CIDADE MISSIONÁRIA DO SANTÍSSIMO CRUCIFIXO, ANÁPOLIS-GO
Circular n° 14 - 05/10/2005
Caríssimo (a) benfeitor (a), que a paz da gruta de
Belém esteja na vossa alma.
Prezado (a), aproxime-se da gruta de Belém, e nesse
santo lugar, encontrarás a paz e a felicidade que tanto desejas.
No Evangelho de São Lucas, capítulo 2, do versículo 6
ao versículo 7 diz: “Enquanto lá estavam, completaram-se os dias
para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o
com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar
para eles na sala”.
Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo
em oração. De repente ela vê uma fulgurante luz, sente no coração um
gozo celestial, abaixa os olhos, e o que vê? Santo Afonso Maria de
Ligório diz que ela “vê diante de si o Menino Jesus, tão belo e
tão amável, que enleva os corações. Mas treme e chora” e segundo a
revelação feita a Santa Brígida, o Menino Jesus estendia as
mãozinhas para dar a entender que desejava que Maria Santíssima o
tomasse nos braços. Santo Afonso diz que Nossa Senhora chama a São
José e lhe diz: “Vem, ó José, vem e vê, pois já nasceu o Filho de
Deus”. Aproxima-se São José, e vendo Jesus nascido, adora-o por
entre uma torrente de doces lágrimas.
Em seguida, a Santa Virgem, movida de compaixão
maternal, levanta com respeito o amado Filho, e O aquece com o calor
de seu rosto. Tendo-o no colo, adora o divino Menino como seu Deus,
beija-lhe os pés como o seu Rei, e beija-lhe o rosto como a seu
Filho e procura depressa cobri-lO e envolve-O em pobres paninhos.
Caríssimo (a) benfeitor (a) contempla a gruta; um
presépio, um Menino deitado sobre palhinhas, uma virgem
perfeitíssima e um varão justo de joelhos, em adoração, e anjos
cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de
boa vontade!” (São Lucas, capítulo 2,
versículo 14); eis o quadro de Deus feito
homem.
Santo Afonso Maria de Ligório diz que a gruta era
escavada em uma rocha, que servia de estábulo para os animais; a
gruta era muito fria e úmida, não era uma morada para homens, e sim,
para os animais.
Como nasceu o Menino Jesus? Como homem! Com lágrimas
nos olhos, com dores no tenro corpinho, com frio em todos os
membros, com falta de tudo! Nasce como servo e não como rei, nasce
na humilhação, nasce com toda a sua divina grandeza encoberta. Santo
Afonso Maria de Ligório escreve: “Os filhos dos príncipes nascem
em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços com pedras
preciosas e ricas roupas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores
do reino. E ao Menino Jesus, ao Rei do Céu, acontece o contrário:
prepara-se uma gruta fria e sem luz para nascer, uns pobres paninhos
para cobri-lO, um pouco de palha para o leito e uma simples
manjedoura para colocá-lO”, escreve Santo Afonso Maria de
Ligório.
Como nasceu o Menino Jesus? Abandonado!... É Senhor e
ninguém O respeita! É Deus e poucos O adora! É Rei e poucos
prestam-lhe homenagem!
Prezado (a) benfeitor (a), o Menino Jesus nasce
pobre, porque deseja que nós O recebamos em nossa casa, que o
vistamos, que o abriguemos do frio, que lhe preparemos um berço.
No Evangelho de São João 1,11 diz: “Veio para os
que eram seus, mas não o receberam”. E como o haviam de receber
e adorar como seu Deus, se Nosso Senhor veio debaixo de tão rigoroso
incógnito, tão disfarçado e tão semelhante aos homens?…
Algum motivo havia de ter Deus para assim nascer. E
teve-o! Deus não queria vir ao mundo com o estrondo que acompanha o
nascimento dos grandes da terra. Se Ele viesse cercado com toda essa
grandeza, os humildes receariam chegar-se à sua presença, e até
seria odiado por aqueles que olham para os grandes como para
inimigos. O seu fim, era atrair a todos os homens ao seu amor,
grandes e pequenos, a fim de a todos procurar a salvação. Por isso
fez-se menino, fez-se pobre, fez-se humilde, para que todos se
aproximassem dele.
