O cego de Jericó
(Mc 10, 46-52)
Em Mc 10, 46-52 diz:
“Chegaram a Jericó. Ao sair de Jericó com os seus discípulos
e grande multidão, estava sentado à beira do caminho,
mendigando, o cego Bartimeu, filho de Timeu. Quando percebeu
que era Jesus, o Nazareno que passava, começou a gritar:
‘Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim!’ E muitos o
repreendiam para que se calasse. Ele, porém, gritava mais
ainda: ‘Filho de Davi, tem compaixão de mim!’ Detendo-se,
Jesus disse: ‘Chamai-o!’ Chamaram o cego, dizendo-lhe:
‘Coragem! Ele te chama. Levanta-te’. Deixando a sua capa,
levantou-se e foi até Jesus. Então Jesus lhe disse: ‘Que
queres que eu te faça?’ O cego respondeu: ‘Rabbúni! Que eu
possa ver novamente!’ Jesus lhe disse: ‘Vai, a tua fé te
salvou’. No mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu-o
no caminho”.
Em Mc 10, 46 diz:
“Chegaram a Jericó…”
Jericó
(hebr. yerîhô, talvez yarîh, “a lua [deus]?”. Cidade
situada no vale do Jordão. Antes de atravessar o Jordão,
Josué enviou dois espiões para observar a cidade; os dois
homens foram escondidos pela prostituta Raab e depois
relataram a Josué que a cidade temia os israelitas que
poderiam conquistá-la facilmente (Js 2). Então, Josué
atravessou o rio e acampou nas “planícies de Jericó”,
o extenso vale do Jordão, na margem oeste do rio, pouco
antes do rio desembocar no mar Morto (Js 4, 13). Os
israelitas deram a volta em redor da cidade uma vez por dia,
durante seis dias; no sétimo dia, deram sete voltas em torno
da cidade; na sétima volta, quando os israelitas soaram as
trombetas, os muros da cidade ruíram por terra. Os
israelitas mataram todos os habitantes de Jericó, com
exceção de Raab e sua família. Então, Josué amaldiçoou a
cidade e quem quer que ousasse reconstruí-la (Js 6).
Jericó encontrava-se na
fronteira de Benjamim e José, sendo incluída entre as
cidades de Benjamim (Js 18, 21). Em 2 Sm 10, 5 dá a
entender que havia uma cidade de Jericó na época de Davi. A
sua “construção”, feita por Hiel de betel, deve se
referir a uma restauração das fortificações (1 Rs 16, 34).
Em 2 Rs 2, 4s também há indicação de uma cidade em Jericó. A
fortaleza de Jericó foi construída por Bíquides (1 Mc 9,
50), tendo sido palco do assassinato de Simão por parte
de Ptolomeu (1 Mc 16, 1ss).
No Novo Testamento, é em
Jericó que ocorre a cura do cego Bartimeu (Mt 20, 29ss;
Mc 10, 46ss e Lc 18, 35ss). Somente Lc registra a
história do publicano Zaqueu, que hospedou Jesus em Jericó
(Lc 19, 1ss). A parábola do bom samaritano (Lc 10,
29ss) é situada na estrada de Jerusalém a Jericó; e, com
efeito, até à época moderna, houve aí uma estrada, bastante
frequentada por bandidos e assaltantes.
A Jericó moderna encontra-se
a cerca de 35 Km de Jerusalém. A ligação entre as duas é
feita por uma estrada de montanha, com muitas curvas, que
desce de 750 metros acima do nível do mar a cerca de 300
metros abaixo do nível do mar. Jericó encontra-se ao sul da
importante nascente chamada “fonte de Eliseu”, cujas
águas fazem do oásis de Jericó uma das mais ricas zonas
agrícolas de todo o Oriente Médio. O local da Jericó do
Antigo Testamento é um tell alongado, chamado
Tell-es-sultan, que se encontra a oeste da nascente. A
Jericó do Novo Testamento se encontrava exatamente sob a
cidade atual. Herodes construiu um palácio em suas
proximidades, mas sua localização ainda não foi situada com
certeza.
Nosso Senhor Jesus Cristo e
seus discípulos chegaram a Jericó (Mc 10, 46).
