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					Cura da filha de uma mulher 
					cananéia
					
					(Mt 15, 
					21-28)
					
					  
					
					Em Mt 15, 21-28 diz: 
					“Jesus, partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de 
					Sidônia. E eis que uma mulher cananéia, daquela região, veio 
					gritando: 'Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a 
					minha filha está horrivelmente endemoninhada'. Ele, porém, 
					nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se chegaram a 
					ele e pediram-lhe: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de 
					nós'. Jesus respondeu: 'Eu não fui enviado senão às ovelhas 
					perdidas da casa de Israel'.  Mas ela, aproximando-se, 
					prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: 'Senhor, 
					socorre-me!'  Ele tornou a responder: 'Não fica bem tirar o 
					pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos'.  Ela insistiu: 
					'Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem 
					das migalhas que caem da mesa dos seus donos!'  Diante 
					disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja 
					feito como queres!' E a partir daquele momento sua filha 
					ficou curada”. 
					
					  
					
					Em Mt 15, 21 diz: “Jesus, 
					partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de 
					Sidônia”. 
					
					  
					
					Tiro
					(hebr. çôr, relativo a açur, “a rocha”). Cidade da 
					Fenícia, a atual Sur, a cerca de 80 km ao sul de Beirute. A 
					antiga Tiro consistia de duas cidades, a cidade insular e a 
					do continente. Parece quase certo que Tiro existia pelos 
					anos 2100 a. C. 
					
					Sidônia
					(hebr. çîdon significado incerto). Cidade da Fenícia, 
					localizada na moderna Saida, a cerca de 52 km ao sul de 
					Beirute e a 46 km ao norte de Tiro. A cidade moderna cobre 
					as ruínas da antiga Sidônia. Sidônia já existia na primeira 
					parte do II milênio a.C. Sidônia era um império comercial 
					com uma cidade de mercados e colônias no continente da 
					Ásia.   
					
					Fenícia
					(gr. phoenike, “carmesim”, “purpúrea”). Nome 
					geográfico; a faixa costeira da Síria e do Líbano modernos, 
					de Jebel Akra, o antigo monte Casio, ao monte Carmelo, com o 
					comprimento de cerca de 400 km. A antiga Fenícia incluía 
					apenas a faixa costeira e a encosta oeste das montanhas e 
					não se estendia para o interior. A região é bem regada de 
					água; tem apenas cinco meses de seca durante o ano e possui 
					numerosos rios alimentados pela neve das montanhas. 
					
					Os fenícios eram um povo 
					semita, idênticos aos cananeus e parentes dos israelitas. 
					
					São Jerônimo escreve: “O 
					Salvador, depois de abandonar os fariseus e os caluniadores, 
					passou para o território de Tiro e Sidônia para curar os 
					seus habitantes, e por isso diz: 'E saindo Jesus dali, foi 
					para Tiro e Sidônia”, e: “Tiro e Sidônia eram cidades 
					habitadas pelos gentios. Porque Tiro era a metrópole dos 
					cananeus e Sidônia, o limite” (Remígio), e 
					também: “É digna de atenção a conduta do Senhor, o qual 
					afastou os judeus da observância sobre os alimentos e abriu 
					a porta aos gentios. Assim também Pedro recebeu, numa visão, 
					a ordem de abolir essa lei, e imediatamente foi enviado a 
					Cornélio (At 10, 5). Porém, se alguém pergunta: como é que 
					depois de haver dito o Senhor a seus discípulos que não 
					fossem pelos caminhos dos gentios, agora Ele mesmo vai por 
					esse caminho? Responderemos em primeiro lugar, que o Senhor 
					não estava sujeito ao preceito que deu aos discípulos, e, 
					além disso, porque não foi ali para pregar e por isso disse 
					São Marcos (Mc 7, 24) que se ocultou a si mesmo” 
					(São João Crisóstomo), e ainda: “Foi ali para curar 
					os habitantes de Tiro e de Sidônia, ou seja, para livrar do 
					demônio a filha dessa mulher e condenar, por sua fé, a 
					perversidade dos escribas e dos fariseus. Dessa mulher disse 
					o evangelista: 'Está aqui uma mulher cananéia, que havia 
					saído daqueles limites” (Remígio). 
					
