Local: Patronato Madre Mazzarelo, rua 11,
n.° 380, Vila Góis
Cidade: Anápolis – GO
Data: 17, 18, 19, 20 e 21 de fevereiro de
2012
Número de participantes: 44 pessoas (Cidade Estrutural
- DF, Taguatinga - DF, Lago
Sul - Brasília - DF, Park Way – Brasília - DF, Gama - DF,
Jaraguá - GO, Pirenópolis - GO, Goiânia - GO, Anápolis - GO, Cocalzinho
- GO, e Valparaiso - GO)
Pregador: Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Temas: O silêncio interno e externo, O
valor do sacrifício, O respeito humano, Os pecados contra o
Espírito Santo, Os pecados que bradam o céu, A tentação, A
oração, O número dos pecados e Os anjos
PRIMEIRA PALESTRA
O SILÊNCIO INTERNO E EXTERNO
A solidão só é verdadeira se for banhada por
uma atmosfera de silêncio. De fato, o barulho distrai a alma
do recolhimento interior; andar ou fechar as portas com
ruído, conversar em voz alta atrapalha o próximo na sua vida
de oração, leitura espiritual, estudo… e o irrita, quando o
mesmo ama o silêncio.
Mais ainda; o ruído exterior e as conversas
inúteis distraem a alma fazendo perder o recolhimento.
Aquele que não sabe fazer silêncio não possui
vida interior. Uma alma que se expande muito em palavras não
pode escutar em si a voz interior de Nosso Senhor Jesus
Cristo
O silêncio dos lábios seria de pouca
utilidade se não viesse acrescentar-se o silêncio do
coração.
São Gregório Magno escreve:
“Para que serve a solidão material se não houver a solidão
da alma?”
Pode-se viver num
deserto e não ser recolhido; porque deixa-se a imaginação
vaguear através do imenso campo das lembranças e coisas
insignificantes, sonha-se com futilidades e abre-se o
espírito a pensamentos vãos. É triste ver com que facilidade
desperdiçamos muitas vezes os nossos pensamentos. Pode
ganhar-se o céu, pode-se perdê-lo por um pensamento.
A alma sem método,
leviana, voluntária e habitualmente distraída pela agitação
desordenada de pensamentos estéreis não pode ouvir a voz de
Deus. Feliz, porém, da alma que vive no silêncio interior,
fruto da calma da imaginação, da expulsão das vãs
solicitudes e dos cuidados irrefletidos, do sossego das
paixões, da firmeza na virtude sólida, da concentração das
faculdades na busca constante do único Bem! Feliz desta
alma! Deus falar-lhe-á constantemente; o Espírito Santo
deixá-la-á ouvir as palavras de vida que não impressionam os
ouvidos do corpo, mas que a alma atenta recolhe com alegria
em si mesma para delas fazer o alimento da sua vida.
Nossa Senhora
vivia no recolhimento interior:
“Maria, contudo,
conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os
meditava em seu coração”
(Lc 2, 19).
A Virgem Maria não
se perdia em palavras; cheia de graça e das luzes do alto,
toda inundada dos dons do Espírito Santo, ficava silenciosa,
em adoração a seu Filho; vivia na contemplação do mistério
inefável que nela e por ela se cumpria, e do santuário de
seu coração imaculado ininterruptamente subia para Deus um
hino de louvor e de ação de graças. As casas dos católicos
deveriam ser como a casa da Sagrada Família em Nazaré.
Não basta guardar
o silêncio exterior, afastar do espírito e do coração os
pensamentos vãos e estéreis; é preciso ainda preencher esta
solidão interior com reflexões que ajudam a alma a subir
para Deus.
Jesus Cristo é o
Deus silencioso. Ele passou trinta anos no retiro e na
obscuridade da casa de Nazaré, para gastar apenas três anos
na vida pública.
Jesus nos ensina
com este seu exemplo a amar o silêncio, o recolhimento e a
solidão. É impossível imaginarmos o Filho de Deus falando
com excesso em qualquer sentido.
Jesus Cristo
aprecia certamente nosso trabalho… Espera nossa penitência…
Ama nossa oração. Mas julga nosso amor pelo modo com que O
escutamos.
Deus ama o
silêncio. Foi no silêncio que Ele se encarnou, foi no
silêncio que Ele nasceu, - longe da cidade, longe do ruído,
em plena noite -. E quando chegou a hora da pregação,
inaugurou-a por quarenta dias de retiro no deserto. Seu
ministério foi entrecortado por numerosas paradas noturnas e
silenciosas. Durante a Paixão, em lugar de se defender,
calou-se, e na Hóstia, Ele é o grande silencioso.
SEGUNDA PALESTRA
O VALOR DO SACRIFÍCIO
Em Mt 7, 13-14 diz:
“Entrai pela porta estreita, porque
largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos
são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e
apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o
encontram”.
Milhões de
católicos estão tentando fabricar um catolicismo sem cruz,
sem sacrifício, longe da porta estreita e do caminho
apertado.
O Papa Paulo VI
escreve:
“O que seria de um Evangelho, de um
cristianismo sem Cruz, sem dor e sem o sacrifício da dor?
Seria um Evangelho, um cristianismo sem Redenção, sem
Salvação…”
Um cristianismo do
qual se pretendesse arrancar a cruz da mortificação
voluntária e da penitência, sob o pretexto de que essas
práticas seriam hoje “resíduos obscurantistas”,
“medievalismos” impróprios de uma época
humanista, esse cristianismo desvirtuado, de cristianismo
teria apenas o nome; não conservaria a doutrina do Evangelho
nem serviria para dirigir os passos dos homens em seguimento
de Cristo.
A cultura do
prazer, no entanto, instaurou-se de forma sólida em
praticamente todas as faixas sociais e etárias… levando o
homem a virar as costas para o definitivo: a salvação
eterna.
Como já foi citado
em Mt 7, 14:
“Como é estreita a porta e apertado o caminho
que leva à vida, e quão poucos são os que entram por ele!”
Está claro que Jesus Cristo não fez promessas fáceis, como
as de um político em véspera de eleição, ou de um pastor
protestante com voz exaltada numa rádio prometendo cura,
dinheiro, saúde… e nem menciona a Vida Eterna… Não se trata
de buscar a salvação eterna, mas sim, a salvação terrena.
São milhões as
pessoas que, movidas pela vaidade ou pela superficialidade,
são capazes de submeter o corpo a quaisquer tipos de
renúncias para assegurar um padrão de beleza: jejuns
alimentares para emagrecer; penosas operações plásticas para
melhorar o visual; perfuração de partes do corpo (nariz,
pálpebras, orelhas, língua…) para introduzir piercings;
trabalhosos processos de tatuagens… E isso, sem falar das
academias, onde algumas pessoas exigem do corpo exercícios
até à exaustão para modelar os músculos e exibi-los nas
praias ou festinhas… Para o corpo oferecem com alegria; mas
para Deus dizem ser exagero. É como se Deus merecesse menos
que o nosso corpo.
Cristo Jesus é o
nosso modelo. Não podemos esquecer que seguir Cristo Jesus é
segui-Lo também na sua cruz:
“Se alguém quiser
vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada
dia e siga-me”
(Lc 9, 23).
A paixão de Nosso
Senhor durou todo o tempo da sua vida.
No mesmo instante
em que foi criada a alma de Jesus e unida com seu pequenino
corpo no seio da Virgem Maria, o Pai Eterno manifestou a seu
Filho a sua vontade que morresse para a redenção do mundo.
No mesmo tempo pôs-Lhe diante dos olhos a vista triste de
todos os sofrimentos que deveria sofrer até a morte para
remir o gênero humano. Mostrou-Lhe todos os trabalhos,
desprezos e pobreza que deveria suportar em toda a sua vida,
tanto em Belém como no Egito e em Nazaré. Mostrou-Lhe, em
seguida, todas as dores e ignomínias de sua paixão: os
açoites, os espinhos, os cravos e a cruz; todos os
desgostos, tristezas, agonias e abandono em que havia de
terminar a sua vida no Calvário.
Toda a vida,
portanto, e todos os anos do redentor foram vida e anos de
dores e de lágrimas. O seu divino Coração não teve um
instante livre de padecimento. Quer vigiasse, quer dormisse,
sempre tinha diante dos olhos aquela triste representação
que Lhe atormentou mais a santíssima alma do que os santos
mártires foram atormentados por todos os seus suplícios.
Para entrar na
Vida Eterna é preciso seguir os passos do nosso Mestre.
Por que
mortificar-se?
1.
Para evitar o inferno.
Em 1 Cor 9, 25-27
diz:
“Os atletas se abstêm de tudo; eles, para
ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma
coroa imperecível. Quanto a mim, é assim que corro, não ao
incerto; é assim que pratico o pugilato, mas não como quem
fere o ar. Trato duramente o meu corpo e reduzo-o à
servidão, a fim de que não aconteça que, tendo proclamado a
mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado”.
2.
Para evitar o Purgatório.
Em Ap 21, 27 diz:
“Nela jamais entrará algo de imundo…”
3. Para merecer
um bom lugar no Paraíso.
Em Rm 8, 18 diz:
“Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não
têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós”.
4.
Para manifestar o nosso amor a Cristo.
Em Ef 5, 2 diz:
“E
andai em amor, assim como Cristo também nos amou e se
entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor
suave”.
5.
Para ajudar o próximo a alcançar a salvação
eterna.
Em 1 Cor 10, 33
diz:
“Assim como eu mesmo me esforço por agradar a
todos em todas as coisas, não procurando os meus interesses
pessoais, mas os do maior número, a fim de que sejam salvos”.
6.
Para viver na verdadeira paz também neste
mundo.
Em Is 48, 22 diz:
“Mas para os maus não há paz, diz o Senhor”.
