Carta aos sacerdotes - Pe. Eduardo Poppe

 

 

Meus queridos Irmãos,

Não sou digno de vos escrever esta carta espiritual. Faço-o, contudo, apesar da minha incapacidade, pelo amor que tenho ao vosso estado sacerdotal.

SANTIDADE E APOSTOLADO

Deus concedeu-vos uma graça preciosa: fez-vos sentir vivamente a necessidade de uma vida sacerdotal santa. Já muitas vezes vos tendes repetido a vós mesmos: “Tenho de ser um santo sacerdote: sem isto, considero a minha carreira como que falida”.

Que verdade isto não é! Como é profundamente verdadeiro! Sim, queridos Irmãos, deveis ser santos, não deveis ser uns padres quaisquer, padres vulgares. De outro modo, para bem pouco serve o vosso zelo e os vossos sofrimentos. As ovelhas fugirão de vós e perder-se-ão em grande número. Faz mais um santo só com uma palavra, que um homem vulgar com uma série de discursos. As palavras de um sacerdote santo ferem, abalam o sentimento, transfiguram as almas e renovam-nas de um modo extraordinário, porque nascem da graça, da oração e da penitência, vêm cheias da força de Deus. Talvez um sábio possa imitá-las habilmente, mas Deus só fala através da boca de um santo.

A ciência é um auxílio; os talentos naturais são necessários. Mas, sem a santidade, somos todos, mais ou menos. Irmãos, não vendais ouropéis. Irmãos, não sejais recipientes vazios. Possuí ciência e talento; mas sede antes de mais nada, homens de oração e enérgicos na penitência. Sede Santos!

Irmãos, cada dia nos traz as mesmas ocupações: sublimes, mas monótonas e tantas vezes exaustivas. Tende cuidado, meus irmãos, com a rotina. Vigiai, para que os santos Sacramentos não percam aos vossos olhos o seu caráter divino, para que o vosso Mestre não se converta numa “coisa qualquer” nas vossas mãos; procurai não perder a vossa estima pelos doentes e pobres; tende cuidado para que as crianças não se convertam para vós em objeto de aborrecimento e os pecadores em objeto de aversão. Não, estou a ser difuso demais; atendei a uma coisa só: não sejais padres vulgares! Procurai energicamente permanecer firmes no propósito de vos santificardes, como o estais na resolução de vos salvardes. Assim, a administração contínua dos Sacramentos será para vós uma das fontes mais ricas de consolações e de edificação.  Não vos desvieis do caminho da santidade. Então, o vosso Mestre será o vosso amigo íntimo; então, Jesus dar-se-á a conhecer na fração do Pão e em nenhum lugar o reconhecereis melhor, o visitareis com mais agrado que na Hóstia Santa que manejais tão freqüentemente. Os vossos doentes passarão a ser os vossos melhores auxiliares; sereis para eles verdadeiros consoladores. Amareis e estimareis os vossos pobres como a verdadeiros irmãos de Cristo, e bem depressa sereis vós devedores deles e não eles vossos.  As crianças, apesar dos seus defeitos, serão os vossos prediletos, e vós os delas. Tornar-se-ão para vós uma grande família espiritual, cujo pai sois vós.

Continuai a seguir sem desvios o vosso caminho. À medida que avançais, encontrareis cruzes sobre cruzes, mal-entendidos, oposições, mofas, aridez e abandonos. Mas chegareis ao termo sem terdes de ir mendigar consolações entre leigos. No meio das cruzes, conservareis ao menos a esperança e a confiança, e isto basta enquanto vivermos neste mundo. E quem sabe se o vosso irmão não virá a ser a vossa alegria?

Irmãos! Só temos uma vida e não ficaremos sempre neste mundo. Vamos de viagem, e louco é o que procura aqui morada e lugar de repouso.

Para que servem lindos móveis com cabeça de leão e ornatos de couro? Dentro de trinta anos estarão no quarto dos vossos herdeiros! Que são os conhecimentos e os amigos deste mundo? Quinze dias após a vossa morte, já andareis fora da lembrança e do coração deles, apesar de, enquanto vivestes, vos terem custado muito tempo e muitas dores de cabeça. Que são os louvores e a consideração? Fumo vão que nos inebria, estonteia e nos faz mais mal que bem.

