OS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO
(Is 11, 2)
"Sobre ele
repousará o espírito do Senhor, espírito de sabedoria e de
inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de
conhecimento e de temor do Senhor".
Os
dons do Espírito Santo são sete:
"1° Sabedoria; 2°
Entendimento; 3° Conselho; 4° Fortaleza; 5° Ciência; 6° Piedade; 7°
Temor de Deus. Os dons do Espírito Santo servem para nos confirmar na
Fé, na Esperança e na Caridade, e para nos tornar solícitos aos atos
das virtudes necessárias para conseguir a perfeição da vida crista"
(São Pio X, Catecismo Maior, 913 e 914).
O Pe.
Gabriel de Santa Maria Madalena escreve:
"Instruídos pelo Mestre e por
ele enviados a ser suas testemunhas no mundo, os apóstolos precisavam
aprofundar os ensinamentos recebidos e também de força e coragem para
praticá-los até as últimas consequências. Jesus completará e
aperfeiçoará a formação deles por meio de seu Espírito, o Espírito
Santo. De modo análogo, tal se dá com cada cristão. A boa vontade,
sustentada pela graça e pelas virtudes infusas, não é suficiente para
produzir os frutos de santidade que o Evangelho espera dos discípulos
de Cristo. Fica sempre uma desproporção a preencher, isto é, a do modo
de agir humano diante das exigências da santidade que é participação
da vida e da própria santidade de Deus! 'Sede perfeitos como é
perfeito vosso Pai celeste' (Mt 5, 48). Pode e deve o homem exercitar
as virtudes, mas estas, embora sobrenaturais, agem por meio das
faculdades naturais; a fé, por exemplo, o ilumina através da
inteligência que pode ser mais ou menos limitada; a caridade é
infundida nele através da vontade que pode ser mais ou menos dócil, e
assim por diante. O Espírito Santo, com seus impulsos, com seus dons,
ultrapassa as limitações congênitas do homem e nele infunde luz, amor,
força além de suas capacidades naturais. Então já não é o cristão que
toma as iniciativas de sua fé, de sua caridade e das outras virtudes;
é o Espírito Santo que as põe em ato diretamente, infundindo nele sua
luz e sua força: 'Sereis revestidos da força do alto' (Lc 24, 49). No
batismo, o cristão recebe, juntamente com a graça e as virtudes
infusas, os dons do Espírito Santo. Enquanto são as virtudes infusas,
princípios sobrenaturais que tornam a pessoa capaz de agir de modo
virtuoso e meritório em ordem à vida eterna, os dons são princípios
sobrenaturais que a tornam capaz de receber os auxílios do Espírito
Santo, de captar suas inspirações, seus impulsos, e capaz de os pôr em
prática. Compara Santo Tomás os dons às velas do barco; assim como
pode a barca, por meio das velas, ser movida e levada pelo vento,
assim pode a pessoa, por meio dos dons, ser movida e guiada pelo
Espírito Santo. Fica, deste modo, mais fácil e seguro o caminhar da
santidade"(Intimidade
Divina, 311).
Que é
a Sabedoria? "A
Sabedoria é um dom pelo qual nós, elevando o espírito acima das coisas
terrenas e frágeis, contemplamos as eternas, isto é, a Verdade, que é
Deus, no qual pomos nossa complacência, amando-O como ao nosso Sumo
Bem" (São Pio X,
Catecismo Maior, 915).
