SALVA A TUA ALMA!
(Fl 2, 12)
“...
operai a vossa salvação com temor e tremor”.
Católico, não deixe
para amanhã, mas lute fervorosamente para salvar a sua alma imortal:
“Preciso salvar a minha alma, isto é, ganhar o
Céu, evitar a eternidade do inferno. Não há meio-termo. Salvar a minha
alma é o fim da minha criação, da minha redenção, é o fim da minha
vida” (São Pedro Julião
Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3), e: “Só tenho uma alma, e se perco esta, nada
mais tenho a salvar”
(Santa Teresa de Jesus).
Feliz daquele que
leva a sério a sua salvação!
Frei Gil, o bendito
leigo franciscano, temendo pela sua salvação, abandona o mundo. Uma
gruta às margens de um rio ofereceu-lhe abrigo, e ali vivia todo
consagrado ao serviço de Deus. A água cristalina matava-lhe a sede, e
as árvores ofereciam-lhe seus frutos. O sol surpreendia-o em oração e
as estrelas da noite eram testemunhas de suas assombrosas penitências.
Um dia, três
cavaleiros, que andavam à caça, chegaram à gruta de frei Gil. Este
recebeu-o amavelmente, entreteve-se com eles sobre coisas espirituais
e notou que, embora bons cristãos, gostavam mais do mundo do que de
Deus.
Ao despedirem-se,
um deles disse:
- Santo bendito,
desde hoje recomenda-nos a Deus.
- Em verdade,
senhores, vós é que haveis de pedir a Deus por mim, porque tendes mais
fé e mais esperança do que eu.
- Como assim? Nós?
- Sim, disse Frei
Gil, porque estou aqui retirado de todo trato com os homens, vestido
de burel, dormindo no chão, e sempre ando com medo de condenar-me; e
vós cercados de prazeres e comodidades, alimentando vícios e paixões,
estais tão seguros de vossa salvação! O santo dizia isso ironicamente.
O Santo tinha
razão. É preciso assegurar a nossa salvação por meio da penitência,
pois a eterna Verdade diz: “Se não fizerdes penitência, perecereis”.
Católico, é preciso
salvar a alma! Não brinque com coisa séria!
Milhões de católicos
se preocupam somente com o bem estar do corpo, deixando completamente
de lado a salvação da alma: “O negócio da
eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele
de que os cristãos mais se esquecem”
(Santo Afonso Maria de Ligório,
Preparação para a Morte, Consideração XII, Ponto I).
Que é a alma?
A alma é a parte espiritual do homem,
pela qual ele vive, entende e é livre. A alma do homem não morre com o
corpo, mas vive eternamente porque é espiritual.
Negar a existência
da alma humana seria grande absurdo: “a)
Prova-a a razão. Sabemos, efetivamente, que a simples matéria não
vive, nem sente, nem pensa. Nós vivemos, sentimos e pensamos. Logo,
temos um princípio distinto da matéria. b) A Sagrada Escritura
também no-lo prova. Assim, Cristo avisa-nos: ‘Não temais aqueles que
só podem fazer mal ao corpo. Temei antes Aquele que pode precipitar
a alma e o corpo no Inferno’ (Mt 10, 28). A alma humana tem duas
propriedades importantíssimas, que a distinguem do princípio vital dos
irracionais: é espiritual e imortal.
A alma humana é
espiritual, porque não é corpo nem consta de partes materiais: é um
princípio superior à matéria.
Isto
se prova porque ela realiza ações que estão acima da matéria.
Comparemos, para nos
certificarmos, o conhecimento do homem com o dos
animais.
1°
O conhecimento dos animais refere-se às qualidades materiais dos
corpos,
que se podem perceber pelos sentidos.
2°
O conhecimento do homem: a) refere-se também a seres e
qualidades imateriais; b) os próprios seres materiais, conhece-os
de modo
imaterial;
c) é capaz de
raciocinar. Três coisas que o animal não consegue.
a)
O
homem conhece seres espirituais, como Deus, e noções imateriais, como
as noções de virtude, dever, pátria...
b)
Conhece os seres materiais de modo imaterial, porque pode afastar
deles as qualidades sensíveis e formar as idéias, que são imateriais e
abstratas.
