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          AS NÚPCIAS DE CANÁ 
          
          (Jo 2, 
          1-12) 
            
          
          "1
          No 
          terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galiléia e a mãe de Jesus 
          estava lá. 
          2 
          Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também.
          3 Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do 
          casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não 
          têm mais vinho'. 
          4 
          Respondeu-lhe Jesus: 'Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não 
          chegou'. 
          5 
          Sua mãe disse aos serventes: 'Fazei tudo o que ele vos disser'. 
          
          6 
          Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma 
          contendo de duas a três medidas. 
          7 
          Jesus lhes disse: 'Enchei as talhas de água'. Eles as encheram até à 
          borda. 
          8 
          Então lhes disse: 'Tirai agora e levai ao mestre-sala'. Eles levaram.
          9 Quando o mestre-sala provou a água transformada em 
          vinho - ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que 
          haviam retirado a água - chamou o noivo 
          10 e lhe disse: 'Todo homem serve primeiro o vinho 
          bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu 
          guardaste o vinho bom até agora!' 
          11 Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galiléia e 
          manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele. 
          12 
          Depois disso, desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus 
          discípulos, e ali ficaram apenas alguns dias".
           
          
            
          
            
          
            
          
          Em Jo 2, 
          1: 
          "No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galiléia e a mãe de 
          Jesus estava lá". 
          
            
          
          
           Caná:
          "(gr. Kana, significado incerto). Cidade da 
          Galiléia. A localização não é segura: a tradição situa Caná em Kefr 
          Kenna, 8 Km a noroeste de Nazaré, mas não poucos estudiosos pensam que 
          seja provavelmente Khirbet Qanah, cerca de 14 Km ao norte de Nazaré"
          
          (DB). 
          
          "No 
          terceiro dia..." 
          "Três dias depois do encontro com Filipe e Natanael; o evangelho 
          abre-se, desse modo, com uma semana completa, contada quase dia por 
          dia, e conclui-se com a manifestação da glória de Jesus"
          
          (BJ). 
          
          São João 
          Crisóstomo escreve:
          "Como o Senhor era 
          conhecido na Galiléia, o convidaram para as bodas. Por isso segue: 'No 
          terceiro dia celebraram bodas em Caná da Galiléia"
          ( In Ioannem, 
          hom. 20), e:
          "Caná é um 
          povoadinho do território da Galiléia"
          (Alcuino). 
          
          "... a 
          mãe de Jesus estava lá"
          A 
          Virgem Maria está presente ao primeiro milagre, que revela a glória de 
          Jesus: 
          "Entre os 
          convidados menciona-se em primeiro lugar Maria Santíssima. Não se cita 
          São José, coisa que não se pode atribuir a um esquecimento de São 
          João: este silêncio - e em outros muitos no Evangelho - faz supor que 
          o santo Patriarca já tinha morrido. As festas de casamento tinham 
          longa duração no Oriente (Gn 29, 27... Tb 9, 12; 10, 1). Durante elas, 
          parentes e amigos iam acorrendo a felicitar os esposos; nos banquetes 
          podiam participar até os transeuntes. O vinho era considerado elemento 
          indispensável nas refeições e servia, além disso, para criar um 
          ambiente festivo. As mulheres intervinham nas tarefas da casa; a 
          Santíssima Virgem prestaria também a sua ajuda: por isso pôde dar-se 
          conta de que ia faltar vinho"
          
          (Edições Theologica). 
          
          Nossa 
          Senhora não era acomodada nem preguiçosa, ela estava ali para ajudar a 
          servir. A Virgem serve, porque é Mãe d'Aquele: 
          "... que veio para servir e não para ser servido"( 
          Mt 20, 28). 
          
          
          Aprendamos da Virgem Maria a servir o próximo com alegria e 
          disponibilidade. Como é vergonhoso alguém viver trancado em seu 
          egoísmo, esse se assemelha a árvore seca. Como é prazeroso ver uma 
          pessoa servir com alegria àqueles que necessitam da sua ajuda: 
          "Esses 
          pequenos serviços em que procuramos adivinhar os desejos dos outros e 
          dar-lhes pequenas alegrias são, além do mais, um meio de nós mesmos 
          não cairmos no aburguesamento e de crescermos na vida de união com 
          Deus, que vê o que se passa em segredo. Daí a felicidade de quem 
          procura fazer felizes os outros. O segredo da nossa própria felicidade 
          tem uma única condição: que nunca a procuremos, isto é, que a 
          procuremos para os outros, esquecendo-nos de nós mesmos, com humildade 
          de coração e delicadeza humana" 
          (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).
           
