JOSÉ A RECEBEU EM SUA CASA

(Mt 1, 18-24)

 

18 A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. 19 José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo. 20 Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados’. 22 Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: ‘Deus está conosco’. 24 José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher”.

 

 

Em Mt 1,18 diz: “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo”.

São Mateus narra aqui como foi a conceição de Jesus Cristo (cf. Lc 1, 25-38).

São Pio V escreve: “(...) verdadeiramente celebramos e veneramos por Mãe de Deus (Maria), por ter dado à luz uma pessoa que é juntamente Deus e homem (...)” (Catecismo Romano, I, 4, 7).

Edições Theologica comenta: “Segundo as disposições da Lei de Moisés, aproximadamente um ano antes do casamento realizavam-se os desposórios. Estes tinham praticamente já o valor jurídico do matrimônio. O casamento propriamente dito consistia, entre outras cerimônias, na condução solene e festiva da esposa para casa do esposo (cf. Dt 20, 7).

Já desde os desposórios era preciso o libelo de repúdio, no caso de ruptura das relações.

Todo o relato do nascimento de Jesus ensina através do cumprimento da profecia de Isaías 7, 14 (que citará expressamente nos versículos 22-23): 1° Jesus é descendente de Davi pela via legal de José; 2° Maria é a Virgem que dá à luz segundo a profecia; 3° O caráter miraculoso da conceição do Menino sem intervenção de varão”.

 

“A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José”.

Pseudo-Crisóstomo escreve: “Como o evangelista havia dito antes: ‘E Jacó gerou a José’, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, para que ninguém pudesse pensar que o nascimento de Cristo havia sido como o de seus pais, cortando a ordem da narração diz: ‘E a geração de Jesus Cristo foi desta maneira’, como se dissera: a geração de seus ascendentes foi como a referida, porém a geração de Cristo não foi assim, mas desta forma: ‘Que sendo sua Mãe desposada” (Opus imperfectum super Matthaeum, hom. 1), e: “Também pode referir-se ao já dito neste sentido: ‘A geração de Cristo foi assim’, como dito: ‘Abraão gerou a Isaac” (Remígio), e também: “Porém, por que Cristo é concebido de uma Virgem desposada e não de uma simples virgem? Por três razões: a primeira, para que pela genealogia de José soubesse a origem de Maria; a segunda, para que os judeus não a apedrejassem como adúltera; e a terceira, para que ao fugir para o Egito tivesse quem a consolasse. O mártir Inácio apresenta outra razão: para ocultar ao demônio o parto de Maria, e que sempre cresce que Cristo havia sido gerado não de uma virgem, mas de uma mulher casada” (São Jerônimo), e ainda: “Desposada com José, porém não carnalmente unida. A Mãe deste foi Mãe imaculada, Mãe incorrupta, Mãe intacta. A Mãe deste? De qual este? A Mãe do Senhor, Unigênito de Deus, do Rei universal, do Salvador e Redentor de todos” (Orígenes, Homilia inter collectas ex variis locis), e: “Mas se disséssemos com Valentino, que o santo corpo de Cristo foi formado de uma matéria celeste e não da Virgem, como poderíamos entender que Maria é Mãe de Deus?” (São Cirilo de Alexandria, ad Ioannem Antiochenum), e também: “Se indica o nome da Mãe acrescentando: ‘Maria” (A Glosa), e ainda: “Maria se interpreta em hebreu como ‘estrela do mar; em siríaco como ‘senhora’, porque Ela deu realmente ao mundo o que é a luz da salvação e o Senhor do mundo” (Beda, in Lucam, 1, 3), e: “A continuação nos diz também o nome do esposo, ‘José” (A Glosa).

 

“... antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo”.

Lúcio Navarro escreve: “Vejamos agora os textos do Evangelho, sobre os quais se enganam redondamente os protestantes, julgando ver neles uma prova de que Maria não foi virgem depois do parto.

Um deles é o seguinte: Estando já Maria, sua mãe, desposada com José, ANTES DE COABITAREM, se achou ter ela concebido por obra do Espírito Santo.

Tanto a palavra portuguesa COABITAR, como a palavra grega a ela correspondente no texto, isto é, o verbo SYNÉRCHOMAI, tem 2 sentidos, um inocente e outro não.