Existe um conhecimento de Deus e do que se refere a Ele a que só se
chega pela santidade:
"O Espírito Santo, mediante o dom da sabedoria, coloca-o ao alcance
das almas simples que amam o Senhor: Eu te glorifico, Pai, Senhor do
céu e da terra - exclamou Jesus diante de umas crianças -, porque
escondeste estas coisas aos sábios e prudentes e as revelaste aos
pequeninos. É uma sabedoria que não se aprende nos livros, mas que é
comunicada à alma pelo próprio Deus, que ilumina e ao mesmo tempo
cumula de amor a mente e o coração, a inteligência e a vontade; é um
conhecimento mais íntimo e saboroso de Deus e dos seus mistérios"
(Pe. Francisco Fernández-Carvajal), e: "Quando
temos na boca uma fruta, apreciamos o seu sabor muito melhor do que se
lêssemos as descrições que dela fazem todos os livros de Botânica. Que
descrição se pode comparar ao sabor que experimentamos quando provamos
uma fruta? Do mesmo modo, quando estamos unidos a Deus e o saboreamos
por íntima experiência, isso nos faz conhecer muito melhor as coisas
divinas do que todas as descrições que os eruditos e os livros dos
homens mais sábios possam dizer"
(L. M. Martinez, El Espíritu Santo, 6ª ed., Studium, Madrid, 1959,
pág. 201), e também:
"... a sabedoria
envolve toda a vida do cristão, ensinando-o a ver Deus em todas as
coisas e todas as coisa em Deus. É um saber, um julgar, todo segundo
Deus; portanto, não segundo os critérios humanos, mas segundo os
critérios divinos. É a sabedoria anunciada pelos Apóstolos: 'Uma
sabedoria não deste mundo... uma sabedoria envolta em mistério,
revelada 'mediante o Espírito', fruto de seus 'ensinamentos'
interiores; sabedoria que 'o homem natural não compreende' porque as
coisas de Deus se julgam só por meio do Espírito' (1 Cor 2, 6-14)"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 320).
Iluminados pelo dom da Sabedoria, os santos entenderam no seu
verdadeiro sentido os acontecimentos desta vida: tanto os que
consideramos grandes e importantes como os aparentemente pequenos. Por
isso, não chamaram desgraça a doença e as tribulações que tiveram que
sofrer; compreenderam que Deus abençoa de muitas maneiras, e
frequentemente com a Cruz; sabiam que todas as coisas, mesmo aquelas
que são humanamente inexplicáveis, cooperam para o bem dos que amam a
Deus: "As inspirações
do Espírito Santo, que este dom faz acolher com docilidade,
esclarecem-nos pouco a pouco sobre a ordem admirável do plano
providencial, mesmo e precisamente naquelas coisas que antes nos
deixavam desconcertados, nos casos dolorosos e imprevistos, permitidos
por Deus em vista de um bem superior" (R.
Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, 4ª ed.,
Palabra, Madrid, 1983, pág. 82).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"Através do dom da sabedoria,
as moções da graça trazem-nos uma grande paz, não somente para nós,
mas também para o nosso próximo; ajudam-nos a semear alegria onde quer
que estejamos e a encontrar a palavra oportuna que ajuda a
reconciliarem-se os que estão desunidos. É por isso que este dom está
em correspondência com a bem-aventurança dos pacíficos, daqueles que,
tendo paz em si mesmos, podem comunicá-la aos outros. Esta paz, que o
mundo não pode dar, é o resultado de se verem os acontecimentos dentro
do plano providente de Deus, que em momento algum se esquece dos seus
filhos. O dom da Sabedoria concede-nos uma fé amorosa, penetrante, uma
clareza e segurança absolutamente insuspeitadas na compreensão do
mistério inabarcável de Deus. Assim, por exemplo, a presença real de
Jesus Cristo no Sacrário produz em nós uma felicidade inexplicável por
nos acharmos diante de Deus",
e: "Vossa sabedoria, ó
Verbo, é como aquela sarça que mostrastes a Moisés, que arde e não se
consome... Aborrece esta sabedoria os que procuram e vão atrás da
sabedoria humana, que perante Deus é estultícia... Aborrece também
esta sabedoria quem se priva da união convosco, pois quem vos ofende
vos perde e de perde... Que fazeis vós, ó sabedoria do meu Verbo?
Exaltais a alma e a despenhais no abismo; edificais e lançais por
terra o edifício; sempre gemeis e cantais, vigiais e dormis, caminhais
e jamais vos moveis; sabedoria que tendes em vós todos os tesouros e
longe estais de toda estultícia... Como conquistaremos esta sabedoria?
Conquista-la-emos com uma iluminada inteligência do ser de Deus, com
um contínuo afeto e desejo de Deus em Deus. E quem aqui chegou
conquistou a complacência da sabedoria. Experimenta-a quem a saboreia;
e a entende quem nada sabe. Oh! Por que não andamos nós constantemente
em contínuo movimento para adquirir esta sabedoria? Ó sabedoria,
estabelecestes os céus que estão sempre em movimento, glorificais os
espíritos angélicos e humanos, saciais as esposas do Verbo, dais poder
aos seus Cristos; confundis toda sabedoria terrena e exaltais toda
ignorância, verificais toda verdade e confundis toda mentira. Ó
sabedoria, sois a coroa da Igreja, vossa espera, e a riqueza da alma,
vossa esposa" (Santa
Maria Madalena de Pazzi, Colóquios, Op., v. 3, pp. 170-171).
