NÃO MINTA
(Cl 3, 9)
"Não
mintais uns aos outros".
Católico, como é repugnante conviver com pessoas mentirosas. Aquele
que mente será castigado.
O
profeta Eliseu, que curou milagrosamente da lepra a Naaman, não quis
receber do general nenhum presente.
Mas
Giezi, criado do profeta, impelido pelo amor do dinheiro, foi atrás de
Naaman, que regressava a seu país, e disse-lhe que Eliseu, seu amo,
mandara pedir-lhe um talento de prata e algumas roupas para dois
hóspedes que acabavam de chegar. Ora, o profeta não mandara pedir
coisa alguma. Por isso, em castigo dessa mentira, Giezi ficou coberto
da mesma lepra de que Naaman ficara limpo.
Imagine de os milhões de mentirosos de hoje fossem castigados com a
lepra? Seria preciso construir em cada esquina um grandioso hospital
para cuidar de tais leprosos.
Como
é edificante conviver com pessoas que preferem morrer a mentir.
Um
soldado piemontês, na confissão que fez antes de entrar para a
milícia, propôs aos pés do Crucifixo antes morrer que pecar, dizendo
uma mentira.
Fazia
poucos meses que estava na caserna; entretanto, como não podia mais
conter o desejo de rever os pais, estando de guarda, quis aproveitar a
ocasião para desertar. Mas, ao saltar um muro, foi tão infeliz que
quebrou uma perna. Obrigado a pedir socorro, aparece o cabo e
pergunta-lhe por que saltara o muro.
- Para voltar para casa de meus pais, pois não aguento mais de
saudades.
O
cabo, compadecendo-se dele, adverte-o que não revele o motivo da fuga
planejada; diga antes, para justificar a desgraça, que fez aquilo para
impedir a evasão de alguns detentos. Assim você não será castigado -
dizia-lhe o cabo - antes será premiado e graduado. O soldado, fiel ao
seu propósito, respondeu:
- Ah! Isso não; prefiro morrer a mentir!
Chega, entretanto, outro colega que o exorta a seguir o conselho do
cabo. A resposta foi a mesma:
- Prefiro morrer a dizer uma mentira!
E
assim foi. Perdeu a perna e teve de cumprir a pena. Mas, pensando na
glória que dava a Deus com a constância no seu propósito, suportou
tudo com grande paciência.
Conta-se também, entre as heróicas vítimas da triste e famosa
Revolução Francesa. O Pe. Firmino, carmelita. Obrigado a depor o
hábito e abandonar o convento, pôs-se a percorrer com zelo infatigável
as vilas e aldeias, empregando-se dia e noite nas funções do seu
sagrado ministério. Visitava os fiéis e confortava-os na fé para que
não se deixassem vencer pelo terror e apostasia geral daqueles tempos
tristes.
Foi
finalmente descoberto pelos espiões do governo e em seguida preso e
levado para a cadeia de Amiens.
Os
juízes, perante os quais teve de comparecer, não eram daqueles homens
sanguinários de que estava cheia a França naquela época infeliz.
Pretendiam salvá-lo, sem, no entanto obrigá-lo ao juramento iníquo que
as leis revolucionárias impunham aos sacerdotes. O próprio presidente
do tribunal deu-lhe a entender que, para escapar à morte, era
suficiente declarar que ignorava os decretos fulminados contra os
padres que não haviam prestado o juramento.
Momento angustiante! Tratava-se de salvar ou perder a vida. Para
evitar o patíbulo, bastaria uma simulação, uma mentira leve... Mas o
valoroso sacerdote, sem hesitar um só instante, recusa-se a salvar a
vida por aquele preço. Está resolvido a antes morrer que trair a
verdade.
Que é
a mentira?
Monsenhor Cauly a define:
"Mentir, é, em geral, falar
de modo diverso de seu pensamento com a intenção de enganar. Mas a
mentira não é somente uma palavra contra a verdade, pode ser
igualmente um sinal ou um ato que se fazem no intuito de iludir o
próximo" (Curso de
Instrução Religiosa, pág, 204).
