| 
            
           
          
          A PREGUIÇA 
          
          (Pr 19, 
          16) 
          
            
          
          "A 
          preguiça faz cair no torpor; o ocioso passará fome". 
            
          
            
            
          
          
          Católico, a preguiça pode levar à morte. 
          
          Leia 
          atentamente esses dois exemplos. 
			 
           
          
          1. 
          Tramavam os tebanos uma conspiração contra seu rei Árquias. Um amigo 
          deste, sabedor do que se tramava contra o rei, e até dos nomes dos 
          conspiradores, escreveu-lhe uma carta muito urgente, que o rei recebeu 
          quando estava celebrando um grande banquete. O mensageiro, encarregado 
          de entregá-la, disse ao rei que abrisse, porque as notícias que 
          continha eram gravíssimas. Árquias, porém, não quis interromper o 
          banquete que com tanto prazer celebrava, e escondeu a carta, dizendo: 
          "Em nossas horas de regozijo não devemos dar ouvidos às coisas 
          sérias". Pouco depois caía na emboscada de seus inimigos e perecia em 
          suas mãos. 
           
           
			
          2. O 
          príncipe Luís, filho de Napoleão III, quando pela manhã o despertavam, 
          ou lhe diziam que terminara a hora do recreio, costumava exclamar: "Só 
          dez minutos mais!" Mais tarde, tendo-se alistado na guerra contra os 
          cafres, um dia, após longa caminhada sob o sol africano, descansava 
          com outros companheiros sobre a relva de uma paragem mais fresca. O 
          comandante deu ordem de montar de novo, mas o príncipe exclamou: "Eu 
          fico só mais dez minutos!" Nisto apareceu um bando de cafres. Os que 
          já estavam montados escaparam; mas o príncipe caiu morto sobre a 
          relva, transpassado pelos dardos dos selvagens. 
           
           
			
          Que é 
          a preguiça? 
          
          
          Adolfo Tanquerey escreve: 
          "A preguiça é uma tendência à 
          ociosidade ou ao menos à negligência, ao torpor na ação. Às vezes é 
          uma disposição mórbida que vem do mau estado de saúde. As mais das 
          vezes, porém, é uma doença da vontade, que teme a recusa do esforço. O 
          preguiçoso quer evitar qualquer trabalho, tudo quanto lhe pode 
          perturbar o sossego e arrastar consigo fadigas. Verdadeiro parasita, 
          vive, quanto pode, a expensas dos outros. Manso e resignado, enquanto 
          o não inquietam, impacienta-se e irrita-se, se o querem tirar da sua 
          inércia" 
          (Compêndio de Teologia 
          Ascética e Mística, 884, A). 
          
          Em Pr 
          19, 16 diz: "A 
          preguiça faz cair no torpor; o ocioso passará fome". 
          
          "A 
          preguiça faz cair no torpor". 
          
          O 
          preguiçoso vive indiferente e na inércia moral. Ele é indolente. 
          
          "... o 
          ocioso passará fome". 
          
          O 
          ocioso passará fome porque não gosta de trabalhar; aquele que não 
          trabalha não merece se alimentar: 
          "... quem não quer trabalhar 
          também não há de comer"
          (2 Ts 3, 10). 
          
          
          Católico, como é horrível e insuportável conviver com pessoas 
          preguiçosas. 
          
          Há 
          graus diversos na preguiça. 
          
          "a) O 
          desleixado ou indolente não se move para cumprir o seu dever senão 
          com lentidão, moleza e indiferença; tudo o que faz, fica mal feito. b) 
          O ocioso não recusa absolutamente o trabalho, mas anda sempre 
          atrasado, vagueia por toda a parte sem fazer nada, adia 
          indefinidamente a tarefa de que se encarregara. c) O verdadeiro 
          preguiçoso, esse não quer fazer nada que fatigue, e mostra aversão 
          pronunciada para qualquer trabalho sério do corpo ou do espírito. A 
          preguiça nos exercícios de piedade chama-se acedia: é um certo 
          fastio das coisas espirituais que leva a fazê-las desleixadamente, a 
          encurtá-las, e até às vezes a omiti-las por vãos pretextos. É a mãe da 
          tibieza" (Adolfo 
          Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 884, B, C). 
          
