04 de Abril
Santo Isidoro
Santo Isidoro, o mais insigne dos doutores da Igreja da Espanha, era natural de Cartagena e filho de pais ilustres e profundamente religiosos. O pai, Severiano, era prefeito de Cartagena; a mãe chamava-se Teodora. Os irmãos, Leandro, Bispo de Sevilha, Fulgêncio, Bispo de Cartagena e Florentina, recebem da Igreja as honras de Santos. Desde menino se dedicava ao serviço eclesiástico, ao estudo da religião e às práticas de piedade. Chamado por Deus, devia Isidoro ser, na mão da divina Providência, um baluarte fortíssimo contra a barbaria e crueldade dos Godos. Junto com o irmão Leandro, então Bispo de Sevilha, trabalhou, com grande resultado, na conversão dos hereges arianos, que naquele tempo perseguiam a Igreja da Espanha e cuja intenção não era outra senão exterminar a Igreja Católica naquele país. Por morte do irmão Leandro, em 600, foi Isidoro eleito seu sucessor. O programa do seu governo eclesiástico era apaziguar os diversos partidos católicos, restabelecer a ordem e harmonia entre os seus diocesanos. Era ele a alma dos sínodos diocesanos, que foram convocados para o mesmo fim. As decisões mais importantes, que naquela época foram dadas, são pela maior parte obra sua, e todas provam a sabedoria e o zelo apostólico do Santo. Quando, em 610, os bispos da Espanha, reunidos em Toledo, elegeram Primaz da Espanha o Arcebispo da mesma cidade, Isidoro, sem protesto e relutância assinou a data da eleição. O único desejo que nutria, era ver restabelecida a paz e concórdia na Igreja do seu país. Como presidente do Concílio de Sevilha (619), condenou a seita dos acéfalos e eutiquianos. Tão clara e convincente lhe era a argumentação, que o Bispo Gregório, da Síria, o principal propagandista dos acéfalos, abjurou o erro e voltou à doutrina da Igreja Católica. Os eutiquianos reconheciam na pessoa de Jesus Cristo só uma natureza, quando a Igreja Católica ensina que em Jesus Cristo há duas naturezas, uma humana, outra divina. No sétimo concílio de Toledo (633), o mais importante na história da Igreja da Espanha, foi Isidoro quem presidiu as sessões, honra e privilégio que o Primaz da Espanha lhe cedeu espontaneamente, dando assim prova pública de quanto o tinha em consideração. Sempre submisso ao Papa de Roma, como representante de Cristo na terra, procurou implantar o mesmo respeito no coração dos diocesanos. Como indícios certos e indubitáveis do espírito de heresia, Isidoro havia o menosprezo das cerimônias da Igreja, das suas leis e decretos, o desprezo e ódio aos sacerdotes, bispos ao Papa. Para preservar os diocesanos deste espírito pernicioso, procurou incessantemente inspirar-lhes amor à Igreja, respeito às suas leis e veneração aos seus ministros. Entre estes trabalhos apostólicos se passou a vida do santo Bispo. Nos seis últimos meses da sua existência, a liberdade de Isidoro chegou a tal ponto, que sua casa era procurada e assediada pelos pobres, desde a manhã até alta noite. Sentindo chegar a morte, mandou chamar para perto de si dois Bispos. Com eles se dirigiu à igreja, onde das mãos de um recebeu o hábito da penitência, enquanto o outro lhe punha cinza na cabeça. Com as mãos elevadas ao céu, orou com muito fervor e pediu a absolvição dos seus pecados. Um dos Bispos deu-lhe a santa Comunhão. Terminada a ação de graças, Santo Isidoro recomendou-se às orações dos diocesanos, perdoou aos devedores e mandou distribuir sua fortuna entre os pobres. Ao povo recomendou, com muito empenho, conservar a paz e a união. Isidoro morreu nos degraus do altar, em 4 de abril de 636, tendo sido 36 anos Arcebispo de Sevilha. O corpo foi depositado na Catedral de Sevilha, entre os irmãos Leandro e Florentina. As relíquias, transportadas no ano de 1063 para Leon, descansam ainda na igreja de São João Batista. Santo Isidoro é o grande Santo da nação espanhola, o “grande mestre de escola da Idade Média” pela sua obra monumental: “Etimologia” em 20 volumes, uma verdadeira enciclopédia daquele tempo. REFLEXÕESSanto Isidoro velava zelosamente pela rigorosa observação das cerimônias, usos e determinações eclesiásticas. O desprezo do cerimonial litúrgico, bem como das determinações do Papa, dos Bispos e das pessoas sagradas, era por ele considerado a primeira aproximação da heresia. A experiência mostra, de fato, que os católicos, querendo ser bons filhos da Igreja, são sempre respeitadores da autoridade eclesiástica e das respectivas ordens. Os hereges, porém, e os inovadores em coisas de religião deram sempre o mau exemplo de insubordinação e de espírito emancipado. Falar mal da autoridade, desprezá-la e desrespeitar-lhe as determinações, é sempre sinal suspeito de heresia. Quem em seu coração dá lugar à crítica, à censura, ao desrespeito das pessoas, mui facilmente chegará também a desprezar a própria religião e suas instituições. Um mau católico é um elemento muito mais perigoso e pernicioso que um protestante ou judeu. Ai dos maus católicos, porque as críticas, a desobediência e o desrespeito, causarão grandes males, males talvez maiores que as pregações dos hereges. Lembremo-nos da palavra do Altíssimo: “Não toqueis nos meus ungidos” (Sl 105, 15). Santo Isidoro queria que se respeitasse também os sacerdotes que se não mostravam à altura de sua dignidade. Os que falam mal do clero, assim muitas vezes procedem para encobrir ou desculpar as próprias faltas. Se no meio dos Apóstolos houve um Judas, seria injusto querermos, pela falta deste infeliz discípulo de Nosso Senhor, desprezar os demais. A porcentagem dos maus sacerdotes é mínima e a estatística da criminalidade é uma apologia brilhante da classe sacerdotal. Os crimes de um indivíduo não aviltam a classe, não atingem a santidade do estado sacerdotal e da religião. O mau sacerdote, apesar dos seus pecados, não perde o caráter sacerdotal, nem os poderes que Deus lhe deu, no sacramento da Ordem. Esta circunstância deve-nos mover a respeitar também ao sacerdote menos digno. Jesus Cristo disse, referindo-se a servidores indignos de Deus: “sobre a cadeira de Moisés se assentaram os escribas e fariseus. Tudo, pois, que vos disserem, observai-o e fazei-o; mas não imites suas ações, porque dizem e não fazem” (Mt 23, 2).
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