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					Santa Missa 
					segundo o Rito Gregoriano (“Missa Tridentina”)
					  
					
					(Pe. Franz Hörl) 
					
					  
					
					ENSAIO SOBRE OS ASPECTOS PRINCIPAIS DO 
					“MOTU PROPRIO” SUMMORUM PONTIFICUM E O SEU 
					SIGNIFICADO PARA A VIDA DA IGREJA NA SUA SITUAÇÃO ATUAL DE 
					CRISE GENERALIZADA 
					
					  
					
					(Observação: Destaques de palavras em negrito ou 
					sublinhado em citações são meus próprios, não dos autores 
					citados). 
					  
					Introdução: os 
					três documentos de base
					  
					
					“O Santo Padre quer que a forma 
					tradicional da santa Missa se torne elemento regular 
					da vida litúrgica da Igreja. Todos os fiéis – tanto 
					jovens quanto idosos – familiarizem-se com os ritos 
					antigos, a fim de tirarem proveito da beleza e da 
					transcendência sensíveis deles. – O Papa deseja isso por 
					razões pastorais e teológicas.” 
					
					  
					
					Em junho de 2008, o Cardeal Dário 
					Castrillon-Hoyos, então Presidente da Pontifícia Comissão 
					“Ecclesia Dei” (que trata, especificamente, da questão da 
					liturgia antiga), interpretou com estas palavras, como 
					que um porta-voz do Papa, a intenção de Bento XVI quanto à 
					Carta apostólica “Motu proprio” SUMMORUM PONTIFICUM 
					(citada através da sigla SP), com a data de 7 de julho de 
					2007. 
					
					O termo “Motu proprio”, em latim, quer dizer, 
					por um impulso pessoal, e é usado para um decreto 
					pessoal do Papa, como sumo legislador de toda a Igreja, 
					para estabelecer uma nova lei. As primeiras duas 
					palavras do documento em latim dão-lhe o nome individual. 
					
					Começa, portanto, a Carta apostólica com esta 
					frase: “SUMMORUM PONTIFICUM cura ad 
					hoc tempus usque semper fuit, ut Christi Ecclesia Divinae 
					Maiestati cultum dignum offerret, ‘ad laudem et gloriam 
					nominis Sui’ et ‘ad utilitatem totius Ecclesiae Suae sanctae’.” 
					- “Os sumos pontífices até nossos dias se preocuparam 
					constantemente para que a Igreja de Cristo oferecesse à 
					Divina Majestade um culto digno de ‘louvor e glória de Seu 
					nome’ e ‘do bem de toda sua Santa Igreja’”. 
					
					O segundo documento é uma “CARTA DO SANTO 
					PADRE BENTO XVI AOS BISPOS QUE ACOMPANHA O “MOTU PROPRIO” 
					SUMMORUM PONTIFICUM SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA ANTERIOR 
					À REFORMA REALIZADA EM 1970” (citada adiante como CB). Nela 
					o Papa explica aos Bispos as razões da nova lei, e argumenta 
					contra possíveis objeções. 
					
					Para dar maior precisão ao dito “Motu proprio”, 
					aos 30 de abril de 2011, por ordem e com aprovação do Papa, 
					o Cardeal William Levada, na sua qualidade de novo e atual 
					Presidente da Pontifícia Comissão “Ecclesia Dei” (também 
					e ao mesmo tempo como Presidente da Congregação para a 
					Doutrina da Fé), publicou a Instrução UNIVERSAE 
					ECCLESIAE (citada como UE). 
					  
					Um “tesouro 
					precioso” – uma “lei universal”
					  
					
					“A Carta Apostólica Summorum Pontificum 
					Motu proprio do Soberano Pontífice Bento XVI [...] fez mais 
					acessível à Igreja universal a riqueza da Liturgia Romana. 
					Com o sobredito Motu proprio o Sumo Pontífice Bento XVI 
					promulgou uma lei universal para a Igreja com a intenção de 
					dar uma nova regulamentação acerca
					do uso da Liturgia Romana em vigor 
					no ano de 1962.” 
					
					  
					
					Essa constatação introdutória da Instrução 
					Universae Ecclesiae realça logo dois aspectos 
					fundamentais da iniciativa do Papa: 
					
					● Primeiro 
					fala-se de uma “riqueza da Liturgia Romana”, 
					
					● e 
					depois de uma “lei universal” para toda a Igreja. 
					
					O artigo 8 dela especifica: O Motu Proprio se 
					propõe como objetivo: “Liturgiam Romanam in Antiquiore 
					Usu, prout pretiosum thesaurum servandum, omnibus largiri 
					fidelibus”, o que quer dizer “presentear” 
					– e não só oferecer, como diz a tradução em português – “a 
					todos os fiéis a Liturgia Romana segundo o Uso antigo (Usus 
					Antiquior), considerada como um tesouro precioso a ser 
					conservado”. 
					
					Uma ‘oferta’ seria neutra – eu posso 
					aceitá-la ou não –, um presente, porém, um presente bom e 
					bonito, é impossível recusá-lo. Então o Papa deseja 
					presentear a todos com o tesouro da liturgia antiga, 
					anterior à reforma do pós-concílio. 
					
					Como já em SP art.1, assim também em UE o 
					artigo 6 afirma: “Pelo seu uso 
					venerável e antigo a forma extraordinária deve ser 
					conservada em devida honra.” 
					
					Com esse precioso tesouro do uso antigo da 
					Liturgia Romana, o Papa deseja presentear, expressamente, a 
					“todos os fiéis” (omnibus fidelibus), e não 
					somente aos que o pedem. 
					
					Não se trata, portanto, de uma lei 
					particular, ou de um privilégio para certos grupos, mas de 
					uma lei universal do Magistério do Romano Pontífice para 
					toda a Igreja! 
					
					A Missa de São Pio V, chamada também de Missa 
					tridentina, ou seja – na linguagem dos documentos – “a 
					forma tradicional da santa Missa” não pertence a 
					nenhum grupo ou movimento, mas é patrimônio de toda a 
					Igreja católica! 
					
					Caiu, acima, a expressão ‘forma 
					extraordinária’. O que se entende com isso? E quais os 
					significados de outros termos usados nesses documentos? 
					  
					A ‘forma 
					extraordinária’ do Rito romano
					  
					
					É um princípio fundamental da liturgia que ‘a 
					lei de oração da Igreja corresponda à lei da Fé’, LEX ORANDI 
					– LEX CREDENDI, para: 
					
					● garantir 
					a unidade da Igreja, 
					
					● transmitir 
					a integridade da Fé e 
					
					● evitar 
					os erros de doutrina. 
					
					A Liturgia, portanto, é a expressão válida e 
					significativa daquilo que a Igreja crê, do seu dogma de Fé. 
					
					O Missal Romano – o Livro de Missa – é a 
					expressão da ‘Lei de Oração’ da Igreja católica de rito 
					latino (Pois existem também outros ritos: dos ritos 
					orientais, por exemplo, o rito maronita dos Libaneses; da 
					família do rito bizantino o rito ruteno da Ucraina, o rito 
					melquita e outros mais). 
					
					O Papa Bento XVI introduziu uma nova 
					terminologia: 
					
					“O Missal Romano promulgado por Paulo 
					VI é a expressão ordinária da ‘Lex orandi’ [... 
					O] Missal Romano promulgado por São Pio V e novamente 
					pelo beato João XXIII deve ser considerado como expressão 
					extraordinária da mesma ‘Lex orandi’ e gozar do respeito 
					devido por seu uso venerável e antigo. Estas duas expressões 
					da ‘Lex orandi’ da Igreja [...] são, de fato, dois 
					usos do único rito romano.” 
					(SP art.1). 
					
