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          O MAU RICO E O POBRE LÁZARO 
          
          (Lc 16, 
          19-31) 
            
          
          "19 
          Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia 
          se banqueteava com requinte. 
          20 
          Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras.
          21 
          Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico... E até os cães vinham 
          lamber-lhe as úlceras. 
          22 
          Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de 
          Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 
          23 
          Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao 
          longe Abraão e Lázaro em seu seio. 
          24 
          Então exclamou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro 
          molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado 
          nesta chama'. 25 
          Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante 
          tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra 
          aqui consolo e tu és atormentado. 
          26 
          E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que 
          aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem 
          tampouco atravessem de lá até nós'. 
          27 
          Ele replicou: 'Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de 
          meu pai, 28 
          pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não 
          venham eles também para este lugar de tormento'. 
          29 
          Abraão, porém, respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas; que os 
          ouçam'. 30 
          Disse ele: 'Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for 
          procurá-los, eles se arrependerão'. 
          31 
          Mas Abraão lhe disse: 'Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, 
          mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão". 
            
          
            
            
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          "A parábola dissipa dois 
          erros: o dos que negavam a sobrevivência da alma depois da morte e, 
          portanto, a retribuição ultra-terrena, e o dos que interpretavam a 
          prosperidade material nesta vida como prêmio da retidão moral, e a 
          adversidade, pelo contrário, como castigo. Perante este duplo erro a 
          parábola deixa claros os seguintes ensinamentos:  que imediatamente 
          depois da morte a alma é julgada por Deus de todos os seus atos - 
          juízo particular -, recebendo o prêmio ou o castigo merecidos; que a 
          Revelação divina é, de per si, suficiente para que os homens creiam no 
          mais além". 
          
          Em Lc 
          16, 19-21 diz: "Havia 
          um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se 
          banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, 
          coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico... 
          E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras". 
          
          Esse 
          rico da parábola, como acontece hoje com milhares, não soube tirar 
          proveito dos seus bens materiais. Em vez de usá-los para fazer o bem e 
          assim conquistar a Vida Eterna, perdeu-a para sempre. 
          
          O 
          rico oferecia todos os dias grandes banquetes, e perto de sua porta 
          estava deitado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas: 
          "Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. 
          Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico..." 
          A Lázaro nem sequer lhe 
          chegavam as sobras. 
          
          O 
          nome de Lázaro tem um especial significado, pois é um derivado de 
          Eleazar = Deus ajudará. 
          
          O 
          rico se vestia com linho fino e púrpura, enquanto que Lázaro vivia 
          coberto de úlceras: grandes contrastes. 
          
          "E até os 
          cães vinham lamber-lhe as úlceras". Os cães da rua abundavam no Oriente. Eram animais sujos 
          que viviam entre as lixeiras e alimentavam-se delas. Lázaro 
          encontra-se no meio destes cães na porta da casa. É um modo intensivo 
          de assinalar a sua extrema miséria 
          (V. J). 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          "Os bens do rico não tinham sido adquiridos de modo 
          fraudulento; nem este tem a culpa da pobreza de Lázaro, pelos menos 
          diretamente: não se aproveitou da sua miséria para o explorar. Tem, 
          contudo, um marcado sentido egoísta e hedonista da vida e dos bens: 
          banqueteava-se. Vive para si, como se Deus não existisse e Lázaro 
          tão pouco. Esqueceu algo que Jesus recorda com frequência: o homem não 
          é dono dos bens que possui, só é administrador: Presta-me contas da 
          tua administração..., dirá ao servo infiel, que tinha sido 
          denunciado porque esbanjava os bens do seu senhor. Esta será a demanda 
          que ouvirá cada homem no fim dos seus dias. Esse homem rico vivia à 
          larga na abundância; não estava contra Deus nem tão pouco oprimia o 
          pobre. Unicamente estava cego para ver quem necessitava dele. Vivia 
          para si, o melhor possível. O seu pecado consistiu em que estava tão 
          ocupado de si mesmo que não viu Lázaro, a quem teria podido tornar 
          feliz com muito pouco do que possuía. Também para isto tinha recebido 
          as riquezas. Não utilizou os bens conforme o querer de Deus. Não soube 
          dar esmolas", e:
          "A pobreza não 
          conduziu Lázaro ao céu, mas a sua humildade; e as riquezas não 
          impediram o rico de entrar no eterno descanso, mas o seu egoísmo e a 
          sua infidelidade" (Santo 
          Agostinho, Sermão 24, 3), 
          e também: "À primeira vista, parece não ter, o primeiro, outro pecado 
          que o excessivo apego ao luxo e à boa mesa. Considerando, porém, mais 
          a fundo o quadro, descobrimos o desinteresse absoluto para com Deus e 
          o próximo. Todos os seus pensamentos e preocupações limitam-se a 
          banquetear-se esplendidamente cada dia, totalmente esquecido do pobre 
          Lázaro que desfalece à sua porta. Quanto a este último, ainda que a 
          parábola não o diga expressamente, nele reconhecer um desses pobres 
          que aceitam com resignação a própria sorte, confiando em Deus"
          (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 321).
           
