Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

Palestras

 

 

 

Local: Patronato Madre Mazzarelo, rua 11, n.° 380, Vila Góis

Cidade: Anápolis – GO

Data: 17, 18, 19, 20 e 21 de fevereiro de 2012

Número de participantes: 44 pessoas (Cidade Estrutural - DF, Taguatinga - DF, Lago Sul - Brasília - DF, Park Way – Brasília -  DF, Gama - DF, Jaraguá - GO, Pirenópolis - GO, Goiânia - GO, Anápolis - GO, Cocalzinho - GO, e Valparaiso - GO)

Pregador: Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Temas: O silêncio interno e externo, O valor do sacrifício, O respeito humano, Os pecados contra o Espírito Santo, Os pecados que bradam o céu, A tentação, A oração, O número dos pecados e Os anjos

 

 

PRIMEIRA PALESTRA

 

O SILÊNCIO INTERNO E EXTERNO

 

A solidão só é verdadeira se for banhada por uma atmosfera de silêncio. De fato, o barulho distrai a alma do recolhimento interior; andar ou fechar as portas com ruído, conversar em voz alta atrapalha o próximo na sua vida de oração, leitura espiritual, estudo… e o irrita, quando o mesmo ama o silêncio.

Mais ainda; o ruído exterior e as conversas inúteis distraem a alma fazendo perder o recolhimento.

Aquele que não sabe fazer silêncio não possui vida interior. Uma alma que se expande muito em palavras não pode escutar em si a voz interior de Nosso Senhor Jesus Cristo

O silêncio dos lábios seria de pouca utilidade se não viesse acrescentar-se o silêncio do coração.

São Gregório Magno escreve: “Para que serve a solidão material se não houver a solidão da alma?”

Pode-se viver num deserto e não ser recolhido; porque deixa-se a imaginação vaguear através do imenso campo das lembranças e coisas insignificantes, sonha-se com futilidades e abre-se o espírito a pensamentos vãos. É triste ver com que facilidade desperdiçamos muitas vezes os nossos pensamentos. Pode ganhar-se o céu, pode-se perdê-lo por um pensamento.

A alma sem método, leviana, voluntária e habitualmente distraída pela agitação desordenada de pensamentos estéreis não pode ouvir a voz de Deus. Feliz, porém, da alma que vive no silêncio interior, fruto da calma da imaginação, da expulsão das vãs solicitudes e dos cuidados irrefletidos, do sossego das paixões, da firmeza na virtude sólida, da concentração das faculdades na busca constante do único Bem! Feliz desta alma! Deus falar-lhe-á constantemente; o Espírito Santo deixá-la-á ouvir as palavras de vida que não impressionam os ouvidos do corpo, mas que a alma atenta recolhe com alegria em si mesma para delas fazer o alimento da sua vida.

Nossa Senhora vivia no recolhimento interior: “Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2, 19).

A Virgem Maria não se perdia em palavras; cheia de graça e das luzes do alto, toda inundada dos dons do Espírito Santo, ficava silenciosa, em adoração a seu Filho; vivia na contemplação do mistério inefável que nela e por ela se cumpria, e do santuário de seu coração imaculado ininterruptamente subia para Deus um hino de louvor e de ação de graças. As casas dos católicos deveriam ser como a casa da Sagrada Família em Nazaré.

Não basta guardar o silêncio exterior, afastar do espírito e do coração os pensamentos vãos e estéreis; é preciso ainda preencher esta solidão interior com reflexões que ajudam a alma a subir para Deus.

Jesus Cristo é o Deus silencioso. Ele passou trinta anos no retiro e na obscuridade da casa de Nazaré, para gastar apenas três anos na vida pública.

Jesus nos ensina com este seu exemplo a amar o silêncio, o recolhimento e a solidão. É impossível imaginarmos o Filho de Deus falando com excesso em qualquer sentido.

Jesus Cristo aprecia certamente nosso trabalho… Espera nossa penitência… Ama nossa oração. Mas julga nosso amor pelo modo com que O escutamos.

Deus ama o silêncio. Foi no silêncio que Ele se encarnou, foi no silêncio que Ele nasceu, - longe da cidade, longe do ruído, em plena noite -. E quando chegou a hora da pregação, inaugurou-a por quarenta dias de retiro no deserto. Seu ministério foi entrecortado por numerosas paradas noturnas e silenciosas. Durante a Paixão, em lugar de se defender, calou-se, e na Hóstia, Ele é o grande silencioso.

 

 

SEGUNDA PALESTRA

 

O VALOR DO SACRIFÍCIO

 

Em Mt 7, 13-14 diz: “Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram”.

Milhões de católicos estão tentando fabricar um catolicismo sem cruz, sem sacrifício, longe da porta estreita e do caminho apertado.

O Papa Paulo VI escreve: “O que seria de um Evangelho, de um cristianismo sem Cruz, sem dor e sem o sacrifício da dor? Seria um Evangelho, um cristianismo sem Redenção, sem Salvação…”

Um cristianismo do qual se pretendesse arrancar a cruz da mortificação voluntária e da penitência, sob o pretexto de que essas práticas seriam hoje “resíduos obscurantistas”, “medievalismos” impróprios de uma época humanista, esse cristianismo desvirtuado, de cristianismo teria apenas o nome; não conservaria a doutrina do Evangelho nem serviria para dirigir os passos dos homens em seguimento de Cristo.

A cultura do prazer, no entanto, instaurou-se de forma sólida em praticamente todas as faixas sociais e etárias… levando o homem a virar as costas para o definitivo: a salvação eterna.

Como já foi citado em Mt 7, 14: “Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e quão poucos são os que entram por ele!” Está claro que Jesus Cristo não fez promessas fáceis, como as de um político em véspera de eleição, ou de um pastor protestante com voz exaltada numa rádio prometendo cura, dinheiro, saúde… e nem menciona a Vida Eterna… Não se trata de buscar a salvação eterna, mas sim, a salvação terrena.

São milhões as pessoas que, movidas pela vaidade ou pela superficialidade, são capazes de submeter o corpo a quaisquer tipos de renúncias para assegurar um padrão de beleza: jejuns alimentares para emagrecer; penosas operações plásticas para melhorar o visual; perfuração de partes do corpo (nariz, pálpebras, orelhas, língua…) para introduzir piercings; trabalhosos processos de tatuagens… E isso, sem falar das academias, onde algumas pessoas exigem do corpo exercícios até à exaustão para modelar os músculos e exibi-los nas praias ou festinhas… Para o corpo oferecem com alegria; mas para Deus dizem ser exagero. É como se Deus merecesse menos que o nosso corpo.

Cristo Jesus é o nosso modelo. Não podemos esquecer que seguir Cristo Jesus é segui-Lo também na sua cruz: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me” (Lc 9, 23).

A paixão de Nosso Senhor durou todo o tempo da sua vida.

No mesmo instante em que foi criada a alma de Jesus e unida com seu pequenino corpo no seio da Virgem Maria, o Pai Eterno manifestou a seu Filho a sua vontade que morresse para a redenção do mundo. No mesmo tempo pôs-Lhe diante dos olhos a vista triste de todos os sofrimentos que deveria sofrer até a morte para remir o gênero humano. Mostrou-Lhe todos os trabalhos, desprezos e pobreza que deveria suportar em toda a sua vida, tanto em Belém como no Egito e em Nazaré. Mostrou-Lhe, em seguida, todas as dores e ignomínias de sua paixão: os açoites, os espinhos, os cravos e a cruz; todos os desgostos, tristezas, agonias e abandono em que havia de terminar a sua vida no Calvário.

Toda a vida, portanto, e todos os anos do redentor foram vida e anos de dores e de lágrimas. O seu divino Coração não teve um instante livre de padecimento. Quer vigiasse, quer dormisse, sempre tinha diante dos olhos aquela triste representação que Lhe atormentou mais a santíssima alma do que os santos mártires foram atormentados por todos os seus suplícios.

Para entrar na Vida Eterna é preciso seguir os passos do nosso Mestre.

Por que mortificar-se?

1. Para evitar o inferno.

Em 1 Cor 9, 25-27 diz: “Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível. Quanto a mim, é assim que corro, não ao incerto; é assim que pratico o pugilato, mas não como quem fere o ar. Trato duramente o meu corpo e reduzo-o à servidão, a fim de que não aconteça que, tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado”.

2. Para evitar o Purgatório.

Em Ap 21, 27 diz: “Nela jamais entrará algo de imundo…”

3. Para merecer um bom lugar no Paraíso.

Em Rm 8, 18 diz: “Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós”.

4. Para manifestar o nosso amor a Cristo.

Em Ef 5, 2 diz: “E andai em amor, assim como Cristo também nos amou e se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave”.

5. Para ajudar o próximo a alcançar a salvação eterna.

Em 1 Cor 10, 33 diz: “Assim como eu mesmo me esforço por agradar a todos em todas as coisas, não procurando os meus interesses pessoais, mas os do maior número, a fim de que sejam salvos”.

6. Para viver na verdadeira paz também neste mundo.

Em Is 48, 22 diz: “Mas para os maus não há paz, diz o Senhor”.