          
            
          
          Em Jo 2, 
          2 diz: 
          "Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também". 
          
            
          
          Jesus, que naqueles dias começava a Sua vida 
          pública, ali chegou com os discípulos, e a festa teve início: 
          "Para 
          demonstrar a bondade de todos os estados de vida (...) Jesus dignou-Se 
          nascer das entranhas puríssimas da Virgem Maria; recém-nascido recebeu 
          o louvor que saiu dos lábios proféticos da viúva Ana e, convidado na 
          Sua juventude pelos noivos, honrou as bodas com a presença do Seu 
          poder" 
          (São Beda, Hom. 13, para o 2° Domingo depois da 
          Epif.), 
          e: 
          "Chamam ao Senhor às bodas, 
          não como pessoa honrada, mas como um de muitos, e simplesmente porque 
          era conhecido. Para expressar isso, o Evangelista disse: 'E estava a 
          mãe de Jesus ali'. E assim como haviam chamado à Mãe, chamaram o 
          Filho. Por isso segue: 'E foi também convidado Jesus e seus discípulos 
          às bodas, e atendeu. Isto não afetava a sua dignidade, mas sucedeu em 
          benefício nosso; porque Aquele que não negou tomar a forma de servo, 
          tão pouco negou a vir às bodas de seus servos"
          (São João 
          Crisóstomo, Ut Sup), 
          e também: 
          "Envergonhe-se, portanto, o 
          homem de ser soberbo, porque Deus se humilhou. Considera aqui, como 
          entre outras coisas, o Filho da Virgem veio às bodas, sendo assim, 
          quando estava com o Pai instituiu o matrimônio" 
          (Santo Agostinho, De Verb. Dom., Serm. 41), 
          e ainda: 
          "Que tem de estranho ir àquela casa onde se celebravam as bodas, 
          Aquele que veio ao mundo para celebrar as suas? Porque tem aqui a sua 
          Esposa, a quem redimiu com seu sangue, a quem concedeu como obséquio o 
          Espírito Santo, e à que se uniu desde o ventre da Virgem; porque na 
          realidade o Verbo é o Esposo, e a carne humana é a Esposa"
          (Idem., In Ioannem, Tract. 8), e: 
          "Esta 
          presença de Cristo nas bodas de Caná é sinal de que Jesus abençoou o 
          amor entre homem e mulher, selado com o matrimônio. Deus, com efeito, 
          instituiu o matrimônio no princípio da Criação (cfr Gn 1, 27-28), e 
          Jesus Cristo confirmou-o e elevou-o à dignidade de Sacramento (cfr Mt 
          19, 6)" 
          (Edições Theologica). 
          
          Infelizes 
          dos amasiados; esses vivem no pecado mortal, longe de Deus: 
          "Quantos cristãos ou que se dizem tais, 
          repelem a presença de Jesus, recusam a intercessão de Maria 
          Santíssima, no ato, aliás, tão solene do casamento, que tantas graças 
          requer para completa felicidade da família! Todo casamento contraído 
          fora da presença de Jesus, sem a intervenção da sua Igreja, é não 
          somente escandaloso e infeliz, mas ainda fonte perene de inúmeros 
          pecados" 
          (Dom Duarte Leopoldo).
           
          
            
          
          
           Em 
          Jo 2, 3 diz: 
          "Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se 
          acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não têm mais vinho". 
          
            
          
          Onde está 
          a Virgem Maria, aí não pode faltar Seu Amado Jesus. 
          
          No mais 
          bonito do banquete, vem a faltar o vinho. A falta de vinho logo foi 
          percebida pela Santíssima Virgem, que se deu pressa em avisar a Nosso 
          Senhor: 
          "Eles não 
          têm mais vinho". 
          
