Janeiro de 2010.
Nunca antes como hoje senti tão
próximo o abraço da Igreja através da oração, da
solidariedade e comunhão espiritual na dor pelos meus irmãos
coptas, atacados e mortos por fundamentalistas muçulmanos na
noite do Santo Natal.
Este abraço é um suporte necessário para
continuar a dar testemunho do Evangelho do amor e do perdão
em nossa terra, a qual foi abençoada pela presença dos
antigos Patriarcas e Profetas, e hospedou a Sagrada Família
quando fugia perseguida de Belém.
Infelizmente
nossa comunidade copta tem sido continuamente atacada e
ferida. Lembro-me ainda
que, na noite da Páscoa passada, no vilarejo de Hagazza, a
25 quilômetros de Luxor, os
fundamentalistas islâmicos assassinaram três coptas, um
deles católico e os outros dois ortodoxos.
Foram alvejados na estrada, enquanto caminhavam em direção à
igreja copta católica para participar da missa.
Infelizmente, é
preciso reconhecer que existe um plano terrorista islâmico,
que pretende transformar nossa alegria nas celebrações
cristãs em luto e tristeza.
As seis pessoas assassinadas em Nag
Hammadi eram dois meninos, dois jovens, uma senhora e um
ancião. Além destes,
nove pessoas ficaram feridas, duas
das quais se encontram em estado muito grave.
São integrantes da comunidade
copta ortodoxa, intimamente ligada às famílias coptas
católicas por laços de parentesco.
As duas comunidades coptas são, de fato,
muito próximas, e frequentemente celebram matrimônios
“mistos” entre jovens ortodoxos e católicos, de modo
que, quando uma comunidade é atingida pela dor, é inevitável
que a outra também sofra.
Depois dos massacres ocorridos no Natal, nos
reunimos para orar pelos mortos em 8 de janeiro, uma data
muito especial na qual a Igreja Copta, segundo seu
calendário litúrgico, lembra as crianças martirizadas em
Belém, o massacre dos inocentes ordenado por Herodes na
tentativa de eliminar o Menino Jesus.
Foi impressionante participar deste
momento em que todos os cristãos de Luxor, ortodoxos,
católicos e protestantes, se reuniram na catedral ortodoxa
para orar pelo descanso eterno de nossos mortos, verdadeiros
mártires de nosso tempo, e para partilhar da dor de suas
famílias.
Eu estava
pessoalmente presente, acompanhado de uma multidão de
sacerdotes, religiosas e fiéis católicos.
Minhas reflexões nessa circunstância se voltaram para o
massacre das crianças de Belém: após o nascimento de Jesus,
Maria, José e seu pequeno bebê encontraram refúgio e paz no
Egito, enquanto em Belém só havia prantos e lamentações.
Hoje, cabe a nós sacrificar nossas vidas por
Jesus e participar da dor das mães de Belém. Nossos
antepassados, nos primeiros séculos cristãos, durante as
perseguições, ofereceram seu sangue e suas vidas a Cristo.
Não podemos nos
esquecer que hoje, no mundo, não somos os únicos a sofrer, e
que em muitos outros países os cristãos estão sendo
perseguidos e discriminados, como ocorre no Iraque, no
Paquistão, no Afeganistão, na Malásia, no Sudão...
Esta situação
exige de todos, em toda parte do mundo, orações incessantes
pedindo a Deus a graça da Paz.
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