O cego de Jericó 
					
					(Mc 10, 46-52)
					  
					
					Em Mc 10, 46-52 diz: 
					“Chegaram a Jericó. Ao sair de Jericó com os seus discípulos 
					e grande multidão, estava sentado à beira do caminho, 
					mendigando, o cego Bartimeu, filho de Timeu. Quando percebeu 
					que era Jesus, o Nazareno que passava, começou a gritar: 
					‘Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim!’ E muitos o 
					repreendiam para que se calasse. Ele, porém, gritava mais 
					ainda: ‘Filho de Davi, tem compaixão de mim!’ Detendo-se, 
					Jesus disse: ‘Chamai-o!’ Chamaram o cego, dizendo-lhe: 
					‘Coragem! Ele te chama. Levanta-te’. Deixando a sua capa, 
					levantou-se e foi até Jesus. Então Jesus lhe disse: ‘Que 
					queres que eu te faça?’ O cego respondeu: ‘Rabbúni! Que eu 
					possa ver novamente!’ Jesus lhe disse: ‘Vai, a tua fé te 
					salvou’. No mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu-o 
					no caminho”. 
					
					  
					
					Em Mc 10, 46 diz: 
					“Chegaram a Jericó…” 
					
					  
					
					Jericó
					(hebr. yerîhô, talvez yarîh, “a lua [deus]?”. Cidade 
					situada no vale do Jordão. Antes de atravessar o Jordão, 
					Josué enviou dois espiões para observar a cidade; os dois 
					homens foram escondidos pela prostituta Raab e depois 
					relataram a Josué que a cidade temia os israelitas que 
					poderiam conquistá-la facilmente (Js 2). Então, Josué 
					atravessou o rio e acampou nas “planícies de Jericó”, 
					 o extenso vale do Jordão, na margem oeste do rio, pouco 
					antes do rio desembocar no mar Morto (Js 4, 13). Os 
					israelitas deram a volta em redor da cidade uma vez por dia, 
					durante seis dias; no sétimo dia, deram sete voltas em torno 
					da cidade; na sétima volta, quando os israelitas soaram as 
					trombetas, os muros da cidade ruíram por terra. Os 
					israelitas mataram todos os habitantes de Jericó, com 
					exceção de Raab e sua família. Então, Josué amaldiçoou a 
					cidade e quem quer que ousasse reconstruí-la (Js 6). 
					
					Jericó encontrava-se na 
					fronteira de Benjamim e José, sendo incluída entre as 
					cidades de Benjamim (Js 18, 21). Em 2 Sm 10, 5 dá a 
					entender que havia uma cidade de Jericó na época de Davi. A 
					sua “construção”, feita por Hiel de betel, deve se 
					referir a uma restauração das fortificações (1 Rs 16, 34). 
					Em 2 Rs 2, 4s também há indicação de uma cidade em Jericó. A 
					fortaleza de Jericó foi construída por Bíquides (1 Mc 9, 
					50), tendo sido palco do assassinato de Simão por parte 
					de Ptolomeu (1 Mc 16, 1ss). 
					
					No Novo Testamento, é em 
					Jericó que ocorre a cura do cego Bartimeu (Mt 20, 29ss; 
					Mc 10, 46ss e Lc 18, 35ss). Somente Lc registra a 
					história do publicano Zaqueu, que hospedou Jesus em Jericó
					(Lc 19, 1ss). A parábola do bom samaritano (Lc 10, 
					29ss) é situada na estrada de Jerusalém a Jericó; e, com 
					efeito, até à época moderna, houve aí uma estrada, bastante 
					frequentada por bandidos e assaltantes. 
					
					A Jericó moderna encontra-se 
					a cerca de 35 Km de Jerusalém. A ligação entre as duas é 
					feita por uma estrada de montanha, com muitas curvas, que 
					desce de 750 metros acima do nível do mar a cerca de 300 
					metros abaixo do nível do mar. Jericó encontra-se ao sul da 
					importante nascente chamada “fonte de Eliseu”, cujas 
					águas fazem do oásis de Jericó uma das mais ricas zonas 
					agrícolas de todo o Oriente Médio. O local da Jericó do 
					Antigo Testamento é um tell alongado, chamado 
					Tell-es-sultan, que se encontra a oeste da nascente. A 
					Jericó do Novo Testamento se encontrava exatamente sob a 
					cidade atual. Herodes construiu um palácio em suas 
					proximidades, mas sua localização ainda não foi situada com 
					certeza. 
					