          Em Lumen 
          Gentium, 58 diz: 
          "Na vida 
          pública de Jesus, Sua mãe aparece duma maneira bem marcada logo no 
          princípio, quando, nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus 
          Messias a dar início aos Seus milagres (cfr Jo 2, 1-11). Durante a 
          pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino 
          acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados 
          todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (cfr Mc 3, 35 
          ...; Lc 11, 27-28); coisa que ela fazia fielmente (cfr Lc 2, 19.51). 
          Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união 
          com seu Filho até a cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus 
          (cfr Jo 19, 25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, e 
          associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com 
          amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus 
          Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas 
          palavras: 'Mulher, eis aí o teu filho' (cfr Jo 19, 26-27)". 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          "Maria 
          Santíssima pediu um milagre em favor daqueles esposos. Observando que 
          não era ainda chegada a ocasião de manifestar-se ao mundo, com todo o 
          seu poder, Jesus cede todavia à intercessão de sua Mãe. Assim praticou 
          Jesus o seu primeiro milagre, por intercessão de Maria, a quem devemos 
          sempre recorrer em nossas tribulações. Se ela não podia, por si, 
          operar o milagre desejado, conseguiu-o, no entanto, com as suas 
          súplicas".  
          
           "Eles não têm mais vinho". 
          A bondade de Nossa Senhora é imensa, ela é a primeira a perceber o 
          sério embaraço em que se acham os noivos. Os noivos talvez ainda não o 
          soubessem, e já o coração da bondosa Mãe treme por eles: 
          "Já lhe parece assistir à decepção, à admiração e aos protestos dos 
          convidados que se acham sem vinho no momento em que este é mais 
          desejado; parece-lhe assistir ao medo e à vergonha dos esposos, que 
          vêem ofuscada a hora mais alegre da sua vida. Ela se preocupa e sofre 
          como com uma desventura sua, sucedida na sua própria casa" 
          (Pe. João Colombo), e: 
          "Não carece de 
          mistério, quando foi dito que as bodas se celebraram no terceiro dia. 
          Aparece o primeiro tempo do mundo, antes da Lei, pelo exemplo dos 
          Patriarcas. O segundo, sob o domínio da Lei, por meio dos escritos dos 
          profetas. E o terceiro tempo da graça brilhou (como a luz do terceiro 
          dia) pelas pregações dos evangelistas, e no qual foi quando o Senhor 
          apareceu vestido de nossa carne. Além disso, como disse que essas 
          bodas foram celebradas em Caná da Galiléia (isto é, no zelo da 
          transmigração), se demonstra sem sentido figurado que são bastante 
          dignos de graças de Jesus Cristo aqueles que, distinguindo-se pelo 
          fervor de sua piedade, passam dos vícios às virtudes, e sabem que 
          emigram das coisas da terra às do céu. Estando já recostado o Senhor 
          nas bodas, faltou vinho, com o objetivo de que se manifestasse a 
          glória de Deus, oculta sob a forma humana, por meio do vinho de melhor 
          condição. Por isso segue: 'E chegando a faltar o vinho, a Mãe de Jesus 
          lhe disse: Não tem vinho"
          (São
          Beda). 
          
          Sejamos 
          verdadeiros filhos da Virgem Maria e imitemos a sua bondade. 
          
          1. 
          Tiremos do nosso coração o egoísmo, e ajudemos as pessoas que 
          necessitam de nossa ajuda, seja para a alma ou para o corpo: 
          "Quem ama a Deus, ama ao próximo sem reserva. Incapaz de 
          guardar as próprias riquezas, distribui-as como Deus, dando a cada um 
          do que ele precisa"
          
          (São Máximo, Centúrias sobre a caridade). 
          
          2. 
          Ajudemos as famílias onde falta o vinho da fé, elas necessitam de uma 
          séria orientação espiritual: 
          "Ai de mim, 
          se eu não anunciar o evangelho" 
          (1 Cor 9, 16).  
          
          3. Nas 
          orações, não lembremos apenas de nossas dores e necessidades, mas 
          rezemos também pelas pessoas que estão sofrendo e afastadas de Deus:
          "... orai uns pelos outros..."
          (Tg 
          5, 16). 
          
          A Virgem 
          Maria não criticou os noivos, pelo contrário, os ajudou. 
          
          Quantos 
          são aqueles que diante desse acontecimento teriam arreganhado a boca e 
          falado coisas pesadas. Diriam que tais noivos eram irresponsáveis, 
          gostavam de se aparecer, não pensaram antes de preparar uma festa, 
          etc. 
          
