SEDE FELIZES

(Pr 16, 20)

 

"... quem confia em Deus é feliz".

 

 

Santo Afonso Maria de Ligório, um dos homens mais santos e sábios, gostava de recordar o seguinte fato.

Caminhavam por montes e vales uns homens ricos e amigos dos prazeres. Eram caçadores? Não sabemos; o certo é que entraram pela floresta e no meio dela, entre as árvores frondosas, encontraram uma choupana. Aproximaram-se e dentro dela viram um monge, cujo rosto era o retrato duma alma que gozava de paz.

- Irmão - perguntaram aqueles senhores - que fazes aqui?

- Irmãos - respondeu o monge - vim procurar a felicidade.

- A felicidade? Nós gozamos da abundância das riquezas; corremos de diversão em diversão e, contudo, não pudemos achar a felicidade; e tu a procuraste aqui?

- Aqui a procurei e aqui a encontrei.

- Encontraste mesmo a felicidade?

- Sim; olhai por esta janelinha da minha choupana. Por aí se vê a minha felicidade.

Os caçadores precipitam-se para a janelinha e olham ansiosos. Em seguida, mal-humorados, dizem:

- Irmão, enganaste-nos como um velhaco.

- Nunca, nunca - replicou o santo solitário; é porque não olhastes bem; tornai a olhar. Garanto que por aí se vê a minha felicidade.

Segunda vez chegam-se os homens à janelinha, olham por todos os lados e, indignados, dizem:

- Irmão, pela segunda vez nos enganaste. És um impostor.

E o solitário, com aquele ar de paz que nunca o abandonava, respondeu:

- Irmãos, não olhais bem. Asseguro-vos que não vos engano: olhai melhor, pois garanto que daí se vê a minha felicidade.

Os homens, desejosos de descobrir a felicidade, olham, tornam a olhar para baixo, para cima, para os lados. e por fim dizem:

- Irmão, não nos enganas mais. Por aqui não se vê nada; apenas árvores e um pedacinho do céu.

- Isso, isso (exclamou radiante de alegria o monge), isso, isso. Aí está a minha felicidade. Quando tenho algum sofrimento, quando a dor me atormente, contemplo esse pedacinho do céu e digo a mim mesmo: Tudo passa; dentro em pouco estarei no céu. A alegria enche a minha alma.

Esse solitário era Santo Antão. Fora para o deserto em busca da felicidade. Passou os longos anos de sua vida em orações e penitências. Olhava para o alto e via um pedacinho do céu! Teve lutas terríveis com o espírito do mal: não via o fim daquela guerra; mas olhava para o alto e via um pedacinho do céu!

Sofreu fome, calor e sede; a carne pedia comodidade, o cilício atormentava-o, molestava-o a pobreza do hábito. Olhava para o alto e via um pedacinho do céu!

Passaram-se os dias e passaram-se os anos. Olhava sempre para o alto, e o pedacinho do céu parecia-lhe cada vez mais próximo, cada vez maior. Afinal, um dia não vê mais a terra, não vê mais o deserto. Ante seus olhos surgia uma cidade fantástica. Aquilo era a terra da promissão, era a pátria de Deus, era o que tantas vezes vira de longe: O céu! O céu!

E a alma de Santo Antão, que vivera para Deus, para a oração, para a penitência, para a santidade, para o céu, entrava gloriosa no paraíso.

Católico, não se iluda em buscar a felicidade no mundo, ele finge ser feliz. Se você deseja ser feliz, busque a felicidade somente em Deus, confia n'Ele e a encontrará: "Sou a pessoa mais feliz. Já não desejo nada porque meu ser está saciado com o Deus-Amor" (Santa Teresa dos Andes, Carta 110), e: "Eu sou cada dia mais feliz, pois sou de nosso Senhor. Ele me dá a felicidade verdadeira. O amor a Jesus dá forças e alegria" (Idem, Carta 128).

Enganam-se aqueles que viram as costas para Deus e buscam a felicidade nas drogas, na bebedeira, nas noitadas, nos bailes, no carnaval e no barulho do mundo inimigo de Deus e das almas imortais.

Vivem frustrados e vazios aqueles que desprezam a Lei de Deus e buscam a felicidade no escândalo, na fornicação, no adultério, na masturbação, nos namoros imorais e na pornografia.

Erram aqueles que dizem não a Nosso Senhor e colocam o coração nas coisas passageiras desse mundo.

Católico, somente em Cristo Jesus você encontrará a verdadeira felicidade; fora d'Ele encontrará somente o vazio e a frustração: "A felicidade, vendida nas esquinas ou oferecida como sedução de um prazer fugaz, deixa o gosto amargo e a ressaca de uma estúpida embriaguez. A felicidade é a flor que desabrocha no madeiro da cruz, é a consciência de quem pode gritar, de cabeça erguida, que nada tem feito em detrimento do seu semelhante. Os santos sempre foram os cantores da felicidade verdadeira. A alegria do Evangelho não é o sorriso 'comercializado e vulgarizado', que somos acostumados a ver em todas as páginas das revistas e que nos agride e violenta através das imagens da televisão. A felicidade sóbria e serena dos santos é fruto de uma ascese e de uma identificação na vivência com a Palavra do Senhor" (Frei Patrício Sciandini, O. C. D).

Em Pr 16, 20 diz: ". quem confia em Deus é feliz".

O católico que confia em Deus é feliz. É feliz porque somente o Deus Onipotente é capaz de dar-lhe a verdadeira felicidade; n'Ele o católico encontra tudo aquilo de que a sua alma imortal necessita: "Quem pode fazer-me mais feliz do que Deus? N'Ele encontro tudo" (Santa Teresa dos Andes, Carta 81).

Aquele que confia no Senhor é feliz, porque Ele o protege de todos os males: "Ó Senhor, sois clemente e compassivo, longânime e cheio de bondade. Sois bom para com todos, e vossas misericórdias se estendem a todas as vossas obras. Sois fiel em todas as vossas palavras, Senhor, santo em todas as vossas obras. Sustentais os que vacilam, e soergueis os abatidos. Todos os olhos, esperançosos, de dirigem para vós. Ó Senhor, estais próximo de quantos vos invocam, dos que vos invocam com sinceridade. Satisfareis os desejos dos que vos temem, ouvireis seus clamores e os salvareis. Minha boca proclamará vosso louvor, e todo o ser vivo bendirá eternamente vosso santo nome" (Sl 145, 8-9. 13-15. 18-19. 21).

Católico, diante das provações da vida não deposite a sua confiança no homem, ele é falso e volúvel: "Maldito o homem que se fia no homem." (Jr 17, 5), mas confie em Deus e Ele lhe fará feliz: "Bendito o homem que se fia em Deus, cuja confiança é o Senhor" (Jr 17, 7).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 17 de agosto de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Sede felizes"

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