| 
           
            
          
          PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO 
          
           (Lc 
          10, 25-37) 
           
           
          
          "25 
          E eis que um legista se levantou e disse para experimentá-lo: 'Mestre, 
          que farei para herdar a vida eterna?' 
          26 
          Ele disse: 'Que está escrito na Lei? Como lês?' 
          27 
          Ele, então, respondeu: 'Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu 
          coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu 
          entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo'. 
          28 
          Jesus disse: 'Respondeste corretamente; faze isso e viverás'. 
          29 
          Ele, porém, querendo se justificar, disse a Jesus: 'E quem é meu 
          próximo?' 30 
          Jesus retomou: 'Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio 
          de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, 
          deixando-o semimorto. 
          31 
          Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou 
          adiante. 32 
          Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu.
          33 
          Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se 
          de compaixão. 34
          Aproximou-se, cuidou 
          de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu 
          próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados.
          35 
          No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: 
          'Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei'.
          36 
          Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas 
          mãos dos assaltantes?' 
          37 
          Ele respondeu: 'Aquele que usou de misericórdia para com ele'. Jesus 
          então lhe disse: 'Vai, e também tu, faze o mesmo". 
          
            
          
             
  
          
          Em Lc 
          10, 25-28 diz: "E eis 
          que um legista se levantou e disse para experimentá-lo: 'Mestre, que 
          farei para herdar a vida eterna?' Ele disse: 'Que está escrito na Lei? 
          Como lês?' Ele, então, respondeu: 'Amarás o Senhor teu Deus, de todo o 
          teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu 
          entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo'. Jesus disse: 
          'Respondeste corretamente; faze isso e viverás". 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          "É muito provável que o Senhor tivesse proposto esta nova 
          parábola à saída de Jericó, no caminho que sobe para Jerusalém através 
          do deserto de Judá. Com muita frequência o Mestre utilizava as coisas 
          que via para dar ensinamentos mais profundos e misteriosos acerca do 
          Reino que estava preste a chegar: assim, utiliza a água do poço de 
          Jacó para se referir à graça, o pão para falar da Eucaristia, etc. O 
          caminho de Jericó para Jerusalém, onde se davam tantos assaltos de 
          ladrões aos peregrinos, era um bom cenário para a parábola que narrará 
          a seguir. Talvez estejam prestes a iniciar o caminho". 
          
          A 
          doutrinação começou com uma pergunta de um doutor da Lei, com a 
          intenção de experimentá-lo: 
          "Mestre, que farei para 
          herdar a vida eterna?" 
          
          Esse 
          doutor da Lei não estava preocupado em aprender, e sim, colocar o 
          Senhor à prova. 
          
          Hoje, 
          também, existem milhares de católicos que não se preocupam em obedecer 
          ao que a Santa Mãe Igreja ordena, e sim, passam horas e horas a 
          questionarem e a reprovarem o que a mesma ensina. Esses são grandes 
          inimigos da Igreja Católica. 
          
          Feliz 
          do católico que inclina a cabeça perante a Lei de Deus e que segue 
          fielmente a Santa Doutrina católica. O mesmo será luz por onde passar, 
          principalmente nos ambientes contrários aos ensinamentos da Igreja. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          "O Senhor ensina que o 
          caminho para conseguir a vida eterna consiste no cumprimento da Lei de 
          Deus. Os Dez Mandamentos, que Deus entregou a Moisés no monte Sinai 
          (Ex 20, 1-17), são a expressão concreta e clara da Lei natural. Faz 
          parte da doutrina cristã a existência da Lei natural, que é a 
          participação da Lei eterna na criatura racional, e que foi impressa na 
          consciência de cada homem ao ser criado por Deus (cfr Libertas 
          praestantíssimum). É evidente, portanto, que a Lei natural, expressada 
          nos Dez Mandamentos, não pode mudar, nem passar de moda, já que não 
          depende da vontade do homem nem das circunstâncias mutáveis dos 
          tempos. 
          