SYNÉRCHOMAI = reunir-se em um mesmo lugar, habitar junto.

SYNÉRCHOMAI = ter relações carnais.

Se modernamente no português o verbo COABITAR já começa a ser empregado mais neste 2.° sentido, isto nada tem a ver com a questão. Não deixa de haver em português o 1.° sentido; consulte-se para isto qualquer dicionário. Além disto a Bíblia não foi escrita em português; o texto do Pe. Pereira que aí damos não é mais que a tradução da Vulgata, que por sua vez traduz o texto, e no grego há os 2 sentidos.

Fica, portanto, a questão: ANTES DE COABITAREM aí no caso quer dizer: ANTES DE MORAREM JUNTOS ou quer dizer ANTES DE TEREM RELAÇÕES CARNAIS?

Para se resolver esta questão, seria preciso, porém, resolver a outra, a qual não ficou devidamente elucidada: DESPOSADA no texto da Anunciação quer dizer CASADA ou quer dizer apenas NOIVA, DADA EM CASAMENTO?

Se DESPOSADA quer dizer simplesmente NOIVA, como opinam muitos bons intérpretes, então ANTES DE COABITAREM significa simplesmente: antes que o noivo José tivesse levado Maria para a sua casa e começassem a morar juntos sob o mesmo teto. Não há, portanto, nenhuma prova contra a virgindade de Maria Santíssima.

- Mas dirão os protestantes: O senhor mesmo disse que também são muitos os bons intérpretes que afirmam que quando o Anjo anunciou a Maria, ela já estava casada, morando com José na mesma casa. Nesta hipótese então ANTES DE COABITAREM quer dizer evidentemente ANTES DE TEREM RELAÇÕES SEXUAIS. Ora, dizendo isto, o Evangelista mostra que de fato tiveram estas relações depois.

- Quer dizer então que a objeção de vocês vale somente sob condição. Está de pé a objeção somente no caso em que DESPOSADA queira dizer CASADA e MORANDO NA MESMA CASA.

Mas vamos supor mesmo como certo o que é discutido. Vamos supor como assentado de pedra e cal que Maria recebeu a mensagem do Anjo, quando já estava morando com São José na mesma casa e que, portanto, ANTES DE COABITAREM quer dizer ANTES DE TEREM RELAÇÕES CARNAIS.

Mesmo assim, é inteiramente falha a argumentação de vocês.

Daí não se segue forçosamente que houve tais relações depois. O fito do Evangelista é apenas frisar que não houve intervenção humana no nascimento de Jesus; e ele podia muito bem ter dito isto, mesmo sem cogitar de maneira alguma no que sucedeu ou podia ter sucedido depois. Nem sempre quando se diz: ANTES DE FAZER uma coisa, se segue que a coisa depois foi feita.

Podemos citar inúmeros exemplos.

Já São Jerônimo, argumentando contra Helvídio, apresentava as seguintes frases:

 

ANTES DE ALMOÇAR NAQUELE PORTO, embarquei para a África.

Paulo apóstolo, ANTES DE CHEGAR À ESPANHA, foi preso.

Helvídio, ANTES DE FAZAR PENITÊNCIA, morreu.

 

Daí não se segue que depois voltei àquele porto para almoçar. Não se segue que Paulo tivesse chegado à Espanha, nem que Helvídio, depois de morto, tivesse feito penitência.

 

Cornélio Alápide lembra as seguintes frases:

 

Ele, ANTES DE ENVELHECER, estava cheio de cabelos brancos.

Este menino, ANTES DE ATINGIR A IDADE VIRIL, já é um sábio.

 

Daí não se concluí que ele tenha envelhecido, pode até ter morrido antes disto, mas o fato é que teve cabelos brancos antes de envelhecer. Nem se conclui que o menino tenha que atingir a idade viril para a frase ser verdadeira: a frase exprime apenas o que o menino é de inteligência precoce, pode muito bem morrer antes de tornar-se homem, como muitas vezes acontece com os precoces.

 

Observa Calmet:

 

‘Diz-se todos os dias que: Um homem morreu ANTES DE EXECUTAR SEUS PROJETOS. Segue-se daí que os tenha executado depois da morte? Que: Um juiz condenou o réu, ANTES DE OUVI-LO. Segue-se que o tenha ouvido, depois de condená-lo?’

