Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

25 de maio

 

São Beda São Gregóri VII Santa Maria Madalena de Pazzi

 

SÃO BEDA, O VENERÁVEL

 

Beda, natural de Jarrow, menino de 7 anos, foi confiado aos cuidados do santo Abade Benedito de Wearmouth. Mais tarde com o abade Ceolfredo foi transferido para o novo mosteiro de Jarrow, onde, com 19 anos, recebeu o diaconato e, com 30 anos, o presbiterato. Toda a sua vida Beda passou-a estudando, escrevendo e ensinando, sendo para todos sempre modelo de ótimo religioso, cumpridor dos seus deveres e observador fidelíssimo das prescrições da santa Regra. Via-se sempre rodeado de muitos discípulos e de amigos de alta categoria. Não havia ponto de doutrina, em que não se achasse admiravelmente versado; mas, principalmente era a Sagrada Escritura objeto das suas meditações e de perseverante estudo. Dominava perfeitamente o grego e o hebraico. Rica biblioteca que o abade Ceolfredo pode adquirir em Roma para o mosteiro de Jarrow, foi em seguida um manancial preciosíssimo para as pesquisas científicas do estudioso Beda. Por amor aos seus estudos rejeitou por diversas vezes, e constantemente a dignidade e o cargo de abade. Em seis grossos volumes, por ele compostos e escritos, documentou o seu rico saber, sua perícia em todos os ramos de ciência naquele tempo conhecidos.

Nesta grandiosa obra são encontrados tratados sobre a gramática, métrica, retórica, matemática, física, metereologia, astronomia, música, poesia, hagiografia; contêm cartas, 50 homilias, comentários exegéticos da Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento. A obra principal, porém que lhe importou o título de “pai da historiografia inglesa” é sua “História eclesiástica dos povos dos Anglos”.

Grande luminar que foi nas ciências teológicas como profanas, não menos eminente se evidenciou na piedade e na prática das virtudes cristãs e monásticas. A fama da sua sabedoria e não menos da sua santidade em breve transpôs os limites da sua terra natal. São Bonifácio Bispo, e Mártir chama-o “luz da Igreja; Lanfranc dá-lhe o título de “doutor dos Anglos”; o concílio de Aix-la-chapelle confere-lhe o grau de “doutor admirável”. Seus escritos eram lidos em público nas igrejas. Como não era lícito denominá-lo Santo, apelidaram-no de Venerável, título que lhe ficou até hoje.

Alquebrado pela idade e pelo trabalho incessante, doente por cinqüenta dias, nem por isso se dispensou do estudo dos Santos Livros; e tempo ainda achou para verter em ângulo o Evangelho de São João. Sentido a aproximação da morte, pediu que lhe fossem administrados os sacramentos da Igreja.

Deitado no chão, dos seus confrades se despediu. “Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo” foram suas últimas palavras; pronunciadas estas, entregou o seu espírito. Seu corpo, que exalava delicioso perfume, foi sepultado no mosteiro de Jarrow e mais tarde transladado para Durham.

Na ordem dos Beneditinos e em outras famílias religiosas já o considerava Doutor. O título de Doutor da Igreja universal foi-lhe concedido pelo Papa Leão XIII em 1899.

 

REFLEXÃO

 

Em São Beda, o Venerável vemos o Santo estudioso, sábio, entregue ao afanoso trabalho de vasculhar ricas bibliotecas para de dia para dia mais completar o tesouro da sua ciência. Mas em todo este seu laborioso tentâmen se orientou sempre pelas grandes máximas, condutoras que são de uma vida tendente à perfeição, à mais estreita união a Deus. Santo Afonso faz delas o seguinte elenco, imutáveis e aplicáveis a todos os tempos. “Tudo neste mundo acaba: os prazeres e as dores; a eternidade não passará jamais. – De que servem na hora da morte todas as grandezas deste mundo? – O que nos vem de Deus seja prosperidade, seja adversidade, tudo é bom; tudo é para o nosso bem. – É preciso deixar tudo para adquirir tudo. – Sem Deus, não se pode ter verdadeira paz. – Só uma coisa é necessária: amar a Deus e salvar a alma. – Só uma coisa se deve temer: o pecado. – Perdido Deus, tudo está perdido. – Quem nada deseja neste mundo, é senhor do mundo inteiro. – Quem ora, salva-se; quem não ora, se perde. – Custe Deus quanto queira; nunca é caro. Toda a pena é leve para quem mereceu o inferno. – Tudo sofre quem olha para Jesus na cruz. – Tudo o que não se faz para Deus, torna-se um tormento. – Quem só quer a Deus, possui todos os bens. – Feliz de quem pode dizer de coração: Jesus, só a vós quero e nada mais. Quem ama a Deus, achará doçura em tudo; quem não o ama, em coisa alguma encontrará verdadeiro prazer”.

