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          VIGILÂNCIA 
          
          (Lc 12, 32- 48) 
            
          
          "32 
          Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai 
          dar-vos o Reino! 33 
          Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, 
          um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça 
          rói. 34 
          Pois onde está o vosso 
          tesouro, aí estará também o vosso coração. 
          35 
          Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. 
          36 
          Sede semelhantes a homens que esperam seu senhor voltar das núpcias, 
          a fim de lhe abrirem, logo que ele vier e bater. 
          37 
          Felizes os servos que o senhor, à sua chegada, encontrar vigilantes. 
          Em verdade vos digo, ele se cingirá e os colocará à mesa e, passando 
          de um a outro, os servirá. 
          38 
          E caso venha pela segunda ou 
          pela terceira vigília, felizes serão se assim os encontrar! 
          39 
          Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que hora viria o 
          ladrão, não deixaria que sua casa fosse arrombada. 
          40 
          Vós também, ficai preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora 
          que não pensais. 41
          Então Pedro disse: 
          'Senhor, é para nós que estás contando essa parábola ou para todos?'
          42 
          O Senhor respondeu: 'Qual é, então, o administrador fiel e prudente 
          que o senhor constituirá sobre o seu pessoal para dar em tempo 
          oportuno a ração de trigo? 
          43 
          Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado!
          44 
          Verdadeiramente, eu vos digo, ele o constituirá sobre todos os seus 
          bens. 45 Se aquele 
          servo, porém, disser em seu coração: 'O meu senhor tarda a vir', e 
          começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a se embriagar,
          46 
          o senhor daquele servo virá em dia imprevisto e em hora ignorada; ele 
          o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos infiéis. 
          47 
          Aquele servo que conheceu a 
          vontade de seu senhor, mas não se preparou e não agiu conforme sua 
          vontade, será açoitado muitas vezes. 
          48 
          Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de 
          chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, 
          muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será 
          reclamado". 
           
           
          
            
           
           
          
          Em Lc 
          12, 32 diz: "Não 
          tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai 
          dar-vos o Reino!" 
          
          Os 
          discípulos de Nosso Senhor, mesmo sendo poucos, não devem temer os 
          ataques dos inimigos da santidade: 
          "Não devem temer os 
          discípulos de Jesus, embora poucos, espalhados em meio de um mundo 
          incrédulo: constitui-os, o Pai, herdeiros do Reino; no Pai se apóia a 
          certeza de o possuírem um dia"
          (Pe. Gabriel de 
          Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 272, C). 
          
          
          Lembrem-se os discípulos do Senhor, que a luz deve brilhar onde as 
          trevas estão reinando. Os mesmos devem trabalhar ardorosamente para a 
          glória de Deus, mesmo que o ambiente seja contrário à verdade. 
          
          Em Lc 
          12, 33- 34 diz: 
          "Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, 
          um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça 
          rói. 
          Pois onde está o vosso 
          tesouro, aí estará também o vosso coração". 
          