POBREZA

Irmãos, eis o lema feliz, o lema duro mas salutar que, em face dos bens e  alegrias deste mundo, nos convém repetir.

Sim, consideremos ut stercora a popularidade superficial e os elogios sedutores dos homens; fujamos ut stercora dos costumes e consolações mundanas, para poder participar do espírito de Cristo, da força de Cristo, da fecundidade de Cristo. É certo e seguro. “O sacerdote é um outro Cristo” Devemos ser interiormente outros Cristos e aparecer exteriormente como outros Cristos perante os homens, - o que quer dizer que não podemos contentar-nos em ser uns padres quaisquer, mas santos!

Faz como fazem todos” - é um adágio insensato, que está em contradição com o que diz o Evangelho: “E o interrogaram: ‘Mestre, sabemos que falas e ensinas com retidão, e, sem levar em conta a posição das pessoas, ensinas de fato o caminho de Deus (Jo 20, 21). - Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48)Ninguém possui categoria para vos dizer “fazei como eu”. Só Cristo diz com toda a verdade: “Ego sum via”. Eu sou o caminho; “sequere Me”, segue-me. Só a Ele devemos, portanto, admirar, contemplar e seguir!

Irmãos! Não vedes que Ele foi pobre? Ao nascer, ainda teve uma manjedoura; mas, quando se entregou à vida apostólica, nem sequer tinha uma pedra em que repousar a cabeça! Ah! os hábitos! “Exemplum dedi vobis. Ego sum via! (Jo 13, 15; 14, 6). Observo os Apóstolos, examino qual é o espírito dos Santos. Todos seguiram Jesus, e não os hábitos correntes; - eram pobres. O venerável Pe. Chevrier era pobre em pleno século XIX e anima-nos com um grito de vitória: “Um sacerdote pobre é onipotente!” Talvez não sintamos em nós a vocação ou a energia da pobreza heróica; contudo, é preciso que o conselho dos Estatutos (T. XIII, Cap. XVI, p. 67) seja para nós força e regra: “Summa sit in omnibus clericorum rebus  modestia, in domo, in supellectili, in mensa, in vestibus”.

Ai dos ricos, porque têm a sua satisfação neste mundo... “Beati pauperes!” Como é doce a boca do Mestre, quando proclama bem-aventurada a pobreza: “Beati pauperes spiritu (Mt 5, 3).

Irmãos! Há realmente verdadeiros pobres? Conheceis muitos destes pauperes spiritu que sejam inteiramente pobres? Sede, neste ponto, “simples como a pomba, mas prudentes como a serpente”. Se não vos atreveis a introduzir a pobreza na vossa sala de visitas ou no escritório, introduzi-a no quarto de dormir e, ao menos lá, deixai-a reinar soberana.

HUMILDADE

Irmãos! Ajudai-vos mutuamente a recordar que o vosso Mestre gostou de viver oculto: trinta anos em trinta e três! A virtude principal de um sacerdote não é, pois, o zelo, mas a humildade. Irmãos, viveremos iludidos sempre que não formos severos neste ponto. Ser humildes não quer dizer andar pelos caminhos de olhos baixos, em atitude farisaica. É certo que a humildade há de transparecer na modéstia exterior. Mas esta deve ser a irradiação natural da humildade e do recolhimento interior. Nada de complicado, mas também nada de pretensioso. Nem o porte do magistrado nem a carranca do santarrão. Modéstia simples!  O que todos devemos procurar é ser humildes de espírito. Seja esta a nossa divisa. Não vos contesteis com dizê-lo; mas pensai-o quando pregais, confessais, ou conversais com os fiéis.

Além disso, gostai de ser esquecidos e tidos em nada. Não vos detenhais só nas palavras. Queremos ser santos, desejamos ser humildes, mas fugimos das humilhações. Desejai as humilhações, porque a humildade todos desejam.

Empreendestes uma obra importante, e é outro que recolhe o mérito? Fizestes quanto estava na vossa mão e, ao regressardes à casa contente com vosso trabalho sois recebidos com uma áspera repreensão? Nestes momentos, é que deveis praticar a humildade. Ser humildes significa desejar a estima de Deus e desprezar a dos homens. Promoções, popularidade, estima e outras fórmulas deste gênero... esforcemo-nos por lhes impedir toda a  influência sobre o nosso coração. Cristo foi posto entre mal-feitores. Para que havemos nós então desejar tanto ser contados entre os melhores?

