Os PROTESTANTES mentindo,
perseguindo e seduzindo os
católicos, dizem:
“o purgatório não existe”.
Resposta
aos PROTESTANTES:
Os Protestantes se
mostram admirados em pensar como é que uma alma que já foi
SALVA, que já foi PERDOADA, por
quem Cristo já PAGOU, tem ainda alguma coisa
que pagar perante Deus, após a sua passagem para a outra
vida. Se já está salva, tem que ir diretamente para o
Céu.
– E aqui entra a questão da existência
do purgatório, claramente afirmada na Bíblia no 2.°
Livro dos Macabeus:
“É, logo, um santo e saudável pensamento orar
pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados”
(2 Mc 12, 45). Acontece,
porém, que os livros dos Macabeus estão no rol daqueles que
os protestantes excluem da sua Bíblia. Entretanto isto
não impede que demonstremos com algumas considerações,
dentro dos textos bíblicos, como é ilógica a negação feita
pelos “evangélicos” da existência de um
lugar de purificação no outro mundo.
Antes de tudo, o que a Bíblia nos ensina é
que há em Deus, entre outros, dois grandes atributos:
A SUA MISERICÓRDIA E A SUA JUSTIÇA. Não se pode
enaltecer a primeira sacrificando a segunda. Deus que é rico
em misericórdia (Ef 2, 4) é o mesmo JUSTO JUIZ
(2 Tm 4, 8), a cujo tribunal havemos todos de
comparecer para que cada um receba o galardão segundo o que
tem feito, ou bom ou mau, estando no próprio corpo (2 Cor
5, 10).
O pecador, por maiores que sejam os seus
delitos e por mais anos que tenha vivido no pecado, se se
arrepende sinceramente, encontra Deus pronto para lhe
perdoar, para fazê-lo um filho seu pela graça
santificante e um dia também herdeiro do seu reino,
GOZANDO NO CÉU ETERNAMENTE, apesar de muitas e
muitas vezes ter feito atos que mereciam a condenação
eterna. Este perdão, ele recebe graças ao sacrifício de
Cristo na cruz, pois Cristo ofereceu aí uma satisfação
condigna pela ofensa infinita feita a Deus. Se esta condigna
satisfação foi oferecida, é porque A JUSTIÇA DE DEUS
a exigiu, não estando nós em condições de apresentá-la.
E assim se conciliaram A JUSTIÇA E A
MISERICÓRDIA.
Mas o Sacrifício de Cristo não foi realizado
para anular a justiça divina, e sim, a fim de abrir um
caminho para o perdão, caminho este que estava fechado pela
impossibilidade, em que se encontrava o homem, de oferecer a
Deus uma reparação suficiente pelos seus pecados.
Por isto A JUSTIÇA DIVINA
continua de pé. Até este próprio perdão que Deus dá ao
homem, é concedido, de certo modo, segundo um critério de
JUSTIÇA; só são perdoados aqueles que,
cooperando com a graça se arrependem sinceramente e fazem um
firme propósito de emenda. Os que não se arrependem são
condenados.
Estas PASSAGENS BÍBLICAS (2
Cr 6, 30; Sl 61, 12-13; Pr 24, 12; Jr 25, 14; Ez 18, 30;Mt
16, 27; Rm 2, 5-8; 1 Pd 1, 17; Ap 2, 23;20, 12-13; 22, 12)
dizem claramente que Deus RETRIBUIRÁ A CADA UM SEGUNDO
AS SUAS OBRAS. Isto o protestante não pode negar,
porque é um ensino insistente das Escrituras.
Daí já se segue que aqueles que entrarem
no Céu terão uma glória maior ou menor, de acordo com as
suas obras, com sua vida, com seu grau de virtude e com seu
procedimento. É claro que aquele
que viveu muitos e muitos anos no pecado e se converteu
pouco tempo antes de sua morte, não pode ter o mesmo grau de
felicidade como aquele que durante toda sua vida, entre
sacrifícios, mortificações, renúncias e vitórias sobre as
tentações, serviu a Deus com toda a fidelidade. É possível
que os protestantes, contra toda lógica, contra toda noção
da justiça de Deus, achem que isto está muito certo, que o
quinhão é o mesmo para todos, baseando-se na sua estranha
doutrina de que as nossas boas obras não influem nem
direta nem indiretamente na salvação.