Há dois caminhos,
duas atitudes na vida: buscar o mais cômodo e agradável,
satisfazer o corpo e fugir do sacrifício e da penitência, ou
buscar a vontade de Deus ainda que custe, ter os sentidos
resguardados e o corpo sob controle. Só o último desses
caminhos conduz ao Céu; o outro, a uma vida afastada de
Deus, sem graça e sem elegância, desperdiçada já agora e sem
esperança quanto à vida que há de vir…, e são muitos os que
andam por ele.
Temos que
perguntar-nos com frequência para onde vamos e por qual
caminho…
Devemos trilhar o
caminho do sacrifício. Jesus Cristo espera que saibamos
vencer a resistência que encontramos em nós, sabendo seguir
as suas pegadas na terra, que não ficaram impressas só em
areias suaves, em tapetes adamascados e sobre pétalas de
flores, mas sobre a terra áspera, sobre as pedras
pontiagudas e sobre o terreno resvaladiço que são a via que
conduz ao céu.
Só existe um
caminho para o céu:
o sacrifício … a
cruz… a dor:
“Se
houvesse algum caminho que não o da cruz e da dor para nos
conduzir a Deus, Cristo tê-lo-ia indicado, Ele que veio à
terra para nos ensinar o caminho do céu”
(Pe. Richard Gräf).
TERCEIRA PALESTRA
O RESPEITO HUMANO
Em Mt 10, 33 diz:
“Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o
renegarei diante de meu Pai que está nos Céus”.
Com estas palavras Jesus está a ensinar-nos
que a confissão pública da fé n’Ele – com todas as suas
consequências – é condição indispensável para a salvação
eterna. Cristo receberá no Céu, depois do Juízo, os que
deram testemunho da sua fé, e condenará os que covardemente
se envergonharam d’Ele (cfr. Mt 7, 23; 25, 41; Ap 21, 8).
Sob o nome de confessores a Igreja honra os santos que, sem
terem sofrido o martírio de sangue, com a sua vida deram
testemunho da fé católica. Embora todo o cristão deva estar
disposto para o martírio, a vocação cristã ordinária é a de
ser confessores da fé.
É preciso viver e pregar a verdade sem
respeito humano. Se Jesus Cristo foi perseguido por
proclamar a verdade sem respeito humano, conosco não será
diferente:
“Desde o princípio, Jesus teve de enfrentar uma onda de
maledicências e desprezos, nascidos de egoísmos covardes,
porque proclamava a verdade sem respeito humano. Essa onda
iria aumentando com o decorrer dos anos, até desembocar na
torrente de calúnias e na perseguição aberta que lhe
causaram a morte”
(Pe. Francisco
Fernández Carvajal).
Jesus Cristo pede
que seus discípulos trabalhem sem respeito humano,
enfrentando todos os ambientes, mesmo que seja preciso
entrar em choque com aqueles que levam uma vida de
“poltronice” vivendo longe da verdade e mergulhados na
mentira.
Aquele que para
não entrar em choque com os relaxados e mundanos, cobre o
rosto com a máscara do respeito humano, é
merecedor dessas palavras ditas por Jesus Cristo:
“Aquele,
porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei
diante de meu Pai que está nos Céus”
(Mt 10, 33). Para ser discípulo autêntico de Nosso Senhor é
preciso pregar a verdade sem respeito humano…
pregá-la em qualquer ambiente.
“Que dirão os homens?”
– Eis o fantasma que intimida milhões de católicos e os
afastam da igreja, da frequência dos sacramentos e do
exercício da virtude. Abandonam o caminho da santidade por
respeito humano.
“Que dirão de
mim os meus companheiros?”
– Aqui está um
laço com que o demônio prende a muitos jovens, impedindo-os
de caminharem livremente na virtude, com perigo de sua
salvação.
Deixar de fazer o
bem por temor de um “que dirão os homens?”, é
declarar-se covarde, é ser vencido antes de entrar em campo
com o inimigo. E, contudo, quantos não se rendem a este
tirano que mais existe na fantasia que na realidade? Os
maiores potentados da terra, os espíritos mais cultos e as
inteligências mais lúcidas do nosso tempo lhe rendem
vassalagem (tributo de vassalo)!
Dar valor ao
“que dirão os homens?”, é dar valor a uma quimera… a uma
fantasia.
O que dizem os
homens são palavras que o vento leva; porém, a virtude, que,
por medo, deixamos de praticar, é o ouro que jogamos fora.
Os homens poderão
escarnecer ao nos verem praticar a nossa religião; porém,
melhor é para nós sermos escarnecidos dos homens do que
sermos escarnecidos por Deus. Melhor é ouvir uma zombaria
dos homens por nos verem cumprir a Lei de Deus do que por a
não cumprir… e termos de ouvir dos lábios de Nosso Senhor
aquelas horríveis palavras:
“Apartai-vos de mim,
malditos, ide para o fogo eterno!”
(Mt 25, 41).
Que dirão de nós
os homens se nos virem todos os domingos e dias santos
assistindo com respeito ao incruento sacrifício da Missa?
Com os lábios dirão, talvez, que somos fanáticos, carolas e
beatos; porém, lá consigo dirão que somos pessoas de bem,
que sabemos cumprir os nossos deveres religiosos e que não
somos somente católicos de nome, mas de fato.
Se nos virem
vestidos decentemente, talvez um sorriso escarninho lhes
aflore aos lábios; porém, a voz da consciência lhes dirá que
estamos no caminho da salvação eterna.
Se nos aproximamos
da Santa Comunhão, os que não têm fé dirão que ainda
seguimos superstições do passado! Porém, aqueles que ainda
conservam a inteligência sã louvarão a nossa fidelidade ao
preceito de Jesus Cristo, que nos manda comer o seu Corpo e
beber o seu Sangue para conseguirmos a Vida Eterna.
Não temamos o que
poderão dizer de nós os homens. Lembremo-nos, antes, do que
Cristo diz no Evangelho:
“Todo aquele,
portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também
eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos
Céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens,
também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus”
(Mt 10, 32-33).
Infeliz do católico que deixou de servir a
Deus por respeito humano! Que Juízo rigoroso
não será feito ao que deixou de servir a Deus por um vil
respeito humano! Que desculpas darão a Deus, diz
São Paulo, aqueles que, tendo-o conhecido, não o
glorificaram?
“Pois, tendo conhecido a Deus, não o honraram
como Deus nem lhe renderam graças; pelo contrário, eles se
perderam em vãos arrazoados, e seu coração insensato ficou
nas trevas”
(Rm 1, 21).
Que desculpa dará
um católico ao comparecer carregado de pecados diante de
Jesus Cristo, tendo Ele deixado na sua Igreja remédio para
perdoá-lo?
E que desculpa
dará a Deus o católico por ter caído tantas vezes, uma
leves, outras graves, tendo à mão tantos remédios
preventivos, sobretudo, a Eucaristia, onde está o sustento
da alma e a força para vencer as tentações?
Como se há de
desculpar diante de Deus de ignorar as verdades religiosas
quem, tendo na pregação, na catequese, na leitura, outros
tantos meios de se instruir, os desprezou para ir buscar os
conhecimentos intelectuais em livros proibidos?
É grande miséria
respeitar mais um que dirão os homens do que os terríveis
juízos de Deus!
Aquele que assim
procede não merece o nome de católico! Que diferença entre
muitos católicos de hoje e os da Igreja Primitiva. O que as
espadas mais afiadas e as fogueiras não conseguiram desses
valentes confessores da fé, consegue-o hoje de milhões de
católicos: uma palavra, um sorriso e um olhar!
Então (naquele tempo), nem todos os tormentos juntos
eram bastantes para coagir um católico a negar a sua fé.
Hoje, basta, para afastar a muitos da igreja, do
confessionário, da mesa da Comunhão… uma zombaria, uma
crítica e um sorriso de desprezo.
Milhares de
católicos prostram-se todos os dias diante do ídolo do
respeito humano! Aquele que se deixa dominar por
esse tirano vai deixando de lado os seus deveres mais
sagrados.
Por que o
respeito humano aninha em tantos corações,
tornando-os escravos e covardes?
Isso acontece
porque milhões de pessoas não possuem ideia clara d’Aquele a
quem servem. Não é ao Deus Eterno a quem servimos? Ao
Criador do universo… ao Senhor Todo-poderoso? E não é Deus o
maior Senhor do céu e da terra? Não é Jesus Cristo o Rei dos
reis e Senhor dos senhores?
É, pois, uma
grande loucura deixar o serviço de um Rei Eterno por um
temor pueril (infantil) incutido pelo respeito
humano.
É preciso se
libertar de tão humilhante servilismo, que não deixa
expandir livremente a atividade da alma religiosa de se
manifestar como um verdadeiro católico.
É preciso calcar
aos pés este respeito vergonhoso que afasta o homem de Deus.
QUARTA PALESTRA
OS PECADOS CONTRA O ESPÍRITO
SANTO
Em Mt 12, 31-32 diz:
“Por isso vos digo: todo pecado e
blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra
o Espírito não será perdoada. Se alguém disser uma palavra
contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser
contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste
mundo, nem no vindouro”.
Deus quer que todos os homens se salvem (1
Tm 2, 4) e chama todos à penitência (2 Pd 3, 9).
A Redenção de Cristo é superabundante: satisfaz por todo o
pecado e atinge todo o homem (Rm 5, 12-21). Cristo
entregou à sua Igreja o poder de perdoar os pecados por meio
dos sacramentos do batismo e da Penitência. O poder é
ilimitado, quer dizer, pode perdoar todo o pecado a todos os
batizados, tantas vezes quantas se confessam com as devidas
disposições. Esta doutrina é dogma de fé (cfr. De
Paenitentia).