 


 

SÃO GREGÓRIO VII

 

São Gregório é uma das figuras mais importantes, entre os papas da Igreja Católica, mas também poucos Pontífices tem sido perseguidos e caluniados como este defensor dos direitos da esposa de Cristo. Um historiador protestante, bastante imparcial e objetivo nas suas apreciações, diz desse Papa: “Gregório VII possui a intrepidez de herói, a prudência de senador, o zelo de profeta e era, sem dúvida, o diplomata mais genial da idade média”.

O século XI foi para a Igreja um período de grande humilhação. Não fosse ela instituição divina, edificada sobre rocha, os próprios filhos tê-la-iam destruído.

O clero superior e inferior, em sua maioria, tinha-se esquecido de sua alta missão. Freqüentíssimos eram os escândalos, e os príncipes seculares, quais lobos famintos, invadiam o aprisco do Senhor. Os reis Filipe e Augusto I da França, Boleslau II da Polônia, Henrique IV, imperador da Alemanha, eram verdadeiros monstros da imortalidade e crueldade. A palma, porém, coube ao imperador, que em crueldade, devassidão e ambição não achava semelhante.

Deus se amerciou de sua Igreja e deu-lhe um Papa, como as circunstância o exigiam. De origem pobre, Hildebrando, natural de Toscana, ainda menino deu demonstrações de um talento superior, razão por que os pais o mandaram à escola dos Cônegos de Latrão em Roma. Hildebrando não desmentiu as esperanças nele depositadas. Moço ainda, mas já uma celebridade em ciência e virtudes, foi eleito Prior do Convento de Cluny.

Deus, porém, tinha-o reservado para missão mais alta. Chamado a Roma, Leão IX escolheu-o para seu secretário. Aos sucessores Vitor II, Estevão IX, Nicolau II e Alexandre II, prestou Hildebrando os mais relevantes serviços. À sua circunspeção, prudência e coragem imperturbável deve a Igreja a vitória, em questões complicadíssimas. Um arcebispo francês teve ocasião de verificar isto, num sínodo celebrado em Reims. Acusado de simonia, justificou-se por meio de testemunhas assalariadas. Hildebrando levantou-se imediatamente e com uma franqueza verdadeiramente apostólica, perguntou ao Prelado: Crês que o Espírito Santo é da mesma essência do Pai e do Filho?” – “Creio”, respondeu o interpelado. “Dize então, continuou Hildebrando, glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. O Arcebispo pode apenas proferir: “Glória ao Pai e ao Filho”, não havendo possibilidade de pronunciar o resto. Este castigo visível tocou-lhe o coração, fazendo-o confessar o crime. Grande foi a repercussão que teve este juízo de Deus. Quarenta e cinco bispos e vinte e sete Prelados depuseram espontaneamente a dignidade criminosamente adquirida, e fizeram penitência.

O ano de 1073 trouxe-lhe a eleição à suprema dignidade do Cristianismo. Hildebrando, prevendo que o pontificado seria agitadíssimo, procurou anular a eleição e mandou mensageiros ao imperador com o pedido de não lhe dar confirmação. Grande parte do Episcopado alemão num certo pressentimento do que haviam de esperar da energia de Hildebrando, insistiu com o Imperador para que não reconhecesse a eleição. Henrique, porém, sancionou-a e, Hildebrando, adotando o nome de Gregório VII aceitou a Tiara pontifícia. Ao receber esta notícia, São Pedro Damião contentíssimo exclamou: “Agora será calcada a cabeça miliforme da serpente peçonhenta, e será posto um termo aos negócios torpes; o falsário Simeão Mago não mais cunhará moedas na Igreja; voltará o tempo áureo dos Apóstolos, revigorará a disciplina eclesiástica, serão derrubadas as mesas dos vendilhões...”