          Os 
          discípulos de Cristo Jesus devem ser desapegados dos bens perecíveis:
          "Devem, porém, como Abraão, renunciar às seguranças terrenas e 
          aceitar viver como pobres, desprendidos, desarraigados, inteiramente 
          voltados para o verdadeiro tesouro que não é deste mundo, mas do céu"
          (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 272, C), 
          e: "Há na esmola duas 
          causas distintas: o preceito e o conselho. Um, o preceito, é 
          obrigatório para todos. Todos devem fazer esmola de acordo com os seus 
          recursos e a necessidade do próximo. A omissão deste dever pode ser 
          uma falta grave, conforme as circunstâncias. O conselho, porém, que 
          consiste no despojar-se dos bens da fortuna, para consagrar-se ao 
          serviço de Deus e do próximo, pela prática da pobreza voluntária, é um 
          estado mais perfeito, fonte de graças e merecimentos sem conta, mas 
          não obriga debaixo de pecado. Todavia, notemos que o Divino Mestre não 
          se contenta com uma virtude negativa. Ele quer não somente que 
          evitemos a avareza, mas que ainda sejamos caridosos. Pois onde está 
          o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. A riqueza não é 
          um mal; pelo contrário, sendo um dom de Deus, a muitos tem ela servido 
          para ganhar o céu e praticar a virtude. Mas aqueles que unicamente se 
          ocupam com os bens da terra, que neles põem o seu coração, esquecem os 
          bens da eternidade e perdem a sua alma. Pode um homem ser rico e ter o 
          coração posto no céu. Desse homem se poderá também dizer Felizes os 
          ricos - porque o são principalmente dos bens da virtude" 
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          São 
          Josemaría Escrivá escreve: 
          "Quando a Sagrada Escritura 
          fala de coração não se refere a um sentimento passageiro, que perturba 
          ou faz nascer as lágrimas. Fala do coração para indicar a pessoa, pois 
          esta, como disse o próprio Jesus, orienta-se toda - alma e corpo - 
          para o que considera o seu bem: porque onde está o teu tesouro, aí 
          está também o teu coração (Mt 4, 21)" 
          (Cristo que passa, 164), e: "O ensinamento 
          do Senhor é claro: o coração do homem anela possuir riquezas, boa 
          posição, relações sociais, cargos públicos ou profissionais, onde 
          encontrar a segurança, a felicidade, a afirmação da sua personalidade; 
          contudo, este tipo de tesouro converte-se numa fonte de contínuas 
          preocupações e desgostos, porque está sempre exposto a perder-se. 
          Jesus não quer dizer que o homem deve despreocupar-se das coisas da 
          terra, mas ensina que nenhuma coisa criada pode ser 'o tesouro', o 
          último fim; este é Deus, nosso Criador e Senhor, a quem devemos amar e 
          servir no meio das ocupações ordinárias desta vida e com a esperança 
          do gozo eterno do Céu"
          (Edições Theologica). 
          
          Em Lc 12, 35- 39 diz: 
          "Tende os rins cingidos e as 
          lâmpadas acesas. Sede semelhantes a homens que esperam seu senhor 
          voltar das núpcias, a fim de lhe abrirem, logo que ele vier e bater. 
          Felizes os servos que o senhor, à sua chegada, encontrar vigilantes. 
          Em verdade vos digo, ele se cingirá e os colocará à mesa e, passando 
          de um a outro, os servirá. E caso venha pela segunda ou pela terceira 
          vigília, felizes serão se assim os encontrar! Compreendei isto: se o 
          dono da casa soubesse em que hora viria o ladrão, não deixaria que sua 
          casa fosse arrombada". 
          