					Nosso Senhor Jesus Cristo e 
					seus discípulos chegaram a Jericó (Mc 10, 46). 
					
					Ele, incansável, zeloso e 
					fervoroso missionário não perdia tempo; mas, como Bom 
					Pastor, ensinava a todos o caminho do céu: “Devo anunciar 
					também a outras cidades a Boa Nova do Reino de Deus, pois é 
					para isso que fui enviado” (Lc 4, 43), e: 
					“Vamos a outros lugares, às aldeias da vizinhança, a fim de 
					pregar também ali…” (Mc 1, 38). 
					
					O Papa Paulo VI escreve: 
					“O próprio Jesus foi o primeiro e o maior dos 
					evangelizadores. Ele foi isso mesmo até o fim, até a 
					perfeição, até o sacrifício da sua vida terrena” 
					(Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 7). 
					
					Jesus, o grande missionário, 
					percorria a Galiléia, Samaria e Judéia, pregando 
					incansavelmente a Boa Nova. 
					
					O Mestre quase não parava 
					para descansar. 
					
					Em Mc 10, 46 diz que 
					chegaram a Jericó. 
					
					Em Mt 8, 5 diz que Ele 
					chegou em Cafarnaum… 
					
					Em Mt 9, 35 diz que Jesus 
					percorria todas as cidades e povoados ensinando em suas 
					sinagogas o Evangelho do Reino… 
					
					Em Lc 4, 31 diz que 
					desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ensinava-os aos 
					sábados… 
					
					Em Lc 8, 1 diz que Jesus 
					andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a 
					Boa Nova do Reino de Deus… 
					
					Em Jo 7, 1 diz que Jesus 
					percorria a Galiléia, não podendo circular pela Judéia, 
					porque os judeus o queriam matar. 
					
					Está claro que Nosso Senhor 
					pregava incansavelmente a Palavra de Deus. 
					
					Assim como Nosso Senhor 
					chegou a Jericó; por que também nós não chegamos, isto é, 
					nos aproximamos do próximo para evangelizá-lo? Por que não 
					deixamos a nossa “poltronice”, comodismo e preguiça 
					para iluminar aqueles que estão vivendo nas trevas? 
					
					O que dizer de um católico 
					que não se preocupa com a salvação do próximo? 
					
					São João Crisóstomo escreve:
					“Não há nada mais frio do que um cristão que não se 
					preocupa pela salvação dos outros. Não digas: não posso 
					ajudá-los, porque, se és cristão de verdade, é impossível 
					que não o possas fazer”, e: “Nenhum crente, 
					nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste dever 
					supremo: anunciar Cristo a todos os povos” (João 
					Paulo II, Encíclica “Redemptoris Missio”, 3), e 
					também: “Os fiéis leigos, precisamente por serem membros 
					da Igreja, têm por vocação e por missão anunciar o 
					Evangelho: para essa obra foram habilitados e nela 
					empenhados pelos sacramentos da iniciação cristã e pelos 
					dons do Espírito Santo” (João Paulo II, Exortação 
					Apostólica “Christifideles Laici”, 33), e ainda: “É 
					uma vergonha fazer-se membro regalado, sob uma cabeça 
					coroada de espinhos” (São Bernardo de Claraval), 
					e: “Não há sinal e marca que mais distinga o cristão e 
					aquele que ama a Cristo do que a solicitude pelos seus 
					irmãos e o zelo pela salvação das almas” (São João 
					Crisóstomo). 
					
					  
					
					Em Mc 10, 46 diz também: 
					“Ao sair de Jericó com os seus discípulos e grande multidão, 
					estava sentado à beira do caminho, mendigando, o cego 
					Bartimeu, filho de Timeu”. 
					
