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          O FILHO PRÓDIGO 
          
          (Lc 15, 
          11-32) 
            
          
          "11 
          Disse ainda: 'Um homem tinha dois filhos. 
          12 
          O mais jovem disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me 
          cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 
          13 
          Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais 
          jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa 
          vida devassa. 14 
          E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a 
          passar privações. 15 
          Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou 
          para seus campos cuidar dos porcos. 
          16 
          Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas 
          ninguém lhas dava. 
          17 E caindo 
          em si, disse: 'Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu 
          aqui, morrendo de fome! 
          18 
          Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o 
          Céu e contra ti; 19
          já não sou digno de 
          ser chamado teu filho. Trata-me como um dos seus empregados'. 
          20 
          Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai 
          viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, 
          cobrindo-o de beijos. 21 
          O filho, então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já 
          não sou digno de ser chamado teu filho'. 
          22 Mas o pai 
          disse aos seus servos: 'Ide depressa, trazei a melhor túnica e 
          revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
          23 
          Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, 
          24 pois este 
          meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi 
          reencontrado!' E começaram a festejar. 
          25 Seu filho 
          mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu 
          músicas e danças. 26 
          Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. 
          27 Este lhe 
          disse: 'É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, 
          porque o recuperou com saúde'. 28 
          Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para 
          suplicar-lhe. 29 Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais 
          transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito 
          para festejar com meus amigos. 30 
          Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e 
          para ele matas o novilho cevado!' 31 Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás 
          sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 
          32 Mas era 
          preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão 
          estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!" 
            
          
            
            
          
          Em Lc 15, 11-13 diz:
          "Disse ainda: 'Um homem tinha dois filhos, O 
          mais jovem disse ao Pai: ' Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. 
          E o pai dividiu os bens entre eles, Poucos dias depois, ajustando 
          todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região 
          longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa". 
          
          Estamos perante uma 
          das parábolas mais belas de Jesus Cristo, em que nos é ensinado uma 
          vez mais que Deus é um Pai bom e compreensivo, como está em 2 Cor 1, 
          3: "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor 
          Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação". 
          
          No versículo 11 diz:
          "Um homem tinha dois filhos". Esse 
          homem é Deus. O Cônego Duarte Leopoldo escreve:
          "O pai de família é Deus", e João Paulo 
          II diz: "O pecado, tão detalhadamente descrito 
          na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao 
          menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu 
          amor", e São Josemaria Escrivá também diz:
          "Recordemos a parábola do filho pródigo, que 
          Jesus nos contou para que entendêssemos o amor do Pai que está nos 
          céus". 
          
          No versículo 12 diz 
          que o filho mais jovem pediu ao Pai a parte da herança que lhe cabia. 
          E o pai dividiu os bens entre eles. 
          
          O filho mais jovem 
          que pede ao Pai a parte da sua herança é figura do homem pecador que 
          se afasta de Deus por causa do pecado. O Cônego Duarte Leopoldo 
          escreve: "Diz o Evangelho que este filho era o 
          mais moço, porque o pecador é leviano, inconstante e irrefletido como 
          a mocidade".  
          
          A herança, segundo o 
          Cônego Duarte Leopoldo, "... são os dons 
          naturais e sobrenaturais, os bens da alma e do corpo", e João 
          Paulo II escreve: "Este filho, que recebe do 
          pai a parte da herança que lhe toca e deixa a casa paterna para 
          esbanjar essa herança numa terra longínqua 'vivendo dissolutamente,' 
          em certo sentido é o homem de todos os tempos, a começar por aquele 
          que foi o primeiro a perder a herança da graça e da Justiça original. 
          Neste ponto a analogia é muito vasta. Indiretamente a parábola 
          estende-se a todas as rupturas da aliança de amor: a toda a perda da 
          graça e todo o pecado". 
          
          No versículo 13 diz 
          que o filho mais jovem partiu para uma terra longínqua, e ali dissipou 
          sua herança numa vida devassa. 
          