          A 
          exortação a estarem vigilantes repete-se com frequência na pregação de 
          Cristo e na dos Apóstolos: 
          "Vigiai, portanto, porque não 
          sabeis em que dia vem o vosso Senhor" (Mt 24, 42), 
          e: "Vigiai, portanto, 
          porque não sabeis nem o dia nem a hora" (Mt 25, 13), 
          e também: "A minha 
          alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai" (Mc 14, 34). 
          Por um lado, porque o inimigo está sempre à espreita: 
          "Sede sóbrios e vigilantes! 
          Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, 
          procurando a quem devorar"
          (1 Pd 5, 8), e, por outro, porque quem ama nunca dorme: 
          "Eu dormia, mas meu coração 
          velava" (Ct 5, 2). 
          Manifestações concretas dessa vigilância são o espírito de oração:
          "Ficai acordados, 
          portanto, orando em todo momento, para terdes a força de escapar de 
          tudo o que deve acontecer e de ficar de pé diante do Filho do Homem" (Lc 21, 36), 
          e: "O fim de todas as 
          coisas está próximo. Levai, pois, uma vida de autodomínio e de 
          sobriedade, dedicada à oração"
          (1 Pd 4, 7) e a fortaleza na fé: 
          "Vigiai, permanecei firmes na 
          fé, sede corajosos, sede fortes!" (1 Cor 16, 13). 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          "As vestes amplas que usavam 
          os judeus cingiam-se à cinta para poder realizar determinados 
          trabalhos. 'Ter as roupas cingidas' é uma imagem clara para indicar 
          que alguém se prepara para o trabalho, a luta, as viagens, etc. (cfr 
          Jr 1, 17; Ef 6, 14; 1 Pd 1, 13). Do mesmo modo, 'ter as lâmpadas 
          acesas' indica a atitude própria do que vigia e espera a vinda de 
          alguém", e:
          "Os orientais traziam ordinariamente vestes muito largas e amplas, 
          que levantavam e cingiam à altura dos rins, para que não os 
          embaraçassem no trabalho. Assim devemos nós trazer os rins cingidos, 
          como o servo que está vigilante e pronto para o trabalho. Cingir os 
          rins significa também a mortificação da carne com que se dispõe o fiel 
          para praticar a virtude. - A lâmpada acesa é a luz da fé e do bom 
          exemplo. Foi destas palavras que nasceu o costume de dar aos 
          moribundos uma vela benta, que devem conservar até o último suspiro, 
          como quem espera o senhor que volta das suas núpcias. O Senhor vem 
          quando a morte se aproxima, bate quando nos adverte pela doença 
          que o amo já se acha à porta da casa, para nos pedir conta da 
          nossa administração. Os que lhe abrem com presteza, são os que aceitam 
          a doença e a morte, resignados à vontade de Deus. No banquete 
          celestial, onde o nosso alimento será a própria essência divina, o 
          Senhor será, por sua vez, o nosso servo. Como é bom servir a um amo 
          tão generoso! A segunda e a terceira vigília representam a mocidade e 
          a idade madura, o tempo em que menos se pensa na morte" 
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          Não 
          sabendo o dia nem a hora da vinda de Nosso Senhor, é preciso que 
          estejamos sempre vigilantes para não sermos surpreendidos: 
          "Vós, ó Senhor, não revelais 
          o dia de vossa vinda a fim de que, vigilantes e sempre prontos, 
          preparados sempre para a batalha, vivamos constantemente dedicados à 
          virtude. Quereis que vivamos em contínua expectativa e sejamos sempre 
          fervorosos: eis por que deixais na incerteza o fim de cada homem. 
          Sabendo que certamente vireis, tornai-nos vigilantes e prontos para 
          não sermos colhidos de surpresa" 
          (São João Crisóstomo, 
          Comentário ao Evangelho de São Mateus). 
          
          
          Católico, não seja negligente, não cochile nem fique adormecido na 
          poltrona, mas permaneça vigilante para que o Senhor não o encontre 
          desprevenido: "À 
          vigilância opõe-se a negligência ou falta da devida solicitude, que 
          procede de um certo desinteresse da vontade"
          (Santo Tomás de Aquino, op. Cit., II-II, q. 54, a. 3), 
          e: "Estaremos 
          vigilantes no amor e longe da tibieza e do pecado se nos mantivermos 
          fiéis a Deus nas pequenas coisas que preenchem o dia. Quem se habitua 
          a repassar as pequenas coisas de cada dia no seu exame de consciência 
          descobre com facilidade os indícios e as raízes que denunciam um 
          possível extravio não muito longínquo. As pequenas coisas são a 
          ante-sala das grandes, tanto no sentido negativo como positivo"
          (Pe. Francisco Fernández- Carvajal). 
          
          O que dirá para Deus na hora do julgamento, aquele católico que for 
          encontrado adormecido nos "braços" do mundo? Acorde enquanto é tempo!
           
          
          Em Lc 12, 40 diz: 
          "Vós também, ficai preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora 
          que não pensais". 
          
          Feliz 
          do católico que vive preparado para a vinda do Senhor, isto é, que 
          está sempre com a graça santificante na alma e praticando somente o 
          bem: "Deus quis ocultar o momento da morte de cada um e do fim do mundo. 
          Imediatamente depois da morte, todo o homem comparece para o juízo 
          particular: 'Assim está estabelecido que os homens morram uma só vez; 
          e depois disto, o juízo' (Hb 9, 27). Do mesmo modo, no fim do mundo 
          terá lugar o juízo universal"
          (Edições Theologica), e: "A morte é 
          absolutamente certa, mas a sua hora é sempre incerta. O Filho do Homem 
          virá como um ladrão, quando menos se espera, às escondidas, de dia ou 
          de noite, em casa ou no caminho, sem nunca ser previsto. Estejamos, 
          pois, vigilantes, para não sermos surpreendidos e roubados. O 
          pensamento da morte tem povoado de santos a Igreja Católica, e é, com 
          certeza, um dos melhores corretivos do pecado" 
          (Dom Duarte Leopoldo), 
          e também: "... com 
          isto, parece confundir aqueles que não põem tanto cuidado em guardar a 
          sua alma como em guardar as suas riquezas do ladrão que esperam"
          (São João Crisóstomo, em Catena Aurea, vol. III, pág. 204). 
          
