OS DEZ LEPROSOS

(Lc 17, 11-19)

 

"11 Como ele se encaminhasse para Jerusalém, passava através da Samaria e da Galiléia. 12 Ao entrar num povoado, dez leprosos vieram-lhe ao encontro. Pararam à distância 13 e clamaram: 'Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!' 14 Vendo-os, ele lhes disse: 'Ide mostrar-vos aos sacerdotes'. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram purificados. 15 Um dentre eles, vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, 16 e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe. Pois bem, era um samaritano. 17 Tomando a palavra, Jesus lhe disse: 'Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18 Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?' 19 Em seguida, disse-lhe: 'Levanta-te e vai; a tua fé te salvou".

 

 

Em Lc 17, 11 diz: "Como ele se encaminhasse para Jerusalém, passava através da Samaria e da Galiléia".

Jesus Cristo, o Grande Missionário, está sempre andando à procura das ovelhas desgarradas. É grande o amor do Coração do Bom Pastor: "Para ir a Jerusalém, Jesus seguiu o caminho direto que atravessava a planície de Esdrelon; depois caminhou pelos confins da Galiléia e Samaria até ao vale do Jordão" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).

Imitemos o exemplo do nosso Mestre. Deixemos a vida de "poltronice" de lado, e trabalhemos incansavelmente pelo bem das almas imortais.

Feliz do católico que vai de casa em casa, de rua em rua, etc., dizendo a todos que existe um Deus Eterno, que a vida na terra é passageira, que possuímos uma alma imortal e que para entrar o céu é preciso estar com a graça santificante na alma: "Deveis ser uma Igreja que procure as pessoas, que as convide não somente no chamado geral dos meios de comunicação, mas no convite pessoal, de casa em casa, de rua em rua, num trabalho permanente, respeitoso mas presente em todos os lugares e ambientes" (João Paulo II, Discurso aos Bispos brasileiros do Nordeste 1 e Nordeste 4, 8).

Em Lc 17, 12 diz: "Ao entrar num povoado, dez leprosos vieram-lhe ao encontro. Pararam à distância".

Nosso Senhor, com o Coração sedento pelas almas, entra em um povoado.

Desde tempos antigos, costuma identificar-se esta aldeia como Em-Gannin (Djenin). Segundo o historiador Flávio Josefo, esta povoação achava-se entre os limites da Samaria e a planície de Esdrelon. A proximidade da Samaria explica que entre os dez leprosos se encontre um samaritano. A desgraça uniu judeus e samaritanos. Os leprosos podiam viver em grupos, mas separados dos outros habitantes.

Um grupo de dez leprosos saiu ao encontro de Cristo Jesus: "... dez leprosos vieram-lhe ao encontro". Eles estavam desejosos de serem curados da lepra, mas não se atreveram a violar a Lei: "Pararam à distância".

Está claro que eles, os leprosos, foram ao encontro de Nosso Senhor, porque somente Ele podia curá-los.

Aquele que cai em pecado mortal, para ser curado de tal lepra, deve-se aproximar do Imaculado Cordeiro.

A lepra é uma imagem do pecado. O pecado é a lepra da alma; aquele que vive no pecado mortal está leproso espiritualmente: "Como os leprosos do Evangelho, a pobre alma enferma, maculada pela lepra do pecado, segrega-se da comunhão cristã. Ei-la na abjeção do vício ou na degradação moral da desgraça, nesse abandono cruel de quem nada crê e nada espera, nesse terrível desamparo do coração a que falta o conforto supremo do amor divino. Que lhe podem valer as pobres criaturas, por mais caras que lhe sejam, nesse doloroso tormento de uma alma leprosa, que se vai desanimada pela estrada cruciante da vida eterna, acabrunhada de desgostos e de remorsos, sem luz e sem paz, sem um ideal que lhe norteie os passos para a felicidade perfeita que seu coração ansioso deseja, sem esperança de poder alcançá-la jamais!" (Pe. João Batista Lehmann).

Quem cai em pecado não deve se desesperar, e sim, a exemplo dos dez leprosos, ir ao encontro do Senhor misericordioso.

Em Lc 17, 13 diz: "... e clamaram: 'Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!'

Os dez leprosos pararam. Pararam, mas não calaram a boca; de longe pediram ao Senhor: "Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!"

Eles viviam longe das pessoas. Para observarem a Lei, ficaram distante do Senhor; mas a confiança e a humildade deles abraçaram o Coração Bondoso de Jesus.

Chamam a Cristo de Mestre e também pelo nome: Jesus.

É comovente imaginar aqueles homens gritando o nome de Jesus, pedindo-Lhe socorro.

