Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

ASSOCIAÇÃO DE BENFEITORES SÃO JOSÉ

 

CIDADE MISSIONÁRIA DO SANTÍSSIMO CRUCIFIXO, ANÁPOLIS-GO

 

Circular n° 14 - 05/10/2005

 

Caríssimo (a) benfeitor (a), que a paz da gruta de Belém esteja na vossa alma.

 

Prezado (a), aproxime-se da gruta de Belém, e nesse santo lugar, encontrarás a paz e a felicidade que tanto desejas.

No Evangelho de São Lucas, capítulo 2, do versículo 6 ao versículo 7 diz: “Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala”.

Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De repente ela vê uma fulgurante luz, sente no coração um gozo celestial, abaixa os olhos, e o que vê? Santo Afonso Maria de Ligório diz que ela “vê diante de si o Menino Jesus, tão belo e tão amável, que enleva os corações. Mas treme e chora” e segundo a revelação feita a Santa Brígida, o Menino Jesus estendia as mãozinhas para dar a entender que desejava que Maria Santíssima o tomasse nos braços. Santo Afonso diz que Nossa Senhora chama a São José e lhe diz: “Vem, ó José,  vem e vê, pois já nasceu o Filho de Deus”. Aproxima-se São José, e vendo Jesus nascido, adora-o por entre uma torrente de doces lágrimas.

Em seguida, a Santa Virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o amado Filho, e O aquece com o calor de seu rosto. Tendo-o no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-lhe os pés como o seu Rei, e beija-lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa cobri-lO e envolve-O em  pobres paninhos.

Caríssimo (a) benfeitor (a) contempla a gruta; um presépio, um Menino deitado sobre palhinhas, uma virgem perfeitíssima e um varão justo de joelhos, em adoração, e anjos cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!(São Lucas, capítulo 2, versículo 14); eis o quadro de Deus feito homem.

Santo Afonso Maria de Ligório diz que a gruta era escavada em uma rocha, que servia de estábulo para os animais; a gruta era muito fria e úmida, não era uma morada para homens, e sim, para os animais.

Como nasceu o Menino Jesus? Como homem! Com lágrimas nos olhos, com dores no tenro corpinho, com frio em todos os membros, com falta de tudo! Nasce como servo e não como rei, nasce na humilhação, nasce com toda a sua divina grandeza encoberta. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços com pedras preciosas e ricas roupas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Menino Jesus, ao Rei do Céu, acontece o contrário: prepara-se uma gruta fria e sem luz para nascer, uns pobres paninhos para cobri-lO, um pouco de palha para o leito e uma simples manjedoura para colocá-lO”, escreve Santo Afonso Maria de Ligório.

Como nasceu o Menino Jesus? Abandonado!... É Senhor e ninguém O respeita! É Deus e poucos O adora! É Rei e poucos prestam-lhe homenagem!

Prezado (a) benfeitor (a), o Menino Jesus nasce pobre, porque deseja que nós O recebamos em nossa casa, que o vistamos, que o abriguemos do frio, que lhe preparemos um berço.

No Evangelho de São João 1,11 diz: “Veio para os que eram seus, mas não o receberam”. E como o haviam de receber e adorar como seu Deus, se Nosso Senhor veio debaixo de tão rigoroso incógnito, tão disfarçado e tão semelhante aos homens?…

Algum motivo havia de ter Deus para assim nascer. E teve-o! Deus não queria vir ao mundo com o estrondo que acompanha o nascimento dos grandes da terra. Se Ele viesse cercado com toda essa grandeza, os humildes receariam chegar-se à sua presença, e até seria odiado por aqueles que olham para os grandes como para inimigos. O seu fim, era atrair a todos os homens ao seu amor, grandes e pequenos, a fim de a todos procurar a salvação. Por isso fez-se menino, fez-se pobre, fez-se humilde, para que todos se aproximassem dele.

Quando nasceu o Menino Jesus? Nasceu à noite, a horas mortas da noite, quando todos dormiam, quando ninguém O esperava, quando os homens, uns cansados do trabalho, outros dos divertimentos, se entregavam ao sono.

Não esperou que fosse dia para nascer, a fim de não ser visto e conhecido. Nasceu de noite para que, despertando a humanidade com o raiar da aurora, encontrasse já nascido o Sol de Israel, que lhe vinha trazer a salvação.

Nasceu nas trevas, porque vinha ser a luz do mundo, o Sol esplendoroso que vinha dissipar as sombras que pesavam sobre os homens desde que o paraíso se fechou!