Ele, incansável, zeloso e
fervoroso missionário não perdia tempo; mas, como Bom
Pastor, ensinava a todos o caminho do céu: “Devo anunciar
também a outras cidades a Boa Nova do Reino de Deus, pois é
para isso que fui enviado” (Lc 4, 43), e:
“Vamos a outros lugares, às aldeias da vizinhança, a fim de
pregar também ali…” (Mc 1, 38).
O Papa Paulo VI escreve:
“O próprio Jesus foi o primeiro e o maior dos
evangelizadores. Ele foi isso mesmo até o fim, até a
perfeição, até o sacrifício da sua vida terrena”
(Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 7).
Jesus, o grande missionário,
percorria a Galiléia, Samaria e Judéia, pregando
incansavelmente a Boa Nova.
O Mestre quase não parava
para descansar.
Em Mc 10, 46 diz que
chegaram a Jericó.
Em Mt 8, 5 diz que Ele
chegou em Cafarnaum…
Em Mt 9, 35 diz que Jesus
percorria todas as cidades e povoados ensinando em suas
sinagogas o Evangelho do Reino…
Em Lc 4, 31 diz que
desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ensinava-os aos
sábados…
Em Lc 8, 1 diz que Jesus
andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a
Boa Nova do Reino de Deus…
Em Jo 7, 1 diz que Jesus
percorria a Galiléia, não podendo circular pela Judéia,
porque os judeus o queriam matar.
Está claro que Nosso Senhor
pregava incansavelmente a Palavra de Deus.
Assim como Nosso Senhor
chegou a Jericó; por que também nós não chegamos, isto é,
nos aproximamos do próximo para evangelizá-lo? Por que não
deixamos a nossa “poltronice”, comodismo e preguiça
para iluminar aqueles que estão vivendo nas trevas?
O que dizer de um católico
que não se preocupa com a salvação do próximo?
São João Crisóstomo escreve:
“Não há nada mais frio do que um cristão que não se
preocupa pela salvação dos outros. Não digas: não posso
ajudá-los, porque, se és cristão de verdade, é impossível
que não o possas fazer”, e: “Nenhum crente,
nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste dever
supremo: anunciar Cristo a todos os povos” (João
Paulo II, Encíclica “Redemptoris Missio”, 3), e
também: “Os fiéis leigos, precisamente por serem membros
da Igreja, têm por vocação e por missão anunciar o
Evangelho: para essa obra foram habilitados e nela
empenhados pelos sacramentos da iniciação cristã e pelos
dons do Espírito Santo” (João Paulo II, Exortação
Apostólica “Christifideles Laici”, 33), e ainda: “É
uma vergonha fazer-se membro regalado, sob uma cabeça
coroada de espinhos” (São Bernardo de Claraval),
e: “Não há sinal e marca que mais distinga o cristão e
aquele que ama a Cristo do que a solicitude pelos seus
irmãos e o zelo pela salvação das almas” (São João
Crisóstomo).
Em Mc 10, 46 diz também:
“Ao sair de Jericó com os seus discípulos e grande multidão,
estava sentado à beira do caminho, mendigando, o cego
Bartimeu, filho de Timeu”.
Nosso Senhor, o grande
missionário, entrou na cidade de Jericó; com certeza não foi
para perder tempo nem para um diálogo vazio com seus
moradores; mas sim, entrou ali para pregar o Evangelho,
entrou para iluminar aqueles que estavam na escuridão…
entrou para pregar a verdade com autoridade: “Estavam
espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como
quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1,
22).
Ao sair de Jericó uma grande
multidão o acompanhava… o acompanhava atraída pela verdade
que acabara de ouvir: “Falei abertamente ao mundo…”
(Jo 18, 20), e: “… mentira nenhuma foi achada
em sua boca” (1 Pd 2, 22).
Havia um cego, mendigando
sentado à beira do caminho; esse cego chamava-se Bartimeu,
filho de Timeu.
Tudo indica, Bartimeu era um
homem sofrido, era cego e mendigo. Suportava o sol quente e
o calor do dia, suportava também o frio da noite, chuva,
poeira e o desprezo por parte das pessoas, mas não se
desesperava e continuava a esmolar para se manter:
“Esmolar era uma cena frequente no Oriente” (Pe.
Francisco Fernández Carvajal).
