Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

Carta 90

 

Anápolis, 31 de outubro de 2013

 

À senhora Joselita Teixeira da Silva

Anápolis – GO

 

Estimada, as ordens dos anjos são convenientemente denominadas.

É a autoridade da Sagra­da Escritura que assim os denomina. Pois, nela se encontram as denominações de Serafins (Is 6), Querubins (Ez 1), Tronos (Cl 1), Dominações, Virtudes, Potesta­des, Principados (Ef 1), Arcanjos e Anjos (em várias passagens das Escrituras).

Na denominação das ordens an­gélicas necessário é considerar-se que os nomes próprios a cada ordem designam as proprieda­des delas, como diz Dionísio. Para se com­preender, porém, a propriedade de cada ordem, é preciso considerar que de três modos podemos fazer uma atribuição nos seres ordenados: por propriedade, excesso e participação. Assim, diz­-se que uma coisa está em outra, por proprie­dade, quando é adequada e proporcionada à na­tureza desta. Por excesso, quando a coisa atribuída a outra é menos que esta, contudo lhe convém, por um certo excesso. Por participação, enfim, quando a atribuição não está no atribuído plenária, mas deficientemente; assim, os homens santos chamam-se deuses, parti­cipativamente. Se, pois, um ser deve receber a denominação que lhe designe a propriedade, tal denominação não deve provir daquilo que esse ser participa imperfeitamente, nem do que tem, em excesso, mas do que lhe é como coigual. Assim, quem quiser denominar propriamente o homem dirá que é uma substância racional; não, substância intelectual, denominação própria ao anjo, porque a simples inteligência convém ao anjo, por propriedade, e ao homem, por parti­cipação; nem substância sensível, denominação própria ao bruto, porque o sentido é menos do que o que é próprio ao homem, e a este lhe con­vém excelentemente, mais que aos brutos. E, portanto, devemos considerar que, nas ordens dos anjos, todas as perfeições espirituais são comuns a todos os anjos e todas existem mais abun­dantemente nos superiores que nos inferiores.

Mas, como há graus nas próprias perfeições, a perfeição superior é atribuída à ordem superior, por propriedade, à inferior, porém, como parti­cipação; e, inversamente, a perfeição inferior é atribuída à ordem inferior, por propriedade, e à superior, por excesso. Donde resulta que a ordem superior é denominada pela perfeição superior. — E é assim que Dionísio expõe os no­mes das ordens, conforme a conveniência para as perfeições espirituais delas. Ao passo que Gregório, na exposição desses nomes, parece atender mais aos ministérios exteriores. Assim, explica, chamam-se anjos os que, anunciam as coisas mínimas; Arcanjos, as sumas; pelas Vir­tudes fazem-se os milagres; pelas Potestades são debeladas as potestades adversas; os Principados são os que presidem aos bons espíritos.

Anjo significa núncio. Logo, todos os espíritos celestes, como manifestadores das ordens divinas, chamam-se anjos. Mas os anjos superiores têm, nessa manifestação, certa excelência, pela qual as ordens superiores são denominadas. Enquan­to que a ordem inferior dos anjos não acrescenta nenhuma excelência à manifestação comum; e, por isso, é denominada pela simples manifesta­ção. E assim, o nome comum aplica-se, como próprio, à ordem inferior, como diz Dionísio. Ou se pode dizer que a ordem inferior pode ser chamada especialmente ordem dos anjos, por­que nos anunciam imediatamente. — A virtude, porém, pode ser tomada em dupla acepção. Em acepção comum, a virtude é média entre a es­sência e a operação; e então, todos os espíritos celestes chamam-se virtudes celestes, bem como celestes essências. Noutra acepção, virtude importa excesso de força e então é nome próprio de ordem. Por onde, diz Dionísio, que o nome de Virtudes significa uma força viril e incon­cussa; primeiro, em relação a todas as operações divinas que lhes são convenientes; e segundo, para receber os dons divinos. E assim, significa que, sem nenhum temor, acercam-se das coisas divinas que lhes dizem respeito; o que concerne à força do ânimo.

Como diz Dionísio, a Dominação é louvada, em Deus singularmente, por excesso; mas, por participação, as Divinas Letras chamam Dominações aos principais or­natos, pelos quais os inferiores recebem os dons de Deus. E por isso, Dionísio diz que o nome de Dominações significa primeiro, a liberdade, que isenta da condição servil e da sujeição ple­béia, a que a plebe está submetida; e da opressão tirânica a que, às vezes, até mesmo os maiores estão sujeitos. Em segundo lugar, significa um governo rígido e inflexível, que não se inclina a nenhum ato servil, nem a nenhum ato próprio aos que são sujeitos e oprimidos pelos tiranos. Em terceiro lugar, significa o desejo e a partici­pação do verdadeiro domínio, que está em Deus. E semelhantemente, o nome de qualquer ordem significa a participação do que exorta em Deus; p. ex., o nome de virtudes significa participação da divina virtude, e assim por diante.

