O JUIZ INÍQUO E A VIÚVA IMPORTUNA
(Lc
18, 1-8)
"1
Contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de orar
sempre, sem jamais esmorecer.
2
Havia numa cidade um juiz que não temia a Deus e não tinha
consideração para com os homens.
3
Nessa mesma cidade, existia uma viúva que vinha a ele, dizendo:
'Faz-me justiça contra o meu adversário!'
4
Durante muito tempo ele se recusou. Depois pensou consigo mesmo:
'Embora eu não tema a Deus, nem respeite os homens,
5
como essa viúva está me dando fastio, vou fazer-lhe justiça, para que
não venha por fim esbofetear-me'.
6
E o Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz esse juiz iníquo.
7
E Deus não faria justiça a seus eleitos que clamam a ele dia e noite,
mesmo que os faça esperar?
8
Digo-vos que lhes fará justiça muito em breve. Mas quando o Filho do
Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?"
Em Lc
18, 1 diz:
"Contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de orar
sempre, sem jamais esmorecer".
A
parábola do juiz injusto é um ensinamento muito expressivo acerca da
eficácia da oração perseverante e firme:
"Por sua vez constitui a
conclusão da doutrina sobre a vigilância, exposta nos versículos
anteriores (17, 23-26). O fato de comparar o Senhor com uma pessoa
como esta, põe em relevo o contraste entre ambos: se até um juiz
injusto acaba por fazer justiça àquele que insiste com perseverança,
quanto mais Deus, infinitamente justo e nosso Pai, escutará as orações
perseverantes dos Seus filhos. Deus, com efeito, fará justiça aos Seus
escolhidos que clamam por Ele sem cessar"
(Edições Theologica), e: "Narra o texto
evangélico a parábola do juiz e da viúva, proposta por Jesus para
inculcar 'o dever de rezar sempre, sem jamais desfalecer"
(Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 342, Ano C).
Adolfo Tanquerey escreve:
"A necessidade da oração
funda-se na necessidade da graça atual. É uma verdade de fé que, sem
esta graça, nos achamos em impotência radical de nos salvarmos e, com
maior força de razão, de atingirmos a perfeição. De nós mesmos, por
melhor uso que façamos da liberdade, não podemos nem dispor-nos
positivamente para a conversão, nem perseverar por tempo notável, nem
sobretudo perseverar até à morte: Sem mim, diz Jesus a seus
discípulos, nada podeis fazer, nem sequer ter um bom pensamento"
(Compêndio de
Teologia Ascética e Mística, 645),
e: "São muito claros
os textos, que nos mostram a necessidade de rezar, se quisermos
alcançar a salvação: 'É preciso rezar sempre e nunca descuidar' (Lc
18, 1). 'Vigiai e orai para não cairdes em tentação' (Mt 25, 41).
'Pedi e dar-se-vos-á' (Mt 7, 7). Segundo a doutrina comum dos
teólogos, as referidas palavras: 'É preciso rezar, orai, pedi',
significam e impõem um preceito e uma obrigação, um mandamento formal"
(Santo Afonso Maria
de Ligório, A Oração, cap. I, 2).
São
Basílio Magno, São João Crisóstomo, Clemente de Alexandria e outros,
como o próprio Santo Agostinho,
"ensinam que a oração para os
adultos é necessária, não somente por ser um mandamento de Deus, como
também por ser um meio necessário para a salvação",
e: "É impossível que
um cristão se salve sem pedir as graças necessárias para a sua
salvação" (Santo
Afonso Maria de Ligório, A Oração, cap. I, 2),
e também: "Depois do
batismo, a oração contínua é necessária ao homem para poder entrar no
céu. Embora sejam perdoados os pecados pelo batismo, sempre ainda
ficam os estímulos ao pecado, que nos combate interiormente, o mundo e
os demônios que nos combatem externamente"
(Santo Tomás de
Aquino), e ainda:
"A oração é necessária
não para que Deus conheça as nossas necessidades, mas para que nós
fiquemos conhecendo a necessidade que temos de recorrer a Deus, para
receber oportunamente os socorros da salvação. Assim, reconhecemos
Deus como único Autor de todos os bens, a fim de que nós conheçamos
que necessitamos de recorrer ao auxílio divino e reconheçamos que Ele
é o Autor dos nossos bens"
(Idem), e:
"Nos é necessária a oração
para nos salvarmos" (São João
Crisóstomo).
Em Lc
18, 2-3 diz: "Havia
numa cidade um juiz que não temia a Deus e não tinha consideração para
com os homens. Nessa mesma cidade, existia uma viúva que vinha a ele,
dizendo: 'Faz-me justiça contra o meu adversário!"
Numa
grande cidade havia um juiz, para o qual a justiça era a sua própria
vontade, e que não se deixava abalar nem por súplica de homem nem por
ameaça de Deus. Nessa mesma cidade vivia também uma pobre mulher; e,
visto haver-lhe morrido o marido, todos pensavam poder impunemente
vexá-la. Enquanto teve paciência, a viúva suportou as injustiças dos
vizinhos, mas depois tomou coragem e recorreu ao juiz iníquo, e com os
olhos cheios de lágrimas e de mãos postas suplicou-lhe:
"Faz-me justiça contra o meu adversário!"
