Santa Missa
segundo o Rito Gregoriano (“Missa Tridentina”)
(Pe. Franz Hörl)
ENSAIO SOBRE OS ASPECTOS PRINCIPAIS DO
“MOTU PROPRIO” SUMMORUM PONTIFICUM E O SEU
SIGNIFICADO PARA A VIDA DA IGREJA NA SUA SITUAÇÃO ATUAL DE
CRISE GENERALIZADA
(Observação: Destaques de palavras em negrito ou
sublinhado em citações são meus próprios, não dos autores
citados).
Introdução: os
três documentos de base
“O Santo Padre quer que a forma
tradicional da santa Missa se torne elemento regular
da vida litúrgica da Igreja. Todos os fiéis – tanto
jovens quanto idosos – familiarizem-se com os ritos
antigos, a fim de tirarem proveito da beleza e da
transcendência sensíveis deles. – O Papa deseja isso por
razões pastorais e teológicas.”
Em junho de 2008, o Cardeal Dário
Castrillon-Hoyos, então Presidente da Pontifícia Comissão
“Ecclesia Dei” (que trata, especificamente, da questão da
liturgia antiga), interpretou com estas palavras, como
que um porta-voz do Papa, a intenção de Bento XVI quanto à
Carta apostólica “Motu proprio” SUMMORUM PONTIFICUM
(citada através da sigla SP), com a data de 7 de julho de
2007.
O termo “Motu proprio”, em latim, quer dizer,
por um impulso pessoal, e é usado para um decreto
pessoal do Papa, como sumo legislador de toda a Igreja,
para estabelecer uma nova lei. As primeiras duas
palavras do documento em latim dão-lhe o nome individual.
Começa, portanto, a Carta apostólica com esta
frase: “SUMMORUM PONTIFICUM cura ad
hoc tempus usque semper fuit, ut Christi Ecclesia Divinae
Maiestati cultum dignum offerret, ‘ad laudem et gloriam
nominis Sui’ et ‘ad utilitatem totius Ecclesiae Suae sanctae’.”
- “Os sumos pontífices até nossos dias se preocuparam
constantemente para que a Igreja de Cristo oferecesse à
Divina Majestade um culto digno de ‘louvor e glória de Seu
nome’ e ‘do bem de toda sua Santa Igreja’”.
O segundo documento é uma “CARTA DO SANTO
PADRE BENTO XVI AOS BISPOS QUE ACOMPANHA O “MOTU PROPRIO”
SUMMORUM PONTIFICUM SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA ANTERIOR
À REFORMA REALIZADA EM 1970” (citada adiante como CB). Nela
o Papa explica aos Bispos as razões da nova lei, e argumenta
contra possíveis objeções.
Para dar maior precisão ao dito “Motu proprio”,
aos 30 de abril de 2011, por ordem e com aprovação do Papa,
o Cardeal William Levada, na sua qualidade de novo e atual
Presidente da Pontifícia Comissão “Ecclesia Dei” (também
e ao mesmo tempo como Presidente da Congregação para a
Doutrina da Fé), publicou a Instrução UNIVERSAE
ECCLESIAE (citada como UE).
Um “tesouro
precioso” – uma “lei universal”
“A Carta Apostólica Summorum Pontificum
Motu proprio do Soberano Pontífice Bento XVI [...] fez mais
acessível à Igreja universal a riqueza da Liturgia Romana.
Com o sobredito Motu proprio o Sumo Pontífice Bento XVI
promulgou uma lei universal para a Igreja com a intenção de
dar uma nova regulamentação acerca
do uso da Liturgia Romana em vigor
no ano de 1962.”
Essa constatação introdutória da Instrução
Universae Ecclesiae realça logo dois aspectos
fundamentais da iniciativa do Papa:
● Primeiro
fala-se de uma “riqueza da Liturgia Romana”,
● e
depois de uma “lei universal” para toda a Igreja.
O artigo 8 dela especifica: O Motu Proprio se
propõe como objetivo: “Liturgiam Romanam in Antiquiore
Usu, prout pretiosum thesaurum servandum, omnibus largiri
fidelibus”, o que quer dizer “presentear”
– e não só oferecer, como diz a tradução em português – “a
todos os fiéis a Liturgia Romana segundo o Uso antigo (Usus
Antiquior), considerada como um tesouro precioso a ser
conservado”.
Uma ‘oferta’ seria neutra – eu posso
aceitá-la ou não –, um presente, porém, um presente bom e
bonito, é impossível recusá-lo. Então o Papa deseja
presentear a todos com o tesouro da liturgia antiga,
anterior à reforma do pós-concílio.
Como já em SP art.1, assim também em UE o
artigo 6 afirma: “Pelo seu uso
venerável e antigo a forma extraordinária deve ser
conservada em devida honra.”
Com esse precioso tesouro do uso antigo da
Liturgia Romana, o Papa deseja presentear, expressamente, a
“todos os fiéis” (omnibus fidelibus), e não
somente aos que o pedem.
Não se trata, portanto, de uma lei
particular, ou de um privilégio para certos grupos, mas de
uma lei universal do Magistério do Romano Pontífice para
toda a Igreja!
A Missa de São Pio V, chamada também de Missa
tridentina, ou seja – na linguagem dos documentos – “a
forma tradicional da santa Missa” não pertence a
nenhum grupo ou movimento, mas é patrimônio de toda a
Igreja católica!
Caiu, acima, a expressão ‘forma
extraordinária’. O que se entende com isso? E quais os
significados de outros termos usados nesses documentos?
A ‘forma
extraordinária’ do Rito romano
É um princípio fundamental da liturgia que ‘a
lei de oração da Igreja corresponda à lei da Fé’, LEX ORANDI
– LEX CREDENDI, para:
● garantir
a unidade da Igreja,
● transmitir
a integridade da Fé e
● evitar
os erros de doutrina.
A Liturgia, portanto, é a expressão válida e
significativa daquilo que a Igreja crê, do seu dogma de Fé.
O Missal Romano – o Livro de Missa – é a
expressão da ‘Lei de Oração’ da Igreja católica de rito
latino (Pois existem também outros ritos: dos ritos
orientais, por exemplo, o rito maronita dos Libaneses; da
família do rito bizantino o rito ruteno da Ucraina, o rito
melquita e outros mais).
O Papa Bento XVI introduziu uma nova
terminologia:
“O Missal Romano promulgado por Paulo
VI é a expressão ordinária da ‘Lex orandi’ [...
O] Missal Romano promulgado por São Pio V e novamente
pelo beato João XXIII deve ser considerado como expressão
extraordinária da mesma ‘Lex orandi’ e gozar do respeito
devido por seu uso venerável e antigo. Estas duas expressões
da ‘Lex orandi’ da Igreja [...] são, de fato, dois
usos do único rito romano.”
(SP art.1).
Na Carta aos Bispos o Papa explica isso:
“[... O] Missal publicado por Paulo
VI, [...] obviamente é e permanece a Forma normal – a
Forma ordinária – da Liturgia Eucarística. A última
versão do Missale Romanum, anterior ao Concílio, que foi
publicada sob a autoridade do Papa João XXIII em 1962 e
utilizada durante o Concílio, poderá, por sua vez, ser usada
como Forma extraordinária da Celebração Litúrgica.
