Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

  01 de Dezembro

Santa Bárbara

Santa Bárbara, figura saliente entre as Santas da Igreja primitiva, nasceu em Nicomédia, na Bitínia, de pais pagãos. Não só por ser de beleza extraordinária, mas por ter revelado grandes qualidades de espírito, Bárbara era objeto de verdadeira adoração do pai Dióscoro. Este, receando poder perder aquela jóia, fosse por um casamento indesejável, fosse pelas “seduções” do cristianismo, destinou uma torre para morada da filha, à qual deu exímios professores, para que a instruíssem nas belas ciências e principalmente na religião pagã. Esta reclusão produziu na donzela o efeito contrário, visto que lhe proporcionava ocasião bastante para aprofundar o espírito nos estudos e mostrar-lhe os vestígios de Deus. A existência do sol, das estrelas, a volta regular das estações, a admirável organização nos reinos da natureza, tudo lhe levou a inteligência a crer na existência de um Supremo Ser, que não podia ser idêntico às divindades que a religião pagã mandava adorar, como criadores e conservadores do mundo. Estas considerações a convidaram a orar ao Altíssimo. Sem que o pai o soubesse nem pudesse suspeitar, Bárbara instruiu-se perfeitamente na religião cristã e recebeu o batismo. Apresentou-se a Dióscoro um jovem pedindo a filha em casamento. Tratando-se de pessoa de posição e alta linhagem, o pai de Bárbara não hesitou em prometer-lhe a mão da donzela. Esta, porém, inteirada do plano, com respostas vagas procurou esquivar-se do compromisso paterno. Dióscoro, respeitando a liberdade da filha, não insistiu; concedeu-lhe um longo prazo para as deliberações, devendo ele se preparar para uma longa viagem. O pedido de Bárbara de obter, para sua comodidade, uma instalação balneária, o pai satisfez prontamente. A sala só tinha duas janelas. Bárbara mandou que se abrisse na parede uma terceira, para assim ser lembrada sempre da Santíssima Trindade. Ordenou o pai que se ornamentassem as paredes com motivos pagãos e de espaço a espaço colocou imagens de divindades pagãs. Não podendo removê-las sem com isto contrariar o pai, Bárbara serviu-se delas para demonstrar aversão a uma religião que não é senão culto dos demônios. Em vez de entregar a nova sala, esplendidamente arranjada, ao fim para que pedira, dela se serviu para realizar conferências e reuniões com pessoas amigas do cristianismo e com elas prestar culto a Deus verdadeiro. Entretanto voltou Dióscoro da viagem que empreendera. Desejoso de saber a resolução da filha, qual não foi a decepção, quando esta lhe revelou não se querer casar, muito menos com um jovem pagão, visto que era cristã e esposada já com Jesus Cristo.

Grande foi a dor e maior ainda a indignação do pai. Tendo recuperado a calma, pôs a filha ante o dilema: ou renunciar a Cristo e aceitar o casamento ou morrer. Quanto mais irritado se tornava, tanto mais firme e imperturbável Bárbara se mostrou. O desespero do pai chegou ao ponto de com a espada na mão agredir a própria filha. Esta escapou da ira de Dióscoro e refugiou-se numa gruta. Ninguém a teria descoberto, se dois pastores não tivessem indicado o esconderijo da donzela. Dióscoro encontrou-a em oração. Qual tigre à presa, o pai atirou-se contra a inocente filha; arrastou-a pelo chão, colocou-a aos pés, puxou-a pelos cabelos a uma choupana, onde a fechou até que a mandasse levar para casa. Lá chegada, começou-lhe o martírio. Vendo afinal inúteis todos os esforços para induzir a filha à adoração dos deuses, entregou-a ao governador Marciano, afim de que procedesse contra ela conforme as determinações da lei.

No começo Marciano aparentou compaixão pela pobre vítima, duplamente bela no sofrimento, e não poupou blandias e promessas. Nada conseguindo, recorreu ao rigor.