Expliquemo-lo com um exemplo. O cão distingue o seu dono do estranho e
do mendigo pela voz, as feições, o cheiro, as atitudes e outras
condições sensíveis e concretas. Mas nunca poderá dizer para si mesmo:
estes três possuem algo de comum, são animais racionais; porque este
conceito é algo de imaterial, que os sentidos não podem perceber. O
homem faz isto sempre que abstrai as qualidades materiais dos seres,
para formar as idéias ou conceitos gerais.
c)
Além disso, o homem pode raciocinar, o que não pode fazer o animal. É
absurdo supor que um cão leia um livro e discuta as idéias do autor,
ou que um burro fabrique um computador ou componha uma sinfonia.
Pois
bem: como o agir segue o ser, dizemos que, havendo no homem operações
imateriais, é necessário que nele exista um princípio imaterial
especial — espiritual — que as produza; a este princípio espiritual
chamamos alma.
Necessariamente, a natureza de um ser está de acordo com as suas
operações. Assim, é impossível que uma pedra tenha respiração e
circulação, ou que uma planta veja e sinta prazer. Por isso, havendo
como há, no homem, operações imateriais, é necessário que haja nele um
princípio i material especial.
A
alma não morre com o corpo: é imortal. ‘Deus fez o homem imortal’ —
escreve o Livro da Sabedoria (2, 23).
Diz
também o Eclesiastes: ‘Que o pó da terra volte à terra de onde saiu; e
o espírito volte a Deus, que lhe deu o ser’ (12, 7).
Também a razão, por sua vez, prova a imortalidade da alma:
a)Porque, sendo a alma um espírito, não tem em si gérmen algum de
corrupção, própria do que é material.
O
corpo, ao morrer, desagrega-se nos diversos elementos que o compõem e
entra em corrupção. A alma humana é simples e espiritual, e não tem
nem elementos que se desagreguem, nem matéria que possa corromper-se.
b)
Porque assim o exige a sabedoria de Deus. Se a alma não fosse imortal,
Deus teria posto no homem um desejo de felicidade que jamais poderia
satisfazer.
Uma
vez que nesta vida não pode satisfazer plenamente esse desejo, e iria
contra a sabedoria de Deus ter posto na alma uma aspiração tão
profunda e poderosa para nunca a satisfazer, é necessário admitir a
existência de outra vida, onde essa aspiração possa ter completa
realização.
c)
Porque assim o exige a Justiça de Deus. Pois de outro modo tantas
injustiças que se dão no mundo ficariam sem reparação”
(Curso de Teologia Dogmática, Pablo Arce e
Ricardo Sada).
Católico, a alma existe! Louco e estúpido é aquele que se agarra às
coisas terrenas, se esquecendo de salvá-la.
Vós,
os que vendeis vossa alma por um nada (por um prazer momentâneo, pelas
riquezas perecíveis, pelo fumo de uma honra vã, etc.), quereis saber o
que ela vale? Não vo-lo direi eu; dir-vos-á um pobre índio que viveu
nas florestas, mas teve a sorte de conhecer e abraçar a verdade
católica. Morrera o Padre de Smedt; morrera, como São Francisco
Xavier, com o braço cansado de batizar pagãos e rodeado de uma coroa
gloriosa de novos cristãos. Após a sua morte penetraram nas selvas,
carregados de ouro e de mulheres, muitos missionários protestantes. Um
deles, metodista, procurou conquistar para a sua seita o chefe da
tribo do Yacamas, a quem batizara o venerável Smedt. Entre o pastor e
o índio entabulou-se este diálogo:
-
Quanto dinheiro queres para passares para a nossa religião
protestante?
-
Muito; respondeu o pele-vermelha.
-
Quanto? Duzentos dólares?
-
Muito mais.
-
Quanto, então? 500.000 dólares?
-
Muito mais ainda.
Fala,
dize a soma que queres e eu te darei.
O
índio fitou-o fixamente nos olhos, atirou às costas sua manta de couro
de búfalo e, levantando a mão ao céu, segredou-lhe ao ouvido:
-
Dai-me o que vale a minha alma!
Católico, por que você se preocupa tanto com as coisas passageiras e
se esquece de trabalhar para salvar a sua alma? Lembre-se de que Jesus
Cristo morreu na cruz para salvá-la!
Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se ele vier a perder a alma?