SOFRIMENTO

Não nos deixemos nos iludir com palavras ou belas resoluções de retiro. Irmãos, Cristo sofreu! Queremos ser padres santos e fecundos: Irmãos, temos de sofrer! Sem isto nem sequer devemos querer pôr-nos a fazer bem ou a santificar-nos. Deveis dizer: “quero sofrer, sofrer muito”, e com a mesma sinceridade com que dizeis: “Quero ser um bom padre, um santo”. Porque são sinônimos. Temos de ser intransigentemente fiéis a esta resolução de sofrer. É uma âncora de salvação. Todo o nosso ser estremece, ao ver o que na realidade representa este: “quero sofrer”. Não importa. Deixai que o vosso ser trema e estremeça e continuai a repetir humildemente: “Quero sofrer”. Depressa isto se converterá num hábito, e começaremos a apreciar o sofrimento e talvez a amá-lo. Trabalhar é bom; rezar é melhor; mas a melhor coisa é sofrer.

Falta alguma coisa à mesa do sacerdote? Vive numa casa menos cômoda que a dum rico? Falta-lhe alguma coisa para seu arranjo e sua distração? E, contudo, para o sacerdote mais que para qualquer outro cristão, são válidas as palavras de Cristo: “Igualmente, portanto, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo(Lc 14, 33), e: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me (Mt 16, 24). Talvez o futuro se encarregue de tornar a nossa vida mais semelhante à do Salvador. Em todo caso aceitemos toda a contrariedade, oposição, doença, prova interior ou exterior, como verdadeiros amigos da cruz. Se a vossa vida não eleva em face do mundo o sinal da cruz, o que será dos outros homens. O sal da terra é o sofrimento, mais ainda que a pregação. Por isso, meus Irmãos, não vos deixeis abater por um insucesso. Nada de abatimento por um motejo. Nada de suspiro incessantes por uma oposição?!! Fora a melancolia pessimista, quando, após vários anos, não colheis fruto nenhum! Fora o desânimo na doença! E sobretudo não abandoneis o vosso ideal, por causa de incompreensões e contradições, mesmo que venham dos Superiores! Sofrer e obedecer!

OBEDIÊNCIA

Será o criado mais que o Senhor? Somos inteligentes, somos capazes de imaginar, organizar e fazer progredir as nossas obras. Temos intuições e iniciativas e somos devorados pelo zelo. Mas Jesus era mais inteligente, mais zeloso, previdente e perspicaz do que nós. O seu zelo era fogo devorador. Sabia ordenar a sua vida melhor que nós... E, contudo, Jesus obedece em tudo a José e Maria, deixa a última palavra à autoridade. Durante trinta anos, reconhece e ensina o valor da autoridade.

O valor da obediência ultrapassa toda a estima, se pensamos que este Jesus que submete é Deus. Toda a sua vida, a sua vida de criança e de jovem, a sua missão e a sua morte (e morte de cruz) foram um grande um grande ato de obediência. “...humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2, 8).

Irmãos, às vezes é duro obedecer. Mas, apesar de tudo, mesmo que vejamos claramente o nosso direito, mesmo que as nossas intenções sejam excelentes, obedecei. Nada nos impede de expor o nosso ponto de vista à autoridade; mas devemos estar prontos a abandoná-los imediatamente, se a decisão é contrária ao nosso modo de ver. Obedecei e confiai, porque, mediante a obediência, triunfareis com segurança e certeza. Sim, devemos acreditar nisto. A palavra de Deus está escondida numa ordem penosa: “...mas quem sabe escutar falará para sempre (Pr 21, 28). Irmãos, obedeçamos também à vontade de Deus expressa numa forma tão clara e precisa nos nossos Estatutos diocesanos. Abracemos e sigamos os nossos estatutos como se fossem a nossa Regra. Que felizes somos nós, pobres padres seculares, por termos ao menos uma pequena Regra. Não é verdade? Quase podemos obedecer como verdadeiros religiosos. Que sorte! Onde estão os nossos Estatutos? Esquecidos, cobertos de pó, a um canto do nosso armário? Não, Irmãos: ali ao nosso alcance, sobre a mesa de trabalho, no nosso genuflexório! Os nossos Estatutos devem-se-nos tornar familiares e queridos como o nosso Breviário. Devemos lê-los a cada passo como leitura espiritual, sabê-los de cor, como dizia Monsenhor Seghers.