					Nosso Senhor dirigiu-se com 
					os apóstolos em direção noroeste, atravessando a parte 
					superior da Galiléia. Assim chegou ao Líbano, à região de 
					Tiro e Sidônia, fora da autoridade de Herodes; pertencia à 
					Fenícia, convertida em província romana e unida à Síria nos 
					dias de Pompeu (64 a. C). Era uma região pagã e, segundo o 
					historiador Flávio Josefo (Contra Apión, 1, 13), 
					hostil aos judeus. 
					
					Edições Theologica comenta:
					“Tiro e Sidônia são duas cidades fenícias, na costa do 
					Mediterrâneo, atualmente pertencentes ao Líbano. Nunca 
					fizeram parte da Galiléia, mas encontram-se perto da 
					fronteira noroeste desta região. Portanto, no tempo de Jesus 
					estavam fora dos domínios de Herodes Antipas. Para ali se 
					retira o Senhor para evitar a perseguição deste e dos 
					judeus, e atender de modo mais intenso à formação dos seus 
					Apóstolos. Na região de Tiro e Sidônia a maioria dos 
					habitantes era pagã. São Mateus chama a esta mulher 
					'cananéia'. Segundo o Gênesis 10, 18-19, esta região foi uma 
					das principais colônias dos Cananeus; São Marcos 7, 26, 
					chama sírio-fenícia a esta mulher. Ambos os Evangelhos põem 
					em realce a sua condição de pagã, com o que adquire maior 
					relevo a sua fé no Senhor, como aconteceu também no caso do 
					centurião, Mt 8, 5-13”. 
					
					Nosso Senhor se retira para 
					a região de Tiro e Sidônia, para evitar a perseguição de 
					Herodes e dos judeus. 
					
					Cabe a nós imitarmos o 
					exemplo de Cristo Jesus. Não devemos perder tempo dando 
					atenção aos nossos perseguidores; pelo contrário, 
					desprezemos os seus ataques e continuemos a fazer o bem. 
					
					Às vezes é necessário até 
					partirmos para regiões distantes, como aconteceu com Nosso 
					Senhor; mas o importante é perseverarmos no bem. 
					
					  
					
					Em Mt 15, 22 diz: “E eis 
					que uma mulher cananéia, daquela região, veio gritando: 
					'Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha 
					está horrivelmente endemoninhada”. 
					
					  
					
					São João Crisóstomo escreve:
					“O evangelista a chama cananéia, a fim de fazer notar a 
					influência que nela exercia a presença de Cristo. Os 
					cananeus que haviam sido expulsos para que não corrompessem 
					os judeus, se mostraram nesta ocasião mais sábios que os 
					judeus, saindo fora de suas fronteiras e aproximando-se de 
					Cristo. Mas esta mulher, logo que se aproximou de Cristo, 
					não Lhe pediu mais que misericórdia. Por isso segue: 'E 
					chamava dizendo-Lhe: Senhor, filho de Davi, tende piedade de 
					mim”, e: “Grande fé se nota nestas palavras da 
					cananéia: acreditava na divindade de Cristo quando O chama 
					Senhor, e em sua humanidade quando Lhe diz filho de Davi. 
					Ela não pede nada em nome de seus merecimentos, invoca só a 
					misericórdia de Deus, dizendo: 'Tende piedade'. E não disse, 
					tende piedade de minha filha, mas de mim, porque a dor da 
					filha é a dor da mãe; e a fim de movê-Lo à compaixão, Lhe 
					conta toda a sua dor. Por isso segue: 'Minha filha está 
					horrivelmente atormentada pelo demônio'. Nestas palavras, 
					ela descobre suas feridas ao médico e a grandeza e 
					características de sua enfermidade. A grandeza, quando 
					disse: 'É atormentada horrivelmente', e as características 
					pelas palavras: 'pelo demônio” (Glosa). 
					