O pecado de que aqui fala Jesus chama-se
pecado contra o Espírito Santo, porque é à terceira Pessoa
da Santíssima Trindade que são especialmente atribuídas as
manifestações exteriores da bondade divina. Por outro lado,
diz-se que o pecado contra o Espírito Santo é imperdoável,
não tanto pela sua gravidade e malícia, mas pela disposição
subjetiva da vontade, própria deste pecado, que fecha as
portas ao arrependimento: consiste em atribuir
maliciosamente ao demônio os milagres e sinais realizados
por Cristo. Deste modo, pela natureza própria deste pecado,
fecha-se o caminho para Cristo, que é o único que tira o
pecado do mundo (Jo 1, 29), e o pecador situa-se fora
do perdão divino. Neste sentido se chama irremissível o
pecado contra o Espírito Santo (cfr. Edições Theologica).
Contra o Espírito Santo peca não só aquele
que blasfema com palavras, mas também aquele que blasfema
com fatos, pecado com malícia deliberada, isto é, procurando
cientemente o mal espiritual, para obter um bem, uma
vantagem material: “Peca-se
contra o Espírito Santo, quando o pecado é dirigido contra o
bem apropriado ao Espírito Santo, que é a caridade. Contra o
Pai é o pecado de fraqueza; contra o Filho é o pecado da
ignorância; contra o Espírito Santo vai o pecado de
deliberada malícia” (Santo Tomás de Aquino).
Por deliberada malícia se peca quando de
sangue frio se prefere o pecado à graça de Deus; quando se
negligencia os meios que servem para impedir o apego ao
pecado: “Todo pecado, toda
blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra o
Espírito não será perdoada’
(Mt 12, 31). Pelo
contrário, quem a profere é culpado de um pecado eterno. A
misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa
deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo
arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação
oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode
levar à impenitência final e à perdição eterna”
(Catecismo da Igreja
Católica).
Se esses pecados
se dizem irremissíveis, não é porque de nenhum modo possam
ser perdoados. Todos os pecados, por mais graves que sejam,
são por Deus generosamente perdoados nesta vida, contanto
que sejamos verdadeiramente penitentes. Os pecados contra o
Espírito Santo são chamados irremissíveis, porque primeiro
muito mais do que quaisquer outros pecados são indignos do
perdão divino, porque lhes introduz uma malícia deliberada,
que não pode invocar nenhuma atenuante como os pecados
cometidos por ignorância ou fraqueza.
É de bom aviso,
pois, evitar esses pecados, que são de todos os mais
perigosos, porque sem um milagre de Deus, deles não se terá
perdão. Se realmente estamos resolvidos a não cair nestes
pecados, conservemos sempre a pureza da consciência e
fujamos do pecado venial. Geralmente uma queda grave é
preparada por uma série de faltas leves. As quedas se
repetem e pouco a pouco levam ao abismo. Uma vez chegado a
este ponto, é desprezada a misericórdia e a justiça de Deus,
perde-se a noção da verdade e da graça e nenhum remorso do
pecado cometido se experimenta:
“O ímpio, quando
chegou ao profundo dos pecados, despreza tudo”
(Pr 18, 3).
Distinguem-se seis
pecados contra o Espírito Santo:
1.
A
desesperação da salvação eterna.
Pecado este que se
dirige contra um Deus que recompensa o bem e perdoa ao
pecador penitente.
Santa Catarina de
Sena escreve:
“Este pecado
de
desespero
desagrada-me
(Deus)
e prejudica os homens mais do que todos os outros males. É o
mais prejudicial pelo seguinte: os demais vícios são
cometidos pelo incentivo de algum prazer; deles a pessoa
pode, portanto, arrepender-se e obter o perdão. No pecado de
desespero o homem não é movido por fraqueza alguma. O ato de
desesperar-se não inclui debilidade, mas somente intolerável
dor. Quem desespera, despreza minha misericórdia
(Deus)
e julga que seu pecado é maior que minha bondade
(Deus).
Quem faz tal pecado já não se arrepende, já não sente dor
pela culpa. Poderá o responsável queixar-se do castigo
recebido, mas não da ofensa cometida. Por essa razão são
condenados”
(O Diálogo).
Em flagrante
contradição com as garantias fornecidas pelo próprio Deus, o
desesperado não crê mais que Deus possa ou queira perdoá-lo,
reerguê-lo de sua vida pecaminosa e conceder-lhe uma boa
hora de morte. E, assim, ao pecado contra a esperança,
acrescenta ele um pecado contra a fé.
Os pecados contra
a esperança fecham totalmente o coração humano à influência
do Espírito Santo. Por isso, o desespero é contado entre os
pecados contra o Espírito Santo. É também um dos mais
terríveis pecados, porque inutiliza, de antemão, todo
esforço salvador.
2.
A
presunção de se salvar sem merecimento.
Este pecado põe de
lado o temor de Deus que castiga o mal.
A presunção não se
opõe diretamente ao impulso da alma para Deus, nem à
confiança, mas ao temor salutar, que é um dos elementos
essenciais da virtude teologal da esperança.
Ou o presunçoso
ofende diretamente a justiça divina, imaginando que Deus lhe
dará a felicidade eterna, mesmo sem que se converta
sinceramente e se submeta aos mandamentos divinos (tal
negação da necessidade da conversão e do mérito constitui,
além do mais, uma falta grave contra a fé); ou ele peca
contra a sobrenaturalidade da esperança, ousando que poderá
conquistar o céu com suas próprias forças naturais.
O pecado de
presunção nasce do orgulho. Muitas vezes ele resulta também
da heresia: pelagianismo mais ou menos consciente (o
homem não necessita da graça para se salvar), ou o erro
protestante sobre a certeza pessoal da salvação.
Retardar a própria
conversão na falsa esperança de que Deus não permitirá que o
pecador chegue a perder-se eternamente, não é, ainda, por
certo, pecado caracterizado, de presunção, mas é, isso sim,
pecado grave contra a virtude da esperança. Pois demonstra
que o pecador deixou perecer em si mesmo o verdadeiro
sentimento de temor em face da justiça divina. Deus jamais
prometeu esperar a conversão do pecador que tantas vezes
desprezou a graça. Ao contrário, advertiu-o frequentemente
com a ameaça da condenação eterna.
Em geral, o
que propriamente constitui o pecado de presunção não é o
adiamento da conversão, mas o fato de o pecador, levado por
certo menoscabo (desprezo) de Deus, expor a
perigo a sua salvação. Isto constitui,
indubitavelmente, falta grave contra a esperança e contra a
caridade para consigo mesmo.
Não se
caracteriza, porém, como verdadeira presunção, a atitude de
quem peca repetidas vezes, levado pela veemência da paixão e
raciocinando, eventualmente, da maneira seguinte: “De
qualquer modo, devo mesmo confessar-me; por isso, alguns
pecados a mais ou a menos não têm importância”. Mas tal
procedimento denuncia grave deficiência de esperança
teologal, falta de temor a Deus e grosseira ingratidão para
com a graça do sacramento da penitência.
3.
A
contradição à verdade conhecida.
É a negação da fé
para poder pecar mais desembaraçadamente.
4.
A
inveja da graça concedida a outros.
Este pecado tem
sua malícia em impedir o auxílio da graça interna.
5.
A
obstinação no pecado.
A falta de bom
propósito de se separar do pecado.
6.
A
impenitência final.
Propósito
“de não
fazer penitência, impossibilitando a volta para Deus”
(Pe. João Batista Lehmann).
O Catecismo da
Igreja Católica ensina:
“A misericórdia de
Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a
acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o
perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito
Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência
final e à perdição eterna”.
QUINTA PALESTRA
OS PECADOS QUE BRADAM AO CÉU
Os pecados que clamam ao céu e pedem vingança
a Deus são quatro:
1.º Homicídio voluntário.
Em Gênesis 4, 10 diz:
“Que fizeste! Ouço o
sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim!”
O Catecismo da Igreja Católica ensina:
“Existem atos que por si mesmos e em
si mesmos, independentemente das circunstâncias e intenções,
são sempre gravemente ilícitos, em virtude de seu objeto: a
blasfêmia e o perjúrio, o homicídio e o adultério. Não é
permitido praticar um mal para que dele resulte um bem”.
O mesmo Catecismo diz:
“A Escritura determina com precisão
a proibição do quinto mandamento: ‘Não matarás o inocente
nem o justo’ (Ex 23, 7). O assassinato voluntário de um
inocente é gravemente contrário à dignidade do ser humano, à
regra de ouro e à santidade do Criador”.
O Catecismo ainda
ensina:
“O quinto mandamento proscreve como
gravemente pecaminoso o homicídio direto e voluntário. O
assassino e os que cooperam voluntariamente com o
assassinato cometem um pecado que clama ao céu por vingança”.
O
infanticídio (assassinato de uma criança,
particularmente de um recém-nascido), o
fratricídio (assassinato de irmãos), o
parricida e matricida (filho que
mata pai ou mãe), e o assassinato do cônjuge são crimes
particularmente graves, devido aos laços naturais que
rompem. Preocupações de eugenismo (ciência
que estuda as condições favoráveis à manutenção e
preservação da qualidade da espécie humana) ou de
higiene pública, não podem justificar
nenhum assassinato, mesmo a mando dos poderes
públicos.
É importante lembrar que a vida humana deve
ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do
momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua
existência, o ser humano deve ver reconhecido os seus
direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de
todo ser inocente à vida. Desde o século I, a Igreja afirmou
a maldade moral de todo aborto provocado. Este ensinamento
não mudou. Continua invariável. O aborto direto, quer dizer,
querido como um fim ou como um meio, é gravemente contrário
à lei moral. A Igreja sanciona com uma pena canônica de
excomunhão este delito contra a vida humana (cfr.
Catecismo da Igreja Católica).
A Santa Igreja ensina também:
“Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam
de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes
devem ser amparadas, para levar uma vida tão normal quanto
possível. Sejam quais forem os motivos e os meios, a
eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas
deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente
inadmissível”
(Catecismo da Igreja Católica).
É importante
lembrar que o homicídio voluntário clama ao céu:
“… ouço o
sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim!”
(Gn 4,
10).
2.° Pecado sensual contra a natureza.
