Os PROTESTANTES
mentindo, perseguindo e
seduzindo os católicos, dizem:
“Só a
Bíblia é regra de fé... mais nada”.
Resposta aos PROTESTANTES:
DOIS PONTOS
DE APOIO: BÍBLIA E TRADIÇÃO |
Deus ensinou aos homens a verdade
religiosa por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que veio completar, de maneira maravilhosa, as revelações
divinas feitas por intermédio dos Profetas no Antigo
Testamento: “Deus, tendo
falado muitas vezes e de muitos modos noutro tempo a nossos
pais pelos Profetas, ultimamente nestes dias nos falou pelo
Filho, ao qual constituiu herdeiro de tudo, por quem fez
também os séculos” (Hb 1,1-2).
Essa doutrina verdadeira emanada de
Deus, Ele quer que chegue ao conhecimento de todos:
“Deus
quer que todos os homens se salvem e que cheguem a ter o
conhecimento da verdade”
(1Tm 2, 4).
Como é que todos os homens podem ser
devidamente instruídos nas verdades reveladas por Deus?
Para isto Cristo instituiu a sua Igreja encarregada de
ensinar a todos os povos e vela sempre para que ela não se
deixe corromper pelo erro na sua luta contínua contra as
heresias, ficando sempre de pé a divina promessa de que
“as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18); porque
a Igreja tem que ser sempre
“a coluna e
firmamento da verdade” (1 Tm 3,15).
Em que se firma a Igreja para sustentar a
doutrina que nos apresenta? Não há dúvida que um de
seus pontos de apoio é a Bíblia Sagrada, escrita sob
a inspiração do Espírito Santo, de modo que tudo o que a
mesma ensina é a palavra de Deus a nós revelada.
Mas a Bíblia é um livro de muito
difícil interpretação,
muito sujeito a ser torcido e adulterado por aqueles que
ensinam doutrinas falsas, procurando coonestá-las
(aparência de honesto) com a palavra de Deus.
Mesmo ANTES do Protestantismo,
tão fértil em extravagâncias em matéria doutrinária,
mesmo desde os princípios do Cristianismo têm aparecido
teorias tão esquisitas que nos deixam boquiabertos e que se
baseavam em má interpretação da Bíblia. Santo
Agostinho refuta os maniqueus que das palavras
de Cristo: “Eu sou a luz do
mundo” (Jo 8, 12) deduziam ser Cristo este
sol material que nós vemos no espaço e que nos aquece e dá
vida às plantas. O mesmo Santo Agostinho nos fala de uns
hereges chamados Hermianos e Seleucianos,
os quais afirmavam que se deve batizar com fogo e não
com água, baseados na falsa interpretação das
palavras de São João Batista, com relação a Cristo:
“Eu na verdade vos batizo em água...
Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo”
(Mt 3, 11), texto este de que se servem os protestantes da
seita dos Quacres, para, desprezando outras
passagens da Bíblia, afirmarem que o batismo de água não é
necessário nem obrigatório.
Juliano, o Apóstata, abusa da parábola do
ecônomo infiel (Lc 16, 1-9), que, aliás, é de sutil
interpretação, para acusar impiamente a Cristo de estar
ensinando a trampolinagem e desonestidade nos negócios,
quando o intuito do Divino Mestre é exortar aos filhos da
luz a que usem de tanto ardor e atividade na prática da
virtude como usam os filhos das trevas em defesa de seus
interesses e na prática do mal. Em todos os tempos, os
hereges se têm procurado apoiar nas Escrituras
(pessimamente interpretadas) para sustentar os seus
erros, e nós sabemos como nos nossos dias os espíritas
se servem do ensino de Cristo de que o homem precisa
renascer e renascer da água e do Espírito para entrar no
reino de Deus (Jo 3, 3-5), palavras em que
Cristo nos fala de um renascimento espiritual pelo Batismo
e querem com isto ensinar um renascimento material,
pela reencarnação.
Pode a Bíblia ficar à mercê das mais
loucas, grosseiras e absurdas interpretações?