Estas palavras não são de um articulista, não são de político algum,
nem foram ouvidas de uma cátedra de Universidade. Foi o divino Mestre,
Verdade eterna, quem as pronunciou. Um dia Jesus depois de ter falado
a seus discípulos sobre a abnegação de si mesmos, e desejoso de lhes
ensinar a inutilidade das coisas terrenas na salvação da alma, dá a
sublime lição que vence os séculos e hoje como então tem a mesma
atualidade. Foi à luz desse “Que aproveita” que o jovem São
Luiz Gonzaga disse: “Que serve isto para a minha eternidade?”
Que um outro jovem morto aos dezessete anos e hoje com as honras dos
altares, Santo Estanislau Kostka, disse também: “Eu nasci para as
coisas do alto”.
Católico, para que tantas preocupações pelas riquezas, tantos
sacrifícios para alcançar as glórias do mundo? Que proveito tirará
disso para a vida eterna?
“...
operai a vossa salvação com temor e tremor”
(Fl 2, 12).
Edições Theologica comenta:
“A perseverança na fé e na
caridade até ao fim da vida é um dom de Deus. Pode alcançar-se se não
se põem obstáculos às graças que o Senhor dá continuamente. Acerca
deste dom, o Concílio de Trento advertiu que ‘todos devem depositar e
pôr no auxílio de Deus a mais firme esperança. Porque Deus, se eles
não faltam à sua graça, como começou a obra boa, assim a acabará,
operando o querer e o atuar’
(De iustificatione, cap. 13).
‘Em prol dos Seus desígnios’: A graça que de Deus outorga a cada um
para que possa realizar ações sobrenaturais é uma manifestação da
benevolência de Deus, o qual quer que todos os homens se salvem. O
homem, portanto, não pode fazer coisa alguma que conduza à vida eterna
se não é movido pela graça. Não obstante a graça não suprime a
liberdade, pois somos nós que queremos e atuamos. A incapacidade
humana para realizar obras meritórias só com as força naturais não há
de ser motivo de desânimo. Pelo contrário, constitui uma razão mais de
agradecimento a Deus, pois Ele está sempre pronto a enviar-nos o
auxílio da Sua graça; assim poderemos operar o bem e fazer que essas
boas ações nos sirvam para merecer o Céu. São Francisco de Sales
ilustra esta maravilha do amor de Deus com um exemplo: “Quando a terna
mãe ensina o seu filhinho a andar, ajuda-o e sustenta-o quando é
necessário, deixando-o dar alguns passos pelos sítios menos perigosos
e mais planos, tomando-lhe a mão e segurando-o, ou tomando-o nos seus
braços e levando-o neles. Da mesma maneira Nosso Senhor tem cuidado
contínuo dos passos dos Seus filhos’
(Tratado do amor de Deus, liv.
3, cap. 4). Não
obstante, esta solicitude de Deus pelos homens não deve ser tomada
como escusa para permanecer inativos. Deus sempre deseja entrar com a
Sua graça dentro de cada pessoa (cfr Apc 3. 20), mas não o fará em
quem se nega a escutar a Sua voz e fecha o seu coração. Daí a
recomendação de São Paulo: ‘Trabalhai com temor e tremor na vossa
salvação” (v. 12). É este um convite urgente a secundar a atenção da
graça de Deus na nossa alma. O ‘temor’ e o ‘tremor’ são o temor filial
de entristecer a quem sabemos que nos ama (cfr 2 Cor 7, 15); este
temor filial vai intimamente unido à alegria de servir a Deus (cfr Sl
2, 11) e é dulcificado pela certeza de que o próprio Deus está
empenhado em que sejamos santos, ‘sem permitir que o desalento nos
domine; se nos determos em cálculos meramente humanos. Para superar os
obstáculos, há que começar a trabalhar, metendo-se em cheio nessa
tarefa, de maneira que o nosso próprio esforço nos leve a abrir novos
caminhos” (São
Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n° 160)”.
Católico, não tenha preguiça de trabalhar para salvar a sua alma
imortal. Trabalhe fervorosamente agora, imitando a Cristo Jesus, para
depois descansar no Paraíso.
Perguntai a São Paulo o que deveis fazer para vos tornardes
semelhantes a Jesus Cristo. São Paulo não vos enganará. Ele é o doutor
que mais admiravelmente expõe as leis divinas de nossa perfeição na
vida espiritual...
