| 
                  
                 
                
                Meus queridos Irmãos, 
                
                Não sou digno de vos escrever esta carta 
                espiritual. Faço-o, contudo, apesar da minha incapacidade, pelo 
                amor que tenho ao vosso estado sacerdotal. 
                SANTIDADE E 
                APOSTOLADO 
                
                Deus concedeu-vos uma graça preciosa: fez-vos 
                sentir vivamente a necessidade de uma vida sacerdotal santa. Já 
                muitas vezes vos tendes repetido a vós mesmos: “Tenho de 
                ser um santo sacerdote: sem isto, considero a minha carreira 
                como que falida”. 
                
                Que verdade isto não é! Como é profundamente 
                verdadeiro! Sim, queridos Irmãos, deveis ser santos, não deveis 
                ser uns padres quaisquer, padres vulgares. De outro modo, para 
                bem pouco serve o vosso zelo e os vossos sofrimentos. As ovelhas 
                fugirão de vós e perder-se-ão em grande número. Faz mais um 
                santo só com uma palavra, que um homem vulgar com uma série de 
                discursos. As palavras de um sacerdote santo ferem, abalam o 
                sentimento, transfiguram as almas e renovam-nas de um modo 
                extraordinário, porque nascem da graça, da oração e da 
                penitência, vêm cheias da força de Deus. Talvez um sábio possa 
                imitá-las habilmente, mas Deus só fala através da boca de um 
                santo. 
                
                A ciência é um auxílio; os talentos naturais são 
                necessários. Mas, sem a santidade, somos todos, mais ou menos. 
                Irmãos, não vendais ouropéis. Irmãos, não sejais recipientes 
                vazios. Possuí ciência e talento; mas sede antes de mais nada, 
                homens de oração e enérgicos na penitência. Sede Santos! 
                 
                
                Irmãos, cada dia nos traz as mesmas ocupações: 
                sublimes, mas monótonas e tantas vezes exaustivas. Tende 
                cuidado, meus irmãos, com a rotina. Vigiai, para que os santos 
                Sacramentos não percam aos vossos olhos o seu caráter divino, 
                para que o vosso Mestre não se converta numa “coisa qualquer” 
                nas vossas mãos; procurai não perder a vossa estima pelos 
                doentes e pobres; tende cuidado para que as crianças não se 
                convertam para vós em objeto de aborrecimento e os pecadores em 
                objeto de aversão. Não, estou a ser difuso demais; atendei a uma 
                coisa só: não sejais padres vulgares! Procurai energicamente 
                permanecer firmes no propósito de vos santificardes, como o 
                estais na resolução de vos salvardes. Assim, a administração 
                contínua dos Sacramentos será para vós uma das fontes mais ricas 
                de consolações e de edificação.  Não vos desvieis do caminho da 
                santidade. Então, o vosso Mestre será o vosso amigo íntimo; 
                então, Jesus dar-se-á a conhecer na fração do Pão e em nenhum 
                lugar o reconhecereis melhor, o visitareis com mais agrado que 
                na Hóstia Santa que manejais tão freqüentemente. Os vossos 
                doentes passarão a ser os vossos melhores auxiliares; sereis 
                para eles verdadeiros consoladores. Amareis e estimareis os 
                vossos pobres como a verdadeiros irmãos de Cristo, e bem 
                depressa sereis vós devedores deles e não eles vossos.  As 
                crianças, apesar dos seus defeitos, serão os vossos prediletos, 
                e vós os delas. Tornar-se-ão para vós uma grande família 
                espiritual, cujo pai 
                sois vós. 
                
                Continuai a seguir sem 
                desvios o vosso caminho. À medida que avançais, encontrareis 
                cruzes sobre cruzes, mal-entendidos, oposições, mofas, aridez e 
                abandonos. Mas chegareis ao termo 
                sem terdes de ir mendigar consolações entre leigos. No meio das 
                cruzes, conservareis ao menos a esperança e a confiança, e isto 
                basta enquanto vivermos neste mundo. E quem sabe se o vosso 
                irmão não virá a ser a vossa alegria? 
                