					  
					
					Nosso Senhor, o grande 
					missionário, entrou na cidade de Jericó; com certeza não foi 
					para perder tempo nem para um diálogo vazio com seus 
					moradores; mas sim, entrou ali para pregar o Evangelho, 
					entrou para iluminar aqueles que estavam na escuridão… 
					entrou para pregar a verdade com autoridade: “Estavam 
					espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como 
					quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1, 
					22). 
					
					Ao sair de Jericó uma grande 
					multidão o acompanhava… o acompanhava atraída pela verdade 
					que acabara de ouvir: “Falei abertamente ao mundo…”
					(Jo 18, 20), e: “… mentira nenhuma foi achada 
					em sua boca” (1 Pd 2, 22). 
					
					Havia um cego, mendigando 
					sentado à beira do caminho; esse cego chamava-se Bartimeu, 
					filho de Timeu. 
					
					Tudo indica, Bartimeu era um 
					homem sofrido, era cego e mendigo. Suportava o sol quente e 
					o calor do dia, suportava também o frio da noite, chuva, 
					poeira e o desprezo por parte das pessoas, mas não se 
					desesperava e continuava a esmolar para se manter: 
					“Esmolar era uma cena frequente no Oriente” (Pe. 
					Francisco Fernández Carvajal). 
					
					Qual seria a nossa atitude se 
					tivéssemos que passar pela situação do cego Bartimeu? De 
					desespero ou de paciência? De aceitação ou de blasfêmia? 
					
					A paciência do cego Bartimeu 
					deve servir de exemplo para as pessoas que são pobres 
					materialmente. Muitas pessoas não aceitam a situação e se 
					revoltam contra Deus; começam a roubar ou buscam o suicídio. 
					Esse desespero não agrada a Deus. 
					
					São João Crisóstomo escreve:
					“Chegamos mais seguramente à virtude pela pobreza do que 
					pela riqueza”, e São Paulo escreve aos Filipenses: “… 
					pois aprendi a adaptar-me às necessidades; sei viver 
					modestamente, e sei também como haver-me na abundância; 
					estou acostumado com toda e qualquer situação: viver saciado 
					e passar fome; ter abundância e sofrer necessidade. Tudo 
					posso naquele que me fortalece” (Fl 4, 11-13). 
					
					Aquele que é pobre e enfermo 
					não deve se desesperar; mas sim, deve sofrer com paciência, 
					e Deus lhe recompensará por estar percorrendo o caminho da 
					santidade: “Toda a santidade consiste em amar a Deus, e 
					todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade. Devemos 
					abraçar tudo o que nos acontece de favorável ou 
					desfavorável, nosso estado de vida, nossa saúde, tudo o que 
					Deus quer” (Santo Afonso Maria de Ligório). 
					
					Lembre-se de que a pobreza 
					não é defeito; defeito e pecado é viver na preguiça. 
					
					A exemplo do cego Bartimeu, 
					devemos suportar com paciência e aceitação todos os 
					desprezos vindos das criaturas: “Devemos também praticar 
					a paciência e provar nosso amor a Deus suportando em paz os 
					desprezos que recebemos. Quando uma pessoa se entrega a 
					Deus, Ele mesmo faz ou permite que seja desprezada e 
					perseguida pelos homens” (Idem.). 
					
					O cego Bartimeu carregava o 
					seu pesado fardo com paciência e esperança. 
					
					Carreguemos também nós os 
					nossos fardos, e o Senhor nos recompensará: 
					“Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a 
					provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da 
					glória que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1, 
					12). 
					
					Bartimeu era cego e mendigava 
					à beira do caminho. 
					
					A pior cegueira não é a 
					física; mas sim, a espiritual. 
					
					Existem milhões de católicos 
					cegos espiritualmente e que vivem sentados à beira do 
					caminho da perdição mendigando o lixo oferecido pelo mundo 
					inimigo de Deus e da santidade: “Se o mundo odeia o 
					cristão, porque tu o amas, a ele que te aborrece, e não 
					preferes a Cristo que te remiu e te ama?” (São 
					Cipriano). 
					
					A pior mendicância não é 
					pedir pão e leite; mas sim, se prostrar diante do mundo e 
					encher o coração com as suas máximas e vícios: 
					“Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade 
					com Deus? Assim, todo aquele que quer ser amigo do mundo 
					torna-se inimigo de Deus” (Tg 4, 4). 
					