Para refutarmos esta teoria, bastam as PASSAGENS
BÍBLICAS CITADAS ACIMA, tão insistentes de que Deus
retribuirá a cada um segundo as suas obras para mostrar que
esta teoria, além de ilógica, é anti-bíblica.
Por outro lado, é claro que aqueles que
recusando o perdão divino, não querendo converter-se,
entrarem no inferno, receberão o castigo maior ou menor na
proporção das más obras que fizeram, das iniquidades que
cometeram.
Mas acontece também que muitos e muitos
morrem, comparecem diante do TRIBUNAL JUSTÍSSIMO DE
DEUS e estão em tais condições que nem poderão ser
condenados ao inferno, uma vez que não se trata de almas em
estado de pecado mortal, impiamente afastadas de Deus; nem
também estão suficientemente puros para entrarem
imediatamente na glória do Céu. A alegação protestante de
que o sangue de Cristo nos purifica de todo pecado, não vem
ao caso, porque, segundo confessam os próprios protestantes,
para haver perdão é preciso haver arrependimento.
Os que negam isto ensinam uma doutrina imoral e absurda que
afundaria a Humanidade na mais grosseira corrupção. E há
muitos pecados, dos quais a alma, por exemplo, não se
arrepende, não faz propósito de emenda, mas que não são
pecados graves, pelos quais Deus condene ao inferno, à
perdição eterna.
Os protestantes, rejeitando a distinção entre
pecado mortal e pecado venial, aberram contra toda a lógica
e mais ainda supõem para eles mesmos dificílima a salvação.
A própria Bíblia nos fala de uns pecados
maiores do que outros. Jesus diz a Pilatos:
“O que me entregou a
ti tem MAIOR pecado” (Jo 19,11).
Ora, se entre duas faltas tão graves, como eram a covardia
de Pilatos e a traição de Judas, se estabelece uma
diferença, quanto mais entre aqueles pecados que são faltas
graves por sua natureza e aqueles que todo o mundo está
vendo serem faltas leves.
Nosso Senhor mesmo no Evangelho repreende os
judeus que na sua cegueira, no seu egoísmo, enxergam faltas
leves nos outros, ao mesmo tempo que não enxergam
faltas muito graves em si próprios, dizendo que
estes judeus vêem um argueiro no olho do próximo e não vêem
uma TRAVE no seu:
“Por que vês tu, pois, a ARESTA no
olho de teu irmão, e não vês a TRAVE no teu olho?”
(Mt 7, 3). Em outra ocasião, depois de
censurar os hipócritas escribas e fariseus, porque se
esforçam por observar preceitos pequeninos, e não cuidam de
cumprir com os grandes preceitos da lei de Deus, depois de
dizer que eles deviam observar estes últimos sem omitir
aqueles outros, Nosso Senhor acrescenta:
“Condutores cegos, que coais um
MOSQUITO e engolis um CAMELO!” (Mt 23,
24).
Portanto, segundo o ensino do Divino Mestre,
pode haver diferença muito grande de pecado para pecado,
diferença tão grande como a que há de um MOSQUITO
para um CAMELO, de uma ARESTA
para uma TRAVE.
A própria razão nos está indicando a
diferença entre pecados mortais e
pecados veniais.
Toda mentira é pecado, porque faltar à
verdade é ofender a Deus. Mas uma coisa é a mentira
inocente, de mera desculpa para ocultar algum fato
desagradável, e outra coisa é a mentira que encerra em si
uma calúnia que vai manchar miseravelmente a reputação do
próximo. A censura feita aos outros é sempre um pecado,
porque é faltar com a caridade. Mas não se pode
comparar a censura bem fundamentada sobre falta leve, feita
com moderação, e a censura maliciosa sobre faltas graves de
que não se tem certeza. Uma coisa é a raiva
ligeira, a leve impaciência, e outra coisa é o ódio que
fervilha no coração, com desejos de vingança. Não se
pode comparar uma simples palavra dita por imprudência com
uma blasfêmia premeditada, nem o roubo de um cavalo com o
furto de uma caixa de fósforos. A mesma ação e o mesmo
pecado podem variar no grau de culpabilidade, conforme se
tenham cometido com maior ou menor advertência ou
consentimento da vontade, que também admitem graus.
