O FILHO PRÓDIGO
(Lc 15,
11-32)
"11
Disse ainda: 'Um homem tinha dois filhos.
12
O mais jovem disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me
cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles.
13
Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais
jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa
vida devassa. 14
E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a
passar privações. 15
Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou
para seus campos cuidar dos porcos.
16
Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas
ninguém lhas dava.
17 E caindo
em si, disse: 'Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu
aqui, morrendo de fome!
18
Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o
Céu e contra ti; 19
já não sou digno de
ser chamado teu filho. Trata-me como um dos seus empregados'.
20
Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai
viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço,
cobrindo-o de beijos. 21
O filho, então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho'.
22 Mas o pai
disse aos seus servos: 'Ide depressa, trazei a melhor túnica e
revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
23
Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos,
24 pois este
meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi
reencontrado!' E começaram a festejar.
25 Seu filho
mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu
músicas e danças. 26
Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo.
27 Este lhe
disse: 'É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado,
porque o recuperou com saúde'. 28
Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para
suplicar-lhe. 29 Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais
transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito
para festejar com meus amigos. 30
Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e
para ele matas o novilho cevado!' 31 Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás
sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
32 Mas era
preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão
estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!"
Em Lc 15, 11-13 diz:
"Disse ainda: 'Um homem tinha dois filhos, O
mais jovem disse ao Pai: ' Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'.
E o pai dividiu os bens entre eles, Poucos dias depois, ajustando
todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região
longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa".
Estamos perante uma
das parábolas mais belas de Jesus Cristo, em que nos é ensinado uma
vez mais que Deus é um Pai bom e compreensivo, como está em 2 Cor 1,
3: "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação".
No versículo 11 diz:
"Um homem tinha dois filhos". Esse
homem é Deus. O Cônego Duarte Leopoldo escreve:
"O pai de família é Deus", e João Paulo
II diz: "O pecado, tão detalhadamente descrito
na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao
menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu
amor", e São Josemaria Escrivá também diz:
"Recordemos a parábola do filho pródigo, que
Jesus nos contou para que entendêssemos o amor do Pai que está nos
céus".
No versículo 12 diz
que o filho mais jovem pediu ao Pai a parte da herança que lhe cabia.
E o pai dividiu os bens entre eles.
O filho mais jovem
que pede ao Pai a parte da sua herança é figura do homem pecador que
se afasta de Deus por causa do pecado. O Cônego Duarte Leopoldo
escreve: "Diz o Evangelho que este filho era o
mais moço, porque o pecador é leviano, inconstante e irrefletido como
a mocidade".
A herança, segundo o
Cônego Duarte Leopoldo, "... são os dons
naturais e sobrenaturais, os bens da alma e do corpo", e João
Paulo II escreve: "Este filho, que recebe do
pai a parte da herança que lhe toca e deixa a casa paterna para
esbanjar essa herança numa terra longínqua 'vivendo dissolutamente,'
em certo sentido é o homem de todos os tempos, a começar por aquele
que foi o primeiro a perder a herança da graça e da Justiça original.
Neste ponto a analogia é muito vasta. Indiretamente a parábola
estende-se a todas as rupturas da aliança de amor: a toda a perda da
graça e todo o pecado".
No versículo 13 diz
que o filho mais jovem partiu para uma terra longínqua, e ali dissipou
sua herança numa vida devassa.
O filho mais novo
quer ser feliz a seu modo, por sua conta, sem contar com o seu pai, e
por isso abandona-o e parte para um país longínquo. O Pe. Francisco
Fernándes-Carvajal escreve: "Para o judeu, um
país longínquo era a terra de gentios e pagãos. O egoísmo toma a
dianteira ao amor: nisso consiste o pecado. E o pai não quis retê-lo à
força", e o Cônego Duarte Leopoldo escreve:
"Essa região longínqua é o país do pecado,
para onde se retira o pecador a fim de não mais ouvir a voz de seu
Pai, as suas recriminações, os seus sábios conselhos. O pecador não
quer ser importunado; sedento de liberdade, da liberdade do vício,
dissipa no esquecimento de Deus e da sua fé, toda a sua fortuna de
graças - primeiro a graça santificante, depois as virtudes de uma
educação cristã, a inteligência, o brio, o pudor, muitas vezes o seu
dinheiro e quase sempre a saúde", e o Pe. João Colombo também
escreve: "Fora do olhar paterno, sem freio e
sem comedimento, o filho mais novo cometeu todas as torpezas e
satisfez o capricho de todas as paixões".