          O filho mais novo 
          quer ser feliz a seu modo, por sua conta, sem contar com o seu pai, e 
          por isso abandona-o e parte para um país longínquo. O Pe. Francisco 
          Fernándes-Carvajal escreve: "Para o judeu, um 
          país longínquo era a terra de gentios e pagãos. O egoísmo toma a 
          dianteira ao amor: nisso consiste o pecado. E o pai não quis retê-lo à 
          força", e o Cônego Duarte Leopoldo escreve:
          "Essa região longínqua é o país do pecado, 
          para onde se retira o pecador a fim de não mais ouvir a voz de seu 
          Pai, as suas recriminações, os seus sábios conselhos. O pecador não 
          quer ser importunado; sedento de liberdade, da liberdade do vício, 
          dissipa no esquecimento de Deus e da sua fé, toda a sua fortuna de 
          graças - primeiro a graça santificante, depois as virtudes de uma 
          educação cristã, a inteligência, o brio, o pudor, muitas vezes o seu 
          dinheiro e quase sempre a saúde", e o Pe. João Colombo também 
          escreve: "Fora do olhar paterno, sem freio e 
          sem comedimento, o filho mais novo cometeu todas as torpezas e 
          satisfez o capricho de todas as paixões". 
          
          No versículo 13 diz ainda: "... o filho dissipou os seus bens".
          Estas palavras revelam um 
          sentido quando o pecador é cristão, pois seria inexato afirmar que 
          todas as obras do pecador são más. Muitos pecadores têm uma conduta 
          exterior irrepreensível. Há muitos que praticam o bem. Suas obras não 
          são todas más. Mas são desperdiçadas, perdem-se para o céu, pois o 
          mérito sobrenatural é inerente ao estado de graça. O Monsenhor Georges 
          Chevrot escreve: "Essa fortuna que o cristão 
          dissipa é a sua parte na herança do próprio Deus. O cristão pecador já 
          não é senão um ramo separado do tronco. Ao sair da casa paterna, o 
          filho mais novo leva consigo a sua liberdade: leva-lhe o cadáver". 
          
          Em Lc 15, 14-16 diz:
          "E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma 
          grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se 
          com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar 
          dos porcos. 'Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos 
          comiam, mas ninguém lhas dava". 
          
          No versículo 14 diz 
          que o filho pródigo gastou tudo, e o mesmo começou a passar fome. Ele 
          foi buscar a liberdade no mundo, mas encontrou a escravidão, deixou a 
          casa paterna, para tornar-se escravo de mundo. O filho mais moço, ao 
          sair de casa prometia a si mesmo coisas muito felizes fora dos limites 
          da fazenda, mas começou a passar fome. A satisfação acabou-se 
          depressa! Veio a seguir a solidão e a indignidade. João Paulo II 
          escreve: "Vem a solidão e o drama da dignidade 
          perdida, a consciência da filiação divina deitada a perder". 
          
          Está claro que 
          aquele que joga Deus fora vive no vazio e na miséria, como escreve 
          Santo Afonso Maria de Ligório: "Perdido Deus, 
          tudo está perdido". 
          
          Neste momento da 
          parábola, vemos as tristes consequências do pecado. Com essa fome, 
          fala-nos da ansiedade e do vazio que sente o coração do homem quando 
          está longe de Deus: pelo pecado o homem perde a liberdade dos filhos 
          de Deus e submete-se ao poder de Satanás. O cônego Duarte Leopoldo 
          diz: "No país do pecado, nessa região 
          longínqua do esquecimento de Deus, nunca deixa de haver fome, esse 
          vazio imenso de uma alma a quem tudo falta, quando lhe falta Deus. E o 
          pecador padece então os horrores da indigência: nada há que lhe possa 
          matar a fome devoradora". 
          
          Aquele que abandona 
          o caminho de Deus para seguir as máximas do mundo, viverá mergulhado 
          no vazio e na tristeza, a exemplo do filho pródigo. Somente em Deus 
          encontrara-se a verdadeira felicidade, como escreve Santa Teresa dos 
          Andes: "Deus é o único Bem que nos pode 
          satisfazer... Encontro tudo nele". 
          