                Irmãos! Só temos uma vida e não ficaremos sempre 
                neste mundo. Vamos de viagem, e louco é o que procura aqui 
                morada e lugar de repouso. 
                
                Para que servem lindos móveis com cabeça de leão 
                e ornatos de couro? Dentro de trinta anos estarão no quarto dos 
                vossos herdeiros! Que são os conhecimentos e os amigos deste 
                mundo? Quinze dias após a vossa morte, já andareis fora da 
                lembrança e do coração deles, apesar de, enquanto vivestes, vos 
                terem custado muito tempo e muitas dores de cabeça. Que são os 
                louvores e a consideração? Fumo vão que nos inebria, estonteia e 
                nos faz mais mal que bem. 
                POBREZA
                
                Irmãos, eis o lema feliz, o lema duro mas salutar 
                que, em face dos bens e  alegrias deste mundo, nos convém 
                repetir. 
                
                Sim, consideremos ut stercora a 
                popularidade superficial e os elogios sedutores dos homens; 
                fujamos ut stercora dos costumes e consolações mundanas, 
                para poder participar do espírito de Cristo, da força de Cristo, 
                da fecundidade de Cristo. É certo e seguro. “O sacerdote é um 
                outro Cristo” Devemos ser interiormente outros Cristos e 
                aparecer exteriormente como outros Cristos perante os homens, - 
                o que quer dizer que não podemos contentar-nos em ser uns padres 
                quaisquer, mas santos! 
                
                “Faz como fazem todos” - é um adágio 
                insensato, que está em contradição com o que diz o Evangelho: “E 
                o interrogaram: ‘Mestre, sabemos que falas e ensinas com 
                retidão, e, sem levar em conta a posição das pessoas, ensinas de 
                fato o caminho de Deus’
                (Jo 20, 21).” 
                - “Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso 
                Pai celeste é perfeito” 
                (Mt 5, 48). 
                Ninguém possui categoria para vos dizer “fazei 
                como eu”. Só Cristo diz com toda a verdade: “Ego sum via”. 
                Eu sou o caminho; “sequere Me”, segue-me. Só a Ele 
                devemos, portanto, admirar, contemplar e seguir! 
                
                Irmãos! Não vedes que Ele foi pobre? Ao nascer, 
                ainda teve uma manjedoura; mas, quando se entregou à vida 
                apostólica, nem sequer tinha uma pedra em que repousar a cabeça! 
                Ah! os hábitos! “Exemplum dedi vobis. Ego sum via!”
                (Jo 13, 15; 14, 6).
                Observo os Apóstolos, examino qual é o espírito 
                dos Santos. Todos seguiram Jesus, e não os hábitos correntes; - 
                eram pobres. O venerável Pe. Chevrier era pobre em pleno século 
                XIX e anima-nos com um grito de vitória: “Um sacerdote pobre 
                é onipotente!” Talvez não sintamos em nós a vocação ou a 
                energia da pobreza heróica; contudo, é preciso que o conselho 
                dos Estatutos (T. XIII, Cap. XVI, p. 67) seja para nós força e 
                regra: “Summa sit in omnibus clericorum rebus  modestia, in 
                domo, in supellectili, in mensa, in vestibus”. 
                
                Ai dos ricos, porque têm a sua satisfação neste 
                mundo... “Beati pauperes!” Como é doce a boca do Mestre, 
                quando proclama bem-aventurada a pobreza: “Beati pauperes 
                spiritu” (Mt 5, 3). 
                
                Irmãos! Há realmente 
                verdadeiros pobres? Conheceis muitos destes pauperes spiritu que 
                sejam inteiramente pobres? Sede, neste ponto, “simples como a 
                pomba, mas prudentes como a serpente”. Se não vos atreveis a 
                introduzir a pobreza na vossa sala de visitas ou no escritório, 
                introduzi-a no quarto de dormir e, ao menos lá, deixai-a reinar 
                soberana. 
                HUMILDADE
                