          A Virgem 
          não pensou assim. Ela não sabe criticar; sabe providenciar e ajudar:
          "Em 
          tudo semelhante a seu Filho Jesus, Maria, a Mãe de misericórdia, sente 
          viva alegria quando pode socorrer e consolar os miseráveis" 
          (Santo Afonso Maria de Ligório), 
          e: 
          "Maior é o desejo que ela tem de fazer-nos bem e conceder-nos graça 
          que o que nós temos de recebê-la" 
          (São 
          Bernardino de Bústis).
           
          
          Nossa 
          Senhora não deixou para depois, mas ajudou os noivos imediatamente. 
          
          Os 
          egoístas sempre esperam que os necessitados lhes peçam ajuda; mas a 
          Virgem Maria não agiu assim, ela não sabe tardar. 
          
          A bondade 
          de Maria vê duas coisas no nosso coração: 
          "A primeira é que muitas vezes estamos tão distraídos, tão 
          cheios de sono, que nem sequer percebemos estar à beira do abismo; 
          como os dois esposos não percebiam que não havia mais vinho. Nós todos 
          somos como as crianças, que se metem nos perigos sem o saberem. Porém 
          uma mãe não espera que seu filho a chame, mas acorre quando um 
          veículo, um animal ou qualquer outro acidente lhe ameaça a vida. Quem 
          sabe quantas vezes Nossa Senhora não tem acorrido para nos salvar, não 
          tem intercedido e chorado por nós! Se ela tivesse sempre esperado que 
          lhe rogássemos, a esta hora talvez estivéssemos no inferno"
          
          (Pe. João Colombo), 
          e: 
          "Nossa Senhora sabe outra coisa a nosso respeito. E é que nos custa 
          terrivelmente revelar aos outros a nossa miséria, abaixar-nos para 
          pedir auxílio: preferiríamos sofrer, até mesmo morrer. E Maria, a boa, 
          a doce Rainha, ensina-nos que a melhor caridade deve fazer-se sem 
          sermos solicitados e sem humilharmos, e, se fosse possível, sem nos 
          fazermos conhecer de ninguém, nem mesmo do beneficiado"
          
          (Idem).
           
          
          Confiemos 
          em Nossa Senhora e não duvidemos do seu amor: 
          "Ninguém se salva senão por vós, ninguém se livra 
          dos males senão por vós, ninguém recebe um favor divino senão por vós"
          
          (São Germano).
           
          
            
          
          Em Jo 2, 
          4 diz: 
          "Respondeu-lhe Jesus: 'Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não 
          chegou". 
          
            
          
          Edições 
          Theologica comenta: 
          "Mulier' 
          que alguns traduzem para o português por 'Mulher': é um título 
          respeitoso, que era equivalente a 'senhora', uma maneira de falar em 
          tom solene. Este nome voltou a empregá-lo Jesus na Cruz, com grande 
          afeto e veneração (Jo 19, 26). 
          
          A frase 
          'que Me desejas?' corresponde a uma maneira proverbial de falar no 
          Oriente, que pode ser empregada com diversos matizes. A resposta de 
          Jesus parece indicar que embora, em princípio, não pertencesse ao 
          plano divino que Jesus interviesse com poder para resolver as 
          dificuldades surgidas naquelas bodas, o pedido de Maria Santíssima O 
          move a atender a essa necessidade. Também se pode pensar que nesse 
          plano divino estava previsto que Jesus fizesse o milagre por 
          intercessão de Sua Mãe. Em qualquer caso, foi Vontade de Deus que a 
          Revelação do Novo Testamento nos deixasse este ensinamento capital: a 
          Virgem Santíssima é tão poderosa na sua intercessão que Deus atenderá 
          todos os pedidos por mediação de Maria. Por isso, a piedade cristã, 
          com precisão teológica, chamou a Nossa Senhora 'onipotente 
          suplicante'. 
          
           'Ainda 
          não chegou a Minha hora': O termo 'hora' é utilizado por Jesus 
          Cristo, algumas vezes para designar o momento da Sua vinda gloriosa (cfr 
          Jo 5, 28), ainda que geralmente se refira ao tempo da Sua Paixão, 
          Morte e Glorificação (cfr Jo 7, 30; 12, 23; 13, 1; 17, 1)". 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo explica: 
          "Mulher, 
          que nos importa isto a mim e a ti?' 
          Isto é, que me pedis? Que desejais? Quereis que eu 
          faça um milagre? Mas não é ainda chegado o momento de manifestar aos 
          homens todo o meu poder. Todavia, eu adiantarei esse momento, porque é 
          da vontade de meu Pai, que eu ceda à vossa intercessão... Notemos que 
          a expressão - Mulher - na língua grega e hebraica, é uma expressão 
          respeitosa e cheia de afeto; equivale em nossa língua à palavra - 
          Senhora - que, muito respeitosamente e em tom solene, dão os súditos 
          às suas soberanas, e ainda mesmo os filhos às suas mães. Nada tem 
          portanto de duro e menos afetuoso, como pretendem alguns hereges, pois 
          dessa mesma expressão usou o Salvador no angustioso momento de confiar 
          ao discípulo amado a proteção da que lhe fora mãe segundo a carne". 
          