          No versículo 15 diz 
          que o filho pródigo foi pedir emprego a um senhor daquela região, e 
          ele o mandou cuidar dos porcos. O Cônego Duarte Leopoldo diz:
          "O dono da fazenda é o demônio: os porcos são 
          as paixões. Sob a tirania de um senhor sem entranhas, o pecador 
          apascenta em seu coração um rebanho de paixões imundas. Um sem número 
          de pensamento de crime grunhem dentro do seu coração, pedindo-lhe 
          pasto e alimento". 
          
          Está claro que o 
          filho pródigo teve que dedicar-se a guardar porcos, a pior das 
          humilhações para um judeu. O porco era um animal impuro para os judeus 
          e para outros povos do antigo Oriente. 
          
          Sobre o versículo 
          15, João Paulo II escreve: "Mas esta fuga de 
          Deus tem como consequência para o homem uma situação de confusão 
          profunda sobre a sua própria identidade, ao lado de uma amarga 
          experiência de empobrecimento e desespero ... o filho pródigo, depois 
          de tudo, começou a passar necessidade e viu-se obrigado , ele, que 
          tinha nascido em liberdade, a servir um dos habitantes daquela região". 
          
          No versículo 16 diz 
          que ele queria matar a fome com a comida dos porcos, mas ninguém lhas 
          dava. 
          
          Veja só o que 
          acontece com a pessoa que abandona a Deus; a mesma vive só e 
          amargurada. 
          
          O patrão do filho 
          pródigo foi um duro senhor, que nem sequer lhe permitia saciar-se com 
          a comida que os porcos comiam. O filho procurava conquistar a 
          liberdade, mas ficou submetido a um duro tirano. Está claro que a 
          liberdade está ligada ao amor e não ao pecado: 
          "... quem comete pecado, é escravo do pecado" 
          (Jo 8,34). 
          
          O Cônego Duarte 
          Leopoldo escreve: "As bolotas, alimento dos 
          porcos, simbolizam os crimes, os pecados de que se alimenta o pecador. 
          Devora-o a fome do vício; tudo lhe serve, ainda o que há de mais 
          desprezível; a tudo se atira faminto e desesperado, mas... a tanto 
          chegou a sua degradação que já nem esse alimento lhe é concedido para 
          satisfazer o apetite de pecado", e: 
          "Aquele filho fugido de uma casa rica guardava os porcos e tinha fome: 
          às escondidas estendia as mãos ao cocho... Desejava encher a barriga 
          com a comida dos porcos, e ninguém lhas dava, nem sequer um punhado"
          (Pe. João Colombo), e 
          também: "Os críticos, incapazes de respeitar 
          uma obra-prima, pensam que esta sequência da parábola é forçada. Que 
          ajudante de fazenda, dizem eles, não teria nesse caso um pouco de 
          bolotas da ração dos porcos a fim de alimentar-se a si próprio? Não há 
          dúvida, mas isso seria não perceber a intenção do narrador. Cristo 
          quer fazer-nos tocar com o dedo a horrível solidão do pecador.
          Caiu abaixo dos animais que guarda. O 
          proprietário preocupa-se com a alimentação dos seus porcos, mas 
          ninguém se ocupa dele, ninguém pensa em dar-lhe de comer. Para o 
          patrão, a gordura de seus porcos é mais preciosa do que a vida de seu 
          empregado. O filho pródigo é abandonado por todos" 
          (Monsenhor Georges Chevrot). 
          
          Católico, como você 
          tem coragem de abandonar a Deus para seguir o mundo? Lembre-se de que 
          o mundo é um palhaço assassino que atrai para matar. Você chama essas 
          pessoas que te cercam de amigo: será que as mesmas te ajudarão nas 
          horas de dificuldades? Cuidado, o coração do homem é um abismo e cheio 
          de falsidade. 
          
          Em Lc 15, 17-19 diz:
          "E caindo em si, disse: 'Quantos empregados de 
          meu pai tem pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me 
          embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e 
          contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um 
          dos teus empregados". 
          