 

Realmente, caros amigos, nós dizemos:

Os alunos, ANTES DE PRESTAREM O EXAME, foram aprovados e diplomados; o trem espatifou-se, ANTES DE CHEGAR À ESTAÇÃO DE TAL CIDADE; quando é claro que, depois de diplomados, os alunos não prestarão mais exames e que o trem espatifado não chegou ao seu destino.

E que dizemos: Os protestantes, ANTES DE ESTUDAREM A FUNDO AS QUESTÕES BÍBLICAS, se põem a doutrinar; não cogitamos se no caso eles irão depois estudar a fundo ou não estas questões bíblicas.

Em todos estes casos ANTES DE FAZER equivale apenas a SEM FAZER:

Embarquei para a África SEM ALMOÇAR; Paulo foi preso SEM TER CHEGADO à Espanha, Helvídio morreu SEM FAZER PENITÊNCIA; ele, SEM ENVELHECER, estava com cabelos brancos; o menino, SEM SER HOMEM FEITO, já é um sábio; o homem morreu SEM EXECUTAR os seus projetos; o juiz condenou o réu SEM OUVI-LO; os alunos foram diplomados SEM PRESTAREM EXAME; o trem espatifou-se SEM CHEGAR àquela estação e os protestantes se põem a doutrinar SEM ESTUDAREM A FUNDO AS QUESTÕES BÍBLICAS.

A frase do Evangelho quer dizer apenas: Estando já Maria, sua mãe, desposada com José, SEM COABITAREM, se achou ter ela concebido do Espírito Santo. Seja qual for o sentido que se queira dar à palavra COABITAR, isto em nada atinge no caso a virgindade de Maria Santíssima”.

 

São João Crisóstomo escreve: “Segue logo: ‘Antes que vivessem juntos’. Não disse ‘antes de que fosse levada à casa do esposo’, pois já estava nela por ser costume  freqüente dos antigos ter em sua casa as desposadas, como vemos que sucede também agora, e os genros de Ló habitavam com ele em vida comum” (Homiliae in Matthaeum, hom. 4), e: “Para que não nascesse do afeto da carne e do sangue o que nasceu para destruir os afetos da carne e do sangue” (Pseudo-Crisóstomo, Opus imperfectum super Matthaeum, hom. 1), e também: “Ali não houve coabitação conjugal, porque em carne de pecado não podia haver-se dado sem movimento de concupiscência, efeito do pecado, sem a qual quis ser concebido o que havia de estar sem pecado, talvez para ensinar-nos com isto, que todo o que nasce de união conjugal nasce com pecado, posto que só não teve pecado a Carne que nasceu dessa maneira” (Santo Agostinho, De nuptiis et concupiscentia, 1, 12), e ainda: “Jesus Cristo nasce além disso de uma mulher intacta, porque não era adequado que a virtude nascesse por meio do prazer sexual, a castidade pela via da luxúria, e a incorrupção pela corrupção. E o que vinha destruir o antigo império da morte havia de descer do céu de um modo distinto. Obteve, pois, o cetro de Rainha das virgens, a que gerou ao Rei da castidade. Por isso, Nosso Senhor procurou um seio virgem para morar, para dar-nos a entender que só um corpo casto pode ser templo de Deus. Aquele que gravou sua lei em tábuas de pedra sem necessidade de instrumento de ferro, esse mesmo fecundou o seio de Maria por virtude do Espírito Santo” (Santo Agostinho, In Sermone 6 de Nativitate), e: “Não dizemos, como impiamente opinam alguns, que o Espírito Santo se apresentou como sêmen, mas que obrou com o poder e virtude do Criador” (Santo Agostinho, In Serminibus de Trinititate, serm. 191, 3).

Em Mt 1,19 diz: “José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo”.

São Josemaría Escrivá escreve: “José era efetivamente um homem corrente, em quem Deus confiou para operar coisas grandes. Soube viver, tal como o Senhor queria, todos e cada um dos acontecimentos que compuseram a sua vida. Por isso, a Escritura Santa louva José, afirmando que era justo. E, na linguagem habraica, justo quer dizer piedoso, servidor irrepreensível de Deus, cumpridor da Vontade divina (cf. Gn 7, 1; 23-32; Ez 18, 5 ss; Pr 12, 10); outras vezes significa bom e caritativo com o próximo (cf. Tb 7, 6; 9, 6). Numa palavra, o justo é o que ama a Deus e demonstra esse amor, cumprindo os Seus mandamentos e orientando toda a sua vida ao serviço dos irmãos, os outros homens” (Cristo que passa, n° 40).