          A 
          malícia da preguiça: 
          "Para compreendermos a malícia da preguiça, cumpre-nos recordar que o 
          homem foi feito para o trabalho. Quando Deus criou o nosso primeiro 
          pai, pô-lo num paraíso de delícias, para que nele trabalhasse: 'Deus 
          tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e o 
          guardar' (Gn 2, 15). É que, efetivamente, o homem não é, como Deus, um 
          ser perfeito; tem numerosas faculdades que, para se aperfeiçoarem, 
          necessitam de operar: é pois, uma exigência da sua natureza trabalhar 
          para cultivar as potências, prover às necessidades do corpo e alma, e 
          tender assim para o seu fim. A lei do trabalho precede, pois, a culpa 
          original. Mas, depois que o homem pecou, tornou-se para ele o trabalho 
          não somente uma lei da natureza, senão também um castigo, isto é, 
          tornou-se penoso, como meio que é de reparar a sua falta. Com o suor 
          do rosto havemos de comer o nosso pão, tanto o pão da inteligência 
          como o pão que nos alimenta o corpo: "Com o suor de teu rosto comerás 
          teu pão" (Gn 3, 19). Ora, a esta dupla lei, natural e positiva, é que 
          o preguiçoso falta; comete, pois, um pecado, cuja gravidade se mede 
          pela gravidade dos deveres que descura. a) Quando chega a omitir os 
          deveres religiosos necessários à própria salvação, há falta grave. O 
          mesmo se diga, quando despreza voluntariamente em matéria importante, 
          algum dos seus deveres de estado. b) Quando este torpor o não leva a 
          descurar senão deveres, religiosos ou civis, de menor importância, não 
          passa de venial o pecado. Mas a ladeira é escorregadia; se não se luta 
          contra a negligência, não tarda esta em se agravar, tornando-se mais 
          funesta e culpável... Na verdade, o espírito e o coração do homem não 
          podem estar inativos: se não se absorvem no estudo ou em qualquer 
          outro trabalho, são logo invadidos por um sem-número de imagens, 
          pensamentos, desejos e afetos; ora, no estado de natureza decaída, o 
          que domina em nós, quando não reagimos contra ela, é a tríplice 
          concupiscência; serão, pois, pensamentos sensuais, ambiciosos, 
          orgulhosos, egoístas, interesseiros, que tomarão o predomínio em nossa 
          alma, expondo-a ao pecado. Não é, pois, somente a perfeição da nossa 
          alma que está aqui em jogo, mas até a sua eterna salvação. Porque, 
          além das faltas positivas em que nos faz cair a ociosidade, só o fato 
          de não cumprirmos os nossos deveres importantes é causa suficiente de 
          reprovação. Fomos criados para servir a Deus e cumprir os nossos 
          deveres de estado, somos operários enviados por Deus para trabalhar na 
          sua vinha. Ora, o Senhor não exige somente aos obreiros que se 
          abstenham de fazer mal; quer que trabalhem. Por conseguinte, se, sem 
          cometermos atos positivos contra as leis divinas, cruzamos os braços, 
          em vez de trabalharmos, não nos há de o Senhor exprobrar, como aos 
          obreiros, a nossa ociosidade. A árvore estéril, só pelo fato de não 
          produzir fruto merece ser cortada e lançada ao fogo" (Idem, 885-888).
           
          
          
          Católico, não cruze os braços, pelo contrário, lute fervorosamente 
          para vencer a preguiça. 
          
          O 
          sábio Buffon conta de si mesmo que na sua juventude era muito 
          dorminhoco. Envergonhado de si próprio, ordenou a seu criado que o 
          chamasse às seis da manhã, prometendo-lhe um franco cada vez que 
          cumprisse sua ordem. A primeira vez recebeu o criado com injúrias, mas 
          deu-lhe o franco; no dia seguinte Buffon levantou-se, embora depois de 
          injuriar de novo o criado. Assim continuou fazendo cada dia, pagando 
          com francos as injúrias que dizia ao criado. Um dia, porém, fez tanta 
          dificuldade em levantar-se que o empregado tomou um jarro d'água, 
          despejou-a na cabeça e fugiu. Levantou-se Buffon, chamou ao criado e 
          deu-lhe três francos, dizendo: "Cumpriste o teu dever". Mais tarde 
          confessava: "Dessa maneira,e com o trabalho da manhã, devo a José três 
          ou quatro volumes de minha História Natural". 
          