Qual seria a nossa atitude se
tivéssemos que passar pela situação do cego Bartimeu? De
desespero ou de paciência? De aceitação ou de blasfêmia?
A paciência do cego Bartimeu
deve servir de exemplo para as pessoas que são pobres
materialmente. Muitas pessoas não aceitam a situação e se
revoltam contra Deus; começam a roubar ou buscam o suicídio.
Esse desespero não agrada a Deus.
São João Crisóstomo escreve:
“Chegamos mais seguramente à virtude pela pobreza do que
pela riqueza”, e São Paulo escreve aos Filipenses: “…
pois aprendi a adaptar-me às necessidades; sei viver
modestamente, e sei também como haver-me na abundância;
estou acostumado com toda e qualquer situação: viver saciado
e passar fome; ter abundância e sofrer necessidade. Tudo
posso naquele que me fortalece” (Fl 4, 11-13).
Aquele que é pobre e enfermo
não deve se desesperar; mas sim, deve sofrer com paciência,
e Deus lhe recompensará por estar percorrendo o caminho da
santidade: “Toda a santidade consiste em amar a Deus, e
todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade. Devemos
abraçar tudo o que nos acontece de favorável ou
desfavorável, nosso estado de vida, nossa saúde, tudo o que
Deus quer” (Santo Afonso Maria de Ligório).
Lembre-se de que a pobreza
não é defeito; defeito e pecado é viver na preguiça.
A exemplo do cego Bartimeu,
devemos suportar com paciência e aceitação todos os
desprezos vindos das criaturas: “Devemos também praticar
a paciência e provar nosso amor a Deus suportando em paz os
desprezos que recebemos. Quando uma pessoa se entrega a
Deus, Ele mesmo faz ou permite que seja desprezada e
perseguida pelos homens” (Idem.).
O cego Bartimeu carregava o
seu pesado fardo com paciência e esperança.
Carreguemos também nós os
nossos fardos, e o Senhor nos recompensará:
“Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a
provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da
glória que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1,
12).
Bartimeu era cego e mendigava
à beira do caminho.
A pior cegueira não é a
física; mas sim, a espiritual.
Existem milhões de católicos
cegos espiritualmente e que vivem sentados à beira do
caminho da perdição mendigando o lixo oferecido pelo mundo
inimigo de Deus e da santidade: “Se o mundo odeia o
cristão, porque tu o amas, a ele que te aborrece, e não
preferes a Cristo que te remiu e te ama?” (São
Cipriano).
A pior mendicância não é
pedir pão e leite; mas sim, se prostrar diante do mundo e
encher o coração com as suas máximas e vícios:
“Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade
com Deus? Assim, todo aquele que quer ser amigo do mundo
torna-se inimigo de Deus” (Tg 4, 4).
Em Mc 10, 47 diz: “Quando
percebeu que era Jesus, o Nazareno, que passava, começou a
gritar: ‘Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim!”
Em Lc 18, 36-38 diz que o
cego Bartimeu ouviu os passos da multidão que transitava e
perguntou o que era. Informaram-no de que Jesus, o Nazareno,
estava passando. E o cego Bartimeu pôs-se a gritar:
“Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!”
Ele estava mendigando sentado
à beira do caminho; deixou de mendigar para perguntar o que
era.
Dorronsoro escreve: “O
cego, certamente, tinha-se acostumado a distinguir os
ruídos: os ruídos das pessoas que iam para o trabalho no
campo, os ruídos das caravanas que se punham a caminho de
terra longínquas”.
Mas um dia, o cego de Jericó
ouviu ruídos a uma hora inesperada; porque não eram os
ruídos com que estava familiarizado, eram ruídos de uma
multidão diferente, e perguntou o que estava acontecendo.
Dorronsoro diz que o cego de
Jericó já havia ouvido falar do profeta de Nazaré:
“Bartimeu é um homem que vive mergulhado na escuridão, um
homem que vive na noite. Ele não pode, como outros enfermos,
chegar até Jesus para ser curado. Ele teve notícia de que há
um profeta de Nazaré que devolve a vista aos cegos”, e
Santo Agostinho comenta: “Também nós temos os olhos do
coração fechados, e Jesus passa para que chamemos por Ele”;
por isso o cego perguntou, como está em Lc 18, 36: “… o
que era”, o que estava acontecendo.