					Na Carta aos Bispos o Papa explica isso:
					“[... O] Missal publicado por Paulo 
					VI, [...] obviamente é e permanece a Forma normal – a 
					Forma ordinária – da Liturgia Eucarística. A última 
					versão do Missale Romanum, anterior ao Concílio, que foi 
					publicada sob a autoridade do Papa João XXIII em 1962 e 
					utilizada durante o Concílio, poderá, por sua vez, ser usada 
					como Forma extraordinária da Celebração Litúrgica. 
					Não é apropriado falar destas duas versões do Missal Romano 
					como se fossem «dois ritos». Trata-se, antes, de um duplo 
					uso do único e mesmo Rito.” 
					
					Para significar a celebração conforme à, 
					agora assim chamada, ‘forma extraordinária’ do Missal, 
					também está em uso o termo de celebração segundo o ‘Rito 
					Gregoriano’, do Papa São Gregório Magno (+ 604), e 
					também se fala de ‘Liturgia romana clássica’. 
					
					A Instrução UE resume: “Trata-se aqui de 
					dois usos do único Rito Romano, que se põem um ao lado do 
					outro. Ambas as formas são expressões da mesma lex orandi da 
					Igreja. Pelo seu uso venerável e antigo a forma 
					extraordinária deve ser conservada em devida honra.” 
					(art.6). 
					
					Daí o apelo tanto para os Bispos, “que 
					ofereçam ao clero a possibilidade de obter uma preparação 
					adequada às celebrações na forma extraordinária, o que vale 
					também para os Seminários, onde se deve prover à 
					formação dos futuros sacerdotes [...] a oportunidade de 
					aprender a forma extraordinária do Rito” (EU 
					art.21), quanto para todos os fiéis que “se 
					familiarizem com os ritos antigos” (Card. 
					Castrillon-Hoyos). 
					
					“Faz-nos bem a todos conservar as 
					riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, 
					dando-lhes o justo lugar”, observa 
					o Santo Padre. 
					  
					Há uma possível 
					contradição entre a forma ordinária e extraordinária?
					  
					
					A essa eventual dúvida o Papa responde na 
					Carta aos Bispos: “Não existe 
					qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale 
					Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e 
					progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações 
					anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também 
					para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou 
					mesmo prejudicial. 
					
					... Aliás, as duas Formas do uso do Rito 
					Romano podem enriquecer-se mutuamente: no Missal antigo 
					poderão e deverão ser inseridos novos santos e alguns dos 
					novos prefácios. ... E, na celebração da Missa segundo o 
					Missal de Paulo VI, poder-se-á manifestar, de maneira mais 
					intensa do que frequentemente tem acontecido até agora, 
					aquela sacralidade que atrai muitos para o uso antigo.” 
					
					O próprio Papa realça da forma extraordinária 
					a sua qualidade específica de maior SACRALIDADE que 
					atrai muitas pessoas; sobretudo também 
					“porque, em muitos lugares, se celebrava não 
					se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, 
					antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados 
					à criatividade, o que levou frequentemente a 
					deformações da Liturgia no limite do suportável. Falo 
					por experiência, porque também eu vivi aquele período com 
					todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram 
					profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da 
					Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da 
					Igreja.” 
					  
					Desordem litúrgica 
					generalizada
					  
					
					Como acabamos de ver, o Papa sabe por 
					experiência pessoal das deformações da Liturgia, lamentando 
					a tamanha anarquia ‘criativa’ que se instalou na celebração 
					da Missa Nova de Paulo VI. 
					
					Recentemente, antes de dar início à 
					celebração litúrgica pelo Papa, na Praça de São Pedro, em 
					Roma, em várias línguas se avisou à multidão de gente 
					presente, que não se fizesse aplausos nem se abanasse 
					bandeiras, a fim de que se respeite a piedade e o caráter 
					sagrado da santa Missa. 
					
					O Mons. Brunero Gherardini, até 1995 
					professor na Pontifícia Universidade Lateranense e, 
					atualmente, cônego da Arquibasílica Vaticana, no seu recente 
					livro ‘Concílio Ecumênico Vaticano II – Um debate a ser 
					feito’, observa “a grosseira situação de 
					desordem litúrgica que está sob os olhos de todos e que cada 
					dia aumenta”. As principais deformações arbitrárias 
					da Liturgia, que estão à vista de todos, são: 
					
					● manipulação 
					de textos e substituição deles até 
					no Cânon e até mesmo na consagração eucarística; 
					
					● introdução 
					de danças e manifestações de 
					cantos caracterizados pelas palavras estranhas; 
					
					● utilização 
					de músicas sincopadas, mais 
					adequadas a uma discoteca que a uma celebração 
					litúrgica; 
					
					● concelebrações 
					imensas feitas sem atenção e 
					privadas de sentido sagrado, durante as quais gritos e 
					aplausos tomam o lugar da adoração e do recolhimento; 
					
					● a
					comunhão eucarística nas mãos e grupos associativos, 
					em uma dimensão mundial, que reduzem a Missa e 
					principalmente a comunhão a um verdadeiro piquenique. 
					
					O Papa espera da celebração da Missa antiga 
					um tipo de fecundação também para a celebração da Missa 
					Nova: uma maior fidelidade às rubricas, isto é, uma maneira 
					correta de celebrar a Missa conforme às normas litúrgicas. 
					
					Mas é mais: 
					  
					Rumo a uma reforma 
					da Liturgia ‘Nova’?
					  
					
					Está em vista também uma reforma da própria 
					Liturgia nova, como o sugerem as palavras do Cardeal Albert 
					Malcolm Ranjith (o qual goza da confiança pessoal de Bento 
					XVI e era também, ainda como arcebispo, secretário da 
					Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos 
					Sacramentos): 
					
					“Portanto, chegou o tempo de não somente
					renovar o conteúdo da liturgia reformada, através de
					mudanças radicais, mas também, de cada vez mais 
					encorajar a retornar a Ordem Antiga que é um caminho para 
					uma renovação verdadeira da Igreja, que os padres do 
					Concílio Vaticano II desejaram. 
					
					A leitura cuidadosa da Constituição 
					Conciliar sobre a Liturgia Sagrada mostra que jamais 
					corresponderam à vontade dos padres conciliares às 
					mudanças precipitadas que depois foram introduzidas na 
					Liturgia”. 
					
					Isso significa bem claramente, que não há 
					somente abusos a lamentar, mas também que é a própria 
					Liturgia reformada depois do último Concílio em si, que 
					deixa a desejar... 
					
					A responsabilidade pelo “caos 
					pós-conciliar no âmbito litúrgico”, continua 
					dizendo o Mons. Brunero Gherardini, recai sobre aqueles 
					professores – em vez de serem ‘confessores’ –, que 
					preferiram uma Liturgia fabricada, como já em 
					1985 o então Cardeal Ratzinger havia lamentado. 
					
					No lugar de uma Liturgia orgânica colocaram a 
					Liturgia “da teatralidade coletiva, 
					da liberdade criativa, da comunhão na mão, das canções tolas 
					e até mesmo semi-heréticas, do ostracismo [=desterro] em 
					relação à posição ‘versus Domino’, à sacralidade do rito, ao 
					seu significado latrêutico [=de adorar a Deus], à 
					funcionalidade insubstituível do [canto] gregoriano, à 
					solenidade dos gestos e dos paramentos, ao ajoelhar agora 
					incompatível com o orgulho do altivo estar de pé, de igual 
					para igual, diante do Senhor do Céu e da Terra.” 
					
					Num livro de entrevista sobre ‘Deus e o 
					Mundo’, publicado no ano de 2000, o Cardeal Ratzinger 
					explicara: “Precisamos renovar a 
					nossa consciência litúrgica para fazer desaparecer a tal 
					mentalidade do fazer, que chegou a tal ponto que
					equipes litúrgicas fabricam a sua própria liturgia 
					para cada domingo. Desse modo, pois, não encontro mais o 
					transcendente, o Sagrado que se me oferece, mas a idéia e a 
					criatividade de algumas pessoas. E percebo, não é isso que 
					estou procurando; é pouco demais e é algo diferente. 
					
