JESUS, CAUSA DE DIVISÕES
(Lc 12,
51-53)
"51
Pensais que vim para estabelecer a paz sobre a terra? Não, eu
vos digo, mas a divisão. 52
Pois doravante, numa casa com cinco pessoas, estarão divididas
três contra duas e duas contra três; 53
ficarão divididos: pai contra filho e filho contra pai, mãe
contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra
sogra".
Em Lc
12, 51 diz: "Pensais
que vim para estabelecer a paz sobre a terra? Não, eu vos digo, mas a
divisão".
Tomando esse versículo ao pé da letra, até parece que estamos diante
de uma grande contradição: o Rei da paz estabelecer a divisão!
Para
esclarecer esse trecho da Palavra de Deus, é preciso, primeiro, saber
o que é a paz.
Paz,
é a "tranquilidade na
ordem"
(Santo Agostinho, A Cidade de Deus, 19, 13, 1),
ordem nas relações com Deus e ordem nas relações com os outros:
"Se mantivermos essa ordem,
teremos paz e poderemos comunicá-la. A ordem nas relações com Deus
pressupõe o desejo firme de desterrar da vida todo o pecado e de ter
Cristo como centro da existência. A ordem nas relações com o próximo
leva em primeiro lugar a viver esmeradamente as exigências da justiça
(nos atos, nas palavras, nos juízos), pois a paz é obra da justiça" (Pe. Francisco
Fernández-Carvajal).
Milhões de pessoas vivem com Satanás no coração e afirmam ser
portadoras da paz.
Outras afirmam que possuem a paz e a promovem; mas no local onde
trabalham, cometem todo tipo de injustiça.
Aquele que vive no pecado e que comete a injustiça contra o próximo,
não possui a paz em sua vida. Diz possuir a paz, mas o seu interior
está em contínua amargura e inquietação.
É
justamente essa falsa paz que Cristo afirma não ter vindo trazer:
"Pensais que vim para estabelecer a paz sobre a terra"?
Em Jo
14, 27, Cristo Jesus fala da paz verdadeira, daquela paz que somente
Ele pode dar, por ser a Fonte da verdadeira paz:
"Deixo-vos a paz, a minha paz
vos dou; não vo-la dou como o mundo dá".
Nosso
Senhor não veio trazer uma paz terrena e falsa, tão apregoada pelos
mundanos, amantes do egoísmo e das paixões:
"... a mera tranquilidade por
que anseia o egoísmo humano, mas a luta contra as próprias paixões,
contra o pecado e todas as suas consequências. A espada que Jesus
Cristo traz à terra para essa luta é, segundo a própria Escritura, 'a
espada de espírito, que é a palavra de Deus' (Ef 6, 17), 'viva, eficaz
e penetrante..., que penetra até dividir a alma e o corpo, as junturas
e as medulas e discerne os pensamentos e intenções de coração" (Hb 4,
12)" (Edições
Theologica).
Quem
quiser possuir a verdadeira paz, deve travar uma luta ferrenha e
contínua contra o pecado e paixões. Deve também, ser uma pessoa justa,
vivendo santamente em todos os ambientes:
"... como é santo aquele que
vos chamou, tornai-vos também vós santos em todo o vosso
comportamento"
(1 Pd 1, 15).
Num
coração onde Satanás e o mundo reinam, não pode existir a paz:
"... a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá".
Jesus
Cristo veio trazer a paz, e essa paz santa consiste
"em conformar-nos em tudo com
a vontade de Deus, de maneira que, entre Deus e a alma, não haja
divisão e só reine entre eles uma única vontade, não em palavras e
desejos, mas nas obras. Assim, quando sabe ser uma coisa de maior
serviço do Esposo... nada mais escuta, nem as razões do entendimento,
nem os temores... mas deixa agir a fé, sem cuidar do próprio descanso
ou interesse" (Santa
Teresa de Jesus).