O cego Bartimeu deixou de
lado as coisas passageiras (esmola, comida, dinheiro…),
para se preocupar com o principal: Cristo Jesus que estava
passando… ele não podia perder essa oportunidade.
Hoje, infelizmente, milhões
de católicos não se importam com Cristo que passa (Santo
Retiro, convite para confissão, Santa Missa, conselho
espiritual, leitura espiritual…), e continuam
mergulhados nas coisas da terra… preocupados somente com as
coisas caducas desse mundo.
Santo Agostinho escreve:
“Tenho medo de Cristo que vem e que passa”. Bartimeu não
deixou que o Senhor passasse, mas aproveitou da oportunidade
para pedir-Lhe ajuda.
O cego Bartimeu não pediu a
ajuda dos discípulos nem de alguém que seguia a Cristo na
multidão; mas sim, pediu a Nosso Senhor que o ajudasse.
Se necessitarmos de uma ajuda
devemos recorrer a Cristo Jesus… Ele é poderoso e pode nos
ajudar: “… procures levantar os teus olhos ao céu
perseverantemente, porque a esperança nos impele a
agarrar-nos a essa mão forte que Deus nos estende sem
cessar” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus,
213).
Ele gritou pedindo a ajuda de
Jesus Cristo… não pediu em voz baixa.
Às vezes a multidão que nos
cerca é barulhenta e nos sufoca… a “multidão” dos
afazeres, das dificuldades, das tentações, dos inimigos
visíveis e invisíveis… então é preciso gritar alto, não com
os lábios, mas com o coração… coração cheio de ânimo,
confiança, fé e perseverança… não nos deixemos sufocar por
tal “multidão”.
O grito do cego Bartimeu não
foi vazio; mas sim, pediu ao Senhor que tivesse compaixão
dele.
Ele nos ensina a pedir a Deus
com humildade: “O Senhor atendeu a oração dos humildes”
(Sl 101, 18), e: “Onde falta humildade, Deus
não atende, pelo contrário, repele as orações dos
orgulhosos… Deus não ouve as orações dos orgulhosos que
confiam na própria força e por isso abandona-os à sua
miséria” (Santo Afonso Maria de Ligório, A oração).
Nas horas de dificuldades e
provações, não viremos as costas para Deus; pelo contrário,
recorramos a Ele com fé, confiança e humildade:
“Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio! Digo ao
Senhor: ‘Somente vós sois meu Senhor: nenhum bem eu posso
achar fora de vós!” (Sl 15, 1-2), e: “É
melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a
esperança; é melhor buscar refúgio no Senhor do que contar
com os poderosos deste mundo” (Sl 117, 8-9),
e também: “Eles lutarão contra ti, mas nada poderão
contra ti, porque eu estou contigo… para te libertar”
(Jr 1, 19).
Quando informaram ao cego
Bartimeu que era Jesus Cristo que passava, o mesmo não disse
que tudo já estava perdido como acontece com algumas pessoas
fracas e covardes; mas sim, cheio de confiança pediu a ajuda
de Deus.
Santo Astério de Amaséia
escreve: “Nunca devemos considerar os homens como
perdidos e sem esperança de salvação, nem deixar de ajudar
com todo empenho os que se encontram em perigo nem demorar
em prestar-lhes auxílio”.
Em Mc 10, 48 diz: “E
muitos, o repreendiam para que se calasse. Ele, porém,
gritava mais ainda: ‘Filho de Davi, tem compaixão de mim!”
As dificuldades começaram
imediatamente para o cego de Jericó, para o cego Bartimeu;
no meio da sua cegueira procurou a Jesus Cristo, luz do
mundo, que passa perto dele, mas como está no versículo 48
do capítulo 10 de São Marcos: “E muitos, o repreendiam
para que se calasse”.
Quando o cego Bartimeu vivia
sentado à beira da estrada, ninguém se preocupava com ele, o
mesmo era desprezado por todos; agora que grita pedindo a
ajuda de Nosso Senhor já encontra obstáculos.
O mesmo acontece com milhares
de católicos que antes viviam comodamente às margens da
religião, prostrados à beira do caminho a serviço do mundo e
de seus vícios… católicos só de nome; então, resolvem
“acordar” deixando de lado tudo o que desagrada a Deus…
resolvem se levantar e seguir a Nosso Senhor… Esses começam
a ser perseguidos, zombados e criticados pelos familiares,
amigos e vizinhos.
