DESÂNIMO

(2 Cor 4, 16)

 

"Por isso não desanimemos. Pelo contrário, embora em nós o homem exterior vá caminhando para a sua ruína, o homem interior se renova dia-a-dia".

 

 

Edições Theologica comenta: "Estas palavras resumem um dos paradoxos da vida do cristão. Enquanto o homem exterior - o corpo corruptível - se vai consumindo pelas tribulações e sofrimentos, o homem interior - a vida da alma - cresce e renova-se dia a dia, até alcançar a sua plenitude no Céu. É algo que se observa de maneira evidente na vida dos santos: no meio dos sofrimentos e doenças, e ao mesmo tempo que a sua vida na terra se ia consumindo, a juventude da sua alma e a alegria iam aumentando".

São João Crisóstomo escreve: "Quando se destrói este homem exterior? Quando é golpeado com açoites, acossado, oprimido por perseguições sem número. Não obstante 'o nosso homem interior vai-se renovando dia-a-dia'. E de que maneira? Pela fé, pela esperança, pela caridade ardente. Portanto, temos de ver os perigos com olhar intrépido. Quanto maiores forem os males que consumam o nosso corpo, mas lisonjeiras esperanças deverá conceber a nossa alma, mais esplendor e brilho tirará dali, como o ouro toma brilho mais deslumbrante quando está no cadinho aceso" (Hom. Sobre 2 Cor, 9).

Católico, jamais deixe o desânimo entrar em seu coração. Há momentos em que, diante das provações e dificuldades da vida, sentimos o desânimo.

Uma pessoa começa a cuidar melhor de sua vida espiritual, meditando diariamente. No início a mesma se sente empolgada e com desejo de progredir na vida espiritual; depois surgem as distrações e a oração se torna insípida... Vem a vontade de desistir...

Um homem resolve decididamente lutar contra os seus defeitos, principalmente contra a impaciência. Consegue muitas vitórias, mas depois se impacienta... Então o mesmo se sente desanimado diante da queda e resolve não mais lutar.

Católico, é preciso tomar muito cuidado para não se desanimar diante das quedas. Um autor chegou a dizer que o mal não é tanto cair, mas sim, ficar caído! Deste modo sublinhava paradoxalmente, o mal do desânimo.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Se tivermos a desgraça de cair em alguma falta, cuidado para não ficarmos perturbados e impacientes conosco mesmos. Devemos fazer com calma um ato de contrição e de amor a Jesus Cristo, prometendo-lhe não mais ofendê-lO, e pedir-lhe a graça de lhe sermos fiéis" (A Prática do amor a Jesus Cristo, Resumo das Virtudes).

Nestas horas de dificuldades, precisamos ler um trecho do santo Evangelho; aquele que os Apóstolos ainda pescadores haviam trabalhado a noite inteira e nada haviam colhido. Jesus, no entanto, diz a São Pedro que de novo se fizesse ao alto! São Pedro ia dando a resposta dos desanimados - "Não adianta! Trabalhamos tanto e nada conseguimos!" - Em tempo, porém, caiu em si e exclamou: - "Em tua palavra lançarei as redes..." E pescou muitos peixes...

O Pe. Roberto Sabóia de Medeiros escreve: "A nossa força não está em nós. Se a vitória dependesse de nós, era mesmo de desanimar. O trabalho de ser bom supera as forças do homem isolado. Mas é Jesus Cristo que manda que nos lancemos ao alto. Saibamos responder com São Pedro: em tua palavra, apoiado na confiança do auxílio, da força que vem de Ti, ó Jesus, continuarei lutando, voltarei ao combate e... verei a pesca milagrosa!" (Meditações).

Católico, não conte com suas força diante das dificuldades da vida, mas sim, com a força do alto; somente com a ajuda de Nosso Senhor você obterá vitória: "Só em Deus a minha alma repousa, dele vem a minha salvação; só ele é minha rocha, minha salvação, minha fortaleza, - jamais vacilarei!" (Sl 62, 2-3).