                Irmãos! Ajudai-vos mutuamente a recordar que o 
                vosso Mestre gostou de viver oculto: trinta anos em trinta e 
                três! A virtude principal de um sacerdote não é, pois, o zelo, 
                mas a humildade. Irmãos, viveremos iludidos sempre que não 
                formos severos neste ponto. Ser humildes não quer dizer andar 
                pelos caminhos de olhos baixos, em atitude farisaica. É certo 
                que a humildade há de transparecer na modéstia exterior. Mas 
                esta deve ser a irradiação natural da humildade e do 
                recolhimento interior. Nada de complicado, mas também nada de 
                pretensioso. Nem o porte do magistrado nem a carranca do 
                santarrão. Modéstia simples!  O que todos devemos procurar é ser 
                humildes de espírito. Seja esta a nossa divisa. Não vos 
                contesteis com dizê-lo; mas pensai-o quando pregais, confessais, 
                ou conversais com os fiéis. 
                
                Além disso, gostai de ser esquecidos e tidos em 
                nada. Não vos detenhais só nas palavras. Queremos ser santos, 
                desejamos ser humildes, mas fugimos das humilhações. Desejai as 
                humilhações, porque a humildade todos desejam. 
                
                Empreendestes uma obra importante, e é outro que 
                recolhe o mérito? Fizestes quanto estava na vossa mão e, ao 
                regressardes à casa contente com vosso trabalho sois recebidos 
                com uma áspera repreensão? Nestes momentos, é que deveis 
                praticar a humildade. Ser humildes significa desejar a estima de 
                Deus e desprezar a dos homens. Promoções, popularidade, estima e 
                outras fórmulas deste gênero... esforcemo-nos por lhes impedir 
                toda a  influência sobre o nosso coração. Cristo foi posto entre 
                mal-feitores. Para que havemos nós então desejar tanto ser 
                contados entre os melhores? 
                SOFRIMENTO
                
                Não nos deixemos nos iludir com palavras ou belas 
                resoluções de retiro. Irmãos, Cristo sofreu! Queremos ser padres 
                santos e fecundos: Irmãos, temos de sofrer! Sem isto nem sequer 
                devemos querer pôr-nos a fazer bem ou a santificar-nos. Deveis 
                dizer: “quero sofrer, sofrer muito”, e com a mesma 
                sinceridade com que dizeis: “Quero ser um bom padre, um santo”. 
                Porque são sinônimos. Temos de ser intransigentemente fiéis a 
                esta resolução de sofrer. É uma âncora de salvação. Todo o nosso 
                ser estremece, ao ver o que na realidade representa este: “quero 
                sofrer”. Não importa. Deixai que o vosso ser trema e 
                estremeça e continuai a repetir humildemente: “Quero sofrer”. 
                Depressa isto se converterá num hábito, e começaremos a apreciar 
                o sofrimento e talvez a amá-lo. Trabalhar é bom; rezar é melhor; 
                mas a melhor coisa é sofrer. 
                
                Falta alguma coisa à mesa do sacerdote? Vive numa 
                casa menos cômoda que a dum rico? Falta-lhe alguma coisa para 
                seu arranjo e sua distração? E, contudo, para o sacerdote mais 
                que para qualquer outro cristão, são válidas as palavras de 
                Cristo: “Igualmente, portanto, qualquer de vós, que não 
                renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo”
                (Lc 14, 33),
                e: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si 
                mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
                (Mt 16, 24).
                Talvez o futuro se encarregue de tornar a nossa 
                vida mais semelhante à do Salvador. Em todo caso aceitemos toda 
                a contrariedade, oposição, doença, prova interior ou
                exterior, como verdadeiros amigos da cruz. Se a vossa vida não 
                eleva em face do mundo o sinal da cruz, o que será dos outros 
                homens. O sal da terra é o sofrimento, mais ainda que a 
                pregação. Por isso, meus Irmãos, não vos deixeis abater por um 
                insucesso. Nada de abatimento por um motejo. Nada de suspiro 
                incessantes por uma oposição?!! Fora a melancolia pessimista, 
                quando, após vários anos, não colheis fruto nenhum! Fora o 
                desânimo na doença! E sobretudo não abandoneis o vosso ideal, 
                por causa de incompreensões e contradições, mesmo que venham dos 
                Superiores! Sofrer e obedecer! 
                OBEDIÊNCIA
                