Não é apropriado falar destas duas versões do Missal Romano
como se fossem «dois ritos». Trata-se, antes, de um duplo
uso do único e mesmo Rito.”
Para significar a celebração conforme à,
agora assim chamada, ‘forma extraordinária’ do Missal,
também está em uso o termo de celebração segundo o ‘Rito
Gregoriano’, do Papa São Gregório Magno (+ 604), e
também se fala de ‘Liturgia romana clássica’.
A Instrução UE resume: “Trata-se aqui de
dois usos do único Rito Romano, que se põem um ao lado do
outro. Ambas as formas são expressões da mesma lex orandi da
Igreja. Pelo seu uso venerável e antigo a forma
extraordinária deve ser conservada em devida honra.”
(art.6).
Daí o apelo tanto para os Bispos, “que
ofereçam ao clero a possibilidade de obter uma preparação
adequada às celebrações na forma extraordinária, o que vale
também para os Seminários, onde se deve prover à
formação dos futuros sacerdotes [...] a oportunidade de
aprender a forma extraordinária do Rito” (EU
art.21), quanto para todos os fiéis que “se
familiarizem com os ritos antigos” (Card.
Castrillon-Hoyos).
“Faz-nos bem a todos conservar as
riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja,
dando-lhes o justo lugar”, observa
o Santo Padre.
Há uma possível
contradição entre a forma ordinária e extraordinária?
A essa eventual dúvida o Papa responde na
Carta aos Bispos: “Não existe
qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale
Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e
progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações
anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também
para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou
mesmo prejudicial.
... Aliás, as duas Formas do uso do Rito
Romano podem enriquecer-se mutuamente: no Missal antigo
poderão e deverão ser inseridos novos santos e alguns dos
novos prefácios. ... E, na celebração da Missa segundo o
Missal de Paulo VI, poder-se-á manifestar, de maneira mais
intensa do que frequentemente tem acontecido até agora,
aquela sacralidade que atrai muitos para o uso antigo.”
O próprio Papa realça da forma extraordinária
a sua qualidade específica de maior SACRALIDADE que
atrai muitas pessoas; sobretudo também
“porque, em muitos lugares, se celebrava não
se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal,
antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados
à criatividade, o que levou frequentemente a
deformações da Liturgia no limite do suportável. Falo
por experiência, porque também eu vivi aquele período com
todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram
profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da
Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da
Igreja.”
Desordem litúrgica
generalizada
Como acabamos de ver, o Papa sabe por
experiência pessoal das deformações da Liturgia, lamentando
a tamanha anarquia ‘criativa’ que se instalou na celebração
da Missa Nova de Paulo VI.
Recentemente, antes de dar início à
celebração litúrgica pelo Papa, na Praça de São Pedro, em
Roma, em várias línguas se avisou à multidão de gente
presente, que não se fizesse aplausos nem se abanasse
bandeiras, a fim de que se respeite a piedade e o caráter
sagrado da santa Missa.
O Mons. Brunero Gherardini, até 1995
professor na Pontifícia Universidade Lateranense e,
atualmente, cônego da Arquibasílica Vaticana, no seu recente
livro ‘Concílio Ecumênico Vaticano II – Um debate a ser
feito’, observa “a grosseira situação de
desordem litúrgica que está sob os olhos de todos e que cada
dia aumenta”. As principais deformações arbitrárias
da Liturgia, que estão à vista de todos, são:
● manipulação
de textos e substituição deles até
no Cânon e até mesmo na consagração eucarística;
● introdução
de danças e manifestações de
cantos caracterizados pelas palavras estranhas;
● utilização
de músicas sincopadas, mais
adequadas a uma discoteca que a uma celebração
litúrgica;
● concelebrações
imensas feitas sem atenção e
privadas de sentido sagrado, durante as quais gritos e
aplausos tomam o lugar da adoração e do recolhimento;
● a
comunhão eucarística nas mãos e grupos associativos,
em uma dimensão mundial, que reduzem a Missa e
principalmente a comunhão a um verdadeiro piquenique.
O Papa espera da celebração da Missa antiga
um tipo de fecundação também para a celebração da Missa
Nova: uma maior fidelidade às rubricas, isto é, uma maneira
correta de celebrar a Missa conforme às normas litúrgicas.
Mas é mais:
Rumo a uma reforma
da Liturgia ‘Nova’?
Está em vista também uma reforma da própria
Liturgia nova, como o sugerem as palavras do Cardeal Albert
Malcolm Ranjith (o qual goza da confiança pessoal de Bento
XVI e era também, ainda como arcebispo, secretário da
Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos
Sacramentos):
“Portanto, chegou o tempo de não somente
renovar o conteúdo da liturgia reformada, através de
mudanças radicais, mas também, de cada vez mais
encorajar a retornar a Ordem Antiga que é um caminho para
uma renovação verdadeira da Igreja, que os padres do
Concílio Vaticano II desejaram.
A leitura cuidadosa da Constituição
Conciliar sobre a Liturgia Sagrada mostra que jamais
corresponderam à vontade dos padres conciliares às
mudanças precipitadas que depois foram introduzidas na
Liturgia”.
Isso significa bem claramente, que não há
somente abusos a lamentar, mas também que é a própria
Liturgia reformada depois do último Concílio em si, que
deixa a desejar...
A responsabilidade pelo “caos
pós-conciliar no âmbito litúrgico”, continua
dizendo o Mons. Brunero Gherardini, recai sobre aqueles
professores – em vez de serem ‘confessores’ –, que
preferiram uma Liturgia fabricada, como já em
1985 o então Cardeal Ratzinger havia lamentado.
No lugar de uma Liturgia orgânica colocaram a
Liturgia “da teatralidade coletiva,
da liberdade criativa, da comunhão na mão, das canções tolas
e até mesmo semi-heréticas, do ostracismo [=desterro] em
relação à posição ‘versus Domino’, à sacralidade do rito, ao
seu significado latrêutico [=de adorar a Deus], à
funcionalidade insubstituível do [canto] gregoriano, à
solenidade dos gestos e dos paramentos, ao ajoelhar agora
incompatível com o orgulho do altivo estar de pé, de igual
para igual, diante do Senhor do Céu e da Terra.”
Num livro de entrevista sobre ‘Deus e o
Mundo’, publicado no ano de 2000, o Cardeal Ratzinger
explicara: “Precisamos renovar a
nossa consciência litúrgica para fazer desaparecer a tal
mentalidade do fazer, que chegou a tal ponto que
equipes litúrgicas fabricam a sua própria liturgia
para cada domingo. Desse modo, pois, não encontro mais o
transcendente, o Sagrado que se me oferece, mas a idéia e a
criatividade de algumas pessoas. E percebo, não é isso que
estou procurando; é pouco demais e é algo diferente.
