PACIÊNCIA NA DOR
(Tg 1, 12)
"Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque,
uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos
que o amam".
Edições Theologica comenta:
"Estas palavras, que culminam
a idéia expressada nos vv. 2-4, são um eco das do Mestre:
'Bem-aventurados sereis quando vos injuriem, vos persigam e vos
caluniem de qualquer modo, por Minha causa. Alegrai-vos e
regozijai-vos, porque a vossa recompensa será grande no Céu' (Mt 5,
11-12). A imagem da coroa - sinal de vitória e de realeza - serve para
expressar o triunfo definitivo com Cristo: o Senhor aparece coroado na
glória (cfr Ap 14, 4); também a Mulher do Apocalipse, símbolo da
Igreja e da Santíssima Virgem (cfr Ap 12, 1); e promete-se àqueles que
sejam fiéis a Deus nesta vida (cfr Ap 2, 10; 3, 11). Aparece também
noutros passos do Novo Testamento, para expressar a recompensa
definitiva do Céu (cfr 1 Cor 9, 25; 2 Tm 4, 8; 1 Pd 5, 4)".
O
cristão não pode, portanto, assustar-se ou encolher-se diante das
dificuldades que Deus permite na sua vida; pelo contrário, deve vê-las
como provas sucessivas que com a ajuda divina há de superar, para
receber o prêmio do Céu:
"Não deixa o Senhor vir estas guerras e tentações aos Seus
senão para maior bem (...). Ele assim o quis, que a paciência nos
trabalhos e o estar em pé por Sua honra nas tentações, fosse o toque
com que os Seus amigos fossem provados. Porque não é sinal de amigo
verdadeiro acompanhar no descanso, ficar parado em relação ao amigo no
tempo da tribulação (...). Companheiros nos trabalhos e depois no
Reino, deveis esforçar-vos em lutar virilmente nas guerras que contra
vós se levantam para afastar-vos de Deus, pois que Ele é vosso auxílio
na terra e vosso galardão no céu"
(São João de Ávila, Audi, filia, cap. 29).
Católico, carregue a sua cruz com paciência e estarás agradando a
Deus: "... não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com
paciência e paz todas as cruzes por ele enviadas"
(Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo,
cap. V).
Você
que perdeu toda a família e vive só, idoso e doente prostrado em uma
cama, não se desespere nem se revolte, mas suporte tudo com paciência
e Nosso Senhor te recompensará:
"... uma vez provado,
receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam".
Quereis um exemplo de paciência e resignação de uma mãe sublime e
heróica?
Foi
sempre boa aquela senhora. Nascera na pobreza e nos trabalhos dos
campos passara os anos da juventude. Quando estava para completar
vinte anos casou-se com um moço bom como ela, e, como ela, lavrador de
pobres campos, que eram toda a sua fazenda.
Tiveram cinco filhos: três meninos e duas meninas. Estavam todos ainda
na infância, quando lhes morreu o pai. A pobre viúva pôs a sua
confiança naquele Senhor que nos livros sagrados se chama a si mesmo
"consolo e amparo das viúvas". E não esperou em vão. Trabalhou muito a
pobre mãe; mas afinal teve a consolação de ver que seus filhos
cresciam fortes e bons. Naquela casa não faltava o pão ganho com o
trabalho honesto e comido em paz e graça de Deus.
O
mais velho dos filhos disse um dia à mãe: "Mãe, vou a N. para ver se
ganho algum dinheiro para nós". Foi a N. e, poucos dias depois de lá
chegar, morreu.
Disse
o segundo filho: "Mãe, eu não vou a N.; vou à capital à procura de uma
colocação para que não tenhas de trabalhar tanto". E foi à Capital;
mas apenas lá chegou, morreu num incêndio.
O
terceiro filho disse um dia à mãe: "Mãe, eu não vou nem a N. nem à
Capital; ficarei em casa cultivando nossos pobres campos. Deus jamais
nos negará um pedaço de pão. E um dia subiu a um morro em companhia de
um amigo; e este, ao experimentar uma arma, sem querer desfechou-lhe
um tiro e matou-o; e o pobre ali ficou no meio do caminho estendido e
banhado no próprio sangue.