          
          Em Lc 
          16, 22 diz: "Aconteceu 
          que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu 
          também o rico e foi sepultado". 
          
          Esta 
          claro que todos morrem: ricos e pobres. Quem se banqueteia e quem 
          passa fome serão no túmulo a mesma carniça: 
          "Considera que és pó e que em 
          pó te hás de converter. Virá o dia em que será preciso morrer e 
          apodrecer num fosso, onde ficarás coberto de vermes. A todos, nobres e 
          plebeus, príncipes ou vassalos, estará reservada a mesma sorte. Logo 
          que a alma, com o último suspiro, sair do corpo, passará à eternidade, 
          e o corpo se reduzirá a pó. Imagina que estás em presença de uma 
          pessoa que acaba de expirar. Contempla aquele cadáver, estendido ainda 
          em seu leito mortuário: a cabeça inclinada sobre o peito; o cabelo em 
          desalinho e banhado ainda em suores da morte, os olhos encovados, as 
          faces descarnadas, o rosto acinzentado, os lábios e a língua cor de 
          chumbo; hirto e pesado o corpo. Treme e empalidece quem o vê... 
          Quantas pessoas, à vista de um parente ou amigo morto, mudaram de vida 
          e abandonaram o mundo" 
          (Santo Afonso Maria de 
          Ligório, Preparação para a Morte, Consideração I, Ponto I), 
          e: "Que fez este homem 
          para ser condenado? O Salvador não disse que ele fosse assassino, um 
          libertino, um detentor injusto dos bens alheios: não condena a sua 
          opulência, nem as suas prodigalidades. O rico não foi condenado porque 
          era rico, mas porque, demasiadamente apegado aos bens da fortuna, não 
          os utilizou na prática do bem. Não fazer o bem quando possível, não é, 
          porventura fazer o mal?"
          (Dom Duarte Leopoldo).  
          
          Os 
          anjos levaram o pobre para o lugar dos justos; o mau rico foi para o 
          inferno: "São João 
          Crisóstomo, considerando que aquele rico, qualificado de feliz no 
          mundo, foi logo condenado ao inferno, enquanto que Lázaro, tido como 
          infeliz porque era pobre, foi depois felicíssimo no céu, exclama: 'Ó 
          infeliz felicidade, que trouxe ao rico eterna desventura...!
          Ó feliz desgraça, que levou o pobre à 
          felicidade eterna!" 
          (Do Livro Preparação para a 
          Morte, Consideração XIV, Ponto II). 
          
          Em Lc 
          16, 23-24 diz: "Na 
          mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao 
          longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: 'Pai Abraão, tem 
          piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me 
          refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama". 
          
          "Na mansão 
          dos mortos, em meio a tormentos".
          Católico, não se 
          esqueça de que o inferno é lugar de tormentos. Nela há fogo:
          "O pecador comete dois males quando peca: 
          aparta-se de Deus, Sumo Bem, e se entrega às criaturas. 'Dois males 
          fez meu povo: abandonaram-me a mim, que sou fonte de água viva, e 
          cavaram para si cisternas rotas, que não podem reter a água' (Jr 
          2,13). Em vista do pecador se ter dado às criaturas com ofensa a Deus, 
          será justamente atormentado no inferno por essas mesmas criaturas, 
          pelo fogo e pelos demônios: esta é a pena do sentido. Como, porém, sua 
          maior culpa, na qual consiste a maldade do pecado, é a separação de 
          Deus, o maior suplício do inferno é a pena do dano ou da privação da 
          visão de Deus, perda irreparável. 
          