          O versículo 17 diz 
          que o filho "caiu em si"; longe da casa 
          paterna, sente fome. E a sua miséria não parece ter fim, longe do Pai 
          encontrou somente vazio e decepção. Então, 
          "caindo em si", decidiu-se a iniciar o caminho do regresso. 
          Pensou de novo as coisas. Assim começa também toda a conversão, todo o 
          arrependimento: caindo em si, fazendo uma paragem, considerando aonde 
          o levou a sua má aventura desde que saiu da casa paterna até à 
          lamentável situação em que agora se encontra. 
          
          E você católico, já 
          caiu em si ou vai continuar vivendo no chiqueiro do mundo inimigo de 
          Deus e do Evangelho? É preciso parar e voltar para Deus enquanto é 
          tempo: "Procurai o Senhor enquanto pode ser 
          achado" (Is 55, 6). 
          
          O filho pródigo
          "caiu em si". O Cônego Duarte Leopoldo 
          diz: "Aqui, a cena se transforma. A dor, o 
          sofrimento é muitas vezes a voz de Deus que nos chama", e:
          "Não há dúvida de que, ao entrar em si, o 
          filho vê em primeiro lugar e quase que exclusivamente a sua miséria. 
          Ainda não enxerga a malícia do pecado: ainda é cedo para isso. Vê-la-á 
          mais tarde. Agora vê somente a sua indigência e o seu sofrimento: 
          Morro de fome. Não compreendemos a gravidade do pecado senão depois de 
          nos termos convertido e, muitas vezes, vários anos depois de 
          convertidos" (Monsenhor Georges Chevrot). 
          
          No versículo 17 diz 
          ainda: "Quantos empregados de meu Pai tem pão 
          com fartura, e eu aqui, morrendo de fome".  
          
          O Cônego Duarte 
          Leopoldo diz: "Quantos não tinham, como eu, os 
          mesmos direitos ao amor de Deus, que não tinham recebido tantas 
          graças, tantos benefícios, que eram mais pobres, mais doentes, que 
          tinham menos luzes, quantos gozam da abundância das consolações da 
          graça, e eu morro de fome ao serviço do demônio, apascentando os 
          animais imundos!" 
          
          No versículo 18 diz 
          que o filho pródigo resolveu procurar o seu pai e dizer-lhe: Pai, 
          peguei contra o céu e contra ti. 
          
          O Pe. Francisco 
          Fernández-Carvajal diz: "O filho pródigo 
          resolve desandar o andado... resolve voltar". 
           
          
          O filho continua com 
          saudades do bem-estar que tem os servos na casa de seu Pai, e pouco a 
          pouco adquirem força na sua alma outros sentimentos: o calor do lar, a 
          recordação insistente do rosto do seu pai e o carinho filial. A dor 
          torna-se mais nobre e mais sincera aquela frase preparada: Pai, pequei 
          contra o Céu e contra ti. São Josemaria Escrivá comenta:
          "De certo modo, a vida humana é um constante 
          regresso à casa do Pai por meio do sacramento do perdão", e:
          "O arrependimento sincero, a verdadeira 
          contrição é sempre seguida do bom propósito, de resoluções firmes e 
          enérgicas"  
          (Cônego Duarte Leopoldo). 
          
          No 
          versículo 19 diz: "Já 
          não sou digno de ser chamado seu filho. Trata-me como um dos teus 
          empregados". 
          
          Ainda existe a casa de que ele fugiu para tão longe... Ainda existe 
          o seu pai. Ele já não pode dizer-se seu filho. Tornou-se indigno de 
          lhe usar o nome, mas seu pai não mudou... esse pai que por excesso 
          de bondade não tentou retê-lo, esse pai cujo coração ele despedaçou e 
          cujos bens dissipou, a quem afligiu e desonrou. O filho pródigo 
          arruinou-se, perdeu tudo. Ninguém estendeu a mão para socorrê-lo, 
          todos lhe deram as costas sem piedade. Nada mais lhe restava no mundo 
          a não ser esse pai cujo carinho ele retribuiu com o mal. 
          