EXIGÊNCIAS DA SANTIDADE

Sim, Irmãos, a pobreza, a humildade, o sofrimento, a obediência e ainda outras exigências penosas, é o que a vossa aspiração à santidade vos impõe. A santidade exige ainda uma pureza heróica nos olhos e nas palavras e, mais que tudo, nas relações. Devemos ser tamquam  Angeli.

A santidade exige contínua vigilância e recolhimento não menos fiel para poder receber e corresponder à ação da graça de Deus.

Com um severo abandono, a santidade exige um ininterrupto “mais alto”, a santidade exige tudo, e além disso, tudo com medida, descrição e decisão.

Não tendes, pois, de que espantar-vos, se juntamente com a vossa aspiração a uma santa vida sacerdotal, experimentais um verdadeiro terror, quando examinais bem o seu significado. É para estremecermos quando pensamos no pequeno número dos que seguem sem desfalecimento pelo caminho direito da perfeição. E se levássemos ainda mais longe a enumeração dos obstáculos e perigos reais que encontramos no nosso caminho, pensaríamos, quase desanimados, em retirar-nos do mundo e ir procurar salvação num convento.

CONFIANÇA

Irmãos, este temor não é destituído de fundamento. O ideal é alto, as suas exigências são inúmeras e os obstáculos igualmente numerosos. Tereis de sofrer e suspirar no reto caminho; mas chegareis, sem dúvida, ao termo. Porque vós quereis chegar, porque é evidente que tomais a sério a santidade. Vós quereis e Deus quer. Que falta ainda? Tende a certeza de que a sua graça não se detém perante nada e que nunca cede, se lhe prestarmos o nosso concurso. Não sabeis que as dificuldades e os obstáculos, sob a ação maravilhosa da graça, se transformam a cada passo em ajudas e cooperam extraordinariamente para o bem? “E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio (Rm 8, 28). Que podemos recear ainda? A graça está conosco, Deus em nós. “Depois disso, que nos resta a dizer? Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8, 31). Sim, se Deus entra em campo conosco, que é que pode ainda chamar-se obstáculo? “Mas em tudo isto somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou (Rm 8, 37). Mas todas estas dificuldades venceremos, graças àquele que nos ama. Não, Irmãos, podemos considerar uma por uma todas as pessoas, todos os costumes, todas as coisas que encontramos como obstáculos no caminho da santidade; podeis então dizer com São Paulo - estou certo que nenhuma criatura do mundo poderá afastar-me do caminho da santidade. Não, Irmãos, a vida ativa não é uma noite em que se extingue a luz do ideal: é antes um farol que levantará ao alto esta luz e a fará resplandecer entre as nuvens. A vida ativa, cheia de tribulações e espinhos, torna-se terreno fértil para os que não têm medo de trabalhar energicamente e de regá-la com suor e sangue. A vida ativa não oferece apenas a luta, mas também a vitória e a consolação. Se milhares perdem nela o ideal, tende mais confiança que eles, humilhar-vos mais profundamente por causa da vossa fraqueza; e uma graça mais abundante vos fará chegar também - certamente - ao triunfo.

RECURSO A MARIA

E para vós, Irmãos, há um sinal, um presságio de que não vos afadigareis em vão, um sinal de que as vossas elevadas aspirações atingirão o fim: sois “Escravos de Maria”.

Sois dela, Irmãos, sois sua propriedade e tesouro seu. Maria tomou nas suas mãos a vossa causa. Mesmo que os maus costumes aumentassem, e o número de almas fervorosas que cederam e caíram a meio do caminho duplicasse, “Caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita, a ti nada atingirá” (Sl 90, 7). O flagelo (diz Maria) ficará longe de ti. Experimenta-lo-eis, se fordes humildes e zelosos escravozinhos de Maria, Virgem poderosa: “Ele te esconde com suas penas, sob suas asas encontrar um abrigo. Sua fidelidade é escudo e couraça.” (Sl 90, 4).

