05 de Abril
São Vicente Ferrer
Este grande Santo, que por causa da pregação e das numerosíssimas conversões que conseguiu, com razão é chamado o Apóstolo da Europa, nasceu em 1357, em Valença, na Espanha, tendo tido por pais um casal muito piedoso e temente a Deus. De uma inteligência rara, já em menino se distinguia vantajosamente dos companheiros. Tendo apenas 7 anos, reunia os amiguinhos, e reproduzia-lhes verbalmente práticas, que tinha ouvido na Igreja. Vendo esta boa disposição intelectual no filho, os pais proporcionaram-lhe os meios para dedicar-se ao estudo das ciências. Apenas com a idade de doze anos, Vicente começou o estudo da filosofia e com dezessete anos tinha já terminado o curso de teologia. Não menos admirável que sua inteligência, era sua piedade. Freqüentes vezes procurava a igreja, passando longas horas em oração; às quartas e sextas-feiras observava rigoroso jejum. As devoções mais queridas eram à Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Virgem. Na idade de 18 anos entrou para a Ordem Dominicana. Seis anos depois, fazia preleções sobre filosofia aos jovens religiosos. Mandado pelos superiores às universidades de Barcelona e Lerida, com o fim de completar os estudos teológicos, tão brilhante curso fez que, tendo 28 anos, lhe foi conferido o título de doutor, e nesta qualidade começou a lecionar as matérias teologais em Valença. Neste ramo de atividade, não abandonou as práticas de piedade; na observação da regra foi sempre o mais exemplar. Além disto, começou a dedicar-se à pregação da palavra de Deus, com muito resultado, como se pôde observar no tempo de uma terrível fome, que assolou o país. A sabedoria e santidade do ilustre dominicano tinham já adquirido grande fama, quando o Cardeal Pedro de Luna veio à França, no caráter de delegado apostólico. A convite deste Cardeal, Vicente dirigiu-se para a França, onde, por algum tempo, trabalhou como missionário; não querendo, porém, seguir o Cardeal até Avignon, voltou para Valença. Para que lhe fosse provada a virtude, Deus permitiu que tentações horríveis contra a castidade o atormentassem. Mil imagens abjetas o demônio apresentou-lhe à fantasia, para perturbar a paz do religioso e, se não sendo possível levá-lo a pecar, pelo menos lhe inoculasse o desânimo. No desejo de vê-lo perder-se, recorreu ao auxílio de uma mulher, que se tinha deixado tomar de forte paixão pelo santo sacerdote. Fingindo-se doente, mandou chamar a Vicente, pedindo-lhe a ouvisse em confissão. Vicente, nada suspeitando, dirigiu-se à casa da doente artificiosa. Tendo tomado lugar à cabeceira do leito da enferma, para exercer a função de confessor, esta mudou de atitude e, em vez de se dispor a receber o Sacramento, fez ao sacerdote propostas indecorosas. Vicente, sem dizer palavra, levantou-se e, imitando o exemplo de José do Egito, fugiu daquele lugar. A mulher, porém, desapontadíssima, resolveu vingar-se, e a exemplo da mulher de Putifar, recorreu à calúnia. Não achou, porém, quem lhe acreditasse, e assim começou a reconhecer o mal que fez. Humilhada e arrependida procurou o Santo, pediu-lhe perdão. Vicente não só lhe perdoou, como também a curou de um mal oculto, que Deus lhe tinha mandado, em castigo por seus pecados. As armas que São Vicente usou e que lhe deram a vitória, no combate contra as tentações, foram a oração, a fuga da ocasião, a mortificação, uma grande vigilância sobre os sentidos e um especial cuidado de suprimir as primeiras manifestações da concupiscência. Contra outras ciladas do demônio, defendeu-se pelo sinal da cruz. Trazia o coração constantemente na presença de Deus, de modo que assim todas as ocupações se lhe transformavam em oração. Esta prática recomendava aos outros, muito particularmente. “Se quiseres tirar muito fruto do estudo, cuida que seja a piedade companheira inseparável dos teus trabalhos intelectuais e formula a intenção de santificar tua alma, por meio da ciência. Mais que o livro, deve Deus ser teu conselheiro e deves pedir-lhe a graça da compreensão daquilo que lês. O estudo fadiga o espírito e seca o coração. Aviva ambos aos pés de Jesus crucificado. Uns momentos de repouso nas santas chagas renovam as forças e dão luz. Interrompe de quando em vez teu trabalho pelas