Em Lc
18, 4-7 diz: "Durante
muito tempo ele se recusou. Depois pensou consigo mesmo: 'Embora eu
não tema a Deus, nem respeite os homens, como essa viúva está me dando
fastio, vou fazer-lhe justiça, para que não venha por fim
esbofetear-me'. E o Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz esse juiz
iníquo. E Deus não faria justiça a seus eleitos que clamam a ele dia
e noite, mesmo que os faça esperar?"
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"O juiz é mau, a viúva é
pobre e sem amparo. O seu único recurso é a perseverança em
implorar justiça. Perseveremos também em nossa oração, nós que
tratamos não com um juiz iníquo, mas com um Pai de misericórdia",
e: "O juiz negava-se
também uma e outra vez, mas a mulher insistiu tanto que acabou por
atendê-la"
(Pe. Francisco
Fernández-Carvajal).
"E o
Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz esse juiz iníquo. E Deus não
faria justiça a seus eleitos que clamam a ele dia e noite, mesmo que
os faça esperar?"
Santo
Agostinho escreve: "O
que nos criou está mais perto de nós que todas as coisas que criou" (Del
Génesis a la letra, 5, 16, 34).
Deus
é o personagem central da parábola: Não o são, como parece à primeira
vista, nem o juiz nem a viúva. O Senhor, que é sempre misericordioso
perante a indigência dos homens, centra tudo o ensinamento.
A
razão que o Senhor dá para atender as orações é tríplice: a sua
bondade, que tanto dista da venalidade do juiz; o amor que tem pelos
seus discípulos e, por último, o interesse que estes mostram através
da sua perseverança na petição. Deus está sempre atento a quem o
invoca: "Pede-lhe sem
titubear, e conhecerás que a sua grande misericórdia não te abandona,
mas dará cumprimento à petição da tua alma" (Pastor de
Hermas, hom. 9, 1),
e: "Deste exemplo
Jesus toma ocasião para explicar que Deus, muito mais do que o juiz
iníquo, atenderá a súplica de quem recorre a ele com perseverante
confiança" (Pe.
Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 342, Ano C).
A
viúva não desanimou, mas perseverou e foi atendida; perseveremos
também nós na oração e Deus nos atenderá.
Santo
Afonso Maria de Ligório escreve:
"É, pois, necessário que
rezemos com humildade e confiança. Entretanto, isto só não basta para
alcançarmos a perseverança final e, com ela, a salvação eterna. As
graças particulares que pedimos a Deus, podemos obtê-las por meio de
orações particulares. Mas, se não perseverarmos na oração, não
conseguiremos a perseverança final, a qual compreende uma cadeia de
graças e, por isso, supõe repetidas e continuadas até à morte"
(A Oração, cap. III,
IV), e:
"Assim como nunca cessa a
luta, assim também nunca devemos deixar de pedir a misericórdia
divina, para não sermos vencidos"
(São Boaventura),
e também: "Se
quisermos, pois, que Deus não nos abandone, devemos pedir-lhe sempre
que nos auxilie. Fazendo assim, certamente Ele nos assistirá sempre e
não permitirá que nos separemos dele e que percamos a sua amizade.
Procuremos, por isso, rezar sempre e pedir a graça da perseverança
final, bem como as graças para consegui-la"
(Santo Afonso Maria de Ligório, A Oração, cap. III, IV).
A oração perseverante é índice de fé profunda, de firme esperança,
de caridade viva para com Deus e o próximo.
Em Lc
18, 8 diz: "Digo-vos
que lhes fará justiça muito em breve. Mas quando o Filho do Homem
voltar, encontrará a fé sobre a terra?"
O
ensinamento de Jesus Cristo sobre a perseverança na oração une-se com
a severa advertência de que é preciso manter-se fiéis na fé; fé e
oração vão intimamente unidas:
"Creiamos para orar e para
que não desfaleça a fé com que oramos, oremos. A fé faz brotar a
oração, e a oração, enquanto brota, alcança a firmeza da fé" (Santo
Agostinho, Sermo 115),
e: "O Senhor anunciou
a Sua assistência à Igreja para que possa cumprir indefectivelmente a
sua missão até ao fim dos tempos (cfr Mt 28, 20); a Igreja, portanto,
não pode desviar-se da verdadeira fé. Porém, nem todos os homens
perseverarão fiéis, mas alguns afastar-se-ão voluntariamente da fé. É
o grande mistério que São Paulo chama de iniquidade e de apostasia (2
Ts 2, 3), e que o próprio Jesus Cristo anuncia noutros lugares (cfr Mt
24, 12-13). Deste modo o Senhor previne-nos para que, ainda que à
nossa volta haja quem desfaleça, nos mantenhamos vigilantes e
perseveremos na fé e na oração"
(Edições Theologica), e também: "Deus
há de ouvir, finalmente, aos seus eleitos, se eles orarem com fé
e perseverança. Ainda que seja ao cabo de vinte, trinta anos,
no fim da vida; que é isso em relação à eternidade? - Mas,
infelizmente, a fé vai enfraquecendo, e com ela a caridade, e sem
caridade é impossível a oração"
(Dom Duarte
Leopoldo).
Pe. Divino
Antônio Lopes FP.
Anápolis, 16 de
outubro de 2007
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