Em Lc 12, 52-53 diz:
"Pois doravante, numa casa
com cinco pessoas, estarão divididas três contra duas e duas contra
três; ficarão divididos: pai contra filho e filho contra pai, mãe
contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra
sogra".
Está
claro que há divisão numa família, onde alguns vivem a fé e o amor a
Nosso Senhor, enquanto que outros seguem o mundo e suas máximas.
Onde
a luz entra, as trevas desaparecem. Luz e trevas não combinam.
A
Palavra de Deus, puríssima verdade, não combina com as máximas do
mundo, mentira e ilusão:
"A Palavra de Deus, com
efeito, produziu essas grandes separações de que aqui se fala. Por
causa dela, nas próprias famílias, os que abraçaram a fé tiveram por
inimigos os da sua própria casa que resistiam à palavra da verdade.
Por isso... nada pode interpor-se entre Ele e o Seu discípulo, nem
sequer o pai ou a mãe, o filho ou a filha: tudo o que for um obstáculo
deve afastar-se"
(Edições Theologica).
Muitas famílias vivem em contínua guerra, num verdadeiro campo de
batalha; porque alguns seguem a Cristo Jesus, Luz do mundo, enquanto
que outros seguem o demônio, o mundo e a carne. E o pior de tudo, é
que os mundanos usam todos os tipos de ameaças e armadinhas para
tentarem sufocar e desviar do bom caminho aqueles que seguem a Deus.
Alguns católicos, para permanecerem do lado de Nosso Senhor, tiveram
que derramar o próprio sangue.
Santa
Bárbara, era uma jovem de origem oriental, provavelmente de Nicomédia,
na Ásia Menor, pertencendo a uma família de certa posição social. Às
ocultas dos pais, fanáticos pagãos, conseguiu instruir-se na religião
cristã. O seu pai Dióscoro, depositava nela as mais radiosas
esperanças em vista de um casamento honroso.
Seu
pai descobriu que ela era católica. Ficou furioso, e seu amor paterno
se transformou em ódio. Ameaçou a filha com torturas e depois
denunciou-a ao prefeito da província, Martiniano.
O
coração da jovem Bárbara sentia-se dilacerado entre amores opostos: o
dos pais de uma parte e o de Cristo, amor supremo.
Bárbara suportou o processo com firmeza e altivez cristã, protestando
sua fidelidade a Cristo, a quem tinha consagrado sua virgindade.
A
jovem católica foi condenada à morte. Seu pai, furioso em seu cego
paganismo, prontificou para executar a sentença: atirou-se contra a
filha que se colocou de joelhos em atitude de oração e lhe decepou a
cabeça. Logo após ter praticado seu hediondo crime, desencadeou-se
formidável tempestade e o pai, atingido por um raio, caiu morto.
São
Venceslau, católico fervoroso e fiel a Nosso Senhor. Nas horas
silenciosas da noite visitava os presos, consolava-os e dava-lhes
esmolas. Sabe-se que ele mesmo em pessoa se encarregava de levar lenha
à casa das famílias pobres.
Ele
consagrava muitas horas à oração e, na Quaresma, noite alta, visitava
descalço as igrejas da cidade, em espírito de penitência.
A sua
mãe Draemira, pagã, mandou que Boleslau, irmão de Venceslau, o matasse
a punhaladas.
Católico, lembre-se de que somente em Jesus Cristo é possível
encontrar a verdadeira paz:
"Ó Senhor, a paz nos deixais
na hora de partir, e vossa paz dar-nos-eis quando voltardes no fim dos
tempos. A paz nos deixais neste mundo, e nos dareis vossa paz no
século futuro. Vossa paz nos deixeis agora, a fim de que, nela
permanecendo, possamos vencer o inimigo; dar-nos-eis vossa paz depois,
quando reinarmos sem temor de inimigos. A paz nos deixais a fim de
que, mesmo aqui, possamos amar-nos mutuamente; dar-nos-eis vossa paz
no céu, onde já não poderá haver contrariedades"
(Santo Agostinho, Em Jo 77, 3).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 09 de maio de 2007
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