Não querer fazer distinção alguma entre
pecados mortais e veniais é mostrar-nos um Deus
excessivamente rigoroso que condena o homem ao fogo eterno
mesmo por faltas muito leves, porque estas faltas, é certo
que Deus não faz vista grossa sobre elas, temos que prestar
contas sobre as mesmas diante do tribunal justíssimo de
Deus, onde havemos de ser chamados à responsabilidade até
por uma palavra inútil: “E
digo-vos que de TODA PALAVRA OCIOSA que falarem os homens
darão conta dela no dia do juízo; porque pelas tuas palavras
serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado”
(Mt 12, 36-37), e:
“Sede vós, logo, perfeitos, como
também vosso Pai celestial é perfeito”
(Mt 5, 48). Não ver nenhuma diferença entre
pecados graves e pecados leves, considerar qualquer pecado
como merecedor da condenação eterna, e ao mesmo tempo exigir
o arrependimento para se obter o perdão, arrependimento este
que implica necessariamente um sério propósito de emenda
(do contrário não é arrependimento sincero) é o
mesmo que colocar-nos numa situação sumamente angustiante,
em que são raríssimos os que escapam aos tormentos do
inferno.
Se é certíssimo, portanto, porque o diz
a Escritura, que DEUS RETRIBUIRÁ A CADA UM SEGUNDO AS SUAS
OBRAS, é certíssima também a existência do purgatório.
Além disto, não são somente os pecados
veniais que não foram perdoados que exigem um castigo da
parte de Deus, castigo temporário, é claro, porque estes
pecados não implicam na condenação eterna. São os próprios
pecados mortais perdoados, porque vemos pela Sagrada Bíblia
que Deus, mesmo depois de absolver o pecado, exige ainda do
pecador perdoado uma pena, uma expiação de seu erro. Da
pena eterna, ele se livra, está apto para gozar ainda da
eterna herança do Céu; antes, porém, tem que submeter-se a
uma penitência. E assim mais uma vez se conciliam
A JUSTIÇA E A MISERICÓRDIA.
O protestante naturalmente pede exemplos
disto. E os podemos dar.
No capítulo 14 do livro dos Números vemos
Deus dizendo a Moisés: “Até
quando murmurará de mim este povo? Até quando não me
acreditará depois de todos os prodígios que tenho feito
diante deles? Eu, pois, os ferirei com peste e os
consumirei, e a ti far-te-ei príncipe duma gente grande e
mais forte do que esta é” (Nm 14,
11-12). Moisés intercede pelo povo:
“Perdoa, te suplico, o pecado deste
povo, segundo a grandeza da tua misericórdia, assim como tu
lhe foste propício desde a saída do Egito até este lugar”
(Nm 14, 19). Deus perdoa, de acordo
com a súplica de Moisés, mas exige sempre um castigo, embora
menor: “EU LHE PERDOEI,
conforme tu me pediste. Por minha vida, que toda a terra
será cheia da glória do Senhor. Mas, entretanto, TODOS OS
HOMENS que viram o resplendor da minha majestade e as
maravilhas que fiz no Egito e no deserto e que me tentaram
dez vezes e que não obedeceram a minha voz NÃO VERÃO A TERRA
que eu prometi a seus pais com juramento; nenhum dos que
detraíram de mim a verá” (Nm 14,
20-23).
O próprio Moisés que num gesto de impaciência
bateu duas vezes na pedra duvidando, não do poder, mas da
bondade de Deus, achando que Deus falara ironicamente e não
iria atender àquele povo rebelde, recebe o castigo divino,
embora, é claro, seja perdoado de sua falta:
“E o Senhor disse a Moisés e a
Aarão: Porque vós me não crestes para me santificardes
diante dos filhos de Israel, não introduzireis estes povos
na terra que tenho para lhes dar” (Nm
20, 12). E assim morreu Moisés avistando a
Terra Prometida, mas sem ter o gosto de nela entrar (Dt
34,1-5).
Davi, depois de
cometido o seu grave pecado (2 Sm 11, 2-17) recebe a
advertência de Natã. E
reconhece o seu erro: “Pequei
contra o Senhor” (2 Sm 12, 13).
Natã lhe faz ver que Deus lhe perdoou, mas que nem por isto
deixará de lhe ser imposta uma pena:
“Também o SENHOR TRANSFERIU O TEU
PECADO: não morrerás. Todavia, como tu pelo que fizeste
deste lugar a que os inimigos do Senhor blasfemem, MORRERÁ
CERTAMENTE O FILHO que te nasceu” (2
Sm 12,13-14). E apesar da oração e do jejum
rigoroso e do retiro de Davi, a sentença se cumpriu.
Vemos nos profetas a exortação não só para o
arrependimento, mas também para as obras de penitência:
“Agora, pois, diz o Senhor:
Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, EM JEJUM e em
lágrimas e em gemidos” (Jl 2,12).