          Neste 
          passo, Jesus louva o resumo da Lei que faz o escriba judeu. A resposta 
          é tirada do Deuteronômio (6, 4ss.) e era uma oração que os judeus 
          repetiam com frequência. Esta mesma resposta dá o Senhor quando Lhe 
          perguntam qual é o mandamento principal da Lei, para terminar dizendo: 
          'Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas' (Mt 22, 
          40), (cfr também Rm 13, 8-9; Gl 5, 14). 
          
          Há uma 
          hierarquia e uma ordem nestes dois mandamentos que constituem o duplo 
          preceito da caridade: antes de mais e sobretudo amar a Deus por Si 
          mesmo; em segundo lugar, e como consequência do anterior, amar o 
          próximo, porque essa é a vontade explícita de Deus (1 Jo 4, 21). 
          
          Neste 
          passo do Evangelho encerra-se também outro ensinamento fundamental: a 
          Lei de Deus não é algo negativo, 'não fazer', mas algo claramente 
          positivo, é amor; a santidade, a que todos os batizados estão 
          chamados, não consiste tanto em não pecar, mas em amar, em fazer 
          coisas positivas, em dar frutos de amor de Deus. Quando o Senhor nos 
          descreve o Juízo Final realça esse aspecto positivo da Lei de Deus (Mt 
          25, 31-46). O prêmio da vida eterna será concedido aos que fizeram o 
          bem",
          e: 
          "Sem dúvida, a nossa única ocupação aqui na terra é a de amar a Deus: 
          ou seja, começar a praticar o que faremos durante toda a eternidade. 
          Por que temos de amar a Deus? Porque a nossa felicidade consiste, e 
          não pode consistir noutra coisa, no amor de Deus. De maneira que se 
          não amamos a Deus, seremos constantemente infelizes; e se queremos 
          desfrutar de alguma consolação e de alguma suavidade nas nossas penas, 
          somente o conseguiremos recorrendo ao amor de Deus. Se quereis 
          convencer-vos disso, ide buscar o homem mais feliz segundo o mundo; se 
          não ama a Deus, vereis como na realidade não deixa de ser um grande 
          desgraçado. E, pelo contrário, se vos encontrais com o homem mais 
          feliz aos olhos do mundo, vereis como, amando a Deus, é ditoso em 
          todos os conceitos. Meu Deus! Abri-nos os olhos da alma, e assim 
          buscaremos a nossa felicidade onde realmente podemos achá-la!"(São 
          João Maria Vianney, Sermões escolhidos, Décimo segundo Domingo depois 
          de Pentecostes). 
           
          
          Em Lc 
          10, 29 diz: "Ele, 
          porém, querendo se justificar, disse a Jesus: 'E quem é meu próximo?"
           
          
          
          Cristo Jesus não lhe deu uma definição de quem seria o seu próximo, 
          mas contou-lhe uma parábola. 
          
          Nessa 
          parábola, Cristo Jesus explica concretamente quem é o próximo e de 
          como há que viver a caridade com ele, ainda que seja nosso inimigo.
           
          
          Em Lc 
          10, 30 diz: "Jesus 
          retomou: 'Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de 
          assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, 
          deixando-o semimorto".
           
          
          Quem 
          é esse homem? Nosso Senhor não diz qual a sua nacionalidade nem da sua 
          condição pessoal. 
          
          Este 
          é o nosso próximo: um homem qualquer, que está perto de nós e que 
          necessita da nossa ajuda. 
          