Que é
o Entendimento? "O
Entendimento é um dom pelo qual nos é facilitado, quanto possível a um
homem mortal, a inteligência das verdades da Fé e dos divinos
mistérios, os quais não podemos conhecer com as luzes naturais da
nossa razão" (São
Pio X, Catecismo Maior, 916).
Mediante o dom do Entendimento, o Espírito Santo faz a alma penetrar
de muitas maneiras nos mistérios revelados. De uma forma sobrenatural
e portanto, gratuita, ensina no íntimo do coração o alcance das
verdades mais profundas da fé:
"É como se alguém, sem ter
aprendido nem trabalhado nada para saber ler, nem estudado coisa
alguma, se visse na posse de toda a ciência, sem saber como e donde
lhe veio, pois jamais se esforçou sequer por aprender o abecedário.
Esta última comparação parece-me explicar em parte este dom celestial,
porque, de um momento para outro, a alma se vê tão instruída no
mistério da Santíssima Trindade e em outras coisas muito subidas, que
não há teólogo com quem não se atreva a discutir sobre a verdade
dessas grandezas"
(Santa Teresa de
Jesus, Vida, 27, 8-9).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"O dom do entendimento leva a
captar o sentido mais profundo da Sagrada Escritura, a vida da graça,
a presença de Cristo em cada sacramento e, de uma maneira real e
substancial, na Sagrada Eucaristia. É um dom que confere como que um
instinto divino para o que há de sobrenatural no mundo. Ante o olhar
daquele que crê, iluminado pelo Espírito Santo, surge um universo
totalmente novo. Os mistérios da Santíssima Trindade, da Encarnação,
da Redenção, da Igreja, convertem-se em realidades extraordinariamente
vivas e atuais, que orientam toda a vida do cristão e influem
decisivamente no seu trabalho, na família, nos amigos... Chega-se a
ver Deus no meio das tarefas habituais, nos acontecimentos agradáveis
ou dolorosos da vida diária. O caminho para chegarmos à plenitude
deste dom é a oração pessoal, em que contemplamos as verdades da fé,
bem como a luta, alegre e amorosa, por manter-nos na presença de Deus
ao longo do dia. Não se trata de uma ajuda sobrenatural
extraordinária, reservada a pessoas muito excepcionais, mas de um dom
que o Senhor concede a todos aqueles que queiram ser-lhe fiéis no
lugar em que se encontram, santificando as suas alegrias no lugar em
que se encontram, santificando as suas alegrias e dores, o seu
trabalho e o seu descanso",
e: "Ao Espírito Santo é atribuído, de modo particular, o papel de
iluminar os fiéis no sentido profundo do Evangelho, de toda a
Revelação, dos mistérios divinos; verdades todas que transcendem a
mente humana. Embora possuindo a fé, procede o homem sempre por meio
de idéias, de conceitos que, por serem limitados, são insuficientes
para exprimir as realidades divinas. A própria Revelação chega ao
homem por meio de palavras humanas, incapazes, portanto, de manifestar
a íntima essência de Deus e das verdades reveladas. Sustentado somente
pela fé, o cristão tem de contentar-se com um conhecimento mormente
externo e obscuro dos mistérios; sabe com certeza que foram revelados
por Deus, aceita-os e adere a eles com todas as forças, mas não lhe
capta o sentido profundo. Quando, ao contrário, intervém o influxo do
Espírito de verdade, o fiel recebe uma inteligência penetrante: intui
que em Deus e nos seus mistérios há algo de imensamente mais profundo
e sublime do que possa ele compreender; e tão viva é esta intuição
que, embora não a podendo exprimir, dá-lhe um conhecimento totalmente
novo dos mistérios divinos. Nada de novo é acrescentado aos dados da
Revelação, mas são estes iluminados por dentro e assim são percebidos
de modo antes desconhecido. O Espírito Santo, mediante seus dons,
quase parece rasgar o véu das proposições, dos conceitos humanos e
permitir ao fiel lançar rápido, mas penetrante olhar na substância dos
mistérios. Os mistérios da Santíssima Trindade, da Encarnação, da
Redenção, da Igreja deixam de ser verdades abstratas e se tornam
realidades vivas e vitais, atuais e familiares que invadem e orientam
toda a vida do cristão"
(Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 317).