Por tudo isto se vê que o perdão dado por
Deus não exclui necessariamente o castigo infligido ao
pecador. Este recebe uma pena sem comparação menor do que
merecia, pois, se mereceu um castigo eterno, receberá uma
pena passageira; aí se mostra ao mesmo tempo a bondade de
DEUS PERDOANDO, e a sua justiça RETRIBUINDO
A CADA UM SEGUNDO AS SUAS OBRAS.
Nem se venha dizer
que estes são exemplos do Antigo Testamento e que na Nova
Lei é diferente. O perdão dado por Deus aos antigos é o
mesmo perdão que nos é concedido hoje, pois também
antigamente ele era dado em virtude dos merecimentos de
Jesus Cristo que antecipadamente se levavam em conta em
benefício do pecador. A nossa responsabilidade perante Deus
é ainda maior depois da vinda de Cristo, pois muito maiores
são as graças por nós recebidas:
“A todo aquele a quem muito foi
dado, muito lhe será pedido” (Lc 12,
48). São Paulo escreve sua epístola aos
Colossenses que vai dirigida aos santos e fiéis irmãos
em Jesus Cristo que habitam em Colossos (Cl 1, 2)
escolhidos de Deus, santos e amados (Cl 3,
12), mas não deixa de adverti-los:
“Servi a Cristo o Senhor; porque o
que faz injustiça receberá o pago do que fez injustamente,
porque não há acepção de pessoas em Deus”
(Cl 3, 24-25).
Não se fala em purgatório sem que o
protestante se lembre imediatamente do trecho de Isaías que
ele tanto vive a citar:
“Se os vossos pecados forem como a
escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; e se forem
roxos como o carmesim, ficarão alvos como a branca lã”
(Is 1,18) para tentar provar com isto
que os convertidos não precisam mais de purificação alguma.
Mas é sempre a mesma história da frase separada de seu
contexto. Leia-se este primeiro capítulo de Isaías desde o
seu começo. Nos 15 versículos iniciais, Deus faz, por
intermédio do profeta, as mais amargas queixas sobre as
ingratidões do seu povo. Depois, exorta os ingratos
israelitas A REALIZAREM ELES MESMOS A SUA PURIFICAÇÃO,
A SUA EMENDA E REABILITAÇÃO. Eis o que diz
Isaías: “LAVAI-VOS,
PURIFICAI-VOS, TIRAI de diante de meus olhos a malignidade
de vossos pensamentos, CESSAI de fazer o mal, APRENDEI a
fazer o bem, PROCURAI o que é justo, SOCORREI ao oprimido,
FAZEI JUSTIÇA ao órfão e DEFENDEI a viúva”
(Is 1,16-17). Não é irremediável o
caso de Israel; se os iníquos judeus deixam o mau caminho e
se esforçam pela sua reparação, podem chegar até a mais
completa purificação, podem passar da mais negra situação de
pecado até a mais límpida pureza da alma:
“Diz o Senhor: se os vossos pecados
forem como a escarlata, eles se tornarão brancos como a
neve; e se forem roxos como o carmesim, ficarão alvos como a
branca lã” (Is 1, 18).
O mal dos protestantes é que, todas as vezes
que se fala em justificação, eles, tomando uma posição muito
cômoda pensam unicamente na ação misericordiosa de Deus
(como se Deus fizesse TUDO e a ação do homem fosse apenas
a de CONFIAR) quando esta ação purificadora é obra
de Deus e do homem ao mesmo tempo. Deus entra com a sua
graça, mas é preciso que o homem entre também com o
seu esforço, a sua colaboração e o seu sacrifício. O
que o profeta Isaías nos mostra aí no trecho é o homem
cooperando na purificação com as suas obras e não apenas com
a sua confiança. O mal dos protestantes é também imaginar
que o homem, uma vez tornado puro como a branca neve, não
possa mais chamuscar-se de escarlata outra vez, caindo em
várias imperfeições porque todos nós tropeçamos em muitas
coisas (Tg 3,2).
Se Cristo expiou por nós na cruz, não
foi para dispensar o homem de fazer também a sua reparação
por si mesmo, foi para melhor ajudar o homem a realizá-la e
para torná-la eficaz e meritória, porque é levada a efeito
com a graça de Cristo:
“Rime os teus pecados com esmolas e
as tuas iniquidades com obras de misericórdia para com os
pobres” (Dn 4, 24)
(Nas Bíblias protestantes procure-se o versículo 27; assim o
traz Ferreira de Almeida: “Desfaze os teus pecados pela
justiça e as tuas iniquidades usando de misericórdia para
com os pobres” Dn 4, 27).