          
          Ajudemos sempre ao nosso próximo, não importa quem seja, a nossa 
          caridade deve ser verdadeira: 
          "No caminho da vida 
          encontramos pessoas feridas, despojadas e meio mortas, da alma e do 
          corpo. A preocupação por ajudar outros tirará o homem de bem do seu 
          caminho rotineiro, do próprio egoísmo, e alargará o seu coração para 
          se preocupar do que tem necessidade de ajuda. No caminho diário é 
          possível encontrar pessoas doridas de compreensão e de carinho ou que 
          carecem dos meios materiais mais indispensáveis; feridas por ter 
          sofrido humilhações que vão contra a dignidade humana; despojadas, 
          talvez, dos direitos mais elementares..." 
          (Pe. Francisco 
          Fernández-Carvajal). 
          
          
          Católico, não olhe com indiferença para o seu próximo, mas o ajude 
          naquilo que for preciso, principalmente na vida espiritual: 
          "A caridade de Cristo 
          estimula, incita-nos a correr e voar com as asas do santo zelo. Quem 
          ama a Deus de verdade, também ama o próximo; o verdadeiro zeloso é o 
          mesmo que ama, mas em grau maior, conforme o grau de amor; quanto arde 
          de amor, tanto mais é impelido pelo zelo"
          (Das Obras de Santo Antônio Maria Claret), 
          e: "Haverá ocasiões em 
          que, antes de pregar a fé, será necessário aproximar-se do ferido que 
          está à beira do caminho, para curar-lhe as feridas. Certamente. Mas 
          sem nunca excluir a preocupação cristã de comunicar a fé, de educar 
          nela e de propagar o sentido cristão da vida"
          (Cardeal M. Gonzáles 
          Martín, Libres em la caridad, pág. 58). 
          
          Em Lc 
          10, 31-32 diz: 
          "Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou 
          adiante. Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e 
          prosseguiu". 
          
          
          Passaram por esse lugar um sacerdote e um levita: 
          "Voltavam certamente a casa depois de ter terminado o seu 
          turno no Templo. Neles está concretizada a piedade cultual de então. 
          Não tinham tempo, não queriam complicar a sua viagem... Não fizeram um 
          novo dano ao homem ferido e abandonado, como acabar de lhe tirar o que 
          restava, insultá-lo, etc. Iam ao seu, e não quiseram complicações. 
          Deram mais  importância aos seus assuntos, importantes ou não, do que 
          ao homem necessitado" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal). 
          
          
          Muitos do clero se envolvem com assuntos terrenos, como por exemplo, a 
          política, e não se preocupam com os católicos que estão feridos 
          espiritualmente, isto é, vivendo em pecado mortal. 
          
          
          Esses, preocupados somente com os assuntos terrenos passam adiante, 
          deixando de lado os fiéis que necessitam de um consolo e ajuda 
          espiritual. 
          
          Os 
          mesmos se preocupam com o leite, lã e carne das ovelhas, mas não as 
          orientam no caminho da santidade: 
          "Vejamos, portanto, o que aos 
          pastores que se apascentam a si mesmos, não às ovelhas, diz a palavra 
          divina que não adula a ninguém: 'Eis que bebeis o leite e vos cobris 
          com a lã; matais as mais gordas e não apascentais minhas ovelhas. Não 
          fortalecestes a fraca; não curastes a doente; não pensastes a ferida, 
          não reconduzistes a desgarrada e não fostes em busca da que se 
          perdera; tratastes com dureza a forte"
          (Do Sermão sobre os 
          pastores, de Santo Agostinho). 
          
          
          Muitos também são os leigos que poderiam, se não fosse o egoísmo que 
          carregam no coração, ajudarem aqueles que necessitam de uma ajuda, 
          seja material ou espiritual. 
          
          Os 
          mesmos reservam um bom tempo para os seus passeios e lazeres, mas não 
          encontram um tempo sequer, para ajudar os necessitados. 
           