Quando nasceu o Menino Jesus? Nasceu à noite, a horas
mortas da noite, quando todos dormiam, quando ninguém O esperava,
quando os homens, uns cansados do trabalho, outros dos
divertimentos, se entregavam ao sono.
Não esperou que fosse dia para nascer, a fim de não
ser visto e conhecido. Nasceu de noite para que, despertando a
humanidade com o raiar da aurora, encontrasse já nascido o Sol de
Israel, que lhe vinha trazer a salvação.
Nasceu nas trevas, porque vinha ser a luz do mundo, o
Sol esplendoroso que vinha dissipar as sombras que pesavam sobre os
homens desde que o paraíso se fechou!
Nasceu de noite, para mostrar que era bem escura a
noite em que vivia todo o gênero humano, e que essa noite ia ter o
seu fim com o amanhecer do solene dia da redenção.
Nasceu de noite; mas ainda assim quis ter quem O
adorasse. Foi aos pastores, que vigiavam os seus rebanhos, que os
Anjos anunciaram a vinda do Salvador. Não foram à corte de Herodes,
nem aos grandes da Judéia e nem aos césares de Roma, como está no
Evangelho de São Lucas, capítulo 2, do versículo 8 ao versículo 12:
“Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que
durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O anjo
do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e
ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: “Não
temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para
todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na
cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um
recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”.
Por que Jesus nasceu?
Porque nos ama! Nasceu por nós, porque deseja a nossa
felicidade, porque nos quer em seu reino fazer participantes da sua
glória.
Nasceu por nós, a fim de que nós renasçamos para Ele,
morrendo para o mundo, para o nosso amor próprio, para as nossas
faltas.
Nasceu pobre, para que nós, com seu exemplo, nos
animemos a deixar as riquezas e comodidades da vida.
Nasceu no mais completo abandono, para que nós
tenhamos por melhor que o nosso nome seja desconhecido, do que ser
conhecido por todos e para que, vendo-nos desprezados dos homens,
nos consolemos com seu exemplo.
Nasceu na humilhação, para que aprendamos a calcar
aos pés o orgulho. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Um
Deus que quer começar a sua infância num estábulo, confunde o nosso
orgulho”, e São Bernardo de Claraval também escreve: “Já prega com
exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz”.
Prezado (a) benfeitor (a) tende ânimo, Maria
Santíssima te convida a entrar na pobre gruta para adorar o seu
divino Filho e beijar-lhe os pés. Aproxima e vede sobre a palha o
Criador do céu e da terra, feito Menino pequenino, mas tão
encantador, tão radiante que para toda a parte irradia torrentes de
luz. Já que Jesus nasceu, a gruta não é mais horrorosa, mas foi
feita um paraíso. Entre, benfeitor (a) na gruta de Belém e não tenha
medo.
Jesus Cristo nasceu, e nasceu para todos. Eu, assim
manda-nos avisar Jesus, eu sou a flor do campo, e a açucena dos
vales (Cântico dos cânticos 2, 1).
Jesus se chama açucena dos vales, para nos dar a entender que, assim
como ele nasceu tão humilde, assim somente os humildes o acharão.
Por isso, o anjo não foi anunciar o nascimento de Jesus Cristo a
César nem a Herodes; mas sim, a pobres e humildes pastores. Jesus
chama-se também flor dos campos, porque, segundo a interpretação do
cardeal Hugo, quer que todos o possam achar. As flores dos jardins
estão reclusas e não se permite a todos procurá-las e tomá-las. Ao
contrário, as flores dos campos estão expostas à vista de todos, e
quem quiser as pode tirar; é assim que Jesus Cristo quer estar ao
alcance de todo aquele que o desejar.
