Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

18 de Fevereiro

 

Santa Bernardete Soubirous

 

Em meio do século XIX; quando a perversa doutrina dos racionalistas movia guerra atroz a verdade cristã e com ímpio afã se esforçava para perturbar toda a ordem sobrenatural, Pio IX, de gloriosíssima memória, sob os aplausos de todo o mundo católico, definiu solenemente como dogma da fé Conceição Imaculada de Maria Virgem. Esta proclamação do privilégio fulgidíssimo da mãe de Deus, se ao mundo soberbo faz lembrar a lastimável ruína do gênero humano, pelo pecado, de modo admirável exalta a graça da divina Redenção, e eleva a causas superiores os corações dos homens.

Mas o que em Roma, pelo o infalível magistério, o Sumo Pontífice definia, a própria Virgem Imaculada, bendita entre todas as mulheres, parece quis confirmar com sua própria boca, quando não muito depois com célebres aparições se manifestou na grota de Massabielle, perto de Lourdes nos montes Pirineus; porque para lá, de todas as partes do mundo, multidões se dirigiam para sentir os benefícios da piíssima Mãe, e quase em série contínua de milhares se restabelecem as almas mais que os corpos dos homens.

O mais admirável, porém, é, que a Santíssima Mãe de Deus para conferir aos homens tanto benefício, e para confundir o que no mundo se julga forte, escolhesse um instrumento, à preferência de outros, débil, segundo a divina economia que São Paulo exalta: “Deus escolheu o que e fraco no mundo para confundir os fortes” (1 Cor 1, 27). Este instrumento era Bernarda Soubirous, nome hoje caríssimo e celebérrimo no mundo inteiro, mas naquele tempo, quando apenas quinze anos contava, de todos desconhecida.

Nascida em Lourdes, região montanhosa dos Pirineus, a 7 de janeiro de 1844, filha de Francisco e Ludovica Casterot, dois dias depois foi batizada e recebeu o nome de Maria Bernarda.

Vivendo pobremente e por algum tempo empregada em tomar conta do gado, crescia sem nenhuma doutrina humana, mas em suavíssima simplicidade de costumes e admirável candura de espírito, querida por Deus e pela Santíssima Virgem Mãe. Maria observou a humildade de sua filha e dignou a inocente menina, entre 11 de fevereiro e 16 de junho de 1858, de 18 aparições e de celeste colóquio. Finalmente, perguntada por ela pelo seu nome, disse: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

Nesta, tão célebre aparição e ilustrada por Deus por tantos sinais, pode-se notar um tríplice carisma, conferido à piedosa jovem. Chamamo-la antes de tudo: vidente, porque diante de numeroso povo, arrebatada em êxtase, foi maravilhosamente dedicada com o bondoso aspecto da Virgem. Chamamo-la de Mensageira da Virgem ao mundo, porque por ordem de Maria pregou penitência e oração ao povo; mandou aos sacerdotes, que naquele lugar construíssem um Santuário; predisse a todos a glória, a santidade e os futuros benefícios do mesmo lugar. Por fim vemos nela a testemunha da verdade, porque a muitos contradizentes, com o máximo candor de simplicidade, junto com suprema prudência e fortaleza de almas sobrenaturais, atestou constantemente a verdade das aparições e do mandamento confiado da Virgem, com admiração de todos os eclesiásticos e de juízes seculares.