          
          Consideremos, em primeiro lugar, a pena do sentido. É de fé que existe 
          inferno. No centro da terra se encontra esse cárcere, destinado ao 
          castigo dos que se revoltaram contra Deus. Que é, pois, o inferno? O 
          lugar de tormentos (Lc 16,28), como o chamou o mau rico; lugar de 
          tormentos, onde todos os sentidos e todas as faculdades do condenado 
          hão de ter o seu castigo próprio, e onde aquele sentido que mais tiver 
          servido para ofender a Deus mais acentuadamente será atormentado (Ap 
          18,7). A vista padecerá o tormento das trevas (Jó 10,21). Digno de 
          profunda compaixão seria um infeliz encerrado em tenebroso e acanhado 
          calabouço, durante quarenta ou cinquenta anos de sua vida. Pois o 
          inferno é cárcere fechado por completo e escuro, onde nunca penetrará 
          raio de sol nem qualquer outra luz (Sl 48,20). 
          
          O fogo que 
          aqui na terra ilumina, não será luminoso no inferno. 
          
          'Voz do 
          Senhor, que despede chamas de fogo' (Sl 28,7). Explica São Basílio que 
          o Senhor separará do fogo a luz; de modo que estas chamas arderão sem 
          iluminar; o que Santo Alberto Magno exprime mais brevemente nestes 
          termos: 'Separará do calor o resplendor'. O fumo sairá dessa fogueira 
          e formará a espessa nuvem tenebrosa que, como diz São Judas, cegará os 
          olhos dos réprobos (Jd 13). Haverá ali apenas a claridade precisa para 
          aumentar os tormentos. Uma sinistra claridade que permite ver a 
          fealdade dos condenados e dos demônios, assim como o aspecto horrendo 
          que estes tomarão para causarem mais horror. 
          
          O olfato 
          padecerá o seu tormento próprio. Seria insuportável se nos metêssemos 
          num quarto acanhado, onde jazesse um cadáver em putrefação. O 
          condenado deve ficar sempre entre milhões de réprobos, vivos para a 
          pena, mas cadáveres hediondos quanto à pestilência que exalam (Is 
          34,3). Disse São Boaventura que, se o corpo de um condenado saísse do 
          inferno, bastaria ele só para produzir uma infecção em consequência da 
          qual morreriam todos os homens do mundo... E ainda há insensatos que 
          se atrevem a dizer: 'Se for ao inferno, não irei sozinho...' 
          Infelizes! Quanto maior for o número de réprobos ali, tantos maiores 
          serão os sofrimentos de cada um. 'Ali - diz São Tomás - a companhia de 
          outros desgraçados não alivia; antes aumenta a desventura geral'. 
          Muito mais sofrerão, sem dúvida, pela fetidez asquerosa, pelos gritos 
          daquela multidão desesperada, e pelo aperto em que se acharão 
          amontoados e comprimidos os réprobos, à semelhança de ovelhas em tempo 
          de inverno (Sl 48,15), ou como uvas esmagadas no lagar da cólera de 
          Deus (Ap 19,15). E assim mesmo padecerão o tormento da imobilidade (Ex 
          15,16). Da maneira como o condenado cair no inferno, assim há de 
          permanecer imóvel, sem que lhe seja dado mudar de posição, nem mexer 
          mão nem pé, enquanto Deus for Deus. O ouvido será atormentado com os 
          contínuos gritos aflitivos daqueles pobres desesperados, e pelo 
          barulho horroroso que, sem cessar, os demônios provocam (Jó 15,21). 
          Quando desejamos dormir, é com o maior desespero que ouvimos o 
          contínuo gemido de um doente, o choro de uma criança ou o ladrar de um 
          cão... Infelizes réprobos, que são obrigados a ouvir, por toda a 
          eternidade, os gritos pavorosos de todos os condenados!... A gula será 
          castigada com a fome devoradora...  
          
          
          Entretanto, não haverá ali nem uma migalha de pão. O condenado sofrerá 
          sede abrasadora, que não se apagaria com toda a água do mar. Mas não 
          se lhe dará uma só gota. Uma só gota d'água pedia o rico avarento, e 
          não a obteve, nem a obterá jamais" 
          (Santo Afonso Maria de Ligório, 
          Preparação para a Morte, Consideração XXVI, Ponto I). 
          
          "... em 
          meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em 
          seu seio. Então exclamou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que 
          Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou 
          torturado nesta chama". 
          
          O 
          rico estava em meio a tormentos, e Lázaro estava no seio de Abraão:
          "A expressão 'seio de Abraão' indica o lugar ou estado em 'que 
          residiam as almas dos santos antes da vinda de Cristo Senhor Nosso, 
          onde, sem sentir dor alguma, sustentados com a esperança ditosa da 
          redenção, desfrutavam de pacífica morada. A estas almas piedosas que 
          estavam à espera do Salvador no seio de Abraão, libertou Cristo Nosso 
          Senhor ao baixar aos infernos"
          (Catecismo Romano, 
          I, 6, 3). 
          
