Anápolis, 31 de outubro
de 2013
À Rosa
Ferreira
Samambaia
– DF
Estimada,
será que o fogo do inferno, que cruciará os corpos dos
condenados, será um fogo corpóreo?
Diz Gregório: Não duvido que o toga da geena seja um
toga corpóreo, onde é certo que os corpos serão
cruciados. A Escritura diz: Todo o universo
pelejará da parte dele contra os insensatos. Ora,
todo o universo não pelejaria contra os insensatos, se
fossem punidos por uma pena só espiritual e não
corporal. Logo, serão punidos por um fogo corpóreo.
Sobre o fogo do inferno há muitas opiniões. Assim,
certos filósofos, como Avicena, não acreditando na
ressurreição, crêem que só a alma é a punida depois da
morte. Mas como viam o absurdo de ser a alma,
incorpórea, punida por um fogo corpóreo, negaram a
natureza corpórea do fogo com que os maus são punidos,
ensinando que devemos tomar em sentido metafórico todas
as punições de natureza corpórea atribuídas à alma
depois da morte. Pois, assim como o prazer e a
felicidade das almas boas não consistirá em nada de
corpóreo, mas num bem espiritual que é a consecução do
seu fim, assim também o suplício dos maus será somente
espiritual e consistirá na tristeza de se verem
separados do fim, de que têm um desejo natural imanente.
Por onde, assim como todos os prazeres de natureza
material atribuídos à alma depois da morte, como o
repouso, o riso e outros devem ser entendidos em sentido
metafórico, assim todas as torturas que supõem punição
corpórea, como a de arderem ao fogo, de sofrerem odores
fétidos e outras, devem ser entendidas no mesmo sentido.
Pois, o prazer e o sofrimento espirituais, sendo
incompreendidos da multidão é necessário lhe figurarmos
mediante prazeres e penas materiais, para mover com
eficácia os homens ao desejo ou ao temor. ─ Mas esse
modo de explicar a punição não é suficiente porque a
pena dos condenados não será só a do dano,
correspondente à aversão que houve na culpa, mas também
a do sentido, correspondente à conversão da culpa.
Por isso o próprio Avicena
acrescenta outra explicação dizendo que as almas dos
maus depois da morte não serão punidas por meios
materiais, mas por semelhanças. Assim, nos sonhos, por
tais semelhanças, existentes na imaginação, pode-se nos
afigurar que somos torturados por penas diversas. E
também Agostinho parece admitir esse modo de punição. ─
Mas isto não é admissível. Porque a imaginação é uma
potência que se serve de um órgão corpóreo, por isso não
é possível a alma separada do corpo ter, como a de quem
sonha essas visões imaginárias.
Razão por que ainda Avicena,
para evitar esse inconveniente, disse que as almas
separadas do corpo usam, como de órgão, de uma parte do
corpo celeste, a que há de o corpo humano conformar-se
para ter perfeição a alma racional, semelhante aos
motores do corpo celeste. E nisto seguiu de certo modo a
opinião dos antigos filósofos que ensinavam a volta das
almas aos corpos celestes a elas semelhantes. ─ Mas isto
é absolutamente absurdo, segundo a doutrina do Filósofo.
Porque a alma se serve de um determinado órgão corpóreo,
como a arte de um determinado instrumento. Por isso não
pode passar de um corpo para outro, como o ensina
Pitágoras.
Seja, porém, o que for que se
pense do fogo que crucia as almas separadas, quanto ao
fogo, que atormentará os corpos dos condenados depois da
ressurreição, devemos dizer que é um fogo corpóreo.
Porque a um corpo não pode convenientemente adaptar-se
senão uma pena corpórea. Donde a prova de Gregório que o
fogo do inferno é de natureza corpórea, por isso mesmo
que os réprobos, depois da ressurreição, nele serão
precipitados. E também Agostinho, conforme o Mestre das
Sentenças, declara manifestamente que o fogo
atormentador dos corpos é um fogo corpóreo. Ora, é disto
que agora se trata.
Damasceno não nega,
absolutamente falando, que o fogo do inferno seja
material, mas que não o é como o é o nosso, por se
distinguir deste por certas propriedades. ─ Ou devemos
responder que o fogo do inferno não alterando
materialmente os corpos, mas atuando sobre eles, para
puni-los por uma ação espiritual, por isso dizemos que
não é material. Não quanto à sua substância, mas quanto
ao efeito punitivo que exerce sobre os corpos e, muito
mais ainda, sobre as almas.
As palavras de Agostinho
podem ser interpretadas do modo seguinte. Que não é
corpóreo o lugar para onde as almas serão transportadas
depois da morte no sentido em que elas aí não estarão de
modo material, como um corpo está materialmente num
lugar, mas do modo espiritual pelo qual os anjos ocupam
lugar. ─ Ou devemos responder que Agostinho dá apenas
uma opinião, sem nada decidir, como frequentemente faz
nesses livros citados.
O fogo do inferno será um
instrumento de punição da divina justiça. Ora, um
instrumento age, não só por virtude própria e de um modo
próprio, mas também por obra do agente principal e
enquanto dirigido por ele. Por onde, embora o fogo não
possa, por virtude própria, cruciar o pecador mais ou
menos, conforme a gravidade do seu pecado, pode-o,
porém, se tiver a sua ação modificada por ordem da
divina justiça. Assim como também o fogo de uma fornalha
pode ser modificado na sua ação por indústria do
ferreiro, a fim de produzir o efeito que ele na sua arte
se propõe (cfr. Santo Tomás de Aquino, Suma
Teológica, Suplemento).
Foi exemplar
a sua participação no Santo Retiro nos dias 26 e 27 de
outubro. Seja diligente convidando muitas pessoas para o
Retiro de dezembro.
Eu te abençôo
e te guardo no Coração de Maria Virgem.
Com gratidão,
Pe. Divino Antônio Lopes
FP.
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