OS SINAIS PRECURSORES

(Lc 21, 5-19)

 

"5 Como alguns estavam dizendo a respeito do Templo que era ornado de belas pedras e de ofertas votivas, ele disse: 6 'Estais contemplando essas coisas... Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida!' 7 Perguntaram-lhe então: 'Quando será isso, Mestre, e qual o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?' 8 Respondeu: 'Atenção para não serdes enganados, pois muitos virão em meu nome, dizendo 'Sou eu!' e ainda: 'O tempo está próximo!' Não os sigais! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e subversões, não vos atemorizeis; pois é preciso que primeiro aconteça isso, mas não será logo o fim'. 10 Disse-lhes então: 'Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. 11 E haverá grandes terremotos e pestes e fomes em todos os lugares; aparecerão fenômenos pavorosos e grandes sinais vindos do céu. 12 Antes de tudo isso, porém, hão de vos prender, de vos perseguir, de vos entregar às sinagogas e às prisões, de vos conduzir a reis e governadores por causa do meu nome, 13 e isso vos será ocasião de testemunho. 14 Tende presente em vossos corações não premeditar vossa defesa; 15 pois eu vos darei eloquência e sabedoria, às quais nenhum de vossos adversários poderá resistir nem contradizer. 16 Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do vosso meio, 17 e sereis odiados de todos por causa de meu nome. 18 Mas nenhum só cabelo de vossa cabeça se perderá. 19 É pela perseverança que mantereis vossas vidas!"

 

 

Em Lc 21, 5-7 diz: "Como alguns estavam dizendo a respeito do Templo que era ornado de belas pedras e de ofertas votivas, ele disse: 'Estais contemplando essas coisas... Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida!' Perguntaram-lhe então: 'Quando será isso, Mestre, e qual o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?"

 

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal comenta: "Jesus pôs-se a caminho com os seus discípulos para o Monte das Oliveiras (Mc). O Templo, que acabavam de deixar atrás, era o orgulho dos judeus pela sua grandiosidade e magnificência. Não havia um Templo igual em todo o mundo. Desde a falda ocidental do monte, para onde se dirige o Senhor, os seus enormes cilhares causavam uma forte impressão de solidez e de permanência. Então, um dos discípulos disse em tom admirativo: Mestre, olha que pedras e que construções! (Mc). O Senhor respondeu-lhe com profunda pena: Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra que não seja destruída. Os apóstolos ficaram surpreendidos por estas palavras".

Pouco tempo depois, no ano 70, cumpriu-se à letra esta profecia quanto Tito conquistou Jerusalém. Os soldados colocaram fogo no Templo, e o imperador, que desejava conservá-lo, tentou apagar as chamas, mas não conseguindo dominá-las, ordenou a sua completa destruição. Os muros que subsistem na atualidade são fundamentos e parte da muralha exterior; do próprio santuário não ficou pedra sobre pedra. O culto judaico desapareceu com o Templo. Mais tarde, Tito depositou diante do altar de Zeus em Roma os despojos que se conseguiram salvar do incêndio: o grande candelabro dos sete braços, a mesa onde se colocavam os pães da proposição e um exemplar da Lei.

Cinquenta anos mais tarde, depois da segunda rebelião judaica contra o poder romano, o imperador Adriano fez substituir o nome da cidade pelo latino de Aelia Capitolina, e sobre a grande esplanada do Templo mandou instalar estátuas dedicadas a deuses pagãos. Onde antes esteve a porta sul, orientada para Belém, fez colocar uma cabeça de porco. Era a insígnia da Legião Décima Fretensis, que custodiava a cidade, mas também era uma grande ofensa para os judeus, que consideravam o porco como o animal impuro por excelência. Inclusive proibiu-se aos judeus, sob pena de morte, a entrada neste recinto. Nos dias do Senhor eram os pagãos que não podiam entrar, sob pena de morte.

Em tempo do imperador Juliano, o Apóstata (ano 363) os judeus tentaram em vão reconstruí-lo, e desde então não houve novas tentativas.

A profecia da destruição do Templo deitava por terra as idéias de grandeza latentes no povo e em todos. O Templo era o centro do judaísmo e a sua mais íntima essência. Era o único lugar onde se ofereciam os sacrifícios da Aliança estabelecida entre Deus e o povo de Israel. Por isso pensavam os discípulos que esta catástrofe devia ir unida à outra de proporções ingentes para toda a humanidade. O fim do Templo significava para eles o fim do mundo.

