Parábola das dez virgens
(Mt 25, 1-13)
Assim chamado “Discurso
escatológico” do capítulo 24 do Evangelho de São Mateus, que
anuncia a ruína de Jerusalém em combinação com a ruína do
fim do mundo, seguem no capítulo 25, a parábola das dez
virgens, a parábola dos talentos e o ensinamento sobre o
último julgamento. São ilustrações do discurso do Senhor
sobre o fim do mundo e a sua vinda em poder e glória.
Aplicação moral
Estas parábolas são
aplicações morais e práticas: “Vigiai, portanto, porque
não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 25, 13),
admoesta o Senhor.
Tanto faz a referência ao fim
do mundo com a vinda do Senhor ou à morte pessoal.
Comenta Santo Agostinho:
“O que é de temer no último dia do mundo, o mesmo
cada um deve temer no último dia de sua vida”.
De fato, no dia do juízo
final, cada qual estará naquele mesmo estado no qual se
encontrava no último dia da sua vida. Como se morre neste,
assim será julgado naquele.
O último dia da vida é para
cada um também o último dia antes da vinda do Senhor.
A caminhada do homem termina
com a sua existência terrestre; e da sua existência
terrestre depende, de modo absoluto, a sua existência
eterna. A morte deixa-nos para sempre naquele estado, por
exemplo, do pecado grave, sem que jamais pudéssemos ainda
mudar alguma coisa. O julgamento do Senhor considerará
aquilo que fizemos em nossa vida corporal, seja de bem, seja
de mal.
Para cada um de nós acontece
tudo isso assim como se não tivesse nenhum espaço de tempo
entre o juízo particular (na hora da morte) e o juízo
universal da parusia, ou seja, da vinda do Senhor (no fim do
mundo).
Por conseguinte, do ponto de
vista da vigilância e da cuidadosa preparação
para a vinda do Senhor, valem as mesmas condições para todos
os homens de todos os tempos.
A parábola das Dez Virgens
Contemplemos, pois, a
parábola das Dez Virgens (Mt 25, 1-13), na versão
portuguesa do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, na sua
reedição de 1950.
1 – Então será semelhante o
reino dos Céus a dez virgens que tomando as suas lâmpadas
saíram a receber o esposo e a esposa.
O comentário de rodapé
observa a respeito das Dez Virgens: “Este completo número
compreende todos os fiéis cristãos, que se comparam às
Virgens, por causa da pureza da sua fé e cada profissão que
fazem de se abster de todos os defeitos profanos. O esposo é
Jesus Cristo; a esposa é a Igreja”. Têm manuscritos que
falam só do esposo.
2 – Mas cinco dentre elas
eram loucas e cinco prudentes.
3 – As cinco, porém, que eram
loucas, tomando as suas lâmpadas não levaram azeite consigo.
4 – Mas as prudentes levaram
azeite nas suas vasilhas juntamente com as lâmpadas.
Comenta a nota de rodapé:
“Este azeite é a caridade que faz luzir, e que nutre a fé,
para obrarmos bem”.
5 – E tardando o esposo,
começaram a toscanejar todas, e assim vieram a dormir.
Observação: Esta tardança do
esposo significa, segundo os Santos Padres, o tempo que
passará desde a primeira vinda do Filho de Deus até a
segunda.
6 – Quando à meia-noite se
ouviu apitar: Eis que vem o esposo, saí a recebê-Lo.
7 – Então se levantaram todas
aquelas virgens e prepararam as sua lâmpadas.
8 – E disseram as loucas às
prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas
lâmpadas se apagam.
9 – Responderam as prudentes,
dizendo: Para que não suceda talvez faltar-nos ele a nós e a
vós, ide antes aos que o vendem, e comprai o que for
necessário.
10 – E enquanto elas foram
comprá-lo, veio o esposo, e as que estavam preparadas
entraram com ele a celebrar as bodas e fechou-se a porta.
Comentário: São Jerônimo
explica que depois do dia do juízo, fecha a porta e não fica
lugar para as boas obras e a justiça. Pelo nome de
lâmpada se entende a Fé e pelo nome de óleo
a Caridade.
Entraram a receber as bodas,
quer dizer, entraram no banquete e gozo do Céu.
A parábola quer mostrar a
necessidade que todos têm de trabalhar, cada um segundo o
seu talento e segundo o seu emprego.