					  
					
					Em Mc 10, 47 diz:  “Quando 
					percebeu que era Jesus, o Nazareno, que passava, começou a 
					gritar: ‘Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim!” 
					
					  
					
					Em Lc 18, 36-38 diz que o 
					cego Bartimeu ouviu os passos da multidão que transitava e 
					perguntou o que era. Informaram-no de que Jesus, o Nazareno, 
					estava passando. E o cego Bartimeu pôs-se a gritar:  
					“Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” 
					
					Ele estava mendigando sentado 
					à beira do caminho; deixou de mendigar para perguntar o que 
					era. 
					
					Dorronsoro escreve: “O 
					cego, certamente, tinha-se acostumado a distinguir os 
					ruídos: os ruídos das pessoas que iam para o trabalho no 
					campo, os ruídos das caravanas que se punham a caminho de 
					terra longínquas”. 
					
					Mas um dia, o cego de Jericó 
					ouviu ruídos a uma hora inesperada; porque não eram os 
					ruídos com que estava familiarizado, eram ruídos de uma 
					multidão diferente, e perguntou o que estava acontecendo. 
					
					Dorronsoro diz que o cego de 
					Jericó já havia ouvido falar do profeta de Nazaré: 
					“Bartimeu é um homem que vive mergulhado na escuridão, um 
					homem que vive na noite. Ele não pode, como outros enfermos, 
					chegar até Jesus para ser curado. Ele teve notícia de que há 
					um profeta de Nazaré que devolve a vista aos cegos”, e 
					Santo Agostinho comenta: “Também nós temos os olhos do 
					coração fechados, e Jesus passa para que chamemos por Ele”; 
					por isso o cego perguntou, como está em Lc 18, 36: “… o 
					que era”, o que estava acontecendo. 
					
					O cego Bartimeu deixou de 
					lado as coisas passageiras (esmola, comida, dinheiro…), 
					para se preocupar com o principal: Cristo Jesus que estava 
					passando… ele não podia perder essa oportunidade. 
					
					Hoje, infelizmente, milhões 
					de católicos não se importam com Cristo que passa (Santo 
					Retiro, convite para confissão, Santa Missa, conselho 
					espiritual, leitura espiritual…), e continuam 
					mergulhados nas coisas da terra… preocupados somente com as 
					coisas caducas desse mundo. 
					
					Santo Agostinho escreve: 
					“Tenho medo de Cristo que vem e que passa”. Bartimeu não 
					deixou que o Senhor passasse, mas aproveitou da oportunidade 
					para pedir-Lhe ajuda. 
					
					O cego Bartimeu não pediu a 
					ajuda dos discípulos nem de alguém que seguia a Cristo na 
					multidão; mas sim, pediu a Nosso Senhor que o ajudasse. 
					
					Se necessitarmos de uma ajuda 
					devemos recorrer a Cristo Jesus… Ele é poderoso e pode nos 
					ajudar: “… procures levantar os teus olhos ao céu 
					perseverantemente, porque a esperança nos impele a 
					agarrar-nos a essa mão forte que Deus nos estende sem 
					cessar” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, 
					213). 
					
					Ele gritou pedindo a ajuda de 
					Jesus Cristo… não pediu em voz baixa. 
					
					Às vezes a multidão que nos 
					cerca é barulhenta e nos sufoca… a “multidão” dos 
					afazeres, das dificuldades, das tentações, dos inimigos 
					visíveis e invisíveis… então é preciso gritar alto, não com 
					os lábios, mas com o coração… coração cheio de ânimo, 
					confiança, fé e perseverança… não nos deixemos sufocar por 
					tal “multidão”. 
					
					O grito do cego Bartimeu não 
					foi vazio; mas sim, pediu ao Senhor que tivesse compaixão 
					dele. 
					
					Ele nos ensina a pedir a Deus 
					com humildade: “O Senhor atendeu a oração dos humildes”
					(Sl 101, 18), e: “Onde falta humildade, Deus 
					não atende, pelo contrário, repele as orações dos 
					orgulhosos… Deus não ouve as orações dos orgulhosos que 
					confiam na própria força e por isso abandona-os à sua 
					miséria” (Santo Afonso Maria de Ligório, A oração). 
					