Há dois caminhos, duas atitudes na vida: buscar o mais cômodo e agradável, satisfazer o corpo e fugir do sacrifício e da penitência, ou buscar a vontade de Deus ainda que custe, ter os sentidos resguardados e o corpo sob controle. Só o último desses caminhos conduz ao Céu; o outro, a uma vida afastada de Deus, sem graça e sem elegância, desperdiçada já agora e sem esperança quanto à vida que há de vir…, e são muitos os que andam por ele.

Temos que perguntar-nos com frequência para onde vamos e por qual caminho…

Devemos trilhar o caminho do sacrifício. Jesus Cristo espera que saibamos vencer a resistência que encontramos em nós, sabendo seguir as suas pegadas na terra, que não ficaram impressas só em areias suaves, em tapetes adamascados e sobre pétalas de flores, mas sobre a terra áspera, sobre as pedras pontiagudas e sobre o terreno resvaladiço que são a via que conduz ao céu.

Só existe um caminho para o céu: o sacrifício … a cruz… a dor: “Se houvesse algum caminho que não o da cruz e da dor para nos conduzir a Deus, Cristo tê-lo-ia indicado, Ele que veio à terra para nos ensinar o caminho do céu” (Pe. Richard Gräf).

 

 

TERCEIRA PALESTRA

 

O RESPEITO HUMANO

 

Em Mt 10, 33 diz: “Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus”.

 

Com estas palavras Jesus está a ensinar-nos que a confissão pública da fé n’Ele – com todas as suas consequências – é condição  indispensável para a salvação eterna. Cristo receberá no Céu, depois do Juízo, os que deram testemunho da sua fé, e condenará os que covardemente se envergonharam d’Ele (cfr. Mt 7, 23; 25, 41; Ap 21, 8). Sob o nome de confessores a Igreja honra os santos que, sem terem sofrido o martírio de sangue, com a sua vida deram testemunho da fé católica. Embora todo o cristão deva estar disposto para o martírio, a vocação cristã ordinária é a de ser confessores da fé.

É preciso viver e pregar a verdade sem respeito humano. Se Jesus Cristo foi perseguido por proclamar a verdade sem respeito humano, conosco não será diferente: “Desde o princípio, Jesus teve de enfrentar uma onda de maledicências e desprezos, nascidos de egoísmos covardes, porque proclamava a verdade sem respeito humano. Essa onda iria aumentando com o decorrer dos anos, até desembocar na torrente de calúnias e na perseguição aberta que lhe causaram a morte” (Pe. Francisco Fernández Carvajal).

Jesus Cristo pede que seus discípulos trabalhem sem respeito humano, enfrentando todos os ambientes, mesmo que seja preciso entrar em choque com aqueles que levam uma vida de “poltronice” vivendo longe da verdade e mergulhados na mentira.

Aquele que para não entrar em choque com os relaxados e mundanos, cobre o rosto com a máscara do respeito humano, é merecedor dessas palavras ditas por Jesus Cristo: “Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10, 33). Para ser discípulo autêntico de Nosso Senhor é preciso pregar a verdade sem respeito humano… pregá-la em qualquer ambiente.

“Que dirão os homens?” – Eis o fantasma que intimida milhões de católicos e os afastam da igreja, da frequência dos sacramentos e do exercício da virtude. Abandonam o caminho da santidade por respeito humano.

“Que dirão de mim os meus companheiros?” – Aqui está um laço com que o demônio prende a muitos jovens, impedindo-os de caminharem livremente na virtude, com perigo de sua salvação.

Deixar de fazer o bem por temor de um “que dirão os homens?”, é declarar-se covarde, é ser vencido antes de entrar em campo com o inimigo. E, contudo, quantos não se rendem a este tirano que mais existe na fantasia que na realidade? Os maiores potentados da terra, os espíritos mais cultos e as inteligências mais lúcidas do nosso tempo lhe rendem vassalagem (tributo de vassalo)!

Dar valor ao “que dirão os homens?”, é dar valor a uma quimera… a uma fantasia.

O que dizem os homens são palavras que o vento leva; porém, a virtude, que, por medo, deixamos de praticar, é o ouro que jogamos fora.

Os homens poderão escarnecer ao nos verem praticar a nossa religião; porém, melhor é para nós sermos escarnecidos dos homens do que sermos escarnecidos por Deus. Melhor é ouvir uma zombaria dos homens por nos verem cumprir a Lei de Deus do que por a não cumprir… e termos de ouvir dos lábios de Nosso Senhor aquelas horríveis palavras: “Apartai-vos de mim, malditos, ide para o fogo eterno!” (Mt 25, 41).

Que dirão de nós os homens se nos virem todos os domingos e dias santos assistindo com respeito ao incruento sacrifício da Missa? Com os lábios dirão, talvez, que somos fanáticos, carolas e beatos; porém, lá consigo dirão que somos pessoas de bem, que sabemos cumprir os nossos deveres religiosos e que não somos somente católicos de nome, mas de fato.

Se nos virem vestidos decentemente, talvez um sorriso escarninho lhes aflore aos lábios; porém, a voz da consciência lhes dirá que estamos no caminho da salvação eterna.

Se nos aproximamos da Santa Comunhão, os que não têm fé dirão que ainda seguimos superstições do passado! Porém, aqueles que ainda conservam a inteligência sã louvarão a nossa fidelidade ao preceito de Jesus Cristo, que nos manda comer o seu Corpo e beber o seu Sangue para conseguirmos a Vida Eterna.

Não temamos o que poderão dizer de nós os homens. Lembremo-nos, antes, do que Cristo diz no Evangelho: “Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10, 32-33).

Infeliz do católico que deixou de servir a Deus por respeito humano! Que Juízo rigoroso não será feito ao que deixou de servir a Deus por um vil respeito humano! Que desculpas darão a Deus, diz São Paulo, aqueles que, tendo-o conhecido, não o glorificaram? “Pois, tendo conhecido a Deus, não o honraram como Deus nem lhe renderam graças; pelo contrário, eles se perderam em vãos arrazoados, e seu coração insensato ficou nas trevas” (Rm 1, 21).

Que desculpa dará um católico ao comparecer carregado de pecados diante de Jesus Cristo, tendo Ele deixado na sua Igreja remédio para perdoá-lo?

E que desculpa dará a Deus o católico por ter caído tantas vezes, uma leves, outras graves, tendo à mão tantos remédios preventivos, sobretudo, a Eucaristia, onde está o sustento da alma e a força para vencer as tentações?

Como se há de desculpar diante de Deus de ignorar as verdades religiosas quem, tendo na pregação, na catequese, na leitura, outros tantos meios de se instruir, os desprezou para ir buscar os conhecimentos intelectuais em livros proibidos?

É grande miséria respeitar mais um que dirão os homens do que os terríveis juízos de Deus!

Aquele que assim procede não merece o nome de católico! Que diferença entre muitos católicos de hoje e os da Igreja Primitiva. O que as espadas mais afiadas e as fogueiras não conseguiram desses valentes confessores da fé, consegue-o hoje de milhões de católicos: uma palavra, um sorriso e um olhar! Então (naquele tempo), nem todos os tormentos juntos eram bastantes para coagir um católico a negar a sua fé. Hoje, basta, para afastar a muitos da igreja, do confessionário, da mesa da Comunhão… uma zombaria, uma crítica e um sorriso de desprezo.

Milhares de católicos prostram-se todos os dias diante do ídolo do respeito humano! Aquele que se deixa dominar por esse tirano vai deixando de lado os seus deveres mais sagrados.

Por que o respeito humano aninha em tantos corações, tornando-os escravos e covardes?

Isso acontece porque milhões de pessoas não possuem ideia clara d’Aquele a quem servem. Não é ao Deus Eterno a quem servimos? Ao Criador do universo… ao Senhor Todo-poderoso? E não é Deus o maior Senhor do céu e da terra? Não é Jesus Cristo o Rei dos reis e Senhor dos senhores?

É, pois, uma grande loucura deixar o serviço de um Rei Eterno por um temor pueril (infantil) incutido pelo respeito humano.

É preciso se libertar de tão humilhante servilismo, que não deixa expandir livremente a atividade da alma religiosa de se manifestar como um verdadeiro católico.

É preciso calcar aos pés este respeito vergonhoso que afasta o homem de Deus.

 

 

QUARTA PALESTRA

 

OS PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO

 

Em Mt 12, 31-32 diz: “Por isso vos digo: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro”.

 

Deus quer que todos os homens se salvem (1 Tm 2, 4) e chama todos à penitência (2 Pd 3, 9). A Redenção de Cristo é superabundante: satisfaz por todo o pecado e atinge todo o homem (Rm 5, 12-21). Cristo entregou à sua Igreja o poder de perdoar os pecados por meio dos sacramentos do batismo e da Penitência. O poder é ilimitado, quer dizer, pode perdoar todo o pecado a todos os batizados, tantas vezes quantas se confessam com as devidas disposições. Esta doutrina é dogma de fé (cfr. De Paenitentia).

O pecado de que aqui fala Jesus chama-se pecado contra o Espírito Santo, porque é à terceira Pessoa da Santíssima Trindade que são especialmente atribuídas as manifestações exteriores da bondade divina. Por outro lado, diz-se que o pecado contra o Espírito Santo é imperdoável, não tanto pela sua gravidade e malícia, mas pela disposição subjetiva da vontade, própria deste pecado, que fecha as portas ao arrependimento: consiste em atribuir maliciosamente ao demônio os milagres e sinais realizados por Cristo. Deste modo, pela natureza própria deste pecado, fecha-se o caminho para Cristo, que é o único que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29), e o pecador situa-se fora do perdão divino. Neste sentido se chama irremissível o pecado contra o Espírito Santo (cfr. Edições Theologica).