          Católico, não se 
          desespere diante das suas fraquezas e ingratidões; lembre-se de que 
          existe um Pai que está pronto para perdoar um coração arrependido:
          "Deus espera o pecador, afim de que se 
          arrependa e desse modo lhe perdoe e o salve" (Is 30, 18). 
          
          Em Lc 15, 20-21 diz:
          "Partiu, então, e foi ao encontro do Pai. Ele 
          estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, 
          correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, 
          então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou 
          digno de ser chamado teu filho". 
          
          Quando o filho 
          decide regressar à casa paterna e trabalhar na fazenda como um servo, 
          o pai, profundamente comovido ao ver as condições em que retorna, 
          corre ao seu encontro e demonstra-lhe prodigamente o seu amor: 
          Lançou-lhe os braços ao pescoço e cobriu-o de beijos. Acolhe como 
          filho imediatamente. São Josemaría Escrivá diz:
          "Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se 
          descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos 
          homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos 
          calar e temos de dizer-lhe com São Paulo: Abba, Pai! Pai, meu Pai!, 
          porque, sendo Ele o Criador do universo, não se importa de que não o 
          tratemos com títulos altissonantes, nem reclama a devida confissão do 
          seu poder. Quer que lhe chamemos Pai, que saboreemos essa palavra, 
          deixando a alma inundar-se de alegria", e:
          "A misericórdia de Deus sai  ao encontro  do 
          pecador, cai-lhe nos braços e dá-lhe o beijo da paz"
          (Cônego Duarte Leopoldo), e também:
          "O pai tem pressa de reconquistar o objeto da 
          sua ternura: joga-se ao pescoço do filho, aperta-o de encontro ao 
          peito, sem se importar com o odor de chiqueiro que exalam as suas 
          vestes sórdidas... o Pai aperta o filho em seus braços e cobre-o de 
          beijos" (Monsenhor Georges Chevrot). 
          
          Muitas pessoas se 
          desesperam diante de seus pecados; dizem que não serão mais perdoados 
          por Deus, que já está tudo perdido, que já estão condenadas... e 
          assim, perdem a fé, deixam a oração, os sacramentos e outras cometem o 
          suicídio. Esta não é a solução. Nada de desespero! Confie em Deus, 
          arrependa de seus pecados e Ele te perdoará, como escreve Santo 
          Afonso: "Deus chega até a assegurar que, 
          quando o pecador se arrepende, ele risca da memória as ofensas, como 
          se nunca houvessem existido", e o mesmo santo ainda diz:
          "Logo que nos arrependemos, Deus nos responde 
          prontamente e logo nos perdoa". 
          
          No versículo 21 diz 
          que o pai correu ao encontro do filho. Sabemos que Deus ama o filho 
          que está arrependido; com certeza Ele lançará sobre o mesmo o laço da 
          sua misericórdia, como escreve São João da Cruz:
          "Tu, Senhor, voltas com alegria e amor a 
          levantar o que te ofende..." 
          
          Em Lc 15, 22 diz:
          "Mas o pai disse aos seus servos: 'Ide 
          depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um 
          anel no dedo e sandálias nos pés". 
          
          O pai pediu que lhe 
          vestisse com a melhor túnica. A túnica representa para Santo Agostinho 
          a veste da graça santificante, que perderam Adão e Eva (encontraram-se 
          nus), e que não tinham aquele que foi rejeitado nas bodas do grande 
          Rei (Mt 22, 11). 
          
          O Pai disse:
          "... ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos 
          pés". Com o anel é-lhe devolvido o poder de selar, é-lhe 
          devolvido a autoridade e todos os direitos; as sandálias declaram-no 
          homem livre, porque os escravos andavam descalços. Santo Agostinho 
          escreve: "O vestido mais precioso converte-o 
          em hóspede de honra, o anel devolve-lhe a dignidade perdida, as 
          sandálias declaram-no livre", e João Paulo II diz:
          "O amor paterno de Deus inclina-se para todos 
          os filhos pródigos, para qualquer miséria humana, especialmente para a 
          miséria moral. Então, aquele que é objeto da compaixão divina 'não se 
          sente humilhado, mas reencontrado e revalorizado". 
          