          Em Lc 12, 41- 48 diz: 
          "Então Pedro disse: 'Senhor, 
          é para nós que estás contando essa parábola ou para todos?' O Senhor 
          respondeu: 'Qual é, então, o administrador fiel e prudente que o 
          senhor constituirá sobre o seu pessoal para dar em tempo oportuno a 
          ração de trigo? Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar 
          assim ocupado! Verdadeiramente, eu vos digo, ele o constituirá sobre 
          todos os seus bens. Se aquele servo, porém, disser em seu coração: 'O 
          meu senhor tarda a vir', e começar a espancar servos e servas, a 
          comer, a beber e a se embriagar, o senhor daquele servo virá em dia 
          imprevisto e em hora ignorada; ele o partirá ao meio lhe imporá a 
          sorte dos infiéis. Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, 
          mas não se preparou e não agiu conforme sua vontade, será açoitado 
          muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas 
          dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito 
          se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais 
          será reclamado". 
          
          
          Depois da exortação do Senhor à vigilância, Pedro faz uma pergunta: "Senhor, é para nós que estás contando essa parábola ou para 
          todos?", cuja 
          resposta é a chave para compreender esta parábola: 
          "Por um lado, Jesus insiste 
          no imprevisível do momento em que Deus nos há de chamar para dar 
          contas; por outro, precisamente como resposta à pergunta de Pedro, 
          Nosso Senhor explica que o seu ensinamento se dirige a todos. Deus 
          pedirá contas a cada um segundo as suas circunstâncias pessoais: todo 
          o homem tem nesta vida uma missão para cumprir; dela teremos de 
          responder diante do tribunal divino e seremos julgados segundo os 
          frutos, abundantes ou escassos, que tenhamos dado. Como não sabemos o 
          dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, 
          vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossa vida sobre a 
          terra, que é só uma (cfr Hb 9, 27), mereçamos entrar com Ele para o 
          banquete de núpcias e ser contados entre os eleitos (cfr Mt 25, 31- 
          46), e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos (Mt 25, 
          26), no fogo eterno (cfr Mt 25, 41)" 
          (Edições Theologica), e: "Deus não 
          julga como os homens. Sabe fazer os seus descontos e atender aos 
          prejuízos, aos defeitos de educação, à ignorância e à boa fé de muitos 
          desgraçados. Se estes forem punidos, o serão em menor grau do que 
          outros que melhor conhecem ou devem conhecer os seus deveres. Muito 
          se há de pedir àqueles a quem muito se deu. Quantos há que se 
          orgulham dos seus talentos, dos seus conhecimentos científicos, dotes 
          naturais, etc. Pois bem: a responsabilidade será maior diante de Deus; 
          maior será o seu castigo porque tinham mais luzes para conhecer o bem 
          e graça para praticá-lo" (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          
          Católico, seja sábio e prudente, não abuse da bondade do Senhor nem 
          enterre os seus talentos; Ele pedirá conta de tudo na hora do 
          julgamento. Não se esqueça de que todos comparemos diante do tribunal 
          de Cristo Jesus após a morte: 
          "Porquanto todos nós teremos 
          de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de 
          que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida 
          no corpo, seja para o bem, seja para o mal"
          (2 Cor 5, 10), 
          e : 
          "Consideremos o comparecimento do réu, a acusação, o exame e a 
          sentença deste juízo. Primeiramente, quanto ao comparecimento da alma 
          perante o juiz, dizem comumente os teólogos que o juízo particular se 
          efetua no mesmo instante em que o homem expira, que no próprio lugar 
          onde a alma se separa do corpo é julgada por Nosso Senhor Jesus 
          Cristo, o qual não delega seu poder, mas vem ele mesmo julgar esta 
          causa. 'Na hora que não cuidais, virá o Filho do homem' (Lc 12,40). 
          