Contra o Espírito Santo peca não só aquele que blasfema com palavras, mas também aquele que blasfema com fatos, pecado com malícia deliberada, isto é, procurando cientemente o mal espiritual, para obter um bem, uma vantagem material: “Peca-se contra o Espírito Santo, quando o pecado é dirigido contra o bem apropriado ao Espírito Santo, que é a caridade. Contra o Pai é o pecado de fraqueza; contra o Filho é o pecado da ignorância; contra o Espírito Santo vai o pecado de deliberada malícia” (Santo Tomás de Aquino).

Por deliberada malícia se peca quando de sangue frio se prefere o pecado à graça de Deus; quando se negligencia os meios que servem para impedir o apego ao pecado: “Todo pecado, toda blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada’ (Mt 12, 31). Pelo contrário, quem a profere é culpado de um pecado eterno. A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna” (Catecismo da Igreja Católica).

Se esses pecados se dizem irremissíveis, não é porque de nenhum modo possam ser perdoados. Todos os pecados, por mais graves que sejam, são por Deus generosamente perdoados nesta vida, contanto que sejamos verdadeiramente penitentes. Os pecados contra o Espírito Santo são chamados irremissíveis, porque primeiro muito mais do que quaisquer outros pecados são indignos do perdão divino, porque lhes introduz uma malícia deliberada, que não pode invocar nenhuma atenuante como os pecados cometidos por ignorância ou fraqueza.

É de bom aviso, pois, evitar esses pecados, que são de todos os mais perigosos, porque sem um milagre de Deus, deles não se terá perdão. Se realmente estamos resolvidos a não cair nestes pecados, conservemos sempre a pureza da consciência e fujamos do pecado venial. Geralmente uma queda grave é preparada por uma série de faltas leves. As quedas se repetem e pouco a pouco levam ao abismo. Uma vez chegado a este ponto, é desprezada a misericórdia e a justiça de Deus, perde-se a noção da verdade e da graça e nenhum remorso do pecado cometido se experimenta: “O ímpio, quando chegou ao profundo dos pecados, despreza tudo” (Pr 18, 3).

Distinguem-se seis pecados contra o Espírito Santo:

 

1. A desesperação da salvação eterna.

 

Pecado este que se dirige contra um Deus que recompensa o bem e perdoa ao pecador penitente.

Santa Catarina de Sena escreve: “Este pecado de desespero desagrada-me (Deus) e prejudica os homens mais do que todos os outros males. É o mais prejudicial pelo seguinte: os demais vícios são cometidos pelo incentivo de algum prazer; deles a pessoa pode, portanto, arrepender-se e obter o perdão. No pecado de desespero o homem não é movido por fraqueza alguma. O ato de desesperar-se não inclui debilidade, mas somente intolerável dor. Quem desespera, despreza minha misericórdia (Deus) e julga que seu pecado é maior que minha bondade (Deus). Quem faz tal pecado já não se arrepende, já não sente dor pela culpa. Poderá o responsável queixar-se do castigo recebido, mas não da ofensa cometida. Por essa razão são condenados” (O Diálogo).

Em flagrante contradição com as garantias fornecidas pelo próprio Deus, o desesperado não crê mais que Deus possa ou queira perdoá-lo, reerguê-lo de sua vida pecaminosa e conceder-lhe uma boa hora de morte. E, assim, ao pecado contra a esperança, acrescenta ele um pecado contra a fé.

Os pecados contra a esperança fecham totalmente o coração humano à influência do Espírito Santo. Por isso, o desespero é contado entre os pecados contra o Espírito Santo. É também um dos mais terríveis pecados, porque inutiliza, de antemão, todo esforço salvador.

 

2. A presunção de se salvar sem merecimento.

 

Este pecado põe de lado o temor de Deus que castiga o mal.

A presunção não se opõe diretamente ao impulso da alma para Deus, nem à confiança, mas ao temor salutar, que é um dos elementos essenciais da virtude teologal da esperança.

Ou o presunçoso ofende diretamente a justiça divina, imaginando que Deus lhe dará a felicidade eterna, mesmo sem que se converta sinceramente e se submeta aos mandamentos divinos (tal negação da necessidade da conversão e do mérito constitui, além do mais, uma falta grave contra a fé); ou ele peca contra a sobrenaturalidade da esperança, ousando que poderá conquistar o céu com suas próprias forças naturais.

O pecado de presunção nasce do orgulho. Muitas vezes ele resulta também da heresia: pelagianismo mais ou menos consciente (o homem não necessita da graça para se salvar), ou o erro protestante sobre a certeza pessoal da salvação.

Retardar a própria conversão na falsa esperança de que Deus não permitirá que o pecador chegue a perder-se eternamente, não é, ainda, por certo, pecado caracterizado, de presunção, mas é, isso sim, pecado grave contra a virtude da esperança. Pois demonstra que o pecador deixou perecer em si mesmo o verdadeiro sentimento de temor em face da justiça divina. Deus jamais prometeu esperar a conversão do pecador que tantas vezes desprezou a graça. Ao contrário, advertiu-o frequentemente com a ameaça da condenação eterna.

Em geral, o que propriamente constitui o pecado de presunção não é o adiamento da conversão, mas o fato de o pecador, levado por certo menoscabo (desprezo) de Deus, expor a perigo a sua salvação. Isto constitui, indubitavelmente, falta grave contra a esperança e contra a caridade para consigo mesmo.

Não se caracteriza, porém, como verdadeira presunção, a atitude de quem peca repetidas vezes, levado pela veemência da paixão e raciocinando, eventualmente, da maneira seguinte: “De qualquer modo, devo mesmo confessar-me; por isso, alguns pecados a mais ou a menos não têm importância”. Mas tal procedimento denuncia grave deficiência de esperança teologal, falta de temor a Deus e grosseira ingratidão para com a graça do sacramento da penitência.

 

3. A contradição à verdade conhecida.

É a negação da fé para poder pecar mais desembaraçadamente.

 

4. A inveja da graça concedida a outros.

Este pecado tem sua malícia em impedir o auxílio da graça interna.

 

5. A obstinação no pecado.

A falta de bom propósito de se separar do pecado.

 

6. A impenitência final.

Propósito “de não fazer penitência, impossibilitando a volta para Deus” (Pe. João Batista Lehmann).

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna”.

 

 

QUINTA PALESTRA

 

OS PECADOS QUE BRADAM AO CÉU

 

Os pecados que clamam ao céu e pedem vingança a Deus são quatro:

 

1.º Homicídio voluntário.

Em Gênesis 4, 10 diz: “Que fizeste! Ouço o sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim!”

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Existem atos que por si mesmos e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e intenções, são sempre gravemente ilícitos, em virtude de seu objeto: a blasfêmia e o perjúrio, o homicídio e o adultério. Não é permitido praticar um mal para que dele resulte um bem”.

O mesmo Catecismo diz: “A Escritura determina com precisão a proibição do quinto mandamento: ‘Não matarás o inocente nem o justo’ (Ex 23, 7). O assassinato voluntário de um inocente é gravemente contrário à dignidade do ser humano, à regra de ouro e à santidade do Criador”.

O Catecismo ainda ensina: “O quinto mandamento proscreve como gravemente pecaminoso o homicídio direto e voluntário. O assassino e os que cooperam voluntariamente com o assassinato cometem um pecado que clama ao céu por vingança”.

O infanticídio (assassinato de uma criança, particularmente de um recém-nascido), o fratricídio (assassinato de irmãos), o parricida e matricida (filho que mata pai ou mãe), e o assassinato do cônjuge são crimes particularmente graves, devido aos laços naturais que rompem. Preocupações de eugenismo (ciência que estuda as condições favoráveis à manutenção e preservação da qualidade da espécie humana) ou de higiene pública, não podem justificar nenhum assassinato, mesmo a mando dos poderes públicos.

É importante lembrar que a vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecido os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida. Desde o século I, a Igreja afirmou a maldade moral de todo aborto provocado. Este ensinamento não mudou. Continua invariável. O aborto direto, quer dizer, querido como um fim ou como um meio, é gravemente contrário à lei moral. A Igreja sanciona com uma pena canônica de excomunhão este delito contra a vida humana (cfr. Catecismo da Igreja Católica).

A Santa Igreja ensina também: “Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para levar uma vida tão normal quanto possível. Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível” (Catecismo da Igreja Católica).

É importante lembrar que o homicídio voluntário clama ao céu: “… ouço o sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim!” (Gn 4, 10).

 

2.° Pecado sensual contra a natureza.

Em Gênesis 18, 20-21 diz: “Disse então Deus: ‘O grito contra Sodoma e Gomorra é muito grande! Seu pecado é muito grave! Vou descer e ver se eles fizeram ou não tudo o que indica o grito que, contra eles, subiu até mim; então ficarei sabendo”.

No mesmo livro 19, 13 diz: “Porque vamos destruir este lugar, pois é grande o grito que se ergueu contra eles diante de Deus, e Deus nos enviou para exterminá-los”.

Alguns pecados contra a natureza:

1. Onanismo (Gn 38, 4-10).

O onanismo é a interrupção do ato sexual. É a união sexual voluntariamente interrompida para vir a acabar em polução.