Nasceu de noite, para mostrar que era bem escura a noite em que vivia todo o gênero humano, e que essa noite ia ter o seu fim com o amanhecer do solene dia da redenção.

Nasceu de noite; mas ainda assim quis ter quem O adorasse. Foi aos pastores, que vigiavam os seus rebanhos, que os Anjos anunciaram a vinda do Salvador. Não foram à corte de Herodes, nem aos grandes da Judéia e nem aos césares de Roma, como está no Evangelho de São Lucas, capítulo 2, do versículo 8 ao versículo 12: “Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”.

Por que Jesus nasceu?

Porque nos ama! Nasceu por nós, porque deseja a nossa felicidade, porque nos quer em seu reino fazer participantes da sua glória.

Nasceu por nós, a fim de que nós renasçamos para Ele, morrendo para o mundo, para o nosso amor próprio, para as nossas faltas.

Nasceu pobre, para que nós, com seu exemplo, nos animemos a deixar as riquezas e comodidades da vida.

Nasceu no mais completo abandono, para que nós tenhamos por melhor que o nosso nome seja desconhecido, do que ser conhecido por todos e para que, vendo-nos desprezados dos homens, nos consolemos com seu exemplo.

Nasceu na humilhação, para que aprendamos a calcar aos pés o orgulho. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo, confunde o nosso orgulho”, e São Bernardo de Claraval também escreve: “Já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz”.

Prezado (a) benfeitor (a) tende ânimo, Maria Santíssima te convida a entrar na pobre gruta para adorar o seu divino Filho e beijar-lhe os pés. Aproxima e vede sobre a palha o Criador do céu e da terra, feito Menino pequenino, mas tão encantador, tão radiante que para toda a parte irradia torrentes de luz. Já que Jesus nasceu, a gruta não é mais horrorosa, mas foi feita um paraíso. Entre, benfeitor (a) na gruta de Belém e não tenha medo.

Jesus Cristo nasceu, e nasceu para todos. Eu, assim manda-nos avisar Jesus, eu sou a flor do campo, e a açucena dos vales (Cântico dos cânticos 2, 1). Jesus se chama açucena dos vales, para nos dar a entender que, assim como ele nasceu tão humilde, assim somente os humildes o acharão. Por isso, o anjo não foi anunciar o nascimento de Jesus Cristo a César nem a Herodes; mas sim, a pobres e humildes pastores. Jesus chama-se também flor dos campos, porque, segundo a interpretação do cardeal Hugo, quer que todos o possam achar. As flores dos jardins estão reclusas e não se permite a todos procurá-las e tomá-las.  Ao contrário, as flores dos campos estão expostas à vista de todos, e quem quiser as pode tirar; é assim que Jesus Cristo quer estar ao alcance de todo aquele que o desejar.

Caríssimo (a) benfeitor (a) entre na gruta, pois a porta está aberta. São Pedro Crisólogo escreve: “Não há guarda e nem hora marcada”. Sabemos que os príncipes  ficam trancados nos seus palácios, cercados de soldados, e não é fácil obter uma audiência com eles. Aquele que deseja falar com os reis, tem de suportar muitas fadigas e possuir muita paciência, porque será mandado embora várias vezes e aconselhado a voltar depois, por não ser dia de audiência. Com Nosso Senhor Jesus Cristo não é assim. Ele está na gruta de Belém, como criancinha, para atrair a quem vier procurá-lO. A gruta está aberta, sem guardas nem portas, de modo que cada um pode entrar à vontade, quando quiser, para achar o pequenino rei, para falar com ele e mesmo abraçá-lO, e assim, satisfazer a seu amor.

Prezado (a) benfeitor (a), contempla naquela manjedoura, sobre aquela pobre palha o Querido Menino que está a chorar. Vede como Ele é formoso; olha a luz que Ele irradia e o amor que O mesmo respira; os seus olhos atiram setas aos corações que O desejam, o seu choro são chamas abrasadoras para os que o amam. No dizer de São Bernardo de Claraval, a própria gruta e as próprias palhas clamam e vos diz que ameis aquele que vos ama, que ameis um Deus que é digno de amor infinito, que desceu  do céu e se fez menino, e menino pobre para manifestar o amor que vos tem e para cativar por seus sofrimentos o vosso amor.