					A intenção do Senhor era de 
					permanecer oculto naquela região, mas não foi possível: 
					“Saindo dali, foi para o território de Tiro. Entrou numa 
					casa e não queria que ninguém soubesse, mas não conseguiu 
					permanecer oculto” (Mc 7, 24). 
					
					Uma mulher cananéia, pagã,
					“ouviu falar dele” (Mc 7, 25), e entrou na 
					casa onde estava Cristo Jesus. 
					
					Aquela mulher não se 
					intimidou diante das pessoas ali presentes, não deixou para 
					depois nem pediu em voz baixa; mas prostrando-se aos pés de 
					Nosso Senhor gritava: “Senhor, filho de Davi, tem 
					compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente 
					endemoninhada”. 
					
					A oração dessa mulher é 
					perfeita. Ela reconhece Jesus como Messias (Filho de 
					Davi): “Perante a incredulidade dos judeus, expõe a 
					sua necessidade com palavras claras e simples, insiste sem 
					desanimar diante dos obstáculos e exprime humildemente a sua 
					petição: Tem compaixão de mim” (Edições Theologica). 
					
					Aprendamos da cananéia a 
					rezar com fé, confiança, perseverança e humildade: “O 
					Senhor atendeu a oração dos humildes” (Sl 101, 18), 
					e: “Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes”
					(Tg 4, 6), e também: “Deus não houve as 
					orações dos soberbos que confiam na própria força e por isso 
					abandona-os às suas misérias” (Santo Afonso Maria 
					de Ligório), e ainda: “Só nos vasos da confiança o 
					Senhor coloca o azeite de sua misericórdia” (São 
					Bernardo de Claraval), e: “Aproximemo-nos com 
					confiança do trono da graça a fim de alcançarmos 
					misericórdia e de acharmos graça para sermos socorridos 
					oportunamente” (Hb 4, 16), e também: “É, 
					pois, necessário que rezemos com humildade e confiança. 
					Entretanto, isto só não basta para alcançarmos a 
					perseverança final e, com ela, a salvação eterna. As graças 
					particulares que pedimos a Deus, podemos obtê-las por meio 
					de orações particulares. Mas, se não perseverarmos na 
					oração, não conseguiremos a perseverança final, a qual 
					compreende uma cadeia de graças e, por isso, supõe orações 
					repetidas e continuadas até à morte” (Santo Afonso 
					Maria de Ligório). 
					
					  
					
					Em Mt 15, 23 diz: “Ele, 
					porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se 
					chegaram a ele e pediram-lhe: 'Despede-a, porque vem 
					gritando atrás de nós”. 
					
					  
					