Gregório convocou o Concílio Lateranense e renovou as antigas leis da Igreja, que existiam, sobre o celibato dos sacerdotes, contra a simonia, e fez incorrer nas censuras eclesiásticas os bispos da França, que tinham rejeitado os decretos pontifícios, como impraticáveis e irrazoáveis. Dos bispos da Alemanha, só dois tiveram a coragem de aceitar e por em execução as determinações do Papa. O mais descontente de todos foi o Imperador da Alemanha, que pelas proibições do Papa, se via prejudicado no negócio mais rendoso. Wiberto, arcebispo de Ravenna, ex-chanceler do imperador na Itália, promoveu uma conspiração contra o Papa. Na estação da Missa da meia noite de Natal os conspiradores, chefiados por Cencio, invadiram a Igreja e apoderaram-se da pessoa do Papa, para levá-lo à prisão. O povo, porém, libertou seu Pastor e Cêncio teria sido apedrejado, se Gregório não lhe tivesse generosamente perdoado.

Um segundo Concílio, celebrado em Roma, no ano de 1075, confirmou as determinações anteriores, e fez intimação ao imperador para que, sob pena de excomunhão, respondesse pelos seus crimes. Henrique respondeu com um decreto, elaborado por bispos alemães, que declararam o Papa destituído de toda a dignidade e autoridade. “Falso monge, dizia o Decreto, carregado da maldição de todos os bispos e condenado pelo nosso tribunal, desce e renuncia à cadeira apostólica, indignamente usurpada”.

Gregório, em vez de descer lançou a ex-comunhão contra Henrique e os Prelados rebeldes e desligou-lhes os súditos do juramento de fidelidade. Os príncipes da Alemanha, há muito cansados da tirania e arbitrariedade do imperador, reunidos todos na Dieta de Tribur (1076), declararam-no deposto, se, no prazo de um ano, não procurasse ser absolvido da excomunhão. Henrique empreendeu tudo, para se livrar da terrível censura. A vontade da nação tinha-lhe decretado o comparecimento à grande Dieta de Augsburgo, que estava marcada para 2 de fevereiro de 1077 e na qual devia justificar-se perante o Papa e os representantes da nação. Proibira-se-lhe igualmente que se ausentasse do território alemão, antes da celebração da Dieta. Henrique não se sentiu com coragem de sujeitar-se a essa humilhação e podia prever, também, que a Dieta de Augsburgo, expondo-lhe às claras todos os crimes, declararia sua solene deposição. Para evitar isto, tratou de obter clandestinamente a absolvição da excomunhão. Sabendo que Gregório se achava no castelo da condessa Matilde, em Canossa, para lá se dirigiu, em traje de penitente e, apesar do frio intensíssimo de inverno, ficou descalço e exposto à inclemência da estação, durante três dias, esperando obter audiência do Papa.

Este se negou terminantemente a recebê-lo, porque Henrique se tinha comprometido a não sair da Alemanha e apresentar-se à Dieta de Augsburgo. Não era em Canossa que devia dar satisfação à nação e ao Papa. Afinal Gregário cedeu às instâncias da condessa Matilde e recebeu Henrique em audiência. Este então aceitou as condições que lhe foram impostas e com juramento prometeu executá-las ao pé da letra, isto é, apresentar-se à Dieta de Augsburgo, voltar para a Alemanha e nunca mais fazer aliança com os príncipes e bispos simonistas. Gregório absolveu-o e deu-lhe a sagrada Comunhão. Mal tinha saído de Canossa e ainda se achava na Itália, esquecido já das promessas, aliou-se com os príncipes e bispos inimigos do Papa e, uma vez na Alemanha, moveu guerra contra os seus adversários. Os príncipes elegeram um novo Imperador na pessoa de Rodolfo de Suábia e Henrique foi excomungado pesa segunda vez.

Este reuniu um concílio de bispos rebeldes de Voldsheim e Henrique marchou sobre Roma, para tirar vingança do Papa. Só depois de um assédio de dois anos tomou a cidade, onde recebeu a coroa imperial das mãos do antipapa. Gregório retirou-se para Salermo, onde morreu em 25 de maio de 1085. As últimas palavras que proferiu foram: “Amei a justiça e odiei a iniqüidade, eis porque morro no exílio”.

Henrique não foi feliz com as conquistas. Graves distúrbios chamaram-no para a Alemanha onde achou os filhos em franca rebelião contra o pai. Perseguido e amaldiçoado pelos filhos, Henrique teve um fim triste, ao passo que Deus glorificou por estupendos milagres o túmulo do seu fiel servo Gregório.