					O mais importante para nós é que 
					recuperemos o respeito pela Liturgia e pelo seu caráter 
					sagrado que está fora de manipulação e de criatividade 
					subjetiva. Devemos aprender de novo de reconhecê-la como 
					algo organicamente crescido e doado, algo no que 
					participamos da Liturgia celeste. Nela não devemos procurar 
					a nossa auto-realização, mas o dom que nos foi dado. – O 
					sentido interior pelo sagrado deve novamente despertar.” 
					  
					Porquê agora o 
					estranho de DOIS usos do único Rito romano?
					  
					
					Acontece que o Concílio Vaticano II (1963 – 
					1965) expressou o desejo de que o que diz respeito ao culto 
					divino se renovasse e se adaptasse às necessidades de nossa 
					época. O Papa Paulo VI aprovou em 1970 os novos livros 
					litúrgicos, que depois foram traduzidos às diversas línguas 
					do mundo. 
					
					O Papa Bento XVI explica o que aconteceu: “Na 
					altura da introdução do novo Missal, não pareceu necessário 
					emanar normas próprias para um possível uso do Missal 
					anterior. Supôs-se, provavelmente, que se trataria de poucos 
					casos individuais que seriam resolvidos um a um na sua 
					situação concreta. Bem depressa, porém, se constatou que não 
					poucos continuavam fortemente ligados a este uso do Rito 
					Romano que, desde a infância, se lhes tornara familiar.”
					(CB). 
					
					“[...] aderiram e seguem aderindo com 
					muito amor e afeto às anteriores formas litúrgicas, que 
					haviam embebido tão profundamente sua cultura e seu espírito 
					[...]” (SP). 
					
					Por isso, o Papa João Paulo II, em 1984, 
					concedeu como privilégio de usar o Missal anterior, e, em 
					1988, exortou aos bispos a uma maior generosidade a favor de 
					todos os fiéis que o solicitassem. 
					
					Contudo, o uso anterior era ligado a uma 
					solicitação expressa dos padres e dos fiéis interessados e 
					dependia de uma autorização dos bispos, que restringiram tal 
					permissão ao máximo. 
					  
					A Missa antiga 
					nunca foi proibida!
					  
					
					Existia uma dúvida inquietante: Com a 
					introdução do novo Missal de Paulo VI, em 1970, ficava 
					proibido ou não, o uso do Missal anterior de João XXIII, de 
					1962, que foi usado ainda durante o Concílio Vaticano II? A 
					opinião geral foi esta que o Missal anterior estaria 
					superado e substituído pelo novo. Mas estaria ‘proibido’ 
					celebrar a Missa antiga depois de 1970? 
					
					De fato, com a introdução da Missa Nova, 
					Paulo VI não fez referência a nenhuma abolição ou proibição 
					da Missa anterior. Tampouco teria sido possível, porque a 
					Igreja jamais proibiu um rito tão antigo; e também São Pio 
					V, em 1570, quando promulgou a primeira edição típica do 
					Missal tridentino (após o Concílio de Trento, 1545 – 1564), 
					determinou a validade sempiterna desse Rito e que jamais 
					poder-se-ia proibir a um sacerdote a celebrar essa Missa. 
					
					Não obstante, o próprio Papa João Paulo II 
					estava com dúvidas. Conta, (em 1995), o Cardeal Alfonso 
					Maria Stickler: “[O Papa] colocou a 
					uma comissão de nove cardeais duas perguntas: 
					
					Primeiro: o Papa Paulo VI ou qualquer 
					outra autoridade competente até então, proibiu formalmente a 
					celebração em geral da Missa tridentina? – Não! O Papa 
					perguntou então expressamente ao Cardeal Benelli: ‘Paulo VI 
					proibiu a Missa antiga?’ O Cardeal não respondeu, nem sim, 
					nem não. Porquê? Não podia bem dizer: sim, ele a proibiu. 
					Não podia proibir a Missa que era válida desde o princípio e 
					que era a Missa de milhares de Santos e fiéis. Para ele a 
					dificuldade era essa: Não podia proibi-la, mas ao mesmo 
					tempo ele queria a celebração e aceitação da Missa Nova. E 
					assim só podia dizer: “Eu quero que se reze a Missa Nova.” 
					Essa foi a resposta dos Cardeais à pergunta. Disseram, o 
					Santo Padre deseja que todos sigam a Missa Nova. A resposta 
					dos oito Cardeais, em 1986, foi: Não. A Missa de Pio V nunca 
					foi proibida. Eu posso dizê-lo. Fui um destes Cardeais; e um 
					só foi contra... 
					
					E a outra pergunta: Algum bispo pode 
					proibir a algum sacerdote de boa fama a celebração da Missa 
					tridentina? Os nove Cardeais, unanimemente, declararam que 
					bispo algum pode proibir a um sacerdote que celebre a Missa 
					tradicional. Não existe nenhuma proibição oficial, e 
					acredito que o Papa jamais pronunciará uma proibição 
					oficial.” 
					
					O nosso Papa atual, Bento XVI, finalmente, 
					tirou a dúvida, esclarecendo: 
					“Quanto ao uso do Missal de 1962, como Forma extraordinária 
					da Liturgia da Missa, quero chamar a atenção para o fato de 
					que este Missal nunca foi juridicamente ab-rogado e, 
					consequentemente, em princípio, sempre continuou 
					permitido.” 
					
					Pois vale o princípio teológico já 
					mencionado: “Na história da Liturgia, há crescimento e 
					progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações 
					anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também 
					para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou 
					mesmo prejudicial.” (CB). 
					  
					O Motu proprio 
					SUMMORUM PONTIFICUM libera a celebração da Missa antiga para 
					sacerdotes e fiéis das restrições de João Paulo II
					  
					
					A Instrução UE (n.7) recapitula: 
					“faltando uma legislação que regulasse o uso 
					da Liturgia romana de 1962 era necessária uma nova e 
					abrangente regulamentação. Esta regulamentação se fazia 
					mister especialmente porque no momento da introdução do novo 
					missal não parecia necessário emanar disposições que 
					regulassem o uso da Liturgia vigente em 1962. Por causa do 
					aumento de quanto solicitam o uso da forma extraordinária 
					fez-se necessário dar algumas normas a respeito”. 
					
					“[...] é licito celebrar o Sacrifício da 
					Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgado 
					pelo beato João XXIII em 1962, que não foi ab-rogado nunca, 
					como forma extraordinária da Liturgia da Igreja. As 
					condições para o uso deste missal estabelecidas nos 
					documentos anteriores “Quattuor abhinc annos” e “Ecclesia 
					Dei”, serão substituídas como se estabelece a seguir: 
					
					Art. 2 – Nas Missas celebradas sem o povo, 
					todo sacerdote católico de rito latino, tanto secular como 
					religioso, pode utilizar seja o Missal Romano editado pelo 
					beato Papa João XXIII em 1962, seja o Missal Romano 
					promulgado pelo Papa Paulo VI em 1970, em qualquer dia, 
					exceto o Tríduo Sacro. Para dita celebração seguindo um ou 
					outro missal, o sacerdote não necessita nenhuma permissão, 
					nem da Sé Apostólica nem do ordinário 
					[=bispo diocesano].” 
					
					  
					
					A intenção do Santo Padre é eminentemente 
					pastoral, segundo à máxima da Igreja: Salus animarum – 
					suprema lex, ‘a salvação das almas é suprema lei’. 
					
					“Logo a seguir ao Concílio Vaticano II
					– explica o Papa - podia-se 
					supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse à 
					geração mais idosa que tinha crescido com ele, mas 
					entretanto vê-se claramente que também pessoas jovens 
					descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por 
					ela e nela encontram uma forma, que lhes resulta 
					particularmente apropriada, de encontro com o Mistério da 
					Santíssima Eucaristia.” (CB). 
					