Em Gênesis 18, 20-21 diz:
“Disse então Deus: ‘O grito contra
Sodoma e Gomorra é muito grande! Seu pecado é muito grave!
Vou descer e ver se eles fizeram ou não tudo o que indica o
grito que, contra eles, subiu até mim; então ficarei
sabendo”.
No mesmo livro 19,
13 diz:
“Porque vamos destruir este lugar, pois é
grande o grito que se ergueu contra eles diante de Deus, e
Deus nos enviou para exterminá-los”.
Alguns pecados
contra a natureza:
1. Onanismo
(Gn 38, 4-10).
O onanismo é a
interrupção do ato sexual. É a união sexual voluntariamente
interrompida para vir a acabar em polução.
2.
Homossexualidade:
“A homossexualidade
designa as relações entre homens e mulheres que sentem
atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do
mesmo sexo”
(Catecismo da Igreja Católica).
Em Rm 1, 27 diz:
“Igualmente os homens, deixando a relação natural com a
mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando
torpezas homens com homens e recebendo em si mesmos a paga
da sua aberração”,
e:
“Não deitarás com um homem como se deita com uma mulher. É
uma abominação”
(Lv 18, 22), e
também:
“O homem que se deita com outro homem como se
fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão
morrer, e o seu sangue cairá sobre eles”
(Lv 20, 13).
3.
Bestialidade:
“Não te deitarás com
animal algum; tornar-te-ias impuro. A mulher não se
entregará a um animal para se ajuntar com ele. Isto é uma
impureza”
(Lv 18, 23), e:
“O homem que se deitar com um animal deverá
morrer, e matareis o animal. A mulher que se aproximar de um
animal qualquer, para se unir a ele, será morta, assim como
o animal. Deverão morrer, e o seu sangue cairá sobre eles”
(Lv 20, 15-16).
4.
Masturbação. Por masturbação se deve entender a
excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir
um prazer venéreo.
5. Incesto:
“O
incesto designa relações íntimas entre parentes ou pessoas
afins, em grau que proíba entre eles o casamento”
(Catecismo da Igreja Católica).
Em Levítico 18,
7-17 diz:
“Não descobrirás a nudez do teu pai, nem a
nudez da tua mãe. É tua mãe, e tu não descobrirás a sua
nudez. Não descobrirás a nudez da mulher do teu pai, pois é
a própria nudez de teu pai. Não descobrirás a nudez da tua
irmã, quer seja filha de teu pai ou filha de tua mãe. Quer
seja ela nascida em casa ou fora dela, não descobrirás sua
nudez. Não descobrirás a nudez da filha do teu filho; nem a
nudez da filha da tua filha. Pois a nudez delas é a tua
própria nudez. Não descobrirás a nudez da filha da mulher de
teu pai, nascida de teu pai. É tua irmã, e não deves
descobrir a nudez dela. Não descobrirás a nudez da irmã de
teu pai, pois que é a carne de teu pai. Não descobrirás a
nudez da irmã de tua mãe, pois é a própria carne de tua
mãe. Não descobrirás a nudez do irmão de teu pai; não te
aproximarás, pois, de sua esposa, visto que é a mulher de
teu tio. Não descobrirás a nudez de tua nora. É a mulher de
teu filho e não descobrirás a nudez dela. Não descobrirás a
nudez da mulher de teu irmão, pois é a própria nudez de teu
irmão. Não descobrirás a nudez de uma mulher e a da sua
filha; não tomarás a filha de seu filho, nem a filha de sua
filha, para lhes descobrir a nudez. Elas são a tua própria
carne: isto seria um incesto”.
Em 1 Cor 5, 1. 3-5
diz:
“É geral ouvir-se falar de mau comportamento
entre vós… um dentre vós vive com a mulher de seu pai… É
preciso que, em nome do Senhor Jesus… entreguemos tal homem
a Satanás para a perda de sua carne”.
6. Adultério:
“O
adultério. Esta palavra designa a infidelidade conjugal.
Quando dois parceiros, dos quais ao menos um é casado,
estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efêmera
(pouco duradoura),
cometem adultério”
(Catecismo da Igreja Católica).
7. Estupro:
“O
estupro designa a penetração à força, com violência, na
intimidade sexual de uma pessoa”
(Catecismo da Igreja Católica).
3.° Oprimir os pobres, órfãos e viúvas.
Em Êxodo 3, 7-10
diz:
“Deus disse: ‘Eu vi, eu vi a miséria do meu
povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus
opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso
desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para
fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra
que mana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos
amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuzeus. Agora, o
clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a
opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vai, pois,
e eu te enviarei ao faraó, para fazer sair do Egito o meu
povo, os filhos de Israel”,
e:
“Não afligirás o estrangeiro nem o oprimido, pois vós mesmos
fostes estrangeiros no país do Egito. Não afligireis a
nenhuma viúva ou órfão. Se o afligires e ele clamar a mim
escutarei o seu clamor”
(Ex 22, 20-22).
4.º Negar o salário aos que trabalham.
Em Deuteronômio
24, 14-15 diz:
“Não oprimirás um assalariado pobre,
necessitado, seja ele um dos teus irmãos ou um estrangeiro
que mora em tua terra, em tua cidade. Pagar-lhe-ás o salário
a cada dia, antes que o sol se ponha, porque ele é pobre e
disso depende a sua vida. Deste modo, ele não clamará a Deus
contra ti, e em ti não haverá pecado”,
e:
“Ai daquele que constrói a sua casa sem justiça e seus
aposentos sem direito, que faz o seu próximo trabalhar de
graça e não lhe dá o seu salário”
(Jr 22, 13).
SEXTA PALESTRA
A TENTAÇÃO
Que são as tentações?
São Pio X as define:
“As tentações são um incitamento ao
pecado que nos vem do demônio, ou das pessoas, ou das nossas
paixões”.
Santo Afonso Maria
de Ligório escreve:
“Para quem ama a
Jesus Cristo não há sofrimento pior que as tentações”.
Todos os outros
sofrimentos estimulam o homem a se unir mais com Deus,
quando aceitos com generosidade. As tentações, porém,
impelem o homem a pecar, a separar-se de Jesus Cristo e, por
isso, são muito mais amargas do que todos os outros
sofrimentos. É preciso, porém, notar que todas as tentações
que impelem para o mal, não vêm de Deus, mas do demônio ou
das más inclinações:
“Deus é incapaz de
tentar para o mal, e ele não tenta ninguém”
(Tg 1, 13).
Deus permite, às
vezes, que as almas que lhe são mais caras, sejam tentadas
mais fortemente.
Primeiro,
para que conheçam melhor a sua fraqueza e a necessidade que
têm do auxílio de Deus para não caírem.
Segundo,
Deus permite as tentações para que vivamos mais desapegados
deste mundo e desejemos mais ardentemente ir vê-Lo no céu.
As almas que amam a Deus suspiram pela morte que as tire do
perigo de perdê-Lo.
Terceiro,
Deus permite as tentações para nos enriquecer com méritos,
como disse o anjo a Tobias:
“Porque eras aceito
a Deus, foi necessário que a tentação te provasse”
(Tb 12, 13).
Portanto, não
devemos recear de estar sem a graça de Deus pelo fato de
sermos tentados; pelo contrário, então devemos esperar ser
mais amados por Deus. É engano do demônio o fazer certas
almas fracas acreditarem que as tentações são pecados que
mancham a alma. Não são os maus pensamentos que fazem perder
a Deus, mas sim, os maus consentimentos. Por fortes que
sejam as tentações do demônio, por mais vivas que sejam as
imaginações impuras assaltando o nosso espírito, se nós não
as queremos, não mancham a alma, mas a torna mais pura, mais
forte e mais querida de Deus.
O mundo, o demônio
e a carne, vendo uma alma ligada ao Filho de Deus como sua
esposa, lhe armam tentações nas quais primeiramente o pecado
lhe é proposto, depois ele lhe agrada ou desagrada e, por
fim, ela lhe dá o seu consentimento ou as rejeita. Eis aí os
degraus que conduzem à iniquidade: a tentação, o deleite
(sentir prazer) e o consentimento; e, embora estas três
coisas não se distingam evidentemente em todos os pecados,
todavia aparecem sensivelmente nos pecados maiores.
Uma tentação,
embora durasse toda a nossa vida, não nos pode tornar
desagradáveis à divina Majestade, senão nos agrada e não
consentimos nela, porque na tentação nós não agimos, mas
sofremos, e, como não nos deleitamos com ela, de nenhum modo
incorremos em alguma culpa. Por longo tempo sofreu São Paulo
tentações da carne e tão longe estava de se tornar com isso
desagradável a Deus que, pelo contrário, muito o glorificou…
Nem menores foram as tentações de São Francisco e São Bento,
quando aquele se lançou nos espinhos e este sobre a neve
para as combater, e, entretanto, longe de fazê-lo perder a
graça de Deus, só serviram para a aumentar.
Ofereçam-nos,
pois, os inimigos de nossa salvação tantos engodos (isca)
e atrativos quantos quiserem; conservem-se sempre à porta do
nosso coração, prontos para entrarem; façam-nos tantas
propostas quantas quiserem; enquanto nos conservarmos na
disposição de não nos deleitarmos com estas coisas, é
impossível que ofendamos a Deus.
Adolfo Tanquerey
explica sobre os sinais de consentimento:
“Para melhor
explicarmos este ponto importante, vejamos os sinais de
não-consentimento, de consentimento imperfeito e de pleno
consentimento. A) Pode-se dizer que não houve consentimento,
se, a despeito da sugestão e do prazer instintivo que a
acompanha, a alma sente descontentamento, desgosto de se ver
assim tentada, se luta para não sucumbir, se na parte
superior sente um vivo horror do mal proposto. B) Pode-se
ter culpa da tentação na causa, quando se prevê que esta ou
aquela ação, que podemos evitar, nos é fonte de tentações:
‘Se eu sei que alguma conversação me ocasiona tentação e
queda, e a ela me exponho voluntariamente, serei sem dúvida
alguma culpado de todas as tentações que nela me vierem’
(São Francisco de Sales).