Nosso Senhor está sempre com o Seu Coração aberto para perdoar um pecador arrependido. Não deixemos de pedir-Lhe que nos perdoe, que tire a lepra de nossa alma: "Mesmo em viagem, o Salvador espalha o bem por toda parte. Aprendamos a praticar, como ele, o bem, a caridade, o nosso dever enfim, em todas as circunstâncias da vida, nesta viagem para a eternidade. Estes leprosos são a imagem dos pecadores, como a lepra é a imagem do pecado. Como eles, não deixemos que Jesus passe ao nosso lado, indiferente aos seus benefícios. Corramos ao seu encontro para que nos livre da lepra do pecado; não percamos o momento da graça que não sabemos se voltará outra vez - Estes leprosos estavam à porta da cidade e pararam à certa distância de Jesus, porque lhes era velado a aproximação de outras pessoas, a fim de as não contaminarem. Assim, o homem vicioso, atingido pela lepra espiritual, deve ser cuidadosamente evitado, pois não somente o seu exemplo, mas ainda as suas próprias palavras nos trazem o contágio do pecado" (Dom Duarte Leopoldo).

Hoje, muitas pessoas que estão sofrendo, ao invés de aproximarem de Cristo Jesus com confiança e humildade, a exemplo dos dez leprosos, fazem o contrário; blasfemam contra o Senhor, por isso não são atendidas.

Em Lc 17, 14 diz: "Vendo-os, ele lhes disse: ' Ide mostrar-vos aos sacerdotes'. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram purificados".

Nosso Senhor pediu que os dez fossem falar com os sacerdotes para que certifiquem a cura, como estava previsto na Lei (cfr Lv 14, 2 ss.) e cumpram os ritos estabelecidos. Eles obedecem, ainda antes de serem curados, porque tem fé em Jesus Cristo.

Dom Duarte Leopoldo escreve: "Jesus podia curá-los imediatamente, mas quer experimentar a sua fé, obediência e humildade. Segundo a Lei, os sacerdotes deviam verificar e autenticar os casos de cura de um leproso, para lhes restituir os direitos perdidos pela enfermidade.

Ora, aqueles homens não estavam ainda todos curados; mas, porque tiveram fé, receberam a graça desejada, antes mesmo de se apresentarem aos sacerdotes - Também, a todos nós que contraímos a lepra do pecado, diz o Senhor: 'Ide mostrar-vos ao sacerdote'. Ide confessar-lhe as vossas faltas, mostrar-lhe a vossa consciência em todo o seu lastimável estado. Mas o padre da Nova Lei, não somente verifica os casos de cura, como ainda purifica realmente, pelo poder que lhe foi transmitido pelo Divino Mestre. E muitas vezes acontece que, mesmo antes de ajoelhar-se aos pés do confessor, já o pecador está realmente perdoado, porque a contrição perfeita unida ao desejo sincero de confessar-se, só por si é bastante para nos alcançar o perdão".

Católico, a confissão não é uma invenção, foi o próprio Cristo Jesus quem a instituiu. Quando você cair em pecado, não busque consolo e apoio em lugares onde não poderá encontrá-los; mas com fé e contrição, vá até a igreja, aproxime-se do sacerdote e faça uma sincera confissão.

Em Lc 17, 15-16 diz: "Um dentre eles, vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe. Pois bem, era um samaritano".

Com certeza, todos ficaram alegres, ao ver que os seus membros eram como antes: "Imaginamos os seus gritos de alegria ao palparem as suas mãos, o rosto, e comprovarem que estavam sãos. Foi um prêmio à sua confiança e à sua obediência" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).

Cristo Jesus esperava por todos, mas eles, empolgados pela cura não vieram agradecer ao Senhor, exceto um que era samaritano.

O samaritano não continuou o caminho nem ficou parado, mas voltou atrás: "... glorificando a Deus em alta voz, e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe".

Não foi um agradecimento acanhado; mas ele glorificou a Deus em alta voz e prostrou-se por terra.

Saibamos também nós agradecer a Nosso Senhor por tudo, principalmente quando sairmos do confessionário. O nosso agradecimento não deve ser superficial, mas profundo e sincero: "Habitua-te a elevar o coração a Deus em ação de graças, muitas vezes ao dia. - Porque te dá isto e aquilo. - Porque te desprezaram. - Porque não tens o que precisas ou porque o tens" (São Josemaría Escrivá, Caminho, 268), e: "Ó meu Deus, eu vos louvo, glorifico, bendigo pelos inumeráveis benefícios que me concedestes sem nenhum merecimento meu; na incerteza me ajudastes, no desespero me confortastes. Louvo vossa clemência que tanto tempo me esperou, vossa doçura que foi vossa vingança; vossa benignidade que me acolheu, vossa misericórdia que perdoou meus pecados, vossa bondade que se manifestou muito além dos meus méritos, vossa paciência que esqueceu minhas injúrias, vossa humildade, ó Jesus, que me consolou, vossa longanimidade que me protegeu; bendigo vossa eternidade que me deverá conservar; vossa verdade que me dará a recompensa" (Santo Tomás de Aquino, Orações), e também: "Já que eu, miserável e pecador, nem de nomear-vos sou digno, suplicante vos rogo: que o Senhor nosso Jesus Cristo, vosso dileto Filho, em quem vos comprazeis, juntamente com o Espírito Santo consolador, vos renda graças como vos agrada, por mim e por todos: ele que vos basta sempre em tudo e por quem tanto nos destes. Aleluia" (São Francisco de Assis, Ditos).