          O pai devolveu tudo 
          ao filho arrependido. Na confissão, através do sacerdote, Deus 
          devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a 
          dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o 
          arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que 
          aquele em que estávamos anteriormente. 
          
          Em Lc 15, 23-24 diz:
          "Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e 
          festejemos, pois esse meu filho estava morto e tornou a viver; estava 
          perdido e foi reencontrado!' E começou a festejar". 
          
          No versículo 23 fala 
          sobre a festa, tendo como comida, o novilho cevado. O Cônego Duarte 
          Leopoldo diz: "Os judeus usavam de carne muito 
          raramente. O banquete em que se servia um novilho e dos melhores do 
          rebanho, indicava bem a alegria que reinava na casa", e:
          "Dá nossa miséria tira riqueza; da nossa 
          debilidade, fortaleza. O que não nos há de preparar então, se não o 
          abandonamos, se frequentamos a sua companhia todos os dias, se lhe 
          dirigimos palavras de carinho confirmadas com as nossas ações, se lhe 
          pedimos tudo, confiados na sua onipotência e na sua misericórdia? Se 
          prepara uma festa para o filho que o traiu, só por tê-lo recuperado, o 
          que não nos outorgará a nós, se sempre procuramos ficar a teu lado?" 
          
          E no versículo 24 
          diz: "... meu filho estava morto e tornou a 
          viver; estava perdido e foi reencontrado". 
          
          O Monsenhor Georges 
          Chevrot escreve: "O filho pródigo entende 
          enfim donde é que volta... só agora é que está convertido. Não estava 
          convertido quando morria de fome. Não estava convertido quando sofria 
          no caminho do retorno. É nos braços de seu pai que se realiza a sua 
          conversão". 
          
          O filho pródigo 
          está convertido, não deve mais falar-lhe da sua ingratidão passada nem 
          da sua conduta indigna: que nunca mais a mencione! Ele não tem outra 
          coisa a fazer senão deixar-se amar e nunca mais abandonar seu pai. 
          Ele, o filho pródigo foi encontrado, estava morto e tornou á vida. 
          
          Católico, se você 
          está morto espiritualmente, isto é, com o pecado mortal na alma, se 
          está vivendo longe de Deus, percorrendo o caminho largo das paixões e 
          do vício, arrependa-se de seus pecados, procure um sacerdote e faça 
          uma sincera confissão, e com certeza a sua volta para os braços do Pai 
          será festejada: "Se consegue achá-la, em 
          verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e 
          nove que não se extraviaram" (Mt 18,13). 
          
          Você sabe que Deus é 
          rico no perdão: "... Deus é rico em 
          misericórdia" (Ef 2,4), 
          por isso, não abuse de Sua misericórdia: 
          "Judas se condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência 
          de Jesus Cristo" 
          (São João 
          Crisóstomo), chore os seus 
          inúmeros pecados e aproxime de Deus com sinceridade, e Ele te 
          perdoará: "... coração contrito e esmagado, ó 
          Deus, tu não desprezas" (Sl 50,19). 
          
          Em Lc 15, 25-27 diz:
          "Seu filho mais velho estava no campo. Quando 
          voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, 
          perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: 'É teu irmão 
          que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com 
          saúde". 
          
          Quando a parábola 
          parece ter terminado, surge um novo personagem: o filho mais velho. No 
          versículo 25 diz que ele estava voltando do campo e perto da casa 
          ouviu músicas e danças. Era justamente a festa pela volta de seu irmão 
          mais novo, que estava morto e tornou a viver; que estava perdido e foi 
          reencontrado. 
          
          Nos versículos 26 e 
          27, ele pergunta o porquê da festa e o servo informa-o de que estão 
          celebrando o retorno do irmão mais novo, que chegou esfarrapado, que 
          finalmente voltou. 
          