Edições Theologica comenta: “José considerava santa a sua esposa, não obstante os sinais da sua maternidade. Por isso se encontrava perante uma situação inexplicável para ele. Procurando precisamente atuar de acordo com a vontade de Deus, sentia-se obrigado a repudiá-la, mas, com o fim de evitar a infâmia pública de Maria, decide deixá-la privadamente.

É admirável o silêncio de Maria. A sua entrega perfeita a Deus leva-a inclusivamente a não defender a sua honra e a sua inocência. Prefere que caia sobre Ela a suspeita e a infâmia, a manifestar o profundo mistério da Graça. Perante um fato inexplicável por razões humanas, abandona-se confiadamente no amor e providência de Deus.

Devemos contemplar a magnitude da prova a que Deus submeteu estas duas almas santas: José e Maria. Não nos pode causar estranheza que também nós sejamos submetidos por vezes, ao longo da vida, a provas duras; nelas temos de confiar em Deus e permanecer-Lhe fiéis, a exemplo de José e Maria”.

São João Crisóstomo escreve: “Disse o evangelista que Maria havia concebido no ventre, pelo Espírito Santo, sem obra de varão, para que ninguém suspeitasse que um discípulo de Cristo havia inventado estas maravilhas em honra de seu Mestre, acrescenta o testemunho de José confirmando a história por sua própria participação nela: ‘E José, seu Esposo, como era justo” (Homiliae in Matthaeum, hom. 4), e: “Conhecendo José que Maria estava grávida, perturba-se, porque a Esposa que havia recebido do templo do Senhor e não conhecia ainda, a encontra grávida; inquieto, discute e fala consigo mesmo: ‘Que farei? A denuncio ou me calo? Se a denuncio, não me faço cúmplice de adultério, porém incorro em crueldade, porque me consta que segundo a lei deve ser apedrejada. Se me calo, dou meu consentimento a uma má ação, e participo com os adúlteros. Então, se calar é mau e denunciar o adultério é pior, a deixarei livre” (Santo Agostinho, In Sermone 14 de Nativitate).

Dom Duarte Leopoldo comenta: “São José conhecia perfeitamente a santidade de Maria, modelo de todas as virtudes; entretanto, não podia explicar o que se passava, e daí a perturbação. – José não quis denunciá-la, por virtude; não a interrogou, por discrição. Maria, de seu lado, não revelou o mistério, por humildade e modéstia, confiando à Providência o cuidado de protegê-la”.

Em Mt 1, 20 diz: “Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo”.

Deus ilumina oportunamente o homem que atua com retidão e confia no poder e sabedoria divina, perante situações que superam a compreensão da razão humana. O Anjo recorda neste momento a José, ao chamar-lhe filho de Davi, que é o elo providencial que une Jesus com a estirpe de Davi, segundo a profecia messiânica de Natan (cf. 2 Sm 7, 12).

São João Crisóstomo escreve: “Antes de mais recorda-lhe Davi, de quem tinha de vir Cristo, e não lhe consente estar perturbado desde o momento que, pelo nome do mais glorioso dos seus antepassados, lhe traz à memória a promessa feita a toda a sua linhagem” (Hom. Sobre S. Mateus, 4), e: “Jesus Cristo, único Senhor, nosso, Filho de Deus, quando tomou por nós carne humana no ventre da Virgem, foi concebido não por obra de varão, como os outros homens, mas, sobre toda a ordem natural, por virtude do Espírito Santo; de tal maneira que a mesma pessoa (do Verbo), permanecendo Deus, como o era desde a eternidade, se fizesse homem, o qual não era antes” (São Pio V, Catecismo Romano, I, 4, 1).