De que serviria Deus deixar a sua palavra consignada num
grande livro, se os homens tivessem plena liberdade de
falseá-la ou estivessem completamente desorientados para
penetrar-lhe o verdadeiro sentido? Ou a Igreja sabe
qual é a verdadeira doutrina de Deus que está contida na
Bíblia, de modo que possa orientar os fiéis neste sentido,
mostrando onde está a interpretação legítima e onde está a
interpretação capciosa e falsificadora, ou então não passa
de uma inutilidade esta Igreja que Cristo fundou e à qual
mandou ensinar a todos os povos:
“Ide, pois, e ensinai todas as gentes” (Mt
28, 19).
Daí não se segue que a Igreja tenha que
decidir, uma por uma, todas as questões que possam surgir a
respeito das palavras da Escritura. A Bíblia é um livro
maravilhoso e variadíssimo que contém
ensinamentos de inegável necessidade para a nossa instrução,
como tudo o que se refere à natureza de Deus e da nossa
alma, a doutrina de Jesus sobre a salvação, os meios
necessários para obtê-la, as nossas obrigações, enfim tudo o
que nos é imprescindível saber a respeito da Religião
Verdadeira que o Verbo de Deus desceu do Céu para nos
ensinar. Uma vez bem orientado
para colher da Bíblia fielmente interpretada os pontos
essenciais da sua doutrina, ainda resta ao homem neste livro
de sabedoria imensa, que é a Bíblia, uma boa
quantidade de pequenas questões que fica aos eruditos, aos
especialistas, aos grandes mestres discutir e analisar
livremente: Maria, irmã de Marta era a mesma Maria
Madalena ou era outra? O
batismo administrado pelos Apóstolos durante a vida de
Cristo (Jo 4, 2) era o mesmo batismo de Cristo, pelo qual se
recebe o dom do Espírito Santo (At 2, 38) ou era um batismo
de penitência igual ao do Precursor? O bom ladrão blasfemou
a princípio e depois se converteu (Mt 27, 44) ou se portou
convenientemente desde o começo e o blasfemador foi só o seu
companheiro (Lc 23, 39-40) empregando a Bíblia no texto de
São Mateus, por sinédoque, o plural pelo singular?
Estas e muitas outras pequenas questões a
Igreja deixa discutir à vontade, porque são minúcias que não
atingem diretamente a doutrina de Jesus.
Mas perguntarão os protestantes:
Se a Bíblia, como dizem os católicos, é tão difícil de
interpretar, como sabe a Igreja que a interpretação
dela é verdadeira? Qual o elemento que possui a
Igreja, a pedra de toque para conferir se é legítima ou
errônea uma interpretação?
– Vocês, protestantes, perguntam isto
precisamente porque estão visivelmente desorientados neste
ponto. Vocês se baseiam só no seu próprio raciocínio, no seu
modo de ver as coisas, quando querem interpretar a Bíblia e
por isto se perdem inteiramente, porque cada um raciocina à
sua maneira e os modos de ver são diversos de indivíduo para
indivíduo. É que vocês só começaram a interpretar a
Bíblia do século XVI para cá. Mas a Igreja vem do
princípio, vem do tempo dos Apóstolos. Estes eram homens
iluminados especialmente pelo Espírito Santo e escolhidos
por Deus para propagar a sua doutrina. Jesus vela sempre
carinhosamente sobre a Igreja por Ele fundada,
e um dos sentimentos que sempre lhe inspirou foi o cuidado
extremo em não se afastar, por consideração alguma, da
doutrina recebida da boca dos Apóstolos. Ela é ferrenhamente
apegada à sua TRADIÇÃO e era isto já o que os
Apóstolos recomendavam no seu tempo:
“E assim, irmãos, estai firmes e
CONSERVAI as TRADIÇÕES que aprendestes, ou de PALAVRA ou por
carta nossa”
(2 Ts 2, 15),
e: “Nós vos intimamos, em nome
de Nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o
irmão que andar desordenadamente e não segundo a TRADIÇÃO
que ele e os mais receberam de nós” (2 Ts 3,
6), e também:
“GUARDA A FORMA DAS SÃS PALAVRAS QUE ME TENS
OUVIDO na fé e no amor em Jesus Cristo. GUARDA O BOM
DEPÓSITO pelo Espírito Santo que habita em nós”
(2 Tm 1, 13-14), e ainda: “Eu
vos louvo, pois, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim
e guardais as MINHAS INSTRUÇÕES COMO EU VO-LAS ENSINEI”
(1 Cor 11, 2).
