Amados Irmãos no Episcopado,
A vossa visita ad Limina tem lugar
no clima de louvor e júbilo pascal que envolve a Igreja
inteira, adornada com os fulgores da luz de Cristo
Ressuscitado. Nele, a humanidade ultrapassou a morte e
completou a última etapa do seu crescimento penetrando nos
Céus (cf. Ef 2, 6).
Agora Jesus pode livremente retornar sobre os seus passos e
encontrar-Se como, quando e onde quiser com seus irmãos. Em
seu nome, apraz-me acolher-vos, devotados pastores da Igreja
de Deus peregrina no Regional Norte 2 do Brasil, com a
saudação feita pelo Senhor quando se apresentou vivo aos
Apóstolos e companheiros: «A paz esteja convosco»
(Lc 24,36).
A vossa presença aqui tem um sabor
familiar, parecendo reproduzir o final da história dos
discípulos de Emaús (cf. Lc 24,
33-35): viestes narrar o
que se passou no caminho feito com Jesus pelas vossas dioceses
disseminadas na imensidão da região amazônica, com as suas
paróquias e outras realidades que as compõe como os movimentos
e novas comunidades e as comunidades eclesiais de base em
comunhão com o seu bispo (cf.
Documento de Aparecida, 179).
Nada poderia alegrar-me mais do que saber-vos em Cristo e com
Cristo, como testemunham os relatórios diocesanos que me
enviastes e que vos agradeço. Reconhecido estou de modo
particular a Dom Jesus Maria pelas palavras que acaba de me
dirigir em nome vosso e do povo de Deus a vós confiado,
sublinhando a sua fidelidade e adesão a Pedro. No regresso,
assegurai-o da minha gratidão por tais sentimentos e da minha
Bênção, acrescentando: «Realmente o Senhor ressuscitou e
apareceu a Simão» (Lc 24,34).
Nesta aparição, palavras – se as
houve – diluíram-se na surpresa de ver o Mestre redivivo, cuja
presença diz tudo: Estive morto, mas agora vivo e vós vivereis
por Mim (cf. Ap 1,18).
E, por estar vivo e ressuscitado, Cristo pode tornar-Se «pão
vivo» (Jo 6, 51)
para a humanidade. Por isso sinto que o centro e a fonte
permanente do ministério petrino estão na Eucaristia, coração
da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da
Igreja. Podeis assim compreender a
preocupação do Sucessor de Pedro por tudo o que possa ofuscar
o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo
continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice
consagrados.
Uma menor
atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo
Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido
cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não
aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade
atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e
deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor.
Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que
participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar,
abrir-se, receber… É óbvio que, neste caso, receber não
significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá
acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer
pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da
verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina,
visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e
dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina,
mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e
subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à
contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos»
(Const. Sacrosanctum Concilium,
2). Se na liturgia não
emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está
realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a
liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da
sua presença criadora.
Como estão
distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação,
decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras
religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa
Missa (cf. Redemptionis Sacramentum,
79)! O mistério eucarístico
é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável
predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambiguidades
e reduções», particularmente quando, «despojado do seu valor
sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido
e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa»
(Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10).
Subjacente a várias das motivações aduzidas, está uma
mentalidade incapaz de aceitar a possibilidade duma real
intervenção divina neste mundo em socorro do homem. Este,
porém, «descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as
arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que preso com
cadeias» (Const. Gaudium et spes,
13). A confissão duma
intervenção redentora de Deus para mudar esta situação de
alienação e de pecado é vista por quantos partilham a visão
deísta como integralista, e o mesmo juízo é feito a propósito
de um sinal sacramental que torna presente o sacrifício
redentor. Mais aceitável, a seus olhos, seria a celebração de
um sinal que corresponda a um vago sentimento de comunidade.
Mas o culto
não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão
ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que
Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja
pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na
Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu
primeiro a ela no sacrifício da Cruz»
(Exort. ap. Sacramentum caritatis, 14).
A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir
ampliar esta presença ao mundo inteiro.
«Fica conosco, Senhor!»
(cf. Lc 24, 29):
estão rezando os filhos e filhas do Brasil a caminho do XVI
Congresso Eucarístico Nacional, daqui a um mês em Brasília,
que deste modo verá o jubileu áureo da sua fundação
enriquecido com o “ouro” da eternidade presente no tempo:
Jesus Eucaristia. Que Ele seja verdadeiramente o coração do
Brasil, donde venha a força para todos homens e mulheres
brasileiros se reconhecerem e ajudarem como irmãos, como
membros do Cristo total. Quem quiser viver, tem onde viver,
tem de que viver. Aproxime-se, creia, entre a fazer parte do
Corpo de Cristo e será vivificado! Hoje e aqui, tudo isto
desejo à esperançosa parcela deste Corpo que é o Regional
Norte 2, ao conceder a cada um de vós, extensiva a quantos
convosco colaboram e a todos os fiéis cristãos, a Bênção
Apostólica.
Vaticano, 15 de abril de 2010
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