A
filha mais velha, derramando lágrimas sobre os finados irmãos, disse à
mãe: "Mãe, que pecado teremos cometido para que Deus nos prove tanto?
Vou para o convento". E para o convento foi; e oito dias depois a
levaram ao cemitério.
Por
fim, a última filha, que contaria uns dezesseis anos, disse à mãe:
"Mãe, não chores; enquanto eu viver, não te faltará um pedaço de pão.
Vou para cidade aprender costura e corte". E foi para a cidade; mas,
no primeiro motim comunista, uma bala perdida varou-lhe a cabeça e ela
caiu morta.
A mãe
não tinha mais lágrimas nos olhos. Inclinava a cabeça, chorava e
rezava. Por fim, ficou doente, teve que acamar-se, onde, durante anos,
dores horríveis não lhe deram descanso. Contudo, a Providência divina
não a desamparou: nunca faltaram almas boas que cuidassem dela.
Um
missionário, que por ali pregava, foi um dia visitá-la. Sentou-se à
cabeceira e ela contou-lhe a sua trágica história. Quando terminou,
chorava e soluçava.
-
Filha - disse-lhe o Padre Missionário - estás agora conformada com a
vontade de Deus?
-
Padre - respondeu - já sou velha; já completei oitenta e quatro anos.
Oitenta e quatro anos, Padre, dizendo muitas vezes ao dia: "Faça-se a
vossa vontade, assim na terra como no céu".
Virou
a cabeça e fixou o crucifixo pendurado à parede. Era ele a sua
esperança.
Aí
tendes uma mulher simples, uma mulher da roça, que aprendeu, na sua fé
e no seu amor a Deus, a lição dificílima da paciência e da
conformidade nas penas e dores da vida.
Católico, se você convive com pessoas insuportáveis e antipáticas, não
desanime nem se irrite, carregue essa cruz com paciência e Jesus
Cristo lhe recompensará.
A
pessoa que sabe sofrer com paciência é semelhante a um anjo.
Conta
Spirago que, num hospital servido por Irmãs de Caridade, achava-se um
soldado em tratamento. Certo dia pediu lhe trouxessem um ovo cozido.
Poucos instantes após uma das Irmãs servia ao enfermo o ovo cozido;
mas aquele indivíduo, querendo, ao que parece, provar a paciência da
religiosa, rejeitou o ovo bruscamente, dizendo:
-
Está duro demais.
Retirou-se a Irmã em silêncio e, depois de alguns minutos, trouxe
outro ovo; mas o doente rejeitou-o de novo alegando:
-
Está mole demais.
Sem
mostrar o menor indício de impaciência, foi a Irmã, pela terceira vez
à copa e trouxe ao soldado um vaso com água fervente e um ovo fresco e
disse-lhe com toda calma:
-
Aqui tem o senhor tudo que é necessário; prepare o ovo do modo que lhe
agradar.
Essa
paciência inalterável da boa Religiosa causou ao soldado tal
impressão, que não pôde deixar de exclamar:
-
Agora compreendo que há um Deus no céu, uma vez que há tais anjos na
terra.
Por
aí se vê que pela paciência se pode fazer um grande bem ao próximo.
Católico, você que é xingado, desprezado e caluniado, não recue nem se
impaciente, pelo contrário, olhe para o crucifixo e verás que Cristo
Jesus sofreu muito mais.
São
Pedro Mártir, que morreu em 1252, da Ordem Dominicana, teve de sofrer
incríveis calúnias e perseguições, sendo ele, afinal, inocente e
santo. Ajoelhou um dia aos pés do crucifixo e queixou-se a Nosso
Senhor de seus sofrimentos.
-
Senhor, que mal fiz eu para sofrer tanto?
-
Enquanto assim se lamentava ouviu o Santo, como vindas da cruz, estas
palavras:
- E
que mal fiz eu para sofrer tanto na cruz? Teus sofrimentos não se
podem comparar com os meus. Suporta-os, por isso, com paciência.