Os Apóstolos perguntaram a Cristo Jesus: "Quando será isso, Mestre, e qual o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?"

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: "A ruína do Templo - explica-lhes Jesus - é figura do fim do mundo, mas não indica a sua proximidade iminente; ambos os acontecimentos têm as suas próprias características. Assim, a ruína do Templo terá lugar, diz-lhes, naquela mesma geração. O fim do mundo, pelo contrário, permanece no segredo de Deus, e o tempo desse acontecimento final nem sequer o Filho quer revelá-lo", e: "Os Apóstolos não compreenderam bem as palavras de Jesus e pensaram, talvez, que o templo seria destruído somente no fim do mundo. De fato, como a ruína de Jerusalém é a figura do fim dos tempos, a Sagrada Escritura não  separa esses dois acontecimentos, aplicando a um o  que convém a outro. A resposta do Salvador é no mesmo sentido, e entre os pormenores da profecia, uns se aplicam à tomada de Jerusalém, outros ao fim do mundo" (Dom Duarte Leopoldo).

Edições Theologica comenta: "Nas palavras do Senhor enlaçam-se três questões relacionadas entre si: a destruição de Jerusalém - que teve lugar uns quarenta anos depois -, o fim do mundo, e a segunda vinda de Cristo em glória e majestade".

Em Lc 21, 8 diz: "Respondeu: 'Atenção para não serdes enganados, pois muitos virão em meu nome, dizendo 'Sou eu!' e ainda: 'O tempo está próximo!' Não os sigais!"

Nosso Senhor Jesus Cristo fala do aparecimento de muitas pessoas que, apresentando-se em seu nome, espalharão doutrinas e profecias falsas: "Atenção para não serdes enganados, pois muitos virão em meu nome..."

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: "A deformação da verdade é o mais insidioso perigo. Havemos de ser cautelosos e saber discernir. Quem contradiz a Sagrada Escritura, quem não está com a Igreja, com o Papa, não pode ser ouvido, nem seguido" (Intimidade Divina, 370, Ano C), e: "Os discípulos, ao ouvir que Jerusalém ia ser destruída, perguntam qual será o sinal que anunciará esse acontecimento (vv. 5-7). Jesus responde com uma advertência: 'Não vos deixeis enganar', isto é, não espereis nenhum aviso; não vos deixeis levar por falsos profetas, permanecei fiéis a Mim. Esses falsos profetas apresentar-se-ão afirmando que são o Messias, isto é o que significa a expressão 'eu sou'. A resposta do Senhor refere-se na realidade a dois acontecimentos que a mentalidade judaica via relacionados entre si: a destruição da Cidade Santa e o fim do mundo. Por isso, falará a seguir de ambos os acontecimentos e deixará entrever que deve decorrer um longo tempo entre eles; a destruição do Templo e de Jerusalém é como um sinal, um símbolo das catástrofes que acompanharão o fim do mundo" (Edições Theologica), e também: "Pouco depois da morte de Nosso Senhor, surgiram muitos falsos profetas que se inculcavam como Messias. Tinham por objetivo principal sublevar o povo contra a odiosa dominação dos romanos, e, entre muitos distinguiram-se: Théodas, Barcochebas, Simão Mago, Cerintho, etc." (Dom Duarte Leopoldo).

Em Lc 21, 9-11 diz: "Quando ouvirdes falar de guerras e subversões, não vos atemorizeis; pois é preciso que primeiro aconteça isso, mas não será logo o fim'. Disse-lhes então: 'Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. E haverá grandes terremotos e pestes e fomes em todos os lugares; aparecerão fenômenos pavorosos e grandes sinais vindos do céu".