          Eis 
          os remédios para curar a preguiça: 
          "A) Para curar o preguiçoso, 
          é necessário antes de tudo inculcar-lhe convicções profundas 
          sobre a necessidade do trabalho, fazer-lhe compreender que ricos e 
          pobres estão sujeitos a esta lei e que basta faltar a ela para 
          incorrer na eterna condenação. É esta a lição que nos dá Nosso Senhor 
          Jesus Cristo na parábola da figueira estéril. Três anos a fio vem o 
          dono buscar os frutos; não os encontrando, dá ordem ao dono do pomar 
          que corte a árvore. E ninguém diga: eu sou rico, não tenho necessidade 
          de trabalhar. - Se não precisais  trabalhar para vós mesmos, deveis 
          fazê-lo para os outros. É Deus, vosso Senhor, que vo-lo manda: se vos 
          deu braços, cérebro, inteligência, recursos, foi para que os 
          utilizásseis para sua glória e para o bem de vossos irmãos. É certo 
          que não são as Obras de caridade ou zelo que faltam: quantos pobres 
          para socorrer, quantas empresas para fundar, a fim de dar trabalho e 
          pão aos que  não o têm! E quem pretende fundar uma família numerosa, 
          não tem que sofrer e trabalhar para assegurar o futuro dos filhos? - 
          Ninguém esqueça, pois, a grande lei da solidariedade cristã, em 
          virtude da qual o trabalho de cada um é útil para todos, enquanto a 
          preguiça danifica o bem geral, como o particular. B) Às convicções 
          cumpre juntar o esforço consequente e metódico, 
          aplicando as regras traçadas acerca da educação da vontade. E, como o 
          preguiçoso recua instintivamente perante o esforço, importa 
          mostrar-lhe que não há, afinal, ninguém mais infeliz que o ocioso: não 
          sabendo como empregar ou, segundo a sua expressão, matar o 
          tempo, enfada-se, desgosta-se de tudo, e acaba por ter horror à vida. 
          Não vale mais fazer um esforço para se tornar útil e conquistar um 
          pouco de felicidade, ocupando-se em fazer felizes à volta de si mesmo? 
          Entre os preguiçosos, há alguns que desenvolvem uma certa atividade, 
          mas unicamente em jogos, desportos, reuniões mundanas. A estes é 
          necessário lembrar-lhes a seriedade da vida e o dever de se tornarem 
          úteis, para que dirijam a atividade para um campo mais nobre e tenham 
          horror de ser parasitas. O matrimônio cristão, com as obrigações de 
          família que traz consigo, é muitas vezes excelente remédio: um pai de 
          família sente a necessidade de trabalhar para os filhos e de não 
          confiar a estranhos a administração dos seus bens. Mas o que nunca se 
          deve cessar de lhes recordar é o fim da vida: estamos aqui, na terra, 
          não para vivermos como parasitas, senão para conquistarmos, pelo 
          trabalho e pela virtude, um lugar no céu. E Deus não cessa de nos 
          dizer: Que fazeis aqui, preguiçosos? Ide trabalhar na minha vinha" (Idem, 
          889-890). 
          
          
          Católico, o que se pode esperar do preguiçoso? Ele é a vergonha da 
          família: "O preguiçoso quer e não quer"
          (Pr 13, 4). 
          
          O que 
          se pode esperar desse parasita que sai da cama e vai para o sofá, que 
          pula da rede e se esparrama na poltrona? Nada! Dessa coisa repugnante 
          não se pode esperar nada: 
          "As vontades fracas, as meias 
          vontades jamais conseguirão coisa alguma, jamais darão um passo na 
          senda da perfeição; os indivíduos preguiçosos balançam-se entre o 
          quero e o não quero"
          (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, cap. 13). 
          
          O que 
          se pode esperar do preguiçoso que passa boa parte do dia sentado à 
          frente da casa contando os carros que passam na rua, ou de boteco em 
          boteco gastando as economias da família? Nada! Até para levar a comida 
          à boca é preciso da ajuda da família: 
          "O preguiçoso mete a mão no 
          prato, mas não consegue levá-la a boca"
          (Pr 19, 24). 
          
          
          Muitos passam fome e não possuem nada, justamente porque não gostam de 
          trabalhar, são cozidos de preguiça: 
          "No outono o preguiçoso não 
          trabalha, na colheita procura e nada encontra" 
          (Pr 19, 4). 
          
          Não 
          se deve tratar o preguiçoso como se fosse um "bebê", mas é 
          preciso ser firme com ele e mandá-lo ao trabalho: 
          "Manda-o para o trabalho, 
          para que não fique ocioso, porque a ociosidade ensina muitos males"
          (Eclo 33, 28). 
            
			  
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 11 de outubro de 2007 
               |