Se os judeus tinham lá as suas tradições
errôneas, contrárias à lei de Deus, isto não é conosco, é lá
com eles; não é de admirar, porque Deus não disse aos
judeus como disse à sua Igreja:
“Eu estou convosco todos os dias,
até a consumação do século” (Mt 28, 20);
Deus permitiu mesmo o fracasso da religião judaica, para
que o mundo sentisse a necessidade absoluta de Cristo e da
sua Igreja. O fracasso DESTA é que, como
Ele prometeu, não permitirá nunca.
Instruída desde o início pelos Apóstolos e
sempre solícita em conservar o BOM DEPÓSITO
que lhe foi confiado, a Igreja tem um ponto de referência
valiosíssimo para julgar do valor ou não de uma
interpretação que lhe é apresentada. A Bíblia é
infalível; o ensino dos Apóstolos também o
era. Não pode haver contradição entre ambos.
Se os Apóstolos ensinaram a existência da Santíssima
Trindade, a divindade de Jesus Cristo, a divindade e
personalidade do Espírito Santo, a presença real de Jesus
Cristo na Santíssima Eucaristia, a existência do inferno, a
necessidade do batismo de água, a indissolubilidade do
matrimônio... e aparecem NOVOS “INTÉRPRETES”
negando estas doutrinas, a Igreja podia e pode
CONDENAR tais interpretações, baseando-se neste
princípio: Não, não pode ser.
Vocês estão errados, porque não foi esta a doutrina que
recebemos dos Apóstolos e que sempre temos ensinado desde o
começo.
É precisamente porque foi escrito no gênero
histórico e no epistolar, como quem narra a vida de uma
pessoa, ou os primeiros passos de uma instituição ou como
quem trata, em carta, de assuntos de urgência, que o Novo
Testamento, sem deixar de ser uma luminosa mensagem que nos
aponta o caminho real da salvação, focalizando a vida e os
ensinamentos de Jesus e a constituição da Igreja, ainda não
é uma exposição minuciosa e completa de tudo o que nos é
necessário saber, no interesse mesmo da nossa própria alma.
Vamos dar um exemplo.
Sabemos que há uns pecados maiores do que
outros; e que há pecados mortais e veniais:
“O que
me entregou a ti tem MAIOR pecado”
(Jo 19,11), disse Jesus a Pilatos. Até
de uma palavra inútil havemos de prestar contas a Deus:
“De toda a palavra OCIOSA que
falarem os homens darão conta dela no dia do juízo”
(Mt 12, 36). E é claro que aquele que proferiu uma
palavra inútil, porém não ofensiva, não vai ser condenado ao
inferno como está arriscado a sê-lo quem diz uma palavra de
calúnia ou de blasfêmia. Ninguém nega que nos é muito
importante saber quais são os pecados graves e os pecados
leves. Mas a Bíblia dá-nos indicações gerais, é certo (1
Cor 6, 9-10; Ap 22, 15), mas não nos faz uma exposição
completa neste sentido.
Escritos os Evangelhos, não com a intenção de
expor minuciosamente a doutrina, ponto por ponto, mas
principalmente de relatar a vida de Jesus (e relatando a
sua vida, vão relatando espaçadamente a sua doutrina),
não nos transmitem tudo quanto ensinou Jesus. São João
escreveu o último Evangelho muitos anos depois dos três
primeiros evangelistas. E no fim de tudo
confessa que está muito longe de ter escrito todos os
acontecimentos da vida do Divino Mestre:
“MUITAS OUTRAS
COISAS, porém, há ainda, QUE FEZ JESUS, as quais, se se
escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo
poderiam caber os livros que delas se houvessem de escrever”
(Jo 21, 25).
Os Atos dos Apóstolos nos
mostram Jesus dando instruções especiais aos Apóstolos nos
dias que mediaram entre a ressurreição e a subida para os
Céus: “... aparecendo-lhes POR
QUARENTA DIAS E FALANDO-LHES DO REINO DE DEUS”
(At 1, 3). Quais foram essas instruções, a Bíblia não
nos revela; mas com elas estavam os Apóstolos completando os
seus conhecimentos para ensinar oralmente aos fiéis:
“Ide, pois, e ensinai todas as
gentes” (Mt 28, 19). Com elas estava Jesus
Cristo instruindo os seus Apóstolos sobre o modo como deviam
reger a Igreja e exercer nela o papel de
“... dispenseiros dos mistérios de
Deus” (1 Cor 4, 1).