11 – E, por fim, vieram
também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos!
12 – Mas Ele respondendo,
lhes disse: Na verdade vos digo, que vos não conheço.
13 – Vigiai pois, porque não
sabeis o dia nem a hora.
A explicação
O Senhor tira essa parábola
dos costumes de então.
Quando, para o casamento, a
noiva vai de um lugar para outro ao encontro do noivo, a
acompanham moças, dando-lhe cortejo de honra. O noivo, por
sua vez, também se põe a caminho da noiva para levá-la à sua
casa; antes, porém, à sala de festa, onde terá a celebração
do matrimônio. Isso acontece durante a primeira hora
da noite. Daí as lâmpadas acesas nas mãos das virgens.
Nas metáforas de uma festa
de casamento está descrito o mistério do Reino dos Céus
em relação a parusia. O Noivo esperado é Cristo na sua
segunda vinda: “Vem a hora em que todos os que
repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão”
(Jo 5,28), diz Nosso Senhor, para que, depois da
ressurreição dos mortos e do juízo universal, a sua esposa,
que é a Igreja, agora triunfante, sem manchas e sem rugas,
seja, por Ele, conduzida às bodas eternas.
As dez virgens que vão ao
encontro do noivo representam a totalidade dos fiéis que,
pela confissão da fé cristã, acreditam na vinda de Cristo. E
acreditar nela, significa esperá-la.
Quia est ire obviam
sponso? Pergunta
Santo Agostinho: O que quer dizer ir ao encontro? Ir
ao encontro no espírito e nos pensamentos;
com o coração esperar a sua chegada.
Quem, portanto, realmente é
cristão, vai ao encontro do Cristo imortal, nosso Deus e
Redentor, o autor e consumador da nossa Fé, e vai ao
encontro da Sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
Vemos muito bem quantos
dentre os cristãos não orientam a sua vida segundo a fé que
confessam. Daí a distinção entre virgens prudentes e
loucas. As loucas levam as suas lâmpadas, mas nenhum
óleo. As prudentes – ou sensatas – porém, levam, em
vasilhas, também óleo para as suas lâmpadas. Quer dizer:
as virgens insensatas negligenciam os preparativos
necessários; as previdentes, porém, levam todo o
necessário para o cortejo nupcial.
Resumidamente, as lâmpadas
simbolizam a fé e o óleo que faltavam às virgens
imprudentes; significa a caridade e as boas obras, sem as
quais a lâmpada mística da fé fumega para depois apagar.
O sono da morte
Nesta parábola ainda tem uma
particularidade: O noivo – ou esposo – demora mais do que o
esperado; a sua chegada se atrasa até pela meia-noite. É um
atraso extraordinário em vista aos costumes daquele tempo,
portanto, não se estranhe que todas as virgens,
também as prudentes, adormeceram: Dormitaverunt omnes et
dormierunt.
É significativo que todas
vieram a dormir, as prudentes tanto quanto as loucas.
O sono, pois, não se entenda
aqui em sentido negativo como negligência e tibieza, como
por exemplo em Mc 13, 36 que diz: Vigiai, para que, o senhor
da casa, vindo de repente, à meia-noite ou de manhã, não vos
encontre dormindo. Não, aqui o sono não quer dizer
negligência dos deveres, não é o sono do pecado e da
leviandade.
É, portanto, o sono ao que
ninguém escapa, é o sono da morte.
Acontece que nos escritos do
Novo Testamento, frequentemente a morte é apostrofada como
sono, os mortos são denominados como dormentes ou
adormecidos: por exemplo: “Nosso amigo Lázaro dorme…”
(Jo 11,11).
A parusia do Senhor,
a ressurreição dos mortos
e o juízo final
Não resta dúvida, o sono em
que caíram as dez virgens é o sono da morte de todas as
gerações cristãs, seguindo uma após outra. São todos os
que jazem nos sepulcros até que chegue a hora tardia da
parusia e da ressurreição.
E aí, no meio da noite, de
repente o grito: Levantai-vos, ide ao encontro do Senhor! É
aquele apito sobre o qual o Apóstolo São Paulo diz: “O
Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e a som da trombeta
divina descerá do Céu, e então os mortos em Cristo
ressuscitarão” (1 Ts 4,16).