Mas, então, não há culpa senão na medida em que houve
previsão, e, se esta não passou de vaga e confusa, fica
proporcionalmente diminuída a culpabilidade. C) Pode-se
considerar que o consentimento é imperfeito. 1) Quando não
se repele a tentação tão prontamente como se dá pelo seu
caráter perigoso; há nisto uma falta de imprudência que, sem
ser grave, expõe ao perigo de consentir na tentação. 2)
Quando se hesita um instante: desejar-se-ia provar um pouco
do prazer vedado, mas não se quereria ofender a Deus; em
suma, após um momento de hesitação, repele-se a tentação;
também aqui há pecado venial de imprudência. 3) Se não se
rechaça a tentação senão a meias: resiste-se, mas com
indolência, incompletamente; ora, semi-resistência é
semi-consentimento: falta venial. D) O consentimento é pleno
e inteiro quando a vontade, enfraquecida pelas primeiras
concessões, se deixa arrastar a saborear voluntariamente o
prazer mau, sem embargo dos protestos da consciência que
reconhece o mal. Então, se a matéria é grave, é mortal o
pecado: pecado de pensamento ou de deleitação morosa, como
dizem os teólogos. Se ao pensamento se ajusta o desejo
consentido, mais grave ainda é a falta. Enfim, se do desejo
se passa à execução, ou ao menos a procurar meios para pôr
por obra o mau projeto, é pecado de ação”.
É preciso resistir
à tentação.
a)
Prontamente, sem discutir com o inimigo, sem
hesitação (vacilação) alguma:
“Foge do pecado como
de uma serpente, porque, se te aproximares, morder-te-ás”
(Eclo 21, 2).
b)
Energicamente, não com moleza e como de má vontade,
o que pareceria convidar a tentação a voltar; mas com força
e vigor, testemunhando o horror que tal proposição nos
causa:
“Vai-te, Satanás…”
(Mt 4, 10).
c) Com
constância
(firmeza de ânimo): é que às vezes a tentação,
vencida por um instante, volta com novo furor, e o demônio
reconduz do deserto sete espíritos piores do que ele. A esta
pertinácia do inimigo é mister opor resistência não menos
tenaz; quem combate até o fim é que sairá vitorioso.
d) Com
humildade:
é ela, efetivamente, que atrai a graça, e a graça é que nos
dá a vitória. O demônio que pecou por orgulho foge diante
dum ato sincero de humildade.
Os santos indicam
alguns remédios contra a tentação diabólica.
1. O
primeiro
é a
oração humilde
e
confiante,
para pôr do nosso lado a Deus e aos seus Anjos. Se Deus está
conosco, quem será contra nós? E na verdade, quem pode ser
comparado com Deus?
“Tudo posso naquele
que me fortalece”
(Fl 4, 13).
Esta oração deve
ser humilde; porque não há nada que ponha mais rapidamente
em fuga o anjo rebelde que, tendo-se revoltado por orgulho,
jamais soube praticar esta virtude: humilhar-se diante de
Deus, reconhecer a incapacidade de triunfar sem o auxílio do
céu, desconcerta os ardis do anjo soberbo. Deve ser
confiada, porque, estando a glória de Deus interessada em
nosso triunfo, podemos ter plena confiança na eficácia da
sua graça.
É bom invocar
também a São Miguel Arcanjo que, tendo infligido ao demônio
uma insigne derrota (cfr. Ap 12, 7), terá sumo prazer
em completar a vitória em nós e por nós. O nosso Anjo da
Guarda de bom grado o auxiliará, se confiarmos nele. Mas,
sobretudo, não nos esqueçamos de implorar o socorro da
Virgem Imaculada, que com seu pé virginal não cessa de
esmagar a cabeça da serpente, e é mais terrível ao demônio
que um exército em ordem de batalha.
2. O
segundo
meio é usar com muita confiança dos sacramentos e
sacramentais. A confissão, por ser um ato de humildade, põe
o demônio em fuga; a absolvição que a segue, aplica-nos os
merecimentos de Jesus Cristo e torna-nos invulneráveis às
flechas do inimigo; a Sagrada Comunhão, introduzindo em
nosso peito Aquele que suplantou Satanás, inspira-lhe um
verdadeiro terror.
Os mesmos
sacramentais, o sinal da cruz, ou as orações litúrgicas
feitas com espírito de fé, em união com a Igreja, são também
um precioso auxílio. Santa Teresa de Jesus recomenda
particularmente a água benta, talvez porque é humilhante
para o demônio ver-se assim frustrado em seus ardis por um
meio tão simples como esse.
3. E assim, o
último meio
é um desprezo soberano do demônio:
“Saibam-no bem,
todas as vezes que nós os desprezamos, diminuem as suas
forças e a alma adquire sobre eles tanto mais império”
(Santa Teresa de Jesus).
Ver-se desprezar
por seres mais fracos é, efetivamente, intolerável
humilhação para esses espíritos soberbos. Apoiados em Deus,
temos o direito e o dever de os desprezar. Podem ladrar, não
podem morder-nos, a não ser que, por imprudência ou por
orgulho, nos lancemos em seu poder.
Não devemos nos
desanimar diante das tentações.
O Abade Santo
Antão escreve:
“Esta é a grande labuta do homem: assumir
sobre si mesmo a culpa própria diante de Deus, e esperar a
tentação até o último suspiro”.
O mesmo santo diz:
“Ninguém sem
tentações poderá entrar no reino dos céus. Suprime as
tentações, e ninguém será salvo”.
SÉTIMA PALESTRA
A ORAÇÃO
Em Lc 18, 1 diz: “(Jesus)
contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de
orar sempre, sem jamais esmorecer”.
I. Que é a oração?
São Pio X a define:
“A oração é uma elevação da alma a
Deus para adorá-Lo, para Lhe dar graças e para Lhe pedir
aquilo de que precisamos” (Catecismo Maior).
O Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã a
define: “A oração é a elevação da
mente e do coração a Deus, para O adorar, agradecer e
pedir-Lhe as graças de que necessitamos”.
II. A oração se divide em mental e vocal.
A oração mental é a que se faz
só com a alma; a oração vocal é a que se faz
com as palavras acompanhadas da atenção do espírito e da
devoção do coração.
O Pe. Alfred Barth escreve:
“Oração vocal, isto é, pronunciada com a boca: constitui para muitos um
apoio para rezar devotamente sem distrações. Se a palavra
auxilia a devoção, atenhamo-nos a ela. Oração mental. Com a
mente, isto é, meditando. Medita-se algum episódio da vida
de Cristo, um mistério do Santo Rosário, um trecho da
Sagrada Escritura, falando com Deus a esse respeito”.
São Francisco de
Sales escreve:
“Se, ao recitares uma oração vocal, te
sentires atraída à oração mental, muito longe de reprimires
esta inclinação, deves deixar-te levar suavemente e não te
perturbes por não acabar todas as orações que tens proposto.
A oração do espírito e do coração é muito mais agradável a
Deus e salutar à alma do que a oração dos lábios”.
III. Jesus Cristo rezou.
Os discípulos
encontravam seguidamente Jesus rezando no recolhimento e na
solidão. Durante a oração do monte das Oliveiras suou
sangue. Estava presente diante de Deus com sua alma e com
seu corpo, falava com Deus.
Em Hebreus 5, 7
diz:
“É este Cristo, que nos dias de sua vida
mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e
lágrimas, a Deus Pai, que o podia salvar da morte”.
Em Mt 14, 23 diz:
“Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao
chegar a tarde, estava ali, sozinho”.
Em Mc 1, 35 diz:
“De
madrugada, estando ainda escuro, ele se levantou e
retirou-se para um lugar deserto e ali orava”.
Em Mc 6, 46 diz:
“E,
deixando-os, ele foi à montanha para orar”.
Em Lc 6, 12 diz:
“Naqueles dias, ele foi à montanha para orar e passou a
noite inteira em oração a Deus”.
Jesus Cristo
retira-se na solidão para rezar. Quer ficar só com Deus.
Quem reza deve afastar-se da multidão e despedir as
preocupações.
Nosso Senhor
rezou; imitemos o seu exemplo.
São Luiz Gonzaga
escreve:
“Quem não consegue rezar muito, jamais
atingirá um alto grau de perfeição”.
Santa Teresa de
Jesus diz:
“Quem deixa a oração não necessita de
demônios que o levem ao inferno: ele aí se lança por si
mesmo”.
E a mesma santa ainda diz:
“Quem não reza ou é
um demônio ou um animal”.
O Pe. Alfred Barth
escreve:
“O animal nada conhece de Deus. É apenas um
organismo e não sabe rezar. O homem que não reza comporta-se
como se não tivesse alma, como um animal. Mas enquanto este
não é responsável, o homem, quando pensa unicamente nas
coisas da terra e não crê, comete culpa. O diabo conhece a
Deus, mas, por raiva, ódio, vingança, não reza. Ademais
desejaria, se possível, destruir Deus e suas obras, pois
quereria igualar-se a ele, tomar-lhe o lugar. Os homens que
não rezam assemelham-se ao demônio. Iludem-se de poder viver
sem Deus, sem Cristo, sem Igreja e sem sacerdotes!
Infelizes! Cairão nas garras do demônio. Quem nunca reza,
quem nunca eleva o pensamento a Deus e não fala com ele,
comete pecado grave. Não tem fé nem amor. Não pode
salvar-se”.
IV. As condições da oração.
Jesus Cristo
fez-nos a seguinte promessa:
“Em verdade, em
verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa a meu Pai, em meu
nome, Ele vo-la dará”
(Jo 16, 23). Muitos, diz São Tiago, pedem e não recebem,
porque pedem mal:
“Pedis e não recebeis porque pedis mal”
(Tg 4, 3). São Basílio Magno, explicando as palavras do
Apóstolo, diz:
“Pedes e não recebes, porque tua oração foi
mal feita ou sem fé, sem devoção ou desejo; ou porque
pediste coisa que não se referia à tua salvação eterna, ou
pediste sem perseverança”.