					Nas horas de dificuldades e 
					provações, não viremos as costas para Deus; pelo contrário, 
					recorramos a Ele com fé, confiança e humildade: 
					“Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio! Digo ao 
					Senhor: ‘Somente vós sois meu Senhor: nenhum bem eu posso 
					achar fora de vós!” (Sl 15, 1-2), e: “É 
					melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a 
					esperança; é melhor buscar refúgio no Senhor do que contar 
					com os poderosos deste mundo” (Sl 117, 8-9), 
					e também: “Eles lutarão contra ti, mas nada poderão 
					contra ti, porque eu estou contigo…  para te libertar”
					(Jr 1, 19). 
					
					Quando informaram ao cego 
					Bartimeu que era Jesus Cristo que passava, o mesmo não disse 
					que tudo já estava perdido como acontece com algumas pessoas 
					fracas e covardes; mas sim, cheio de confiança pediu a ajuda 
					de Deus. 
					
					Santo Astério de Amaséia 
					escreve: “Nunca devemos considerar os homens como 
					perdidos e sem esperança de salvação, nem deixar de ajudar 
					com todo empenho os que se encontram em perigo nem demorar 
					em prestar-lhes auxílio”. 
					
					  
					
					Em Mc 10, 48 diz:  “E 
					muitos, o repreendiam para que se calasse. Ele, porém, 
					gritava mais ainda: ‘Filho de Davi, tem compaixão de mim!” 
					
					  
					
					As dificuldades começaram 
					imediatamente para o cego de Jericó, para o cego Bartimeu; 
					no meio da sua cegueira procurou a Jesus Cristo, luz do 
					mundo, que passa perto dele, mas como está no versículo 48 
					do capítulo 10 de São Marcos: “E muitos, o repreendiam 
					para que se calasse”. 
					
					Quando o cego Bartimeu vivia 
					sentado à beira da estrada, ninguém se preocupava com ele, o 
					mesmo era desprezado por todos; agora que grita pedindo a 
					ajuda de Nosso Senhor já encontra obstáculos. 
					
					O mesmo acontece com milhares 
					de católicos que antes viviam comodamente às margens da 
					religião, prostrados à beira do caminho a serviço do mundo e 
					de seus vícios… católicos só de nome; então, resolvem 
					“acordar” deixando de lado tudo o que desagrada a Deus… 
					resolvem se levantar e seguir a Nosso Senhor… Esses começam 
					a ser perseguidos, zombados e criticados pelos familiares, 
					amigos e vizinhos. 
					
					O mundo e seus seguidores não 
					suportam ver alguém no caminho da santidade, e logo começa a 
					criticá-lo. 
					
					São Francisco de Sales 
					escreve: “Vêem-se homens e mulheres passarem noites 
					inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste do que 
					esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas se destinamos 
					uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para 
					nos prepararmos para a Santa Comunhão, mandam logo chamar o 
					médico para que nos cure desta melancolia e tristeza”. 
					
					O cego Bartimeu foi 
					repreendido para que ficasse em silêncio e não chamasse por 
					Jesus… o mesmo pode acontecer conosco; muitos poderão nos 
					intimidar e nos ameaçar a não pedir ajuda a Cristo Jesus nas 
					horas difíceis, querendo que permaneçamos prostrados à beira 
					do caminho. 
					
					Santo Agostinho escreve sobre 
					essa perseguição contra uma pessoa que decide ser de Deus:
					“Quando eu começar a dar esses passos, os meus parentes, 
					vizinhos e amigos começarão a ferver… Ficaste louco? Como és 
					exagerado! Por acaso os outros não são cristãos? Isso é uma 
					tolice, uma loucura”, e o santo 
					acrescenta: “E as pessoas dizem tais coisas para que nós, 
					os cegos, não gritemos”. São Josemaría Escrivá também 
					escreve:  “E amigos, costumes, comodidades, ambientes, 
					todos te aconselharão: cala-te, não grites! Por que hás de 
					chamar por Jesus? Não o incomodes!” 
					