Caríssimo (a) benfeitor (a) entre na gruta, pois a
porta está aberta. São Pedro Crisólogo escreve: “Não há guarda e
nem hora marcada”. Sabemos que os príncipes ficam trancados nos
seus palácios, cercados de soldados, e não é fácil obter uma
audiência com eles. Aquele que deseja falar com os reis, tem de
suportar muitas fadigas e possuir muita paciência, porque será
mandado embora várias vezes e aconselhado a voltar depois, por não
ser dia de audiência. Com Nosso Senhor Jesus Cristo não é assim. Ele
está na gruta de Belém, como criancinha, para atrair a quem vier
procurá-lO. A gruta está aberta, sem guardas nem portas, de modo que
cada um pode entrar à vontade, quando quiser, para achar o pequenino
rei, para falar com ele e mesmo abraçá-lO, e assim, satisfazer a seu
amor.
Prezado (a) benfeitor (a), contempla naquela
manjedoura, sobre aquela pobre palha o Querido Menino que está a
chorar. Vede como Ele é formoso; olha a luz que Ele irradia e o amor
que O mesmo respira; os seus olhos atiram setas aos corações que O
desejam, o seu choro são chamas abrasadoras para os que o amam. No
dizer de São Bernardo de Claraval, a própria gruta e as próprias
palhas clamam e vos diz que ameis aquele que vos ama, que ameis um
Deus que é digno de amor infinito, que desceu do céu e se fez
menino, e menino pobre para manifestar o amor que vos tem e para
cativar por seus sofrimentos o vosso amor.
Caríssimo (a) benfeitor (a) pergunte ao Menino Jesus:
Ó formoso Menino pequenino, dize-me, de quem és filho? Ele com
certeza responderá: Minha mãe é esta linda e pura Virgem, que está
ao meu lado. E teu pai, quem é? Meu Pai é Deus. Mas como? Tu és o
Filho de Deus, e és tão pobre, tão humilde? Nesse estado quem te
reconhecerá? Quem te respeitará? A fé, responderá o Menino Jesus, a
fé me fará conhecer por quem sou, e me fará amar pelas almas que eu
vim remir e inflamar em meu amor. Não vim para me fazer temido,
senão para me fazer amado, e por isso, quis manifestar-me, a
primeira vez que me vedes, como criança tão pobre e humilde, a fim de
que assim me ameis com mais ternura, vendo a que estado me reduziu o
amor que vos tenho.
Benfeitor(a), continue a contemplar a gruta de Belém,
e com certeza o vosso coração se abrasará de amor pelo Menino Jesus,
e você adquirirá forças para deixar de lado tudo aquilo que
desagrado a esse Adorável Menino.
O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao
mundo inteiro. É ele o Redentor desejado durante tantos anos e com
tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes,
o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta
estreita, úmida e pobre. Que festejos não se organizam num pais,
quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós
festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos
visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia, como
está em São Lucas, 1,78: “Graças ao misericordioso coração do
nosso Deus, pelo qual nos visita o Astro das alturas”.
Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que
Jesus Cristo veio para nos salvar. Eis ai o Pastor, vindo para
salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas. Eis ai
o Cordeiro de Deus que veio sacrificar-se para nos obter a graça
divina e fazer-se nossa vida, nossa luz, e nosso alimento no
Santíssimo Sacramento. Diz Santo Agostinho, que entre outras razões,
Jesus quis ser posto numa manjedoura, onde os animais acham o pasto,
para nos dar a entender que se fez homem também para se tornar nosso
alimento.
Caríssimo (a) benfeitor (a), Santo Afonso Maria de
Ligório escreve: “Jesus nasce, por assim dizer, nasce cada dia no
Santíssimo Sacramento por meio da consagração feita pelo sacerdote.
O altar é como que o presépio , onde nos alimentamos com a sua
própria carne. Talvez alguém deseje trazer o Menino Jesus nos
braços, assim como o trouxe o velho Simeão. Mas a fé nos ensina que
na santa comunhão temos, não somente em nossos braços, senão dentro
do nosso peito, o mesmo Jesus, que esteve no presépio de Belém”,
escreve Santo Afonso Maria de Ligório.
