DOMINGO DE RAMOS

 

“No Domingo de Ramos comemora-se a entrada triunfante de Jesus Cristo em Jerusalém, seis dias antes de sua Paixão. Jesus Cristo, antes de sua Paixão, quis entrar triunfante em Jerusalém, como fora predito: 1.° Para animar os seus discípulos, dando-lhes por esta forma uma prova clara de que Ele ia sofrer espontaneamente; 2.° Para nos ensinar que por sua morte Ele triunfaria do demônio, do mundo e da carne, e que nos abriria as portas do Céu” (São Pio X, Catecismo Maior, 42-43).

“Chama-se de Ramos o domingo da Semana Santa, por causa da procissão que se faz neste dia, na qual os fiéis levam na mão um ramo de oliveira ou de palma. No Domingo de Ramos faz-se a procissão levando ramos de oliveira ou palmas para recordar a entrada triunfante de Jesus Cristo em Jerusalém, recebido e seguido pelas turbas com ramos de palmeira nas mãos. Quando Jesus Cristo entrou triunfante em Jerusalém, saíram-lhe ao encontro o povo simples e as crianças, não, porém, os grandes da cidade. Dispôs Deus assim, para nos dar a conhecer que a soberba os tornara indignos de tomar parte no triunfo de Nosso Senhor, que ama a simplicidade do coração, a humildade e a inocência” (Idem, 48-49. 51).

 

TRIUNFO MUITO INSTRUTIVO PARA O CATÓLICO

 

1.° Triunfo e virtudes do Salvador

 

Sabendo que se aproximava o tempo da sua morte, em que devia ser crucificado em Jerusalém, Jesus dirigiu-se a essa cidade. À sua entrada, o povo corre em massa ao seu encontro. Uns estendem as vestes pelo caminho em que devia passar; outros o atapetam de ramos de árvores em sua honra. Todos aclamam-no, chamam-no Filho de Davi e cantam: “Hosana àquele que vem em nome do Senhor!” Vamos também nós ao encontro do divino triunfador para lhe dizer com amor: “Sede bendito, ó Unigênito de Deus, por terdes vindo a este mundo! Sem vós, estaríamos perdidos para sempre. Sede bendito, principalmente quando em nós entrais na Santa Comunhão para cumular-nos dos vossos favores”.

“Dizei à filha de Sião, exclamava o profeta, eis que vem o vosso Rei; dirige-se a vós cheio de doçura, sentado sobre um jumento, em um jumentinho, filho de uma jumenta” (Mt 21, 5). Que outra coisa significa o jumento senão o povo judaico, submisso ao jugo da lei? E o jumentinho senão os gentios livres de todo o freio e constrangimento? Essa cavalgadura convinha sem dúvida a um príncipe, cujo berço foi um presépio, e que, nas suas pregações dizia a todos: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Ó humildade de Jesus, até no vosso triunfo confundis o nosso orgulho, ensinando-nos a virtude que, segundo Santo Agostinho, é o começo, a continuação e o auge da perfeição e sem a qual não há repouso para a alma, nem submissão, nem mansidão nem verdadeira caridade.

Jesus chora sobre a ingrata Jerusalém: “Ah! Se ao menos neste dia, conhecesses o que te pode trazer a paz; mas estes mistérios estão encobertos a teus olhos” (Lc 19, 42). Previa as desgraças que essa cidade culpada atrairia sobre si, por seus crimes, especialmente pelo deicídio. Ah! Quantas vezes Jesus já não chorou sobre nós, ao ver-nos resistir às suas graças e preferir os nossos caprichos à sua santa vontade! Quando o consolaremos por nosso fervor, arrependimento e humilde docilidade? Peçamos essas disposições ao mais amável dos mestres.

Jesus, doce e humilde de coração! Não permitais que  inutilizemos tantas luzes e inspirações que nos dais. Concedei-nos a coragem de vencer as resistências do nosso natural altivo, para submeter-nos à Vossa direção. Tomamos a resolução de meditar, durante a Semana Santa, os Vossos sofrimentos e ignomínias, para haurirmos vivos sentimentos de contrição, aniquilamento de nós mesmos e amor sincero para convosco, nosso Redentor, e para com as almas resgatadas por vossas dores e opróbrios.

 

2.° O mundo é o inimigo de Jesus Cristo

 

Quem diria que, após demonstrações tão entusiastas, Jesus, o mais manso dos príncipes, se tornaria tão depressa o objeto do ódio e do desprezo dos seus vassalos? Hoje correm os judeus ao seu encontro e exaltam até às nuvens o seu nome e os seus louvores. Dentro de poucos dias mandarão soldados para o prender, atar e cobrir de golpes e injúrias. Agora cantam: “Hosana ao Filho de Davi”. Dentro em breve preferir-lhe-ão Barrabás e gritarão: “Crucifica-O, crucifica-O”. Essa é a inconstância do mundo! Maldiz hoje o que exaltou ontem.

Antes de terminar o dia, aliás, tão belo, o pacífico triunfador estava já esquecido por aqueles que tão solenemente festejaram a sua chegada. Após a sua entrada em Jerusalém, Jesus passou todo o dia a pregar, a curar os doentes, a espalhar benefícios ao redor de Si. Ao cair da noite, entretanto, quem o creria? Ninguém na cidade lhe oferecia pousada. Ó ingratidão! Mas a minha será menor? Jesus, não será pior ainda quando, ao entrardes em meu coração pela Santa Comunhão, eu vos esqueço, vos menosprezo ou só com negligência faço a ação de graças? Ou recaio logo nos meus hábitos de impaciência, vaidade, sensualidade e distrações voluntárias na oração?

Enquanto Jesus beneficia os judeus, multiplicando os seus milagres, os fariseus e os príncipes dos sacerdotes dizem entre si: “Este homem opera muitos prodígios; se o deixarmos em paz, todos crerão nele” (Jo 11, 47). Assim os benefícios, a santidade de Jesus, excitam o ódio dos maus. Exprobram-lhe o que constitui a sua glória, o que deveria levá-los a seu amor. Ó mundo injusto! Quem pode esforçar-se por te agradar? Nesta acusação que fazemos do mundo, condenamos a nós mesmos. Quantas vezes temos expulsado a Jesus Cristo do nosso coração, depois de tê-Lo recebido! E que outra coisa temos feito em nossa vida, senão pagar-lhe o bem com o mal, o amor com a injúria?

Redentor nosso, arrependemos de Vos ter ofendido tantas vezes, a Vós que tanto nos tendes amado.

 

“Ó Jesus, prevendo a turba que viria ao vosso encontro, montastes no jumento e destes exemplo de admirável humildade entre os aplausos do povo que acorria, cortava ramos e atapetava a estrada. Enquanto a multidão cantava hinos de louvor, vós, jamais esquecendo vossa compaixão, chorastes o morticínio de Jerusalém. Levanta-te agora, ó serva do salvador, e no cortejo das filhas de Sião, vai ver teu verdadeiro rei... acompanha o Senhor do céu e da terra montado num jumentinho, segue-o sempre com ramos de oliveira, com obras de piedade e com virtudes triunfantes” (São Boaventura, Il legno della vita 15, Op. mist., pp. 98-99).

 

 

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