jaculatórias. Teu trabalho principie e termine pela oração”. Importantíssimo papel desempenhou no trabalho de renovar o grande cisma do Ocidente, e fortemente instou com Benedito XIII para que renunciasse a dignidade pontifícia. De Fernando I de Aragão conseguiu dele se desligar de Benedito XIII. O Cardeal Pedro de Luna, como antipapa e com o nome de Benedito XIII fixara residência em Avignon. Para lá chamou Vicente, ao qual confiou a mordomia do palácio. Vicente tudo fez para que se findasse o triste cisma, que dividia a família de Jesus Cristo na terra. A todas as instâncias o antipapa respondeu com evasivas. Vicente procurou então se ocupar fora do palácio, pregando missões por toda a parte, recusou as dignidades hierárquicas, que repetidamente lhe foram oferecidas, e afinal conseguiu de Benedito XIII licença, para estender as missões pela França toda, ao Piemonte, Savóia, Alemanha e Lorena. Em 1405 recebeu de Benedito XIII um convite para Génova. Assim teve ocasião de santificar, com as missões, as regiões vizinhas. Mais uma vez percorreu toda a França. Quando chegou ao Monte de Calia, o rei da Inglaterra, Henrique VI, convidou-o para visitar também a Grã-Bretanha. Aceitando este convite, Vicente pregou na Inglaterra, Escócia e Irlanda. Finda a missão nas ilhas britânicas, voltou pela França para Granada. Grandioso foi, por toda a parte, o resultado desse trabalho apostólico . Contaram-se aos milhares as conversões de Judeus, Mouros, Sarracenos, hereges e maus católicos, em consequência de sua atividade missionária. Essas missões foram grandemente glorificadas pela santidade de vida, pelo dom da profecia e pelos numerosos milagres, que Deus se dignou operar por intermédio do grande missionário. Fazendo a pregação ao ar livre, diante de um auditório que ascendia a milhares de pessoas deu-se o fato das pessoas mais afastadas terem-lhe ouvido a voz com a mesma nitidez que os que se achavam ao pé do púlpito. Na diocese de Viech se renovou o milagre da multiplicação dos pães. Em Salamanca, na presença de muito povo, a palavra do missionário chamou um morto à vida. Na mesma cidade, como também em Toledo, se converteram tantos Judeus, que as sinagogas passaram a ser igrejas católicas. No meio de todos estes trabalhos, Vicente conservou a austeridade de vida, que sempre o caracterizava. Religioso exemplar, observava fielmente os votos da pobreza e da obediência. Observando o jejum todos os dias, nas quartas-feiras e nos sábados tomava só pão e água. Tinha por leito um colchão de palhas, e todas as noites flagelava o corpo. A preparação para as práticas era feita ao pé do crucifixo. Terminada a pregação ia ao confessionário, onde grande número de pecadores encontraram a paz e o perdão. Pelo fim da vida levava consigo cinco religiosos da Ordem, em companhia dos quais percorreu toda a Bretanha francesa, semeando a palavra e a doutrina de Jesus Cristo. A morte colheu-o no meio do trabalho. Vicente morreu aos 5 de abril de 1419, em Vanes, tendo alcançado a idade de 62 anos. Muitos milagres glorificaram-lhe a morte. A bula da canonização conta mais de 400 curas, que se realizaram por sua intercessão. Pio II inseriu o nome de Vicente no catálogo dos Santos da Igreja Católica, em 1455. REFLEXÕESHá tentações contra a pureza, que não podem, ser vencidas a não ser pela fuga. “Levamos o nosso tesouro em vasos quebradiços”, diz a Sagrada Escritura. Vidros de fina composição só com grande cautela podem ser levados juntos de uma vez; frutas delicadas estragam-se, ficando em contacto umas com as outras. A pureza do coração é coisa tão delicada, que só com grande cuidado pode ser conservada. Para não perder este precioso tesouro, é preciso que fujamos de todas as ocasiões, que fazem a virtude da pureza perigar; é preciso que castiguemos o nosso corpo, não lhe concedendo a liberdade, que exige pela natural inclinação; é preciso que escolhamos as companhias, procurando as boas e evitando as más; é preciso que tenhamos diante do nosso espirito a imagem de Jesus Cristo crucificado; que o recebamos freqüentes vezes na santa Comunhão, cultivando em nosso coração aquela virtude, que do Apóstolo São João fez o discípulo predileto de Nosso Senhor.
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