Benfeitor (a), Jesus Cristo podia salvar-nos sem
padecer, nem morrer; mas não. A fim de nos fazer conhecer até que
ponto nos amava, quis escolher uma vida toda de tribulações. Por
isso, o profeta Isaías o chamou: “Homem das Dores”, por
quanto a vida de Jesus Cristo devia ser uma vida toda cheia de
dores. A sua Paixão não teve seu princípio no tempo da sua morte,
mas sim, no começo da sua vida.
Vede que Jesus, apenas nascido, é posto na manjedoura
de uma estrebaria, onde tudo concorria para o atormentar. É
atormentado na vista, que não descobre na gruta senão paredes
grosseiras e negras. É atormentado no olfato, pelo fedor das
imundícias dos animais que ali se acham. É atormentado no tato,
pelas picadas da palha que lhe servia de cama. Pouco depois de
nascido, vê-se obrigado a fugir para o Egito, onde passou vários
anos da infância, na pobreza e no desprezo. Nem diferente foi a sua
vida depois em Nazaré; e eis que finalmente termina a sua vida em
Jerusalém, morrendo sobre uma cruz, pela veemência dos tormentos.
Prezado (a) benfeitor (a) não fique distraído,
aproxime-se da gruta e adore a Jesus Cristo que quis nascer
criança. Considera, benfeitor (a), que ao fim de tantos séculos,
depois de tantas súplicas e suspiros, o Messias, a quem os santos
Patriarcas e Profetas não tinham sido dignos de verem, o Suspirado
das gentes, o desejado das colinas eternas, o nosso salvador, já
veio, já nasceu e já se deu todo a nós. O Filho de Deus se fez
pequenino, para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nós nos
demos a Ele; veio mostrar-nos o seu amor a fim de que nós lhe
respondamos com o nosso. Façamos-lhe acolhida afetuosa, amemo-lO e
recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.
As crianças, diz São Bernardo de Claraval, gostam de
dar o que se lhes pede. Jesus veio como criança, para se nos mostrar
todo inclinado e propenso a comunicar-nos os seus bens. Se desejamos
luz, ele veio para nos iluminar. Se queremos força para resistirmos
aos inimigos, ele veio exatamente para nos confortar. Se queremos o
perdão e a salvação, ei-lo que veio para nos perdoar e nos salvar.
Se queremos, finalmente, o dom supremo do divino amor, Ele veio para
abrasar-nos o coração. É sobretudo para este fim que se fez criança.
Quis aparecer no meio de nós tanto mais amável, quanto mais pobre e
humilde, quis tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor, escreve
São Pedro Crisólogo.
Além disso, Jesus quis vir pequenino para ser de nós
amado com amor não somente de apreço, senão também de ternura. Todas
as crianças sabem ganhar o afeto de todos aqueles que as vêem; mas
quem não amará com toda a ternura a um Deus feito criancinha,
necessitado de leite, tiritante de frio, pobre, humilhado,
abandonado; a um Deus que chora numa manjedoura? Isso fez São
Francisco de Assis exclamar: “Vinde amar a um Deus feito criança,
feito pobre, e tão amável que desceu do céu para se dar todo a vós”.
Benfeitor (a), contempla o Menino Jesus envolto em
faixas. Vede como o Menino Jesus obediente oferece as mãozinhas,
oferece os pés e se deixa enfaixar. Ponderai que, cada vez que o
divino Infante se deixava enfaixar, pensava nas cordas com que um
dia devia ser amarrado no Horto, naquelas que depois deviam
prendê-lo à coluna, e nos pregos que deviam fixá-lo na cruz. Escreve
Santo Afonso Maria de Ligório: “Pensando assim, deixava-se de boa
mente enfaixar, a fim de livrar as nossas almas dos laços do inferno”.
O Menino Jesus, estreitado nas faixas, volve-se a nós
e convida-nos a que nos unamos consigo pelos doces laços do amor.