O mais importante para nós é que
recuperemos o respeito pela Liturgia e pelo seu caráter
sagrado que está fora de manipulação e de criatividade
subjetiva. Devemos aprender de novo de reconhecê-la como
algo organicamente crescido e doado, algo no que
participamos da Liturgia celeste. Nela não devemos procurar
a nossa auto-realização, mas o dom que nos foi dado. – O
sentido interior pelo sagrado deve novamente despertar.”
Porquê agora o
estranho de DOIS usos do único Rito romano?
Acontece que o Concílio Vaticano II (1963 –
1965) expressou o desejo de que o que diz respeito ao culto
divino se renovasse e se adaptasse às necessidades de nossa
época. O Papa Paulo VI aprovou em 1970 os novos livros
litúrgicos, que depois foram traduzidos às diversas línguas
do mundo.
O Papa Bento XVI explica o que aconteceu: “Na
altura da introdução do novo Missal, não pareceu necessário
emanar normas próprias para um possível uso do Missal
anterior. Supôs-se, provavelmente, que se trataria de poucos
casos individuais que seriam resolvidos um a um na sua
situação concreta. Bem depressa, porém, se constatou que não
poucos continuavam fortemente ligados a este uso do Rito
Romano que, desde a infância, se lhes tornara familiar.”
(CB).
“[...] aderiram e seguem aderindo com
muito amor e afeto às anteriores formas litúrgicas, que
haviam embebido tão profundamente sua cultura e seu espírito
[...]” (SP).
Por isso, o Papa João Paulo II, em 1984,
concedeu como privilégio de usar o Missal anterior, e, em
1988, exortou aos bispos a uma maior generosidade a favor de
todos os fiéis que o solicitassem.
Contudo, o uso anterior era ligado a uma
solicitação expressa dos padres e dos fiéis interessados e
dependia de uma autorização dos bispos, que restringiram tal
permissão ao máximo.
A Missa antiga
nunca foi proibida!
Existia uma dúvida inquietante: Com a
introdução do novo Missal de Paulo VI, em 1970, ficava
proibido ou não, o uso do Missal anterior de João XXIII, de
1962, que foi usado ainda durante o Concílio Vaticano II? A
opinião geral foi esta que o Missal anterior estaria
superado e substituído pelo novo. Mas estaria ‘proibido’
celebrar a Missa antiga depois de 1970?
De fato, com a introdução da Missa Nova,
Paulo VI não fez referência a nenhuma abolição ou proibição
da Missa anterior. Tampouco teria sido possível, porque a
Igreja jamais proibiu um rito tão antigo; e também São Pio
V, em 1570, quando promulgou a primeira edição típica do
Missal tridentino (após o Concílio de Trento, 1545 – 1564),
determinou a validade sempiterna desse Rito e que jamais
poder-se-ia proibir a um sacerdote a celebrar essa Missa.
Não obstante, o próprio Papa João Paulo II
estava com dúvidas. Conta, (em 1995), o Cardeal Alfonso
Maria Stickler: “[O Papa] colocou a
uma comissão de nove cardeais duas perguntas:
Primeiro: o Papa Paulo VI ou qualquer
outra autoridade competente até então, proibiu formalmente a
celebração em geral da Missa tridentina? – Não! O Papa
perguntou então expressamente ao Cardeal Benelli: ‘Paulo VI
proibiu a Missa antiga?’ O Cardeal não respondeu, nem sim,
nem não. Porquê? Não podia bem dizer: sim, ele a proibiu.
Não podia proibir a Missa que era válida desde o princípio e
que era a Missa de milhares de Santos e fiéis. Para ele a
dificuldade era essa: Não podia proibi-la, mas ao mesmo
tempo ele queria a celebração e aceitação da Missa Nova. E
assim só podia dizer: “Eu quero que se reze a Missa Nova.”
Essa foi a resposta dos Cardeais à pergunta. Disseram, o
Santo Padre deseja que todos sigam a Missa Nova. A resposta
dos oito Cardeais, em 1986, foi: Não. A Missa de Pio V nunca
foi proibida. Eu posso dizê-lo. Fui um destes Cardeais; e um
só foi contra...
E a outra pergunta: Algum bispo pode
proibir a algum sacerdote de boa fama a celebração da Missa
tridentina? Os nove Cardeais, unanimemente, declararam que
bispo algum pode proibir a um sacerdote que celebre a Missa
tradicional. Não existe nenhuma proibição oficial, e
acredito que o Papa jamais pronunciará uma proibição
oficial.”
O nosso Papa atual, Bento XVI, finalmente,
tirou a dúvida, esclarecendo:
“Quanto ao uso do Missal de 1962, como Forma extraordinária
da Liturgia da Missa, quero chamar a atenção para o fato de
que este Missal nunca foi juridicamente ab-rogado e,
consequentemente, em princípio, sempre continuou
permitido.”
Pois vale o princípio teológico já
mencionado: “Na história da Liturgia, há crescimento e
progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações
anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também
para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou
mesmo prejudicial.” (CB).
O Motu proprio
SUMMORUM PONTIFICUM libera a celebração da Missa antiga para
sacerdotes e fiéis das restrições de João Paulo II
A Instrução UE (n.7) recapitula:
“faltando uma legislação que regulasse o uso
da Liturgia romana de 1962 era necessária uma nova e
abrangente regulamentação. Esta regulamentação se fazia
mister especialmente porque no momento da introdução do novo
missal não parecia necessário emanar disposições que
regulassem o uso da Liturgia vigente em 1962. Por causa do
aumento de quanto solicitam o uso da forma extraordinária
fez-se necessário dar algumas normas a respeito”.
“[...] é licito celebrar o Sacrifício da
Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgado
pelo beato João XXIII em 1962, que não foi ab-rogado nunca,
como forma extraordinária da Liturgia da Igreja. As
condições para o uso deste missal estabelecidas nos
documentos anteriores “Quattuor abhinc annos” e “Ecclesia
Dei”, serão substituídas como se estabelece a seguir:
Art. 2 – Nas Missas celebradas sem o povo,
todo sacerdote católico de rito latino, tanto secular como
religioso, pode utilizar seja o Missal Romano editado pelo
beato Papa João XXIII em 1962, seja o Missal Romano
promulgado pelo Papa Paulo VI em 1970, em qualquer dia,
exceto o Tríduo Sacro. Para dita celebração seguindo um ou
outro missal, o sacerdote não necessita nenhuma permissão,
nem da Sé Apostólica nem do ordinário
[=bispo diocesano].”
A intenção do Santo Padre é eminentemente
pastoral, segundo à máxima da Igreja: Salus animarum –
suprema lex, ‘a salvação das almas é suprema lei’.
“Logo a seguir ao Concílio Vaticano II
– explica o Papa - podia-se
supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse à
geração mais idosa que tinha crescido com ele, mas
entretanto vê-se claramente que também pessoas jovens
descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por
ela e nela encontram uma forma, que lhes resulta
particularmente apropriada, de encontro com o Mistério da
Santíssima Eucaristia.” (CB).