					Portanto, o segundo dos três objetivos de SP 
					é: “garantir e assegurar realmente a quantos o pedem o 
					uso da forma extraordinária, supondo que o uso da Liturgia 
					Romana vigente em 1962 é uma faculdade concedida para o bem 
					dos fiéis e que, por conseguinte, deve ser interpretada 
					em sentido favorável aos fiéis, que são os seus principais 
					destinatários.” (UE art.8b). 
					
					(Observação: O texto original em latim do 
					acima citado usa termos de maior intensidade: "Increscentibus
					magis magisque in dies fidelibus expostulantibus 
					celebrationem formae extraordinariae...”. Na tradução 
					portuguesa ficou completamente omisso o crescimento do 
					número dos fiéis “de dia a dia” e que não 
					somente pedem, mas “solicitam intensamente” a 
					celebração na forma extraordinária...) 
					
					Assim, p. ex., de julho de 2007 até agosto de 
					2009, o número de lugares de celebração da Missa antiga, na 
					região de língua alemã, aumentou de 35 a 198 lugares; isso 
					corresponde a um aumento de 470%! Depois o aumentou diminuiu 
					devido a dificuldades, que as pessoas aderentes à Missa 
					antiga, encontram; e também por que muitos fiéis ignoram 
					completamente a doutrina da Igreja a respeito da santa Missa 
					como Sacrifício e não entendem a antiga Liturgia em latim e 
					o seu espírito. 
					
					O pároco pode conceder a licença para usar o 
					ritual precedente na administração dos sacramentos do 
					Batismo, do Matrimônio, da Confissão e da Unção dos 
					Enfermos, se o requer o bem das almas (art.9,1). 
					  
					‘Coetus fidelium’ 
					– grupo estável de fiéis
					  
					
					A respeito do grupo de fiéis, o Motu proprio 
					determina: 
					
					(Art. 5, § 1º) “Nas 
					paróquias, onde haja um grupo estável de fiéis 
					aderentes à precedente tradição litúrgica, o pároco acolherá 
					de bom grado seu pedido de celebrar a Santa Missa segundo o 
					rito do Missal Romano editado em 1962.” 
					
					Como em seguida da nova legislação de 
					Summorum Pontificum, a má vontade de muitos dos bispos 
					tentou interpretar a expressão “coetus fidelium 
					stabiliter existens”, “grupo estável de fiéis” em 
					desfavor deles, fazendo exigências desconhecidas ao Motu 
					proprio, a Instrução Universae Ecclesiae precisou: Será 
					considerado como ‘grupo’, “quando 
					for constituído por: 
					
					● algumas 
					pessoas de uma determinada 
					paróquia unidas por causa da veneração pela Liturgia em seu 
					Usus Antiquior, 
					
					● seja 
					antes, seja depois da publicação 
					do Motu Proprio, as quais pedem que a mesma seja celebrada 
					na própria igreja paroquial, num oratório ou capela; dito 
					coetus pode ser também constituído por 
					
					● pessoas que vêm 
					de diferentes paróquias ou dioceses e que convergem 
					em uma igreja paroquial ou 
					oratório ou capela destinados a tal fim. 
					
					No caso em que um sacerdote se apresente 
					ocasionalmente com algumas pessoas em uma igreja paroquial 
					ou oratório e queira celebrar na forma extraordinária,... o 
					pároco ou o reitor de uma igreja, ou o sacerdote responsável 
					por uma igreja, o admita a tal celebração... 
					
					(SP) Art.5, § 2º - A celebração segundo o 
					Missal do beato João XXIII pode ocorrer em dia ferial; nos 
					domingos e nas festividades pode haver também uma celebração 
					desse tipo”. 
					  
					O procedimento 
					para se pedir a celebração da Missa antiga
					  
					
					Art. 7 – Se um grupo de fiéis leigos... 
					não tenha obtido satisfação a suas petições por parte do 
					pároco, informe ao bispo diocesano. Convida-se vivamente ao 
					bispo a satisfazer seu desejo. Se não pode prover a esta 
					celebração, o assunto se remeta à Pontifícia Comissão 
					“Ecclesia Dei”. 
					
					  
					
					A Instrução UE (n.9 e n.10 §1.) especifica as 
					tarefas da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: 
					
					“O Sumo Pontífice conferiu à Pontifícia 
					Comissão Ecclesia Dei poder ordinário vicário para a matéria 
					de sua competência, de modo particular no que tocante à 
					exata obediência e à vigilância na aplicação das disposições 
					do Motu Próprio
					
					
					Summorum Pontificum (cf. art. 12). 
					
					A Pontifícia Comissão Ecclesia Dei exerce 
					tal poder,... na qualidade de Superior hierárquico, 
					mesmo contra uma eventual medida administrativa singular do 
					Ordinário que pareça contrário ao Motu Proprio.” 
					
					Tal determinação se dirige contra a 
					desobediência dos bispos que, agora, podem ser obrigados por 
					força de lei a aceitar a Missa antiga nas suas dioceses. 
					 
					Na Missa 
					tradicional pode haver coroinhas femininos e comunhão na 
					mão?
					  
					
					A Instrução traz um detalhe novo e 
					interessante (n. 28): ”... o Motu 
					Proprio
					
					
					Summorum Pontificum derroga os textos 
					legislativos inerentes aos sagrados Ritos promulgados a 
					partir de 1962 e incompatíveis com as rubricas dos livros 
					litúrgicos em vigor em 1962.” 
					
					Isso significa que inovações litúrgicas após 
					o ano de 1962 não se aplicam na celebração da forma 
					extraordinária da santa Missa. 
					
					Dois exemplos: Em 1969, Paulo VI introduziu a 
					possibilidade de receber a santa Comunhão na mão; em 1994, 
					João Paulo II permitiu a meninas servir de acólitos na 
					Missa. Ambas as determinações, feitas depois de 1962, se 
					aplicam tão somente à Missa nova, mas são proibidas na Missa 
					antiga. 
					  
					Reconciliação ao 
					interno da Igreja
					  
					
					Como terceiro objetivo, o ‘Motu proprio’ se 
					propõe “favorecer a reconciliação ao interno da Igreja” 
					(UE 8). “Todos sabemos que, no movimento guiado pelo 
					Arcebispo Lefebvre, a fidelidade ao Missal antigo apareceu 
					como um sinal distintivo externo; mas as razões da divisão, 
					que então nascia, encontravam-se a maior profundidade.” 
					
					Quem era o Arcebispo Levebvre? Na mídia, ele 
					e os sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, por ele 
					fundada, são apresentados como pessoas curiosas, 
					retrovertidas, fundamentalistas, antisemitas e fascistas. 
					
					Marcel Levebvre nasceu na França, em 1905. 
					Foi ordenado sacerdote em 1929, e desde 1932 trabalhou como 
					missionário em Gabão, na África.  Pio XII nomeou-o Vigário 
					Apostólico de Dakar e depois Delegado Apostólico para toda a 
					África de língua francesa. Ele organizava a Igreja em 18 
					paises africanos, construía igrejas, escolas, hospitais e 
					seminários. Em 1962 voltou para a Europa e tornou-se 
					Superior geral da Congregação dos “Padres do Espírito Santo” 
					à qual ele pertencia. Participou ativamente no Concílio 
					Vaticano II. Fundou, em 1970, um seminário em Ecône, na 
					Suíça, e também a Fraternidade Sacerdotal Internacional da 
					São Pio X, erigida canonicamente  pelo Bispo diocesano de 
					Friburgo na Suíça. Em 2004, a Fraternidade contava com 450 
					sacerdotes, e com priorados em 31 paises em todos os 
					continentes. 
					