No versículo 13 diz ainda: "... o filho dissipou os seus bens".
Estas palavras revelam um
sentido quando o pecador é cristão, pois seria inexato afirmar que
todas as obras do pecador são más. Muitos pecadores têm uma conduta
exterior irrepreensível. Há muitos que praticam o bem. Suas obras não
são todas más. Mas são desperdiçadas, perdem-se para o céu, pois o
mérito sobrenatural é inerente ao estado de graça. O Monsenhor Georges
Chevrot escreve: "Essa fortuna que o cristão
dissipa é a sua parte na herança do próprio Deus. O cristão pecador já
não é senão um ramo separado do tronco. Ao sair da casa paterna, o
filho mais novo leva consigo a sua liberdade: leva-lhe o cadáver".
Em Lc 15, 14-16 diz:
"E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma
grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se
com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar
dos porcos. 'Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos
comiam, mas ninguém lhas dava".
No versículo 14 diz
que o filho pródigo gastou tudo, e o mesmo começou a passar fome. Ele
foi buscar a liberdade no mundo, mas encontrou a escravidão, deixou a
casa paterna, para tornar-se escravo de mundo. O filho mais moço, ao
sair de casa prometia a si mesmo coisas muito felizes fora dos limites
da fazenda, mas começou a passar fome. A satisfação acabou-se
depressa! Veio a seguir a solidão e a indignidade. João Paulo II
escreve: "Vem a solidão e o drama da dignidade
perdida, a consciência da filiação divina deitada a perder".
Está claro que
aquele que joga Deus fora vive no vazio e na miséria, como escreve
Santo Afonso Maria de Ligório: "Perdido Deus,
tudo está perdido".
Neste momento da
parábola, vemos as tristes consequências do pecado. Com essa fome,
fala-nos da ansiedade e do vazio que sente o coração do homem quando
está longe de Deus: pelo pecado o homem perde a liberdade dos filhos
de Deus e submete-se ao poder de Satanás. O cônego Duarte Leopoldo
diz: "No país do pecado, nessa região
longínqua do esquecimento de Deus, nunca deixa de haver fome, esse
vazio imenso de uma alma a quem tudo falta, quando lhe falta Deus. E o
pecador padece então os horrores da indigência: nada há que lhe possa
matar a fome devoradora".
Aquele que abandona
o caminho de Deus para seguir as máximas do mundo, viverá mergulhado
no vazio e na tristeza, a exemplo do filho pródigo. Somente em Deus
encontrara-se a verdadeira felicidade, como escreve Santa Teresa dos
Andes: "Deus é o único Bem que nos pode
satisfazer... Encontro tudo nele".
No versículo 15 diz
que o filho pródigo foi pedir emprego a um senhor daquela região, e
ele o mandou cuidar dos porcos. O Cônego Duarte Leopoldo diz:
"O dono da fazenda é o demônio: os porcos são
as paixões. Sob a tirania de um senhor sem entranhas, o pecador
apascenta em seu coração um rebanho de paixões imundas. Um sem número
de pensamento de crime grunhem dentro do seu coração, pedindo-lhe
pasto e alimento".
Está claro que o
filho pródigo teve que dedicar-se a guardar porcos, a pior das
humilhações para um judeu. O porco era um animal impuro para os judeus
e para outros povos do antigo Oriente.
Sobre o versículo
15, João Paulo II escreve: "Mas esta fuga de
Deus tem como consequência para o homem uma situação de confusão
profunda sobre a sua própria identidade, ao lado de uma amarga
experiência de empobrecimento e desespero ... o filho pródigo, depois
de tudo, começou a passar necessidade e viu-se obrigado , ele, que
tinha nascido em liberdade, a servir um dos habitantes daquela região".