Portanto, o segundo dos três objetivos de SP
é: “garantir e assegurar realmente a quantos o pedem o
uso da forma extraordinária, supondo que o uso da Liturgia
Romana vigente em 1962 é uma faculdade concedida para o bem
dos fiéis e que, por conseguinte, deve ser interpretada
em sentido favorável aos fiéis, que são os seus principais
destinatários.” (UE art.8b).
(Observação: O texto original em latim do
acima citado usa termos de maior intensidade: "Increscentibus
magis magisque in dies fidelibus expostulantibus
celebrationem formae extraordinariae...”. Na tradução
portuguesa ficou completamente omisso o crescimento do
número dos fiéis “de dia a dia” e que não
somente pedem, mas “solicitam intensamente” a
celebração na forma extraordinária...)
Assim, p. ex., de julho de 2007 até agosto de
2009, o número de lugares de celebração da Missa antiga, na
região de língua alemã, aumentou de 35 a 198 lugares; isso
corresponde a um aumento de 470%! Depois o aumentou diminuiu
devido a dificuldades, que as pessoas aderentes à Missa
antiga, encontram; e também por que muitos fiéis ignoram
completamente a doutrina da Igreja a respeito da santa Missa
como Sacrifício e não entendem a antiga Liturgia em latim e
o seu espírito.
O pároco pode conceder a licença para usar o
ritual precedente na administração dos sacramentos do
Batismo, do Matrimônio, da Confissão e da Unção dos
Enfermos, se o requer o bem das almas (art.9,1).
‘Coetus fidelium’
– grupo estável de fiéis
A respeito do grupo de fiéis, o Motu proprio
determina:
(Art. 5, § 1º) “Nas
paróquias, onde haja um grupo estável de fiéis
aderentes à precedente tradição litúrgica, o pároco acolherá
de bom grado seu pedido de celebrar a Santa Missa segundo o
rito do Missal Romano editado em 1962.”
Como em seguida da nova legislação de
Summorum Pontificum, a má vontade de muitos dos bispos
tentou interpretar a expressão “coetus fidelium
stabiliter existens”, “grupo estável de fiéis” em
desfavor deles, fazendo exigências desconhecidas ao Motu
proprio, a Instrução Universae Ecclesiae precisou: Será
considerado como ‘grupo’, “quando
for constituído por:
● algumas
pessoas de uma determinada
paróquia unidas por causa da veneração pela Liturgia em seu
Usus Antiquior,
● seja
antes, seja depois da publicação
do Motu Proprio, as quais pedem que a mesma seja celebrada
na própria igreja paroquial, num oratório ou capela; dito
coetus pode ser também constituído por
● pessoas que vêm
de diferentes paróquias ou dioceses e que convergem
em uma igreja paroquial ou
oratório ou capela destinados a tal fim.
No caso em que um sacerdote se apresente
ocasionalmente com algumas pessoas em uma igreja paroquial
ou oratório e queira celebrar na forma extraordinária,... o
pároco ou o reitor de uma igreja, ou o sacerdote responsável
por uma igreja, o admita a tal celebração...
(SP) Art.5, § 2º - A celebração segundo o
Missal do beato João XXIII pode ocorrer em dia ferial; nos
domingos e nas festividades pode haver também uma celebração
desse tipo”.
O procedimento
para se pedir a celebração da Missa antiga
Art. 7 – Se um grupo de fiéis leigos...
não tenha obtido satisfação a suas petições por parte do
pároco, informe ao bispo diocesano. Convida-se vivamente ao
bispo a satisfazer seu desejo. Se não pode prover a esta
celebração, o assunto se remeta à Pontifícia Comissão
“Ecclesia Dei”.
A Instrução UE (n.9 e n.10 §1.) especifica as
tarefas da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei:
“O Sumo Pontífice conferiu à Pontifícia
Comissão Ecclesia Dei poder ordinário vicário para a matéria
de sua competência, de modo particular no que tocante à
exata obediência e à vigilância na aplicação das disposições
do Motu Próprio
Summorum Pontificum (cf. art. 12).
A Pontifícia Comissão Ecclesia Dei exerce
tal poder,... na qualidade de Superior hierárquico,
mesmo contra uma eventual medida administrativa singular do
Ordinário que pareça contrário ao Motu Proprio.”
Tal determinação se dirige contra a
desobediência dos bispos que, agora, podem ser obrigados por
força de lei a aceitar a Missa antiga nas suas dioceses.
Na Missa
tradicional pode haver coroinhas femininos e comunhão na
mão?
A Instrução traz um detalhe novo e
interessante (n. 28): ”... o Motu
Proprio
Summorum Pontificum derroga os textos
legislativos inerentes aos sagrados Ritos promulgados a
partir de 1962 e incompatíveis com as rubricas dos livros
litúrgicos em vigor em 1962.”
Isso significa que inovações litúrgicas após
o ano de 1962 não se aplicam na celebração da forma
extraordinária da santa Missa.
Dois exemplos: Em 1969, Paulo VI introduziu a
possibilidade de receber a santa Comunhão na mão; em 1994,
João Paulo II permitiu a meninas servir de acólitos na
Missa. Ambas as determinações, feitas depois de 1962, se
aplicam tão somente à Missa nova, mas são proibidas na Missa
antiga.
Reconciliação ao
interno da Igreja
Como terceiro objetivo, o ‘Motu proprio’ se
propõe “favorecer a reconciliação ao interno da Igreja”
(UE 8). “Todos sabemos que, no movimento guiado pelo
Arcebispo Lefebvre, a fidelidade ao Missal antigo apareceu
como um sinal distintivo externo; mas as razões da divisão,
que então nascia, encontravam-se a maior profundidade.”
Quem era o Arcebispo Levebvre? Na mídia, ele
e os sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, por ele
fundada, são apresentados como pessoas curiosas,
retrovertidas, fundamentalistas, antisemitas e fascistas.
Marcel Levebvre nasceu na França, em 1905.
Foi ordenado sacerdote em 1929, e desde 1932 trabalhou como
missionário em Gabão, na África. Pio XII nomeou-o Vigário
Apostólico de Dakar e depois Delegado Apostólico para toda a
África de língua francesa. Ele organizava a Igreja em 18
paises africanos, construía igrejas, escolas, hospitais e
seminários. Em 1962 voltou para a Europa e tornou-se
Superior geral da Congregação dos “Padres do Espírito Santo”
à qual ele pertencia. Participou ativamente no Concílio
Vaticano II. Fundou, em 1970, um seminário em Ecône, na
Suíça, e também a Fraternidade Sacerdotal Internacional da
São Pio X, erigida canonicamente pelo Bispo diocesano de
Friburgo na Suíça. Em 2004, a Fraternidade contava com 450
sacerdotes, e com priorados em 31 paises em todos os
continentes.