 

REFLEXÃO

 

O Pontificado de Gregório VII é um dos mais agitados que a história eclesiástica conhece. Se a Igreja fosse instituição humana, teria achado seu temo numa época em que a indisciplina e a corrupção dos costumes tinha invadido todas as camadas da sociedade cristã, inclusive o clero superior e inferior. A Igreja não só saiu vitoriosa dessas lutas, como também de outras, como as perseguições abertas e disfarçadas de todos os séculos, até os nossos dias. Surgiram e desapareceram impérios, mas a Igreja ficou imutável, e firme ficara até o fim dos séculos. Qual á a instituição humana, qual o império, a república, de que se possa afirmar a mesma coisa? Se o mundo inteiro se levantar contra a Igreja Católica, essa poderá sofrer, mas sempre terá em seu favor, como garantia absoluta e certíssima, a palavra profética do seu fundador: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Onde está o Papa, aí está Pedro, e onde está Pedro, aí está a Igreja de Cristo.

O Papa como legítimo sucessor de Pedro, é o representante de Jesus Cristo na terra, o depositário do supremo poder da Igreja.

A Igreja, como reino de Jesus, não é deste mundo. A este reino pertencem todos que acreditam na doutrina de Cristo e fazem uso dos meios de santificação. O poder supremo Cristo entregou-o a Pedro, dizendo: “Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 17) isto é, a ti confio o meu rebanho, para que o leves a boas pastagens e dele trates com todo o zelo. O Papa é o supremo Pastor, que zela e trata do bem-estar espiritual das ovelhas. Desde a Ascensão de Nosso Senhor, não há faltado à Igreja bons Pastores que, com autoridade suprema e poder apostólico tem defendido o rebanho contra os mercenários e os lobos, expulsando os vendilhões que com os seus abusos, profanam a Igreja de Cristo.

Daí graças a Deus, que vos chamou à sua santa grei. Tende muito respeito à pessoa e à autoridade do Papa e rezai por ele e seus conselheiros, para que governe a Igreja com sabedoria e fortaleza.

 


 

SANTA MARIA MADALENA DE PAZZI

 

Santa Maria Madalena de Pazzi, filha de pais ilustres, modelo perfeito de virtude e santidade, nasceu em Florença no ano de 1566. No batismo foi chamada Catarina, nome que no dia da entrada para o convento foi mudado para Maria Madalena. É uma das eleitas do Senhor, que desde a mais tenra infância dera indícios indubitáveis de futura santidade. Menina ainda, achava maior prazer nas visitas à Igreja ou na leitura da vida dos Santos. Apenas tinha sete anos de idade e já começava a fazer obras de mortificação. Abstinha-se de frutas, tomava só duas refeições por dia, fugia dos divertimentos, para ter mais tempo para ler os santos livros, principalmente os que tratavam da Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Assim se explica o grande amor a Jesus Cristo, que tantas coisas maravilhosas lhe operou na vida. Não tendo ainda a idade exigida, não lhe era permitido receber a sagrada Comunhão. Foi com indescritível alegria que recebeu, pela primeira vez, o pão dos Anjos. Ela mesma afirmou muitas vezes que o dia da primeira Comunhão, se consagrou a Deus, pelo voto de castidade perpétua. Quando contava doze anos, nos seus exercícios de mortificações, chegou a usar um hábito grosseiro, a dormir no chão, a por uma coroa de espinhos na cabeça e a castigar por muitos modos o seu delicado corpo, manifestando assim o ardente desejo de tornar-se cada vez mais semelhante ao divino Esposo. Quando diversos jovens se dirigiram aos pais de Maria, para obter-lhe a mão, ela pode declarar-lhes: “Já escolhi um Esposo mais nobre, mais rico, ao qual serei fiel até à morte”. Vencidas muitas dificuldades, Maria conseguiu entrada no convento das Carmelitas em Florença. Após a vestição, se prostrou aos pés da mestra do noviciado e pediu-lhe não a poupasse em coisa alguma, e a ajudasse a adquirir a verdadeira humildade. Tendo recebido o nome de Maria Madalena, tomou a resolução de seguir a grande Penitente no amor a Jesus Cristo e na prática de heróicas virtudes. No dia da Santíssima Trindade fez a profissão religiosa com tanto amor, que durante duas horas ficou arrebatada em êxtase. Estes arrebatamentos repetiram-se extraordinariamente, e Deus se dignou de dar à sua serva instruções salutares e o conhecimento de coisas futuras. O fogo do divino amor às vezes ardia com tanta veemência que, para aliviá-la, era preciso que lavasse as mãos e o peito com água fria. Em outras ocasiões tomava o crucifixo nas mãos e exclamava em voz alta: “Ó amor! Quão pouco se vos conhece! Ah! Vinde, vinde, ó almas, e amai a vosso Deus!” Desejava ter voz de uma força tal, que fosse ouvida até os confins do mundo. Só uma coisa queria pregar aos homens: “Amai a Deus!” Maior sofrimento não lhe podia ser causado, do que dando a notícia de Deus ter sido ofendido. Todos os dias oferecia a Deus orações e penitências, pela conversão dos infiéis e pecadores, e às irmãs, pedia, que fizessem o mesmo. Na ânsia de salvar almas, oferecia-se a Deus para sofrer todas as enfermidades, a morte e ainda os sofrimentos do inferno, se isto fosse realizável, sem precisar odiar e amaldiçoar a Deus. Em certa ocasião disse: “Se Deus, como a Santo Tomás de Aquino, me perguntasse qual prêmio desejo como recompensa, eu responderia: “Nada, a não ser a salvação das almas”. Os dias de Carnaval eram para Maria Madalena dias de penitência, de oração e de lágrimas, para aplacar a ira de Deus provocada pelos pecadores.

