11 de Junho
São Barnabé, Apóstolo.
Embora não eleito por Nosso Senhor, Barnabé faz parte do Colégio apostólico e, como São Paulo, é enumerado entre os primeiros propagandistas da religião de Jesus Cristo. Descendente da tribo de Levi, Barnabé era natural da ilha de Cipre, onde a família possuía uma vivenda. Tinha primitivamente o nome de José. Discípulo de Gamaliel em Jerusalém, fez belos progressos na estudo das ciências e, sendo homem de caráter puro e espírito generoso, associou-se aos discípulos de Nosso Senhor. Depois da Ascensão de Jesus Cristo, foi Barnabé um dos primeiros que venderam os bens e entregaram aos Apóstolos o troco da venda. Ao que parece, gozava José de grande estima entre os Apóstolos, que lhe mudaram o nome para Barnabé, isto é, filha da consolação. Se dermos crédito a São Crisóstomo, o nome Barnabé foi-lhe dado por causa da grande habilidade de consolar os aflitos. O novo Apóstolo tomou logo parte ativa na administração da Igreja, e foi ele quem apresentou São Paulo aos fiéis de Jerusalém, a São Pedro e São Tiago. A presença de Paulo em Jerusalém, do perseguidor que fora da Igreja, causava certo temor entre os cristãos; por isso tornava-se necessária uma recomendação especial; e, aliás, esta foi tão bem feita, que São Pedro não pôs dúvida em hospedar o antigo perseguidor em sua própria casa, pelo espaço de quinze dias. Quatro ou cinco anos depois, vemo-lo em Antioquia, para onde os Apóstolos o tinham mandado; pois a Igreja de Antioquia tinha feito grandes progressos. As conversões tornaram-se tão numerosas, que Barnabé pediu o auxílio de São Paulo. Ambos trabalharam, com resultados esplêndidos na nova comunidade, e foram os fiéis de Antioquia os primeiros que receberam o nome de cristãos. Barnabé apresenta-se como Apóstolo zelosíssimo, cheio de fé e do Espírito Santo, sempre disposto para a luta contra as dificuldades, que se lhe opunham. A vida foi-lhe um continuado martírio, razão por que os Apóstolos, reunidos em Jerusalém, afirmaram em referência a ele e São Paulo, que esses dois Apóstolos sacrificaram a vida por amor do nome de Jesus Cristo. Foram eles os portadores das esmolas arrecadadas em Antioquia para os cristãos famintos em Jerusalém. Aos Apóstolos, reunidos em oração, veio do Espírito Santo a inspiração de separar Paulo e Barnabé, para a pregação do Evangelho entre os pagãos. Para esse fim lhes impuseram as mãos, invocando sobre eles o Espírito Santo. Sendo assim formalmente recebidos no Colégio dos Apóstolos, iniciaram os trabalhos apostólicos em Selêucia, na Síria. Associou-se-lhes João Marco, sobrinho de Barnabé, e os Apóstolos estenderam a missão a Salamina e Pafos no Chipre, e a Perge na Pamfília. Foi lá que João Marco, com bastante pesar de Barnabé, se separou dos companheiros. Paulo e Barnabé continuaram as viagens apostólicas e pregaram o Evangelho em Pisídia, na Icônia, licaônia e Listris. Os pagãos, estupefatos pelos milagres de que foram testemunhas oculares, julgaram ver em Paulo o deus Mercúrio; na figura impotente de Barnabé, porém, quiseram reconhecer o Deus Júpiter. Tão grande foi o entusiasmo pelos Apóstolos de Cristo, que quiseram construir um altar em sua honra e oferecer-lhes oblações, como a divindades, intento a que Barnabé e Paulo energicamente se opuseram. Após longas viagens, voltaram a Antioquia, onde então se pronunciou o desacordo entre os cristãos por causa da observação da lei Mosaica. Barnabé e Paulo discordaram da opinião dos cristãos de origem judaica, que julgavam obrigatória a observação daquelas leis para todos os cristãos, mesmo para aqueles que tinham vindo ou viessem do paganismo. Um Concílio apostólico, celebrado no ano de 51, em Jerusalém, decidiu essa questão no sentido favorável a Barnabé e Paulo. Barnabé aliou-se outra vez a João Marco e com ele trabalhou ainda muitos anos na vinha do Senhor. É opinião de muitos que haja chegado até Milão. São Carlos Borromeu, fazendo referência a São Barnabé, chama-o Apóstolo de Milão. Barnabé morreu na ilha de Chipre, vítima do fanatismo religioso dos judeus, que o lapidaram. O corpo foi descoberto em 485. Sobre o peito se lhe achava uma cópia do Evangelho de São Mateus, feita por ele mesmo.
REFLEXÕES
Jesus Cristo predisse aos Apóstolos grandes dificuldades, perseguições e uma morte tão ignominiosa, quão dorida. Essa predição cumpriu-se literalmente, como mostra a vida de São Barnabé, que, em companhia de São Paulo e de outros apóstolos, sofreu muito por amor ao Evangelho. Segundo a vontade de Jesus Cristo, fundador da Igreja, não deviam os apóstolos fazer exceção da lei, a que todos os cristãos haviam de ser e são sujeitos: a lei do sofrimento. O sofrimento é a característica de todos os que vão nas pegadas de Jesus Cristo. É fácil compreender disso a razão. Tribulações, perseguições, sofridas por causa da justiça, dão ao cristão ensejo de elevar-se na perfeição ao mais alto grau. Sofrer pacientemente, para dar satisfação à divina justiça, não é e não deve ser para o cristão coisa extraordinária. Sofrer, porém, injustiça e inocentemente, só porque trabalhamos na propagação do reino de Deus sobre a terra, só porque praticamos a virtude e a outros a ensinamos, para que também a pratiquem; se apesar de tudo sofremos, não só com paciência, sem formularmos uma queixa, mas com alegria e íntimo contentamento: então o nosso sofrimento é a glorificação do poder do cristianismo. Poder sofrer pela justiça de Deus é uma graça especial, como tal reconhecida pelos cristãos. “Ninguém de vós sofra como ladrão, ou assassino, ou malfeitor; mas sofrer por ser cristão não é nenhuma vergonha” (1 Pd 4, 15-16). O sofrimento nesta vida constitui para o cristão perfeito purgatório. Puro deve ser o que quer entrar no céu. Sofrer, portanto, nesta vida é grande e extraordinária graça de Deus, porque o sofrimento purifica e prepara a alma para o céu.
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