Os ‘Levebvrianos’, como logo foram chamados,
acusam a Igreja Católica Romana ter destruído a Tradição
(que é um fundamento constitucional na transmissão autêntica
e integral do depósito da Fé), através do Concílio e da
Reforma litúrgica pós-conciliar. Em 1975, a Santa Sé
cancelou a legitimação canônica da Fraternidade e proíbe ao
Arcebispo Dom Levebvre a ordenação dos sacerdotes dos
seminários dele. No ano seguinte, Paulo VI o suspende ‘a
divinis’. Quando em 1988, Dom Levebvre, para assegurar a
continuidade da Fraternidade, consagra quatro novos bispos,
João Paulo II (liberal, tolerante e ‘humano’ com todo o
mundo, menos com eles) decreta a Dom Levebvre e também aos
novos bispos a pena canônica máxima da Excomunhão.
Num discurso público, em 1977, Dom Levebvre
levantou a questão: “Se pode
imaginar a Igreja Católica somente como continuidade, como
tradição, como herdeira do passado. É impossível compreender
uma Igreja que rompe com o passado e a sua tradição. Por
razão dessa impossibilidade, exatamente, é que estou me
encontrando numa situação um tanto curiosa: na situação de
um bispo que foi suspenso de ordens, porque erigiu, legal e
canonicamente, um seminário na Suíça, um seminário que
recebe muitas vocações. Nos oito anos desde a fundação,
conseguimos numerosas casas nos Estados Unidos, no Canadá,
na Inglaterra, na França, na Suíça, na Alemanha, na Itália.
Como é possível – pergunto eu –
continuando a fazer o que fiz durante 50 anos da minha vida,
com os parabéns e o encorajamento do Papa, especialmente do
Papa Pio XII que me dignou da sua amizade (pessoal), e que
hoje em dia me encontre numa situação, na qual estou
considerado como que um inimigo da Igreja? Como isso é
possível? Como compreender isso?
Eu tive ocasião de dizer isso ao Papa
(Paulo VI)... Disse-lhe: Não consigo compreender qual é a
razão de que, depois de ter formado seminaristas ao longo de
toda a minha vida assim como dou-lhes a formação hoje, antes
do Concílio eu possuía, fora do Cardinalato, todas as
honras, e agora, ao invés, depois do Concílio, fazendo a
mesma coisa, me encontro suspenso ‘a divinis’, como que
cismático, como que um inimigo da Igreja e excomungado... Há
algo que mudou, na Igreja; algo
que os homens da Igreja mudaram, na sua história.”
Na verdade, o fenômeno de Dom Levebvre
excedia muito a pessoa dele, tendo as suas raízes e as suas
causas primárias nos problemas gerados pelo Concílio e pela
sua execução pós-conciliar. A resistência contra a execução
das Reformas conciliares nascia do baixo clero e dos fiéis.
O arcebispo francês, Dom Marcel Levebvre, foi o mais
conhecido, porém não o único representante de um movimento
de resistência largo e ramificado.
Em 2000, o Cardeal Joseph Ratzinger reclamou
a respeito da intolerância generalizada contra a Liturgia
antiga:
“…deve acabar, finalmente, a
proscrição da forma litúrgica válida até 1970.
Hoje em dia, quem defender a continuidade dessa liturgia, ou
quem dela participar, está sendo tratado como um leproso; aí
termina toda e qualquer tolerância. Tal comportamento não se
encontra em toda a história; com isso, pois, se proscreve
também todo passado da Igreja. Se for assim, como
confiar-se-ia no presente dela?”
“Trata-se de chegar a uma reconciliação
interna no seio da Igreja. Olhando para o passado, para as
divisões que no decurso dos séculos dilaceraram o Corpo de
Cristo, tem-se continuamente a impressão de que, em momentos
críticos quando a divisão estava a nascer, não fora feito o
suficiente por parte dos responsáveis da Igreja para manter
ou reconquistar a reconciliação e a unidade; fica-se com a
impressão de que as omissões na Igreja tenham a sua parte de
culpa no fato de tais divisões se terem podido consolidar.
Esta sensação do passado impõe-nos hoje uma obrigação:
realizar todos os esforços para que todos aqueles que nutrem
verdadeiramente o desejo da unidade tenham possibilidades de
permanecer nesta unidade ou de encontrá-la de novo.”
(CB).
Foi essa a intenção do Papa Bento XVI,
suspendendo, em janeiro de 2009, a excomunhão com que João
Paulo II tinha punido os bispos da Fraternidade; aliás, sem
conseguir nada a não ser um distanciamento, um ressentimento
e uma desconfiança cada vez maior; a mesma coisa como tantas
vezes acontecera no passado da Igreja.
O Papa quer insistentemente o retorno e a
integração canônica da Fraternidade na Igreja. E apela tanto
aos bispos da Igreja Católica quanto aos bispos e sacerdotes
da Fraternidade:
“Vem-me à mente uma frase da segunda carta
aos Coríntios, quando Paulo escreve: «Falámo-vos com toda a
liberdade, ó Coríntios. O nosso coração abriu-se plenamente.
Há nele muito lugar para vós, enquanto no vosso não há lugar
para nós (…): pagai-nos na mesma moeda, abri também vós
largamente o vosso coração» (2 Cor 6, 11-13). É certo que
Paulo fala noutro contexto, mas o seu convite pode e deve
tocar-nos também a nós, precisamente neste tema.
Abramos generosamente o nosso coração e deixemos entrar tudo
aquilo a que a própria fé dá espaço.”
A Fraternidade ainda está deliberando. O
renomado liturgista Mons. Nicola Bux apelou à Fraternidade
numa carta a Mons. Bernard Fellay, de 19 de março deste ano:
“Com as palavras de Santa Catarina de Sena
podemos dizer-vos:’Voltai seguros para Roma,’ à casa do Pai
comum, que nos foi presenteado para princípio sempiterno e
visível, e fundamento da unidade católica. Vem para
participar desse futuro abençoado, do qual, não obstante da
escuridão ainda presente, já se pode entrever a aurora da
manhã.
A vossa rejeição aumentaria o espaço da
escuridão e não o da luz. Multiformes são os raios da luz,
que desde já estamos admirando, antes de tudo, os indícios
de uma grande restauração litúrgica, que está sendo
realizado pelo ‘Motu proprio’ Summorum Pontificum, que no
mundo inteiro está causando um largo movimento, sobretudo
entre as pessoas mais novas que desejam cultivar o Culto do
Senhor com um novo fervor... Como não dar valor para o que
vós podeis trazer para o bem de toda a Igreja, graças às
vossas reservas pastorais e doutrinais, às vossas
habilidades e vossa sensibilidade.
Este é o momento próprio, esta é a hora
oportuna de retornar. ‘Timete Dominum transeuntem’. Não
deixeis escapar a ocasião da Graça, que o Senhor vos
oferece; não deixeis passá-la, não a reconhecendo. Será que
o Senhor concederá mais uma?
Não é que um dia deveremos aparecer nós
todos diante do Seu Tribunal e prestar contas, não só do mal
cometido, como também de todo o bem que poderíamos ter feito
e não fizemos? O coração do Santo Padre está batendo na sua
porta: Ele vos está esperando, porque vos ama, porque a
Igreja precisa de vós para um testemunho comum da Fé, no
meio de um mundo cada vez mais secularizado, que parece
querendo virar as costas ao seu Criador e Redentor...