Os nomes de Do­minação, de Potestade e de Principado dizem respeito ao governo, diversamente. — Pois, ao senhor pertence apenas preceituar sobre o que se deve fazer, e por isso, Gregório diz: certas ordens de anjos, a que outras que lhes estão sujeitas devem obedecer, chamam-se Domina­ções. — Ao passo que o nome de potestade de­signa certa ordenação, conforme a Escri­tura (Rm 13, 2): Aquele que resiste à potestade resiste à ordenação de Deus. E, por isso, Dionísio diz que o nome de Potestade significa uma ordenação, relativa, tanto ao recebimento das ordens divinas, como às ações divinas, que os superio­res comunicam aos inferiores, conduzindo-os para o alto. À ordem das Potestades, pertence, pois, ordenar o que deve ser feito pelos súditos. — Ser principal, por outro lado, como diz Gregório, é ser primeiro entre os demais; assim, são como que os primeiros, na execução do que é mandado. E por isso, Dionísio diz que o nome de Principados significa condutor, com ordem sagrada. Pois, os que conduzem os outros, sen­do os primeiros entre eles, chamam-se propria­mente príncipes, conforme a Escritura (Sl 67, 26): Foram adiante os príncipes; juntamente com os que can­tavam salmos.

Os Arcanjos, segundo Dionísio, são médios entre os Principados e os Anjos. Ora, o meio, comparado com o extremo, é equiparado ao outro extremo, como partici­pante da natureza de ambos; assim, o tépido, em comparação com o cálido, é frio, e em com­paração com este é cálido. Assim, pois, os Ar­canjos são chamados como que Príncipes dos Anjos, porque, em relação a estes, são príncipes, porém, em relação aos Principados são Anjos. — Segundo Gregório, contudo, chamam-se Arcan­jos porque presidem só a ordem dos Anjos, sen­do como núncios das grandes coisas. E chamam­se Principados porque presidem a todas as vir­tudes celestes, cumpridoras das ordens divinas.

O nome de Serafim não é imposto tanto pela caridade, como pelo excesso desta, excesso em que importa o nome de ardor ou de incêndio. Por onde, Dioní­sio interpreta o nome de Serafim pelas propriedades do fogo, no qual há excesso de calor. Pois, três coisas se podem considerar, no fogo. ­Primeira, o movimento contínuo para cima. Pelo que se significa que são movidos para Deus, indeclinavelmente. — Segunda, a virtude ativa, que é a calidez. E esta não existe de modo absoluto no fogo, mas com certa acuidade; porque ele tem ação penetrativa em máximo grau, e atinge até às mínimas intimidades; e demais com fervor super-excedente. E por aí se significa a poderosa ação que os referidos anjos exercem sobre os que lhes estão sujeitos, excitando-os a fervor semelhante e purificando-os totalmente pelo incêndio. — A terceira é a claridade. E isto significa que os ditos anjos trazem em si mesmos, luz inextinguível e iluminam perfeitamente os outros. — Semelhantemente, o nome de Querubins é imposto, pelo excesso de ciência e é interpretado como Plenitude da ciência. O que Dionísio explica relativamente a quatro pontos: primeiro, quanto à visão perfeita de Deus; segundo, quanto ao pleno recebimento da divina luz; terceiro, quanto ao contemplarem, em Deus mesmo, a beleza da ordem das coisas deles derivada; quarto, quanto a difundirem copiosamente, nos outros, esse conhecimento, em que superabundam.

A ordem dos Tronos tem excelência sobre as ordens inferiores por po­derem conhecer imediatamente, em Deus, as ra­zões das obras divinas. Ao passo que os Queru­bins têm a excelência da ciência; e os Serafins a do ardor. E embora nestas duas excelências esteja incluída a terceira, contudo, na dos Tro­nos não se incluem as duas outras. Por onde, a ordem dos Tronos se distingue das dos Querubins e Serafins. Pois, é comum para todos, que a excelência do inferior esteja contida na do superior, e não vice-versa. — Dionísio, porém, explica o nome de Tronos, por conveniência com os tronos, na ordem material. Nos quais, há quatro causas a considerar. — Primeiro, o lugar, pois os tronos se elevam na terra. E as­sim os anjos chamados Tronos elevam-se até o conhecimento imediato em Deus, das razões das coisas. — Segundo, nos tronos materiais se con­sidera a firmeza, porque neles firmemente nos assentamos. No caso vertente, porém, dá-se o inverso, pois os anjos é que estão firmados por Deus. — Terceiro, porque o trono recebe quem se assenta e este pode ser transportado nele. Assim também os anjos, de que tratamos, rece­bem Deus em si mesmos e o levam, de certo modo, aos inferiores. — Quarto, figuradamente, pois, o trono é aberto de um lado para receber quem se assenta. Assim também os referidos anjos estão, pela sua presteza, abertos para receber a Deus e lhe servir (cfr. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Volume II).

Foi exemplar a sua participação no Santo Retiro nos dias 26 e 27 de outubro. Seja diligente convidando muitas pessoas para o Retiro de dezembro.

Eu te abençôo e te guardo no Coração de Maria Virgem.

Com gratidão,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.