          O 
          rico pede: "Pai 
          Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo 
          para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama". 
          
          
          Católico, o rico que durante essa vida viveu na mordomia, agora sofre 
          nas chamas do inferno e mendiga uma gota d'água. Infeliz do católico 
          que busca o caminho fácil. 
          
          
          Peçamos a Nosso Senhor, força e perseverança para percorrermos o 
          caminho estreito com a cruz às costas, sofrendo com paciência e por 
          amor a Ele. 
          
          
          Aquele que "acariciava" diariamente a língua com "deliciosas bebidas", 
          agora implora uma gota d'água para refrescá-la no meio das chamas. 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          "Quantas e quão sérias 
          reflexões nos devem despertar estas palavras! Morre um homem 
          desconhecido, ignorado, talvez um operário, miserável mendigo, 
          abandonado e desprezado de todos. E, no entanto... pode muito bem 
          acontecer que a sua alma tenha sido levada pelos anjos ao seio de 
          Abraão. Morre um desses outros que o mundo chama felizes; cercam-lhe o 
          cadáver, chora-se, lamenta-se a sua perda, fazem-se discursos, 
          gabam-se os seus talentos, põe-se em evidência os serviços que 
          prestou. Mas... si a sua alma foi sepultada no inferno, de que lhe 
          servirá todo esse ruído? Aquele que, tantas vezes passara pelo pobre 
          sem reconhecê-lo, agora o conhece na eternidade, chama-o pelo nome. 
          Negara-lhe as migalhas da sua mesa, e agora mendiga também uma gota de 
          água. Note-se como fala Jesus dessa outra vida, cujas portas se 
          entreabrem à sua palavra divina. O rico levantou os olhos e viu de 
          longe a Abraão e Lázaro no seu seio. O Divino Mestre emprega, sem 
          dúvida, imagens e figuras para traduzir, em linguagem humana, verdades 
          que escapam aos nossos sentidos. Mas fala com a segurança, autoridade 
          e precisão de um homem que conta o que viu. O incrédulo não crê no 
          outro mundo, porque ninguém de lá nos veio dizer os seus mistérios. 
          Não. Alguém veio e falou. Esse alguém é o próprio Filho de Deus", 
          e: "São louvados onde 
          não estão, e são atormentados onde estão"
          (Santo Agostinho). 
          
          Em Lc 16,
          25-26 diz: 
          "Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens 
          durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele 
          encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e 
          vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar 
          daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá 
          até nós". 
          
          O Pe. 
          João Colombo escreve: 
          "A cena está dividida em duas. Em baixo, um horrível abismo cheio de 
          fogo; e, no fogo, um homem arde e berra: 'Abraão! Abraão!' No alto, 
          uma região puríssima de luz, de melodias. Nessa luz, entre aquelas 
          flores, entre as músicas, há outro homem felicíssimo. 
          
          'Abraão! 
          Abraão!' Berra desesperadamente do abismo ardente. Abraão escuta esse 
          pranto longo e lancinante. 'Abraão, tem piedade de mim. Envia-me 
          Lázaro, e dize-lhe que com se dedo me deixe cair uma gota de água na 
          língua, pois sou todo uma chama!' 
          
          Abraão lhe 
          disse: 'Lembras-te de quando te vestias de púrpura e de linho, e te 
          banqueteavas todos os dias no teu palácio? Então Lázaro, cheio de 
          úlceras, jazia à tua porta, e suspirava pelas migalhas caídas da tua 
          mesa, para aplacar a sua fome. Mas ninguém lhas dava: só os cães lhe 
          lambiam as chagas cancerosas. Fica, pois, sabendo que em vida tiveste 
          as alegrias, e Lázaro teve as dores. Agora, e para sempre, Lázaro se 
          alegrará e tu sofrerás'. 
          
          Eis aí, ó 
          cristãos, os dois destinos do homem: se alegrar por poucos anos e 
          sofrer por toda a eternidade, ou então sofrer por poucos anos e se 
          alegrar por toda a eternidade. 
          
          Qual 
          escolheis para vós?" 
          