Cristo Jesus anuncia guerras, revoluções, terremotos, epidemias, fome: "A história de todos os tempos registra calamidades deste gênero. Perigoso seria ver neles - como na multiplicidade de falsos profetas - sinais de um fim iminente. O próprio Jesus, ao predizê-los, acrescentou: 'Não tenhais medo... não é ainda o fim'. Tais acontecimentos, entretanto, deverão acontecer primeiro'. Têm eles, no plano divino, a finalidade de recordar aos homens que neste mundo tudo é transitório, tudo se encaminha para 'novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça' (2 Pd 5, 13), e participarão os justos eternamente da glória de seu Senhor" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena,  Intimidade Divina, 370, Ano C), e: "O Senhor não quer que os discípulos possam confundir qualquer catástrofe - fomes, terremotos, guerras - ou as próprias perseguições com sinais que anunciem a proximidade do fim do mundo. A exortação de Jesus é clara: 'Não fiqueis aterrados', porque isto há de suceder, 'mas não será logo o fim'; pelo contrário, no meio de tantas dificuldades, o Evangelho ir-se-á estendendo até aos confins do orbe. Estas circunstâncias adversas não devem paralisar a pregação da fé" (Edições Theologica).

Em Lc 21, 12-19 diz: "Antes de tudo isso, porém, hão de vos prender, de vos perseguir, de vos entregar às sinagogas e às prisões, de vos conduzir a reis e governadores por causa do meu nome, e isso vos será ocasião de testemunho. Tende presente em vossos corações não premeditar vossa defesa; pois eu vos darei eloquência e sabedoria, às quais nenhum de vossos adversários poderá resistir nem contradizer. Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do vosso meio, e sereis odiados de todos por causa de meu nome. Mas nenhum só cabelo de vossa cabeça se perderá. É pela perseverança que mantereis vossas vidas!"

São profetizadas as perseguições à Igreja Católica, em todas os tempos. Não são elas para a condenação, mas para o bem dos fiéis, para valorizar e fortificar sua fé: "... e isso vos será ocasião de testemunho" (Lc 21, 13).

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: "É a conclusão deste trecho não só serena, mas cheia de confiança. Jesus exorta os discípulos a não se preocuparem, nem quando forem presos, arrastados aos tribunais, perseguidos por amigos ou parentes, alvos de ódio de todos. Ele velará por eles! E se, por causa de seu nome, tiverem de perder a vida, ser-lhe-á esta conservada para a eternidade: 'É pela perseverança que mantereis vossas vidas!" (Lc 21, 19)".

Está claro que é preciso perseverar, permanecer fiel a Cristo Jesus e confiar somente n'Ele, por grandes e terríveis que sejam as perseguições.

Cristo Jesus anuncia perseguições de todos os gêneros: "entregues às sinagogas", "às prisões", "levados perante reis e governadores", "traídos pelos pais, irmãos, parentes, amigos", "odiados por todos", etc. Isto é inevitável: "Todos os que queiram viver piedosamente em Cristo Jesus padecerão perseguições" ( 2 Tm 3, 12).

Nenhuma perseguição, por mais sangrenta que seja, deve nos assustar ou nos desanimar, porque Nosso Senhor anuncia com clareza sobre as mesmas: "Os discípulos deverão recordar aquela advertência do senhor na Última Ceia: 'Não é o servo mais que o seu senhor. Se Me perseguiram a Mim, também vos perseguirão a vós" (Jo 15, 20). Contudo, estas perseguições não escapam à Providência divina. Acontecem porque Deus as permite. E Deus permite-as porque pode tirar delas bens maiores. As perseguições serão ocasião de dar testemunho, sem elas a Igreja não estaria adornada com o sangue de tantos mártires. O Senhor promete, além disso, uma assistência especial àqueles que estejam a sofrer perseguição e adverte-os de que não hão de temer: dar-lhe-á a Sua sabedoria para se defenderem e não permitirá que pereça nem sequer um cabelo da sua cabeça, isto é, que até o que possa parecer uma desgraça e uma perda será para eles o começo da glória. Das palavras de Jesus deduz também a obrigação que tem todo o cristão de estar disposto a perder a vida antes que ofender a Deus. Só aqueles que perseverarem até ao fim na fidelidade ao Senhor alcançarão a salvação. A exortação à perseverança está consignada pelos três Sinóticos neste discurso (cfr. Mt 24, 13; Mc 13, 13), e por São Mateus noutro lugar (Mt 10, 22) e igualmente por São Pedro (1 Pd 5, 9). Isso parece sublinhar a importância desta advertência de Nosso Senhor na vida de todo o cristão" (Edições Theologica).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 14 de novembro de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Os sinais precursores"

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