					São Jerônimo escreve: “E 
					não lhe responde, não por um ato de soberba semelhante à dos 
					judeus, nem pelo orgulho próprio dos escribas, mas por não 
					parecer que estavam em contradição sua conduta e essas 
					palavras: 'Não andeis pelos caminhos dos gentios' (Mt 10, 
					5). Não queria dar motivo para que O caluniassem e reservava 
					para o tempo de sua paixão e ressurreição a completa 
					salvação dos gentios”, e: “Com essa demora e falta de 
					resposta, o Senhor nos manifesta a paciência e a 
					perseverança da mulher. Também foi uma das causas para não 
					responder: Ele quis que os discípulos suplicassem por ela, a 
					fim de fazer-nos ver a necessidade da súplica para conseguir 
					algo dos santos. Por isso segue: 'E chegando os discípulos, 
					lhe suplicavam” (Glosa), e também: “Os 
					discípulos, que ainda não sabiam nesse tempo os mistérios de 
					Deus, suplicavam pela mulher cananéia, ou movidos à 
					compaixão ou porque desejavam livrar-se de sua insistência”
					(São Jerônimo), e ainda: “Parece existir uma 
					espécie de contradição entre o que foi dito anteriormente e 
					a narração de São Marcos, que disse que quando veio a mulher 
					a suplicar por sua filha, se encontrava o Senhor numa casa. 
					Pode crer-se que São Mateus não falou da casa e, contudo, 
					contou o mesmo trecho. Porém, como ele refere que os 
					discípulos disseram ao Senhor: 'Despede-a, porque vem 
					gritando atrás de nós', parece indicar que a mulher dirigiu 
					suas súplicas ao Senhor, quando Ele andava. Deve, pois, 
					entender-se esta passagem neste sentido: A mulher entrou na 
					casa onde estava o Senhor, posto que São Marcos disse que o 
					Senhor estava em uma casa; porém, depois das palavras que 
					refere São Mateus: 'E não a respondeu'. Durante esse tempo 
					de silêncio (posto que nenhum evangelista disse se continuou 
					o Senhor na casa) é de acreditar que o Senhor saiu daquela 
					casa. Assim se enlaça tudo perfeitamente e desaparece toda 
					diferença entre ambos evangelistas” (Santo 
					Agostinho), e: “Eu presumo que se entristeceram os 
					discípulos diante da desgraça da mulher, porém não se 
					atreveram a dizer: Dá-lhe essa graça, coisa que nos sucede 
					com frequência. Quando queremos persuadir a alguém, lhe 
					dizemos muitas vezes o contrário do que queremos. Mas, Jesus 
					respondeu: 'Não fui enviado senão às ovelhas de Israel”
					(São João Crisóstomo), e também: “Veja a 
					sabedoria dessa mulher. Não pediu aos homens sedutores, nem 
					buscou fórmulas vãs, mas, deixando todas as superstições 
					diabólicas aproximou-se do Senhor. Não pediu a Tiago, nem 
					suplicou a João, nem se aproximou de Pedro; mas, amparada na 
					proteção da penitência, correu sozinha ao Senhor… Pede e 
					manifesta com gritos sua dor ao Senhor que tanto ama aos 
					homens; o Senhor não lhe responde e por isso segue: 'E Ele 
					não lhe respondeu” (Orígenes). 
					
					A cananéia gritava pedindo 
					ajuda a Nosso Senhor; mas Ele que atendia e dialogava com 
					todos, nesta ocasião nada respondeu: “Olhou para ela e 
					não disse nada… Dá a impressão de não fazer o menor caso 
					dela. Mas ela não desanimou. Pelo contrário, continuou a 
					clamar e a pedir, inclusive quando saíram da casa onde se 
					encontravam. Ela seguiu-os com os seus gritos e as suas 
					vozes” (Pe. Francisco Fernández Carvajal). 
					
					O Senhor ia à frente e logo 
					atrás caminhava a mulher, aos gritos, pedindo a sua ajuda. 
					
					Cristo Jesus ficara calado, 
					mas ela não. Ela precisava que Ele a ajudasse, e não queria 
					que o Senhor fosse sem dar-lhe a ajuda. 
					
					Sabemos que Cristo atende 
					aos que Lhe pedem com fé, confiança, humildade e 
					perseverança; por isso, não desistamos nunca, mas a exemplo 
					da cananéia, peçamos a Nosso Senhor tudo aquilo de que 
					necessitamos: “Somos pobres, mas, se pedirmos, já não 
					somos mais pobres. Se nós somos pobres, Deus é rico. E Deus 
					é imensamente liberal” (Santo Afonso Maria de 
					Ligório), e: “Peçamos-lhe não coisas pequenas e 
					vis, mas, sim, coisas grandes” (Santo Agostinho), 
					e também: “O Senhor sente-se honrado com isso e fica tão 
					consolado com as nossas orações, que até, de certo modo, nos 
					agradece. Porque assim abrimos-lhe o caminho de seus 
					benefícios; pois o seu desejo é fazer o bem a todos. E 
					podemos estar certos de que, quando pedimos alguma graça, 
					recebemos sempre mais do que pedimos” (Santa Maria 
					Madalena de Pazzi). 
					
					A cananéia não parava de 
					gritar e de insistir com o Senhor. Os discípulos, ouvindo 
					tal gritaria, disse a Cristo Jesus: “Despede-a, porque 
					vem gritando atrás de nós”. 
					