Caríssimo (a) benfeitor (a) pergunte ao Menino Jesus: Ó formoso Menino pequenino, dize-me, de quem és filho? Ele com certeza responderá: Minha mãe é esta linda e pura Virgem, que está ao meu lado. E teu pai, quem é? Meu Pai é Deus. Mas como? Tu és o Filho de Deus, e és tão pobre, tão humilde? Nesse estado quem te reconhecerá? Quem te respeitará? A fé, responderá o Menino Jesus, a fé me fará conhecer por quem sou, e me fará amar pelas almas que eu vim remir e inflamar em meu amor. Não vim para me fazer temido, senão para me fazer amado, e por isso, quis manifestar-me, a primeira vez que me vedes, como criança tão pobre e humilde, a fim de que assim me ameis com mais ternura, vendo a que estado me reduziu o amor que vos tenho.

Benfeitor(a), continue a contemplar a gruta de Belém, e com certeza o vosso coração se abrasará de amor pelo Menino Jesus, e você adquirirá forças para deixar de lado tudo aquilo que desagrado a esse Adorável Menino.

O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita, úmida e pobre. Que festejos não se organizam num pais, quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia, como está em São Lucas, 1,78: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo qual nos visita o Astro das alturas”.

Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus Cristo veio para nos salvar. Eis ai o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas. Eis ai o Cordeiro de Deus que veio sacrificar-se para nos obter a graça divina e fazer-se nossa vida, nossa luz, e nosso alimento no Santíssimo Sacramento. Diz Santo Agostinho, que entre outras razões, Jesus quis ser posto numa manjedoura, onde os animais acham o pasto, para nos dar a entender que se fez homem também para se tornar nosso alimento.

Caríssimo (a) benfeitor (a), Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Jesus nasce, por assim dizer, nasce cada dia no Santíssimo Sacramento por meio da consagração feita pelo sacerdote. O altar é como que o presépio , onde nos alimentamos com a sua própria carne. Talvez alguém deseje trazer o Menino Jesus nos braços, assim como o  trouxe o velho Simeão. Mas a fé nos ensina que na santa comunhão temos, não somente em nossos braços, senão dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que esteve no presépio de Belém”, escreve Santo Afonso Maria de Ligório.

Benfeitor (a), Jesus Cristo podia salvar-nos sem padecer, nem morrer; mas não. A fim de nos fazer conhecer até que ponto nos amava, quis escolher uma vida toda de tribulações. Por isso, o profeta Isaías o chamou: “Homem das Dores”, por quanto a vida de Jesus Cristo devia ser uma vida toda cheia de dores. A sua Paixão não teve seu princípio no tempo da sua morte, mas sim, no começo da sua vida.

Vede que Jesus, apenas nascido, é posto na manjedoura de uma estrebaria, onde tudo concorria para o atormentar. É atormentado na vista, que não descobre na gruta senão paredes grosseiras e negras. É atormentado no olfato, pelo fedor das imundícias dos animais que ali se acham. É atormentado no tato, pelas picadas da palha que lhe servia de cama. Pouco depois de nascido, vê-se obrigado a fugir para o Egito, onde passou vários anos da infância, na pobreza e no desprezo. Nem diferente foi a sua vida depois em Nazaré; e eis que finalmente termina a sua vida em Jerusalém, morrendo sobre uma cruz, pela veemência dos tormentos.

Prezado (a) benfeitor (a) não fique distraído, aproxime-se da gruta e  adore a Jesus Cristo que quis nascer criança. Considera, benfeitor (a), que ao fim de tantos séculos, depois de tantas súplicas e suspiros, o Messias, a quem os santos Patriarcas e Profetas não tinham sido dignos de verem, o Suspirado das gentes, o desejado das colinas eternas, o  nosso salvador, já veio, já nasceu e já se deu todo a nós. O Filho de Deus se fez pequenino, para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nós nos demos a Ele; veio mostrar-nos o seu amor a fim de que nós lhe respondamos com o nosso. Façamos-lhe acolhida afetuosa, amemo-lO e recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.

As crianças, diz São Bernardo de Claraval, gostam de dar o que se lhes pede. Jesus veio como criança, para se nos mostrar todo inclinado e propenso a comunicar-nos os seus bens. Se desejamos luz, ele veio para nos iluminar. Se queremos força para resistirmos aos inimigos, ele veio exatamente para nos confortar. Se queremos o perdão e a salvação, ei-lo que veio para nos perdoar e nos salvar. Se queremos, finalmente, o dom supremo do divino amor, Ele veio para abrasar-nos o coração. É sobretudo para este fim que se fez criança. Quis aparecer no meio de nós tanto mais amável, quanto mais pobre e humilde, quis tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor, escreve São Pedro Crisólogo.