A Imaculada nos ensina que graças demais
se perdem, porque não se as pede. Com certeza, a
Fraternidade de São Pio X, dando uma resposta positiva à
proposta do Santo Padre, tornar-se-á um instrumento para
acender novos raios de luz nas mãos de nossa Mãe celestial.”
O significado da
Liturgia para a vida da Igreja
O Concílio Vaticano II diz que a Liturgia é o
“exercício da função sacerdotal de Cristo”, cujo fim é a
“santificação dos homens” e na qual “o Corpo Místico de
Jesus Cristo... presta a Deus um culto público integral”.
Ela “é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a
ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força”,
“é o cume de toda a ação da Igreja e a fonte de sua
eficácia. Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a
já, na Liturgia do Céu, para o qual, como peregrinos nos
dirigimos.
No já mencionado livro de entrevista sobre
‘Deus e o Mundo’, o Cardeal Joseph Ratzinger apresentou,
sumariamente, a sua visão a respeito da liturgia, que ganha
uma eminente importância, visto que ele está agora na Sede
de São Pedro.
A Eucaristia recebe a sua solenidade, a sua
dignidade, através de algo todo perfeito e sublime na
espiritualidade católica, que é a sua Liturgia. Nela toda a
palavra e todo o gesto aparece conter um significado
próprio, quase um especial mistério. Como diz a Igreja: É
nessa liturgia terrestre que os fiéis, antecipando, assistem
já a ‘Liturgia celeste’.
“Isso é um ponto de vista muito importante.
Liturgia jamais seria uma simples assembléia de um grupo só,
para fazer a sua própria celebração, celebrando-se a si
mesmo.” Em vez disso estamos sempre com Jesus Cristo diante
do Pai, tanto na comunhão mundial de toda a Igreja, quanto
na ‘communio sanctorum’, na comunhão de todos os Santos. De
certa forma é a Liturgia do Céu.
Isso é o realmente magnífico, que aqui na
Liturgia, o Céu se abre e nós inserimo-nos no coro de
adoração. Por isso o Prefácio finaliza com as palavras que
cantamos a uma só voz junto com os Coros angélicos dos
Serafim e Querubim...
São Basílio falou que a Missa é uma revelação
igualmente grande como a Sagrada Escritura. A Liturgia,
portanto, não é feita, propriamente, pelo homem. Ela é como
algo, no qual o homem pode experimentar como que a Glória
divina. A Missa antiga de São Gregório Magno é como que um
presente do alto, e, na sua essência, sempre ficou
inalterada, apesar de um processo histórico de crescimento.
É bem diferente, se conservo algo vivo num
crescimento orgânico, ao qual devo servir e do que devo
respeitar as leis inerentes à vida; ou se o considero como
fabricado, que obedece às leis de uma máquina que posso
montar e, em uma forma diferente, remontar. Hoje em dia
existem tendências muito generalizadas que simplesmente
praticam montagem e desmontagem da Liturgia, fazendo assim
algo completamente incompatível ao espírito da Liturgia.
Pelo contrário, na mentalidade de serviço ao que cresceu
organicamente na fé de todos os séculos, deve-se trabalhar,
e não na autonomia de quem pensa que saiba fazer as coisas
melhor.”
“Estou convencido
que a crise da Igreja, que presenciamos hoje, depende de
grande parte da ruína da liturgia.”
Em 1997, o Cardeal Ratzinger falou estas
palavras; já em 1984, ele tinha falado de um “processo
progressivo de decadência” das nações cristãs do
Ocidente. E o próprio Papa João Paulo II, em 2003, no fim do
seu longo pontificado, lamentou a “apostasia silenciosa”
da então Europa cristã. Essa apostasia silenciosa penetrou
cada vez mais nos elementos humanos da Igreja, sobretudo
após a abertura da Igreja para o mundo, programado pelo
Concílio Vaticano II.
Antes do Concílio, o mundo se encontrava num
processo acelerado de decadência e desintegração, contra o
que os diversos Papas anteriores alertaram e advertiram.
Dentro da Igreja, porém, a fé ainda estava forte, a liturgia
intacta, as vocações numerosas e as famílias ricas em
filhos. Aí o Concílio veio proclamar a grande e essencial
“abertura da Igreja para o mundo”. Mudou a direção de
referencia do vertical e sobrenatural (de Deus) para o
horizontal, o natural e o terrestre (para o Homem no seu
mundo de experiência cotidiana).
Lemos no já citado livro do Mons. Gherardini
(pág. 135):
“... o Vaticano II tinha interesse não na
discussão, nem no aprofundamento da verdade revelada e já
definida..., mas na proclamação de algo absolutamente
novo... A novidade proposta... era o homem, sua dignidade, a
unidade do gênero humano. ...a tal finalidade era submetida
até mesmo a Palavra de Deus, que não repetia mais o bem
conhecido ’convertei-vos e crede no Evangelho’..., mas
‘tomem consciência da sua grandeza e empenhem-se na paz
universal’.”
Por ocasião da ‘conquista da lua’, em 1969, o
Papa Paulo VI exclamou, nessa empresa se nos revela o homem
“como um gigante, se nos revela como divino, não em si, mas
na sua origem e no seu destino. Honra ao homem,
honra à sua dignidade, ao seu espírito, à sua vida!”.
Paulo VI se sentiu em direito de cantar um
hino ao ‘novo humanismo’ e de confessar ao mundo: “também
nós – e nós mais do que ninguém somos cultores do homem”. (A
Igreja, os cristãos não são ‘cultores’ de Deus no
mundo, da Santíssima Trindade, de nosso divino Redentor
Jesus Cristo?)
Em espantosamente poucos anos, após a
introdução dessa nova orientação
teológico-litúrgico-pastoral os efeitos indicaram um
desastre geral de toda a Igreja: Na França, a participação
na Missa dominical tinha diminuído por 43%; na Holanda por
50%; na Alemanha por 62%. E em somente sete anos após a
introdução da Missa Nova, o número dos sacerdotes no mundo
inteiro se tinha reduzido de 413.438 a 243.307. As vocações
diminuíram drasticamente. (Na Arquidiocese de
Munique-Frisinga, na Alemanha, em 1951, foram ordinados 38
sacerdotes, entre eles o Dr. Joseph Ratzinger; em 1969,
foram 15; em 1973 foram 4; em 1981 foram 5 etc.)
Em 1965, tinha 329.799 religiosos, no mundo
inteiro, que foram reduzindo-se por uma terceira parte a um
número de 214.913, em 2005.
De 1939 a 1963, 563 sacerdotes pediam
dispensa do celibato; de 1963 a 1970, foram 3335 padres que
‘entregaram a batina’. A esse respeito um teólogo disse:
“Pela primeira vez, na história, se viu dentro de poucos
anos, o abandono do sacerdócio por parte de milhares de
padres”.