					Dom Duarte Leopoldo escreve:
					“É de estranhar, à primeira vista, que Jesus, 
					habitualmente tão bom, tão compassivo, tenha assim repelido, 
					com tanta dureza, a esta pobre mãe. Quem, porém, conhece o 
					Coração do Divino Mestre, adivinha logo que se trata de um 
					grande mistério a realizar-se, de uma lição proveitosa a 
					receber. Os discípulos intercedem por esta mulher condoídos 
					da sua aflição. Não prova isto que é legítima a intercessão 
					dos Santos? Se o Divino Mestre não atendeu à súplica dos 
					discípulos, não foi porque a condenasse, senão por outros 
					motivos”. 
					
					Milhões são os católicos que 
					sofrem precisando da ajuda de Nosso Senhor. Cabe aos 
					sacerdotes, ministros de Deus, pedirem a Cristo Jesus que 
					socorra essas pessoas necessitadas. 
					
					Se o sacerdote estiver 
					envolvido com política e com outras coisas terrenas, com 
					certeza o povo viverá na amargura. 
					
					  
					
					Em Mt 15, 24 diz: “Jesus 
					respondeu: 'Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da 
					casa de Israel”. 
					
					  
					
					Estas palavras de Jesus não 
					contradizem a universalidade da sua doutrina e da salvação. 
					Ele veio trazer o seu Evangelho a todo o mundo, mas 
					diretamente só pregaria principalmente aos judeus. Logo, os 
					seus discípulos de todos os tempos, por mandato de Cristo, 
					encarregar-se-iam de evangelizar o mundo inteiro. O próprio 
					São Paulo, nas suas viagens missionárias, pregou primeiro 
					aos judeus (At 13, 46). Além disso, isto não quer 
					dizer que Jesus não atendesse os gentios. Nos próprios 
					Evangelhos vemos que curou alguns deles, que fez grandes 
					elogios do centurião de Cafarnaum, e que doutrinou os 
					samaritanos, tidos pelos judeus como gentios. 
					
					Dom Duarte Leopoldo escreve:
					“Jesus não disse que o Messias só vinha salvar o povo 
					judeu, mas que fora enviado, principalmente, à casa de 
					Israel. Aos seus discípulos caberia, mais tarde, a missão de 
					evangelizar os pagãos”, e: “Não disse isto porque não 
					fora enviado às demais nações, mas para indicar que foi a 
					Israel, aonde primeiramente havia sido enviado, e depois que 
					este povo rejeitasse o Evangelho, o Evangelho passaria com 
					justiça aos gentios” (São Jerônimo), e 
					também: “Foi enviado particularmente ao povo de Israel, 
					para que este recebesse sua doutrina até com sua presença 
					visível” (Remígio), e ainda: “E disse com 
					determinação: 'Às ovelhas perdidas de Israel', para que com 
					estas palavras compreendamos o significado da ovelha perdida 
					de que se fala em outra parábola (Lc 15)” (São 
					Jerônimo). 
					
					  
					
					Em Mt 15, 25-27 diz:  
					“Mas 
					ela, aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a 
					rogar: 'Senhor, socorre-me!' Ele tornou a responder: 'Não 
					fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos 
					cachorrinhos'. Ela insistiu: 'Isso é verdade, Senhor, mas 
					também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa 
					dos seus donos!” 
					
					  
					
					Diante do silêncio de Nosso 
					Senhor, a cananéia continuou a gritar. Agora diante das 
					palavras de Cristo: “Eu não fui enviado senão às ovelhas 
					perdidas da casa de Israel”, continua a insistir; não 
					desanima nem se afasta, mas  “… aproximando-se, 
					prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: 'Senhor, 
					socorre-me!” 
					