O mundo e seus seguidores não
suportam ver alguém no caminho da santidade, e logo começa a
criticá-lo.
São Francisco de Sales
escreve: “Vêem-se homens e mulheres passarem noites
inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste do que
esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas se destinamos
uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para
nos prepararmos para a Santa Comunhão, mandam logo chamar o
médico para que nos cure desta melancolia e tristeza”.
O cego Bartimeu foi
repreendido para que ficasse em silêncio e não chamasse por
Jesus… o mesmo pode acontecer conosco; muitos poderão nos
intimidar e nos ameaçar a não pedir ajuda a Cristo Jesus nas
horas difíceis, querendo que permaneçamos prostrados à beira
do caminho.
Santo Agostinho escreve sobre
essa perseguição contra uma pessoa que decide ser de Deus:
“Quando eu começar a dar esses passos, os meus parentes,
vizinhos e amigos começarão a ferver… Ficaste louco? Como és
exagerado! Por acaso os outros não são cristãos? Isso é uma
tolice, uma loucura”, e o santo
acrescenta: “E as pessoas dizem tais coisas para que nós,
os cegos, não gritemos”. São Josemaría Escrivá também
escreve: “E amigos, costumes, comodidades, ambientes,
todos te aconselharão: cala-te, não grites! Por que hás de
chamar por Jesus? Não o incomodes!”
Assim como o cego Bartimeu
não calou a boca diante das repreensões; nós também não
podemos calar a nossa boca diante das críticas, zombarias e
desprezos de familiares, amigos e vizinhos… pelo contrário,
devemos buscar a Cristo Jesus com perseverança, fé e
otimismo, passando sobre todos os obstáculos, dificuldades e
perseguições.
O cego de Jericó não se
intimidou diante da repreensão e não calou a boca; mas sim,
como está em Mc 10, 48: “… Ele, porém, gritava mais
ainda”, pedindo que Jesus Cristo tivesse compaixão dele.
A fé do cego é ativa: ele
grita, insiste, apesar dos obstáculos das pessoas.
Aprendamos dele a não desistirmos de pedir ajuda a Nosso
Senhor; quanto maiores forem os obstáculos, tanto maior
deverá ser o nosso desejo, luta e perseverança na busca de
Nosso Senhor, como escreve São Josemaría Escrivá: “Mas o
pobre Bartimeu não fazia caso deles e gritava ainda com mais
força: Filho de Davi, tem compaixão de mim. O Senhor,
que o ouvira desde o começo, deixou-o perseverar na sua
oração. Tal como a ti, Jesus apercebe-se do primeiro apelo
da nossa alma, mas espera. Quer que nos convençamos de que
precisamos d’Ele; quer que supliquemos, que sejamos
teimosos, como o cego de Jericó”.
O cego Bartimeu
perseverou no seu pedido; o Senhor quer que também nós
perseveremos nos
nossos pedidos, na nossa oração: “Depois do batismo é
necessária ao homem a oração contínua para poder entrar no
céu” (Santo Tomás de Aquino), e: “É
preciso rezar sempre e nunca descuidar” (Lc 18, 1),
e também: “Vigiai, portanto, orando em todo o tempo, para
que sejais dignos de evitar todas estas coisas que hão de
acontecer, e de vos apresentardes com confiança diante do
Filho do homem” (Lc 21, 36).
Se Deus não te atende, é
porque você não pediu como devia: “Não possuís porque não
pedis. Pedis, mas não recebeis, porque pedis mal, com o fim
de gastardes nos vossos prazeres” (Tg 4, 2-3).
Está claro que devemos
recorrer a Nosso Senhor… não devemos nos intimidar diante
das críticas e zombarias dos inimigos: “Por que hás de
obedecer às admoestações do povo e não caminhar sobre as
pegadas de Jesus que passa? Hão de insultar-te, morder-te,
empurrar-te para trás, mas tu clamas até que os teus
clamores cheguem aos ouvidos de Jesus, pois quem for
constante naquilo que o Senhor mandou, esse não poderá ser
retido por nenhum poder, e Jesus se deterá e o curará”
(Santo Agostinho).