O que é fato é que os Atos dos Apóstolos nos
mostram os Apóstolos impondo as mãos sobre uns que já haviam
sido batizados, afim de que eles recebessem o Espírito
Santo: “Pedro e João, os
quais, como chegaram, fizeram orações por eles, afim de
receberem o Espírito Santo; porque Ele ainda não tinha
descido sobre nenhum; mas somente tinham sido batizados em
nome do Senhor Jesus; então punham as mãos sobre eles e
recebiam o Espírito Santo” (At 8, 14-17). E
São Paulo falando na Epístola aos Hebreus dos rudimentos da
fé que se ensinavam aos primeiros cristãos, depois de
referir-se à doutrina dos batismos
(batismos no plural, ou porque se explicava a doutrina
sobre o batismo de água, o de sangue e o de desejo, como
querem Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, ou porque se
ensinava a distinção entre o batismo de João e o batismo de
Cristo), se refere imediatamente à imposição das
mãos: “Por isso,
deixando de lado o ensinamento elementar a respeito de
Cristo, elevemo-nos a uma perfeição adulta, sem ter que
voltar aos artigos fundamentais: o arrependimento das obras
mortas e a fé em Deus, a doutrina sobre os batismos e a
IMPOSIÇÃO DAS MÃOS, a ressurreição dos mortos e o julgamento
eterno” (Hb 6, l-2). São Tiago fala na unção
feita sobre os enfermos pelos presbíteros, acompanhada de
oração, cerimônia esta que tem eficácia espiritual, pois se
o enfermo estiver
“com alguns pecados, ser-lhe-ão perdoados”
(Tg 5, 15).
Ora, esta imposição das
mãos (Sacramento da Confirmação), esta
unção com óleo (Sacramento da Unção dos Enfermos)
não podiam assim conferir a graça sem serem
instituídas e ordenadas por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Entretanto, os Evangelhos não nos dizem com que palavras
nem em que ocasião; os Atos dos Apóstolos é que nos vêm
dizer de modo geral, os Atos dos Apóstolos declarando que
Jesus se manifestou aos seus Apóstolos várias
“vezes depois da sua paixão,
aparecendo-lhes por quarenta dias e FALANDO-LHES DO REINO DE
Deus” (At 1, 3).
Mesmo aquilo que está escrito explicitamente
no Evangelho necessita de um comentário para explicá-lo,
porque o evangelista refere às palavras de Jesus, mas não se
encarrega, ele mesmo, de nos dizer quando Jesus está dando
um preceito para ser por todos observado ou apenas um
conselho dirigido àqueles que querem seguir na maior
perfeição. É que o evangelista se mostra sempre como um
historiador, (narra o que aconteceu, o que disse
Jesus) e não como um teólogo que nos vai explicar em
que sentido se entendem aquelas palavras. Da mesma forma que
Jesus disse: “Não queirais
julgar, para que não sejais julgados” (Mt 7,
1), disse também: “Não
resistais ao que vos fizer mal; mas, se alguém te ferir na
tua face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quer
demandar-te em juízo e tirar-te a tua túnica, larga-lhe
também a capa” (Mt 5, 39-40). A primeira
citação pode ser tomada como um preceito para todos no
sentido de que não se deve fazer juízo temerário, nem andar
fazendo cálculos sobre as intenções do próximo. Mas no
segundo caso se tratará também de um preceito para todos?
Sendo um preceito, não vão ficar os cristãos
completamente indefesos e sempre à mercê dos perversos e dos
inimigos? Não é antes um
conselho de perfeição? É o que o Evangelho por si mesmo não
nos explica.
Jesus disse:
“ABSOLUTAMENTE não jureis nem pelo Céu que é o trono de
Deus; nem pela terra que é o assento de seus pés; nem por
Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei”
(Mt 5, 34-35). Que quer dizer Nosso Senhor com este
ABSOLUTAMENTE? Que não devemos jurar nunca, nem
mesmo quando somos convidados a jurar em coisas sérias
perante os tribunais – ou que absolutamente não devemos
jurar, salvo o caso de real necessidade? São Paulo não
invocou mais de uma vez nas suas epístolas o testemunho de
Deus? (Rm 1, 9; Fl 1, 8). O Evangelho nos
indica as palavras de Jesus, mas não nos fornece a sua
verdadeira interpretação. E isto é um dos mil assuntos
que dão margem aos protestantes para discutirem acerbamente
entre si, pois os Quacres, por
exemplo, não juram por consideração alguma e há outros
protestantes que juram perante os tribunais, quando os
juízes a isto os obrigam.