Essas
palavras deram ânimo ao santo. Daí em diante, quando tinha de sofrer,
olhava para o crucifixo, lembrando-se que o Filho de Deus teve de
sofrer imensamente mais do que ele.
Católico, se você vive prostrado em um leito de dor, não perca a
paciência, mas sofra tudo por amor a Nosso Senhor, lembrando com
frequência de que Ele o recompensará.
Vivia
num quarto, escuro como um túmulo, um santo religioso, e passava a sua
vida em obras de caridade, em ásperas disciplinas, em rígidos jejuns,
em orações noturnas. Foram visitá-lo alguns senhores do mundo, e
ficaram como que apavorados com tanta austeridade: "Como podeis
resistir, sequer um só dia aqui?"
"Chegai à janela do meu quarto", respondeu o homem de Deus, "e depois
compreendereis". Eles obedeceram. "Pois bem!" - acrescentou ele - que
é que vedes?" "Nada mais do que um velho muro cortado em quadro, e
através do corte um ângulo do céu do tamanho da palma de uma mão".
"Pois é justamente esse ângulo do céu - respondeu o servo de Deus -
que tem feito toda a minha paz e todo o meu consolo. Todas as vezes
que a tristeza me assalta a alma, eu olho para o céu pela janela. Ah,
Paraíso, Paraíso! Nome caro ao meu coração". E, enquanto assim dizia,
aqueles senhores viram-lhe a face transfigurar-se no êxtase.
Ó
católicos angustiados por negros pensamentos, levantai o olhar ao céu!
Tudo lá é contado, até o mais leve respiro; tudo lá ser-vos-á
recompensado com infinita superabundância.
E os
doentes, constrangidos no leito há meses, fechados nas alas dos
hospitais há anos, olhem através da janela o azul que esplende diante
dos seus olhos como uma grandiosa promessa, e sentir-se-ão
rejuvenescer na sua alma, e sentirão nova paz em sofrer, como se
estivessem no primeiro dia de sofrimento.
Católico, não se desespere diante das provações da vida, mas carregue
a cruz com paciência:
"Todas as chagas do Redentor são outras tantas palavras que nos
ensinam como devemos sofrer por ele. Esta é a sabedoria dos santos,
sofrer constantemente por Jesus; assim ficaremos logo santos"
(São Francisco de Sales-Gallizia, Vita, 1. 6, c. 2 (in fine):
Massime e detti spirituali, Massime per gli ecclesiastici, n° 5),
e: "Quem ama o
Salvador deseja ser como ele, pobre, sofredor e desprezado. São João
viu todos os santos vestidos de branco, segurando palmas nas mãos (Ap
7, 9). A palma é o símbolo do martírio; mas nem todos os santos foram
martirizados. Por que então todos seguram palmas?"
(Santo Afonso Maria
de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, cap. V).
São
Gregório Magno responde porque todos seguram palmas:
"Todos os santos foram
mártires ou pela espada ou pela paciência. Nós podemos ser mártires
sem a espada, se guardarmos a paciência"
(Homiliae XL in Evangelia, 1. 2, hom. 35, n° 7: ML 76-1263).
O
mérito de uma pessoa que ama Jesus Cristo consiste em amar e sofrer.
Eis o que Deus fez Santa Teresa de Jesus entender:
"Pensa, minha filha, que o
mérito consiste no desfrutar? Não, o mérito consiste em sofrer e amar.
Veja minha vida cheia de dores. Acredite, minha filha, aquele que é
mais amado por meu Pai recebe dele cruzes maiores; ao sofrimento
corresponde o amor. Veja estas minhas chagas, as suas dores nunca
chegarão a tanto. Pensar que meu Pai admite alguém na sua amizade sem
o sofrimento é um absurdo... Mas acrescenta Santa Teresa: 'Deus não
manda nenhum sofrimento sem pagá-lo imediatamente com algum favor"
(Santa Teresa, Mercedes de Dios, XXXVI, Obras, II, Burgos 1915;
Camino de perfección, c. 18, Obras, III; Libro de la vidam, c. 11,
Obras, 1).