No versículo 16 diz
que ele queria matar a fome com a comida dos porcos, mas ninguém lhas
dava.
Veja só o que
acontece com a pessoa que abandona a Deus; a mesma vive só e
amargurada.
O patrão do filho
pródigo foi um duro senhor, que nem sequer lhe permitia saciar-se com
a comida que os porcos comiam. O filho procurava conquistar a
liberdade, mas ficou submetido a um duro tirano. Está claro que a
liberdade está ligada ao amor e não ao pecado:
"... quem comete pecado, é escravo do pecado"
(Jo 8,34).
O Cônego Duarte
Leopoldo escreve: "As bolotas, alimento dos
porcos, simbolizam os crimes, os pecados de que se alimenta o pecador.
Devora-o a fome do vício; tudo lhe serve, ainda o que há de mais
desprezível; a tudo se atira faminto e desesperado, mas... a tanto
chegou a sua degradação que já nem esse alimento lhe é concedido para
satisfazer o apetite de pecado", e:
"Aquele filho fugido de uma casa rica guardava os porcos e tinha fome:
às escondidas estendia as mãos ao cocho... Desejava encher a barriga
com a comida dos porcos, e ninguém lhas dava, nem sequer um punhado"
(Pe. João Colombo), e
também: "Os críticos, incapazes de respeitar
uma obra-prima, pensam que esta sequência da parábola é forçada. Que
ajudante de fazenda, dizem eles, não teria nesse caso um pouco de
bolotas da ração dos porcos a fim de alimentar-se a si próprio? Não há
dúvida, mas isso seria não perceber a intenção do narrador. Cristo
quer fazer-nos tocar com o dedo a horrível solidão do pecador.
Caiu abaixo dos animais que guarda. O
proprietário preocupa-se com a alimentação dos seus porcos, mas
ninguém se ocupa dele, ninguém pensa em dar-lhe de comer. Para o
patrão, a gordura de seus porcos é mais preciosa do que a vida de seu
empregado. O filho pródigo é abandonado por todos"
(Monsenhor Georges Chevrot).
Católico, como você
tem coragem de abandonar a Deus para seguir o mundo? Lembre-se de que
o mundo é um palhaço assassino que atrai para matar. Você chama essas
pessoas que te cercam de amigo: será que as mesmas te ajudarão nas
horas de dificuldades? Cuidado, o coração do homem é um abismo e cheio
de falsidade.
Em Lc 15, 17-19 diz:
"E caindo em si, disse: 'Quantos empregados de
meu pai tem pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me
embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e
contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um
dos teus empregados".
O versículo 17 diz
que o filho "caiu em si"; longe da casa
paterna, sente fome. E a sua miséria não parece ter fim, longe do Pai
encontrou somente vazio e decepção. Então,
"caindo em si", decidiu-se a iniciar o caminho do regresso.
Pensou de novo as coisas. Assim começa também toda a conversão, todo o
arrependimento: caindo em si, fazendo uma paragem, considerando aonde
o levou a sua má aventura desde que saiu da casa paterna até à
lamentável situação em que agora se encontra.
E você católico, já
caiu em si ou vai continuar vivendo no chiqueiro do mundo inimigo de
Deus e do Evangelho? É preciso parar e voltar para Deus enquanto é
tempo: "Procurai o Senhor enquanto pode ser
achado" (Is 55, 6).
O filho pródigo
"caiu em si". O Cônego Duarte Leopoldo
diz: "Aqui, a cena se transforma. A dor, o
sofrimento é muitas vezes a voz de Deus que nos chama", e:
"Não há dúvida de que, ao entrar em si, o
filho vê em primeiro lugar e quase que exclusivamente a sua miséria.
Ainda não enxerga a malícia do pecado: ainda é cedo para isso. Vê-la-á
mais tarde. Agora vê somente a sua indigência e o seu sofrimento:
Morro de fome. Não compreendemos a gravidade do pecado senão depois de
nos termos convertido e, muitas vezes, vários anos depois de
convertidos" (Monsenhor Georges Chevrot).
No versículo 17 diz
ainda: "Quantos empregados de meu Pai tem pão
com fartura, e eu aqui, morrendo de fome".