Que é
o Conselho? "O
Conselho é um dom pelo qual, nas dúvidas e incertezas da vida humana,
conhecemos o que mais convém à glória de Deus, à nossa salvação e à do
próximo"
(São Pio X, Catecismo Maior, 917).
O
Espírito Santo é o nosso melhor Conselheiro, o Mestre mais sábio, o
melhor Guia: "... não
vos preocupeis nem com a maneira com que haveis de falar nem com o que
haveis de dizer, porque naquele momento vos será dado o que devereis
dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas será o Espírito do
vosso Pai que falará em vós"
(Mt 10, 19-20),
e: "Mediante o dom do
conselho, o Espírito Santo aperfeiçoa os atos da virtude da prudência,
que diz respeito aos meios que se devem empregar para resolver cada
situação. Na nossa vida, é muito frequente termos que tomar decisões,
umas mais importantes, outras menos. Em todas elas, de alguma maneira,
está comprometida a nossa santidade. Pois bem, às almas dóceis à ação
do Espírito Santo, Deus concede o dom do conselho para que possam
decidir com retidão e rapidez. É como que um instinto divino para que
possam acertar com o caminho que mais convém à glória de Deus. Da
mesma maneira que a virtude da prudência abarca todo o campo da nossa
atuação, o Espírito Santo, pelo dom do conselho, é Luz e Princípio
permanente das nossas ações: inspira a escolha dos meios para
realizarmos a vontade de Deus em todas as nossas tarefas, e conduz-nos
pelos caminhos da caridade, da paz, da alegria, do sacrifício, do
cumprimento do dever. Inspira-nos o caminho que devemos seguir em cada
circunstância... O dom do conselho é de grande ajuda para manter uma
consciência reta, sem deformações, porque, quando somos dóceis a essas
luzes e conselhos com que o Espírito Santo ilumina a nossa
consciência, a alma não se evade nem se justifica diante das faltas e
dos pecados, mas reage com a contrição, com uma maior dor por ter
ofendido a Deus. Este dom ilumina a alma fiel a Deus para que não
aplique erradamente as normas morais, nem se deixe levar pelos
respeitos humanos, pelos critérios do ambiente ou da moda, mas pelo
querer de Deus. Diretamente ou por meio de outros, o Paráclito dá
luzes para discernir o rumo certo e mostra os caminhos a seguir"
(Pe. Francisco
Fernández-Carvajal),
e também: "Todo o bom
conselho sobre a salvação dos homens vem do Espírito Santo" (Santo
Tomás de Aquino, Sobre o Pai-Nosso, in Escritos de catequese),
e ainda: "O dom do
conselho é necessário para a vida diária, tanto para os nossos
assuntos pessoais como para podermos aconselhar os nossos amigos na
sua vida espiritual e humana. É um dom que corresponde à
bem-aventurança dos misericordiosos"(Idem), e: "Pois é
necessário sermos misericordiosos para sabermos dar prudentemente um
conselho salutar aos que dele carecem; um conselho proveitoso que,
longe de desanimá-los, os estimule com força e suavidade ao mesmo
tempo" (R.
Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, pág. 637).
Que é
a Fortaleza? "A
Fortaleza é um dom que nos incute energia e coragem para observar
fielmente a santa Lei de Deus e da Igreja, vencendo todos os
obstáculos, e os assaltos dos nossos inimigos"
(São Pio X, Catecismo Maior, 918).
O dom
da fortaleza produz na alma dócil ao Espírito Santo uma ânsia sempre
presente de santidade, que não esmorece perante os obstáculos e
dificuldades: "Nunca
nos sintamos satisfeitos nesta vida, como nunca se sente satisfeito o
avaro" (Santo Tomás de
Aquino, Compêndio sobre São Mateus, 5, 2), e: "O exemplo dos
santos incita-nos a crescer mais e mais na fidelidade a Deus no meio
das nossas obrigações, amando o Senhor tanto mais quanto maiores forem
as dificuldades que experimentemos, sem deixar que se avolume o
desânimo ante a ausência de progresso nas metas de melhora pessoal"
(Pe. Francisco
Fernández-Carvajal),
e também: "Importa
muito, e tudo, uma grande e mui determinada determinação de não parar
até chegar à fonte, venha o que vier, suceda o que suceder, custe o
que custar, murmure quem murmurar; quer se chegue ao fim, quer se
morra no caminho ou não se tenha coragem para os trabalhos que nele se
encontrem; ainda que o mundo se afunde"
(Santa Teresa de Jesus, Caminho de perfeição, 21, 2).