Quinze anos depois do Concílio e no segundo
ano do pontificado de João Paulo II, o Papa pediu perdão
pela perda repentina e dramática a fé e do respeito pela
Eucaristia: “Peço ao Senhor Jesus que, futuramente, no nosso
comportamento para com esse mistério sagrado, consigamos
evitar tudo quanto, de modo qualquer, possa diminuir ou
confundir junto aos nossos fieis o sentimento de respeito e
de amor”.
Hoje em dia, a grande maioria do povo cristão
não acredita mais na presença real de Cristo na Santíssima
Eucaristia. Recebe-se o Corpo de Cristo na mão, por
ministros leigos não ordenados e se trata a Santa Comunhão
como pão comum. Os efeitos da ruína da liturgia atingiram
todos os níveis: Poucos dias antes da sua elevação ao Trono
de São Pedro, o Cardeal Ratzinger tinha dito: “Quanta
sujeira existe na Igreja e, exatamente, também entre aqueles
que, pelo sacerdócio, deviam pertencer totalmente a Ele!”
Essa sujeira referia-se ao número incrível de
escândalos morais. Crimes indizíveis de sacerdotes, que no
mundo inteiro vieram à tona, foram a colheita de décadas de
‘renovação conciliar’ nos seminários. (O fiel católico se
vendo envergonhado de tal clero e episcopado, e vendo os
frutos do Concílio, das reformas, da liturgia nova,
encontra, portanto, um refúgio de segurança na fé, de paz e
de alegria de ser católico, na liturgia tradicional, não
tocada pelo modernismo. – Tem uma publicação recente com até
o título: “Como assistir a Missa Nova e não perder a fé”).
“A mensagem do Concílio Vaticano II foi
percebido, sobretudo, pela reforma litúrgica”, disse João
Paulo II.
E remata Paulo VI (+ 1978): “Se acreditava,
depois do Concílio teria chegado um dia ensolarado para a
história da Igreja, Chegou, porém, um dia nublado, um dia de
tempestade, de escuridão, de procura e de insegurança.”
“Não foi um inimigo” – escreveu, naquele
tempo, um bispo americano a Paulo VI – “que conseguiu
tamanhas devastações, mas as fizeram os próprios filhos da
Igreja”.
Em 2002, o Cardeal Ratzinger escreveu que o
resultado da Reforma litúrgica “na sua plena realização não
deu vida nova, mas foi uma devastação”, que teve como
conseqüência a atual crise da Igreja...
A secularização da
Liturgia
A dupla finalidade da Sagrada Liturgia é
●
o culto público de Deus uno e
trino;
●
e a santificação dos fiéis.
É evidente que a ‘santificação dos fiéis’ é
obtida pelo ‘culto público de Deus e em harmonia com ele,
por conseguinte, não separadamente, não competitivamente,
não em autonomia e não univocamente, identificando um com o
outro. No entanto, tal harmonia foi diminuída quando a
reforma litúrgica inseriu a perspectiva antropocêntrica, em
função do homem; e é centro de referência seria menos Deus e
mais o homem. (Para falar com São João Batista, no sentido
mudado: Ele, Deus, deve diminuir, eu, ‘o Homem’, deve
crescer).
A substituição do latim pela língua
vernácula, pretendeu privilegiar o homem, não mais
elevando-o mediante o sagrado rito ao nível do divino, mas
rebaixando os ritos ao nível do homem, de sua condição
historicamente delimitada, e pautando-o segundo um mutável
padrão de uma cultura média, a qual, aliás, é destinada a
permanecer sempre a cultura do momento, que exige constante
atualização.
A questão da supressão do latim foi uma
grande perda, não devida ao Vaticano II que havia disposto
exatamente o contrário, mas a sua prejudicial abertura a
tudo aquilo que fosse – ou parecesse – uma exigência do
homem.
O povo pode até não entender nem o som, nem o
sentido das palavras; ele, porém, diante da ação sagrada, e
envolvido espiritualmente por ela – escreveu Romano Guardini
– contempla e adora.
Um dos absurdos antilitúrgicos realizados em
nome do Vaticano II foi aquela do altar voltado para o povo.
Cometeu-se um gravíssimo erro de avaliação e de
interpretação do conceito litúrgico de altar. Ele foi
cometido em obséquio ao exagerado culto ao homem, e em favor
dos princípios da comunicação social, em desprezo das razões
teológicas que colocavam o celebrante de frente para Deus em
atitude de adoração, de agradecimento e de súplica diante do
Senhor.
Em 1993, a Congregação do Culto Divino da
Santa Sé declarou explicitamente que a expressão “celebrar
voltado para o povo”, não tem nenhum sentido teológico.
Resume Mons. Brunero Gherardini – de que este
capítulo é uma transcrição (págs. 139s; 143s; 70): “O
novo rito da santa Missa colocava à surdina a natureza
sacrifical, tornava-a funcional ao reunir-se o Povo de
Deus em assembléia e reduzia o celebrante à função de
presidente da própria assembléia. Toda a vida paroquial era
planejada para uma experiência de comuns interesses
humanitários e a assembléia eucarística ganhava o
sentido de um simples encontro convivial”.
As cinco chagas no
corpo litúrgico da Igreja
Numa palestra, proferida no mês de janeiro
passado, em Paris, o Bispo Athanasius Schneider indicou
cinco aspectos concretos na maneira de uma moda que não
presta, como hoje em dia se celebra a santa Missa na ‘forma
ordinária’ (Missa Nova), que constituem uma verdadeira
ruptura com a constante praxe litúrgica de mais de mil anos
da Igreja.
“Se trata de cinco chagas, porque
constituem uma ruptura gigantesca com o passado,
justamente porque expressam menos o caráter sacrifical da
santa Missa que é central e essencial, e reforçam o
caráter de ceia; diminuem os sinais exteriores de adoração
divina, do caráter de mistério, do celestial e do eterno.”
Farei referência a três dessas ‘cinco
chagas’, ao altar virado para o povo, de que já falamos, à
comunhão recebida de pé e na mão, e à abolição total do uso
do latim. Continua, pois, dizendo o Bispo A. Schneider:
“A mais significativa chaga é a celebração
do sacrifício da Missa, celebrando o sacerdote com o rosto
virado para o povo, e até durante a Oração eucarística e a
Consagração que é o momento mais sagrado e sublime da
adoração divina. Tal forma exterior corresponde mais a uma
atitude de palestra, de aula, e de ceia. É uma forma de um
círculo fechado em si. Essa forma não corresponde à natureza
do momento de oração e ainda menos de adoração. O Concílio
Vaticano II nem de longe queria tal forma, e os Papas
pós-conciliares nunca a recomendaram doutrinalmente. No
prefácio do primeiro volume das suas ‘Obras Completas’, o
Papa Bento XVI escreveu: ‘A idéia que sacerdote e povo ficam
de frente olhando-se mutuamente... é completamente alheia à
Cristandade antiga. É claro que sacerdote e povo não oravam
um para o outro, mas para o único Senhor. Por isso, orando,
olham todos na mesma direção: ou para o oriente como símbolo
cósmico para o Senhor que está por vir ou, onde não era
possível, para uma representação pintada de Cristo na
apside, ou um Crucifixo, ou simplesmente juntos para cima.’