          A parte 
          mais importante do milagre de Caná está naquele diálogo, em vos baixa, 
          de Maria com Jesus. Há como que um combate entre a misericórdia e a 
          justiça, entre o ansioso coração de uma mãe e a vontade imperscrutável 
          do Onipotente, entre Nossa Senhora e Deus. O que é de admirar é que 
          Nossa Senhora vence. Ó Virgem poderosíssima, vencei assim também para 
          nós! 
          "Maria diz baixinho a Jesus: 'Eles não têm mais vinho'. Jesus 
          responde: 'Nem eu nem tu temos culpa; não temos que ver com isso'. Mas 
          Nossa Senhora não fica satisfeita: o seu amor não se volve somente 
          para aqueles casos em que, de qualquer modo, ela está interessada; a 
          sua caridade nunca procura o seu próprio proveito. Maria repete 
          baixinho a Jesus: 'Eles não têm mais vinho'. E Jesus responde: 'Deixa 
          isso!' este não é o momento para eu me dar a conhecer como Filho de 
          Deus'. Só uma mãe sabe compreender perfeitamente as palavras de um 
          filho; e Nossa Senhora sentiu que, debaixo daquele não, bem no fundo 
          palpitava um sim. Logo aproveitou-o com um ato que diríamos audacioso, 
          se não fosse da Virgem prudentíssima" 
          (Pe. João Colombo).  
          
          São João 
          Crisóstomo escreve: 
          "É digno de se notar como 
          veio à imaginação da Mãe um conceito tão elevado de seu Filho, sendo 
          assim que até então nenhum milagre havia feito. Prossegue: 'Isto 
          serviu de início aos milagres de Jesus Cristo, etc.' Porém já havia 
          começado e revelar-se tal como era por meio de São João, e pelas 
          palavras que dizia a seus discípulos. Além disso, antes de tudo isso, 
          sua concepção e quanto seguiu a seu nascimento haviam feito conceber 
          grande estima a respeito daquele Menino. Por isso disse São Lucas: 
          'Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração' 
          (Lc 2, 19)" 
          (Ut sup), e:  
          "Representa também neste caso a sinagoga, que pede ao Salvador que 
          realiza o milagre; porque era costume entre os judeus o pedir 
          milagres. Prossegue: E Jesus lhe disse: 'Mulher, que há de comum entre 
          tu e mim?" 
          (Alcuino), e 
          também: 
          "E, além disso, por outra 
          causa; para que não se fizessem suspeitos seus milagres - pois não 
          convinha que os pedisse sua Mãe, mas aqueles que os necessitavam -, 
          quis mostrar que tudo devia ser feito em tempo oportuno, não fazendo 
          tudo de uma vez, porque resultaria certa confusão. Pelo que se segue: 
          'Ainda não é chegada a hora', isto é, todavia não sou conhecido pelos 
          que estão aqui presentes, nem sabem que falta vinho; deixa, pois, que 
          o sirvam primeiro. Porque o que não tem necessidade não agradece o 
          benefício" 
          (São João Crisóstomo, In Ioannem, hom. 20 et 21), 
          e ainda: 
          "Procure, não obstante, não incorrer no erro dos maniqueus, que 
          buscavam motivo a seus pérfidos desígnios nas mesmas palavras do 
          Senhor que disse: 'Que há de comum entre nós dois mulher?' E aqui os 
          matemáticos acham pretexto para seus sofismas, quando Cristo disse: 
          'Ainda não é chegada a minha hora'. Vê aqui, dizem, que Cristo estava 
          sujeito à fatalidade, quando disse: 'Não chegou a minha hora'. Porém, 
          devem crer mais em Deus que também disse: 'Tenho poder de entregar 
          minha alma, e tomá-la de novo' (Jo 10, 18). E buscam a verdadeira 
          explicação do que disse: 'Ainda não é chegada a minha hora', para que 
          não ponham ao Criador do céu sob os caprichos do destino. Porque se o 
          destino dependesse dos astros, não poderia estar submetido aos astros 
          o Criador dos astros. A isto deve agregar-se que não só não esteve 
          Jesus Cristo sob o poder do que eles denominam destino, porém nem tu 
          nem ninguém. Por que, pois, disse: 'Ainda não chegou a minha hora?' 
          Porque estava em sua mão o tempo em que havia de morrer, porém não lhe 
          parecia tempo oportuno para usar de tal poder. Haviam de ser chamados 
          primeiramente os discípulos; se havia de anunciar o reino dos céus; se 
          haviam de mostrar os prodígios de sua missão, para fundamentar em 
          milagres a divindade do Senhor, e recomendar-se a humildade na mesma 
          submissão às leis de nossa mortalidade. Quando tudo isso se diz de 
          maneira que as provas fossem irrecusáveis, então foi a hora, não da 
          necessidade, mas de manifestar sua vontade; não da condição, mas do 
          poder" 
          (Santo Agostinho, Ut Sup). 
          