          Nós católicos, que 
          acreditamos na misericórdia de Deus, precisamos acolher com alegria as 
          pessoas que desejam com sinceridade aproximarem de Deus, e devemos 
          festejar a volta das mesmas para os braços do Pai Eterno. 
          
          Se o filho pródigo 
          voltou para a casa paterna, com certeza, ele não encontrou paz e amor 
          no mundo; porque se o mundo inimigo de Deus fosse um mar de paz e de 
          amor, com certeza todos os mundanos seriam santos canonizados. 
          
          Em Lc 15, 28 diz:
          "Então ele ficou com muita raiva e não queria 
          entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe". 
          
          Católico, com 
          certeza o filho mais velho era fiel ao pai. Trabalhava até o cair da 
          noite; quando, segundo a narrativa, a festa já se tinha iniciado, ele 
          ainda estava voltando do campo; mas como está no versículo 28, ele 
          ficou sabendo do motivo da festa, se irritou e não queria entrar, não 
          queria festejar a volta de seu irmão mais novo. O Monsenhor Georges 
          Chevrot escreve: "As mais belas virtudes 
          empalidecem aos olhos de Deus quando a pessoa se orgulha das suas 
          virtudes. E ele não quis entrar. Já não se sente em casa, naquela casa 
          em que se canta e se dança para participar da alegria do pai... Como é 
          grave que este filho obediente se torne incapaz de amar!... esse filho 
          que sempre obedeceu, acaba por contrariar o amor de seu pai". 
          Em 1 Jo 4,20 diz: "Se alguém disser: 'Amo a 
          Deus', mas odeia o seu irmão, é um mentiroso". 
          
          Eis, portanto, o 
          véu que nos esconde Deus, que nos impede de aproximarmos d'Ele: o 
          nosso terrível egoísmo, o nosso insuportável amor-próprio, esse eu 
          para o qual nos voltamos a toda a hora, o egoísmo que levou o filho  
          mais novo a deixar a casa paterna, o egoísmo que impediu o mais velho 
          de nela entrar... 
          
          Sobre o 
          aborrecimento do filho mais velho, escreve Santo Agostinho:
          "O canto, a alegria e a festa não te moveram o 
          coração? O banquete do novilho gordo não te fez pensar? Ninguém te 
          exclui. Tudo em vão: o servo fala, mas o aborrecimento persiste, e ele 
          não quer entrar". 
          
          Hoje, infelizmente, 
          em muitas dioceses e paróquias, existem milhares de discípulas do 
          filho mais velho; são principalmente senhoras desocupadas, que andam a 
          bisbilhotar a vida de todos aqueles que entram na igreja; as mesmas 
          atiram pedras e agem com azedume contra aquelas pessoas que antes 
          viviam nas trevas e que agora estão se aproximando de Deus. Essas 
          senhoras se julgam o anjo do Apocalipse, sentam em lugares reservados, 
          sempre duas a duas, apontam os dedos e balançam a cabeça 
          continuamente. Para essas senhoras, ninguém se arrepende nem merece a 
          salvação, somente elas são as santinhas imaculadas. 
          
          O pai possui um 
          coração cheio de compaixão e amor; preparou uma grande festa para o 
          filho que havia se convertido, e agora suplica ao filho mais velho que 
          faça parte da mesma. 
          
          Em Lc 15, 29-30 diz:
          "Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos 
          anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos seus mandamentos, 
          e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, 
          veio esse seu filho, que devorou teus bens com prostitutas e para ele 
          matas o novilho cevado!" 
          
          No versículo 29 o 
          filho mais velho desabafa com o pai dizendo: 
          "Há tantos anos te sirvo... jamais transgredi um só dos seus 
          mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar..." 
          
          Era verdade o que o 
          filho mais velho dizia, e o pai não o contradiz. O Monsenhor Georges 
          Chevrot escreve: "Em um instante, esse modelo 
          de obediência mostra-se ambicioso, invejoso, avarento, mau e duro". 
          