A Bíblia ensina claramente a existência do
pecado original, dizendo que todos morrem porque TODOS
PECARAM (Rm 5,12) e é claro que não se
trata aí de pecado pessoal, pois os que não pecam, as
criancinhas, também morrem. O Antigo Testamento
já havia insinuado esta mesma doutrina, pois Davi nasce de
um matrimônio legítimo e, entretanto, diz:
“Eu fui concebido em iniquidades e
em pecados me concebeu minha mãe” (Sl 50, 7).
Mas este pecado original EM NÓS,
em que consiste? É inútil procurar na Bíblia uma solução
para este problema; não há nenhum texto seu que ponha em
pratos limpos esta questão. Alguns protestantes aventuram-se
por sua conta própria a imaginar que este pecado original
seja a
concupiscência ou a nossa inclinação para o mal. Mas estão realmente certos
disto? É preciso não esquecer que a concupiscência ou
inclinação para o mal não desaparece, nem mesmo nas
criaturas mais santas e amantes de Cristo. A
santidade não consiste em suprimi-la, mas em resistir-lhe sempre heroicamente.
Se o pecado original é esta
concupiscência,
que pecado é este que pode coexistir até com o mais alto
grau de santidade?
Se o pecado original é esta concupiscência, então
é
ineficaz a ação do Cordeiro de Deus
“que
tira o pecado
do mundo”
(Jo
1, 29).
Pois como poderia conceber-se
que Ele não conseguisse tirar de
nós o
pecado que
trazemos do berço?
Aí finda naturalmente, sobre o assunto,
toda a ciência do protestante que não quer ter outra fonte
de informações além da própria Bíblia.
– Mas, dirão os protestantes, quer o senhor
dizer então que não é completo o ensino da Bíblia a respeito
da nossa fé e da nossa salvação? Afinal
É COMPLETO OU NÃO É?
– Sim; é completo o ensino da Bíblia, não há
dúvida alguma, porque, desde que a Bíblia nos traz muitos e
riquíssimos ensinamentos sobre o assunto e entre estes
ensinamentos está também a existência da Igreja, a sua
infalibilidade (as portas do inferno não prevalecerão
contra ela – Mt 16, 18) OU DIRETA OU
INDIRETAMENTE a Bíblia resolve todos os problemas
que dizem respeito à verdadeira doutrina e à salvação da
nossa alma. Se, por exemplo, ficamos em dúvida se um
seguidor de Cristo pode ou não pertencer à maçonaria, não há
necessidade de nos dividirmos em duas facções, como já
aconteceu uma vez com os Presbiterianos no Brasil. A Bíblia
não fala em maçons, mas resolve este problema, quando diz
que se deve ouvir a verdadeira Igreja fundada por Jesus
Cristo:
“... e se não ouvir a IGREJA, tem-no por um gentio ou um
publicano” (Mt 18, 17).
Se temos dúvida sobre algum ponto importante na doutrina da
salvação e não sabemos como interpretar a Bíblia, não há
motivo para nos dividirmos em seitas diversas, como acontece
com os protestantes; há quem tenha a missão de nos
esclarecer, é a “Igreja do
Deus Vivo, coluna e firmamento da verdade”
(1 Tm 3,15).
Por tudo isto que até aqui expusemos,
se vê claramente que está completamente errado o modo de
pensar dos protestantes quando assim dizem:
Não precisamos saber o que a Igreja
Católica nos ensina, nem o que ela sempre nos ensinou desde
o princípio. Temos a Bíblia e só na bíblia é que cada um
deve ir buscar diretamente, vendo com seus próprios olhos, a
verdadeira doutrina.