Lúcio Navarro escreve: “Uma vez averiguado por São José o estado de gravidez de Maria Santíssima, isto não deixou de ser um caso doloroso para ele. Não tinha nenhuma dúvida sobre a virtude de Maria e por outro lado aparecia aquele fenômeno tão estranho. Observa Calmet: ‘Ele creu que o que via nela, provinha antes de alguma violência que ela teria sofrido ou de alguma outra causa que lhe era desconhecida’. Maria, por sua vez, guardava o segredo da revelação do Anjo, entregando-se confiantemente à Divina Providência que tudo solucionaria.

Nesta situação angustiosa, resolve José deixá-la secretamente. Foi a atitude que se lhe afigurou mais prudente e acertada. Um anjo, então, em sonhos lhe explica o ocorrido. É a melhor solução e a que não podia faltar; o papel de José como preservador da reputação de Maria é indispensável; e por outro lado a revelação feita pelo Céu torna-se mais honrosa para a Santíssima Virgem.

O Anjo diz a José: Não temas RECEBER a Maria, tua mulher, porque o que nela se gerou é obra do espírito Santo (Mt 1, 20). E diz o Evangelho que despertando José do sono, fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e RECEBEU a sua mulher (Mt 1, 24).

Que significa este verbo RECEBER aí expresso duas vezes?

Corresponde ao verbo grego:

PARALAMBÁNO – receber ao pé de si ou consigo (como mulher ou companheira, como filho adotivo ou como auxiliar ou aliado); acolhedor, dar hospitalidade; tomar a seu cargo; aceitar, admitir.

Na hipótese de que São José, ao receber o aviso em sonhos, estivesse simplesmente noivo, a palavra do Anjo quer dizer: Não temas realizar com Maria a cerimônia do casamento e levá-la para tua casa.

Na hipótese de que já estivessem casados, quer dizer: Não temas aceitá-la como tua mulher, não a abandones.

Talvez o protestante queira tirar desta palavra TUA MULHER, uma conclusão contra a virgindade de Maria Santíssima. Tudo é possível na cabeça de um leitor malicioso. Mas chamando-a TUA MULHER, o Evangelista quer referir-se apenas ao que ela é LEGALMENTE, ou melhor, perante a lei, perante o público, sem cogitar daquilo que se passa na intimidade conjugal. E é assim que sempre procedeu os Evangelhos. O próprio São Mateus, neste mesmo capítulo, começa o seu Evangelho fazendo a genealogia de Jesus Cristo pelo lado de São José, embora sabendo perfeitamente que ele não é o pai de Jesus. Quando o Menino é apresentado no templo, José e Maria ficam encantados com as palavras de Simeão, e o Evangelista os chama de pai e mãe do Menino: E seu PAI e mãe estavam admirados daquelas coisas que d’Ele se diziam (Lc 2, 33). E a própria Maria Santíssima chamou a José de PAI do menino, quando ele se perdeu, com doze anos e foi achado no templo de Jerusalém: Sabe que teu PAI e eu te andávamos buscando cheios de aflição (Lc 2, 48). Alguns querem tirar daí argumentos para dizer que José foi pai verdadeiro de Jesus, e não pai adotivo. Mas os próprios protestantes não concordam com isto, porque está evidente nos Evangelhos que a concepção de Cristo foi virginal. Faz-se a genealogia de José, chama-se a José de pai, porque perante a lei ele é o pai do Menino.

Assim também, perante a lei Maria é a mulher de José; se há entre eles um pacto de continência, se ambos espontaneamente renunciam na intimidade os seus direitos matrimoniais, não é por isto que Maria deixa de ser realmente a mulher de José”.

Remígio escreve: “Porque segundo o que tem dito, José pensava deixar em segredo a Maria. Porém se houvesse agido assim, poucos haveriam deixado de suspeitar que Ela fosse mais uma concubina que uma virgem, e por isso o propósito de José mudou num momento, graças ao conselho divino. Daí que diz: ‘E pensando nisto José”, e: “Se nota também a mansidão de José, que a ninguém revelou sua suspeita, nem sequer àquela de quem suspeitava, mas meditava em seu interior” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 4), e também: “Mas, todavia, José pensa nisto, não tema Maria, a filha de Davi, porque assim como a palavra do profeta perdoou a Davi, o anjo do Salvador livrará a Maria. Pois Gabriel, o padrinho das bodas da Virgem, volta a apresentar-se: ‘Eis que o anjo do Senhor apareceu a José” (Santo Agostinho, In Sermone 14 de Nativitate), e ainda: “Como apareceu o anjo a José, o diz claramente: ‘Em sonhos’, é dizer, como viu Jacó a escada por certa representação com os olhos do coração” (Rábano).