          Em Jo 2, 5 diz: 
          "Sua mãe disse aos serventes: 'Fazei tudo o que ele vos disser". 
          
          Nossa Senhora, como boa mãe, conhece 
          perfeitamente o valor da resposta de seu Filho, que para nós poderia 
          resultar ambígua ("Que queres de mim, mulher?"), e não 
          duvida que Jesus fará algo para resolver o apuro daquela família. Por 
          isso indica de modo tão direto aos serventes que façam o que Jesus 
          lhes disser. Podemos considerar as palavras da Virgem como um convite 
          permanente para cada um de nós: 
          "Nisso 
          consiste toda a santidade cristã: pois a perfeita santidade é obedecer 
          a Cristo em todas as coisas"
          
          (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre São João), e: 
          "Neste momento solene escutamos com atenção particular as tuas 
          palavras: 'Fazei o que vos disser o meu Filho'. E desejamos responder 
          às tuas palavras com todo o coração. Queremos fazer o que nos diz o 
          teu Filho e o que nos manda; pois tem palavras de vida eterna. 
          Queremos cumprir e pôr em prática tudo o que vem dele, tudo o que está 
          contido na Boa Nova, como o fizeram os nossos antepassados durante 
          séculos (...) Por isso hoje (...) confiamos e consagramos a Ti, Mãe de 
          Cristo e Mãe da Igreja, o nosso coração, consciência e obras, a fim de 
          que estejam em consonância com a fé que professamos"
          
          (João Paulo II, Homilia no Santuário de Knock), e também: 
          "Ainda que havia dito 'não 
          chegou a minha hora', fez o que a sua Mãe lhe havia pedido. E assim, 
          prova suficientemente que não estava sujeito a horas. Pois se 
          estivesse, como fez isso quando ainda não havia chegado a hora devida? 
          Além disso, por honra de sua mãe, a quem não achava oportuno 
          contradizer, nem queria envergonhar diante de todos" 
          (São João Crisóstomo, In 
          Ioannem, hom. 21).  
          
            
          
          Em Jo 2, 6 diz: "Havia ali seis talhas de pedra para a purificação 
          dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas". 
          
            
          
          Edições 
          Theologica comenta: 
          "A 'medida' 
          ou 'metreta' correspondia a uns 40 litros. A capacidade de cada uma 
          destas talhas era, portanto, de 80 a 120 litros; no total 480-720 
          litros da melhor qualidade. São João sublinha a abundância do dom 
          concedido pelo milagre, como fará também quando da multiplicação dos 
          pães (Jo 6, 12-13). Um dos sinais da chegada do Messias era a 
          abundância; por isso nela vê o Evangelista o cumprimento das antigas 
          profecias: 'O próprio Senhor dará a felicidade e a terra dará os seus 
          frutos', anunciava o Salmo 85, 13: 'As eiras encher-se-ão de bom 
          trigo, os lagares transbordarão de mosto e de azeite puro' (Jl 2, 24; 
          cfr Am 9, 13-15). Essa abundância de bens materiais é um símbolo dos 
          dons sobrenaturais que Cristo nos obtém com a redenção: mais adiante, 
          São João porá em realce aquelas palavras do Senhor: 'Eu vim para que 
          tenham vida e a tenham em abundância' (Jo 10, 10; cfr Rm 5, 20)".  
          