					São João Crisóstomo escreve:
					“Porém, vendo a mulher que nada podiam os apóstolos, 
					perdeu a vergonha, feliz vergonha! Antes, não se atrevia a 
					apresentar-se diante do Senhor. Por isso segue: '… vem 
					gritando atrás de nós'. Mas quando parecia que se retiraria 
					cheia de angústia, então se aproxima mais do Senhor. Por 
					isso segue: 'Mas ela veio e O adorou”, e: “Note como 
					esta mulher cananéia O chama com perseverança filho de Davi, 
					em seguida Senhor e por último O adora” (São 
					Jerônimo), e também: “E por isto não disse: Roga ou 
					suplica a Deus, mas, ó Senhor, ajuda-me. E quanto mais 
					aumentava a mulher suas súplicas, menos Ele as atendia. E 
					não chama ovelhas aos judeus, mas filhos. Mas chama-a de 
					cão. 'E Ele respondendo disse: não fica bem…” (São 
					João Crisóstomo), e ainda: “Filhos, são os judeus 
					gerados e alimentados no culto de um só Deus pela lei. Seu 
					pão são o Evangelho, os milagres e tudo quanto pertence a 
					nossa salvação. Não é, pois, conveniente que se tirem todas 
					estas coisas dos filhos e se dêem aos gentios (que são os 
					cachorros), enquanto são repudiados pelos judeus” 
					(Glosa), e: “Os gentios são chamados cachorros por 
					causa de sua idolatria, e os cachorros bebendo sangue e 
					devorando os cadáveres se voltam raivosos” (Rábano), 
					e também: “Olhe a sabedoria da mulher! Não se atreveu a 
					contradizer, nem se entristeceu pelos louvores dos outros, 
					nem se abateu pelas coisas sensíveis que a lançaram no 
					rosto. Por isso segue: 'Mas ela disse: É verdade, Senhor; 
					porém também os cachorros comem das migalhas que caem das 
					mesas de seus senhores'. Cristo havia dito: 'Não fica bem…' 
					e esta disse: 'Assim é, Senhor'. Cristo chama os judeus de 
					filhos e ela os chama de senhores. Ele chama a mulher de 
					cachorro e ela acrescentou a qualidade dos cachorros, como 
					se dissera: se sou cachorro, não sou estranha; me chama de 
					cachorro, alimenta-me o Senhor como a um cachorro. Eu não 
					posso abandonar a mesa do meu Senhor” (São João 
					Crisóstomo), e ainda: “São louvadas a fé, a 
					humildade e a paciência admiráveis desta mulher. A fé, 
					porque acreditava que o Senhor podia curar sua filha. A 
					paciência, porque fora desprezada muitas vezes e outras 
					tantas persevera em suas súplicas. A humildade, porque não 
					só se compara aos cachorros, mas aos cachorrinhos. Disse que 
					eu não mereço o pão dos filhos, nem posso tomar seus 
					alimentos, nem sentar-me à mesa com o pai; porém, me 
					contento com o que é dado aos cachorrinhos, a fim de chegar, 
					mediante minha humildade, até a mesa onde se serve o pão 
					inteiro” (São Jerônimo). 
					
					O Pe. Francisco Fernández 
					Carvajal comenta: “O Senhor não parece facilmente 
					disposto a realizar milagres fora de Israel. Provavelmente 
					encontrava-se de novo na casa, à mesa. A mulher seguiu-os 
					todo o tempo. Diz então a esta pagã que não fica bem tomar o 
					pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos. Evidentemente, os 
					filhos são os judeus e os cachorrinhos são os pagãos. E esta 
					mulher, que foi proposta como exemplo para as almas que não 
					se cansam de pedir, introduz-se com suma humildade e 
					habilidade na semelhança que acaba de ouvir dos lábios do 
					Mestre e conquista o seu coração: Senhor, mas também os 
					cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus 
					donos. Ela considera-se um cachorrinho que se alimenta das 
					migalhas que caem da mesa do seu senhor. Reconhece a 
					superioridade do povo escolhido e a sua falta de méritos, 
					mas confia na misericórdia de Cristo, para quem conceder 
					esta graça é como permitir que um cachorrinho coma as 
					migalhas da sua mesa. Com esta argumentação, não pode já 
					Jesus continuar com a sua fingida dureza”. 
					
					  
					
					Em Mt 15, 28 diz: “Diante 
					disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja 
					feito como queres!' E a partir daquele momento sua filha 
					ficou curada”. 
					