2. Homossexualidade: “A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo” (Catecismo da Igreja Católica).

Em Rm 1, 27 diz: “Igualmente os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo em si mesmos a paga da sua aberração”, e: “Não deitarás com um homem como se deita com uma mulher. É uma abominação” (Lv 18, 22), e também: “O homem que se deita com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e o seu sangue cairá sobre eles” (Lv 20, 13).

3. Bestialidade: “Não te deitarás com animal algum; tornar-te-ias impuro. A mulher não se entregará a um animal para se ajuntar com ele. Isto é uma impureza” (Lv 18, 23), e: “O homem que se deitar com um animal deverá morrer, e matareis o animal. A mulher que se aproximar de um animal qualquer, para se unir a ele, será morta, assim como o animal. Deverão morrer, e o seu sangue cairá sobre eles” (Lv 20, 15-16).

4. Masturbação. Por masturbação se deve entender a excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo.

5. Incesto: “O incesto designa relações íntimas entre parentes ou pessoas afins, em grau que proíba entre eles o casamento” (Catecismo da Igreja Católica).

Em Levítico 18, 7-17 diz: “Não descobrirás a nudez do teu pai, nem a nudez da tua mãe. É tua mãe, e tu não descobrirás a sua nudez. Não descobrirás a nudez da mulher do teu pai, pois é a própria nudez de teu pai. Não descobrirás a nudez da tua irmã, quer seja filha de teu pai ou filha de tua mãe. Quer seja ela nascida em casa ou fora dela, não descobrirás sua nudez. Não descobrirás a nudez da filha do teu filho; nem a nudez da filha da tua filha. Pois a nudez delas é a tua própria nudez. Não descobrirás a nudez da filha da mulher de teu pai, nascida de teu pai. É tua irmã, e não deves descobrir a nudez dela. Não descobrirás a nudez da irmã de teu pai, pois que é a carne de teu pai. Não descobrirás a nudez  da irmã de tua mãe, pois é a própria carne de tua mãe. Não descobrirás a nudez do irmão de teu pai; não te aproximarás, pois, de sua esposa, visto que é a mulher de teu tio. Não descobrirás a nudez de tua nora. É  a mulher de teu filho e não descobrirás a nudez dela. Não descobrirás a nudez da mulher de teu irmão, pois é a própria nudez de teu irmão. Não descobrirás a nudez de uma mulher e a da sua filha; não tomarás a filha de seu filho, nem a filha de sua filha, para lhes descobrir a nudez. Elas são a tua própria carne: isto seria um incesto”.

Em 1 Cor 5, 1. 3-5 diz: “É geral ouvir-se falar de mau comportamento entre vós… um dentre vós vive com a mulher de seu pai… É preciso que, em nome do Senhor Jesus… entreguemos tal homem a Satanás para a perda de sua carne”.

6. Adultério: “O adultério. Esta palavra designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais ao menos um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efêmera (pouco duradoura), cometem adultério” (Catecismo da Igreja Católica).

7. Estupro: “O estupro designa a penetração à força, com violência, na intimidade sexual de uma pessoa” (Catecismo da Igreja Católica).

 

3.° Oprimir os pobres, órfãos e viúvas.

Em Êxodo 3, 7-10 diz: “Deus disse: ‘Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuzeus. Agora, o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vai, pois, e eu te enviarei ao faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os filhos de Israel”, e: “Não afligirás o estrangeiro nem o oprimido, pois vós mesmos fostes estrangeiros no país do Egito. Não afligireis a nenhuma viúva ou órfão. Se o afligires e ele clamar a mim  escutarei o seu clamor” (Ex 22, 20-22).

 

4.º Negar o salário aos que trabalham.

Em Deuteronômio 24, 14-15 diz: “Não oprimirás um assalariado pobre, necessitado, seja ele um dos teus irmãos ou um estrangeiro que mora em tua terra, em tua cidade. Pagar-lhe-ás o salário a cada dia, antes que o sol se ponha, porque ele é pobre e disso depende a sua vida. Deste modo, ele não clamará a Deus contra ti, e em ti não haverá pecado”, e: “Ai daquele que constrói a sua casa sem justiça e seus aposentos sem direito, que faz o seu próximo trabalhar de graça e não lhe dá o seu salário” (Jr 22, 13).

 

 

SEXTA PALESTRA

 

A TENTAÇÃO

 

Que são as tentações?

São Pio X as define: “As tentações são um incitamento ao pecado que nos vem do demônio, ou das pessoas, ou das nossas paixões”.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Para quem ama a Jesus Cristo não há sofrimento pior que as tentações”.

Todos os outros sofrimentos estimulam o homem a se unir mais com Deus, quando aceitos com generosidade. As tentações, porém, impelem o homem a pecar, a separar-se de Jesus Cristo e, por isso, são muito mais amargas do que todos os outros sofrimentos. É preciso, porém, notar que todas as tentações que impelem para o mal, não vêm de Deus, mas do demônio ou das más inclinações: “Deus é incapaz de tentar para o mal, e ele não tenta ninguém” (Tg 1, 13).

Deus permite, às vezes, que as almas que lhe são mais caras, sejam tentadas mais fortemente.

Primeiro, para que conheçam melhor a sua fraqueza e a necessidade que têm do auxílio de Deus para não caírem.

Segundo, Deus permite as tentações para que vivamos mais desapegados deste mundo e desejemos mais ardentemente ir vê-Lo no céu. As almas que amam a Deus suspiram pela morte que as tire do perigo de perdê-Lo.

Terceiro, Deus permite as tentações para nos enriquecer com méritos, como disse o anjo a Tobias: “Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a  tentação te provasse” (Tb 12, 13).

Portanto, não devemos recear de estar sem a graça de Deus pelo fato de sermos tentados; pelo contrário, então devemos esperar ser mais amados por Deus. É engano do demônio o fazer certas almas fracas acreditarem que as tentações são pecados que mancham a alma. Não são os maus pensamentos que fazem perder a Deus, mas sim, os maus consentimentos. Por fortes que sejam as tentações do demônio, por mais vivas que sejam as imaginações impuras assaltando o nosso espírito, se nós não as queremos, não mancham a alma, mas a torna mais pura, mais forte e mais querida de Deus.

O mundo, o demônio e a carne, vendo uma alma ligada ao Filho de Deus como sua esposa, lhe armam tentações nas quais primeiramente o pecado lhe é proposto, depois ele lhe agrada ou desagrada e, por fim, ela lhe dá o seu consentimento ou as rejeita. Eis aí os degraus que conduzem à iniquidade: a tentação, o deleite (sentir prazer) e o consentimento; e, embora estas três coisas não se distingam evidentemente em todos os pecados, todavia aparecem sensivelmente nos pecados maiores.

Uma tentação, embora durasse toda a nossa vida, não nos pode tornar desagradáveis à divina Majestade, senão nos agrada e não consentimos nela, porque na tentação nós não agimos, mas sofremos, e, como não nos deleitamos com ela, de nenhum modo incorremos em alguma culpa. Por longo tempo sofreu São Paulo tentações da carne e tão longe estava de se tornar com isso desagradável a Deus que, pelo contrário, muito o glorificou… Nem menores foram as tentações de São Francisco e São Bento, quando aquele se lançou nos espinhos e este sobre a neve para as combater, e, entretanto, longe de fazê-lo perder a graça de Deus, só serviram para a aumentar.

Ofereçam-nos, pois, os inimigos de nossa salvação tantos engodos (isca) e atrativos quantos quiserem; conservem-se sempre à porta do nosso coração, prontos para entrarem; façam-nos tantas propostas quantas quiserem; enquanto nos conservarmos na disposição de não nos deleitarmos com estas coisas, é impossível que ofendamos a Deus.

Adolfo Tanquerey explica sobre os sinais de consentimento: “Para melhor explicarmos este ponto importante, vejamos os sinais de não-consentimento, de consentimento imperfeito e de pleno consentimento. A) Pode-se dizer que não houve consentimento, se, a despeito da sugestão e do prazer instintivo que a acompanha, a alma sente descontentamento, desgosto de se ver assim tentada, se luta para não sucumbir, se na parte superior sente um vivo horror do mal proposto. B) Pode-se ter culpa da tentação na causa, quando se prevê que esta ou aquela ação, que podemos evitar, nos é fonte de tentações: ‘Se eu sei que alguma conversação me ocasiona tentação e queda, e a ela me exponho voluntariamente, serei sem dúvida alguma culpado de todas as tentações que nela me vierem’ (São Francisco de Sales). Mas, então, não há culpa senão na medida em que houve previsão, e, se esta não passou de vaga e confusa, fica proporcionalmente diminuída a culpabilidade. C) Pode-se considerar que o consentimento é imperfeito. 1) Quando não se repele a tentação tão prontamente como se dá pelo seu caráter perigoso; há nisto uma falta de imprudência que, sem ser grave, expõe ao perigo de consentir na tentação. 2) Quando se hesita um instante: desejar-se-ia provar um pouco do prazer vedado, mas não se quereria ofender a Deus; em suma, após um momento de hesitação, repele-se a tentação; também aqui há pecado venial de imprudência. 3) Se não se rechaça a tentação senão a meias: resiste-se, mas com indolência, incompletamente; ora, semi-resistência é semi-consentimento: falta venial. D) O consentimento é pleno e inteiro quando a vontade, enfraquecida pelas primeiras concessões, se deixa arrastar a saborear voluntariamente o prazer mau, sem embargo dos protestos da consciência que reconhece o mal. Então, se a matéria é grave, é mortal o pecado: pecado de pensamento ou de deleitação morosa, como dizem os teólogos. Se ao pensamento se ajusta o desejo consentido, mais grave ainda é a falta. Enfim, se do desejo se passa à execução, ou ao menos a procurar meios para pôr por obra o mau projeto, é pecado de ação”.