O Cônego Duarte
Leopoldo diz: "Quantos não tinham, como eu, os
mesmos direitos ao amor de Deus, que não tinham recebido tantas
graças, tantos benefícios, que eram mais pobres, mais doentes, que
tinham menos luzes, quantos gozam da abundância das consolações da
graça, e eu morro de fome ao serviço do demônio, apascentando os
animais imundos!"
No versículo 18 diz
que o filho pródigo resolveu procurar o seu pai e dizer-lhe: Pai,
peguei contra o céu e contra ti.
O Pe. Francisco
Fernández-Carvajal diz: "O filho pródigo
resolve desandar o andado... resolve voltar".
O filho continua com
saudades do bem-estar que tem os servos na casa de seu Pai, e pouco a
pouco adquirem força na sua alma outros sentimentos: o calor do lar, a
recordação insistente do rosto do seu pai e o carinho filial. A dor
torna-se mais nobre e mais sincera aquela frase preparada: Pai, pequei
contra o Céu e contra ti. São Josemaria Escrivá comenta:
"De certo modo, a vida humana é um constante
regresso à casa do Pai por meio do sacramento do perdão", e:
"O arrependimento sincero, a verdadeira
contrição é sempre seguida do bom propósito, de resoluções firmes e
enérgicas"
(Cônego Duarte Leopoldo).
No
versículo 19 diz: "Já
não sou digno de ser chamado seu filho. Trata-me como um dos teus
empregados".
Ainda existe a casa de que ele fugiu para tão longe... Ainda existe
o seu pai. Ele já não pode dizer-se seu filho. Tornou-se indigno de
lhe usar o nome, mas seu pai não mudou... esse pai que por excesso
de bondade não tentou retê-lo, esse pai cujo coração ele despedaçou e
cujos bens dissipou, a quem afligiu e desonrou. O filho pródigo
arruinou-se, perdeu tudo. Ninguém estendeu a mão para socorrê-lo,
todos lhe deram as costas sem piedade. Nada mais lhe restava no mundo
a não ser esse pai cujo carinho ele retribuiu com o mal.
Católico, não se
desespere diante das suas fraquezas e ingratidões; lembre-se de que
existe um Pai que está pronto para perdoar um coração arrependido:
"Deus espera o pecador, afim de que se
arrependa e desse modo lhe perdoe e o salve" (Is 30, 18).
Em Lc 15, 20-21 diz:
"Partiu, então, e foi ao encontro do Pai. Ele
estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão,
correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho,
então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho".
Quando o filho
decide regressar à casa paterna e trabalhar na fazenda como um servo,
o pai, profundamente comovido ao ver as condições em que retorna,
corre ao seu encontro e demonstra-lhe prodigamente o seu amor:
Lançou-lhe os braços ao pescoço e cobriu-o de beijos. Acolhe como
filho imediatamente. São Josemaría Escrivá diz:
"Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se
descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos
homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos
calar e temos de dizer-lhe com São Paulo: Abba, Pai! Pai, meu Pai!,
porque, sendo Ele o Criador do universo, não se importa de que não o
tratemos com títulos altissonantes, nem reclama a devida confissão do
seu poder. Quer que lhe chamemos Pai, que saboreemos essa palavra,
deixando a alma inundar-se de alegria", e:
"A misericórdia de Deus sai ao encontro do
pecador, cai-lhe nos braços e dá-lhe o beijo da paz"
(Cônego Duarte Leopoldo), e também:
"O pai tem pressa de reconquistar o objeto da
sua ternura: joga-se ao pescoço do filho, aperta-o de encontro ao
peito, sem se importar com o odor de chiqueiro que exalam as suas
vestes sórdidas... o Pai aperta o filho em seus braços e cobre-o de
beijos" (Monsenhor Georges Chevrot).
Muitas pessoas se
desesperam diante de seus pecados; dizem que não serão mais perdoados
por Deus, que já está tudo perdido, que já estão condenadas... e
assim, perdem a fé, deixam a oração, os sacramentos e outras cometem o
suicídio. Esta não é a solução. Nada de desespero! Confie em Deus,
arrependa de seus pecados e Ele te perdoará, como escreve Santo
Afonso: "Deus chega até a assegurar que,
quando o pecador se arrepende, ele risca da memória as ofensas, como
se nunca houvessem existido", e o mesmo santo ainda diz:
"Logo que nos arrependemos, Deus nos responde
prontamente e logo nos perdoa".