Santo Tomás de
Aquino reduziu a quatro as condições requeridas na oração
para que obtenham o seu fruto: isto é, que o homem
peça para si, coisas necessárias à salvação, com devoção e
com perseverança.
1.
A
primeira condição da oração é que rezemos por nós mesmos.
Santo Tomás de
Aquino julga que ninguém pode impetrar para outros, como
mérito de justiça, a vida eterna e por conseguinte também as
graças necessárias para a salvação deles, porque a promessa,
diz ele, foi feita, não para os que rezam para outros, mas
os que rezam para si mesmos: Dar-se-vos-á:
“Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será
aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao
que bate se lhe abrirá”
(Mt 7, 7-8).
Não obstante, há
muitos doutores que afirmam o contrário apoiados na
autoridade de São Basílio, que ensina ter a oração
infalivelmente o seu efeito, ainda que se reze pelos outros,
contanto que esses não oponham uma resistência positiva.
Estes escritores se baseiam sobre textos da Sagrada
Escritura:
“Orai uns pelos outros para serdes salvos,
porque muito vale a oração perseverante do justo”
(Tg 5, 16).
“Rezai pelos que vos perseguem e caluniam”
(Mt 5, 44). O melhor texto é de São João:
“Se alguém vir seu
irmão cometer um pecado, que não é de morte, peça e será
concedida a vida àquele, cujo pecado não é de morte”
(1 Jo
5, 16). As palavras: cujo pecado não é de morte, Santo
Agostinho, São Beda, Santo Ambrósio e outros, explicam que
se devem entender do pecador, que não quer viver obstinado
até a morte; pois, para tal pecador seria necessário uma
graça muito extraordinária. Quanto aos outros pecadores, que
não atingiram um grau tão alto de maldade, se alguém rezar
por eles, promete-lhe o Apóstolo, a conversão deles:
“Peça e
será dada a vida ao pecador”.
2.
A
segunda condição é que peçamos graças necessárias à salvação;
porque a promessa divina não foi dada para os bens
temporais, que não são necessários à salvação da alma.
Às vezes, pedimos
algumas graças temporais e Deus não nos atende; mas não nos
atende porque nos ama, diz Santo Agostinho, e quer usar de
misericórdia para conosco. O médico que se interessa pelo
doente nunca permitirá coisas que lhe possam fazer mal.
Quando pedirmos a
Deus bens temporais, devemos pedi-los com resignação e sob a
condição de aproveitarem à alma. Se vemos que o Senhor não
os concede, tenhamos por certo que os nega pelo amor que nos
tem e porque prevê que vão prejudicar a salvação de nossa
alma.
3.
Finalmente, eis as outras condições que Santo Tomás de
Aquino exige para a oração: Que se reze com devoção
e perseverança. Com devoção, quer dizer, com
humildade e confiança; com
perseverança, quer dizer, sem deixar de rezar até a
morte.
É preciso rezar
com humildade. Deus atende as orações dos seus
servos, mas dos servos humildes:
“O Senhor atendeu a
oração dos humildes”
(Sl 101, 18). Onde falta humildade, Deus não atende, pelo
contrário, repele as orações dos orgulhosos:
“Deus resiste aos
soberbos e dá a graça aos humildes”
(Tg 4, 6).
Deus não ouve as
orações dos soberbos que confiam na própria força, e, por
isso, abandona-os à sua miséria. Em tal estado, privados do
auxílio divino, perder-se-ão certamente.
É preciso rezar
com confiança.
Para alcançar
alguma graça de Deus, por meio da oração, devemos rezar com
plena confiança e convicção de que vamos ser atendidos.
Em São Tiago 1,
5-8 diz:
“Se alguém dentre vós tem falta de
conhecimento, peça-o a Deus que o concede generosamente a
todos, sem recriminações, e ele ser-lhe-á dado, contanto que
peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é
semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento.
Não pense tal pessoa que vai receber alguma coisa do Senhor,
dúbio e inconstante como é em tudo o que faz”.
Deus protege e
salva a todos os que confiam n’Ele. Salva os que esperam n’Ele:
“Os
que esperam no Senhor terão sempre forças novas, tomarão
asas como de águia, correrão e não se fatigarão, andarão e
não desfalecerão”
(Is 40, 31).
Em Eclo 2, 10 diz:
“…
quem confiou no Senhor e ficou desiludido?”
Santo Agostinho
escreve:
“Poderá Deus enganar-nos oferecendo-se para
sustentar-nos nos perigos quando a Ele recorremos, e,
depois, retirando-se de nós, quando, de fato recorremos a
Ele?”
Conservemos a
confiança em Deus, porque assim poderemos esperar uma grande
recompensa. Assim como for a nossa confiança, do mesmo modo
serão as graças de Deus.
São Bernardo de
Claraval escreve:
“A divina misericórdia é uma fonte imensa; e
nós apanhamos as graças com os vasos da confiança; quem vier
com um vaso maior poderá tirar maior número de graças”.
É preciso rezar
com perseverança.
Não basta rezarmos
com humildade e confiança; mas é preciso perseverarmos na
oração.
Santo Tomás de
Aquino escreve:
“Depois do batismo, é necessária aos homens a
oração contínua para poder entrar no céu”.
Para alcançar uma
graça são necessárias orações perseverantes e contínuas.
V. É impossível se salvar sem a oração.
Santo Afonso Maria
de Ligório escreve:
“Quem reza,
certamente se salva, e quem não reza, certamente será
condenado. Todos os bem-aventurados… salvaram-se pela
oração. Todos os condenados se perderam, porque não
rezaram. Se tivessem rezado, não se teriam perdido. E este é
e será o maior desespero no inferno: o poder ter alcançado a
salvação com facilidade, pedindo a Deus as graças
necessárias. E, agora, esses miseráveis não têm mais tempo
de rezar”.
VI. Transformar as nossas ações em oração.
Quão importante
seja fazer as nossas ações em união com Jesus Cristo.
Quando as ações
são demoradas, é útil renovar este oferecimento por meio de
um olhar afetuoso sobre o crucifixo, ou, melhor ainda, sobre
Jesus, vivo em nós; e deixar a alma desafogar-se em
frequentes jaculatórias que nos elevarão o coração para
Deus.
Assim as nossas
ações, ainda as mais comuns, serão uma oração, uma ascensão
da alma para Deus, e realizaremos o desejo que Jesus
exprimiu:
“…é preciso rezar sempre, sem jamais
esmorecer”(Lc 18, 1).
OITAVA PALESTRA
O NÚMERO DOS PECADOS
Se Deus castigasse imediatamente a quem O
ofende, não se veria, sem dúvida, tão ultrajado como o é
atualmente. Mas, porque o Senhor não castiga logo, mas
espera benignamente, os pecadores se animam a ofendê-Lo.
Deus espera e é
paciente, mas não para sempre.
É opinião de
muitos Santos Padres (São Basílio, São Jerônimo, Santo
Ambrósio, São Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo,
Santo Agostinho e outros) que Deus, assim como
determinou para cada homem o número dos dias de vida, dotes
de saúde e de talento que lhe quer outorgar (Sb 11, 20),
assim, também, contou e fixou o número de pecados que lhe
quer perdoar. E, completo esse número, já não perdoa mais,
diz Santo Agostinho. Eusébio de Cesaréia e os outros Padres
acima citados afirmam o mesmo.
Esses Padres
falaram baseados na Sagrada Escritura.
Em Gênesis 15, 16
diz:
“É na quarta geração que eles voltarão para
cá, porque até lá a iniquidade dos amorreus não terá
atingido o seu cúmulo”.
Em Oséias 1, 6
diz:
“Não terei no futuro misericórdia de Israel”.
Em Números 14,
22-23 diz:
“Todos estes homens que viram minha glória e
os sinais que fez no Egito e no deserto, estes homens que já
me puseram à prova dez vezes, sem obedecer à minha voz, não
verão a terra que prometi com juramento a seus pais. Nenhum
daqueles que me ultrajaram a verá”.
Em Jó 14, 17 diz:
“Tendes selado, como numa urna, as minhas culpas”.
Em Eclesiástico 5,
5 diz:
“Não sejas tão seguro do perdão para acumular
pecado sobre pecado”.
Ou seja: é preciso, pecador, que tremas ainda dos pecados
que já te perdoei; porque, se lhes acrescentares outro
poderá ser que este novo pecado com aquele complete o número
e então não haverá misericórdia para ti.
Em 2 Macabeus 6,
14-15 diz:
“Pois não é como para com as outras nações,
que o longânime soberano espera, até puni-las, que elas
cheguem ao cúmulo dos seus pecados: não é assim que ele
decidiu proceder com relação a nós, a fim de não ter de nos
punir mais tarde, quando nossos pecados tivessem atingido
sua plena medida”.
Deus espera o dia
em que se completa a medida dos pecados, e depois castiga.
Dirá o pecador que
Deus é Deus de misericórdia… Quem o nega? A misericórdia de
Deus é infinita; mas, apesar dela, quantas almas se condenam
todos os dias? Deus cura os que têm boa vontade. Perdoa o
pecado, mas não pode perdoar a vontade de pecar. Replicará o
pecador que ainda é muito jovem… És moço? Deus não conta os
anos, conta as culpas. Ora, a medida dos pecados não é igual
para todos. A um perdoa Deus cem pecados; a outro, mil;
outro, ao segundo pecado se verá precipitado no inferno. A
quantos condenou após o primeiro pecado! Refere São Gregório
Magno que um menino de cinco anos, por ter proferido uma
blasfêmia, foi lançado no inferno.
Lemos no Evangelho
de São Mateus que o Senhor, a primeira vez em que achou a
figueira sem fruto a amaldiçoou, e a árvore secou (Mt 21,
19).