Santo
Tomás de Aquino a define:
"Mentira é palavra ou sinal
por que se dá a entender alguma coisa diferente daquilo que se pensa;
e com intenção de enganar"
(Suma Teológica, II-II, q.
110).
A
mentira é um pecado contra o Oitavo Mandamento da Lei de Deus: Não
levantar falso testemunho.
Princípios morais acerca da mentira.
"1. O
princípio fundamental é que nunca é lícito mentir.
A razão de
ser deste princípio é clara: a mentira é intrinsecamente má, ou
seja, não é má só por ser proibida (como, p. ex., comer carne em dia
de abstinência), mas pela sua própria natureza. Daí que toda a
mentira, por pequena que seja, viola a ordem natural das coisas,
querida por Deus.
A Bíblia
proíbe-a terminantemente: 'Afasta-te de toda a mentira' (Ex 23, 7);
'Deus detesta os lábios mentirosos' (Pr 12, 22).
Nosso
Senhor Jesus Cristo chama ao Diabo 'pai da mentira' (Jo 8, 44).
O
Magistério eclesiástico reprova severamente 'os que cometem por
divertimento, e os que o fazem por interesse ou utilidade" (Catecismo
Romano, III, cap. IX, n. 23).
2. A
malícia da mentira não consiste tanto na falsidade das palavras como
no desacordo entre as palavras - sinal - e o pensamento
- o significado.
Por isso,
se eu disser o que penso, embora o que penso seja objetivamente falso,
digo um erro ou falsidade, mas não uma mentira (p. ex., quem tivesse a
convicção de que o mundo é plano não mentiria ao dizê-lo; apenas
afirmaria uma falsidade).
Ao invés,
se eu disser como verdadeiro o que penso erradamente que é falso, não
digo uma falsidade, digo uma mentira (se alguém afirma que um bilhete
de loteria está premiado, com intenção de burlar, e afinal estava
mesmo premiado, diz uma mentira: houve inadequação entre o pensamento
e a palavra).
3. Para
haver mentira, não é preciso que os outros fiquem efetivamente
enganados com o que dizemos ou fazemos. Há também mentira quando
os outros se apercebem de que a pessoa está a dizer o contrário do que
pensa.
A mentira
propriamente dita é intrinsecamente má e não é justificável sob
nenhum pretexto; portanto, não é lícito mentir nem sequer para
conseguir bons efeitos para terceiros.
Esta
conclusão, que pode parecer excessivamente rígida, deve ser vista à
luz do que posteriormente se dirá sobre a legítima ocultação da
verdade.
4. A
gravidade da mentira deve ser considerada, não só em si mesma, mas
pelos prejuízos que pode causar.
A mentira pode destruir bens consideráveis,
como a amizade, a boa harmonia conjugal ou a confiança dos pais.
Além
disso, ocasiona prejuízos para a mesma pessoa, pois, se se mente,
ainda que o mentiroso venha a falar a verdade, já não será acreditado" (Ricardo Sada e
Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral).
Católico, é horrível conviver com o mentiroso, esse tipo de gente não
oferece nenhuma confiança.
Quando o mentiroso abre a boca e diz algo, todos perguntam ao mesmo
tempo: Quem acredita nele?
Por
onde passa, o mentiroso deixa o famoso "cheiro de égua", todos fogem
da sua presença, porque ele é insuportável.
O
mentiroso tenta subir na vida usando a escada de suas mentiras.
O
czar Nicolau, que há cem anos governou o império russo, foi um dos
homens mais sanguinários. A sua crueldade arrancou a vida de milhares
de filhos da Igreja Católica; maior, porém, foi o número dos que
tiveram uma morte lenta nos trabalhos forçados e nos horrendos
cárceres do clima horrível da Sibéria.
Entretanto, diante dos reis europeus e sobretudo diante do Soberano
Pontífice, fazia sempre alarde de sentimentos religiosos e
humanitários. Indo a Roma, o poderoso e sanguinário czar foi recebido
em audiência por sua Santidade o Papa Pio IX. O Pontífice
perguntou-lhe como tratava os católicos. E o czar, com a mais vil
hipocrisia, respondeu:
- Muito bem, Santíssimo Padre.