É preciso resistir à tentação.

a) Prontamente, sem discutir com o inimigo, sem hesitação (vacilação) alguma: “Foge do pecado como de uma serpente, porque, se te aproximares, morder-te-ás” (Eclo 21, 2).

b) Energicamente, não com moleza e como de má vontade, o que pareceria convidar a tentação a voltar; mas com força e vigor, testemunhando o horror que tal proposição nos causa: “Vai-te, Satanás…” (Mt 4, 10).

c) Com constância (firmeza de ânimo): é que às vezes a tentação, vencida por um instante, volta com novo furor, e o demônio reconduz do deserto sete espíritos piores do que ele. A esta pertinácia do inimigo é mister opor resistência não menos tenaz; quem combate até o fim é que sairá vitorioso.

d) Com humildade: é ela, efetivamente, que atrai a graça, e a graça é que nos dá a vitória. O demônio que pecou por orgulho foge diante dum ato sincero de humildade.

Os santos indicam alguns remédios contra a tentação diabólica.

1. O primeiro é a oração humilde e confiante, para pôr do nosso lado a Deus e aos seus Anjos. Se Deus está conosco, quem será contra nós? E na verdade, quem pode ser comparado com Deus? “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4, 13).

Esta oração deve ser humilde; porque não há nada que ponha mais rapidamente em fuga o anjo rebelde que, tendo-se revoltado por orgulho, jamais soube praticar esta virtude: humilhar-se diante de Deus, reconhecer a incapacidade de triunfar sem o auxílio do céu, desconcerta os ardis do anjo soberbo. Deve ser confiada, porque, estando a glória de Deus interessada em nosso triunfo, podemos ter plena confiança na eficácia da sua graça.

É bom invocar também a São Miguel Arcanjo que, tendo infligido ao demônio uma insigne derrota (cfr. Ap 12, 7), terá sumo prazer em completar a vitória em nós e por nós. O nosso Anjo da Guarda de bom grado o auxiliará, se confiarmos nele. Mas, sobretudo, não nos esqueçamos de implorar o socorro da Virgem Imaculada, que com seu pé virginal não cessa de esmagar a cabeça da serpente, e é mais terrível ao demônio que um exército em ordem de batalha.

2. O segundo meio é usar com muita confiança dos sacramentos e sacramentais. A confissão, por ser um ato de humildade, põe o demônio em fuga; a absolvição que a segue, aplica-nos os merecimentos de Jesus Cristo e torna-nos invulneráveis às flechas do inimigo; a Sagrada Comunhão, introduzindo em nosso peito Aquele que suplantou Satanás, inspira-lhe um verdadeiro terror.

Os mesmos sacramentais, o sinal da cruz, ou as orações litúrgicas feitas com espírito de fé, em união com a Igreja, são também um precioso auxílio. Santa Teresa de Jesus recomenda particularmente a água benta, talvez porque é humilhante para o demônio ver-se assim frustrado em seus ardis por um meio tão simples como esse.

3. E assim, o último meio é um desprezo soberano do demônio: “Saibam-no bem, todas as vezes que nós os desprezamos, diminuem as suas forças e a alma adquire sobre eles tanto mais império” (Santa Teresa de Jesus).

Ver-se desprezar por seres mais fracos é, efetivamente, intolerável humilhação para esses espíritos soberbos. Apoiados em Deus, temos o direito e o dever de os desprezar. Podem ladrar, não podem morder-nos, a não ser que, por imprudência ou por orgulho, nos lancemos em seu poder.

Não devemos nos desanimar diante das tentações.

O Abade Santo Antão escreve: “Esta é a grande labuta do homem: assumir sobre si mesmo a culpa própria diante de Deus, e esperar a tentação até o último suspiro”. O mesmo santo diz: “Ninguém sem tentações poderá entrar no reino dos céus. Suprime as tentações, e ninguém será salvo”.

 

 

SÉTIMA PALESTRA

 

A ORAÇÃO

 

Em Lc 18, 1 diz: (Jesus) contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais esmorecer”.

 

I. Que é a oração?

São Pio X a define: “A oração é uma elevação da alma a Deus para adorá-Lo, para Lhe dar graças e para Lhe pedir aquilo de que precisamos” (Catecismo Maior).

O Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã a define: “A oração é a elevação da mente e do coração a Deus, para O adorar, agradecer e pedir-Lhe as graças de que necessitamos”.

 

II. A oração se divide em mental e vocal.

A oração mental é a que se faz só com a alma; a oração vocal é a que se faz com as palavras acompanhadas da atenção do espírito e da devoção do coração.

O Pe. Alfred Barth escreve: “Oração vocal, isto é, pronunciada com a boca: constitui para muitos um apoio para rezar devotamente sem distrações. Se a palavra auxilia a devoção, atenhamo-nos a ela. Oração mental. Com a mente, isto é, meditando. Medita-se algum episódio da vida de Cristo, um mistério do Santo Rosário, um trecho da Sagrada Escritura, falando com Deus a esse respeito”.

São Francisco de Sales escreve: “Se, ao recitares uma oração vocal, te sentires atraída à oração mental, muito longe de reprimires esta inclinação, deves deixar-te levar suavemente e não te perturbes por não acabar todas as orações que tens proposto. A oração do espírito e do coração é muito mais agradável a Deus e salutar à alma do que a oração dos lábios”.

 

III. Jesus Cristo rezou.

Os discípulos encontravam seguidamente Jesus rezando no recolhimento e na solidão. Durante a oração do monte das Oliveiras suou sangue. Estava presente diante de Deus com sua alma e com seu corpo, falava com Deus.

Em Hebreus 5, 7 diz: “É este Cristo, que nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, a Deus Pai, que o podia salvar da morte”.

Em Mt 14, 23 diz: “Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho”.

Em Mc 1, 35 diz: “De madrugada, estando ainda escuro, ele se levantou e retirou-se para um lugar deserto e ali orava”.

Em Mc 6, 46 diz: “E, deixando-os, ele foi à montanha para orar”.

Em Lc  6, 12 diz: “Naqueles dias, ele foi à montanha para orar e passou a noite inteira em oração a Deus”.

Jesus Cristo retira-se na solidão para rezar. Quer ficar só com Deus. Quem reza deve afastar-se da multidão e despedir as preocupações.

Nosso Senhor rezou; imitemos o seu exemplo.

São Luiz Gonzaga escreve: “Quem não consegue rezar muito, jamais atingirá um alto grau de perfeição”.

Santa Teresa de Jesus diz: “Quem deixa a oração não necessita de demônios que o levem ao inferno: ele aí se lança por si mesmo”. E a mesma santa ainda diz: “Quem não reza ou é um demônio ou um animal”.

O Pe. Alfred Barth escreve: “O animal nada conhece de Deus. É apenas um organismo e não sabe rezar. O homem que não reza comporta-se como se não tivesse alma, como um animal. Mas enquanto este não é responsável, o homem, quando pensa unicamente nas coisas da terra e não crê, comete culpa. O diabo conhece a Deus, mas, por raiva, ódio, vingança, não reza. Ademais desejaria, se possível, destruir Deus e suas obras, pois quereria igualar-se a ele, tomar-lhe o lugar. Os homens que não rezam assemelham-se ao demônio. Iludem-se de poder viver sem Deus, sem Cristo, sem Igreja e sem sacerdotes! Infelizes! Cairão nas garras do demônio. Quem nunca reza, quem nunca eleva o pensamento a Deus e não fala com ele, comete pecado grave. Não tem fé nem amor. Não pode salvar-se”.

 

IV. As condições da oração.

Jesus Cristo fez-nos a seguinte promessa: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa a meu Pai, em meu nome, Ele vo-la dará” (Jo 16, 23). Muitos, diz São Tiago, pedem e não recebem, porque pedem mal: “Pedis e não recebeis porque pedis mal” (Tg 4, 3). São Basílio Magno, explicando as palavras do Apóstolo, diz: “Pedes e não recebes, porque tua oração foi mal feita ou sem fé, sem devoção ou desejo; ou porque pediste coisa que não se referia à tua salvação eterna, ou pediste sem perseverança”.

Santo Tomás de Aquino reduziu a quatro as condições requeridas na oração para que obtenham o seu fruto: isto é, que o homem peça para si, coisas necessárias à salvação, com devoção e com perseverança.

1. A primeira condição da oração é que rezemos por nós mesmos.

Santo Tomás de Aquino julga que ninguém pode impetrar para outros, como mérito de justiça, a vida eterna e por conseguinte também as graças necessárias para a salvação deles, porque a promessa, diz ele, foi feita, não para os que rezam para outros, mas os que rezam para si mesmos: Dar-se-vos-á: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e  vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7, 7-8).