          
          
          Católico, abra o seu coração e tire dele todo egoísmo e indiferença, e 
          ajude o próximo com generosidade: 
          "Não te digo: arruma-me a 
          vida e tira-me da miséria, entrega-me os teus bens (...). Só te 
          imploro pão e roupa, e um pouco de alívio para a minha fome. Estou 
          preso. Não te peço que me livres. Somente quero que, pelo teu próprio 
          bem, me visitas. Com isso ficarei satisfeito e por isso te 
          presentearei com o Céu. Eu te livrei de uma prisão mil vezes mais 
          dura. Mas contento-me com que venhas ver-me de vez em quando. 
          
          Poderia, é 
          verdade, dar-te a tua coroa sem nada disso, mas quero estar-te 
          agradecido e que venhas depois receber o teu prêmio confiadamente. Por 
          isso, Eu, que posso alimentar-me por mim mesmo, prefiro dar voltas ao 
          teu redor, pedindo, e estender a minha mão à tua porta. O meu amor 
          chegou a tanto, que quero que tu me alimentes. Por isso, prefiro, como 
          amigo, a tua mesa; disso me glorio e te mostro ao mundo como meu 
          benfeitor" (São João 
          Crisóstomo, Homilia 15 sobre a Epístola aos Romanos).
           
          
          Em Lc 
          10, 33-35 diz: "Certo 
          samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de 
          compaixão. 
          Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois 
          colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e 
          dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os 
          ao hospedeiro, dizendo: 'Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu 
          regresso te pagarei". 
          
          É 
          preciso não esquecer que os samaritanos eram tidos em Israel por 
          idólatras. Estava-lhes vedado o acesso ao Templo, e o seu testemunho 
          nas cortes de justiça carecia de valor. Não podiam contrair matrimônio 
          com uma mulher judia. Não se podia aceitar deles um pedaço de pão ou 
          um copo de água. Um dos insultos mais fortes contra um judeu, que foi 
          dirigido também contra o Senhor, era o de dizer-lhe: É um 
          samaritano. 
          
          O 
          denário,  equivalente ao jornal diário de um operário ou de um 
          legionário. O seu valor aquisitivo superava as necessidades diárias de 
          uma família. O samaritano pagou uma quantidade razoável. 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          "Jesus quis intensificar a parábola com a figura do 
          samaritano. Este, apesar do grande distanciamento que havia entre eles 
          e os judeus, imediatamente se deu conta da desgraça, e encheu-se de 
          compaixão. É necessário, em primeiro lugar, querer ver a desgraça 
          alheia, não ir tão depressa na vida que possa justificar-se com 
          facilidade o passar do outro lado diante da necessidade e do 
          sofrimento.  
          
          A 
          compaixão do samaritano não é mero sentimentalismo. Pelo contrário, 
          põe os meios para prestar uma ajuda concreta e prática. O que leva a 
          cabo este viajante não é, talvez, um ato heróico, mas sim, faz o 
          necessário. Antes de mais, aproximou-se; é o primeiro que se 
          deve fazer diante da desgraça ou da necessidade: aproximar-se, não 
          vê-la de longe. Logo, o samaritano teve as atenções que a situação 
          requeria: cuidou dele. O amor ao próximo é prático e 
          demonstra-se nas obras. Manifesta-se levando a cabo o que se deve 
          fazer em cada caso concreto. 
          
          O amor faz 
          o que a hora e o momento exigem. Nem sempre são atos heróicos, 
          difíceis; com frequência são coisas simples, pequenas muitas vezes. Os 
          afazeres deste bom samaritano passaram por uns momentos para segundo 
          plano, e as suas urgências também; empregou o seu tempo e o seu 
          dinheiro, sem regateios, em auxiliar quem dele necessitava". 
          
