FÉ HUMILDE
(Lc 17,
5-10)
"5
Os apóstolos disseram ao Senhor: 'Aumenta-nos a fé!'
6
O Senhor respondeu: 'Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis
a esta amoreira: 'Arranca-te e replanta-te no mar', e ela vos
obedeceria. 7
Quem de vós, tendo um servo que trabalha a terra ou guarda os animais,
lhe dirá quando volta do campo: 'Tão logo chegues, vem para a mesa?'
8
Ou, ao contrário, não lhe dirá: 'Prepara-me o jantar, cinge-te e
serve-me, até que eu tenha comido e bebido; depois, comerás e beberás
por tua vez?' 9
Acaso se sentirá obrigado para com esse servo por ter feito o que lhe
fora mandado? 10 Assim também
vós, quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: Somos servos
inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer".
Em Lc
17, 5 diz: "Os
apóstolos disseram ao Senhor: 'Aumenta-nos a fé!"
Humilhemo-nos continuamente diante de Nosso Senhor pedindo que aumente
a nossa fé:
"Aumenta-nos a fé!': Cada um de nós deveria repetir esta súplica dos
apóstolos como uma jaculatória - 'Tudo é possível para quem crê. - São
palavras de Cristo. '- Que fazes tu, que não Lhe dizes com os
apóstolos: - aumenta-me a Fé!"
(São Josemaría Escrivá, Caminho, n° 588).
O Pe.
Gabriel de Santa Maria Madalena escreve:
"Para crer sem titubear, para
permanecer fiéis a Deus nas adversidades ou nas lutas contra a fé,
precisamos de uma fé sólida, robusta, como só Deus pode dar"
(Intimidade Divina, 328,
Ano C).
A fé
é uma virtude teologal que inclina a nossa inteligência, sob o influxo
da vontade e da graça, a dar firme assentimento às verdades reveladas,
por causa da autoridade de Deus.
"Aumenta-nos a fé!"
Sendo
a fé ao mesmo tempo um dom de Deus e uma livre adesão da
nossa alma, "... para
nela progredir, é evidentemente necessário apoiar-se na oração
e nos nossos esforços pessoais. Sob este duplo influxo,
tornar-se-á a fé mais esclarecida e simples, mais firme e operativa"
(Ad Tanquerey,
Compêndio de Teologia de Ascética e Mística, 1180).
"Aumenta-nos a fé!"
O Pe.
Gabriel de Santa Maria Madalena escreve:
"Uma grande fé não se
improvisa: é o resultado da semente caída 'em terra boa', ou seja, o
dom da fé confiado aos que 'escutam com coração bom e perfeito e dão
fruto pela perseverança' (Lc 8, 15). Assim como a criança cresce e se
torna adulta, deve a fé passar do estado de infância ao da maturidade,
que exige convicções profundas capazes de influenciar e inspirar a
vida do cristão"
(Intimidade Divina, 253, 2),
e: "Se podes crer,
tudo é possível a quem crê'. Ó Senhor, fazei com que eu creia e terei
achado. Com efeito, crer significa ter achado. Sabemos que pela fé
habitais em nossos corações. Que podemos ter mais próximo? Que eu me
chegue, pois, sem temor, com amor e fidelidade. Bom sois, Senhor, para
a alma que vos busca. Fazei-me buscar-vos com o desejo, seguir-vos com
as obras, encontrar-vos pela fé. Que coisa não achará a fé? Atinge
realidades inacessíveis, descobre o ignorado, abraça o imenso, toma
posse do eterno, enfim, contém de certo modo a própria eternidade como
seu vastíssimo seio. Ousadamente posso dizer: creio em vós, ó eterna e
bem-aventurada Trindade, que não compreendo, mas abraço com a fé, já
que sou incapaz de vos conter com a mente" (São
Bernardo de Claraval, No Cântico dos Cânticos 76, 6),
e também: "Embora
miserável como sou, firmemente creio que podeis tudo quanto quereis, ó
Senhor! Quanto maiores maravilhas ouço de vós e considero que as
podeis fazer ainda maiores, mais se fortalece minha fé; e com maior
determinação creio que atenderei meu pedido. E será de maravilhar que
obre portentos o todo poderoso"
(Santa Teresa de Jesus, Exclamações 4, 9),
e ainda: "Dai-me,
Senhor, que minha vida seja vida de fé, que se concretize no pensar,
falar, agir unicamente na base dos ensinamentos da fé, fundada em
vossas palavras, em vossos exemplos; unicamente por motivos
sobrenaturais de fé. Dai-me a graça de reprimir todas as sugestões da
razão humana e da experiência, por mais certas que me pareçam, caso
estejam no mínimo desacordo não só com os dogmas da fé católica, mas
também com tudo o que a fé exigir de mim em palavras, pensamentos e
obras"
(Bem-aventurado Charles de Foucauld, Meditações sobre o Evangelho,
Op., sp. 147).
Em Lc
17, 6 diz: "O Senhor
respondeu: 'Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta
amoreira: 'Arranca-te e replanta-te no mar', e ela vos obedeceria".