Além disso, Jesus quis vir pequenino para ser de nós amado com amor não somente de apreço, senão também de ternura. Todas as crianças sabem ganhar o afeto de todos aqueles que as vêem; mas quem não amará com toda a ternura a um Deus feito criancinha, necessitado de leite, tiritante de frio, pobre, humilhado, abandonado; a um Deus que chora numa manjedoura? Isso fez São Francisco de Assis exclamar: “Vinde amar a um Deus feito criança, feito pobre, e tão amável que desceu do céu para se dar todo a vós”.

Benfeitor (a), contempla o Menino Jesus envolto em faixas. Vede como o Menino Jesus obediente oferece as mãozinhas, oferece os pés e se deixa enfaixar. Ponderai que, cada vez que o divino Infante se deixava enfaixar, pensava nas cordas com que um dia devia ser amarrado no Horto, naquelas que depois deviam prendê-lo à coluna, e nos pregos que deviam fixá-lo na cruz. Escreve Santo Afonso Maria de Ligório: “Pensando assim, deixava-se de boa mente enfaixar, a fim de livrar as nossas almas dos laços do inferno”.

O Menino Jesus, estreitado nas faixas, volve-se a nós e convida-nos a que nos unamos consigo pelos doces laços do amor. Volvendo-se em seguida a seu Eterno Pai diz: “Meu Pai, os homens abusaram de sua liberdade e, revoltados contra Vós, tornaram-se escravos do pecado. Para compensar a sua desobediência, quero ser envolto e estreitado nestas faixas. Assim ligado, ofereço-Vos a minha liberdade, a fim de que o homem fique livre da escravidão do demônio. Aceito estas faixas, que me são caras, e mais caras ainda, porque são símbolos das cordas com que, desde agora, me ofereço a ser um dia amarrado e conduzido à morte para salvação dos homens”.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Depois que o Menino Jesus foi envolto nas faixas, pediu através do choro, a alimentação”. O Filho de Deus e nosso irmãozinho pediu a Maria Santíssima o alimento próprio da sua idade.  Que espetáculo era para o Paraíso ver o Verbo divino feito criança, nutrir-se com o leite que lhe oferecia uma virgem, sua criatura. Aquele que nutre todos os homens e todos os animais da terra, ei-lO reduzido a tal estado de fraqueza e de pobreza, que precisa de um pouco de leite para sustentar a vida.

Caríssimo (a) benfeitor (a), depois de alimentar-se com o leite de Maria Santíssima, o Menino Jesus dormia. Santo Afonso diz que o seu sono era “demasiadamente breve e doloroso”. Servia-lhe de berço uma manjedoura, a palha de colchão e de travesseiro. Assim o sono do Menino Jesus foi muitas vezes interrompido pela dureza daquela cama excessivamente dura e molesta, e pelo rigor do frio que reinava na gruta. De vez em quando, porém, a natureza sucumbia à necessidade e o Menino querido adormecia. Mas o sono de Jesus foi muito diferente do sono das outras crianças. O sono destas é útil à conservação da vida; não, porém, quanto às operações da alma, porque esta, privada do uso dos sentidos, fica reduzida à inatividade. Não foi assim o sono de Jesus Cristo. O corpo repousava; velava, porém a alma, que em Jesus Cristo era unida à Pessoa do Verbo, que não podia dormir, nem ficar sopitada pela inatividade dos sentidos.

Dormia, pois, o santo Menino, mas enquanto dormia, pensava em todos os padecimentos que teria de sofrer por nosso amor, no correr de toda a sua vida e na hora da sua morte. Pensava nos trabalhos por que havia de passar no Egito e em Nazaré, levando uma vida extremamente pobre e desprezada. Pensava particularmente nos açoites, nos espinhos, nas injúrias, na agonia e na morte desolada, que afinal devia padecer sobre a cruz. Tudo isso Jesus oferecia ao Pai Eterno, enquanto dormia, a fim de obter para nós o perdão e a salvação. Assim nosso Salvador, durante o sono, estava merecendo por nós, reconciliava conosco seu Pai e alcançava-nos graças, escreve Santo Afonso.