					Assim como o cego Bartimeu 
					não calou a boca diante das repreensões; nós também não 
					podemos calar a nossa boca diante das críticas, zombarias e 
					desprezos de familiares, amigos e vizinhos… pelo contrário, 
					devemos buscar a Cristo Jesus com perseverança, fé e 
					otimismo, passando sobre todos os obstáculos, dificuldades e 
					perseguições. 
					
					O cego de Jericó não se 
					intimidou diante da repreensão e não calou a boca; mas sim, 
					como está em Mc 10, 48: “… Ele, porém, gritava mais 
					ainda”, pedindo que Jesus Cristo tivesse compaixão dele. 
					
					A fé do cego é ativa: ele 
					grita, insiste, apesar dos obstáculos das pessoas. 
					Aprendamos dele a não desistirmos de pedir ajuda a Nosso 
					Senhor; quanto maiores forem os obstáculos, tanto maior 
					deverá ser o nosso desejo, luta e perseverança na busca de 
					Nosso Senhor, como escreve São Josemaría Escrivá: “Mas o 
					pobre Bartimeu não fazia caso deles e gritava ainda com mais 
					força: Filho de Davi, tem compaixão de mim. O Senhor, 
					que o ouvira desde o começo, deixou-o perseverar na sua 
					oração. Tal como a ti, Jesus apercebe-se do primeiro apelo 
					da nossa alma, mas espera. Quer que nos convençamos de que 
					precisamos d’Ele; quer que supliquemos, que sejamos 
					teimosos, como o cego de Jericó”. 
					
					O cego Bartimeu 
					perseverou no seu pedido; o Senhor quer que também nós 
					perseveremos nos 
					nossos pedidos, na nossa oração: “Depois do batismo é 
					necessária ao homem a oração contínua para poder entrar no 
					céu” (Santo Tomás de Aquino), e: “É 
					preciso rezar sempre e nunca descuidar” (Lc 18, 1), 
					e também: “Vigiai, portanto, orando em todo o tempo, para 
					que sejais dignos de evitar todas estas coisas que hão de 
					acontecer, e de vos apresentardes com confiança diante do 
					Filho do homem” (Lc 21, 36). 
					
					Se Deus não te atende, é 
					porque você não pediu como devia: “Não possuís porque não 
					pedis. Pedis, mas não recebeis, porque pedis mal, com o fim 
					de gastardes nos vossos prazeres” (Tg 4, 2-3). 
					
					Está claro que devemos 
					recorrer a Nosso Senhor… não devemos nos intimidar diante 
					das críticas e zombarias dos inimigos: “Por que hás de 
					obedecer às admoestações do povo e não caminhar sobre as 
					pegadas de Jesus que passa? Hão de insultar-te, morder-te, 
					empurrar-te para trás, mas tu clamas até que os teus 
					clamores cheguem aos ouvidos de Jesus, pois quem for 
					constante naquilo que o Senhor mandou, esse não poderá ser 
					retido por nenhum poder, e Jesus se deterá e o curará” 
					(Santo Agostinho). 
					
					  
					
					Em Mc 10, 49-50 diz: 
					“Detendo-se, Jesus disse: ‘Chamai-o!’ Chamaram o cego, 
					dizendo-lhe: ‘Coragem! Ele te chama. Levanta-te’. Deixando a 
					sua capa, levantou-se e foi até Jesus”. 
					
					  
					
					A oração do cego Bartimeu é 
					escutada. Ele conseguiu o que desejava apesar das 
					dificuldades externas, da pressão do ambiente que o rodeava 
					e da sua própria cegueira que o impedia de saber exatamente 
					onde é que Jesus se encontrava. 
					
					São Gregório Magno escreve:
					“Quando insistimos fervorosamente na oração, detemos 
					Jesus que passa”. 
					
					Jesus mandou que chamasse o 
					cego. 
					
					Também somos chamados a 
					sairmos do comodismo, do nosso egoísmo, do desejo da vida 
					fácil e relaxada. Cristo nos chama, coragem, levantemo-nos, 
					vamos ao encontro de Nosso Senhor, Ele nos convida, nos 
					chama à santidade… para sermos sal da terra e luz do mundo, 
					como escreve São Josemaría Escrivá: “… o Senhor nos 
					procura a cada instante: levanta-te – diz-nos – e sai da 
					poltronaria, do teu comodismo, dos teus pequenos egoísmos, 
					dos teus probleminhas sem importância. Desapega-te da terra, 
					tu que estás aí rasteiro, achatado e informe”. 
					