Em Mc 10, 49-50 diz:
“Detendo-se, Jesus disse: ‘Chamai-o!’ Chamaram o cego,
dizendo-lhe: ‘Coragem! Ele te chama. Levanta-te’. Deixando a
sua capa, levantou-se e foi até Jesus”.
A oração do cego Bartimeu é
escutada. Ele conseguiu o que desejava apesar das
dificuldades externas, da pressão do ambiente que o rodeava
e da sua própria cegueira que o impedia de saber exatamente
onde é que Jesus se encontrava.
São Gregório Magno escreve:
“Quando insistimos fervorosamente na oração, detemos
Jesus que passa”.
Jesus mandou que chamasse o
cego.
Também somos chamados a
sairmos do comodismo, do nosso egoísmo, do desejo da vida
fácil e relaxada. Cristo nos chama, coragem, levantemo-nos,
vamos ao encontro de Nosso Senhor, Ele nos convida, nos
chama à santidade… para sermos sal da terra e luz do mundo,
como escreve São Josemaría Escrivá: “… o Senhor nos
procura a cada instante: levanta-te – diz-nos – e sai da
poltronaria, do teu comodismo, dos teus pequenos egoísmos,
dos teus probleminhas sem importância. Desapega-te da terra,
tu que estás aí rasteiro, achatado e informe”.
Se Cristo nos chama, devemos
atendê-Lo imediatamente… hoje, e não amanhã… agora, e não na
semana seguinte.
Infeliz daquele que volta as
costas para o chamado do Senhor ou tapa os ouvidos para o
mesmo… esse jamais fará progresso na vida espiritual; pelo
contrário, permanecerá cego espiritualmente e prostrado à
beira da estrada dos vícios.
Jesus Cristo disse:
“Chamai-o!” (Mc 10, 49), e no versículo 50
diz: “Deixando a sua capa, levantou-se e foi até Jesus”.
Quando o cego de Jericó ouviu
que Cristo o chamava, deixou a capa. Está claro que para
seguir a Nosso Senhor precisamos deixar tudo o que Lhe
desagrada; a “capa” do pecado… a “capa” do
apego às coisas terrenas… a “capa” do egoísmo… a
“capa” do amor próprio… somente assim nos uniremos a
Jesus Cristo, como escreve São João da Cruz: “… quando a
alma ama alguma coisa fora de Deus, torna-se incapaz desse
transformar nele e de se unir a ele”, e São
Josemaría Escrivá também escreve: “Não te esqueças de que
para chegar a Cristo é preciso sacrifício; jogar fora tudo o
que atrapalha”.
Muitas pessoas não seguem a
Cristo porque não tem coragem de jogar fora o lixo que o
mundo oferece… e o coração das mesmas são verdadeiros
depósitos de lixo; vivem prostradas à beira do caminho se
alimentando do egoísmo e da preguiça.
Agora o cego Bartimeu está
diante de Jesus Cristo. A multidão rodeia-os e contempla a
cena. Jesus pergunta-lhe: “Que queres que te faça?”
(Lc 18, 41). Jesus, que podia restituir a vista,
por acaso ignorava o que o cego queria? Nosso Senhor deseja
que Lhe peçamos.
O cego de Jericó
responde-Lhe: “Senhor, que eu possa ver novamente!”
(Lc 18, 41). São Gregório Magno diz: “O cego
não pediu ouro ao Senhor, mas a vista”.
“Senhor, que eu veja!”
As palavras do cego podem servir-nos como jaculatória
simples que nos aflore ao coração e aos lábios: de modo
particularmente quando tivermos de enfrentar questões ou
situações que não soubermos como resolver; como escreve São
Josemaría Escrivá: “Quando se está às escuras, com a alma
cega e inquieta, temos de recorrer, como Bartimeu, à luz.
Repete, grita, insiste com mais força: Senhor que eu veja!”
Nesses momentos de escuridão,
quando talvez já não sentimos o entusiasmo sensível dos
primeiros tempos em que seguimos o Senhor; quando talvez a
oração se torna custosa e a fé pareça debilitar-se; quando
deixamos de ver com tanta clareza o sentido de uma pequena
renúncia e os frutos do nosso esforço pareçam ocultar-se,
precisamente então devemos intensificar a oração. Ao invés
de abandonar o trato com Deus, será o momento de mostrarmos
ao Senhor a nossa lealdade, a nossa fidelidade, redobrando o
empenho em agradar-Lhe, por maior que seja o esforço que
isso nos exija.