No versículo 21 diz
que o pai correu ao encontro do filho. Sabemos que Deus ama o filho
que está arrependido; com certeza Ele lançará sobre o mesmo o laço da
sua misericórdia, como escreve São João da Cruz:
"Tu, Senhor, voltas com alegria e amor a
levantar o que te ofende..."
Em Lc 15, 22 diz:
"Mas o pai disse aos seus servos: 'Ide
depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um
anel no dedo e sandálias nos pés".
O pai pediu que lhe
vestisse com a melhor túnica. A túnica representa para Santo Agostinho
a veste da graça santificante, que perderam Adão e Eva (encontraram-se
nus), e que não tinham aquele que foi rejeitado nas bodas do grande
Rei (Mt 22, 11).
O Pai disse:
"... ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés". Com o anel é-lhe devolvido o poder de selar, é-lhe
devolvido a autoridade e todos os direitos; as sandálias declaram-no
homem livre, porque os escravos andavam descalços. Santo Agostinho
escreve: "O vestido mais precioso converte-o
em hóspede de honra, o anel devolve-lhe a dignidade perdida, as
sandálias declaram-no livre", e João Paulo II diz:
"O amor paterno de Deus inclina-se para todos
os filhos pródigos, para qualquer miséria humana, especialmente para a
miséria moral. Então, aquele que é objeto da compaixão divina 'não se
sente humilhado, mas reencontrado e revalorizado".
O pai devolveu tudo
ao filho arrependido. Na confissão, através do sacerdote, Deus
devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a
dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o
arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que
aquele em que estávamos anteriormente.
Em Lc 15, 23-24 diz:
"Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e
festejemos, pois esse meu filho estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi reencontrado!' E começou a festejar".
No versículo 23 fala
sobre a festa, tendo como comida, o novilho cevado. O Cônego Duarte
Leopoldo diz: "Os judeus usavam de carne muito
raramente. O banquete em que se servia um novilho e dos melhores do
rebanho, indicava bem a alegria que reinava na casa", e:
"Dá nossa miséria tira riqueza; da nossa
debilidade, fortaleza. O que não nos há de preparar então, se não o
abandonamos, se frequentamos a sua companhia todos os dias, se lhe
dirigimos palavras de carinho confirmadas com as nossas ações, se lhe
pedimos tudo, confiados na sua onipotência e na sua misericórdia? Se
prepara uma festa para o filho que o traiu, só por tê-lo recuperado, o
que não nos outorgará a nós, se sempre procuramos ficar a teu lado?"
E no versículo 24
diz: "... meu filho estava morto e tornou a
viver; estava perdido e foi reencontrado".
O Monsenhor Georges
Chevrot escreve: "O filho pródigo entende
enfim donde é que volta... só agora é que está convertido. Não estava
convertido quando morria de fome. Não estava convertido quando sofria
no caminho do retorno. É nos braços de seu pai que se realiza a sua
conversão".
O filho pródigo
está convertido, não deve mais falar-lhe da sua ingratidão passada nem
da sua conduta indigna: que nunca mais a mencione! Ele não tem outra
coisa a fazer senão deixar-se amar e nunca mais abandonar seu pai.
Ele, o filho pródigo foi encontrado, estava morto e tornou á vida.
Católico, se você
está morto espiritualmente, isto é, com o pecado mortal na alma, se
está vivendo longe de Deus, percorrendo o caminho largo das paixões e
do vício, arrependa-se de seus pecados, procure um sacerdote e faça
uma sincera confissão, e com certeza a sua volta para os braços do Pai
será festejada: "Se consegue achá-la, em
verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e
nove que não se extraviaram" (Mt 18,13).