                Será o criado mais que o Senhor? Somos 
                inteligentes, somos capazes de imaginar, organizar e fazer 
                progredir as nossas obras. Temos intuições e iniciativas e somos 
                devorados pelo zelo. Mas Jesus era mais inteligente, mais 
                zeloso, previdente e perspicaz do que nós. O seu zelo era fogo 
                devorador. Sabia ordenar a sua vida melhor que nós... E, 
                contudo, Jesus obedece em tudo a José e Maria, deixa a última 
                palavra à autoridade. Durante trinta anos, reconhece e ensina o 
                valor da autoridade. 
                
                O valor da obediência ultrapassa toda a estima, 
                se pensamos que este Jesus que submete é Deus. Toda a sua vida, 
                a sua vida de criança e de jovem, a sua missão e a sua morte (e 
                morte de cruz) foram um grande um grande ato de 
                obediência. “...humilhou-se e foi obediente até a morte, e 
                morte de cruz” (Fl 2, 
                8). 
                
                Irmãos, às vezes é duro obedecer. Mas, apesar de 
                tudo, mesmo que vejamos claramente o nosso direito, mesmo que as 
                nossas intenções sejam excelentes, obedecei. Nada nos impede de 
                expor o nosso ponto de vista à autoridade; mas devemos estar 
                prontos a abandoná-los imediatamente, se a decisão é contrária 
                ao nosso modo de ver. Obedecei e confiai, porque, mediante a 
                obediência, triunfareis com segurança e certeza. Sim, devemos 
                acreditar nisto. A palavra de Deus está escondida numa ordem 
                penosa: “...mas quem sabe escutar falará para sempre”
                (Pr 21, 28).
                Irmãos, obedeçamos também à vontade de Deus 
                expressa numa forma tão clara e precisa nos nossos Estatutos 
                diocesanos. Abracemos e sigamos os nossos estatutos como se 
                fossem a nossa Regra. Que felizes somos nós, pobres padres 
                seculares, por termos ao menos uma pequena Regra. Não é verdade? 
                Quase podemos obedecer como verdadeiros religiosos. Que sorte! 
                Onde estão os nossos Estatutos? Esquecidos, cobertos de pó, a um 
                canto do nosso armário? Não, Irmãos: ali ao nosso alcance, sobre 
                a mesa de trabalho, no nosso genuflexório! Os nossos Estatutos 
                devem-se-nos tornar familiares e queridos como o nosso 
                Breviário. Devemos lê-los a cada passo como leitura espiritual, 
                sabê-los de cor, como dizia Monsenhor Seghers. 
                EXIGÊNCIAS DA 
                SANTIDADE
                
                Sim, Irmãos, a pobreza, a humildade, o 
                sofrimento, a obediência e ainda outras exigências penosas, é o 
                que a vossa aspiração à santidade vos impõe. A santidade exige 
                ainda uma pureza heróica nos olhos e nas palavras e, mais que 
                tudo, nas relações. Devemos ser tamquam  Angeli. 
                
                A santidade exige contínua vigilância e 
                recolhimento não menos fiel para poder receber e corresponder à 
                ação da graça de Deus. 
                
                Com um severo abandono, a santidade exige um 
                ininterrupto “mais alto”, a santidade exige tudo, e além 
                disso, tudo com medida, descrição e decisão. 
                
                Não tendes, pois, de que espantar-vos, se 
                juntamente com a vossa aspiração a uma santa vida sacerdotal, 
                experimentais um verdadeiro terror, quando examinais bem o seu 
                significado. É para estremecermos quando pensamos no pequeno 
                número dos que seguem sem desfalecimento pelo caminho direito da 
                perfeição. E se levássemos ainda mais longe a enumeração dos 
                obstáculos e perigos reais que encontramos no nosso caminho, 
                pensaríamos, quase desanimados, em retirar-nos do mundo e ir 
                procurar salvação num convento. 
                CONFIANÇA
                