          Santo 
          Agostinho, seguindo outros Santos Padres (De verb. Dom. serm., 37),
          "identifica o Senhor 
          com o bom samaritano, e o homem assaltado pelos ladrões com Adão, 
          origem e figura de toda a humanidade caída. Levado por essa compaixão 
          e misericórdia, desce à terra  para curar as chagas do homem, 
          fazendo-as suas próprias (Is 53, 4; Mt 8, 17; 1 Pd 2, 24; 1 Jo 3, 5). 
          Assim, em mais de uma ocasião, vemos como Jesus Se compadece e Se 
          comove diante do sofrimento do homem (cfr Mt 9, 36; Mc 1, 41; Lc 7, 
          13). Com efeito, diz São João: 'Nisto se demonstrou o amor de Deus 
          para conosco, em que enviou o Seu Filho Unigênito ao mundo para que 
          por Ele tenhamos a vida. E nisto consiste o Seu amor, que não é porque 
          nós tenhamos amado a Deus, mas porque Ele nos amou primeiro a nós, e 
          enviou o Seu Filho para ser vítima de propiciação pelos nossos 
          pecados. Queridos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos 
          uns aos outros' (1 Jo 4, 9-11)" (Edições 
          Theologica). 
           
          
          Em Lc 
          10, 36-37 diz: "Qual 
          dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos 
          assaltantes?' Ele respondeu: 'Aquele que usou de misericórdia para com 
          ele'. Jesus então lhe disse: 'Vai, e também tu, faze o mesmo". 
          
          
          Cristo Jesus perguntou ao doutor da Lei: 
          "Qual dos três, em tua 
          opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          "Na pergunta, Jesus inverteu 
          a ordem:... quem foi o próximo daquele? Quem se comportou como 
          próximo? O conceito de próximo é correlativo, exige dos termos. E 
          Jesus não quer responder quem é o meu próximo, mas quem se 
          comportou como próximo daquele necessitado". 
          
          
          Termina a parábola com uma palavra cordial dirigida ao doutor: Vai 
          e faz tu do mesmo modo. Sê próximo inteligente, ativo e compassivo 
          com todo o que necessite de ti. 
          
          Esta parábola do Bom 
          Samaritano está em profunda harmonia com o comportamento do próprio 
          Cristo: "A parábola do Bom Samaritano pertence 
          também - e de modo orgânico - ao Evangelho do sofrimento. Nesta 
          parábola Cristo quis dar uma resposta à pergunta "quem é o meu 
          próximo?" De fato, dos três que passavam pela estrada de Jerusalém a 
          Jericó, à beira da qual jazia por terra, meio morto, um homem roubado 
          e ferido pelos ladrões, foi exatamente o Samaritano quem demonstrou 
          ser na verdade "próximo" daquele infeliz: "próximo" 
          significa também aquele que cumpriu o mandamento do amor ao próximo. 
          Outros dois homens seguiam o mesmo caminho; um era sacerdote e o outro 
          levita; mas ambos "o viram e passaram adiante". O Samaritano, ao 
          contrário,    "tendo-o visto, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, 
          pensou-lhe as feridas", e depois "levou-o para uma estalagem e  
           prestou-lhe assistência" . E, ao ir-se embora, confiou aos cuidados 
          do hospedeiro o homem que estava a sofrer, comprometendo-se a 
          pagar-lhe o que fosse preciso.  
          
          A parábola 
          do Bom Samaritano pertence ao Evangelho do sofrimento. Ela indica, de 
          fato, qual deva ser a relação de cada um de nós para com o próximo que 
          sofre. Não nos é permitido "passar adiante", com indiferença; mas 
          devemos "parar" junto dele. Bom Samaritano é todo o homem que se 
          detém junto ao sofrimento de um outro homem, seja qual for o 
          sofrimento. Parar, neste caso, não significa curiosidade, mas 
          disponibilidade. Esta é como que o abrir-se de uma disposição interior 
          do coração, que também tem a sua expressão emotiva. Bom Samaritano é
          todo o homem sensível ao sofrimento de outrem, o homem que "se 
          comove"  diante da desgraça do próximo. Se Cristo, conhecedor do 
          íntimo do homem, põe em realce esta comoção, quer dizer que ela é 
          importante para todo o nosso modo de comportar-nos diante do 
          sofrimento de outrem. É necessário, portanto, cultivar em si próprio 
          esta sensibilidade do coração, que se demonstra na compaixão 
          por quem sofre. Por vezes, esta compaixão acaba por ser a única 
          ou a principal expressão do nosso amor e da nossa solidariedade com o 
          homem que sofre. 
          