					Os ‘Levebvrianos’, como logo foram chamados, 
					acusam a Igreja Católica Romana ter destruído a Tradição 
					(que é um fundamento constitucional na transmissão autêntica 
					e integral do depósito da Fé), através do Concílio e da 
					Reforma litúrgica pós-conciliar. Em 1975, a Santa Sé 
					cancelou a legitimação canônica da Fraternidade e proíbe ao 
					Arcebispo Dom Levebvre a ordenação dos sacerdotes dos 
					seminários dele. No ano seguinte, Paulo VI o suspende ‘a 
					divinis’. Quando em 1988, Dom Levebvre, para assegurar a 
					continuidade da Fraternidade, consagra quatro novos bispos, 
					João Paulo II (liberal, tolerante e ‘humano’ com todo o 
					mundo, menos com eles) decreta a Dom Levebvre e também aos 
					novos bispos a pena canônica máxima da Excomunhão. 
					
					Num discurso público, em 1977, Dom Levebvre 
					levantou a questão: “Se pode 
					imaginar a Igreja Católica somente como continuidade, como 
					tradição, como herdeira do passado. É impossível compreender 
					uma Igreja que rompe com o passado e a sua tradição. Por 
					razão dessa impossibilidade, exatamente, é que estou me 
					encontrando numa situação um tanto curiosa: na situação de 
					um bispo que foi suspenso de ordens, porque erigiu, legal e 
					canonicamente, um seminário na Suíça, um seminário que 
					recebe muitas vocações. Nos oito anos desde a fundação, 
					conseguimos numerosas casas nos Estados Unidos, no Canadá, 
					na Inglaterra, na França, na Suíça, na Alemanha, na Itália. 
					
					Como é possível – pergunto eu – 
					continuando a fazer o que fiz durante 50 anos da minha vida, 
					com os parabéns e o encorajamento do Papa, especialmente do 
					Papa Pio XII que me dignou da sua amizade (pessoal), e que 
					hoje em dia me encontre numa situação, na qual estou 
					considerado como que um inimigo da Igreja? Como isso é 
					possível? Como compreender isso? 
					
					Eu tive ocasião de dizer isso ao Papa 
					(Paulo VI)... Disse-lhe: Não consigo compreender qual é a 
					razão de que, depois de ter formado seminaristas ao longo de 
					toda a minha vida assim como dou-lhes a formação hoje, antes 
					do Concílio eu possuía, fora do Cardinalato, todas as 
					honras, e agora, ao invés, depois do Concílio, fazendo a 
					mesma coisa, me encontro suspenso ‘a divinis’, como que 
					cismático, como que um inimigo da Igreja e excomungado... Há 
					algo que mudou, na Igreja; algo 
					que os homens da Igreja mudaram, na sua história.” 
					
					Na verdade, o fenômeno de Dom Levebvre 
					excedia muito a pessoa dele, tendo as suas raízes e as suas 
					causas primárias nos problemas gerados pelo Concílio e pela 
					sua execução pós-conciliar. A resistência contra a execução 
					das Reformas conciliares nascia do baixo clero e dos fiéis. 
					O arcebispo francês, Dom Marcel Levebvre, foi o mais 
					conhecido, porém não o único representante de um movimento 
					de resistência largo e ramificado. 
					
					Em 2000, o Cardeal Joseph Ratzinger reclamou 
					a respeito da intolerância generalizada contra a Liturgia 
					antiga: 
					
					“…deve acabar, finalmente, a 
					proscrição da forma litúrgica válida até 1970. 
					Hoje em dia, quem defender a continuidade dessa liturgia, ou 
					quem dela participar, está sendo tratado como um leproso; aí 
					termina toda e qualquer tolerância. Tal comportamento não se 
					encontra em toda a história; com isso, pois, se proscreve 
					também todo passado da Igreja. Se for assim, como 
					confiar-se-ia no presente dela?” 
					
					“Trata-se de chegar a uma reconciliação 
					interna no seio da Igreja. Olhando para o passado, para as 
					divisões que no decurso dos séculos dilaceraram o Corpo de 
					Cristo, tem-se continuamente a impressão de que, em momentos 
					críticos quando a divisão estava a nascer, não fora feito o 
					suficiente por parte dos responsáveis da Igreja para manter 
					ou reconquistar a reconciliação e a unidade; fica-se com a 
					impressão de que as omissões na Igreja tenham a sua parte de 
					culpa no fato de tais divisões se terem podido consolidar. 
					Esta sensação do passado impõe-nos hoje uma obrigação: 
					realizar todos os esforços para que todos aqueles que nutrem 
					verdadeiramente o desejo da unidade tenham possibilidades de 
					permanecer nesta unidade ou de encontrá-la de novo.” 
					(CB). 
					
					Foi essa a intenção do Papa Bento XVI, 
					suspendendo, em janeiro de 2009, a excomunhão com que João 
					Paulo II tinha punido os bispos da Fraternidade; aliás, sem 
					conseguir nada a não ser um distanciamento, um ressentimento 
					e uma desconfiança cada vez maior; a mesma coisa como tantas 
					vezes acontecera no passado da Igreja. 
					
					O Papa quer insistentemente o retorno e a 
					integração canônica da Fraternidade na Igreja. E apela tanto 
					aos bispos da Igreja Católica quanto aos bispos e sacerdotes 
					da Fraternidade: 
					
					“Vem-me à mente uma frase da segunda carta 
					aos Coríntios, quando Paulo escreve: «Falámo-vos com toda a 
					liberdade, ó Coríntios. O nosso coração abriu-se plenamente. 
					Há nele muito lugar para vós, enquanto no vosso não há lugar 
					para nós (…): pagai-nos na mesma moeda, abri também vós 
					largamente o vosso coração» (2 Cor 6, 11-13). É certo que 
					Paulo fala noutro contexto, mas o seu convite pode e deve 
					tocar-nos também a nós, precisamente neste tema. 
					Abramos generosamente o nosso coração e deixemos entrar tudo 
					aquilo a que a própria fé dá espaço.” 
					
					A Fraternidade ainda está deliberando. O 
					renomado liturgista Mons. Nicola Bux apelou à Fraternidade 
					numa carta a Mons. Bernard Fellay, de 19 de março deste ano: 
					
					“Com as palavras de Santa Catarina de Sena 
					podemos dizer-vos:’Voltai seguros para Roma,’ à casa do Pai 
					comum, que nos foi presenteado para princípio sempiterno e 
					visível, e fundamento da unidade católica. Vem para 
					participar desse futuro abençoado, do qual, não obstante da 
					escuridão ainda presente, já se pode entrever a aurora da 
					manhã. 
					
					A vossa rejeição aumentaria o espaço da 
					escuridão e não o da luz. Multiformes são os raios da luz, 
					que desde já estamos admirando, antes de tudo, os indícios 
					de uma grande restauração litúrgica, que está sendo 
					realizado pelo ‘Motu proprio’ Summorum Pontificum, que no 
					mundo inteiro está causando um largo movimento, sobretudo 
					entre as pessoas mais novas que desejam cultivar o Culto do 
					Senhor com um novo fervor... Como não dar valor para o que 
					vós podeis trazer para o bem de toda a Igreja, graças às 
					vossas reservas pastorais e doutrinais, às vossas 
					habilidades e vossa sensibilidade. 
					
					Este é o momento próprio, esta é a hora 
					oportuna de retornar. ‘Timete Dominum transeuntem’. Não 
					deixeis escapar a ocasião da Graça, que o Senhor vos 
					oferece; não deixeis passá-la, não a reconhecendo. Será que 
					o Senhor concederá mais uma? 
					
					Não é que um dia deveremos aparecer nós 
					todos diante do Seu Tribunal e prestar contas, não só do mal 
					cometido, como também de todo o bem que poderíamos ter feito 
					e não fizemos? O coração do Santo Padre está batendo na sua 
					porta: Ele vos está esperando, porque vos ama, porque a 
					Igreja precisa de vós para um testemunho comum da Fé, no 
					meio de um mundo cada vez mais secularizado, que parece 
					querendo virar as costas ao seu Criador e Redentor... 
					