Para o corpo era de uma dureza implacável; não só o castigava, impondo-lhe o cilício, obrigando-o a vigílias, mas principalmente o sujeitava a um jejum rigorosíssimo; durante vinte e dois anos teve por único alimento pão e água.

Não menos provada foi sua alma. Deus houve por bem mandar-lhe grandes provações. Durante cinco anos, sofreu ininterruptamente os mais rudes ataques de pensamentos contra a fé, sem que por isso se tivesse deixado levar pelo desânimo. Muitas vezes se abraçava com a imagem do crucifixo, implorando a assistência da graça divina. Nos últimos três anos de vida, sofreu diversas enfermidades. Deus permitiu que nas dores ficasse privada ainda de consolações espirituais. Impossibilitada de andar, era forçada a guardar o leito. Via-se então um fato extraordinário; Quando era dado o sinal para a Missa ou Comunhão, ela se levantava, ia ao coro e assistia a Missa toda. De volta para a cela, caía de novo na prostração e imobilidade. Quando lhe aconselharam abster-se da Comunhão, declarou ser-lhe impossível, sem o conforto deste Sacramento, suportar as dores. No meio dos sofrimentos, o seu único desejo era: “Sofrer, não morrer”. Ao confessor, que lhe falou da probabilidade de um fim próximo dos sofrimentos, ela respondeu: “Não, meu Padre, não desejo ter este consolo, desejo poder sofrer até o fim da minha vida”. Quando os médicos lhe comunicaram a proximidade da morte, Maria Madalena recebeu os sacramentos da Extrema Unção e do Viático com uma fé, que comoveu a todos que estavam presentes. Como se fosse grande pecadora, pediu a todas as irmãs perdão das suas faltas. O dia 25 de maio de 1607 libertou-lhe a alma do cárcere do corpo. Deus glorificou-a logo, por um grande milagre. O corpo macerado pelas contínuas penitências, doenças, jejuns e disciplinas, rejuvenesceu, exalava um perfume delicioso que enchia toda a casa. Cinqüenta e seis anos depois, em 1663, quando se lhe abriu o túmulo, foi lhe encontrado o corpo sem o menor sinal de decomposição, percebendo-se ainda o celeste perfume. Beatificada em 1626 pelo Papa Urbano VIII, foi inserta no catálogo dos Santos em 1669, pelo Papa Clemente IX.

 

REFLEXÃO

 

Maria Madalena sofreu durante cinco anos, as mais terríveis tentações de desespero, contra a fé e a pureza; clamando a Deus por socorro, com a graça venceu todas as dificuldades. Satanás costuma molestar com tais tentações as pessoas que se dedicam ao serviço do Senhor. “Aqueles a quem julga ter já em seu poder, deixa em paz”, diz São Gregório:” “Se sois perseguidos por tentações, não desanimeis. Pedi a Deus a graça e Ele não vos deixará cair. Deus é fiel e não permite que sejais tentados mais do que podem as vossas forças” (1Cor 10, 13). Oferece-vos a graça, para que possais vencer a tentação. Além disto tendes a vossa vontade, que não pode ser forçada por ninguém. “Eis a fraqueza do inimigo” – diz São Bernardo – “que não poderá vencer senão àquele, que o consentir. O inimigo pode excitar à tentação, mas de nós depende consenti-la ou rejeitá-la”.