A forma de celebração na qual todos olham
na mesma direção (conversi ad orientem, ad Crucem, ad
Dominum) está indicada até nas rubricas da Missa Nova (cf.
Ordo Missae, n. 25, n. 133, n.134).
A segunda chaga é a Comunhão na mão. Essa
forma de receber a Santa Comunhão não foi mencionada com
palavra alguma pelos Padres do Concílio. Em desobediência à
Santa Sé, alguns bispos a introduziram, apesar de uma
votação negativa de uma maioria do episcopado mundial, em
1968. Pressionado, o Papa Paulo VI a legitimou
posteriormente sob certas condições.
Desde 2008, o Papa Bento XVI dá a Santa
Comunhão exclusivamente no modo em que os fiéis a recebem da
sua mão, de joelhos e na boca, e isso não só em Roma como
também em todas as Igrejas locais que ele visita. Com isso
o Santo Padre está dando um exemplo claro do Magistério
litúrgico prático.
... A quarta chaga é o desaparecimento
total da língua latina em praticamente todas as celebrações
da Missa na ‘forma ordinária’ em todo o orbe católico. É uma
contradição direta às resoluções do Concílio Vaticano II”.
Com o ‘Motu proprio’ Summorum Pontificum o
Papa Bento XVI determinou que as duas formas do Rito romano
devem ser respeitadas e tratadas com a mesma honra, porque a
Igreja antes e depois do Concílio é a mesma.
A situação de uma ruptura tão evidente numa
manifestação muito importante na vida da Igreja, clama por
uma cura. Uma nova evangelização precisa primeiro de um
processo sério de conversão de dentro da Igreja. Falta
também liturgicamente a necessária ‘conversio ad Dominum’.
Porque durante a Liturgia se trata o Cristo eucarístico de
tal modo como se não fosse Deus; não se Lhe oferece claros
sinais exteriores de adoração que é devida a Deus; os fiéis
recebem a santa Comunhão sem se ajoelhar, e até a tratam
como alimento comum, pegando-a com os dedos e colocando-a a
si mesmo na boca.
Condições necessárias para uma nova
evangelização que dá fruto, seria o seguinte testemunho da
Igreja inteira no nível do culto público e litúrgico: No
mundo inteiro, também na Missa Nova, a celebração ‘versus
Deum’ e a Comunhão de joelhos e na boca.
E o Bispo conclui: “Ninguém consegue
evangelizar, se antes não adora, até, se não adora
continuamente, dando uma preferência verdadeira a Deus, ao
Cristo eucarístico no modo da celebração e na sua vida toda.
De fato, para falar com o Cardeal Joseph Ratzinger: ‘Na
maneira de como se trata a Liturgia, decide-se a sorte
da Fé e da Igreja.’ ”
A reforma da
Reforma
Para entender bem as intenções do Papa,
devemos recorrer ao que ele disse, faz anos, como Cardeal.
Aí citamos novamente daquela entrevista do ano 2000:
“A ‘reforma da Reforma’ será, antes de
tudo, um processo educativo que dá um pára ao pisar à
Liturgia, com idéias pessoais inventadas. Para a reta
formação de consciência em questões litúrgicas também é
importante que, deve finalmente acabar a proscrição da forma
de Liturgia, válida até 1970...
Quando virá essa reforma litúrgica? Tudo
dependerá de um impulso de pessoas de uma fé viva e de uma
verdadeira consciência litúrgica. Dependerá da existência de
lugares exemplares, onde se celebra a Sagrada Liturgia
realmente de modo adequado e onde se pode receber uma
experiência viva do que Liturgia de verdade é.
E se a partir daí, vindo de dentro, se
formar um tipo de movimento que não é simplesmente imposto
de cima, então acontecerá. E acredito que em relação a isso,
na nova geração já existe um desabrochar neste sentido.”
“Uma nova Liturgia Divina, para o futuro
do povo fiel e da Igreja, exige de nos uma atitude de
receber novamente as formas dadas e presenteadas; e exige de
penetrar nelas interior e atentamente. É maravilhoso
aprender aos poucos como cresceram os costumes litúrgicos,
compreender as estruturas do Ano Litúrgico, do Missal
Romano, e muito mais. Se trata de penetrar verdadeiramente
nessa riqueza de que se formou e cresceu, e assim justamente
também penetrar na magnificência que nela se nos oferece
como presente de Deus.
Precisamos, pois, aprender de novo o
espírito da escuta – ‘escuta, meu filho’ – diz São Bento.
Devemo-nos entender menos como produtores de algo e mais
como receptores.”
“Chegou o tempo para nós de trabalhar”
A seguinte carta do Cardeal Ranjith mostra o
rumo da Igreja neste pontificado do Papa Bento XVI:
Carta do Cardeal
Alberto Malcolm Ranjith
à Federação Internacional
UNA VOCE,
para a conservação da tradição litúrgica num congresso em
Roma, em Novembro de 2011
“Sobretudo quero lhes expressar a minha
gratidão para o seu fervor e entusiasmo com que propagam o
interesse na restauração da verdadeira Tradição
litúrgica da Igreja. A Liturgia pois, aprofunda a fé e
impulsiona para sua aplicação heróica na vida. A Liturgia é
um meio pelo qual as pessoas são elevadas à altura da
transcendência e do eterno. E aí se realiza o encontro entre
Deus e o homem.
Por causa disso, a Liturgia jamais pode ser
algo criado pelo próprio homem: quando celebramos
Liturgia como nós queremos, dando nós mesmos as
regras para ela, então corremos o perigo de novamente fazer
o Bezerro de Ouro de Aarão.
Devemos sempre de novo dizer que a Liturgia é
a participação naquilo que o próprio Deus faz. Caso
contrário corremos perigo de cometer idolatria! A linguagem
simbólica da Liturgia nos ajuda a nos elevar acima do humano
até ao divino.
É a minha firme convicção, que, em relação a
isso a Ordem Antiga (= Missa “tradicional”) representa em
grande medida e de modo excelente o chamado misterioso e
transcendente de um encontro litúrgico com Deus.
Portanto, chegou o tempo de não
somente renovar o conteúdo da liturgia reformada, através de
mudanças radicais, mas também, de cada vez mais encorajar a
retornar à Ordem Antiga que é um
caminho para uma renovação verdadeira da Igreja,
que os padres do Concílio Vaticano II desejaram.
A leitura cuidadosa da Constituição Conciliar
sobre a Sagrada Liturgia mostra que jamais corresponderam à
vontade dos padres conciliares as mudanças precipitadas
que depois (do Concílio) foram introduzidas na Liturgia.
Por isso chegou o tempo para nós de
trabalhar corajosamente para uma reforma verdadeira da
Reforma e também para um retorno para a verdadeira
Liturgia da Igreja que se desenvolveu de modo
contínuo na sua história de 2000 anos.
Eu espero e penso que isso aconteça.
Que Deus lhes recompense os seus esforços com
sucesso.”
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