                Irmãos, este temor não é destituído de 
                fundamento. O ideal é alto, as suas exigências são inúmeras e os 
                obstáculos igualmente numerosos. Tereis de sofrer e suspirar no 
                reto caminho; mas chegareis, sem dúvida, ao termo. Porque vós 
                quereis chegar, porque é evidente que tomais a sério a 
                santidade. Vós quereis e Deus quer. Que falta ainda? Tende a 
                certeza de que a sua graça não se detém perante nada e que nunca 
                cede, se lhe prestarmos o nosso concurso. Não sabeis que as 
                dificuldades e os obstáculos, sob a ação maravilhosa da graça, 
                se transformam a cada passo em ajudas e cooperam 
                extraordinariamente para o bem? “E nós sabemos que Deus 
                coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são 
                chamados segundo o seu desígnio” 
                (Rm 8, 28). Que podemos recear ainda? A graça está 
                conosco, Deus em nós. “Depois disso, que nos resta a dizer? 
                Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” 
                (Rm 8, 31). 
                Sim, se Deus entra em campo conosco, que é que pode ainda 
                chamar-se obstáculo? “Mas em tudo isto somos mais que 
                vencedores, graças àquele que nos amou”
                (Rm 8, 37). 
                Mas todas estas dificuldades venceremos, graças àquele que nos 
                ama. Não, Irmãos, podemos considerar uma por uma todas as 
                pessoas, todos os costumes, todas as coisas que encontramos como 
                obstáculos no caminho da santidade; podeis então dizer com São 
                Paulo - estou certo que nenhuma criatura do mundo poderá 
                afastar-me do caminho da santidade. Não, Irmãos, a vida ativa 
                não é uma noite em que se extingue a luz do ideal: é antes um 
                farol que levantará ao alto esta luz e a fará resplandecer entre 
                as nuvens. A vida ativa, cheia de tribulações e espinhos, 
                torna-se terreno fértil para os que não têm medo de trabalhar 
                energicamente e de regá-la com suor e sangue. A vida ativa não 
                oferece apenas a luta, mas também a vitória e a consolação. Se 
                milhares perdem nela o ideal, tende mais confiança que eles, 
                humilhar-vos mais profundamente por causa da vossa fraqueza; e 
                uma graça mais abundante vos fará chegar também - certamente - 
                ao triunfo. 
                RECURSO A MARIA
                
                E para vós, Irmãos, há um sinal, um presságio de 
                que não vos afadigareis em vão, um sinal de que as vossas 
                elevadas aspirações atingirão o fim: sois “Escravos de Maria”. 
                
                Sois dela, Irmãos, sois sua propriedade e tesouro 
                seu. Maria tomou nas suas mãos a vossa causa. Mesmo que os maus 
                costumes aumentassem, e o número de almas fervorosas que cederam 
                e caíram a meio do caminho duplicasse, “Caiam 
                mil ao teu lado e dez mil à tua direita, a ti nada atingirá” 
                (Sl 90, 7). O flagelo (diz Maria) ficará 
                longe de ti. Experimenta-lo-eis, se fordes humildes e zelosos 
                escravozinhos de Maria, Virgem poderosa: “Ele 
                te esconde com suas penas, sob suas asas encontrar um abrigo. 
                Sua fidelidade é escudo e couraça.”
                (Sl 90, 4). 
                
                Ela vos cobrirá com a sua sombra e ficareis, 
                calmos e confiantes, debaixo de suas asas. Ela caminhará 
                convosco ao vosso lado e levar-vos-á por atalhos secretos. O 
                sofrimento não vos poupará, mas Maria dar-vos-á fome dele como 
                de um alimento indispensável. Ah! Maria, Maria! O seu nome será 
                nos vossos lábios como mel e bálsamo. Maria! Maria! Ave Maria! 
                Quem vos pode resistir? Dizei-me: quem poderá perder-se, quem, 
                com a Ave Maria? Maria! Maria! A mãe dos pequeninos, a saúde dos 
                fracos, a estrela nas tempestades...  Maria! Maria! Estais sem 
                auxílio? Ave Maria! Estais desanimado? Ave Maria! Estais sem 
                consolação? Ave Maria! Estais a sofrer muito? Ave Maria! Ave 
                Maria! 
                