					  
					
					São João Crisóstomo escreve:
					“Por esta razão, se prolongava o Senhor. Ele sabia que 
					ela lhe falava dessa maneira e não queria que ficasse oculta 
					tão grande virtude. Por isso segue: 'Então respondeu Jesus e 
					lhe disse: 'Ó mulher, grande é sua fé: seja feito como 
					queres!' Como se dissera: tua fé pode conseguir coisas 
					maiores que estas, porém, seja feito como queres. Observe 
					que esta mulher influiu não pouco na cura de sua filha, por 
					isso não disse Cristo: Seja curada tua filha, mas: 'Tua fé é 
					grande: seja feito como queres'. Desta maneira nos dá a 
					entender a simplicidade de coração com que falava essa 
					mulher, não para adular ao Senhor, mas para manifestar-lhe 
					sua grande fé. Esta palavra de Cristo é parecida àquela 
					outra: 'Faça o firmamento e ele foi feito' (Gn 1, 6). Por 
					isso segue: 'E desde aquela hora foi curada sua filha'. Olha 
					como alcança a mulher o que não obtiveram os apóstolos. Tão 
					grande poder tem a insistência na oração! Deus prefere que 
					lhe dirijamos a Ele nossas súplicas por nossos pecados, do 
					que valermos das súplicas dos outros”, e: “Estas 
					palavras nos dá um exemplo da necessidade que há de 
					catequizar e batizar as crianças. Porque não disse a mulher: 
					salva a minha filha, ou ajuda-a, mas sim, tem compaixão de 
					mim e ajuda-me. Daqui vem o costume da Igreja de prometer 
					aos fiéis a fé em Deus no lugar de seus filhos pequenos, por 
					não ter estes a razão e a idade suficientes para fazer a 
					Deus essa promessa; e assim, como pela fé dessa mulher foi 
					curada sua filha, assim também, pela fé dos fiéis, se 
					perdoam os pecados das crianças. Esta mulher significa, em 
					sentido alegórico, a Igreja Santa, formada por todas as 
					nações. A vinda do Senhor, depois de abandonar os escribas e 
					os fariseus, ao território de Tiro e Sidônia, nos figura o 
					abandono em que depois deixaria aos judeus e que se passaria 
					aos gentios. E saiu esta mulher dos confins de sua terra, 
					porque a Igreja Santa saiu dos erros e vícios antigos”
					(Remígio), e também: “Penso que a filha da 
					cananéia representa as almas dos fiéis, que eram cruelmente 
					maltratadas pelo demônio, quando não conheciam o seu Criador 
					e adoravam as pedras” (São Jerônimo), e 
					ainda: “O Senhor indica com a palavra 'filhos' aos 
					patriarcas e profetas daquele tempo; com a palavra 'mesa', a 
					Sagrada Escritura, e com 'migalhas', os preceitos leves ou 
					os mistérios íntimos que dão o alimento à Igreja, e com 
					'casca', os preceitos carnais que observavam os judeus. 
					Diz-se que é comida as migalhas que estão debaixo da mesa, 
					porque a Igreja se submete com humildade ao cumprimento dos 
					preceitos divinos” (Remígio), e: “Os 
					cachorros pequenos não comem as cascas, mas as migalhas do 
					pão das crianças, porque os que eram desprezados entre as 
					nações, convertendo à fé, buscam, não a superfície literal 
					da Escritura, mas o sentido espiritual, com o que pode 
					adiantar em suas boas obras” (Rábano), e 
					também: “Com razão se chama grande a essa fé, porque as 
					nações, sem haver sido imbuídas na lei, nem haver sido 
					instruídas pelos profetas, obedeceram prontamente às 
					primeiras palavras que lhes dirigiam os apóstolos, por cuja 
					obediência mereceram a salvação, e sem o Senhor, adia a 
					salvação de suas almas e não atende às primeiras súplicas da 
					Igreja; nunca essas almas devem desesperar-se ou deixar de 
					suplicar, mas ao contrário, devem insistir em suas preces”
					(Idem.), e ainda: “O não vir o Senhor às casas 
					do filho do centurião e da cananéia, significa que as nações 
					onde Ele não fora, alcançaram a salvação por meio de sua 
					palavra. A cura do filho do centurião e da filha da mulher 
					cananéia, mediante as súplicas de seus pais, é figura da 
					Igreja que é mãe de todos os membros que são seus filhos. 
					Porque a chama mãe de todos os homens que a compõem e estes 
					levam o nome de filhos” (Santo Agostinho), e:
					“Ou também, esta mulher, que saiu dos limites de seu 
					território, é a primeira dos prosélitos. É dizer, saiu 
					dentre as nações para ir ao meio do povo que lhe era 
					estranho; suplica por sua filha (isto é, pela gente humilde 
					das nações, submetidas à dominação do espírito imundo) e 
					chama ao Senhor, filho de Davi, porque o conhecia pela lei”
					(Santo Hilário), e também: “Afinal, se alguém 
					manchou a consciência pela imundície de algum vício, esse 
					tem, indubitavelmente, a sua filha horrivelmente atormentada 
					pelo demônio, e se alguém tem corrompido suas boas obras com 
					o veneno do pecado, esse também tem sua filha agitada pelas 
					fúrias do espírito impuro e necessita, por conseguinte, de 
					recorrer com súplicas e lágrimas e pedir a intercessão e o 
					auxílio dos santos” (Rábano). 
					