Peçamos a Cristo: Senhor, que
eu veja a vossa santa vontade para caminhar seguro no
caminho da santidade.
Em Mc 10, 51-52 diz:
“Então Jesus lhe disse: ‘Que queres que eu te faça?’ O cego
respondeu: ‘Rabbúni! Que eu possa ver novamente!’ Jesus lhe
disse: ‘Vai, a tua fé te salvou’. No mesmo instante ele
recuperou a vista e seguia-o no caminho”.
Em Lc 18, 42 diz: “Jesus
lhe disse: ‘Vê de novo; tua fé te salvou’”.
O Pe. Francisco Fernández
Carvajal escreve: “O cego recuperou a vista naquele
instante. O primeiro que viu foi o rosto de Jesus Cristo que
lhe sorria… Não o esqueceria nunca”.
Jamais duvidemos do poder e
da bondade de Nosso Senhor. Ele está sempre pronto a nos
atender, contanto que não Lhe peçamos coisas prejudiciais à
nossa salvação, como está em São Tiago 4, 2-3: “Não
possuis porque não pedis. Pedis, mas não recebeis, porque
pedis mal, com o fim de gastardes nos vossos prazeres”.
Em Lc 18, 43 diz: “No
mesmo instante, ele recuperou a vista, e seguia a Jesus,
glorificando a Deus. E, vendo o acontecido, todo o povo
celebrou os louvores de Deus”.
O cego Bartimeu recuperou
imediatamente a vista. O que fez em seguida? Seguiu a Cristo
Jesus. Ele foi grato a Nosso Senhor: “O cego manifestou
sua gratidão a Jesus seguindo-O ao invés de deixá-Lo”
(Teofilacto), e: “O cego que havia demonstrado
sua fé ardente, quis mostrar depois sua gratidão diante do
benefício recebido” (São João Crisóstomo).
O cego não quis seguir o
mundo e suas máximas; mas sim, preferiu seguir ao Senhor que
o havia curado… preferiu seguir a luz… foi grato para com
Jesus Cristo: “Não há dever mais urgente do que o de
agradecer” (Santo Ambrósio).
A exemplo do cego Bartimeu,
fixemos os nossos olhos somente em Jesus Cristo e não nas
coisas caducas da terra: “… corramos com perseverança
para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos
naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus…”
(Hb 12, 1-2).
O mundo está cheio de pessoas
ingratas, elas recebem tudo das mãos do Senhor e O trata com
frieza, indiferença e desprezo. Deus trata-as com carinho e
recebe somente ingratidão… preferem servir ao mundo e a
Satanás a seguirem e servirem a Deus. Quanta ingratidão!
Quanta rebeldia! Esses ingratos só têm a perder: “Se te
mostrares ingrato para com Deus, perderás ao mesmo tempo a
sua imagem e a sua vida” (Santo Irineu).
O cego Bartimeu não agiu com
ingratidão; no versículo 43 do capítulo 18 de Lc diz: “…
e seguia a Jesus, glorificando a Deus”, ele louvava e
agradecia a Deus por ter recebido tão grande graça.
Aprendamos a agradecer a Deus
por tudo, como está no Sl 86, 12: “Eu te agradeço de todo
o coração, Senhor meu Deus, vou dar glória ao teu nome para
sempre”.
No versículo 43 diz também:
“E, vendo o acontecido todo o povo celebrou os louvores
de Deus”.
Sejamos luzes no meio desse
mundo mergulhado nas trevas e busquemos a santidade com
entusiasmo. Deus espera também que a nossa vida e a nossa
conduta sirvam para que muitos encontrem Jesus presente no
nosso tempo: “O bom exemplo é um sermão que todos podem
pregar. Com ele pode fazer-se mais fruto nas almas, do que
com muitos discursos que só recreiam os ouvidos”
(Pe. Alexandrino Monteiro), e: “É viva a palavra
quando são as obras que falam” (Santo Antônio de
Pádua), e também: “Faz mais um santo só com uma
palavra, que um homem vulgar com uma série de discursos”
(Bem-aventurado Eduardo Poppe).
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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