          Quando 
          Abraão disse ao rico: Entre vós e nós existe um abismo (...), 
          "... manifestou que depois da morte e ressurreição não haverá lugar 
          para penitência alguma. Nem os ímpios se arrependerão e entrarão no 
          Reino, nem os justos pecarão e baixarão para o inferno. Este é um 
          abismo intransponível"
          (Afraates, 
          Demonstratio, 20; De Sustentatione egenorum, 12). 
          Por isso se compreendem as seguintes palavras de São João Crisóstomo:
          "Rogo-vos e peço-vos 
          e, abraçado aos vossos pés, suplico-vos que, enquanto gozemos desta 
          pequena respiração da vida, nos arrependamos, nos convertamos, nos 
          tornemos melhores, para que não nos lamentemos inutilmente como aquele 
          rico quando morrermos e o pranto não nos traga remédio algum. Porque 
          ainda que tenhas um pai ou um filho ou um amigo ou qualquer outro que 
          tenha influência diante de Deus, todavia, ninguém te livrará, sendo 
          como são os teus próprios fatos que te condenam"
          (Hom. Sobre 1 Cor). 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          "É por isso que, com tanta 
          propriedade, disse alguém - Desgraçado do pecador feliz! A 
          prosperidade no esquecimento de Deus é uma presunção de condenação 
          eterna; a pobreza, a miséria sofrida com resignação à vontade de Deus, 
          é, pelo contrário, uma esperança de salvação".
           
          
          Em Lc 
          16, 27-31 diz: "Ele 
          replicou: 'Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu 
          pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que 
          não venham eles também para este lugar de tormento'. Abraão, porém, 
          respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam'. Disse ele: 
          'Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles 
          se arrependerão'. Mas Abraão lhe disse: 'Se não escutam nem a Moisés 
          nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se 
          convencerão". 
          
          
          Via-se que o mau uso dos bens era um mal de família. Mas Abraão 
          respondeu-lhe que pedia algo impossível, pois já tinham Moisés e os 
          profetas. Que os ouçam a eles! Mas o rico voltou a insistir em que se 
          algum morto ressuscitaste e lhes aparecesse, se converteriam. E Abraão 
          disse-lhe: "Se não 
          escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos 
          mortos, não se convencerão". 
          
          Mais 
          tarde, quando Jesus ressuscitou Lázaro, alguns dos presentes, em vez 
          de se converterem ao ver sair um morto da sepultura, foram ter com os 
          fariseus para o denunciar. Pouco depois o próprio São João comenta 
          acerca da incredulidade judaica: 
          "Embora Jesus tivesse feito 
          tantos milagres diante deles, não acreditaram nele" 
          (Jo 12, 37). 
          
          Se 
          não há retidão e boas disposições de pouco valerão os maiores 
          prodígios e aparições. 
          
          
          Também ensina aqui o Senhor de modo indireto, a falsidade da crença 
          arraigada no judaísmo daquela época segundo a qual a riqueza era sinal 
          da benevolência divina e a pobreza um castigo de Deus. 
          
          O 
          rico no meio dos tormentos disse a Abraão: 
          "Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, 
          pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não 
          venham eles também para este lugar de tormento". 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo comenta: 
          "Parece que até mesmo os 
          condenados se preocupam com a nossa salvação, desejando afastar-nos 
          dos tormentos a que eles, por seus pecados, estão agora sujeitos...! A 
          súplica do mau rico não é atendida; pois Jesus não ressuscitou ao 
          outro Lázaro? E quantos se converteram? Não houve até alguns que 
          pensaram em matá-lo para que desaparecesse o atestado vivo do milagre 
          praticado pelo Divino Mestre? Quem recusa ouvir a Moisés e aos 
          profetas - a Igreja e os seus ministros - a nada absolutamente 
          há de atender, porque é um cego voluntário", 
          e: "Os milagres 
          poderão converter um indiferente, um ímpio; dificilmente podem 
          converter um herege, e quase nunca a um cristão que se tornou infiel, 
          por libertinagem ou resistência criminosa à verdade conhecida. - A 
          última parte desta história merece ser lida e meditada pelos espíritas 
          que andam por ai a transtornar tanta cabecinha que não tem o bom senso 
          de repelir as suas perversas sugestões. Jesus Cristo constituiu a 
          Igreja, com autoridade infalível, para dirigir-nos e guiar-nos em tudo 
          o que diz respeito à outra vida e à salvação eterna. E eles, com as 
          suas mesas falantes, com os seus médiuns, etc., acharam meio de 
          desmentir a Palavra de Jesus...!" 
          (Pe. Lahatut). 
            
			  
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 01 de setembro de 2007 
            
			  
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