                Ah! Que palavra, que doce canção! Que súplica 
                poderosa: Ave Maria! Ah! Consolação dos escravos, Coragem dos 
                pequenos, Poder dos fracos, Ave Maria! Todo o meu coração se 
                inflama, quando pronuncio o vosso nome. Ave Maria! Alegria dos 
                Anjos, Alimento das almas, Ave Maria! 
                
                Irmãos! Nada mais vos digo, depois disto. Sabeis 
                tudo: Amais Maria! Que me falta ensinar-vos? Conheceis o 
                segredo, o segredo de Maria. Estais no caminho, no caminho mais 
                curto e seguro, o caminho fácil: serdes escravozinhos, 
                pequeninos, intrépidos escravos de Maria. Ah! Maria! Oxalá 
                pudéssemos ver estes sacerdotes de Maria, para nos assemelharmos 
                a eles! Maria tende piedade de nós, piedade das almas, piedade 
                da vossa Igreja. Maria! Maria! A impiedade e a corrupção 
                serpeiam pelas ruas da cidade. Através das portas dos pobres e 
                dos ricos, o flagelo do pecado penetra em milhões de almas. O 
                ódio e a injustiça reinam sobre os povos e as nações. Estão a 
                cair por terra as riquezas que vários séculos tinham acumulado. 
                Maria! Maria! O demônio está prestes a ocupar o caminho, entra 
                nas nossas aldeias, nas nossas escolas, nas nossas casas. Poderá 
                ele chegar a suprimir o Evangelho do vosso filho, a bani-lo da 
                sociedade, do espírito dos próprios cristãos? Fará ele adorar 
                Mamona em vez de Santa Cruz? Maria! Maria! 
                
                Formai, Vós, as almas capazes de suster os braços 
                de Deus. Formai padres, padres novos, com coração de fogo para 
                inflamar o mundo frio e árido, dai-lhes uma língua nova que vá 
                direto aos corações, que abale as almas mais endurecidas! Formai 
                sacerdotes, santos sacerdotes que vivam, que colaborem com a 
                graça e voem ao seu mais leve sinal. Formai sacerdotes simples e 
                humildes, sacerdotes como os Apóstolos, que façam reviver entre 
                os pastores e as ovelhas o fervor da perfeição evangélica. Ó 
                Maria! Não vos pedimos honras, ou que nos apontem a dedo, que 
                nos louvem. O que vos rogamos é a graça de podermos ser 
                verdadeiros escravos vossos, de quem ninguém fale, de quem 
                ninguém saiba nada, ignorados, desprezados, pequenos por dentro 
                e por fora, inteiramente vendidos e sujeitos a Vós por causa das 
                almas. “Mites et humiles”, mansos e humildes como Vós, 
                como Jesus, mas fiéis e intrépidos, sem fraquezas e sem respeito 
                humano. 
                
                Maria, onipotente Mediadora, abri enfim o vosso 
                coração cheio de amor e as vossas mãos benfazejas! Fazei descer 
                sobre as nossas pobres almas esta graça tão longamente esperada! 
                Aqui estamos na vossa presença envergonhados da nossa miséria. 
                Fazei de nós verdadeiros escravos vossos. Por amor dos 
                pecadores, Maria! Por amor da Santa Igreja! Ó Maria, Maria, por 
                amor de Jesus! Quando abrirá enfim os olhos este mundo? Quando 
                despertará para compreender que as suas alegrias são cadeias? 
                Quando, ó Maria? Quando é que o mundo se erguerá, para voltar a 
                Jesus, chorando: “Peccavi!” Quando esmagareis de novo 
                para sempre a cabeça da serpente? Quando é que finalmente Jesus 
                reinará como merece? Quando é que o pobre mundo repetirá de novo 
                conosco o vosso louvor e o de Jesus: “Laudetur Jesus et Maria!” 
                 
                 
                
                Pe. Eduardo Poppe 
				 
                 
  
                 |