O Pe. Francisco
Fernández-Carvajal escreve: "A virtude da
fortaleza, aperfeiçoada pelo dom do Espírito Santo, não suprime a
fraqueza própria da natureza humana, o temor ao perigo, o medo à dor,
à fadiga, mas permite superá-los graças ao amor. Precisamente porque
ama, o cristão é capaz de enfrentar os maiores riscos, ainda que a sua
sensibilidade manifeste repugnância em ir para a frente, não só no
começo, mas também ao longo de todo o tempo da prova ou enquanto não
tiver alcançado aquilo que ama. Esta virtude leva ao extremo de
sacrificar voluntariamente a vida em testemunho da fé, se o Senhor
assim o vier a pedir. O martírio é o ato supremo da fortaleza, e Deus
não deixou de pedi-lo a muitos fiéis ao longo da história da Igreja.
Os mártires foram - e são - a coroa da Igreja, bem como uma prova mais
da sua origem divina e da sua santidade. Cada cristão deve estar
disposto a dar a vida por Cristo, se as circunstâncias o exigirem. O
Espírito Santo dar-lhe-á então as forças e a coragem necessárias para
enfrentar essa prova suprema... Devemos pedir frequentemente o dom da
fortaleza: para vencer a relutância em cumprir os deveres que custam,
para enfrentar os obstáculos normais em qualquer existência, para
aceitar com paz e serenidade a doença, para perseverar nas tarefas
diárias, para dar continuidade à ação apostólica, para encarar os
contratempos com espírito de fé e bom humor. Devemos pedir este dom
para ter essa fortaleza interior que nos ajuda a esquecer-nos de nós
mesmos e a estar mais atentos àqueles com quem convivemos, para
mortificar o desejo de chamar a atenção, para servir os outros sem que
o notem, para vencer a impaciência, para não ficar remoendo os
problemas e dificuldades pessoais, para não explodir em queixas
perante as contrariedades ou a indisposição física, para mortificar a
imaginação afastando os pensamentos inúteis... Necessitamos de
fortaleza para falar de Deus sem medo, para nos comportarmos sempre de
modo cristão, ainda que entremos em choque com um ambiente paganizado,
para fazer uma correção fraterna quando for preciso... Precisamos de
fortaleza para cumprir em toda a linha os nossos deveres: prestando
uma ajuda incondicional aos que dependem de nós, exigindo-lhes ao
mesmo tempo, com amável firmeza, o cumprimento das suas
responsabilidades... O dom da fortaleza converte-se assim no grande
meio contra a tibieza, que conduz ao desleixo e ao aburguesamento".
São João Crisóstomo
escreve: "As árvores que crescem em lugares
sombreados e livres de ventos, enquanto externamente se desenvolvem
com aspecto próspero, tornam-se fracas e moles, e facilmente qualquer
coisa as fere; mas as árvores que vivem no cume dos montes mais altos,
agitadas pelos muitos ventos e constantemente expostas à intempérie e
a todas as inclemências, atingidas por fortíssimas tempestades e
cobertas por frequentes neves, tornam-se mais robustas que o ferro"
(Homilia sobre a glória da
tribulação).
Na cidade de
Siracusa, Itália, perante o tribunal de Pascácio foi arrastada a
virgem Luzia. A tímida moça não tremia, mas dizia ao juiz: "Tu
observas os decretos do teu César, e eu observo a lei do meu Deus, dia
e noite".
Diabolicamente,
Pascácio ordenou conduzirem-na a um lugar infame, e, depois,
fazerem-na passar de tortura em tortura. Mas, quando os soldados
pegaram-na para levar, não conseguiram movê-la um passo e caíram-lhe
em torno.
Recorreu à força
dos bois, porém a virgem de Cristo ficou firme como uma rocha. Todos a
acusaram de bruxa e lançavam-lhe em cima amuletos e esconjuros.