Você sabe que Deus é
rico no perdão: "... Deus é rico em
misericórdia" (Ef 2,4),
por isso, não abuse de Sua misericórdia:
"Judas se condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência
de Jesus Cristo"
(São João
Crisóstomo), chore os seus
inúmeros pecados e aproxime de Deus com sinceridade, e Ele te
perdoará: "... coração contrito e esmagado, ó
Deus, tu não desprezas" (Sl 50,19).
Em Lc 15, 25-27 diz:
"Seu filho mais velho estava no campo. Quando
voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo,
perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: 'É teu irmão
que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com
saúde".
Quando a parábola
parece ter terminado, surge um novo personagem: o filho mais velho. No
versículo 25 diz que ele estava voltando do campo e perto da casa
ouviu músicas e danças. Era justamente a festa pela volta de seu irmão
mais novo, que estava morto e tornou a viver; que estava perdido e foi
reencontrado.
Nos versículos 26 e
27, ele pergunta o porquê da festa e o servo informa-o de que estão
celebrando o retorno do irmão mais novo, que chegou esfarrapado, que
finalmente voltou.
Nós católicos, que
acreditamos na misericórdia de Deus, precisamos acolher com alegria as
pessoas que desejam com sinceridade aproximarem de Deus, e devemos
festejar a volta das mesmas para os braços do Pai Eterno.
Se o filho pródigo
voltou para a casa paterna, com certeza, ele não encontrou paz e amor
no mundo; porque se o mundo inimigo de Deus fosse um mar de paz e de
amor, com certeza todos os mundanos seriam santos canonizados.
Em Lc 15, 28 diz:
"Então ele ficou com muita raiva e não queria
entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe".
Católico, com
certeza o filho mais velho era fiel ao pai. Trabalhava até o cair da
noite; quando, segundo a narrativa, a festa já se tinha iniciado, ele
ainda estava voltando do campo; mas como está no versículo 28, ele
ficou sabendo do motivo da festa, se irritou e não queria entrar, não
queria festejar a volta de seu irmão mais novo. O Monsenhor Georges
Chevrot escreve: "As mais belas virtudes
empalidecem aos olhos de Deus quando a pessoa se orgulha das suas
virtudes. E ele não quis entrar. Já não se sente em casa, naquela casa
em que se canta e se dança para participar da alegria do pai... Como é
grave que este filho obediente se torne incapaz de amar!... esse filho
que sempre obedeceu, acaba por contrariar o amor de seu pai".
Em 1 Jo 4,20 diz: "Se alguém disser: 'Amo a
Deus', mas odeia o seu irmão, é um mentiroso".
Eis, portanto, o
véu que nos esconde Deus, que nos impede de aproximarmos d'Ele: o
nosso terrível egoísmo, o nosso insuportável amor-próprio, esse eu
para o qual nos voltamos a toda a hora, o egoísmo que levou o filho
mais novo a deixar a casa paterna, o egoísmo que impediu o mais velho
de nela entrar...
Sobre o
aborrecimento do filho mais velho, escreve Santo Agostinho:
"O canto, a alegria e a festa não te moveram o
coração? O banquete do novilho gordo não te fez pensar? Ninguém te
exclui. Tudo em vão: o servo fala, mas o aborrecimento persiste, e ele
não quer entrar".
Hoje, infelizmente,
em muitas dioceses e paróquias, existem milhares de discípulas do
filho mais velho; são principalmente senhoras desocupadas, que andam a
bisbilhotar a vida de todos aqueles que entram na igreja; as mesmas
atiram pedras e agem com azedume contra aquelas pessoas que antes
viviam nas trevas e que agora estão se aproximando de Deus. Essas
senhoras se julgam o anjo do Apocalipse, sentam em lugares reservados,
sempre duas a duas, apontam os dedos e balançam a cabeça
continuamente. Para essas senhoras, ninguém se arrepende nem merece a
salvação, somente elas são as santinhas imaculadas.
O pai possui um
coração cheio de compaixão e amor; preparou uma grande festa para o
filho que havia se convertido, e agora suplica ao filho mais velho que
faça parte da mesma.
Em Lc 15, 29-30 diz:
"Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos
anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos seus mandamentos,
e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo,
veio esse seu filho, que devorou teus bens com prostitutas e para ele
matas o novilho cevado!"