          São 
          Beda escreve: 
          "Ainda que parece que se 
          nega, o fará. A mãe sabia, pois, que era bom e caritativo. Prossegue: 
          'E havia ali seis talhas de pedra'. Chamam-se talhas a uns cântaros a 
          propósito para levar água", 
          e: 
          "Mas como a Palestina era 
          escassa de água, e esta não se encontrava em muitos lugares por haver 
          poucas fontes e poços, enchia as talhas de água"
          (São João 
          Crisóstomo, Ut Sup), 
          e também: 
          "E quando disse as palavras 
          'dois ou três', não quis dizer que em uns recipientes coubessem três e 
          em outros duas medidas, mas que todos eles serviam indiferentemente 
          para dois ou para três medidas. Prossegue: 'Jesus lhes disse: Enchei 
          as talhas de água. E as encheram até a boca"
          (São Beda). 
            
          
          Em Jo 2, 
          7 diz: 
          "Jesus lhes disse: 'Enchei as talhas de água'. Eles as encheram até à 
          borda". 
          
            
          
          "Até à 
          borda": 
          "O 
          Evangelista volta a sublinhar com este pormenor a superabundância dos 
          bens da redenção e, ao mesmo tempo, indica com quanta exatidão 
          obedeceram aos serventes, como insinuando a importância da docilidade 
          no cumprimento da Vontade de Deus, mesmo nos pequenos pormenores"
          
          (Edições Theologica). 
          
          Aquele 
          que faz a vontade de Deus está no caminho da santidade: 
          "Nem todo o que me diz: 'Senhor! Senhor!' entrará 
          no reino dos céus, mas sim, quem faz a vontade de meu Pai, que está 
          nos céus"
          
          (Mt 7, 21), 
          e: 
          "Enquanto procura o cristão, com o auxílio da graça, aderir em tudo à 
          vontade de Deus, esta mesma vontade santifica-o, tornando-o capaz de 
          adesão cada vez mais plena, que terminará na total conformidade à 
          vontade divina" 
          (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade 
          Divina, 5, 2). 
          
            
          
          
           Em 
          Jo 2, 8-10 diz: 
          "Então lhes disse: 'Tirai agora e levai ao mestre-sala'. Eles levaram. 
          Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho - ele não 
          sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que haviam retirado a 
          água - chamou o noivo e lhe disse: 'Todo homem serve primeiro o vinho 
          bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu 
          guardaste o vinho bom até agora!" 
          
            
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          "O 
          presidente da mesa ou do festim era quem dirigia todo o serviço. Nosso 
          Senhor censurou a vaidade dos judeus que procuravam este lugar", 
          e: 
          "Jesus faz o milagre sem tacanhez, com magnanimidade; por exemplo, na 
          multiplicação dos pães e dos peixes (cfr Jo 6, 10-13) sacia uns cinco 
          mil homens e ainda sobram doze canastras. Neste milagre de Caná não 
          converteu a água em qualquer vinho, mas num de excelente qualidade" 
          (Edições Theologica), e também: 
          "Porém, por que não fez o 
          milagre antes que enchessem as talhas de água? Porque seria muito mais 
          admirável se houvesse tirado aquela substância do nada e seria muito 
          mais brilhante o milagre" 
          (São João Crisóstomo, Ut Sup), 
          e ainda: "Outros 
          acreditam que, como os convidados podiam estar embriagados, era fácil 
          que acreditassem que se haviam transtornado as coisas, e que não 
          sabiam se era água ou vinho o que bebiam; mas aqueles a quem estava 
          confiado o cuidado... vigiavam muito para que nada faltasse e tudo 
          estivesse em ordem. Portanto, em testemunho do que sucedia, disse o 
          Senhor: 'Levai ao mestre-sala', porque era quem tinha o cuidado. E não 
          disse: servi aos convidados" 
          (In Ioannem, hom. 25).. 
          
          
          Aprendamos de Nosso Senhor a fazer tudo com perfeição; nunca fazer as 
          coisas pela metade e sem amor: 
          "Ele tem 
          feito tudo bem..." 
          (Mc 7, 37). 
          