					A Imaculada nos ensina que graças demais 
					se perdem, porque não se as pede. Com certeza, a 
					Fraternidade de São Pio X, dando uma resposta positiva à 
					proposta do Santo Padre, tornar-se-á um instrumento para 
					acender novos raios de luz nas mãos de nossa Mãe celestial.” 
					 
					O significado da 
					Liturgia para a vida da Igreja
					  
					
					O Concílio Vaticano II diz que a Liturgia é o 
					“exercício da função sacerdotal de Cristo”, cujo fim é a 
					“santificação dos homens” e na qual “o Corpo Místico de 
					Jesus Cristo... presta a Deus um culto público integral”. 
					Ela “é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a 
					ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força”, 
					“é o cume de toda a ação da Igreja e a fonte de sua 
					eficácia. Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a 
					já, na Liturgia do Céu, para o qual, como peregrinos nos 
					dirigimos. 
					
					No já mencionado livro de entrevista sobre 
					‘Deus e o Mundo’, o Cardeal Joseph Ratzinger apresentou, 
					sumariamente, a sua visão a respeito da liturgia, que ganha 
					uma eminente importância, visto que ele está agora na Sede 
					de São Pedro. 
					
					A Eucaristia recebe a sua solenidade, a sua 
					dignidade, através de algo todo perfeito e sublime na 
					espiritualidade católica, que é a sua Liturgia. Nela toda a 
					palavra e todo o gesto aparece conter um significado 
					próprio, quase um especial mistério. Como diz a Igreja: É 
					nessa liturgia terrestre que os fiéis, antecipando, assistem 
					já a ‘Liturgia celeste’. 
					
					“Isso é um ponto de vista muito importante. 
					Liturgia jamais seria uma simples assembléia de um grupo só, 
					para fazer a sua própria celebração, celebrando-se a si 
					mesmo.” Em vez disso estamos sempre com Jesus Cristo diante 
					do Pai, tanto na comunhão mundial de toda a Igreja, quanto 
					na ‘communio sanctorum’, na comunhão de todos os Santos. De 
					certa forma é a Liturgia do Céu. 
					
					Isso é o realmente magnífico, que aqui na 
					Liturgia, o Céu se abre e nós inserimo-nos no coro de 
					adoração. Por isso o Prefácio finaliza com as palavras que 
					cantamos a uma só voz junto com os Coros angélicos dos 
					Serafim e Querubim... 
					
					São Basílio falou que a Missa é uma revelação 
					igualmente grande como a Sagrada Escritura. A Liturgia, 
					portanto, não é feita, propriamente, pelo homem. Ela é como 
					algo, no qual o homem pode experimentar como que a Glória 
					divina. A Missa antiga de São Gregório Magno é como que um 
					presente do alto, e, na sua essência, sempre ficou 
					inalterada, apesar de um processo histórico de crescimento. 
					
					É bem diferente, se conservo algo vivo num 
					crescimento orgânico, ao qual devo servir e do que devo 
					respeitar as leis inerentes à vida; ou se o considero como 
					fabricado, que obedece às leis de uma máquina que posso 
					montar e, em uma forma diferente, remontar. Hoje em dia 
					existem tendências muito generalizadas que simplesmente 
					praticam montagem e desmontagem da Liturgia, fazendo assim 
					algo completamente incompatível ao espírito da Liturgia. 
					Pelo contrário, na mentalidade de serviço ao que cresceu 
					organicamente na fé de todos os séculos, deve-se trabalhar, 
					e não na autonomia de quem pensa que saiba fazer as coisas 
					melhor.” 
					 
					“Estou convencido 
					que a crise da Igreja, que presenciamos hoje, depende de 
					grande parte da ruína da liturgia.”
					  
					
					Em 1997, o Cardeal Ratzinger falou estas 
					palavras; já em 1984, ele tinha falado de um “processo 
					progressivo de decadência” das nações cristãs do 
					Ocidente. E o próprio Papa João Paulo II, em 2003, no fim do 
					seu longo pontificado, lamentou a “apostasia silenciosa” 
					da então Europa cristã. Essa apostasia silenciosa penetrou 
					cada vez mais nos elementos humanos da Igreja, sobretudo 
					após a abertura da Igreja para o mundo, programado pelo 
					Concílio Vaticano II. 
					
					Antes do Concílio, o mundo se encontrava num 
					processo acelerado de decadência e desintegração, contra o 
					que os diversos Papas anteriores alertaram e advertiram. 
					Dentro da Igreja, porém, a fé ainda estava forte, a liturgia 
					intacta, as vocações numerosas e as famílias ricas em 
					filhos. Aí o Concílio veio proclamar a grande e essencial 
					“abertura da Igreja para o mundo”. Mudou a direção de 
					referencia do vertical e sobrenatural (de Deus) para o 
					horizontal, o natural e o terrestre (para o Homem no seu 
					mundo de experiência cotidiana). 
					
					Lemos no já citado livro do Mons. Gherardini 
					(pág. 135): 
					
					“... o Vaticano II tinha interesse não na 
					discussão, nem no aprofundamento da verdade revelada e já 
					definida..., mas na proclamação de algo absolutamente 
					novo... A novidade proposta... era o homem, sua dignidade, a 
					unidade do gênero humano. ...a tal finalidade era submetida 
					até mesmo a Palavra de Deus, que não repetia mais o bem 
					conhecido ’convertei-vos e crede no Evangelho’..., mas 
					‘tomem consciência da sua grandeza e empenhem-se na paz 
					universal’.” 
					
					Por ocasião da ‘conquista da lua’, em 1969, o 
					Papa Paulo VI exclamou, nessa empresa se nos revela o homem 
					“como um gigante, se nos revela como divino, não em si, mas 
					na sua origem e no seu destino. Honra ao homem, 
					honra à sua dignidade, ao seu espírito, à sua vida!”. 
					
					Paulo VI se sentiu em direito de cantar um 
					hino ao ‘novo humanismo’ e de confessar ao mundo: “também 
					nós – e nós mais do que ninguém somos cultores do homem”. (A 
					Igreja, os cristãos não são ‘cultores’ de Deus no 
					mundo, da Santíssima Trindade, de nosso divino Redentor 
					Jesus Cristo?) 
					
					Em espantosamente poucos anos, após a 
					introdução dessa nova orientação 
					teológico-litúrgico-pastoral os efeitos indicaram um 
					desastre geral de toda a Igreja: Na França, a participação 
					na Missa dominical tinha diminuído por 43%; na Holanda por 
					50%; na Alemanha por 62%. E em somente sete anos após a 
					introdução da Missa Nova, o número dos sacerdotes no mundo 
					inteiro se tinha reduzido de 413.438 a 243.307. As vocações 
					diminuíram drasticamente. (Na Arquidiocese de 
					Munique-Frisinga, na Alemanha, em 1951, foram ordinados 38 
					sacerdotes, entre eles o Dr. Joseph Ratzinger; em 1969, 
					foram 15; em 1973 foram 4; em 1981 foram 5 etc.) 
					
					Em 1965, tinha 329.799 religiosos, no mundo 
					inteiro, que foram reduzindo-se por uma terceira parte a um 
					número de 214.913, em 2005. 
					
					De 1939 a 1963, 563 sacerdotes pediam 
					dispensa do celibato; de 1963 a 1970, foram 3335 padres que 
					‘entregaram a batina’. A esse respeito um teólogo disse: 
					“Pela primeira vez, na história, se viu dentro de poucos 
					anos, o abandono do sacerdócio por parte de milhares de 
					padres”. 
					