          'Virá com 
          amor para os fiéis - disse Santo Agostinho - e com terror para os 
          ímpios'. Qual não será o espanto daquele que, vendo pela primeira vez 
          o seu Redentor, vir também a indignação divina! 'Quem poderá subsistir 
          ante a face de sua indignação?' (Na 1, 6). Meditando nisto, o Padre 
          Luís da Ponte estremecia de tal modo, que a cela em que se achava 
          tremia com ele. O venerável Padre Juvenal Ancina se converteu ao ouvir 
          cantar o Dies irae, porque, considerando o terror que se apodera da 
          alma quando se apresentar em juízo, resolveu deixar o mundo, o que 
          efetivamente fez. A indignação do juiz será prenúncio de eterna 
          condenação (Pr 16,14); e fará sofrer mais as almas que as próprias 
          penas do inferno, segundo afirma São Bernardo. 
          
          Têm-se 
          visto criminosos banhados em copioso suor frio na presença dos juízes 
          terrestres. Pison, em traje de réu, comparecendo no senado, sentiu 
          tamanha confusão e vergonha, que ali mesmo se deu a morte. Que aflição 
          profunda sente um filho ou um bom vassalo quando vê seu pai ou seu amo 
          gravemente indignado!... Mágoa muito maior sentirá a alma quando vir 
          indignado a Jesus Cristo, a quem desprezou! (Jo 19, 37). Irritado e 
          implacável, então, se lhe apresentará esse Cordeiro divino, que foi no 
          mundo tão paciente e amoroso, e a alma, sem esperança, clamará aos 
          montes que caiam sobre ela e a ocultem à indignação de Deus (Ap 6, 
          16). Falando do juízo, disse São Lucas: 'Então verão o Filho do homem' 
          (Lc 21, 27). Ver o seu juiz em forma humana aumentará a dor dos 
          pecadores; porque a presença daquele Homem, que morreu para salvá-los, 
          lhes recordará vivamente a ingratidão com que o ofenderam. 
          
          Depois da 
          gloriosa Ascensão do Senhor, os anjos disseram aos discípulos: 'Este 
          Jesus que, separando-se de vós, foi arrebatado ao céu, virá do mesmo 
          modo que o vistes ir para o céu' (At 1, 11). Virá, pois, o Salvador a 
          julgar-nos, ostentando aquelas mesmas chagas sagradas que tinha quando 
          deixou a terra. 'Grande alegria para os que contemplam, grande temor 
          para os que esperam' - Exclama Ruperto. 
          
          Essas 
          benditas chagas consolarão os justos e infundirão terror aos 
          pecadores. 
          
          Quando 
          José disse a seus irmãos: 'Eu sou José, a quem vendestes', ficaram 
          eles - diz a Escritura - sem fala e imóveis de terror (Gn 45, 3). Que 
          responderá o pecador a Jesus Cristo? Acaso, terá coragem de lhe pedir 
          misericórdia, quando antes dera prova do muito que desprezou essa 
          mesma clemência? Que fará, pois - interroga Santo Agostinho - para 
          onde fugirá quando vir o juiz indignado, por baixo o inferno aberto, a 
          um lado os pecadores que o acusam, ao outro o demônio, disposto a 
          executar a sentença, e dentro de si mesmo a consciência que remorde e 
          castiga? 
          
          Considera 
          a acusação e o exame: 'Começou o juízo e os livros foram abertos' (Dn 
          7, 10). Haverá dois livros: o Evangelho e a consciência. 
          