Católico, de que é capaz uma alma desanimada? Que bem pode ela operar? Enquanto permanece nesse deplorável estado, em vez de remediar a seus males, chafurda-se sempre mais neles: "Em vão procuram dar-lhe então avisos caridosos; é incapaz de tirar proveito deles. Como uma tela que cede sob o pincel do pintor, subtrai-se a toda impressão salutar e inutiliza os esforços dos que lhe querem bem. Está tentada? Imita o soldado poltrão que atira as armas ao chão, diante do inimigo; acha difícil recorrer à oração, afastar o pensamento do objeto que a seduz e cai miseravelmente sob o domínio do inferno. O demônio torna-se mais audacioso à medida que nos vê tímidos e enfraquecidos. Impele Judas ao desespero, e por quê? Porque o encontra desanimado. São Pedro, ao contrário, levanta-se da queda por causa da sua constância em esperar em Jesus. O desânimo tem arruinado muitos cristãos, enquanto que a humilde confiança os salva todos os dias" (Pe. Luis Bronchain).

Deixemos o desânimo de lado e lutemos com coragem e generosidade: "Os que possuem corações corajosos e generosos fazem em poucos anos mais progressos, do que as almas pusilânimes em muitos anos" (Santa Teresa de Jesus).

Católico, permaneça firme no progresso espiritual e confie em Nosso Senhor diante das dificuldades da vida: "Deus ama os corações fortes e generosos" (Bem-aventurada Elisabete da Trindade).

O Pe. Luis Bronchain nos dá os remédios para vencermos o desânimo: "Para remediarmos a esse mal funesto, meditai frequentemente o que se segue. Na milícia do século, a covardia é uma vergonha; quanto mais na milícia de Deus! Um soldado de Jesus Cristo, cuja vocação é de lutar sem tréguas na vida, não deve ser sempre soldado corajoso? Temos inimigos, mas inimigos já vencidos sobre o Calvário pela cruz do Salvador. E ademais não temos conosco Jesus, o Rei da glória, Maria, a Rainha do céu, e milhões de anjos e santos sempre prontos a defender-nos? Por que então temer ou desanimar? O desânimo, como o temos dito, não serve para nada; em vez de diminuir os nossos males, aumenta-os. A oração e a confiança, ao contrário, proporcionam remédio para tudo. - 'Debalde rezo, exclama a alma abatida, Deus não me atende; deixa-me sempre nas mesmas provações, nos mesmos combates, nas mesmas dificuldades'. Mas essas penas e dificuldades, responde-lhe a fé, não podem servir para a vossa santificação? Resignando-vos, elas se tornam um meio de expiar as faltas, exercer a humildade, a força de ânimo e a paciência; são para vós ocasião preciosa de aprenderdes experimentalmente quão fiel é o Senhor em não vos provar além das vossas forças, e a vir em vosso auxílio quando o invocais. E essa experiência não vos será um meio de curar-vos da desconfiança e pusilanimidade? Tomai, pois, a resolução de exercer a vossa crença nas seguintes verdades: 1ª Nada escapa à sabedoria infinita de Deus e nada pode subtrair-se à sua onipotência. 2ª A sua bondade sem limites é o único móvel da sua ação sobre nós. 3ª Por conseguinte, deveis evitar o desânimo quando esse médico caridoso trabalha em vos curar da vaidade, pela humilhação; da cobiça, sensualidade e egoísmo, pelas adversidades, enfermidades e privações; de todos os vossos defeitos, enfim, por remédios amargos, incisões dolorosas, cujos efeitos tendem a santificar-vos e a tornar-vos felizes para a eternidade".

Católico, quão triste é conviver com uma pessoa desanimada; ela é um ídolo de tristeza.

Não fomos criados por Deus para vivermos amuados aqui na terra, e sim, para lutarmos continuamente para conquistar a vida eterna, enfrentado todos os obstáculos com a cabeça erguida: "Não há dúvida: quem quiser ganhar sua alma para a vida eterna deve perseverar no bem, sem se assustar com a aspereza das provações. Dada sua fragilidade e fraqueza, não pode a perseverança do homem ser perfeita, sem quedas; por isso, cada vez que cai, deve reerguer-se imediatamente, reparar a queda, recomeçando de novo: nisto consiste propriamente a perseverança, isto é, no constante converter-se, melhorar-se, até que Deus intervenha com particulares dons para estabilizá-lo no bem" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 301).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 09 de novembro de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Desânimo"

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