Em Amós 1, 3 diz:
“Depois das maldades que o povo de Damasco cometeu três e
quatro vezes, eu não mudarei o meu decreto”
(não revogarei os castigos que lhe tenho decretado).
Replicará a alma
obstinada que, tendo ofendido tantas vezes a Deus, e Deus
lhe tendo perdoado, espera que Ele ainda lhe perdoará um
novo pecado… Mas, porque Deus não a tem castigado até esta
hora, segue-se que sempre há de proceder assim? Encher-se-á
a medida e o castigo virá.
Sem interromper as
relações com Dalila, esperava Sansão salvar-se das mãos dos
filisteus, como antes tinha feito (Jz 16, 20); mas
nesta última vez foi preso e perdeu a vida. Em Eclo 5, 4
diz:
“Não digas: ‘Pequei: o que me aconteceu?’
porque o Senhor é paciente”.
Porque o Altíssimo, ainda que nos tolere, dá-nos o que
merecemos, isto é: chegará o dia em que tudo lhe pagaremos,
e quanto maior tiver sido a misericórdia tanto maior será a
pena. Afirma São João Crisóstomo que há mais para recear
quando Deus tolera um pecador obstinado, do que quanto lhe
aplica o castigo sem demora. Com efeito, observa São
Gregório, todos aqueles a quem Deus espera com mais
paciência, são depois, se perseverarem na sua ingratidão,
castigados com mais vigor; e muitas vezes acontece,
acrescenta o mesmo santo, que os que foram por mais tempo
tolerados por Deus, morrem de improviso sem ter tempo de se
converter. Especialmente, quanto maiores tenham sido as
luzes que Deus lhe tenha dado, tanto maiores serão tua
cegueira e obstinação no pecado, se a tempo não fizeres
penitência:
“Era-lhe melhor não ter conhecido o caminho
da justiça, que depois do conhecimento voltar-lhe as costas”
(2 Pd 2, 21).
São Paulo Apóstolo
diz que é (moralmente) impossível que uma alma
ilustrada por luzes celestes, quando reincidir (tornar a
incidir) no pecado, se converta de novo:
“De fato, os que
uma vez foram iluminados – que saborearam o dom celeste,
receberam o Espírito Santo, experimentaram a beleza da
palavra de Deus e as forças do mundo que há de vir – e, não
obstante, decaíram, é impossível que renovem a conversão uma
segunda vez, porque da sua parte crucificam novamente o
Filho de Deus e o expõem às injúrias”
(Hb 6, 4-6).
Terríveis são as
palavras do Senhor contra aqueles que não querem atender a
seu convite:
“Já que vos chamei e dissestes não… eu também
me rirei na hora da vossa morte e vos escarnecerei”
(Pr 1, 24-26). Note-se que as palavras “eu também”
significam que, assim como o pecador zombou de Deus,
confessando, fazendo propósitos e não os cumprindo nunca,
assim o Senhor zombará dele na hora da morte.
Em Eclo 21, 1 diz:
“Filho, pecaste? Não tornes a pecar; mas roga pelas culpas
antigas, a fim de que te sejam perdoadas”.
Assim Deus adverte o homem, porque deseja salvá-lo… porque
talvez mais um pecado que o homem cometer fará pender a
balança da justiça divina e será condenado.
Em Isaías 47,
10-11 diz:
“Pecaste confiando temerariamente na
misericórdia de Deus; mas o castigo viera de improviso sobre
ti, sem que saibas donde vem”.
NONA PALESTRA
OS ANJOS
1.º Ponto
A) Quem são os
anjos?
Os anjos são espíritos puros, isto é, sem
corpo, que têm entendimento e vontade.
B) Para que criou
Deus os anjos?
Deus criou os anjos para que O louvem,
obedeçam e sejam felizes no céu; para serem os seus
mensageiros e cuidarem dos homens.
C) Quem é o anjo
da guarda?
O anjo da guarda é o anjo que Deus nos dá a
cada um para que nos guarde na terra e nos guie para o céu.
2.º Ponto
Os anjos na Sagrada Escritura
Muitos afirmam que os anjos não existem, e
que tudo não passa de uma lenda ou invenção. Mas, a Sagrada
Escritura mostra abertamente que os anjos existem. Mesmo que
as trevas tentem ofuscar esses amigos íntimos, eles
continuam brilhando e nos protegendo.
Antigo Testamento
Gênesis 28, 12: “(Jacó)
teve um sonho: Eis que uma escada se erguia sobre a terra e
o seu topo atingia o céu, e anjos de Deus subiam e desciam
por ela!”
1 Crônicas 21, 15:
“Depois Deus enviou o Anjo a
Jerusalém para exterminá-la; mas, no momento de
exterminá-la, Deus viu e se arrependeu deste mal; e disse ao
Anjo exterminador: ‘Basta! Retira tua mão’”.
Tobias 5, 22:
“Um bom anjo o
acompanhará, lhe dará uma viagem tranquila e o devolverá são
e salvo!”
Novo Testamento
São Mateus 1, 20:
“Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do
Senhor manifestou-se a ele em sonho”,
e:
“Com isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se
aproximaram e puseram-se a servi-lo”
(Mt 4, 11), e também:
“Não desprezeis
nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os anjos
nos céus vêem continuamente a face de meu Pai que está nos
céus”
(Mt 18, 10), e ainda:
“Ele enviará os seus
anjos que, ao som da grande trombeta, reunirão os seus
eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade até a outra
extremidade do céu”
(Mt 24, 31).
São Lucas 22, 43:
“Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava”.
São João 20, 12:
“E
viu dois anjos, vestidos de branco, sentados no lugar onde o
corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e outro aos
pés”.
Atos dos Apóstolos
5, 19:
“O Anjo do Senhor, porém, durante a noite,
abriu as portas do cárcere…”
3.º Ponto
Hierarquia angélica
Costuma-se dividir os Anjos em nove
coros e três hierarquias ou
ordem.
Vejamos a hierarquia celeste como foi
proposta por São Dionísio Areopagita, e tem sido ensinado
pela Igreja Católica Apostólica Romana.
3.ª Hierarquia
Pertencem à terceira hierarquia, os seres
espirituais celestes mais privilegiados, pois vivem, por
assim dizer, nos umbrais da Divindade.
Pela luz de Deus que recebem diretamente,
experimentam simultaneamente dos três graus de perfeição
espiritual, isto é, da purificação, da iluminação e da união
com Deus.
Sua função, segundo São Boaventura, é a visão
de Deus e sua glorificação extrínseca, e o aperfeiçoamento
dos coros inferiores pela iluminação que lhes comunica.
9.º Coro. 3.ª Hierarquia
Os Serafins
Os Serafins são os mais “próximos”
de Deus, de cujo conhecimento e amor participam em grau
superior aos demais, por “contemplarem” por
assim dizer, a Deus, o Amor Supremo, a fonte de todo o Amor.
Sua vontade é como que uma fulguração que não
vive senão do amor divino. Amando somente a Deus, cada vez
mais se abrasam neste fogo celestial. Conhecem a infinita
bondade de Deus mais que qualquer ser criado, e esse
conhecimento aviva-lhes sem cessar o amor.
Deus é Caridade, é Ele mesmo o Amor; como a
natureza dos Serafins os impele a amarem, amam a Deus sem
limites, sem medidas e sem fim.
Seu ofício é amar a Deus e cantar seus
louvores, comunicando aos demais coros o fogo de amor a
Deus. Por isso, se fala nos ardentes Serafins, cujo objeto é
o bem. Eles, portanto, adoram, amam e louvam sem cessar a
Santíssima Trindade.
Devemos pedir aos Serafins que nos abrasem no
amor a Deus e nos inflame o coração no carinho para com
Maria Santíssima, nossa Mãe celeste.
Narra a Escritura que o profeta Isaías viu um
Serafim que lhe purificava os lábios com um carvão aceso que
havia tomado do altar do Senhor e antes havia ouvido como os
Serafins cantavam em coro o triságio:
“Santo, Santo, Santo, é o Senhor
Deus dos exércitos; cheia está a terra de sua glória”
(Is 6, 3).
8.º Coro. 3.ª Hierarquia
Os Querubins
Recebem
diretamente os raios da divina Sabedoria e estão cheios da
sublimidade da ciência do Senhor. Ao contemplarem a essência
divina ficam submersos naquele pélago (abismo) imenso
da sabedoria de Deus que os envolve totalmente. Segundo São
Dionísio Areopagita, os luminosos Querubins têm a
prerrogativa de contemplar o poder divino. Como que
extasiados, prorrompem em cânticos de amor e louvor a Deus.
São, por assim dizer, a personificação do zelo na realização
da maior glória de Deus e da defesa da mesma.
O profeta Ezequiel
teve uma visão desses espíritos celestes. Pareceu-lhe ver,
de modo figurado, evidentemente, que levavam em carro de
glória, a majestade de Deus:
“Quanto às suas
faces, tinham forma semelhante à de um homem, mas os quatro
apresentavam face de leão do lado direito e todos os quatro
apresentavam face de touro do lado esquerdo. Ademais, todos
os quatro tinham face de águia”
(Ez 1, 10).
Um Querubim teria
guardado a “porta do Paraíso” após a queda de
Adão:
“Ele baniu o homem e colocou, diante do
jardim do Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante
para guardar o caminho da árvore da vida”
(Gn 3, 24).
Acredita-se que o
“trono” do Papa seja guardado por quatro
Querubins, e que muitos santuários que os homenageiam são
assistidos por um deles. A piedade cristã os invoca nas
tentações contra a fé, a virtude da pureza e os escrúpulos.
7.º Coro. 3.ª Hierarquia
Os Tronos
Contemplam
eternamente a Deus em sua puríssima essência. Sorvem a luz
daquela fonte inesgotável de amor e sabedoria. Recebem de
Deus as ordens para comunicá-las às Dominações e aos outros
espíritos das hierarquias inferiores.