Volvendo-se em seguida a seu Eterno Pai diz: “Meu Pai, os homens
abusaram de sua liberdade e, revoltados contra Vós, tornaram-se
escravos do pecado. Para compensar a sua desobediência, quero ser
envolto e estreitado nestas faixas. Assim ligado, ofereço-Vos a
minha liberdade, a fim de que o homem fique livre da escravidão do
demônio. Aceito estas faixas, que me são caras, e mais caras ainda,
porque são símbolos das cordas com que, desde agora, me ofereço a
ser um dia amarrado e conduzido à morte para salvação dos homens”.
Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Depois que
o Menino Jesus foi envolto nas faixas, pediu através do choro, a
alimentação”. O Filho de Deus e nosso irmãozinho pediu a Maria
Santíssima o alimento próprio da sua idade. Que espetáculo era para
o Paraíso ver o Verbo divino feito criança, nutrir-se com o leite
que lhe oferecia uma virgem, sua criatura. Aquele que nutre todos os
homens e todos os animais da terra, ei-lO reduzido a tal estado de
fraqueza e de pobreza, que precisa de um pouco de leite para
sustentar a vida.
Caríssimo (a) benfeitor (a), depois de alimentar-se
com o leite de Maria Santíssima, o Menino Jesus dormia. Santo Afonso
diz que o seu sono era “demasiadamente breve e doloroso”.
Servia-lhe de berço uma manjedoura, a palha de colchão e de
travesseiro. Assim o sono do Menino Jesus foi muitas vezes
interrompido pela dureza daquela cama excessivamente dura e molesta,
e pelo rigor do frio que reinava na gruta. De vez em quando, porém,
a natureza sucumbia à necessidade e o Menino querido adormecia. Mas
o sono de Jesus foi muito diferente do sono das outras crianças. O
sono destas é útil à conservação da vida; não, porém, quanto às
operações da alma, porque esta, privada do uso dos sentidos, fica
reduzida à inatividade. Não foi assim o sono de Jesus Cristo. O
corpo repousava; velava, porém a alma, que em Jesus Cristo era unida
à Pessoa do Verbo, que não podia dormir, nem ficar sopitada pela
inatividade dos sentidos.
Dormia, pois, o santo Menino, mas enquanto dormia,
pensava em todos os padecimentos que teria de sofrer por nosso amor,
no correr de toda a sua vida e na hora da sua morte. Pensava nos
trabalhos por que havia de passar no Egito e em Nazaré, levando uma
vida extremamente pobre e desprezada. Pensava particularmente nos
açoites, nos espinhos, nas injúrias, na agonia e na morte desolada,
que afinal devia padecer sobre a cruz. Tudo isso Jesus oferecia ao
Pai Eterno, enquanto dormia, a fim de obter para nós o perdão e a
salvação. Assim nosso Salvador, durante o sono, estava merecendo por
nós, reconciliava conosco seu Pai e alcançava-nos graças, escreve
Santo Afonso.
Prezado (a) benfeitor (a), na gruta de Belém o Menino
Jesus chorou. As lágrimas do Menino Jesus foram muito diferentes das
que as outras crianças derramam quando nascem. Estas choram de dor,
diz São Bernardo de Claraval, mas o Menino Jesus não chora de dor,
mas sim de compaixão para conosco e de amor. Chorar por alguém é
sinal de grande amor. Por esta razão os Judeus, ao verem o Salvador
chorar a morte de Lázaro, diziam: “Vede como o amava”
(Jo 11,36). Da mesma forma os
anjos, vendo as lágrimas de Jesus Menino, podiam dizer: Vede como
nosso Deus ama os homens, pois por amor deles vemo-lO feito homem,
feito criança, vemo-lO chorar. Jesus chorava e oferecia as suas
lágrimas ao Pai Eterno, para obter para nós o perdão dos nossos
pecados. Escreve Santo Ambrósio: “Aquelas lágrimas lavaram os
nossos crimes”.
Benfeitor (a), com seus choros e gemidos Jesus Cristo
suplicava misericórdia por nós, que estávamos condenados à morte
eterna, e aplacava a indignação de seu Pai.
