"A
Revolução Francesa de 1789, como uma bomba de efeito retardado,
continuou a agitar a sociedade européia durante todo o século XIX.
A religião teve que pagar pesado tributo a tais agitações. Posta
em descrédito e combatida em várias regiões, despertou, no
entanto, energias que pareciam adormecidas. Destaca-se entre elas
o entusiasmo pelas obras missionárias".
Exemplo típico dos missionários
franceses desta época é São Pedro Chanel. Nascido em La Potiére,
perto de Lyon, em 1803, duma família de camponeses, Pedro ficou
ocupado nos serviços do campo até doze anos. Neste período
encontrou um piedoso sacerdote que o orientou para o seminário,
visando à formação para o sacerdócio. Sua leitura preferida eram
os Anais da Propagação da Fé, que narravam os grandes feitos dos
missionários. Esta leitura fez desabrochar nele o início da
vocação missionária.
Este ideal, contudo, não pôde se
concretizar senão depois de vários anos de atividade pastoral na
diocese, após os quais obteve a licença do bispo para entrar na
Sociedade de Maria, chamada dos Padres Maristas, recém-fundada
para preparar e enviar missionários entre os infiéis.
Com 33 anos de idade, nas vésperas de
Natal de 1836, Pe. Chanel embarcava em direção às longínquas ilhas
do Arquipélago de Tonga na Oceania. A viagem durou 11 meses,
através do Atlântico, cruzando a ponta da Terra do Fogo, entrando
no Pacífico, até chegar, depois de incontáveis perigos e
peripécias, à Ilha de Futuna. Enquanto outros colegas continuaram
a viagem para outras ilhas, Pe. Chanel, com o irmão Marie-Nizier,
iniciaram sua aventura missionária naquela ilha de uns 40 km de
circunferência.
Os habitantes pertenciam à raça
polinésia e eram muito agarrados a tradições animistas. A
aprendizagem da língua e adaptação aos rudes costumes do povo
exigiram deles enormes sacrifícios. Prudência, bondade e paciência
levadas aos limites do possível, foram as virtudes mais praticadas
a fim de se fazerem aceitos pelos habitantes da ilha.
A permanência de Pedro Chanel na ilha
de Futuna está incluída em duas datas: 8 de novembro de 1837,
chegada; 28 de abril de 1841, martírio. Período por demais curto
para poder conseguir frutos notáveis. A Providência quis que sua
tarefa fosse como a de São João Batista: preparar o caminho do
Senhor; lançar as primeiras sementes, regá-las com seu sangue para
que se multiplicassem. Ele evangelizou com a oração e o testemunho
de vida. Aproximava-se do povo, interessava-se por seus problemas,
promovia a paz e a concórdia, curava os doentes, assistia os
moribundos. Nunca tinha sido visto na ilha um homem tão bondoso,
prestativo e paciente. Os próprios indígenas o apelidaram "homem
de coração bom".
Com perseverança ia anunciando o
Evangelho entre sacrifícios e fadigas incríveis, embora os frutos
fossem minguados. Purificando os costumes, visava à destruição do
culto dos maus espíritos que escravizava o povo. Finalmente
conseguiu reunir um pequeno núcleo de catecúmenos entre os quais o
filho do rei Niuliki, conseguindo prepará-los para o batismo. Mas
este sucesso devia custar-lhe a vida. Alguns pagãos fanáticos,
incentivados pelos pajés, assaltaram à traição a cabana do padre,
golpeando-o até à morte. Era o dia 28 de abril de 1841, quando a
Congregação dos Maristas inscrevia nos seus anais o nome do
primeiro mártir, elevado às honras dos altares por Pio XII em
1954.
Poucos anos depois de sua morte, todos
os habitantes da ilha Futuna abraçaram o Cristianismo,
tornando-se, inclusive, um centro de irradiação da fé cristã nas
outras ilhas do grande arquipélago.
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