Todas estas coisas levadas ao termo por divino impulso por uma ignorante e inculta menina, Deus a leva longe para a solidão de um convento, e quase desprezada pelo mundo, preparou-se para coisas as mais admiráveis, para que, pregada na cruz com Cristo e com Ele quase sepultada, atingisse profundamente na humildade a vida interior sobrenatural, e um dia na luz da santidade ressurgindo ao mundo, com este estábil testemunho da santidade unisse nova glória ao Santuário de Lourdes. Por isto, obedecendo ao chamamento de Deus, em julho de 1867 se transferiu para Nevers, para iniciar a vida religiosa naquela Casa-Mãe das Irmãs de Caridade e instrução cristã. Terminado o noviciado no mesmo ano, fez os votos  temporários, e onze anos depois fez os perpétuos. Admiravelmente fulguraram nela as virtudes, mas sua alma virgem foi principalmente adornada daquelas que mais convinha à disciplina predileta da Virgem Maria: Humildade profunda, terníssima pureza e ardente caridade. Provou-as e aumentou-as com as dores de uma longa enfermidade e angústias de espírito que a atormentaram suportando-as com suma paciência. Na mesma casa religiosa a humílima virgem ficou até a morte, que depois de recebidos os sacramentos da Igreja, invocando sua dulcíssima Mãe Maria, descansou santamente a 16 de Abril de 1879, no trigésimo sexto ano de idade, e duodécimo de vida religiosa.

Tendo ficado até este ponto como debaixo de alqueire da humildade, com a morte tornou-se resplandecente a todo mundo. Debaixo do pontificado de Pio X, em 1923, foi iniciado o processo de sua beatificação. A 14 de julho de 1925 o Papa Pio XI lançou o nome da serva de Deus nos fatos dos bem-aventurados. Em contemplação aos grandes e inegáveis milagres, que Deus se dignou de operar por sua serva, a causa foi reassumida em junho de 1926 e levada ao fim de 2 de julho de 1933.

 

REFLEXÕES

 

Bernadette, a humilde camponesa de Barkés, simples, ignorante, que aprendeu a ler só muito tarde, que não se sentou nunca na Academia, recebeu o mais nobre, glorioso, rutilante diadema: o da Santidade. Como essa camponesa se enganou, quando em 1866 foi pedir o véu negro das religiosas de Nevers, as delicadas filhas de D. Delaveyne! O seu fim era ali, toda a sua missão na terra findaria ali. Pura ilusão: na honra que a Igreja lhe conferiu solenemente, iniciou-se o seu reinado de glória, e o seu nome é aclamado agora no mundo inteiro.

No claustro de Nevers, findava apenas uma parte de sua missão perante a humanidade.

Lourdes, que ela dera a conhecer, espalhando pelas almas a nova das aparições e os desejos da Virgem de Massabielle, lá seguia, em ascensão espantosa, rápida, pela sua própria força. O mundo via a Virgem de Lourdes por intermédio de sua confidente, cujos olhos claros e cândidos afastavam toda a ilusão e embuste.

Bernadette, cavando o solo com os seus dedos afiados, fazia surgir, pela graça da Senhora, uma fonte de água do milagre, o mais fecundo capítulo da apologética moderna. Recebeu um ministério novo, confiado a todos os Santos. Cada um deles, porém, tem as suas características. As de Bernadette são a sua pequenez engrandecida pela força e pelo amor de Cristo; a sua condição humilde de ontem, elevada hoje, à de distribuidora de grandes lições ao gênero humano.

Mostrou-nos ela a Rainha dos Santos; hoje começa a ensinar-nos o espírito da santidade. Já não é o sobrenatural acima de nós, mas dentro de nós.

Já nos não convida a irmos às bordas do Gave beber da água milagrosa; o seu apelo é para que vamos ao grande rio sacramental, onde as almas bebem a santidade; e para que consideremos como a humanidade se refaz, se nobilita, se sublima, modelada em Cristo.

A sua voz dir-nos-á de futuro: Vede, homens pequeninos, materializados em gozos efêmeros, o que pode a ignorância, a humildade de uma camponesa iletrada, transformada pelo Espírito Santo.

É talvez mais bela esta segunda missão do que a primeira. Depois de nos revelar a Virgem, mostra-nos o Espírito Divino. Com uma diferença: é que a Virgem vimo-la através dos olhos dela: o Espírito vemo-la nela própria.