No versículo 29 o
filho mais velho desabafa com o pai dizendo:
"Há tantos anos te sirvo... jamais transgredi um só dos seus
mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar..."
Era verdade o que o
filho mais velho dizia, e o pai não o contradiz. O Monsenhor Georges
Chevrot escreve: "Em um instante, esse modelo
de obediência mostra-se ambicioso, invejoso, avarento, mau e duro".
O filho mais velho
disse: "Há tantos anos que te sirvo..."
É uma resposta que esconde mal toda uma série de mágoas
inconfessáveis. É como se ele dissesse: se me fosse possível voltar
atrás, não seria tão ingênuo... Aproveitaria ao máximo, como o mais
novo... Nunca reclamei do meu trabalho, estava fora todo o tempo,
trabalhei em dobro depois da partida do extraviado, para que a
produção agrícola não sofresse com a sua ausência, e tu não tiveste a
menor atenção comigo. Nunca me deste um cabrito sequer para que o
repartisse com os meus amigos,
No versículo 30, ele
mostra todo o seu desprezo para com o irmão mais novo quando diz:
"... esse seu filho".
O filho mais velho
procura a palavra que pode ferir mais cruelmente o coração do pai. Ele
evita cuidadosamente dizer "meu irmão",
mas diz, "... esse seu filho", esse que
devorou os teus bens com as prostitutas, este que gastou nosso
dinheiro que ganhamos com tanto sacrifício. O Monsenhor Georges
Chevrot falando sobre o filho mais velho diz:
"Parecia tão bem, esse filho mais velho! Sim, mas não basta parecer, é
necessário ser: e nem sempre se é o que se parece ser".
Católico, a
misericórdia de Deus é tão grande que escapa a compreensão do homem: e
este é o caso do filho mais velho, que considera excessivo o amor do
pai para com o filho mais novo, a sua inveja não o deixa compreender
as manifestações de amor que o pai mostra ao recuperar o filho
perdido, nem compartilhar a alegria da família.
Por outro lado,
devemos considerar que se Deus tem compaixão dos pecadores, quanto
mais terá dos que se esforçam por permanecer fiéis a Ele, como escreve
Santa Teresa do Menino Jesus: "Por que, pois
temer? O bom Deus, infinitamente justo, que se dignou perdoar com
tanta misericórdia as culpas do filho pródigo, não será também justo
comigo que estou sempre junto d'Ele?"
Em Lc 15, 31-32 diz:
"Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre
comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e
nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver;
ele estava perdido e foi reencontrado!"
No versículo 31 o
pai corrige a impropriedade da linguagem do mais velho:
"Filho, tu estás sempre comigo". Sempre
te tratei como filho. Minha alegria era ver-te perto de mim. O Cônego
Duarte Leopoldo diz: "Sempre bom, ouve o pai,
cheio de doçura, as queixas do filho mais velho. Ele o ama também, e
muitíssimo, pois toda a sua fortuna lhe pertence sem reserva. Mas não
é possível conter a alegria sensível que experimenta ao ter recuperado
o filho perdido. Assim ama Novo Senhor ao justo que sempre lhe
permanece fiel, e a sua alegria pela conversão do pecador em nada
diminui os privilégios da alma inocente e pura".
No versículo 32 o
pai continua a falar ao filho mais velho, que está irritado e
carrancudo: "... era preciso que nos
festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e
tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado".
Católico, que
contradição entre o coração magnânimo do Pai e a mesquinhez do filho
mais velho! É a imagem do justo que se torna cego a ponto de não
compreender que servir a Deus e gozar da sua amizade e presença é uma
festa contínua, que, no fundo, servir é reinar.
Deus espera de nós
uma entrega alegre, sem tristeza, pois: "Deus
ama aquele que dá com alegria" (2 Cor 9, 7).
Católico, os
pecadores que escutavam a Jesus Cristo partiram especialmente
contentes e reconfortados para as suas casas, com desejos de voltar à
casa paterna. Entenderam bem o que o Mestre queria dizer na parábola.
Pe. Divino Antônio
Lopes FP.
Anápolis, 11 de
setembro de 2007
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