Prezado (a) benfeitor (a), na gruta de Belém o Menino Jesus chorou. As lágrimas do Menino Jesus foram muito diferentes das que as outras crianças derramam quando nascem. Estas choram de dor, diz São Bernardo de Claraval, mas o Menino Jesus não chora de dor, mas sim de compaixão para conosco e de amor. Chorar por alguém é sinal de grande amor. Por esta razão os Judeus, ao verem o Salvador chorar a morte de Lázaro, diziam: “Vede como o amava (Jo 11,36). Da mesma forma os anjos, vendo as lágrimas de Jesus Menino, podiam dizer: Vede como nosso Deus ama os homens, pois por amor deles vemo-lO feito homem, feito criança, vemo-lO chorar. Jesus chorava e oferecia as suas lágrimas ao Pai Eterno, para obter para nós o perdão dos nossos pecados. Escreve Santo Ambrósio: “Aquelas lágrimas lavaram os nossos crimes”.

Benfeitor (a), com seus choros e gemidos Jesus Cristo suplicava misericórdia por nós, que estávamos condenados à morte eterna, e aplacava a indignação de seu Pai.

Jesus chora de amor; mas chora também de dor à vista de tão grande número de pecadores que, apesar de tantas lágrimas e de tanto sangue derramado para a salvação deles, não deixariam de desprezar a sua graça. Quem será tão cruel que, vendo um Deus-Menino chorar as nossas culpas, não chore também e não deteste os pecados que tanto tem feito chorar o nosso amantíssimo Senhor? Benfeitor (a), não agravemos mais os padecimentos deste inocente Menino, mas consolemo-lO, misturando as nossas lágrimas com as suas. Ofereçamos a Deus as lágrimas de seu Filho, e roguemos-lhe que pelos merecimentos delas nos perdoe.

Prezado (a) benfeitor (a), todos os sinais que o Anjo deu aos pastores para acharem o Salvador já nascido, foram sinais de humildade: Eis o sinal para reconhecer o Messias nascido, disse o Anjo: achareis uma criança, envolta em pobres paninhos, numa estrebaria e deitada sobre a palha numa manjedoura de animais. Foi assim que quis nascer o Rei do céu, o Filho de Deus, porque vinha destruir o orgulho, que fora a causa da perdição do homem.

Os profetas já tinham predito que o nosso Redentor devia ser saciado de opróbrios e tratado como o homem mais vil do mundo. Quantos desprezos  não teve Jesus de sofrer da parte dos homens! Foi qualificado de ébrio, de mágico, de blasfemo e de herege. E depois, quantas ignomínias sofreu na sua Paixão. Foi abandonado por seus próprios discípulos, dos quais um o vendeu por trinta moedas, outro negou tê-lO jamais conhecido. Foi levado pelas ruas preso e amarrado como um malfeitor, açoitado como um escravo, qualificado de insensato e de rei de burla; foi esbofeteado, coberto de escarros, e finalmente fizeram-no morrer suspenso numa cruz, em meio a dois ladrões. São Bernardo de Claraval escreve: “O mais nobre de todos foi tratado como se fosse o mais vil de todos”.

Benfeitor (a), se quereis ser santo, esforçai-vos por imitar a vida humilde e desprezada de Jesus Cristo. Habitue-se a antever de manhã tudo o que durante o dia possa contrariar o vosso amor próprio, e disponde-vos a sofrê-lO em paz por amor de Jesus Cristo, que tem sofrido coisas mais graves por vosso amor. Seria de grande proveito praticardes o excelente conselho que o Pe. Torres dava a seus penitentes: “Rezai todos os dias um Pai-Nosso e uma Ave-Maria em louvor da vida desprezada de Jesus Cristo, e oferecei-vos a sofrer não somente em paz, senão também com alegria, por amor dele, todos os desprezos e contrariedades que vos queira enviar, pedindo ao mesmo tempo o auxílio para lhe serdes fiel”.

Caríssimo (a) benfeitor (a), aproximemo-nos da pobre gruta de Belém, contemplemos o Menino Jesus que está dormindo e rezemos com fé e devoção: Ó meu querido e santo Menino, Vós estais dormindo, e esse vosso sono me abrasa de amor! Para os outros o sono é figura da morte; mas em Vós é símbolo de vida eterna, porque, enquanto repousais, estais merecendo para mim a eterna salvação. Estais dormindo; porém o vosso coração não dorme, mas pensa em padecer e morrer por mim. Durante o vosso sono rogais por mim e me impetrais de Deus o descanso eterno do paraíso. Mas enquanto não me levardes, como espero, para repousar junto de Vós no céu, quero que repouseis sempre em minha alma. Amém.

 

Eu te abençôo e te guardo no Coração Adorável do Menino Jesus.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Associação de benfeitores São José -
Circular nº 14 -
05/10/2005 ”.

www.filhosdapaixao.org.br/circulares/circulares_03_14.htm

 

  Outras circulares