Em Lc 17, 17- 18 diz: "Tomando a palavra, Jesus lhe disse: 'Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?"

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: "Jesus manifestou em voz alta que esperava por todos os que se tinham curado... Jesus não costumava queixar-se de nada, mas fá-lo agora diante da ingratidão destes homens. Jesus não foi indiferente às mostras de educação e de convivência normais que se dão entre os homens e que expressam a qualidade e a delicadeza interior das pessoas. Diante de Simão, o fariseu, que não teve com Ele as mostras habituais de hospitalidade, manifestou-o abertamente. Jesus Cristo, com a sua vida e a sua pregação revelou o apreço pela amizade, a afabilidade, a temperança, o amor à verdade, a compreensão, a lealdade, a laboriosidade, a simplicidade...", e: "Estas mesmas palavras nos diz ainda, repetidas vezes, o Deus da Eucaristia: 'Não são tantos e tão numerosos os que eu purifiquei pelo Batismo, pela Penitência, até mesmo pela Sagrada Comunhão, sobre tudo no tempo pascal? Onde estão eles? Oh! Jesus os conhece, segue-os com seu olhar de misericórdia, a todos e a cada um; não os perderá de vista até o dia das contas supremas, no tribunal divino. O reconhecimento deste homem é tanto mais digno de elogio, quanto, por ser samaritano e antipático aos judeus, estava menos obrigado do que os outros, que eram da raça de Jesus. Assim vemos, frequentemente, um pecador convertido expandir-se em ações de graças, enquanto cristãos, que se dizem piedosos, permanecem indiferentes aos favores recebidos" (Dom Duarte Leopoldo), e também: "Queixou-se Jesus quando, após ter curado dez leprosos, um só voltou para agradecer-lhe... Os ingratos foram justamente os judeus, compatriotas do Salvador, que se encontravam em posição privilegiada perante o estrangeiro. Muitas vezes, justamente os chamados por Jesus a viver mais perto dele, alvos de uma vocação privilegiada, são os menos reconhecidos. Até parece que a multiplicidade das graças recebidas lhes embota a sensibilidade, a ponto de já não perceberem as grandezas nem a total gratuidade dos dons divinos"(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 290, 1).

Católico, pare e pense nas graças que você já recebeu das mãos de Nosso Senhor. Já parou para agradecer-Lhe por tudo?

Conta o historiador César Cantú que certo rei da Índia caiu num rio. Um servo fiel correu, lançou-se à torrente e, agarrando o rei pelos cabelos, salvou-o da morte certa.

Voltando a si, o rei quis saber quem e de que modo o salvara das águas. Levaram-lhe o servo fiel, e esperavam que o soberano lhe desse uma generosa recompensa. Mas não foi assim. O rei com ar severo perguntou-lhe: "Como tiveste a ousadia de pôr as mãos em teu rei?" E imediatamente mandou que o trucidassem. Essa monstruosa ingratidão causou horror. O castigo, porém, não tardou. Estando o rei certo dia, embriagado, entrou num barco e outra vez naufragou. Os barqueiros bem o poderiam salvar, mas, recordando-se do servo trucidado, deixaram que o rei se afogasse. Fizeram mal, é certo; mas o mau rei teve o que merecia, porque fora ingrato e cruel para com aquele que lhe demonstrara tanto amor, livrando-o da morte.

Oh! Quantos não há por aí, escapando da morte eterna por meio do Sacramento da Penitência, imitam aquele rei, mostrando-se cruéis e ingratos para com Jesus, seu libertador!

 Em Lc 17, 19 diz: "Em seguida, disse-lhe: 'Levanta-te e vai; a tua fé te salvou".

O samaritano que soube agradecer levou consigo um dom maior que a própria cura: a sua fé. Jesus disse-lhe: "Levanta-te e vai; a tua fé te salvou". Ele foi embora satisfeito.

A gratidão é sinal de nobreza e constitui um laço forte na convivência com os outros, pois são inumeráveis os benefícios que recebemos e também os que proporcionamos a outros.

Em Catena Aurea, Vol. VI, p. 278, São Beda assinala que foi precisamente a gratidão que salvou o samaritano.

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: "Redunda sempre a ingratidão em prejuízo pessoal, como aconteceu aos nove leprosos que, não tendo voltado para agradecer a cura, não tiveram, como o único reconhecimento, a alegria de ouvir de Jesus: 'Tua fé te salvou" (Intimidade Divina, 290, 1), e: "A tua fé te salvou! Também os outros nove deveram a sua cura à fé com que obedeceram à determinação do Divino Mestre, mas só este agira conforme a sua fé e segundo as suas inspirações; só este voltou a dar graças e a proclamar bem alto o nome do seu Salvador. Por isso só foi louvada a fé deste samaritano" (Dom Duarte Leopoldo).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 12 de julho de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Os dez leprosos"

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