          Os santos 
          Padres viram no vinho de qualidade, reservado para o fim das bodas, e 
          na sua abundância, uma figura do coroamento da História da Salvação: 
          Deus tinha enviado os patriarcas e profetas, mas, ao chegar a 
          plenitude dos tempos, enviou o Seu próprio Filho, cuja doutrina leva a 
          revelação antiga à perfeição, e cuja graça excede as esperanças dos 
          justos do Antigo Testamento. Também viram neste vinho bom do fim das 
          bodas o prêmio e a alegria da vida eterna, que Deus concede àqueles 
          que, querendo seguir Cristo, sofrem as amarguras e contrariedades 
          desta vida 
          (cfr Comentário sobre São João. ad. loc.). 
          
            
          
          Em Jo 2, 
          11 diz: 
          "Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galiléia e 
          manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele". 
            
          
          Edições Theologica comenta: 
          "Antes do 
          milagre os discípulos  já criam que Jesus era o Messias; mas ainda 
          tinham um conceito excessivamente terreno da Sua missão salvífica. São 
          João testemunha aqui, que este milagre foi o começo de uma nova 
          dimensão da sua fé, que tornava mais profunda a que já tinham. O 
          milagre de Caná constitui um passo decisivo na formação da fé dos 
          discípulos". 
          
          Paulo VI 
          escreve: 
          "Maria 
          aparece como Virgem orante em Caná, onde, manifestando ao Filho com 
          delicada súplica uma necessidade temporal, obtém também um efeito de 
          graça: que Jesus, realizando o primeiro dos Seus 'sinais', confirme os 
          discípulos na fé n'Ele"
          (Marialis 
          cultus, n° 18), 
          e: 
          "Por que terão tanta eficácia os pedidos de Maria diante de Deus? As 
          orações dos santos são orações de servos, enquanto as de Maria são 
          orações de Mãe, donde procede a sua eficácia e caráter de autoridade; 
          e como Jesus ama imensamente Sua Mãe, não pode rogar sem ser atendida 
          (...) Para conhecer bem a grande bondade de Maria, recordemos o que 
          refere o Evangelho (...). Faltava o vinho, com o consequente apuro dos 
          esposos. Ninguém pede à Santíssima Virgem que interceda diante do seu 
          Filho em favor dos consternados esposos. Contudo, o coração de Maria, 
          que não pode deixar de se compadecer dos infelizes (...), impeliu-a a 
          encarregar-se por si mesma do ofício de intercessora e a pedir ao 
          Filho o milagre, apesar de ninguém lho ter pedido (...). Se a Senhora 
          agiu assim sem que lho tivessem pedido, que teria sido se lho tivessem 
          pedido?" 
          (Santo Afonso Maria de Ligório, Sermões 
          abreviados, 48). 
            
          
          Em Jo 2, 
          12 diz: 
          "Depois disso, desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus 
          discípulos, e ali ficaram apenas alguns dias".
           
          
            
          
          
          "Irmãos": 
          Nos 
          idiomas antigos hebraico, árabe, aramaico, etc., não havia palavras 
          concretas para indicar os graus de parentesco que existem noutros 
          idiomas mais modernos. Em geral, todos os pertencentes a uma mesma 
          família, clã, inclusive tribo, eram "irmãos". 
          
          No caso 
          concreto que aqui nos ocupa deve ter-se presente, além disso, que os 
          familiares de Jesus eram parentes de diverso grau e que se trata de 
          dois grupos: uns por parte da Santíssima Virgem, e outros de São José. 
          Mt 13, 55-56 menciona, como a viver em Nazaré, Tiago, José, Simão e 
          Judas "irmãos do Senhor", e alude também a "irmãs" 
          (cfr Mc 6, 3). 
          Por outro lado, Mt 27, 56 diz-nos que destes, Tiago e José são filhos 
          de uma certa Maria, diferente da Virgem, e Simão e Judas não são 
          irmãos de Tiago e José, mas, segundo parece, filhos de um irmão de São 
          José. 
          
          Jesus, 
          porém, era para todos "o filho de Maria" 
          (Mc 6, 3) ou "o filho do carpinteiro" 
          (Mt 13, 55). 
          
          A Igreja 
          sempre professou com plena certeza que Jesus Cristo não teve irmãos de 
          sangue em sentido próprio: é o dogma da perpétua virgindade de Maria. 
          
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          Anápolis, 30 de maio de 2008 
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