					Quinze anos depois do Concílio e no segundo 
					ano do pontificado de João Paulo II, o Papa pediu perdão 
					pela perda repentina e dramática a fé e do respeito pela 
					Eucaristia: “Peço ao Senhor Jesus que, futuramente, no nosso 
					comportamento para com esse mistério sagrado, consigamos 
					evitar tudo quanto, de modo qualquer, possa diminuir ou 
					confundir junto aos nossos fieis o sentimento de respeito e 
					de amor”. 
					
					Hoje em dia, a grande maioria do povo cristão 
					não acredita mais na presença real de Cristo na Santíssima 
					Eucaristia. Recebe-se o Corpo de Cristo na mão, por 
					ministros leigos não ordenados e se trata a Santa Comunhão 
					como pão comum. Os efeitos da ruína da liturgia atingiram 
					todos os níveis: Poucos dias antes da sua elevação ao Trono 
					de São Pedro, o Cardeal Ratzinger tinha dito: “Quanta 
					sujeira existe na Igreja e, exatamente, também entre aqueles 
					que, pelo sacerdócio, deviam pertencer totalmente a Ele!” 
					
					Essa sujeira referia-se ao número incrível de 
					escândalos morais. Crimes indizíveis de sacerdotes, que no 
					mundo inteiro vieram à tona, foram a colheita de décadas de 
					‘renovação conciliar’ nos seminários. (O fiel católico se 
					vendo envergonhado de tal clero e episcopado, e vendo os 
					frutos do Concílio, das reformas, da liturgia nova, 
					encontra, portanto, um refúgio de segurança na fé, de paz e 
					de alegria de ser católico, na liturgia tradicional, não 
					tocada pelo modernismo. – Tem uma publicação recente com até 
					o título: “Como assistir a Missa Nova e não perder a fé”). 
					
					“A mensagem do Concílio Vaticano II foi 
					percebido, sobretudo, pela reforma litúrgica”, disse João 
					Paulo II. 
					
					E remata Paulo VI (+ 1978): “Se acreditava, 
					depois do Concílio teria chegado um dia ensolarado para a 
					história da Igreja, Chegou, porém, um dia nublado, um dia de 
					tempestade, de escuridão, de procura e de insegurança.” 
					
					“Não foi um inimigo” – escreveu, naquele 
					tempo, um bispo americano a Paulo VI – “que conseguiu 
					tamanhas devastações, mas as fizeram os próprios filhos da 
					Igreja”. 
					
					Em 2002, o Cardeal Ratzinger escreveu que o 
					resultado da Reforma litúrgica “na sua plena realização não 
					deu vida nova, mas foi uma devastação”, que teve como 
					conseqüência a atual crise da Igreja... 
					  
					A secularização da 
					Liturgia
					  
					
					A dupla finalidade da Sagrada Liturgia é 
					
					●
					o culto público de Deus uno e 
					trino; 
					
					●
					e a santificação dos fiéis. 
					
					É evidente que a ‘santificação dos fiéis’ é 
					obtida pelo ‘culto público de Deus e em harmonia com ele, 
					por conseguinte, não separadamente, não competitivamente, 
					não em autonomia e não univocamente, identificando um com o 
					outro. No entanto, tal harmonia foi diminuída quando a 
					reforma litúrgica inseriu a perspectiva antropocêntrica, em 
					função do homem; e é centro de referência seria menos Deus e 
					mais o homem. (Para falar com São João Batista, no sentido 
					mudado: Ele, Deus, deve diminuir, eu, ‘o Homem’, deve 
					crescer). 
					
					A substituição do latim pela língua 
					vernácula, pretendeu privilegiar o homem, não mais 
					elevando-o mediante o sagrado rito ao nível do divino, mas 
					rebaixando os ritos ao nível do homem, de sua condição 
					historicamente delimitada, e pautando-o segundo um mutável 
					padrão de uma cultura média, a qual, aliás, é destinada a 
					permanecer sempre a cultura do momento, que exige constante 
					atualização. 
					
					A questão da supressão do latim foi uma 
					grande perda, não devida ao Vaticano II que havia disposto 
					exatamente o contrário, mas a sua prejudicial abertura a 
					tudo aquilo que fosse – ou parecesse – uma exigência do 
					homem. 
					
					O povo pode até não entender nem o som, nem o 
					sentido das palavras; ele, porém, diante da ação sagrada, e 
					envolvido espiritualmente por ela – escreveu Romano Guardini 
					– contempla e adora. 
					
					Um dos absurdos antilitúrgicos realizados em 
					nome do Vaticano II foi aquela do altar voltado para o povo. 
					Cometeu-se um gravíssimo erro de avaliação e de 
					interpretação do conceito litúrgico de altar. Ele foi 
					cometido em obséquio ao exagerado culto ao homem, e em favor 
					dos princípios da comunicação social, em desprezo das razões 
					teológicas que colocavam o celebrante de frente para Deus em 
					atitude de adoração, de agradecimento e de súplica diante do 
					Senhor. 
					
					Em 1993, a Congregação do Culto Divino da 
					Santa Sé declarou explicitamente que a expressão “celebrar 
					voltado para o povo”, não tem nenhum sentido teológico. 
					
					  
					
					Resume Mons. Brunero Gherardini – de que este 
					capítulo é uma transcrição (págs. 139s; 143s; 70): “O 
					novo rito da santa Missa colocava à surdina a natureza 
					sacrifical, tornava-a funcional ao reunir-se o Povo de 
					Deus em assembléia e reduzia o celebrante à função de 
					presidente da própria assembléia. Toda a vida paroquial era 
					planejada para uma experiência de comuns interesses 
					humanitários e a assembléia eucarística ganhava o 
					sentido de um simples encontro convivial”. 
					  
					As cinco chagas no 
					corpo litúrgico da Igreja
					  
					
					Numa palestra, proferida no mês de janeiro 
					passado, em Paris, o Bispo Athanasius Schneider indicou 
					cinco aspectos concretos na maneira de uma moda que não 
					presta, como hoje em dia se celebra a santa Missa na ‘forma 
					ordinária’ (Missa Nova), que constituem uma verdadeira 
					ruptura com a constante praxe litúrgica de mais de mil anos 
					da Igreja. 
					
					“Se trata de cinco chagas, porque 
					constituem uma ruptura gigantesca com o passado, 
					justamente porque expressam menos o caráter sacrifical da 
					santa Missa que é central e essencial, e reforçam o 
					caráter de ceia; diminuem os sinais exteriores de adoração 
					divina, do caráter de mistério, do celestial e do eterno.” 
					
					  
					
					Farei referência a três dessas ‘cinco 
					chagas’, ao altar virado para o povo, de que já falamos, à 
					comunhão recebida de pé e na mão, e à abolição total do uso 
					do latim. Continua, pois, dizendo o Bispo A. Schneider: 
					
					“A mais significativa chaga é a celebração 
					do sacrifício da Missa, celebrando o sacerdote com o rosto 
					virado para o povo, e até durante a Oração eucarística e a 
					Consagração que é o momento mais sagrado e sublime da 
					adoração divina. Tal forma exterior corresponde mais a uma 
					atitude de palestra, de aula, e de ceia. É uma forma de um 
					círculo fechado em si. Essa forma não corresponde à natureza 
					do momento de oração e ainda menos de adoração. O Concílio 
					Vaticano II nem de longe queria tal forma, e os Papas 
					pós-conciliares nunca a recomendaram doutrinalmente. No 
					prefácio do primeiro volume das suas ‘Obras Completas’, o 
					Papa Bento XVI escreveu: ‘A idéia que sacerdote e povo ficam 
					de frente olhando-se mutuamente... é completamente alheia à 
					Cristandade antiga. É claro que sacerdote e povo não oravam 
					um para o outro, mas para o único Senhor. Por isso, orando, 
					olham todos na mesma direção: ou para o oriente como símbolo 
					cósmico para o Senhor que está por vir ou, onde não era 
					possível, para uma representação pintada de Cristo na 
					apside, ou um Crucifixo, ou simplesmente juntos para cima.’ 
					