Jesus chora de amor; mas chora também de dor à vista
de tão grande número de pecadores que, apesar de tantas lágrimas e
de tanto sangue derramado para a salvação deles, não deixariam de
desprezar a sua graça. Quem será tão cruel que, vendo um Deus-Menino
chorar as nossas culpas, não chore também e não deteste os pecados
que tanto tem feito chorar o nosso amantíssimo Senhor? Benfeitor
(a), não agravemos mais os padecimentos deste inocente Menino, mas
consolemo-lO, misturando as nossas lágrimas com as suas. Ofereçamos
a Deus as lágrimas de seu Filho, e roguemos-lhe que pelos
merecimentos delas nos perdoe.
Prezado (a) benfeitor (a), todos os sinais que o Anjo
deu aos pastores para acharem o Salvador já nascido, foram sinais de
humildade: Eis o sinal para reconhecer o Messias nascido, disse o
Anjo: achareis uma criança, envolta em pobres paninhos, numa
estrebaria e deitada sobre a palha numa manjedoura de animais. Foi
assim que quis nascer o Rei do céu, o Filho de Deus, porque vinha
destruir o orgulho, que fora a causa da perdição do homem.
Os profetas já tinham predito que o nosso Redentor
devia ser saciado de opróbrios e tratado como o homem mais vil do
mundo. Quantos desprezos não teve Jesus de sofrer da parte dos
homens! Foi qualificado de ébrio, de mágico, de blasfemo e de
herege. E depois, quantas ignomínias sofreu na sua Paixão. Foi
abandonado por seus próprios discípulos, dos quais um o vendeu por
trinta moedas, outro negou tê-lO jamais conhecido. Foi levado pelas
ruas preso e amarrado como um malfeitor, açoitado como um escravo,
qualificado de insensato e de rei de burla; foi esbofeteado, coberto
de escarros, e finalmente fizeram-no morrer suspenso numa cruz, em
meio a dois ladrões. São Bernardo de Claraval escreve: “O mais
nobre de todos foi tratado como se fosse o mais vil de todos”.
Benfeitor (a), se quereis ser santo, esforçai-vos por
imitar a vida humilde e desprezada de Jesus Cristo. Habitue-se a
antever de manhã tudo o que durante o dia possa contrariar o vosso
amor próprio, e disponde-vos a sofrê-lO em paz por amor de Jesus
Cristo, que tem sofrido coisas mais graves por vosso amor. Seria de
grande proveito praticardes o excelente conselho que o Pe. Torres
dava a seus penitentes: “Rezai todos os dias um Pai-Nosso e uma
Ave-Maria em louvor da vida desprezada de Jesus Cristo, e
oferecei-vos a sofrer não somente em paz, senão também com alegria,
por amor dele, todos os desprezos e contrariedades que vos queira
enviar, pedindo ao mesmo tempo o auxílio para lhe serdes fiel”.
Caríssimo (a) benfeitor (a), aproximemo-nos da pobre
gruta de Belém, contemplemos o Menino Jesus que está dormindo e
rezemos com fé e devoção: Ó meu querido e santo Menino, Vós estais
dormindo, e esse vosso sono me abrasa de amor! Para os outros o sono
é figura da morte; mas em Vós é símbolo de vida eterna, porque,
enquanto repousais, estais merecendo para mim a eterna salvação.
Estais dormindo; porém o vosso coração não dorme, mas pensa em
padecer e morrer por mim. Durante o vosso sono rogais por mim e me
impetrais de Deus o descanso eterno do paraíso. Mas enquanto não me
levardes, como espero, para repousar junto de Vós no céu, quero que
repouseis sempre em minha alma. Amém.
Eu te abençôo e te guardo no Coração Adorável do
Menino Jesus.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Este texto não pode ser reproduzido sob
nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por
escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Associação
de benfeitores São José -
Circular nº 14 -
05/10/2005 ”.
www.filhosdapaixao.org.br/circulares/circulares_03_14.htm
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