Ela vos cobrirá com a sua sombra e ficareis, calmos e confiantes, debaixo de suas asas. Ela caminhará convosco ao vosso lado e levar-vos-á por atalhos secretos. O sofrimento não vos poupará, mas Maria dar-vos-á fome dele como de um alimento indispensável. Ah! Maria, Maria! O seu nome será nos vossos lábios como mel e bálsamo. Maria! Maria! Ave Maria! Quem vos pode resistir? Dizei-me: quem poderá perder-se, quem, com a Ave Maria? Maria! Maria! A mãe dos pequeninos, a saúde dos fracos, a estrela nas tempestades...  Maria! Maria! Estais sem auxílio? Ave Maria! Estais desanimado? Ave Maria! Estais sem consolação? Ave Maria! Estais a sofrer muito? Ave Maria! Ave Maria!

Ah! Que palavra, que doce canção! Que súplica poderosa: Ave Maria! Ah! Consolação dos escravos, Coragem dos pequenos, Poder dos fracos, Ave Maria! Todo o meu coração se inflama, quando pronuncio o vosso nome. Ave Maria! Alegria dos Anjos, Alimento das almas, Ave Maria!

Irmãos! Nada mais vos digo, depois disto. Sabeis tudo: Amais Maria! Que me falta ensinar-vos? Conheceis o segredo, o segredo de Maria. Estais no caminho, no caminho mais curto e seguro, o caminho fácil: serdes escravozinhos, pequeninos, intrépidos escravos de Maria. Ah! Maria! Oxalá pudéssemos ver estes sacerdotes de Maria, para nos assemelharmos a eles! Maria tende piedade de nós, piedade das almas, piedade da vossa Igreja. Maria! Maria! A impiedade e a corrupção serpeiam pelas ruas da cidade. Através das portas dos pobres e dos ricos, o flagelo do pecado penetra em milhões de almas. O ódio e a injustiça reinam sobre os povos e as nações. Estão a cair por terra as riquezas que vários séculos tinham acumulado. Maria! Maria! O demônio está prestes a ocupar o caminho, entra nas nossas aldeias, nas nossas escolas, nas nossas casas. Poderá ele chegar a suprimir o Evangelho do vosso filho, a bani-lo da sociedade, do espírito dos próprios cristãos? Fará ele adorar Mamona em vez de Santa Cruz? Maria! Maria!

Formai, Vós, as almas capazes de suster os braços de Deus. Formai padres, padres novos, com coração de fogo para inflamar o mundo frio e árido, dai-lhes uma língua nova que vá direto aos corações, que abale as almas mais endurecidas! Formai sacerdotes, santos sacerdotes que vivam, que colaborem com a graça e voem ao seu mais leve sinal. Formai sacerdotes simples e humildes, sacerdotes como os Apóstolos, que façam reviver entre os pastores e as ovelhas o fervor da perfeição evangélica. Ó Maria! Não vos pedimos honras, ou que nos apontem a dedo, que nos louvem. O que vos rogamos é a graça de podermos ser verdadeiros escravos vossos, de quem ninguém fale, de quem ninguém saiba nada, ignorados, desprezados, pequenos por dentro e por fora, inteiramente vendidos e sujeitos a Vós por causa das almas. “Mites et humiles”, mansos e humildes como Vós, como Jesus, mas fiéis e intrépidos, sem fraquezas e sem respeito humano.

Maria, onipotente Mediadora, abri enfim o vosso coração cheio de amor e as vossas mãos benfazejas! Fazei descer sobre as nossas pobres almas esta graça tão longamente esperada! Aqui estamos na vossa presença envergonhados da nossa miséria. Fazei de nós verdadeiros escravos vossos. Por amor dos pecadores, Maria! Por amor da Santa Igreja! Ó Maria, Maria, por amor de Jesus! Quando abrirá enfim os olhos este mundo? Quando despertará para compreender que as suas alegrias são cadeias? Quando, ó Maria? Quando é que o mundo se erguerá, para voltar a Jesus, chorando: “Peccavi!” Quando esmagareis de novo para sempre a cabeça da serpente? Quando é que finalmente Jesus reinará como merece? Quando é que o pobre mundo repetirá de novo conosco o vosso louvor e o de Jesus: “Laudetur Jesus et Maria!

 

Pe. Eduardo Poppe

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Carta aos sacerdotes - Pe. Eduardo Poppe”.

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