A
mostarda (Brassica nigra) é uma leguminosa de grande talhe e cujo
fruto era usado principalmente para a fabricação de azeite. As
sementes são minúsculas e o caule pode atingir dois metros.
São
Josemaría Escrivá escreve:
"Não sou milagreiro'. -
Disse-te já que me sobejam milagres no Santo Evangelho para firmar
fortemente a minha fé. - Mas dão-me pena esses cristãos - até
piedosos, 'apostólicos!' - que sorriem quando ouvem falar de caminhos
extraordinários, de fatos sobrenaturais. - Sinto desejos de lhes
dizer: sim, também agora há milagres; nós próprios os faríamos se
tivéssemos fé!" (Caminho, n° 583).
"Arranca-te e replanta-te no mar', e ela vos obedeceria".
O Pe.
Gabriel de Santa Maria Madalena comenta:
"Linguagem figurada que
exprime e onipotência da fé. Jesus não pede muito, pede um pouquinho
de fé como um pequeníssimo grão de mostarda, muito menor que uma
cabeça de alfinete. Se for, porém, fé sincera, viva, convicta, será
capaz de coisas muito maiores, inconcebíveis sob o ponto de vista
humano. Quer Jesus educar seus discípulos numa fé sem incertezas ou
hesitações, fé que, apoiada na força de Deus, tudo crê, tudo espera,
tudo ousa, e persevera invencível ainda nas situações mais ásperas e
obscuras" (Intimidade Divina, 328, Ano C), e: "Ó
Senhor, afirmastes que tudo é possível ao que crê. Se examinarmos qual
é a virtude melhor e mais agradável a vós, veremos que tem a fé a
primazia. Na realidade, é por virtude dela que nos dispomos a entrar
no santo dos santos. Sem ela, nem sequer vós, Senhor da glória,
realizastes em nosso favor vossos maravilhosos milagres: antes de
fazê-los, quisestes que à vossa bondade se unisse a nossa fé. Isto
porque é, a fé, capaz, por si só, de dar a vida, já que tão próxima de
vós, Senhor, está! Ademais, foram vossos benditos lábios que
pronunciaram estas palavras: 'Tua fé te salvou...' Efetivamente, uma
fé não maior que o minúsculo grãozinho de mostarda tem força de
transportar grandes montanhas para o meio do mar. Pois bem, recebemos
realmente esta fé, como guia que nos abre o caminho da vida, como o
verdadeiro culto a Deus. Esta fé, através dos olhos da alma, vê, com
certeza plena, as coisas futuras e as ocultas... Conta-se entre a
caridade e a esperança... porque, se creio em vós, também vos amarei,
Senhor, e ao mesmo tempo, esperarei vossos dons invisíveis"
(São Gregório de
Narek, Le livre des priéres, pp. 95-96).
Em Lc
17, 7-10 diz: "Quem de
vós, tendo um servo que trabalha a terra ou guarda os animais, lhe
dirá quando volta do campo: 'Tão logo chegues, vem para a mesa?' Ou,
ao contrário, não lhe dirá: 'Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me,
até que eu tenha comido e bebido; depois, comerás e beberás por tua
vez?' Acaso se sentirá obrigado para com esse servo por ter feito o
que lhe fora mandado? Assim também vós, quando tiverdes cumprido todas
as ordens, dizei: Somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos
fazer".
Edições Theologica comenta:
"Jesus não aprova esse
tratamento arbitrário do patrão, mas serve-se de uma realidade muito
quotidiana para as gentes que O escutavam, e ilustra assim qual deve
ser a disposição da criatura diante do seu Criador: desde a nossa
própria existência até à bem-aventurança eterna que nos é prometida,
tudo procede de Deus como um imenso presente. Daí que o homem sempre
esteja em dívida com o Senhor, e por mais que faça no Seu serviço as
suas ações não passam de ser uma pobre correspondência aos dons
divinos. O orgulho diante de Deus não tem sentido numa criatura. O que
aqui nos inculca Jesus, vemo-lo feito realidade na Virgem Maria, que
respondeu diante do anúncio divino: 'Eis a escrava do Senhor' (Lc 1,
38)".
"Somos
servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer".
Ad.
Tanquerey comenta: "O
que fazemos, reconhecendo afetuosa e alegremente o nosso nada e o
nosso pecado, ditosos de assim proclamar a plenitude e santidade do
ser divino. Daqui nascem aqueles sentimentos de adoração, louvor,
temor filial e amor; daqui, aquele grito de coração: Tu és Santo, tu é
o Senhor, tu és o Altíssimo. Estes sentimentos brotam do coração, não
somente quando estamos em oração, mas ainda quando contemplamos as
obras de Deus, obras naturais, em que se refletem as perfeições do
Criador, obras sobrenaturais, em que os olhos da fé nos descobrem uma
verdadeira semelhança, uma participação da vida divina"
(Compêndio de Teologia de Ascética e Mística, 1145, A, a).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 05 de outubro de 2007
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