– Não há dúvida: a verdadeira
doutrina está na Bíblia, mas sendo um livro de interpretação
muito difícil, sendo um livro que ainda não nos diz tudo
quanto necessitamos saber, sua leitura exige uma sadia
orientação; pois muitos, em vez de extrair dela a verdade
pura e simples, a têm interpretado erradamente e com ela têm
ensinado lamentáveis despropósitos e heresias, porque,
COM O LIVRE EXAME, O INTÉRPRETE É CAPAZ DE TODOS OS
ABSURDOS E ESTRAVAGÂNCIAS.
A POSIÇÃO
CATÓLICA E A PROTESTANTE |
Chegamos assim ao final da controvérsia:
LIVRE EXAME ou SUJEIÇÃO à
AUTORIDADE da IGREJA?
Para melhor coordenarmos as nossas ideias e
apreciarmos como Jesus Cristo e a Bíblia resolvem esta
questão, será bom relembrarmos os dois pontos de vista: o
CATÓLICO e o PROTESTANTE.
Os protestantes são de opinião que a
única regra de fé é a Bíblia.
Os fiéis tomam contato com ela, lêem-na porque ela é a
palavra de Deus infalível e lendo-a, não precisam mais de
ouvir a ninguém para conhecer a verdadeira doutrina do
Evangelho. Desde que têm em casa a palavra de Deus, não
precisam submeter-se ao ensino da Igreja, uma vez que eles
mesmos podem interpretar o texto sagrado. Para isto convém
pedir as luzes do Espírito Santo.
Segundo os católicos, a Bíblia é, sem dúvida
alguma, regra de fé, porque é a palavra de Deus; mas nem
sempre é fácil acertar com o verdadeiro sentido daquilo que
ela nos ensina: há outra regra de fé que é o ensino da
Igreja. Não há nem pode haver contradição entre uma
e outra; ambas são infalíveis: se a Bíblia é a palavra de
Deus escrita, a Igreja é uma obra de Deus que a deixou neste
mundo especialmente para este fim: para ensinar a verdade;
portanto, Deus zela por ela de modo especial para que
atravesse todos os séculos sempre preservada do erro:
“Passará o Céu e a terra, mas não
passarão as palavras de Cristo” (Mt
24, 35), o qual garantiu que
“as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Portanto, no meio da confusão que resulta das diversas e
contraditórias interpretações que há em torno da Bíblia, o
católico tem que seguir a verdadeira interpretação que é
aquela que a Igreja lhe ensina, orientando-o nesta matéria.
E, para que uma verdade seja de fé, não é necessário que
esteja explicitamente ensinada na Bíblia, a qual não se
apresenta como uma exposição completa e sistemática da
doutrina, com o fim de resolver, por si só, todas as
questões de QUE NELA SE CONTÉM.
Não estar
explicitamente na Bíblia e ser contrário ao ensino da Bíblia
são duas coisas muito diferentes. Os próprios protestantes
têm como verdade certíssima de fé que tais e tais livros são
inspirados e fazem parte da Bíblia; ora, isto não consta do
texto sagrado, o qual não faz a enumeração dos livros
canônicos. Entretanto, é este um ponto fundamental para a
Religião Cristã e é nisto que se baseia todo o
Protestantismo. E toda a sua indignação contra a
Igreja Católica porque esta ensina algumas coisas de que a
Bíblia não fala diretamente, eles bem a poderiam guardar
para todos os erros dentro do Protestantismo que são aberta
e escandalosamente contrários ao ensino bíblico.
O que não está
explicitamente na Bíblia pode ser uma conclusão lógica
daquilo que o livro sagrado nos ensina ou pode estar contido
no DEPÓSITO DA FÉ, que a Igreja recebeu desde
o princípio pela pregação dos Apóstolos e guarda com muita
firmeza e segurança, apesar de todas as oposições da
heresia.
De modo que, segundo os católicos, o
meio de propagar-se a doutrina é a pregação daquilo que
ensina o magistério vivo e infalível da Igreja;
segundo os protestantes, é a difusão da Bíblia posta nas
mãos de todos para que a possam ler e interpretar.
E assim o protestante, por mais rude e
ignorante que seja, é sempre UM INTÉRPRETE DA BÍBLIA;
que sozinho ou ajudado pelo seu pastor e pelos seus
companheiros de denominação, vai tomar a si a grande tarefa
de organizar, no meio de todos aqueles textos esparsos da
Bíblia, o seu Credo e a doutrina que deve professar. Nada
aceita como definitivo em matéria de doutrina, quer ver
pelos seus próprios olhos e decidir pelo seu próprio
julgamento (livre exame) na Bíblia e só na
Bíblia qual é a verdadeira doutrina.