São
Luis, Rei da França, falando da escravidão que sofreu na Turquia, diz:
"Eu me alegro e fico
muito agradecido a Deus mais pela paciência que me concedeu na minha
prisão do que se tivesse conquistado a terra inteira" (Bollandisti,
Acta sanctorum, 25 agosto, c. 2, n° 23).
Católico, tenha paciência na dor. Paciência é a coragem de suportar
com calma as contrariedades da vida.
Diante do falecimento de um ente querido. Paciência na dor! Ao ficar
sabendo de uma doença incurável na família. Paciência na dor!
O Pe.
João Colombo escreve:
"O paciente, diante das desgraças, embora sofrendo, tem o coração em
paz, o rosto tranquilo e sem rugas de tristeza ou de ira, tem o olhar
humilde e gosta de ter a boca em silêncio".
É
preciso ter paciência na dor. Aquele que se revolta perde-se:
"Quem carrega a cruz com
paciência, salva-se; quem a carrega com impaciência, perde-se"
(Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, cap.
V), e:
"As mesmas misérias levam
alguns para o céu e outros para o inferno" (Santo
Agostinho, Sermo 52, n° 4. ML 39-1845).
"Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque,
uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos
que o amam" (Tg
1, 12).
Suportemos com paciência as provações da vida e não recuemos diante
das dificuldades. Aquele que perseverar no caminho da cruz receberá
grande recompensa de Deus.
Carreguemos as cruzes de cada dia com paciência, contemplando a Cristo
Jesus, que, sendo Deus, sofreu muito; e sabemos que o servo não é
maior que o seu senhor:
"Veio ao mundo o Filho de
Deus e salvou os homens, assumindo sua natureza passível, na qual
expiou todos os pecados e santificou, sofrendo, toda a dor da
humanidade. Para chegarem à posse de Deus, devem os homens, por sua
vez, aceitar o padecimento. Mas o sofrimento do cristão não pode
terminar em paciência resignada, como que forçada, por não poderem
evitá-la. À imitação de Cristo, é a paciência cristã livre aceitação
do que na vida crucifica, em amorosa conformidade com a vontade de
Deus. Com esta adesão voluntária, assimila-se o cristão a Cristo
paciente, e seu sofrimento torna-se participação do mistério de Jesus.
A paciência assim entendida não avilta o homem, não faz dele mero
escravo de situações dolorosas das quais não sabe e não pode
libertar-se, mas dá-lhe força de abraçar voluntariamente todos os
sofrimentos que Deus permite em sua vida, com positiva disposição de
amor, de união a Cristo crucificado e ressuscitado... Aprendemos a
paciência, fixando o olhar no paciente divino... Se os pecados do
homem martirizaram Cristo inocente, não é injusto que também
martirizam quem os cometeu. Olhando o Crucifixo, pode cada pessoa
pensar que não está sozinha a padecer, pois Cristo sofreu todas as
amarguras, angústias e aflições, para torná-las menos ásperas ao
cristão e encorajá-lo nas tribulações. Corroborado pelo exemplo e pela
graça de Cristo, sustentado pelo amor a ele, aprende o cristão a viver
o próprio sofrimento sem se abater e aprende também a oferecê-lo pela
salvação dos irmãos, como humilde contribuição para a obra da
redenção" (Pe.
Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 82, 1 e 2).
Milhões são aqueles que se revoltam diante da dor e, por isso, se
perdem.
Uns
buscam a solução no suicídio, outros abandonam a oração, milhares
passam para as seitas, etc. Quanta loucura e cegueira!
Para
esses bastava apenas contemplar a cruz:
"... a paixão de Cristo basta
para orientar nossa vida inteira... Se procuras a paciência,
encontra-se na cruz a mais excelente"
(Das Conferências de Santo
Tomás de Aquino, Collatio 6 super Credo in Deum).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 15 de agosto de 2007
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