					A forma de celebração na qual todos olham 
					na mesma direção (conversi ad orientem, ad Crucem, ad 
					Dominum) está indicada até nas rubricas da Missa Nova (cf. 
					Ordo Missae, n. 25, n. 133, n.134). 
					
					A segunda chaga é a Comunhão na mão. Essa 
					forma de receber a Santa Comunhão não foi mencionada com 
					palavra alguma pelos Padres do Concílio. Em desobediência à 
					Santa Sé, alguns bispos a introduziram, apesar de uma 
					votação negativa de uma maioria do episcopado mundial, em 
					1968. Pressionado, o Papa Paulo VI a legitimou 
					posteriormente sob certas condições. 
					
					Desde 2008, o Papa Bento XVI dá a Santa 
					Comunhão exclusivamente no modo em que os fiéis a recebem da 
					sua mão, de joelhos e na boca, e isso não só em Roma como 
					também em todas as Igrejas locais que ele visita.  Com isso 
					o Santo Padre está dando um exemplo claro do Magistério 
					litúrgico prático. 
					
					... A quarta chaga é o desaparecimento 
					total da língua latina em praticamente todas as celebrações 
					da Missa na ‘forma ordinária’ em todo o orbe católico. É uma 
					contradição direta às resoluções do Concílio Vaticano II”. 
					
					  
					
					Com o ‘Motu proprio’ Summorum Pontificum o 
					Papa Bento XVI determinou que as duas formas do Rito romano 
					devem ser respeitadas e tratadas com a mesma honra, porque a 
					Igreja antes e depois do Concílio é a mesma. 
					
					A situação de uma ruptura tão evidente numa 
					manifestação muito importante na vida da Igreja, clama por 
					uma cura. Uma nova evangelização precisa primeiro de um 
					processo sério de conversão de dentro da Igreja. Falta 
					também liturgicamente a necessária ‘conversio ad Dominum’. 
					Porque durante a Liturgia se trata o Cristo eucarístico de 
					tal modo como se não fosse Deus; não se Lhe oferece claros 
					sinais exteriores de adoração que é devida a Deus; os fiéis 
					recebem a santa Comunhão sem se ajoelhar, e até a tratam 
					como alimento comum, pegando-a com os dedos e colocando-a a 
					si mesmo na boca. 
					
					Condições necessárias para uma nova 
					evangelização que dá fruto, seria o seguinte testemunho da 
					Igreja inteira no nível do culto público e litúrgico: No 
					mundo inteiro, também na Missa Nova, a celebração ‘versus 
					Deum’ e a Comunhão de joelhos e na boca. 
					
					E o Bispo conclui: “Ninguém consegue 
					evangelizar, se antes não adora, até, se não adora 
					continuamente, dando uma preferência verdadeira a Deus, ao 
					Cristo eucarístico no modo da celebração e na sua vida toda. 
					De fato, para falar com o Cardeal Joseph Ratzinger: ‘Na 
					maneira de como se trata a Liturgia, decide-se a sorte 
					da Fé e da Igreja.’ ” 
					  
					A reforma da 
					Reforma
					  
					
					Para entender bem as intenções do Papa, 
					devemos recorrer ao que ele disse, faz anos, como Cardeal. 
					Aí citamos novamente daquela entrevista do ano 2000: 
					
					“A ‘reforma da Reforma’ será, antes de 
					tudo, um processo educativo que dá um pára ao pisar à 
					Liturgia, com idéias pessoais inventadas. Para a reta 
					formação de consciência em questões litúrgicas também é 
					importante que, deve finalmente acabar a proscrição da forma 
					de Liturgia, válida até 1970... 
					
					Quando virá essa reforma litúrgica? Tudo 
					dependerá de um impulso de pessoas de uma fé viva e de uma 
					verdadeira consciência litúrgica. Dependerá da existência de 
					lugares exemplares, onde se celebra a Sagrada Liturgia 
					realmente de modo adequado e onde se pode receber uma 
					experiência viva do que Liturgia de verdade é. 
					
					E se a partir daí, vindo de dentro, se 
					formar um tipo de movimento que não é simplesmente imposto 
					de cima, então acontecerá. E acredito que em relação a isso, 
					na nova geração já existe um desabrochar neste sentido.” 
					
					“Uma nova Liturgia Divina, para o futuro 
					do povo fiel e da Igreja, exige de nos uma atitude de 
					receber novamente as formas dadas e presenteadas; e exige de 
					penetrar nelas interior e atentamente. É maravilhoso 
					aprender aos poucos como cresceram os costumes litúrgicos, 
					compreender as estruturas do Ano Litúrgico, do Missal 
					Romano, e muito mais. Se trata de penetrar verdadeiramente 
					nessa riqueza de que se formou e cresceu, e assim justamente 
					também penetrar na magnificência que nela se nos oferece 
					como presente de Deus. 
					
					Precisamos, pois, aprender de novo o 
					espírito da escuta – ‘escuta, meu filho’ – diz São Bento. 
					Devemo-nos entender menos como produtores de algo e mais 
					como receptores.” 
					 
					
					“Chegou o tempo para nós de trabalhar”
					  
					
					A seguinte carta do Cardeal Ranjith mostra o 
					rumo da Igreja neste pontificado do Papa Bento XVI: 
					  
					
					
					 Carta do Cardeal 
					
					Alberto Malcolm Ranjith 
					à Federação Internacional 
					UNA VOCE, 
					para a conservação da tradição litúrgica num congresso em 
					Roma, em Novembro de 2011 
					
					  
					
					“Sobretudo quero lhes expressar a minha 
					gratidão para o seu fervor e entusiasmo com que propagam o 
					interesse na restauração da verdadeira Tradição 
					litúrgica da Igreja. A Liturgia pois, aprofunda a fé e 
					impulsiona para sua aplicação heróica na vida. A Liturgia é 
					um meio pelo qual as pessoas são elevadas à altura da 
					transcendência e do eterno. E aí se realiza o encontro entre 
					Deus e o homem. 
					
					Por causa disso, a Liturgia jamais pode ser 
					algo criado pelo próprio homem: quando celebramos 
					Liturgia como nós queremos, dando nós mesmos as 
					regras para ela, então corremos o perigo de novamente fazer 
					o Bezerro de Ouro de Aarão. 
					
					Devemos sempre de novo dizer que a Liturgia é 
					a participação naquilo que o próprio Deus faz. Caso 
					contrário corremos perigo de cometer idolatria! A linguagem 
					simbólica da Liturgia nos ajuda a nos elevar acima do humano 
					até ao divino. 
					
					É a minha firme convicção, que, em relação a 
					isso a Ordem Antiga (= Missa “tradicional”) representa em 
					grande medida e de modo excelente o chamado misterioso e 
					transcendente de um encontro litúrgico com Deus. 
					
					Portanto, chegou o tempo de não 
					somente renovar o conteúdo da liturgia reformada, através de 
					mudanças radicais, mas também, de cada vez mais encorajar a
					retornar à Ordem Antiga que é um 
					caminho para uma renovação verdadeira da Igreja, 
					que os padres do Concílio Vaticano II desejaram. 
					
					A leitura cuidadosa da Constituição Conciliar 
					sobre a Sagrada Liturgia mostra que jamais corresponderam à 
					vontade dos padres conciliares as mudanças precipitadas 
					que depois (do Concílio) foram introduzidas na Liturgia. 
					
					Por isso chegou o tempo para nós de 
					trabalhar corajosamente para uma reforma verdadeira da 
					Reforma e também para um retorno para a verdadeira 
					Liturgia da Igreja que se desenvolveu de modo 
					contínuo na sua história de 2000 anos. 
					
					Eu espero e penso que isso aconteça. 
					
					Que Deus lhes recompense os seus esforços com 
					sucesso.” 
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