Dom Duarte Leopoldo comenta: “Deus experimenta, muitas vezes, os seus melhores servos, mas não deixa de lhes dar as luzes necessárias para a realização dos seus desígnios, muito embora lhe seja preciso, para isso, recorrer a prodígios e manifestações extraordinárias. Devemos, portanto, confiar sempre na Providência divina”.

Em Mt 1, 21-22 diz: “Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta”.

Segundo a raiz hebraica, o nome de Jesus significa “salvador”. Depois da Virgem Santa Maria, José é o primeiro homem que recebe esta declaração divina do fato da salvação, que já se estava a realizar.

São Pio V escreve: “Jesus é o nome exclusivo do que é Deus e homem, o qual significa salvador, imposto a Cristo não casualmente nem por ditame ou disposição humana, mas por conselho e mandato de Deus.

(...) Os nomes profetizados (... o Admirável, o Conselheiro, Deus, o Forte, o Pai do século vindouro, o Príncipe da paz, cf. Is 9, 6), que se deviam dar por disposição divina ao Filho de Deus, resumem-se no nome de Jesus, porque, enquanto os outros se referem apenas sob algum aspecto à salvação que nos devia dar, este compendiou em si mesmo a realidade e a causa da salvação de todos os homens” (Catecismo Romano, I, 3, 5 e 6).

Em Mt 1, 23-24 diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: ‘Deus está conosco’. José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher”.

Edições Theologica comenta: “Emanuel’: A profecia de Isaías 7, 14 citada neste versículo, preanunciava, já desde há uns sete séculos, que o sinal de salvação divina ia ser o acontecimento extraordinário de uma virgem que vai dar à luz um filho. O Evangelho revela-nos, pois, neste passo duas verdades.

A primeira que, na verdade, Jesus é o Deus conosco preanunciado pelo profeta. Assim o sentiu sempre a tradição cristã. Inclusivamente o Magistério da Igreja (no Breve Divina de Pio VI, 1779) condenou uma interpretação que negava o sentido messiânico do texto de Isaías. Cristo é, pois, verdadeiramente Deus conosco, não só pela Sua missão divina, mas porque é Deus feito homem (cf. Jo 1, 14). Não quer dizer que Jesus Cristo tenha de ser normalmente chamado Emanuel: este nome refere-se mais diretamente ao Seu mistério de Verbo Encarnado. O anjo da anunciação indicou que Lhe fosse posto o nome de Jesus, que significa Salvador. Assim o fez São José.

A segunda verdade que nos revela o texto sagrado é que Santa Maria, em quem se cumpre a profecia de Is 7, 14, permanece virgem antes do parto e no próprio parto. Precisamente o sinal miraculoso que dá Deus de que chegou a salvação é que uma mulher que é virgem, sem deixar de o ser, é também mãe”.

São Pio V escreve: “Jesus Cristo saiu do seio materno sem detrimento algum da virgindade de Sua Mãe; assim, pois, com louvores merecidíssimos, celebramos a sua imaculada e perpétua virgindade. E isto em verdade operou-se por virtude do Espírito Santo, que tanto engrandeceu a Mãe na conceição e no nascimento do Filho, que deu a ela fecundidade e conservou ao mesmo tempo a sua perpétua virgindade” (Catecismo Romano, I, 4, 8).

Dom Duarte Leopoldo comenta: “Deus transmitiu os seus direitos a São José, que devia fazer as vezes de pai de Jesus Cristo. – Jesus, segundo a etimologia hebraica, quer dizer – Salvador. Jesus, com efeito, foi o Salvador, não só dos povos, como dos indivíduos, o Deus que nos libertou a todos da escravidão do pecado.

Esta palavra – Emanuel – explica claramente a dupla natureza de Jesus Cristo, ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Isaías não quis dizer que o seu nome próprio seria Emanuel, mas que ele seria Deus conosco. Jesus viveu, com efeito, no meio de nós, e ainda hoje está realmente no meio de nós, na Sagrada Eucaristia”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 17 de dezembro de 2007

 

 

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Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. “José a recebeu em sua casa”

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