Como estão
permanentemente junto de Deus, são como que um “trono”
sobre o qual simbolicamente descansa a majestade divina.
Cantam, por assim dizer, a glória de Deus:
“Santo, Santo, Santo
é o Senhor Deus dos exércitos; toda a terra está cheia de
sua glória”
(Is 6, 3).
São Paulo na carta
aos Colossenses assim se refere aos Tronos, espíritos
celestes da 3.ª hierarquia:
“Porque nele foram
criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e
as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades,
tudo foi criado por ele e para ele”
(1, 16).
Os Tronos assistem
aos bispos em suas dioceses, aos governantes, às comunidades
claustrais e oferecem à Santíssima Trindade as orações e
sacrifícios que se realizam nessas suas comunidades. Devemos
invocá-los para que esclareçam e iluminem os governantes,
bispos e responsáveis por comunidades religiosas e civis.
2.ª Hierarquia
Sua missão
primordial é a iluminação dos coros inferiores e o
cumprimento dos desígnios de Deus no universo, isto é, o
governo do mundo.
6.º Coro. 2.ª Hierarquia
As Dominações
Fazem cumprir a
vontade do Senhor em todos os espíritos dos coros inferiores
e no mundo.
São, por assim
dizer, espíritos administradores dos quais Deus se serve
para o governo do mundo. Foram considerados os
generalíssimos dos exércitos angélicos servindo a Deus que
possui a dominação suprema sobre tudo quanto existe.
Suas atribuições
se estendem não apenas a atuar sobre os coros inferiores,
mas a todo o universo.
São Paulo se
refere às Dominações na Carta aos Efésios:
“Muito acima de
qualquer Principado e Autoridade e Poder e Dominação…”
(1, 21).
Assistem aos que
se empenham em difundir o reino de Deus: os missionários, os
superiores de mosteiros e conventos, os que possuem um
ministério de devoção espiritual e os professores. Devemos
pedir às Dominações pelos hereges, agnósticos, ateus
incrédulos, de outras religiões e pelos católicos pouco
fervorosos.
5.º Coro. 2.ª Hierarquia
As Virtudes
Segundo São
Dionísio Areopagita, é por meio deste coro da hierarquia
Angélica que Deus preside o universo.
Sabemos que Deus
está em todos os lugares, pois é infinito, mas quer que as
Virtudes, sustentadas pela força e poder que d’Ele recebem,
mantenham as leis que regem a criação, suspendendo o curso
dessas mesmas leis quando sua suprema vontade assim resolve.
As Virtudes têm o
poder de acalmar a fúria dos mares, a força dos ventos e o
curso dos astros. Em uma palavra: a elas estão sujeitos os
fenômenos da natureza.
Deus envia as
Virtudes aos que se esforçam por tornarem-se melhores. Os
pecadores arrependidos são auxiliados por Virtudes Celestes,
para que perseverem no bem. Para melhorarmos nossa vida
espiritual devemos invocá-las, porque não bastam bons
pensamentos e resoluções: é necessário coragem e força para
cumprirmos as boas resoluções.
4.º Coro. 2.ª Hierarquia
As Potestades
Os espíritos
celestes denominados Potestades removem todos os obstáculos
que podem impedir a execução dos desígnios de Deus e segundo
São Gregório Magno, vencem o poder dos demônios.
O inimigo do
gênero humano, o demônio, se compraz em estorvar o quanto
pode a realização dos desígnios de Deus sobre a humanidade.
Os demônios inconformados com a misericórdia com que Deus
trata os homens, têm um só afã, um só objetivo: o de
induzi-los a ofender a Deus para que venham a participar de
sua desdita.
Para proteger os
homens contra essas insídias diabólicas, Deus designou as
Potestades, conferindo a elas os poderes que assegurem
sempre a vitória, quando invocados a intervir nas tentações
e maquinações solertes (velhacas) dos demônios.
Auxiliam de modo especial aos sacerdotes, inspirando-os para
que se santifiquem e exerçam bem seu ministério.
1.ª Hierarquia
3.º Coro. 1.ª Hierarquia
Os Principados
Segundo São
Dionísio Areopagita, os Principados têm por ofício o governo
dos reinos e dos povos. São como custódios das comunidades.
São como que os
generais do “exército” do Rei do Universo que
defendem e protegem as nações. Cada reino, cada nação, cada
igreja, cada localidade e cada povo tem um vigilante guarda,
um Principado que lhe serve de proteção, amparo e defesa. Ao
aparecer aos pastorzinhos em Fátima, em 1916, o Anjo se
apresentou como “o Anjo de Portugal”. Seria um
Principado, e que não se identificou como tal, pois, para as
crianças a quem apareceu, essa designação certamente seria
incompreensível.
Os Principados
“lutam” contra as legiões infernais que, com seus
príncipes, pervertem as sociedades e fazem-nas desviar do
caminho da salvação.
Em Romanos 8, 38
diz:
“Pois estou convencido de que nem a morte nem
a vida, nem os anjos nem os principados…”
Os Principados
adoram a Deus presente na Sagrada Eucaristia e, por isso, um
comentarista recomendava que
“nenhum sacerdote
deveria se esquecer de saudar o Anjo do Santuário ao nele
entrar”.
O mesmo se aplica a nós, que, ao entrarmos numa igreja,
depois de adorarmos ao Santíssimo Sacramento e à Santíssima
Trindade e de uma oração a Maria Santíssima, devemos invocar
o Principado daquela igreja.
2.º Coro. 1.ª Hierarquia
Os Arcanjos
Como o nome o
indica, os Arcanjos, embora fazendo parte da hierarquia dos
Anjos, são de certa forma, de uma classe de grau superior
aos Anjos do 1.º Coro. A eles Deus confia missões
extraordinárias, como a comunicação de mistérios de fé e
revelações de realidades acima da compreensão da razão
humana.
São Miguel é
representado como um guerreiro subjugando Satanás. A lança
em sua mão simboliza a Força de Deus com a qual derrota o
Demônio; o escudo, a humildade contra a qual vêm lançarem-se
as insídias informais; a espada de dois gumes é um símbolo
da Palavra de Deus, a qual desfaz a mentira e dissipa a
ilusão de que Satanás em sua soberba se serve para impedir a
ação da graça e enganar e perder as almas.
Miguel significa
“Quem como Deus?”
Segundo alguns
teólogos, São Miguel Arcanjo é o Anjo da guarda de Jesus
Cristo, da Sagrada Eucaristia e do Santo Sacrifício da
Missa.
São Miguel
enviaria seus Arcanjos para auxiliarem o Anjo da guarda de
uma pessoa perseguida ou na iminência do martírio.
São Gabriel é o
mensageiro do Espírito Santo.
Gabriel significa
“Deus é forte”.
Apareceu a Daniel,
Zacarias e a Nossa Senhora. É venerado como o Anjo da guarda
de Nossa Senhora, e devemos invocá-lo para que aumente em
nós o amor a Santíssima Virgem.
Todos aqueles que
se doam pelas mãos de Nossa Senhora a Jesus Cristo, recebem
um auxílio suplementar, além de seu Anjo da guarda, um Anjo
do Coro de São Gabriel para seu aperfeiçoamento espiritual.
A cada dia, ele apresenta à sua Soberana Rainha, o
“bouquet” dos “sim” dessas pessoas que
aceitam, trabalham e oferecem por amor, todas as suas
misérias e defeitos, para a glória de Deus e a salvação das
almas.
São Rafael, cujo
nome significa “Deus cura” ou “Medicina
de Deus”, é representado por um jovem em traje de
viagem, segurando um cajado. A vestimenta de viandante nos
recorda que São Rafael está sempre disposto a “viajar”
em nosso auxílio; o cajado lembra um cetro que simboliza o
poder, o acordo e a segurança com que o Arcanjo assiste a
todos quantos recorrem ao seu auxílio em suas necessidades.
São Rafael deve,
portanto, ser invocado contra as potências do mal, na cura
das doenças e nos deslocamentos e viagens. É também o
protetor dos confessores e penitentes. Muitos que a ele
recorreram foram bons orientadores de consciência. Ele nos
consola nas dificuldades presentes e nos fortalece contra o
desânimo e a depressão. Quando Deus no-lo envia, sentimos a
paz, a tranquilidade e a aceitação do
que nos parecia impossível suportar.
1.º Coro. 1.ª Hierarquia
Os Anjos
São do último
Coro, esses espíritos bem-aventurados que como os outros
foram criados para a glória e o serviço de Deus. Deles, Deus
se serve como de emissários ou mensageiros e de guardiões de
cada criatura humana. Todos nós recebemos por bondade e
misericórdia de Deus, um Anjo Custódio, nosso Anjo da
Guarda, que nos protege das insídias do demônio e até mesmo
dos perigos para o nosso corpo.
Têm eles uma
atuação e participação nas atividades dos homens,
inspirando-lhes e suscitando-lhes boas ideias e propósitos,
protegendo-os e auxiliando-os na jornada pela terra rumo ao
céu.
Os Anjos são os
que dirigem cada pessoa individualmente, enquanto que os
Arcanjos normalmente anunciam realidades que interessam à
salvação de todos.
Bibliografia
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realidade admirável
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Ideal do monge
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Catecismo da Igreja Católica, 1756, 1864,
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-
Concílio de Trento, De Paenitentia, can. 1
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Edições Theologica
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Frei Basílio Röwer, 50 Conferências para
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Pe. Richard Gräf,
O cristão e a dor
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Sagrada Escritura
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Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 28. 9. 2
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Santa Teresa de Jesus, Escritos
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Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do
amor a Jesus Cristo; A oração; Preparação para a morte;
Meditações
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Santo Agostinho, Escritos
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Santo Tomás de Aquino, Escritos
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São Bernardo de Claraval, Escritos
-
São Francisco de Sales, Introdução à vida
devota
-
São Pio X, Catecismo Maior
-
Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã
|