Por sua ordem, Bárbara foi açoitada com tiras de couro, até que o corpo se lhe tornou uma só chaga. Na esperança de que morresse, mandou encarcerá-la. Deus, porém, querendo reservar para a heroína combate ainda mais glorioso, mandou-lhe um Anjo, que não só lhe curou as feridas, mas que a animou e lhe predisse um glorioso martírio, e a assistência divina até a morte. No dia seguinte, conduzida à presença de Marciano, este muito se admirou de vê-la completamente restabelecida, fato que atribuía ao poder e à intervenção dos deuses. “Enganas-te, — disse Bárbara — não foram ídolos de pedra que fizeram isto: o que vês é obra do Senhor do céu e da terra, daquele Deus a que adoro e pela honra do qual estou pronta para morrer”. Marciano ordenou então novos suplícios. A donzela foi novamente flagelada, o corpo horrivelmente queimado e finalmente amputaram-lhe os seios. Apesar da dor indescritível que Bárbara sentia, nenhuma palavra de queixa proferiu; elevando os olhos ao céu, disse: “Vossa mão, ó meu Deus, não me abandone. Convosco tudo padecerei, sem vós nada sou”. A estas palavras se seguiu nova crueldade. O tirano deu ordem para que a mártir fosse despojada dos vestidos e neste estado, insultada pela multidão, conduzida pelas ruas da cidade. De todas as torturas foi esta a mais dura, a mais desumana e a mais dolorosa ao coração da casta donzela. O desnaturado pai assistiu a todas as crueldades de que a filha foi vítima, e, não satisfeito com a simples assistência, ainda se colocou no meio dos algozes, sendo de todos o pior. Tendo Marciano finalmente pronunciado a sentença de morte, Dióscoro pediu, como graça especial, poder desferir o último golpe contra a filha. Marciano concedeu-lhe a licença. Chegando ao alto duma montanha, Bárbara de joelho agradeceu a Deus o privilégio de poder derramar o seu sangue por amor de Jesus. Depois desembaraçou o pescoço, oferecendo-o ao algoz, que era o pai. Este, trêmulo de furor, fez-se o assassino da filha.

Bárbara tinha a idade de 20 anos apenas.

Uma mulher de nome Juliana, que tinha visto todas as cenas horripilantes do martírio da donzela, apresentou-se ao governador, com a declaração de ser cristã e o desejo de morrer como Bárbara morrera. Foi fácil atendê-la, e no mesmo dia Deus lhe concedeu a palma do martírio. O corpo de Juliana descansou ao lado de Bárbara, com a alma da qual entrou triunfante no céu. Não assim aconteceu ao pai. Descendo da montanha, onde vitimara a filha, gotejando-lhe das mãos ainda o sangue inocente, foi surpreendido por um forte temporal. Não havendo onde se abrigar, um raio fulminou-o, entregando-lhe a alma ao eterno juiz. Altos desígnios de Deus!

Santa Bárbara é invocada para alcançar a graça de uma boa morte.

REFLEXÕES

Santa Bárbara morreu assassinada pelo próprio pai, cujas ordens iníquas se negara a cumprir. Não podia ser outra a atitude da santa donzela, porque a autoridade paterna não é suficiente para dispensar da observância da lei, a que a autoridade divina obriga. Ordens humanas seja de que autoridade provenham, não devem ser obedecidas, uma vez que contradigam os mandamentos da lei de Deus, que são a diretiva para tudo. Uma autoridade inferior não é competente para suspender uma lei emanada da autoridade superior. Às ordens de Deus todos os homens, todas as autoridades são sujeitas. A obediência a Deus é incondicional. Pecam gravemente e sem dúvida sofrerão as penas do inferno aqueles pais, que tiram aos filhos a vida material e espiritual. Experimentarão as iras de Deus aqueles progenitores, que ensinam o mal aos próprios filhos e, pela palavra ou pelo exemplo, os seduzem para o pecado. A responsabilidade dos pais é gravíssima. Se forem eles próprios assassinos dos filhos, quer material, quer espiritualmente, estes se levantarão no juízo final contra aqueles que deviam ser seus benfeitores, e os acusarão perante Deus, “Maldade alheia desgraçou-os, nossos pais fizeram-se assassinos” — dirão ao eterno Juiz (São Cipriano). O filho, a filha, que recebe ordens que evidentemente contrariam a de Deus, não lhes deve obediência, sob pena de pecado mortal com todas as conseqüências.