Pascácio lhe disse:
"Qual é a arte mágica que te dá tanta força?" E Santa Luzia respondeu:
"É o Espírito Santo: sinto-o em mim, que diz: mil cairão à tua
esquerda e dez mil à tua direita, mas não te tocarão".
Também a nossa
alma, neste mundo, tem muitos inimigos que quereriam arrastá-la a um
lugar infame, e, depois, de pecado em pecado; é o demônio, são as
paixões, é o mundo com as suas lisonjas, o estímulo dos sentidos e os
maus companheiros.
Quem poderá
sustentar-nos na dura guerra da vida, se nos sentimos tão fracos e tão
propensos ao mal? Aquele que fortificou a menina de Siracusa: o
Espírito Santo, que é Espírito de força.
Os Apóstolos também
não eram pessoas fracas? Todos haviam fugido na hora das trevas, e São
Pedro por três vezes perjurou antes que o galo cantasse. Mas, depois
de descido o Espírito Santo, eles exprobravam intrepidamente aos
judeus o seu deicídio: "Recusastes o Santo, o Justo. Pedistes graça
para um ladrão homicida, e fizestes morrer o autor da vida".
Espantados, os
judeus gritavam:
"Calai-vos!
Calai-vos!"
E eles: "Não
podemos calar-nos".
"Podemos sofrer,
podemos morrer, mas não podemos trair o Evangelho". E das palavras
passaram aos fatos, e dos fatos ao supremo testemunho do sangue.
Que vergonha para
nós, que, mesmo tendo recebido o Espírito Santo, ainda somos tão vis!
Que é a Ciência?
"A Ciência é um dom pelo qual julgamos
retamente das coisas criadas, e conhecemos o modo de bem usar delas e
de as dirigir ao último fim, que é Deus"
(São Pio X, Catecismo Maior, 919).
Iluminado por esta ciência abandona São Francisco de Assis, de
repente, a companhia dos folgazões, para desposar a dama Pobreza; e
quando o pai, indignado, o repudia, exclama:
"Daqui por diante poderei
dizer, com todo o direito, Pai nosso que estais nos céus! E não, pai
Pedro Bernardone"
(Sticco, Vida, pág. 70).
Sob o
impulso desta ciência escreve Santa Teresa de Jesus:
"Tudo passa - Deus não
muda... Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta"
(Poesias 9); e
Santa Maria Bertilha morre dizendo:
"Cumpre trabalhar por Jesus
só. Tudo o mais nada é".
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"O dom da ciência permite que
o homem veja mais facilmente as coisas criadas como sinais que levam a
Deus, e que compreenda o que significa a elevação à ordem
sobrenatural. Através do mundo da natureza e da graça, o Espírito
Santo faz-nos perceber e contemplar a infinita sabedoria de Deus, a
sua onipotência e bondade, a sua natureza íntima... Mediante o dom da
ciência, o cristão dócil ao espírito Santo sabe discernir com perfeita
clareza o que o conduz a Deus e o que o separa d'Ele. E isto no
ambiente, nas modas, na arte, nas ideologias... Verdadeiramente, esse
cristão pode dizer: O Senhor guia o justo por caminhos retos e
comunica-lhe a ciência das coisas santas... O cristão, que deve
santificar-se no meio do mundo, tem uma especial necessidade deste dom
para encaminhar para Deus as suas atividades temporais, convertendo-as
em meio de santidade e apostolado... à luz do dom da ciência, o
cristão reconhece a brevidade da vida humana sobre a terra, a relativa
felicidade que este mundo pode dar, comparada com a que Deus prometeu
aos que o amam, a inutilidade de tanto esforço se não se realiza de
olhos postos em Deus... Ao recordar-se da vida passada, em que talvez
Deus não tenha estado em primeiro lugar, a alma sente uma profunda
contrição por tanto mal e por tantas ocasiões perdidas, e nasce nela o
desejo de recuperar o tempo malbaratado, sendo mais fiel ao Senhor.
Todas as coisas do mundo - deste mundo que amamos e em que nos devemos
santificar - aparecem-nos à luz deste dom sob a marca da caducidade,
ao mesmo tempo que compreendemos com toda a nitidez o fim sobrenatural
do homem e a necessidade de subordinar-lhe todas as realidades
terrenas".