          Naquele, 
          ler-se-á o que o réu devia fazer; nesta, o que fez. Na balança da 
          divina justiça não se pesarão as riquezas, nem as dignidades e a 
          nobreza das pessoas, mas somente suas obras. 'Foste pesado na balança 
          - diz Daniel ao rei Baltasar - e achado demasiadamente leve' (Dn 
          5,27). Quer dizer, segundo o comentário do Padre Álvares, que 'não 
          foram postos na balança o ouro e as riquezas, mas unicamente a pessoa 
          do rei'. Virão logo os acusadores e em primeiro lugar o demônio. 'O 
          inimigo estará ante o tribunal de Cristo, - disse Santo Agostinho - e 
          referirá as palavras de tua profissão'. 'Recordar-nos-á tudo quanto 
          temos feito, o dia e a hora em que pecamos'. Referir as palavras de 
          nossa profissão significa que apresentará todas as promessas que 
          fizemos, que esquecemos e, por conseguinte, deixamos de cumprir. 
          Denunciar-nos-á nossas faltas, designando os dias e as horas em que as 
          cometemos. Depois dirá ao juiz: 'Senhor, eu não sofri nada por este 
          réu; mas ele vos abandonou, a vós que destes a vida para salvá-lo, e 
          se fez meu escravo. É a mim que ele pertence...' Os anjos da guarda 
          também serão acusadores, segundo diz Orígenes, e 'darão testemunho dos 
          anos em que procuraram a salvação do pecador, a despeito do desprezo 
          deste a todas as inspirações e avisos'. 
          
          Então, 
          'todos os meus amigos o desprezarão' (Lm 1, 2). Até as paredes, que 
          viram o réu pecar, tornar-se-ão acusadoras (Hb 2, 11). Acusadora será 
          a própria consciência (Rm 2,15-16). Os pecados - disse São Bernardo - 
          clamarão, dizendo: 'Tu nos fizeste; somos tuas obras, e não te 
          abandonaremos'. Acusadoras, por fim, serão as Chagas do Senhor, como 
          escreve São João Crisóstomo: 'Os cravos se queixarão de ti; as 
          cicatrizes contra ti falarão; a cruz clamará contra ti'. 
          
          
          Passar-se-á depois, ao exame. Disse o Senhor: 'Com a luz na mão, 
          esquadrinharei Jerusalém' (Sf 1,12). A luz da lâmpada penetra todos os 
          recantos da casa, escreve Mendoza. Cornélio a Lápide, comentando a 
          expressão in lucernis, do texto, afirma que Deus apresentará ao réu os 
          exemplos dos Santos, todas as luzes e inspirações com que o favoreceu, 
          todos os anos de vida que lhe concedeu para que os empregasse na 
          prática do bem (Lm 1,15). Até de cada olhar tens que dar conta, 
          exclama Santo Anselmo. Assim como se purifica e aquilata o ouro, 
          separando-o das escórias, assim se aquilatarão e examinarão as 
          confissões, comunhões e outras boas obras (Ml 3, 3). 'Quando tomar o 
          tempo, julgarei as justiças'. Em suma, diz São Pedro que no juízo até 
          o justo a custo será salvo (1Pd 4, 18). Se se deve dar conta de toda 
          palavra ociosa, que contas se darão de tantos maus pensamentos 
          voluntários, de tantas palavras impuras? Especialmente falando dos 
          escândalos, que lhe roubam inúmeras almas, diz o Senhor: 'Eu lhes 
          sairei ao encontro como uma ursa a quem roubaram os seus filhotes' (Os 
          13, 8). E, finalmente, referindo-se às ações do réu, dirá o Supremo 
          Juiz: 'Dei-lhe o fruto de suas mãos', quer dizer, paguei-lhe conforme 
          suas obras (Pr 31, 31). 
          
          Em resumo: 
          para que a alma consiga a salvação eterna, o juízo há de patentear que 
          a vida dessa alma fora conforme a vida de Cristo. 
          
          É o que 
          fazia tremer Jó, quando exclamava: 'Que farei quando Deus se levantar 
          a julgar? E quando me perguntar, que lhe responderei?' (Rm 8, 29). 
          Repreendendo Filipe II um de seus criados, que o tinha enganado, 
          disse-lhe apenas estas palavras: É assim que me enganas?... 
          