          O Bom 
          Samaritano da parábola de Cristo não se limita, todavia, à simples 
          comoção e compaixão. Estas, transformam-se para ele num estímulo para 
          as ações que tendem a prestar ajuda ao homem ferido. Bom Samaritano, 
          portanto, é, afinal, todo aquele que presta ajuda no sofrimento,
          seja qual for a sua espécie; uma ajuda, quanto possível, eficaz. 
          Nela põe todo o seu coração, sem poupar nada, nem sequer os meios 
          materiais. Pode-se dizer mesmo que se dá a si próprio, o seu próprio 
          "eu", ao outro. Tocamos aqui um dos pontos-chave de toda a 
          antropologia cristã. O homem não pode encontrar a sua própria 
          plenitude a não ser no dom sincero de si mesmo . Bom Samaritano é o 
          homem capaz, exatamente, de um tal dom de si mesmo. 
          
          Seguindo a 
          parábola evangélica, poder-se-ia dizer que o sofrimento, presente no 
          nosso mundo humano sob tantas formas diversas, também aí está presente 
          para desencadear no homem o amor, precisamente esse dom desinteressado 
          do próprio "eu" em favor dos outros homens, dos homens que sofrem. O 
          mundo do sofrimento humano almeja sem cessar, por assim dizer, outro 
          mundo diverso: o mundo do amor humano; e aquele amor desinteressado 
          que vem do coração e transparece nas ações da pessoa que sofre; amor 
          que esta deve, aliás, em certo sentido ao sofrimento. O homem que é o 
          "próximo" não pode passar com indiferença diante do sofrimento de 
          outrem; e isso, por motivo da solidariedade humana fundamental e em 
          nome do amor ao próximo. Deve "parar", "deixar-se comover", como fez o 
          Samaritano da parábola evangélica. Esta parábola, em si mesma, exprime
          uma verdade profundamente cristã e, ao mesmo tempo, muitíssimo 
          humana universalmente. Não é sem motivo que até na linguagem corrente 
          se designa obra de "bom samaritano" qualquer atividade em favor dos 
          homens que sofrem ou precisam de ajuda. 
          
          Esta 
          atividade adota, ao longo dos séculos, formas institucionais
          organizadas e constitui um campo de trabalho nas respectivas 
          profissões. Quanto de "bom samaritano" têm as profissões do médico 
          ou a da enfermeira, ou outras similares! Em virtude do conteúdo 
          "evangélico" que nelas se encerra, somos inclinados a pensar, nestes 
          casos, mais em vocação do que em simples profissão. E as instituições 
          que, no decorrer das gerações, realizaram um serviço de "bom 
          samaritano", desenvolveram-se e especializaram-se ainda mais nos 
          nossos dias. Isto prova, sem sombra de dúvida, que o homem de hoje se 
          detém cada vez com maior atenção à perspicácia junto aos sofrimentos 
          do próximo, tenta compreendê-los e precavê-los, de modo cada vez mais 
          preciso, e conquista também, cada vez mais, capacidade e 
          especialização neste sector. Tendo presente tudo isto, podemos dizer 
          que a parábola do Samaritano do Evangelho se tornou uma das 
          componentes essenciais da cultura moral e da civilização 
          universalmente humana. E pensando em todas aquelas pessoas que, 
          com a sua ciência e capacidade, prestam múltiplos serviços ao próximo 
          que sofre, não podemos deixar de ter para com elas uma palavra de 
          reconhecimento e de gratidão. 
          