					Se Cristo nos chama, devemos 
					atendê-Lo imediatamente… hoje, e não amanhã… agora, e não na 
					semana seguinte. 
					
					Infeliz daquele que volta as 
					costas para o chamado do Senhor ou tapa os ouvidos para o 
					mesmo… esse jamais fará progresso na vida espiritual; pelo 
					contrário, permanecerá cego espiritualmente e prostrado à 
					beira da estrada dos vícios. 
					
					Jesus Cristo disse: 
					“Chamai-o!” (Mc 10, 49), e no versículo 50 
					diz: “Deixando a sua capa, levantou-se e foi até Jesus”. 
					
					Quando o cego de Jericó ouviu 
					que Cristo o chamava, deixou a capa. Está claro que para 
					seguir a Nosso Senhor precisamos deixar tudo o que Lhe 
					desagrada; a “capa” do pecado… a “capa” do 
					apego às coisas terrenas… a “capa” do egoísmo… a 
					“capa” do amor próprio… somente assim nos uniremos a 
					Jesus Cristo, como escreve São João da Cruz: “… quando a 
					alma ama alguma coisa fora de Deus, torna-se incapaz desse 
					transformar nele e de se unir a ele”, e São 
					Josemaría Escrivá também escreve: “Não te esqueças de que 
					para chegar a Cristo é preciso sacrifício; jogar fora tudo o 
					que atrapalha”. 
					
					Muitas pessoas não seguem a 
					Cristo porque não tem coragem de jogar fora o lixo que o 
					mundo oferece… e o coração das mesmas são verdadeiros 
					depósitos de lixo; vivem prostradas à beira do caminho se 
					alimentando do egoísmo e da preguiça. 
					
					Agora o cego Bartimeu está 
					diante de Jesus Cristo. A multidão rodeia-os e contempla a 
					cena. Jesus pergunta-lhe: “Que queres que te faça?”
					(Lc 18, 41). Jesus, que podia restituir a vista, 
					por acaso ignorava o que o cego queria? Nosso Senhor deseja 
					que Lhe peçamos. 
					
					O cego de Jericó 
					responde-Lhe: “Senhor, que eu possa ver novamente!” 
					(Lc 18, 41). São Gregório Magno diz: “O cego 
					não pediu ouro ao Senhor, mas a vista”. 
					
					“Senhor, que eu veja!” 
					As palavras do cego podem servir-nos como jaculatória 
					simples que nos aflore ao coração e aos lábios: de modo 
					particularmente quando tivermos de enfrentar questões ou 
					situações que não soubermos como resolver; como escreve São 
					Josemaría Escrivá:  “Quando se está às escuras, com a alma 
					cega e inquieta, temos de recorrer, como Bartimeu, à luz. 
					Repete, grita, insiste com mais força: Senhor que eu veja!” 
					
					Nesses momentos de escuridão, 
					quando talvez já não sentimos o entusiasmo sensível dos 
					primeiros tempos em que seguimos o Senhor; quando talvez a 
					oração se torna custosa e a fé pareça debilitar-se; quando 
					deixamos de ver com tanta clareza o sentido de uma pequena 
					renúncia e os frutos do nosso esforço pareçam ocultar-se, 
					precisamente então devemos intensificar a oração. Ao invés 
					de abandonar o trato com Deus, será o momento de mostrarmos 
					ao Senhor a nossa lealdade, a nossa fidelidade, redobrando o 
					empenho em agradar-Lhe, por maior que seja o esforço que 
					isso nos exija. 
					
					Peçamos a Cristo: Senhor, que 
					eu veja a vossa santa vontade para caminhar seguro no 
					caminho da santidade. 
					
					  
					
					Em Mc 10, 51-52 diz: 
					“Então Jesus lhe disse: ‘Que queres que eu te faça?’ O cego 
					respondeu: ‘Rabbúni! Que eu possa ver novamente!’ Jesus lhe 
					disse: ‘Vai, a tua fé te salvou’. No mesmo instante ele 
					recuperou a vista e seguia-o no caminho”. 
					