          Aquele 
          infeliz, ao voltar à sua casa, morreu de pesar. Que fará pois, e que 
          responderá o pecador a Jesus Cristo, seu juiz? Fará como aquele homem 
          do Evangelho, que se apresentou ao banquete sem a veste nupcial. Não 
          soube o que responder e calou-se (Mt 22, 12). As próprias culpas lhe 
          fecharam a boca (Sl 106, 42). A vergonha - diz São Basílio - será 
          então para o pecador maior tormento que as próprias chamas infernais. 
          
          
          Finalmente, o juiz pronunciará a sentença: 'Apartai-vos de mim, 
          malditos, para o fogo eterno!' Quão terrivelmente ressoará aquele 
          trovão - exclama Dionísio, o Cartuxo... 'Quem não treme à consideração 
          dessa horrenda sentença - observa Santo Anselmo - não está dormindo, 
          mas morto'. Santo Eusébio acrescenta que será tão grande o terror dos 
          pecadores ao ouvir a sua condenação, que se não fossem já imortais 
          morreriam de novo. Então, - como escreve São Tomás de Vilanova, - já 
          não será tempo de suplicar, já não haverá intercessores a quem 
          recorrer. A quem, efetivamente, hão de recorrer?... Porventura, a seu 
          Deus a quem desprezaram? Talvez aos Santos, à Virgem Maria?... 
          
          Ah! Não! 
          Porque então as estrelas (que são os santos advogados) cairão do céu, 
          e a lua (que é Maria Santíssima) não dará a sua luz (Mt 24, 29). 
          'Maria - diz Santo Agostinho - retirar-se-á das portas da glória'. 
          
          Ó Deus! - 
          exclama o já citado São Tomás de Vilanova, - com que indiferença 
          ouvimos falar do juízo, como se não pudéssemos merecer a sentença 
          condenatória ou como se não tivéssemos de ser julgados... 
          
          Que 
          loucura estar tranquilo no meio de tamanho perigo! Não digas, pois, 
          meu irmão - nos adverte Santo Agostinho: Será que Deus queira 
          enviar-me ao inferno? Não o digas jamais. Também os hebreus não 
          queriam convencer-se de que seriam exterminados. Quantos réprobos 
          blasonavam de que não seriam condenados às penas eternas! E, no 
          entanto, chegou a hora do castigo: 'O fim vem, vem o fim... Agora 
          derramarei a minha ira sobre ti, e te julgarei" (Ez 7, 6-8). É também 
          o que te acontecerá. 'Chegará o dia do juízo e verás que Deus não faz 
          vãs ameaças'. 
          
          
          Presentemente ainda nos é dado escolher a sentença que preferimos. 
          
          Devemos, 
          pois, ajustar as contas da alma, antes que chegue o juízo (Ecl 18, 
          19), porque, segundo diz São Boaventura, os negociantes prudentes, 
          para se não exporem a uma falência, conferem e ajustam suas contas 
          frequentemente. 'Antes do juízo, diz Santo Agostinho, podemos ainda 
          aplacar o Juiz; mas durante o juízo, não'. Desejo, ó Juiz de minha 
          alma, que me julgueis e castigueis nesta vida, porque ainda é tempo de 
          misericórdia e de perdão. Depois da morte só será tempo de justiça"
          (Santo Afonso Maria de Ligório, 
          Preparação para a Morte, Consideração XXIV, Pontos I, II e III). 
          
           Católico, o que 
          você dirá a Deus na hora do juízo? Você que conheceu a Santa Doutrina 
          Católica e agora vive como pagão a serviço do mundo e do demônio? 
          
          Você que aprendeu a 
          evangelizar, mas agora vive de braços cruzados adormecido na 
          "poltrona" da preguiça? 
          
          Você que aprendeu a 
          ser luz, e vive a espalhar as trevas do escândalo? 
          
          Você que perseverou 
          por muitos anos no caminho do bem, mas agora trilha o caminho do 
          inferno? 
          
          Você que já ouviu 
          inúmeros sermões, e agora vive agitando os salões de bailes? 
          
          Católico, a quem 
          muito foi dado muito será cobrado; acorde enquanto é tempo! 
            
          
          Pe. Divino Antônio 
          Lopes FP. 
          
          Anápolis, 08 de 
          agosto de 2007 
           
           
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