No mesmo instante acordarão
também as dez virgens; se levantarão e prepararão as suas
lâmpadas para dar o cortejo de honra àquele que depois de
tanta demora, finalmente, está vindo. Mas, as virgens
negligentes percebendo que as suas lâmpadas estavam se
apagando por falta de óleo, assustadas pedem óleo às
prudentes. Estas, porém, recusam dar-lhes óleo; porque, no
fim, cada um responde por si mesmo.
Depois de terem conseguido
óleo na mercearia, as virgens insensatas chegam ao salão da
festa, mas era tarde demais. A porta está trancada.
“Senhor, abre-nos!” E Cristo responde: “Não vos
conheço”. É a sentença de condenação.
A morte põe um fim
definitivo ao tempo de graça. Do mesmo jeito que uma
árvore cai no chão, assim continua caída para sempre. A
moral da parábola é dada no fim: “Vigiai pois, porque não
sabeis o dia, nem a hora”.
Para cada um em particular
encontra-se antecipado o juízo já na hora da sua morte. Por
isso, na ressurreição dos justos e dos pecadores, não
haverá mais possibilidade alguma de adquirir merecimentos
e mudar a sua sorte. A vigilância cabe, pois, para a vida
antes da morte e não para o tempo iminente antes da segunda
vinda do Senhor, antes da chegada do noivo.
São João Crisóstomo observa:
“Estão vendo como o Senhor termina muitas vezes os seus
ensinamentos com o apelo de vigilância para assim nos
demonstrar que é muito útil para nós não sabermos o dia do
êxito dessa nossa vida? Pois, se tivéssemos certeza de
tantos anos de vida, faríamos como aquele mau servo que
disse em seu coração: ‘Meu senhor tarda, e começou a
espancar os seus companheiros, a comer e beber em companhia
dos bebedores’ (Mt 24, 28s)”.
A demora do Senhor
Sobre a questão de quando
virá o Senhor a segunda vez, a parábola das Dez Virgens
dá a seguinte resposta: “Moram autem faciente sponso”
– “A Chegada do noivo tarda muito”. À meia-noite já
passou o momento de começar a festa.
O esposo, Cristo, esperado
para Sua vinda no fim do mundo, demora muito, e muito
mais do que o pensado. O novo Testamento não fala da vinda
gloriosa do Senhor como algo iminente daquele tempo. Pelo
contrário, será de uma demora considerável, relativa à
duração do mundo.
Comenta São João Crisóstomo:
“O Senhor indica um intervalo do tempo bastante grande,
querendo afastar os discípulos da ideia que o Seu Reino
viria em breve. Pois eles pensavam assim”.
Os judeus sonharam com um
reino terrestre do Messias que seria estabelecido logo, na
cidade de Jerusalém. Mas o intervalo entre a Ascensão do
Senhor e Sua vinda gloriosa é longo. Em três parábolas,
Nosso Senhor indica tal demora: na do mordomo: “Meu
Senhor tarda”; na das Dez Virgens: “atrasando
o noivo”; na dos Talentos: “depois de muito tempo,
o senhor voltou”.
Portanto, lembra o Salmo 21
que promete aos cristãos uma propagação longa entre todos os
povos da terra:
Todos os povos dos pagãos
diante do Senhor se prostrarão.
Ao Senhor pertence a realeza:
Ele governa as nações (versos 28s).
A Igreja – o Reino de Deus
na terra
Sem dúvida, a data exata do
último DIA deve estar escondida. Têm indicações indiscretas
e discretas, porém, de um tempo de espera para o mundo.
Nosso Senhor, comparando o
Reino dos Céus a dez virgens, entende nele o Reino de Deus
que Ele fundou na terra – na Sua Igreja – e para cuja
construção usa a Sua pregação o os Seus milagres.
Esse Reino de Deus na terra
realiza-se em todas as gerações cristãs até o fim do mundo.
A parábola nos apresenta nas dez virgens a totalidade de
todos os fiéis. Mas, por que na metáfora das virgens,
uma após a outra adormece, depois do decorrer de um longo
tempo de espera pela vinda do esposo? Nosso Senhor disse que
todas as que estão descansando nos sepulcros ouvirão a voz
do Filho de Deus. Este é o sinal da vinda do Senhor sobre as
nuvens do Céu.
Pe. Franz Hörl
|