Que é
a Piedade? "A piedade
é um dom pelo qual veneramos e amamos a Deus e aos Santos, e
conservamos ânimo bondoso e benévolo para com o próximo, por amor de
Deus" (São Pio X,
Catecismo Maior, 920).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"O cristão que se deixa
conduzir pelo espírito de piedade sabe que seu Pai-Deus quer o melhor
para cada um dos seus filhos e que nos preparou todas as coisas para o
nosso maior bem. Por isso, sabe também que a felicidade consiste em ir
conhecendo o que Deus quer de nós em cada momento e em realizá-lo sem
dilações nem atrasos. Desta confiança na paternidade divina nasce a
serenidade, mesmo no meio das coisas que parecem um mal irremediável,
pois contribuem para o bem dos que amam a Deus. O Senhor nos mostrará
um dia por que foi conveniente aquela humilhação, aquele revés
econômico, aquela doença... Este dom do Espírito Santo permite ainda
que se cumpram os deveres de justiça e os ditames da caridade com
presteza e facilidade. Ajuda-nos a ver os demais homens como filhos de
Deus, criaturas que têm um valor infinito porque Deus os ama com um
amor sem limites e os redimiu com o sangue do seu Filho derramado na
Cruz. Anima-nos a tratar com imenso respeito os que estão ao nosso
redor, a compadecer-nos das suas necessidades e a procurar
remediá-las; a julgá-las sempre com benignidade, dispostos também a
perdoar-lhes facilmente as ofensas que nos façam, pois o perdão
generoso e incondicional é um bom distintivo dos filhos de Deus. Mais
do que isso, o Espírito Santo faz-nos ver nos outros o próprio
Cristo... Entre os frutos que o dom da piedade produz nas almas dóceis
às graças do Paráclito, contam-se, enfim, a serenidade em todas as
circunstâncias; o abandono cheio de confiança na Providência, porque,
se Deus cuida de todas as coisas criadas, muito maior ternura
manifestará para com os seus filhos".
Que é
o Temor de Deus? "O
Temor de Deus é um dom que nos faz reverenciar a Deus, e ter receio de
ofender a sua Divina Majestade, e que nos afasta do mal, incitando-nos
ao bem" (São Pio X, Catecismo Maior, 921).
Santa
Teresa de Jesus escreve:
"Em face de tantas tentações
e provas que temos de padecer, o Senhor nos concede dois remédios:
amor e temor. O amor nos fará apressar o passo; o temor nos fará olhar
bem onde pomos os pés para não cair"
(Caminho de perfeição,
40, 1).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"O santo temor de Deus, dom
do Espírito Santo, é o mesmo que, com os demais dons, pousou na Alma
santíssima de Cristo, o mesmo que ornou a Virgem Maria; o mesmo que
tiveram as almas santas, o mesmo que permanece para sempre no Céu e
que leva os bem-aventurados a prestar um louvor contínuo à Santíssima
Trindade, juntamente com os anjos. Durante a vida terrena, este dom
produz um grande horror ao pecado e, se se tem a desgraça de
cometê-lo, uma vivíssima contrição. À luz da fé, esclarecida pelos
resplendores dos demais dons, a alma compreende um pouco da
transcendência de Deus, da distância infinita e do abismo que o pecado
cava entre ela e Deus... O dom do temor leva-nos também a detestar o
próprio pecado venial deliberado, a reagir com energia contra os
primeiros sintomas da tibieza, do desleixo ou do aburguesamento... O
dom do temor é a base da humildade, pois dá à alma a consciência da
sua fragilidade e da necessidade de manter a vontade em fiel e amorosa
submissão à infinita majestade de Deus; leva-nos a permanecer sempre
no nosso lugar, sem querer usurpar o lugar de Deus, sem pretender
honras que são para glória de Deus. Uma das manifestações da soberba é
o desconhecimento do temor de Deus... O santo temor de Deus leva-nos
com suavidade a desconfiar prudentemente de nós mesmos, a fugir com
prontidão das ocasiões de pecado; e inclina-nos a ser mais delicados
com Deus e com tudo o que a Ele se refere".
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 12 de setembro de 2007
VIDE TAMBÉM:
Pentecostes
Aparição aos discípulos
Santíssima Trindade
Os
discípulos e o mundo
|