					  
					
					Em Lc 18, 42 diz: “Jesus 
					lhe disse: ‘Vê de novo; tua fé te salvou’”. 
					
					O Pe. Francisco Fernández 
					Carvajal escreve: “O cego recuperou a vista naquele 
					instante. O primeiro que viu foi o rosto de Jesus Cristo que 
					lhe sorria… Não o esqueceria nunca”. 
					
					Jamais duvidemos do poder e 
					da bondade de Nosso Senhor. Ele está sempre pronto a nos 
					atender, contanto que não Lhe peçamos coisas prejudiciais à 
					nossa salvação, como está em São Tiago 4, 2-3: “Não 
					possuis porque não pedis. Pedis, mas não recebeis, porque 
					pedis mal, com o fim de gastardes nos vossos prazeres”. 
					
					Em Lc 18, 43 diz: “No 
					mesmo instante, ele recuperou a vista, e seguia a Jesus, 
					glorificando a Deus. E, vendo o acontecido, todo o povo 
					celebrou os louvores de Deus”. 
					
					O cego Bartimeu recuperou 
					imediatamente a vista. O que fez em seguida? Seguiu a Cristo 
					Jesus. Ele foi grato a Nosso Senhor: “O cego manifestou 
					sua gratidão a Jesus seguindo-O ao invés de deixá-Lo”
					(Teofilacto), e: “O cego que havia demonstrado 
					sua fé ardente, quis mostrar depois sua gratidão diante do 
					benefício recebido” (São João Crisóstomo). 
					
					O cego não quis seguir o 
					mundo e suas máximas; mas sim, preferiu seguir ao Senhor que 
					o havia curado… preferiu seguir a luz… foi grato para com 
					Jesus Cristo: “Não há dever mais urgente do que o de 
					agradecer” (Santo Ambrósio). 
					
					A exemplo do cego Bartimeu, 
					fixemos os nossos olhos somente em Jesus Cristo e não nas 
					coisas caducas da terra: “… corramos com perseverança 
					para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos 
					naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus…” 
					(Hb 12, 1-2). 
					
					O mundo está cheio de pessoas 
					ingratas, elas recebem tudo das mãos do Senhor e O trata com 
					frieza, indiferença e desprezo. Deus trata-as com carinho e 
					recebe somente ingratidão… preferem servir ao mundo e a 
					Satanás a seguirem e servirem a Deus. Quanta ingratidão! 
					Quanta rebeldia! Esses ingratos só têm a perder: “Se te 
					mostrares ingrato para com Deus, perderás ao mesmo tempo a 
					sua imagem e a sua vida” (Santo Irineu). 
					
					O cego Bartimeu não agiu com 
					ingratidão; no versículo 43 do capítulo 18 de Lc diz: “… 
					e seguia a Jesus, glorificando a Deus”, ele louvava e 
					agradecia a Deus por ter recebido tão grande graça. 
					
					Aprendamos a agradecer a Deus 
					por tudo, como está no Sl 86, 12: “Eu te agradeço de todo 
					o coração, Senhor meu Deus, vou dar glória ao teu nome para 
					sempre”. 
					
					No versículo 43 diz também:
					“E, vendo o acontecido todo o povo celebrou os louvores 
					de Deus”. 
					
					Sejamos luzes no meio desse 
					mundo mergulhado nas trevas e busquemos a santidade com 
					entusiasmo. Deus espera também que a nossa vida e a nossa 
					conduta sirvam para que muitos encontrem Jesus presente no 
					nosso tempo: “O bom exemplo é um sermão que todos podem 
					pregar. Com ele pode fazer-se mais fruto nas almas, do que 
					com muitos discursos que só recreiam os ouvidos” 
					(Pe. Alexandrino Monteiro), e: “É viva a palavra 
					quando são as obras que falam” (Santo Antônio de 
					Pádua), e também: “Faz mais um santo só com uma 
					palavra, que um homem vulgar com uma série de discursos”
					(Bem-aventurado Eduardo Poppe). 
					
					  
					
					Pe. Divino Antônio Lopes FP. 
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