Não
pôde o Papa sofrer a vileza daquele coração traidor. Levantou-se de
seu trono, fitou o poderoso imperador com majestosa dignidade e com
voz forte e enérgica disse:
- Mentis!
O
imperador russo não pôde conservar-se em pé, ficou como que
aniquilado... e saiu dali aterrado, como se uma tempestade tivesse
estalado sobre sua cabeça e o fogo de um raio o ameaçasse. Desceu
rapidamente as escadarias do Vaticano e foi sepultar-se no palácio em
que se hospedava.
Católico, não fique calado diante do mentiroso, mas, a exemplo do Papa
Pio IX, desmascare-o com coragem.
Se
todos enfrentassem os mentirosos com força e valentia, com certeza
eles se desconfiariam, e deixariam de fazer tanto mal às pessoas.
Divisão da mentira.
"A mentira
pode ser:
1.
Jocosa, isto é, feita simplesmente por divertimento, sem ofender a
ninguém. Nesses casos, trata-se, geralmente, de uma brincadeira; p.
ex., as falsidades que, no dia 1 de Abril se costumam dizer entre
amigos.
2.
Oficiosa: é a que tende a favorecer uma pessoa, comunidade ou
ideologia. Os exemplos desta mentira são muito numerosos: p. ex., os
números aumentados em inquéritos, com intenção de influenciar a
opinião pública.
3.
Danosa: é a mentira caluniosa, a mentira que vai diretamente
ofender a imagem de alguém"
(Idem).
Gravidade da mentira.
"A mentira
jocosa e a mentira oficiosa não são, habitualmente, mais que pecado
venial; a mentira danosa pode constituir pecado mortal, por ir contra
a caridade. É também pecado mortal mentir em questões de Fé.
Quando a
mentira jocosa é tal que aqueles que a ouvem ou lêem percebem que é
brincadeira e a interpretam no sentido que o brincalhão quis dar ao
gesto ou palavra, não são realmente mentiras e não têm malícia
moral. Há, sim, mentira quando os ouvintes não podem perceber o
sentido jocoso da expressão, e se atêm ao sentido material das
palavras" (Idem).
Há
pecados que se equiparam à mentira.
"1.
Hipocrisia. É mentira em ato, que consiste em aparentar qualidades
que não se tem, para os outros nos julgarem menos culpados ou mais
virtuosos. Nosso Senhor profligou no seu Evangelho este vício
detestável, e Ele fez com tanta força que devemos considerar a
hipocrisia como pecado grave.
2.
Dissimulação. Consiste em esconder a verdade debaixo de um
disfarce oposto. Nem toda a verdade de pode, nem se deve dizer, e há
uma dissimulação, aliás honesta que não é disfarce, e que pode ser
permitida e até aconselhada quando por exemplo se trata de evitar o
escândalo dos fracos; mas se a dissimulação oculta coisas que deviam
ser conhecidas, ou se faz com propósito mau, é absolutamente proibida.
3.
Adulação. É o louvor falso ou exagerado que damos a alguém.
Alimenta o orgulho, deturpa a verdade, muitas vezes favorece os
vícios, e por isto, é pecado grave se o fim que se tem em mira é muito
ruim"
(Monsenhor Cauly).
Católico, a língua do mentiroso é uma "pista escorregadia", jamais
"ande" por ela, isto é, não siga as suas orientações:
"A mentira para o homem é uma
nódoa vergonhosa, está sempre na boca dos mal-educados. É melhor um
ladrão do que um homem que sempre mente; ambos, porém, terão por
herança a perdição. O hábito da mentira é uma abominação e a infâmia
do mentiroso acompanha-o sem cessar" (Eclo 20,
24-26).
Como
é triste para um casal conviver com um filho mentiroso! Seria
melhor conviver com um ouriço.
Como
é repugnante para um patrão ter que trabalhar com uma funcionária que
mente! É mais seguro conviver com uma aranha.
Católico, cuidado com o mentiroso:
"Há quem tem dentes como
navalhas e queixos iguais aos punhais" (Pr 30, 14).
O
mentiroso é uma coisa desprezível:
"A mentira é uma moeda falsa
que todos desprezam"
(Santo Tomás de
Aquino).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 14 de outubro de 2007
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