Não obstante, há muitos doutores que afirmam o contrário apoiados na autoridade de São Basílio, que ensina ter a oração infalivelmente o seu efeito, ainda que se reze pelos outros, contanto que esses não oponham uma resistência positiva. Estes escritores se baseiam sobre textos da Sagrada Escritura: “Orai uns pelos outros para serdes salvos, porque muito vale a oração perseverante do justo” (Tg 5, 16). “Rezai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mt 5, 44). O melhor texto é de São João: “Se alguém vir seu irmão cometer um pecado, que não é de morte, peça e será concedida a vida àquele, cujo pecado não é de morte” (1 Jo 5, 16). As palavras: cujo pecado não é de morte, Santo Agostinho, São Beda, Santo Ambrósio e outros, explicam que se devem entender do pecador, que não quer viver obstinado até a morte; pois, para tal pecador seria necessário uma graça muito extraordinária. Quanto aos outros pecadores, que não atingiram um grau tão alto de maldade, se alguém rezar por eles, promete-lhe o Apóstolo, a conversão deles: “Peça e será dada a vida ao pecador”.

2. A segunda condição é que peçamos graças necessárias à salvação; porque a promessa divina não foi dada para os bens temporais, que não são necessários à salvação da alma.

Às vezes, pedimos algumas graças temporais e Deus não nos atende; mas não nos atende porque nos ama, diz Santo Agostinho, e quer usar de misericórdia para conosco. O médico que se interessa pelo doente nunca permitirá coisas que lhe possam fazer mal.

Quando pedirmos a Deus bens temporais, devemos pedi-los com resignação e sob a condição de aproveitarem à alma. Se vemos que o Senhor não os concede, tenhamos por certo que os nega pelo amor que nos tem e porque prevê que vão prejudicar a salvação de nossa alma.

3. Finalmente, eis as outras condições que Santo Tomás de Aquino exige para a oração: Que se reze com devoção e perseverança. Com devoção, quer dizer, com humildade e confiança; com perseverança, quer dizer, sem deixar de rezar até a morte.

É preciso rezar com humildade. Deus atende as orações dos seus servos, mas dos servos humildes: “O Senhor atendeu a oração dos humildes” (Sl 101, 18). Onde falta humildade, Deus não atende, pelo contrário, repele as orações dos orgulhosos: “Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes” (Tg 4, 6).

Deus não ouve as orações dos soberbos que confiam na própria força, e, por isso, abandona-os à sua miséria. Em tal estado, privados do auxílio divino, perder-se-ão certamente.

É preciso rezar com confiança.

Para alcançar alguma graça de Deus, por meio da oração, devemos rezar com plena confiança e convicção de que vamos ser atendidos.

Em São Tiago 1, 5-8 diz: “Se alguém dentre vós tem falta de conhecimento, peça-o a Deus que o concede generosamente a todos, sem recriminações, e ele ser-lhe-á dado, contanto que peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento. Não pense tal pessoa que vai receber alguma coisa do Senhor, dúbio e inconstante como é em tudo o que faz”.

Deus protege e salva a todos os que confiam n’Ele. Salva os que esperam n’Ele: “Os que esperam no Senhor terão sempre forças novas, tomarão asas como de águia, correrão e não se fatigarão, andarão e não desfalecerão” (Is 40, 31).

Em Eclo 2, 10 diz: “… quem confiou no Senhor e ficou desiludido?”

Santo Agostinho escreve: “Poderá Deus enganar-nos oferecendo-se para sustentar-nos nos perigos quando a Ele recorremos, e, depois, retirando-se de nós, quando, de fato recorremos a Ele?”

Conservemos a confiança em Deus, porque assim poderemos esperar uma grande recompensa. Assim como for a nossa confiança, do mesmo modo serão as graças de Deus.

São Bernardo de Claraval escreve: “A divina misericórdia é uma fonte imensa; e nós apanhamos as graças com os vasos da confiança; quem vier com um vaso maior poderá tirar maior número de graças”.

É preciso rezar com perseverança.

Não basta rezarmos com humildade e confiança; mas é preciso perseverarmos na oração.

Santo Tomás de Aquino escreve: “Depois do batismo, é necessária aos homens a oração contínua para poder entrar no céu”.

Para alcançar uma graça são necessárias orações perseverantes e contínuas.

 

V. É impossível se salvar sem a oração.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Quem reza, certamente se salva, e quem não reza, certamente será condenado. Todos os bem-aventurados… salvaram-se pela oração. Todos os condenados se perderam,  porque não rezaram. Se tivessem rezado, não se teriam perdido. E este é e será o maior desespero no inferno: o poder ter alcançado a salvação com facilidade, pedindo a Deus as graças necessárias. E, agora, esses miseráveis não têm mais tempo de rezar”.

 

VI. Transformar as nossas ações em oração.

Quão importante seja fazer as nossas ações em união com Jesus Cristo.

Quando as ações são demoradas, é útil renovar este oferecimento por meio de um olhar afetuoso sobre o crucifixo, ou, melhor ainda, sobre Jesus, vivo em nós; e deixar a alma desafogar-se em frequentes jaculatórias que nos elevarão o coração para Deus.

Assim as nossas ações, ainda as mais comuns, serão uma oração, uma ascensão da alma para Deus, e realizaremos o desejo que Jesus exprimiu: “…é preciso rezar sempre, sem jamais esmorecer”(Lc 18, 1).

 

 

OITAVA PALESTRA

 

O NÚMERO DOS PECADOS

 

Se Deus castigasse imediatamente a quem O ofende, não se veria, sem dúvida, tão ultrajado como o é atualmente. Mas, porque o Senhor não castiga logo, mas espera benignamente, os pecadores se animam a ofendê-Lo.

Deus espera e é paciente, mas não para sempre.

É opinião de muitos Santos Padres (São Basílio, São Jerônimo, Santo Ambrósio, São Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo, Santo Agostinho e outros) que Deus, assim como determinou para cada homem o número dos dias de vida, dotes de saúde e de talento que lhe quer outorgar (Sb 11, 20), assim, também, contou e fixou o número de pecados que lhe quer perdoar. E, completo esse número, já não perdoa mais, diz Santo Agostinho. Eusébio de Cesaréia e os outros Padres acima citados afirmam o mesmo.

Esses Padres falaram baseados na Sagrada Escritura.

Em Gênesis 15, 16 diz: “É na quarta geração que eles voltarão para cá, porque até lá a iniquidade dos amorreus não terá atingido o seu cúmulo”.

Em Oséias 1, 6 diz: “Não terei no futuro misericórdia de Israel”.

Em Números 14, 22-23 diz: “Todos estes homens que viram minha glória e os sinais que fez no Egito e no deserto, estes homens que já me puseram à prova dez vezes, sem obedecer à minha voz, não verão a terra que prometi com juramento a seus pais. Nenhum daqueles que me ultrajaram a verá”.

Em Jó 14, 17 diz: “Tendes selado, como numa urna, as minhas culpas”.

Em Eclesiástico 5, 5 diz: “Não sejas tão seguro do perdão para acumular pecado sobre pecado”. Ou seja: é preciso, pecador, que tremas ainda dos pecados que já te perdoei; porque, se lhes acrescentares outro poderá ser que este novo pecado com aquele complete o número e então não haverá misericórdia para ti.

Em 2 Macabeus 6, 14-15 diz: “Pois não é como para com as outras nações, que o longânime soberano espera, até puni-las, que elas cheguem ao cúmulo dos seus pecados: não é assim que ele decidiu proceder com relação a nós, a fim de não ter de nos punir mais tarde, quando nossos pecados tivessem atingido sua plena medida”.

Deus espera o dia em que se completa a medida dos pecados, e depois castiga.

Dirá o pecador que Deus é Deus de misericórdia… Quem o nega? A misericórdia de Deus é infinita; mas, apesar dela, quantas almas se condenam todos os dias? Deus cura os que têm boa vontade. Perdoa o pecado, mas não pode perdoar a vontade de pecar. Replicará o pecador que ainda é muito jovem… És moço? Deus não conta os anos, conta as culpas. Ora, a medida dos pecados não é igual para todos. A um perdoa Deus cem pecados; a outro, mil; outro, ao segundo pecado se verá precipitado no inferno. A quantos condenou após o primeiro pecado! Refere São Gregório Magno que um menino de cinco anos, por ter proferido uma blasfêmia, foi lançado no inferno.

Lemos no Evangelho de São Mateus que o Senhor, a primeira vez em que achou a figueira sem fruto a amaldiçoou, e a árvore secou (Mt 21, 19).

Em Amós 1, 3 diz: “Depois das maldades que o povo de Damasco cometeu três e quatro vezes, eu não mudarei o meu decreto” (não revogarei os castigos que lhe tenho decretado).

Replicará a alma obstinada que, tendo ofendido tantas vezes a Deus, e Deus lhe tendo perdoado, espera que Ele ainda lhe perdoará um novo pecado… Mas, porque Deus não a tem castigado até esta hora, segue-se que sempre há de proceder assim? Encher-se-á a medida e o castigo virá.