          Esta 
          palavra estende-se a todos aqueles que exercem o próprio serviço para 
          com o próximo que sofre, de maneira desinteressada, aplicando-se 
          voluntariamente em dar ajuda de "bom samaritan" e destinando a 
          essa causa todo o tempo e forças que lhes ficam do trabalho 
          profissional. Tal atividade espontânea como "bom samaritano", ou 
          caritativa, pode ser chamada atividade social; e pode também ser 
          definida como apostolado quando é empreendida por motivos 
          lidimamente evangélicos, sobretudo quando isso sucede em ligação com a 
          Igreja ou com uma outra Comunidade cristã. A atividade voluntária de 
          "bom samaritano" realiza-se nas instituições e meios apropriados, ou 
          então através de organizações criadas para determinado fim. 
          Estas formas de atuação têm grande importância, especialmente quando 
          se trata de assumir tarefas de maior vulto, que exijam cooperação e 
          uso de meios técnicos. Permanece não menos valiosa também a atividade 
          individual, especialmente a atividade daquelas pessoas que se sentem 
          mais aptas para cuidarem de certas espécies de sofrimento humano, a 
          que não se pode dar ajuda senão individual e pessoalmente. Depois há a 
          ajuda familiar, que compreende quer os atos de amor ao próximo 
          feitos em benefício dos membros da própria família, quer a ajuda 
          recíproca entre as famílias.  
          
          É difícil 
          apresentar um elenco de todos os gêneros e de todas as esferas da 
          atividade de "bom samaritano" que existem na Igreja e na sociedade. 
          Importa pelo menos reconhecer que são muito numerosos e, por isso, 
          exprimir alegria; com efeito, graças a eles, os valores morais 
          fundamentais, como o valor da solidariedade humana, o valor do 
          amor cristão ao próximo, compõem o quadro da vida social e das 
          relações inter-humanas e aí fazem frente às diversas formas do ódio, 
          da violência, da crueldade, do desprezo pelo homem, ou até da simples 
          "insensibilidade", ou seja, da indiferença para com o próximo e os 
          seus sofrimentos. 
          
          Neste 
          ponto é para salientar o grandíssimo significado das atitudes que 
          convém adotar na educação. A família, a escola e as outras 
          instituições educativas - ainda que seja somente por motivos 
          humanitários - devem trabalhar com perseverança no sentido de 
          despertar e apurar aquela sensibilidade para com o próximo e o seu 
          sofrimento, de que se tornou símbolo a figura do Samaritano do 
          Evangelho. A Igreja deve fazer o mesmo, como é óbvio; e, se for 
          possível, ajudar a aprofundar ainda mais tal sentido, com a 
          perscrutação das motivações que Cristo apresentou na sua parábola e em 
          todo o Evangelho. A eloquência da parábola do Bom Samaritano - como de 
          todo o Evangelho, de resto - está sobretudo nisto: o homem deve 
          sentir-se como que chamado, de maneira muito pessoal, a 
          testemunhar o amor no sofrimento. As instituições são muito 
          importantes e indispensáveis; no entanto, nenhuma instituição, só por 
          si, pode substituir o coração humano, a compaixão humana, o amor 
          humano, a iniciativa humana, quando se trata de ir ao encontro do 
          sofrimento de outrem. Isto é válido pelo que se refere aos sofrimentos 
          físicos; mas é mais válido ainda quando se trata dos múltiplos 
          sofrimentos morais e, sobretudo, quando é a alma que está a sofrer. 
          