					A filha ficou sã naquele 
					instante. A sua perseverança e a sua humildade tinham 
					vencido. A mãe encontrou pouco depois a filha em casa, 
					deitada na cama, “sem a tensão que tinha sofrido até este 
					momento. Esta teria uma vida pela frente para agradecer a 
					sua mãe uma segunda existência, finalmente livre. E devemos 
					supor que procuraria mais tarde Jesus e que se converteria 
					depressa à fé cristã. Tinha os seus bons motivos” 
					(Pe. Francisco Fernández Carvajal). 
					
					Segundo uma tradição que 
					remonta ao século III, ambas eram conhecidas na comunidade 
					cristã: a mulher chamar-se-ia Justa, e a sua filha, Berenice
					(testemunhos nas obras duvidosas de Clemente Romano, MG 
					2, 87 e 158). 
					
					Edições Theologica comenta:
					“O diálogo é de uma beleza incomparável. Com aparente 
					dureza Jesus consegue assegurar a fé da cananéia, que chega 
					a merecer um dos maiores elogios que saíram da boca de 
					Jesus: 'é Grande a tua fé!”, e: “Que perseverança na 
					oração e na humildade a desta mulher pagã! Enquanto Jesus 
					parece repeli-la, a sua fé aumenta cada vez mais. Advertida 
					de que se acha na mesma relação em que estão os cães para os 
					filhos da casa, ela replica que não pede o pão dos filhos, 
					mas somente as migalhas que se dão aos animais. Quando a dor 
					nos oprime, quando a nossa alma está desolada e aflita, em 
					completa escuridão, sob os golpes do infortúnio; quando já 
					nos parece que Deus nos abandonou, surdo às nossas súplicas, 
					é então que é preciso rezar, rezar ainda, e não deixar de 
					rezar. Porque as orações que fazemos nesse estado de alma, 
					são de eficácia soberana, desprendem um perfume de fé e de 
					confiança que alegra o Coração de Jesus. Se perseverarmos na 
					fé, na confiança e na oração, não sairemos da prova, sem 
					ouvir estas doces palavras - Faça-se como queres” 
					(Dom Duarte Leopoldo). 
					
					A filha dessa mulher estava 
					endemoninhada, e a mesma se preocupou em pedir ao Senhor que 
					libertasse a sua filha das garras de Satanás. 
					
					Hoje, são milhares de jovens 
					que são escravas das drogas, bebidas e prostituição. Será 
					que as mães católicas se preocupam em pedir a Nosso Senhor 
					que liberte suas filhas de tamanha desgraça? 
					
					Muitas mães, infelizmente, 
					além de não ajudarem as filhas, aconselham-nas a afundarem 
					mais e mais nas trevas do pecado. 
					
					O que essas mães dirão a 
					Deus na hora do julgamento? Onde essas víboras passarão a 
					eternidade? 
					
					  
					
					Pe. Divino Antônio Lopes FP. 
					
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