Sem interromper as relações com Dalila, esperava Sansão salvar-se das mãos dos filisteus, como antes tinha feito (Jz 16, 20); mas nesta última vez foi preso e perdeu a vida. Em Eclo 5, 4 diz: “Não digas: ‘Pequei: o que me aconteceu?’ porque o Senhor é paciente”. Porque o Altíssimo, ainda que nos tolere, dá-nos o que merecemos, isto é: chegará o dia em que tudo lhe pagaremos, e quanto maior tiver sido a misericórdia tanto maior será a pena. Afirma São João Crisóstomo que há mais para recear quando Deus tolera um pecador obstinado, do que quanto lhe aplica o castigo sem demora. Com efeito, observa São Gregório, todos aqueles a quem Deus espera com mais paciência, são depois, se perseverarem na sua ingratidão, castigados com mais vigor; e muitas vezes acontece, acrescenta o mesmo santo, que os que foram por mais tempo tolerados por Deus, morrem de improviso sem ter tempo de se converter. Especialmente, quanto maiores tenham sido as luzes que Deus lhe tenha dado, tanto maiores serão tua cegueira e obstinação no pecado, se a tempo não fizeres penitência: “Era-lhe melhor não ter conhecido o caminho da justiça, que depois do conhecimento voltar-lhe as costas” (2 Pd 2, 21).

São Paulo Apóstolo diz que é (moralmente) impossível que uma alma ilustrada por luzes celestes, quando reincidir (tornar a incidir) no pecado, se converta de novo: “De fato, os que uma vez foram iluminados – que saborearam o dom celeste, receberam o Espírito Santo, experimentaram a beleza da palavra de Deus e as forças do mundo que há de vir – e, não obstante, decaíram, é impossível que renovem a conversão uma segunda vez, porque da sua parte crucificam novamente o Filho de Deus e o expõem às injúrias” (Hb 6, 4-6).

Terríveis são as palavras do Senhor contra aqueles que não querem atender a seu convite: “Já que vos chamei e dissestes não… eu também me rirei na hora da vossa morte e vos escarnecerei” (Pr 1, 24-26). Note-se que as palavras “eu também” significam que, assim como o pecador zombou de Deus, confessando, fazendo propósitos e não os cumprindo nunca, assim o Senhor zombará dele na hora da morte.

Em Eclo 21, 1 diz: “Filho, pecaste? Não tornes a pecar; mas roga pelas culpas antigas, a fim de que te sejam perdoadas”. Assim Deus adverte o homem, porque deseja salvá-lo… porque talvez mais um pecado que o homem cometer fará pender a balança da justiça divina e será condenado.

Em Isaías 47, 10-11 diz: “Pecaste confiando temerariamente na misericórdia de Deus; mas o castigo viera de improviso sobre ti, sem que saibas donde vem”.

 

 

NONA PALESTRA

 

OS ANJOS

 

1.º Ponto

 

A) Quem são os anjos?

Os anjos são espíritos puros, isto é, sem corpo, que têm entendimento e vontade.

 

B) Para que criou Deus os anjos?

Deus criou os anjos para que O louvem, obedeçam e sejam felizes no céu; para serem os seus mensageiros e cuidarem dos homens.

 

C) Quem é o anjo da guarda?

O anjo da guarda é o anjo que Deus nos dá a cada um para que nos guarde na terra e nos guie para o céu.

 

2.º Ponto

 

Os anjos na Sagrada Escritura

 

Muitos afirmam que os anjos não existem, e que tudo não passa de uma lenda ou invenção. Mas, a Sagrada Escritura mostra abertamente que os anjos existem. Mesmo que as trevas tentem ofuscar esses amigos íntimos, eles continuam brilhando e nos protegendo.

 

Antigo Testamento

 

Gênesis 28, 12: (Jacó) teve um sonho: Eis que uma escada se erguia sobre a terra e o seu topo atingia o céu, e anjos de Deus subiam e desciam por ela!”

1 Crônicas 21, 15: “Depois Deus enviou o Anjo a Jerusalém para exterminá-la; mas, no momento de exterminá-la, Deus viu e se arrependeu deste mal; e disse ao Anjo exterminador: ‘Basta! Retira tua mão’”.

Tobias 5, 22: “Um bom anjo o acompanhará, lhe dará uma viagem tranquila e o devolverá são e salvo!”

 

Novo Testamento

 

São Mateus 1, 20: “Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho”, e: “Com isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a servi-lo” (Mt 4, 11), e também: “Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os anjos nos céus vêem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10), e ainda: “Ele enviará os seus anjos que, ao som da grande trombeta, reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade até a outra extremidade do céu” (Mt 24, 31).

 

São Lucas 22, 43: “Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava”.

São João 20, 12: “E viu dois anjos, vestidos de branco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e outro aos pés”.

Atos dos Apóstolos 5, 19: “O Anjo do Senhor, porém, durante a noite, abriu as portas do cárcere…”

 

3.º Ponto

 

Hierarquia angélica

 

Costuma-se dividir os Anjos em nove coros e três hierarquias ou ordem.

Vejamos a hierarquia celeste como foi proposta por São Dionísio Areopagita, e tem sido ensinado pela Igreja Católica Apostólica Romana.

 

3.ª Hierarquia

 

Pertencem à terceira hierarquia, os seres espirituais celestes mais privilegiados, pois vivem, por assim dizer, nos umbrais da Divindade.

Pela luz de Deus que recebem diretamente, experimentam simultaneamente dos três graus de perfeição espiritual, isto é, da purificação, da iluminação e da união com Deus.

Sua função, segundo São Boaventura, é a visão de Deus e sua glorificação extrínseca, e o aperfeiçoamento dos coros inferiores pela iluminação que lhes comunica.

 

9.º Coro. 3.ª Hierarquia

 

Os Serafins

 

Os Serafins são os mais “próximos” de Deus, de cujo conhecimento e amor participam em grau superior aos demais, por “contemplarem” por assim dizer, a Deus, o Amor Supremo, a fonte de todo o Amor.

Sua vontade é como que uma fulguração que não vive senão do amor divino. Amando somente a Deus, cada vez mais se abrasam neste fogo celestial. Conhecem a infinita bondade de Deus mais que qualquer ser criado, e esse conhecimento aviva-lhes sem cessar o amor.

Deus é Caridade, é Ele mesmo o Amor; como a natureza dos Serafins os impele a amarem, amam a Deus sem limites, sem medidas e sem fim.

Seu ofício é amar a Deus e cantar seus louvores, comunicando aos demais coros o fogo de amor a Deus. Por isso, se fala nos ardentes Serafins, cujo objeto é o bem. Eles, portanto, adoram, amam e louvam sem cessar a Santíssima Trindade.

Devemos pedir aos Serafins que nos abrasem no amor a Deus e nos inflame o coração no carinho para com Maria Santíssima, nossa Mãe celeste.

Narra a Escritura que o profeta Isaías viu um Serafim que lhe purificava os lábios com um carvão aceso que havia tomado do altar do Senhor e antes havia ouvido como os Serafins cantavam em coro o triságio: “Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos; cheia está a terra de sua glória” (Is 6, 3).

 

8.º Coro. 3.ª Hierarquia

 

Os Querubins

 

Recebem diretamente os raios da divina Sabedoria e estão cheios da sublimidade da ciência do Senhor. Ao contemplarem a essência divina ficam submersos naquele pélago (abismo) imenso da sabedoria de Deus que os envolve totalmente. Segundo São Dionísio Areopagita, os luminosos Querubins têm a prerrogativa de contemplar o poder divino. Como que extasiados, prorrompem em cânticos de amor e louvor a Deus. São, por assim dizer, a personificação do zelo na realização da maior glória de Deus e da defesa da mesma.

O profeta Ezequiel teve uma visão desses espíritos celestes. Pareceu-lhe ver, de modo figurado, evidentemente, que levavam em carro de glória, a majestade de Deus: “Quanto às suas faces, tinham forma semelhante à de um homem, mas os quatro apresentavam face de leão do lado direito e todos os quatro apresentavam face de touro do lado esquerdo. Ademais, todos os quatro tinham face de águia” (Ez 1, 10).

Um Querubim teria guardado a “porta do Paraíso” após a queda de Adão: “Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim do Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3, 24).

Acredita-se que o “trono” do Papa seja guardado por quatro Querubins, e que muitos santuários que os homenageiam são assistidos por um deles. A piedade cristã os invoca nas tentações contra a fé, a virtude da pureza e os escrúpulos.

 

7.º Coro. 3.ª Hierarquia

 

Os Tronos

 

Contemplam eternamente a Deus em sua puríssima essência. Sorvem a luz daquela fonte inesgotável de amor e sabedoria. Recebem de Deus as ordens para comunicá-las às Dominações e aos outros espíritos das hierarquias inferiores.

Como estão permanentemente junto de Deus, são como que um “trono” sobre o qual simbolicamente descansa a majestade divina. Cantam, por assim dizer, a glória de Deus: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos; toda a terra está cheia de sua glória” (Is 6, 3).

São Paulo na carta aos Colossenses assim se refere aos Tronos, espíritos celestes da 3.ª hierarquia: “Porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele” (1, 16).

Os Tronos assistem aos bispos em suas dioceses, aos governantes, às comunidades claustrais e oferecem à Santíssima Trindade as orações e sacrifícios que se realizam nessas suas comunidades. Devemos invocá-los para que esclareçam e iluminem os governantes, bispos e responsáveis por comunidades religiosas e civis.

 

2.ª Hierarquia

 

Sua missão primordial é a iluminação dos coros inferiores e o cumprimento dos desígnios de Deus no universo, isto é, o governo do mundo.

