feliz com Deus, mas de duração limitada, é uma suposição absurda, impensável: a visão beatífica, uma vez concedida, já não pode perder-se.

Os eleitos contemplam a Deus uns mais perfeitamente do que os outros, de acordo com os seus méritos. A Sagrada Escritura afirma claramente que cada qual receberá a sua recompensa segundo as suas obras, o que é de justiça.

Em Jo 14, 2 diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”, e: “Um é o brilho do sol, outro o brilho da lua, e outro o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela há diferença de brilho” (1 Cor 15, 41), e também: “Aquele que planta e aquele que rega são iguais entre si; mas cada um receberá seu próprio salário, segundo a medida do seu trabalho” (1 Cor 3, 8).

Existem, portanto, diferentes graus de felicidade entre os eleitos, mas essa desigualdade não é ocasião de ciúmes, pois cada um se encontra plenamente saciado. Um copo de água encontra-se cheio, e um caminhão-pipa também está cheio: a nenhum dos dois é possível acrescentar nada. Pode-se falar de desigualdade neste caso? Ou será necessário derramar metade do conteúdo do caminhão no copo? No céu, a alma menos elevada em santidade está totalmente cumulada, é incapaz de receber mais, não pode aspirar a uma felicidade mais alta. Por conseguinte, cada um, na sua medida, é perfeitamente feliz.

3. Não ofender nem desagradar a Deus.

No céu já não poderemos mais pecar nem desagradarmos a Deus, ou seja, estaremos fixados no bem. O pecado será impossível porque viveremos já de Deus e em Deus. Pensaremos e amaremos na contemplação divina, não apenas com a fé e a esperança, mas com uma caridade – um amor – que terá tomado posse de nós definitivamente. A alegria que nos dará essa segurança de estarmos para sempre ancorados no bem será a mesma que experimentam os anjos.

4. Conhecer a Santíssima Trindade, Jesus (Deus-Homem), Maria Santíssima, os Anjos e Santos.

Para que nada falte à bem-aventurança do céu, é preciso acrescentar a grande alegria que será, não só conhecermos a Santíssima Trindade, mas também vermos Jesus (Deus-Homem), e podermos admirar sua Humanidade. Cristo é o mais belo dos filhos dos homens; a sua beleza, como a de Maria, é simples, e custa-nos muito imaginar a simplicidade. A alegria de ver a Santíssima Virgem, que todos desejamos contemplar, será também, sem dúvida, uma deliciosa surpresa.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Que dirá a alma quando entrar naquela mansão felicíssima? O anjo da guarda a acompanha e felicita, e ela lhe mostra sua gratidão pela assistência que recebeu dele... Os anjos e os santos a recebem alegres e lhe dão amorosas boas-vindas... encontrará seus santos patronos... beijará os pés da Santíssima Virgem, Rainha dos céus... Jesus Cristo a receberá como esposa amantíssima... Jesus a apresentará ao Pai Eterno que a abençoará...”

5. Encontrar todos os que amamos nesse mundo.

Por fim, haverá a bem-aventurança de encontrarmos de novo todos aqueles a quem amamos e que nos precederam na casa do Pai. Há separações que não cicatrizam, e é somente a esperança do reencontro que sustenta o ânimo de quem fica para trás. Por isso, muitas pessoas esperam a morte e desejam o céu para terem a alegria de encontrar os entes amados e sempre recordados.

A este propósito, põe-se uma questão: se duas pessoas que se amaram não se encontrarem no céu, por uma delas ter ido para o inferno, isso não será um sofrimento, um enorme sofrimento, para aquela que se salva? Só há uma resposta possível: como no céu se verá e se julgará tudo em Deus e a partir de Deus, não se poderá senão ficar contente com a sua justiça, que então se poderá compreender.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “... ali encontrará amigos e parentes que a precederam na vida eterna”.

 

 

 

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