          A parábola 
          do Bom Samaritano que, como foi dito, pertence sem dúvida ao Evangelho 
          do sofrimento, com ele tem caminhado ao longo da história da Igreja e 
          do Cristianismo e ao longo da história do homem e da humanidade. Ela 
          testemunha que a revelação, feita por Cristo, do sentido salvífico do 
          sofrimento, não o identifica, de forma alguma, com um comportamento 
          de passividade. Muito pelo contrário. O Evangelho é a negação da 
          passividade diante do sofrimento. O próprio Cristo, neste aspecto, é 
          sobretudo ativo. E assim, realiza o programa messiânico da sua missão 
          em conformidade com as palavras do Profeta: "O Espírito do Senhor está 
          sobre mim; porque me conferiu a unção e me enviou para anunciar aos 
          pobres a boa nova, para anunciar aos cativos a libertação e aos cegos 
          o dom da vista; para pôr em liberdade os oprimidos e promulgar um ano 
          de graça da parte do Senhor". Cristo realiza de modo superabundante 
          este programa messiânico da sua missão: passa "fazendo o bem"; 
          e o bem resultante das suas obras assumiu grande realce sobretudo 
          diante do sofrimento humano. A parábola do Bom Samaritano está em 
          profunda harmonia com o comportamento do próprio Cristo. 
          
          Esta 
          parábola, por fim, quanto ao seu conteúdo, tem cabimento naquelas 
          inquietantes palavras do juízo final, que São Mateus recolheu no seu 
          Evangelho: "Vinde, benditos de meu Pai, entrai na posse do reino que 
          vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e 
          destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e 
          destes-me hospedagem, andava nu e vestistes-me, estava doente e 
          visitastes-me, estava no cárcere e fostes ver-me". Aos justos que 
          perguntam quando fizeram precisamente a ele tudo isso, o Filho do 
          Homem responderá:        "Em verdade vos digo que tudo o que 
          fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes". 
          Sentença contrária caberá àqueles que se houverem comportado 
          diversamente: "tudo o que não fizestes a um destes pequeninos a mim 
          deixastes de o fazer".   
          
          
          Poder-se-ia certamente ampliar a lista dos sofrimentos que encontraram 
          eco na sensibilidade humana, na compaixão e na ajuda, ou que não o 
          encontraram. A primeira e a segunda parte da declaração de Cristo 
          sobre o juízo final indicam, sem ambiguidade, quanto são essenciais 
          para todos os homens, na perspectiva da vida eterna, o "parar", como 
          fez o Bom Samaritano, junto do sofrimento do seu próximo, o ter 
          "compaixão" dele, e, por fim, ajudá-lo. No programa messiânico de 
          Cristo, que é ao mesmo tempo o programa do reino de Deus, o 
          sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer 
          nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a 
          civilização humana na "civilização do amor". Com este amor é que o 
          significado salvífico do sofrimento se realiza totalmente e atinge a 
          sua dimensão definitiva. As palavras de Cristo sobre o juízo final 
          permitem compreender isto, com toda a simplicidade e clareza típicas 
          do Evangelho. 
          
          Estas 
          palavras sobre o amor, sobre os atos de caridade relacionados com o 
          sofrimento humano, permitem-nos descobrir, uma vez mais, por detrás de
          todos os sofrimentos humanos, o próprio sofrimento redentor de 
          Cristo. O mesmo Cristo diz: "A mim o fizestes". É Ele próprio 
          quem, em cada um, experimenta o amor; é Ele próprio quem recebe ajuda, 
          quando ela é prestada a quem quer que sofra, sem exceção. Ele próprio 
          está presente em quem sofre, pois o seu sofrimento salvífico foi 
          aberto de uma vez para sempre a todo o sofrimento humano. E todos os 
          que sofrem foram chamados, de uma vez sempre, a tornarem-se 
          participantes "dos sofrimentos de Cristo". Assim como todos foram     
          chamados a "completar"  com o próprio sofrimento "o que falta aos 
          sofrimentos de Cristo". Cristo ensinou o homem a fazer bem com o 
          sofrimento e, ao mesmo tempo, a fazer bem a quem sofre. Sob 
          este duplo aspecto, revelou cabalmente o
          sentido do sofrimento" 
          (João Paulo II, Carta 
          Apostólica, Salvifici doloris, 28-30). 
           
           
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 10 de julho de 2007 
            
           |