 

6.º Coro. 2.ª Hierarquia

 

As Dominações

 

Fazem cumprir a vontade do Senhor em todos os espíritos dos coros inferiores e no mundo.

São, por assim dizer, espíritos administradores dos quais Deus se serve para o governo do mundo. Foram considerados os generalíssimos dos exércitos angélicos servindo a Deus que possui a dominação suprema sobre tudo quanto existe.

Suas atribuições se estendem não apenas a atuar sobre os coros inferiores, mas a todo o universo.

São Paulo se refere às Dominações na Carta aos Efésios: “Muito acima de qualquer Principado e Autoridade e Poder e Dominação…” (1, 21).

Assistem aos que se empenham em difundir o reino de Deus: os missionários, os superiores de mosteiros e conventos, os que possuem um ministério de devoção espiritual e os professores. Devemos pedir às Dominações pelos hereges, agnósticos, ateus incrédulos, de outras religiões e pelos católicos pouco fervorosos.

 

5.º Coro. 2.ª Hierarquia

 

As Virtudes

 

Segundo São Dionísio Areopagita, é por meio deste coro da hierarquia Angélica que Deus preside o universo.

Sabemos que Deus está em todos os lugares, pois é infinito, mas quer que as Virtudes, sustentadas pela força e poder que d’Ele recebem, mantenham as leis que regem a criação, suspendendo o curso dessas mesmas leis quando sua suprema vontade assim resolve.

As Virtudes têm o poder de acalmar a fúria dos mares, a força dos ventos e o curso dos astros. Em uma palavra: a elas estão sujeitos os fenômenos da natureza.

Deus envia as Virtudes aos que se esforçam por tornarem-se melhores. Os pecadores arrependidos são auxiliados por Virtudes Celestes, para que perseverem no bem. Para melhorarmos nossa vida espiritual devemos invocá-las, porque não bastam bons pensamentos e resoluções: é necessário coragem e força para cumprirmos as boas resoluções.

 

4.º Coro. 2.ª Hierarquia

 

As Potestades

 

Os espíritos celestes denominados Potestades removem todos os obstáculos que podem impedir a execução dos desígnios de Deus e segundo São Gregório Magno, vencem o poder dos demônios.

O inimigo do gênero humano, o demônio, se compraz em estorvar o quanto pode a realização dos desígnios de Deus sobre a humanidade. Os demônios inconformados com a misericórdia com que Deus trata os homens, têm um só afã, um só objetivo: o de induzi-los a ofender a Deus para que venham a participar de sua desdita.

Para proteger os homens contra essas insídias diabólicas, Deus designou as Potestades, conferindo a elas os poderes que assegurem sempre a vitória, quando invocados a intervir nas tentações e maquinações solertes (velhacas) dos demônios. Auxiliam de modo especial aos sacerdotes, inspirando-os para que se santifiquem e exerçam bem seu ministério.

 

1.ª Hierarquia

 

3.º Coro. 1.ª Hierarquia

 

Os Principados

 

Segundo São Dionísio Areopagita, os Principados têm por ofício o governo dos reinos e dos povos. São como custódios das comunidades.

São como que os generais do “exército” do Rei do Universo que defendem e protegem as nações. Cada reino, cada nação, cada igreja, cada localidade e cada povo tem um vigilante guarda, um Principado que lhe serve de proteção, amparo e defesa. Ao aparecer aos pastorzinhos em Fátima, em 1916, o Anjo se apresentou como “o Anjo de Portugal”. Seria um Principado, e que não se identificou como tal, pois, para as crianças a quem apareceu, essa designação certamente seria incompreensível.

Os Principados “lutam” contra as legiões infernais que, com seus príncipes, pervertem as sociedades e fazem-nas desviar do caminho da salvação.

Em Romanos 8, 38 diz: “Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados…”

Os Principados adoram a Deus presente na Sagrada Eucaristia e, por isso, um comentarista recomendava que “nenhum sacerdote deveria se esquecer de saudar o Anjo do Santuário ao nele entrar”. O mesmo se aplica a nós, que, ao entrarmos numa igreja, depois de adorarmos ao Santíssimo Sacramento e à Santíssima Trindade e de uma oração a Maria Santíssima, devemos invocar o Principado daquela igreja.

 

2.º Coro. 1.ª Hierarquia

 

Os Arcanjos

 

Como o nome o indica, os Arcanjos, embora fazendo parte da hierarquia dos Anjos, são de certa forma, de uma classe de grau superior aos Anjos do 1.º Coro. A eles Deus confia missões extraordinárias, como a comunicação de mistérios de fé e revelações de realidades acima da compreensão da razão humana.

São Miguel é representado como um guerreiro subjugando Satanás. A lança em sua mão simboliza a Força de Deus com a qual derrota o Demônio; o escudo, a humildade contra a qual vêm lançarem-se as insídias informais; a espada de dois gumes é um símbolo da Palavra de Deus, a qual desfaz a mentira e dissipa a ilusão de que Satanás em sua soberba se serve para impedir a ação da graça e enganar e perder as almas.

Miguel significa “Quem como Deus?”

Segundo alguns teólogos, São Miguel Arcanjo é o Anjo da guarda de Jesus Cristo, da Sagrada Eucaristia e do Santo Sacrifício da Missa.

São Miguel enviaria seus Arcanjos para auxiliarem o Anjo da guarda de uma pessoa perseguida ou na iminência do martírio.

São Gabriel é o mensageiro do Espírito Santo.

Gabriel significa “Deus é forte”.

Apareceu a Daniel, Zacarias e a Nossa Senhora. É venerado como o Anjo da guarda de Nossa Senhora, e devemos invocá-lo para que aumente em nós o amor a Santíssima Virgem.

Todos aqueles que se doam pelas mãos de Nossa Senhora a Jesus Cristo, recebem um auxílio suplementar, além de seu Anjo da guarda, um Anjo do Coro de São Gabriel para seu aperfeiçoamento espiritual. A cada dia, ele apresenta à sua Soberana Rainha, o “bouquet” dos “sim” dessas pessoas que aceitam, trabalham e oferecem por amor, todas as suas misérias e defeitos, para a glória de Deus e a salvação das almas.

São Rafael, cujo nome significa “Deus cura” ou “Medicina de Deus”, é representado por um jovem em traje de viagem, segurando um cajado. A vestimenta de viandante nos recorda que São Rafael está sempre disposto a “viajar” em nosso auxílio; o cajado lembra um cetro que simboliza o poder, o acordo e a segurança com que o Arcanjo assiste a todos quantos recorrem ao seu auxílio em suas necessidades.

São Rafael deve, portanto, ser invocado contra as potências do mal, na cura das doenças e nos deslocamentos e viagens. É também o protetor dos confessores e penitentes. Muitos que a ele recorreram foram bons orientadores de consciência. Ele nos consola nas dificuldades presentes e nos fortalece contra o desânimo e a depressão. Quando Deus no-lo envia, sentimos a paz, a tranquilidade e a aceitação do que nos parecia impossível suportar.

 

1.º Coro. 1.ª Hierarquia

 

Os Anjos

 

São do último Coro, esses espíritos bem-aventurados que como os outros foram criados para a glória e o serviço de Deus. Deles, Deus se serve como de emissários ou mensageiros e de guardiões de cada criatura humana. Todos nós recebemos por bondade e misericórdia de Deus, um Anjo Custódio, nosso Anjo da Guarda, que nos protege das insídias do demônio e até mesmo dos perigos para o nosso corpo.

Têm eles uma atuação e participação nas atividades dos homens, inspirando-lhes e suscitando-lhes boas ideias e propósitos, protegendo-os e auxiliando-os na jornada pela terra rumo ao céu.

Os Anjos são os que dirigem cada pessoa individualmente, enquanto que os Arcanjos normalmente anunciam realidades que interessam à salvação de todos.

 

 

Bibliografia

  • Adolfo Tanquerey, Compêndio de teologia ascética e mística

  • Archibald Joseph Macintyre, Os anjos, uma realidade admirável

  • Bem-aventurado Columba Marmion, Jesus Cristo: Ideal do monge

  • Catecismo da Igreja Católica, 1756, 1864, 2261, 2268, 2270, 2271, 2276, 2277, 2356,  2357, 2380,  2388

  • Concílio de Trento, De Paenitentia, can. 1

  • Edições Theologica

  • Frei Basílio Röwer, 50 Conferências para Religiosas

  • Papa Paulo VI, Alocução, 24-03-1967

  • Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

  • Pe. Alfred Barth, Enciclopédia catequética, Vol. II

  • Pe. Gaston Courtois, Espiritualidade

  • Pe. João Batista Lehmann, Euntes… Praedicate!

  • Pe. Luiz Fernando Cintra, O valor do sacrifício

  • Pe. Richard Gräf, O cristão e a dor

  • Sagrada Escritura

  • Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 28. 9. 2

  • Santa Teresa de Jesus, Escritos

  • Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo; A oração; Preparação para a morte; Meditações

  • Santo Agostinho, Escritos

  • Santo Tomás de Aquino, Escritos

  • São Bernardo de Claraval, Escritos

  • São Francisco de Sales, Introdução à vida devota

  • São Pio X, Catecismo Maior

  • Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã

 

 

- Agradecimento do Santo Retiro -

- Circular -

- Fotos -

- Cartas -

 

 

Ver outros retiros