“Perdoados lhe são seus muitos pecados porque amou muito”
(Lc 7, 47).
“A caridade cobre a
multidão dos pecados” (1 Pd 4, 8).
Quando o homem, mesmo convertido, não realiza
completamente esta reparação, de molde a satisfazer à
JUSTIÇA DE DEUS (a qual não desapareceu com a
morte de Cristo) tem que haver necessariamente a
purificação no outro mundo.
O caso do
bom ladrão, a quem Jesus disse:
“Hoje estarás comigo no paraíso”
(Lc 23, 43) não encerra em si
nenhuma prova de que não exista purgatório. Porque
não dizemos que toda pessoa infalivelmente tenha que passar
por ele. Admitimos que haja muitas pessoas que dele se
livram por morrerem totalmente quites com a justiça divina,
pelo fato de terem pagado já neste mundo a sua dívida pelos
pecados. Este foi de certo, de acordo com os desígnios
divinos, o caso do bom ladrão. Os horrorosos suplícios da
crucifixão eram castigo de suas culpas. E ele os
aceitou com tanta boa vontade, com tão profundo e sincero
arrependimento, com uma dor tão viva em sua alma, que o
Divino Mestre achou que o purgatório para ele já havia sido
cumprido aqui na terra. Cada um pode livrar-se, ou em parte
ou totalmente, dessas penas futuras com os sofrimentos desta
vida, principalmente quando os aceita com o ânimo heróico e
penitente com que soube padecer o bom ladrão.
E quanto à parábola do rico e do pobre Lázaro
que morrendo foi levado sem mais demora ao seio de Abraão,
desde que, como dissemos, há pessoas que não passam pelo
purgatório por terem sofrido suficientemente neste mundo as
penas pelos seus pecados, Jesus que queria frisar na sua
parábola a diferença de sorte que vão ter eternamente o bom
e o mau, especialmente o mau que viveu entre delícias e o
bom que viveu no maior sofrimento, Jesus escolheu
precisamente um caso destes, de pessoa que já sai daqui
inteiramente quites por muito ter sofrido, para melhor
realçar o contraste. Escolher o caso de um que ainda tivesse
que sofrer no purgatório, por pouco tempo que fosse, seria
estragar o efeito da parábola. Nem também quis o Divino
Mestre descrever nesta história como é que se faz o
julgamento de todos os homens; este julgamento varia muito
de acordo com as circunstâncias especiais de vida e com o
grau de virtude de cada pessoa. Quis apenas mostrar que
tanto o gozo dos maus como o sofrimento dos bons são
passageiros e transitórios, não sendo nada em comparação com
a eternidade.
Encerramos, portanto, estas considerações com
a conclusão de que o Sacrifício da Missa, em lugar de
diminuir o valor do Sacrifício da Cruz, é ao contrário o
próprio Sacrifício da Cruz, como uma Árvore da Vida
estendendo os seus ramos ainda mais ao nosso alcance para
que melhor possamos aproveitar-nos dos seus frutos. A
remissão dos pecados não é possível sem a nossa cooperação,
sem o nosso arrependimento, e este arrependimento não é
possível sem a graça de Deus. Cristo que na cruz fez
suficientissimamente o que era de sua parte, oferecendo o
preço do nosso resgate que nós mesmos nunca podíamos
oferecer, Cristo na Missa vem ajudar-nos a fazer a nossa,
interpondo-se mais uma vez entre Deus e os homens para nos
conseguir a graça do arrependimento, mesmo quando dela já
nos tornamos indignos por nossas reiteradas ingratidões. E
como, uma vez perdoados, ainda nos resta uma dívida para com
Deus, ainda estamos sujeitos a uma pena temporal na qual
foi comutada a pena eterna; como nem sempre recebemos o
perdão de todos os pecados aqui na terra, pois há pecados
leves de que nem sempre temos o necessário arrependimento, a
súplica de Cristo na Santa Missa vem alcançar também um
alívio e refrigério ou mesmo uma abreviação para aqueles que
no outro mundo se estão purificando perante a Justiça
Divina, afim de se tornarem aptos para alcançarem o prêmio
eterno, a eterna felicidade lá no Céu, onde não entra
nada contaminado.
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