          O filho mais velho 
          disse: "Há tantos anos que te sirvo..." 
          É uma resposta que esconde mal toda uma série de mágoas 
          inconfessáveis. É como se ele dissesse: se me fosse possível voltar 
          atrás, não seria tão ingênuo... Aproveitaria ao máximo, como o mais 
          novo... Nunca reclamei do meu trabalho, estava fora todo o tempo, 
          trabalhei em dobro depois da partida do extraviado, para que a 
          produção agrícola não sofresse com a sua ausência, e tu não tiveste a 
          menor atenção comigo. Nunca me deste um cabrito sequer para que o 
          repartisse com os meus amigos, 
          
          No versículo 30, ele 
          mostra todo o seu desprezo para com o irmão mais novo quando diz:
          "... esse seu filho". 
          
          O filho mais velho 
          procura a palavra que pode ferir mais cruelmente o coração do pai. Ele 
          evita cuidadosamente dizer "meu irmão", 
          mas diz, "... esse seu filho", esse que 
          devorou os teus bens com as prostitutas, este que gastou nosso 
          dinheiro que ganhamos com tanto sacrifício. O Monsenhor Georges 
          Chevrot falando sobre o filho mais velho diz: 
          "Parecia tão bem, esse filho mais velho! Sim, mas não basta parecer, é 
          necessário ser: e nem sempre se é o que se parece ser". 
          
          Católico, a 
          misericórdia de Deus é tão grande que escapa a compreensão do homem: e 
          este é o caso do filho mais velho, que considera excessivo o amor do 
          pai para com o filho mais novo, a sua inveja não o deixa compreender 
          as manifestações de amor que o pai mostra ao recuperar o filho 
          perdido, nem compartilhar a alegria da família. 
          
          Por outro lado, 
          devemos considerar que se Deus tem compaixão dos pecadores, quanto 
          mais terá dos que se esforçam por permanecer fiéis a Ele, como escreve 
          Santa Teresa do Menino Jesus: "Por que, pois 
          temer? O bom Deus, infinitamente justo, que se dignou perdoar com 
          tanta misericórdia as culpas do filho pródigo, não será também justo 
          comigo que estou sempre junto d'Ele?" 
          
          Em Lc 15, 31-32 diz:
          "Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre 
          comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e 
          nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; 
          ele estava perdido e foi reencontrado!" 
          
          No versículo 31 o 
          pai corrige a impropriedade da linguagem do mais velho:
          "Filho, tu estás sempre comigo". Sempre 
          te tratei como filho. Minha alegria era ver-te perto de mim. O Cônego 
          Duarte Leopoldo diz: "Sempre bom, ouve o pai, 
          cheio de doçura, as queixas do filho mais velho. Ele o ama também, e 
          muitíssimo, pois toda a sua fortuna lhe pertence sem reserva. Mas não 
          é possível conter a alegria sensível que experimenta ao ter recuperado 
          o filho perdido. Assim ama Novo Senhor ao justo que sempre lhe 
          permanece fiel, e a sua alegria pela conversão do pecador em nada 
          diminui os privilégios da alma inocente e pura". 
          
          No versículo 32 o 
          pai continua a falar ao filho mais velho, que está irritado e 
          carrancudo: "... era preciso que nos 
          festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e 
          tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado". 
          
          Católico, que 
          contradição entre o coração magnânimo do Pai e a mesquinhez do filho 
          mais velho! É a imagem do justo que se torna cego a ponto de não 
          compreender que servir a Deus e gozar da sua amizade e presença é uma 
          festa contínua, que, no fundo, servir é reinar. 
          
          Deus espera de nós 
          uma entrega alegre, sem tristeza, pois: "Deus 
          ama aquele que dá com alegria" (2 Cor 9, 7). 
          
          Católico, os 
          pecadores que escutavam a Jesus Cristo partiram especialmente 
          contentes e reconfortados para as suas casas, com desejos de voltar à 
          casa paterna. Entenderam bem o que o Mestre queria dizer na parábola. 
            
			  
          
          Pe. Divino Antônio 
          Lopes FP. 
          
          Anápolis, 11 de 
          setembro de 2007 
            
			  
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