O católico, mesmo que SEJA O MAIS SÁBIO
E ERUDITO INTÉRPRETE DA BÍBLIA, se submete ao ensino
da Igreja, certo e confiante de que esta não pode errar;
discute livremente e tem opiniões próprias naquilo que não é
de fé definida, que, portanto, a Igreja deixa à sua
liberdade; acha que é verdade infalível não só aquilo que
está na Bíblia, mas também aquilo que a Igreja ensina
instruída desde o princípio pela pregação dos Apóstolos e
não se considera mais do que um soldado deste imenso e
incalculável exército de cristãos que, desde 2.000
anos, têm passado neste mundo, submissos
disciplinadamente em matéria de fé a esta Igreja que Deus
pôs aqui na terra para ser “a
coluna e firmamento da verdade” (1 Tm
3, 15).
O católico e o protestante crêem na Bíblia e
querem seguir a doutrina de Jesus; a diferença que há
entre um e outro está em matéria de confiança.
Confiança na Igreja, a qual não tem o protestante, pois vê
na Igreja apenas uma sociedade que, sendo dirigida por
homens (e homens sempre estão sujeitos a erros) não
pode, a seu ver, apresentar-se assim com esta firmeza
absoluta. Confiança na Igreja, a qual possui o católico que
desde os primeiros séculos vem dizendo: Creio na Santa
Igreja Católica, na qual ele não vê só uma
sociedade dirigida por homens, mas também sempre
encaminhada por Deus que a fundou, garantida pela perpétua
assistência que Jesus lhe prometeu. Todo homem está
sujeito a erro, até mesmo o Papa; mas Deus não permite que
um homem consiga induzir a Igreja a cair em erro, por meio
de uma definição ex-cátedra, pois
“as portas do
inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16, 18); e o Papa é, como sucessor de
São Pedro, a pedra sobre a qual repousa, segundo os
desígnios divinos, a solidez da Igreja.
A desconfiança na Igreja aumenta sempre que
se vêem homens, desde os tempos de Judas e de São Pedro
(dos quais um fracassou definitivamente e o outro se ergueu
logo após a sua queda) apesar de elevados a altos
cargos, pagarem o seu tributo à fraqueza e à miséria
humanas, mas aumenta sem motivo, porque uma coisa é a
fragilidade do homem que é livre e inclinado ao pecado por
sua natureza, e outra coisa é a firmeza da Igreja que é obra
de Deus edificada sobre uma rocha inexpugnável. Esta
desconfiança para com a Igreja aumentou, sem razão de ser,
em alguns espíritos, depois que Lutero e Calvino propagaram
no mundo, com o livre exame, um sistema de interpretação da
Bíblia faccioso e sem escrúpulos:
separar as palavras do contexto para dar-lhes
outro sentido, apegar-se a uns textos desprezando outros,
inventar um sentido figurado onde a palavra se toma ao pé da
letra, torcer as palavras da Bíblia por meio de sofismas
para dar-lhes um sentido bem diverso...
Como dizíamos, a diferença entre o católico e
o protestante está em matéria de confiança. Confiança em si
mesmo, em seu próprio raciocínio, em sua própria capacidade
e inteligência, a qual o protestante tem MUITA,
e é por isto que vive metido numa eterna divergência e
discussão. Confiança em si mesmo, que o católico tem
MUITO POUCA, pois vendo como a razão humana até nos
grandes sábios e filósofos tem sido tão sujeita a ilusões,
absurdos e desatinos, acha que nesta matéria de fé, nesta
perscrutação dos mistérios de Deus e da sua Religião, o que
resolve não são propriamente as discussões em que cada um
dos contendores se julga bem firme, bem seguro na sua
própria interpretação, por mais extravagante que ela seja; o
que resolve é a humilde e confiante aceitação por parte da
nossa inteligência, é a nossa submissão a Deus e àqueles que
por Deus são realmente autorizados para nos exporem a sua
doutrina: “Em verdade vos digo
que todo o que não receber o reino de Deus COMO PEQUENINO
não entrará nele” (Mc 10,15).
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