-
Santo Apóstolo, temos a fé de Pedro, o discípulo escolhido por Jesus
Cristo para seu vigário na terra... Basta-nos?
-
Não basta.
-
Temos a caridade para com Deus e o amor para com o próximo, que
aprendemos do amigo predileto de Jesus... Basta?
-
Não.
-
Temos a fortaleza heróica demonstrada pelo Batista ante os inimigos...
Basta?
-
Não.
-
Temos a confiança em Deus que distinguiu o patriarca São José, o qual
mereceu ser tido por pai de Jesus... Basta?
- Não
basta... escutai o que vos digo: Jesus Cristo é o modelo que deveis
ter sempre diante dos olhos... é o retrato que haveis de reproduzir em
vosso corpo e em vossa alma. E quem era Jesus Cristo? Era a caridade,
era a justiça, a mansidão, a prudência e a paciência... Era a beleza
de Deus manifestando-se aos olhos humanos, para que nele nos
transformemos. Tendes, pois, de trabalhar, trabalhar muito, até que
sejais retratos perfeitos desse divino Modelo...
-
Mas, santo Apóstolo, nossa carne é fraca, nosso coração é louco, nossa
concupiscência é animal, nossas inclinações perversas, as tentações
são muitas, os demônios rodeiam-nos dia e noite, o mundo nos
fascina...
-
Trabalhai! É preciso imitar a Jesus Cristo. Essa é a única segura
garantia de nossa eterna salvação. Se temos a sua graça, temos tudo...
-
Mas isso será trabalho de muitos anos.
-
Tendes razão: é trabalho de toda a vida. Mas para isso é que Deus nos
pôs no mundo, para isso é a vida. Se não a atendeis assim, estais
tristemente equivocados...
Trabalhai! Tendes diante de vós uma eternidade para descansar e gozar
de vossas virtudes.
Católico, louco, de todos o mais louco, é aquele que não se preocupa
com a salvação de sua alma:
“Razão tinha São Filipe Néri em chamar de louco ao homem que não
trabalhava na salvação de sua alma. Se houvesse na terra homens
mortais e homens imortais e aqueles vissem estes se aplicarem às
coisas do mundo, procurando honras, riquezas e prazeres terrenos,
dir-lhes-iam sem dúvida: ‘Quanto sois insensatos! Podeis adquirir bens
eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras,
condenando-vos a penas eternas na outra vida!… Deixai-os, pois; nesses
bens só devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se
acaba com a morte!’ Isto, porém, não é assim: todos somos imortais…
Como se haverá, portanto, aquele que, por causa dos miseráveis
prazeres do mundo, perde a sua alma?… Como se explica — disse Salviano
— que os cristãos creiam no juízo, no inferno, na eternidade, e vivam
sem receio de nenhuma dessas coisas?
A salvação eterna não é só
o mais importante, senão o único negócio que nesta vida nos impende
(Lc 10, 42). São Bernardo deplora a cegueira dos cristãos que,
qualificando de brinquedos infantis certos passatempos da infância,
chamam negócios sérios suas ocupações mundanas. Maiores loucuras são
as néscias puerilidades dos homens. ‘Que aproveita ao homem — disse o
Senhor — ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?’ (Mt 16, 26). Se tu
te salvas, meu irmão, nada importa que no mundo hajas sido pobre,
perseguido e desprezado. Salvando-te, acabar-se-ão os males e serás
feliz por toda a eternidade. Mas, se te enganares e te perderes, de
que te servirá no inferno haveres desfrutado de todos os prazeres do
mundo, teres sido rico e cortejado? Perdida a alma, tudo está perdido:
honras, divertimentos e riquezas.
Que responderás a Jesus
Cristo no dia do juízo? Se um rei enviasse um embaixador a uma grande
cidade, a fim de tratar de um negócio importante, e esse ministro, em
vez de ali dedicar-se à missão que lhe fora confiada, só se ocupasse
de banquetes, festas e espetáculos, de modo que por sua negligência
fracassasse a negociação, que contas poderia dar ao rei à sua volta?
Do mesmo modo, ó meu Deus, que conta poderá dar ao Senhor no dia do
juízo, aquele que, colocado neste mundo, não para divertir-se, nem
enriquecer, nem adquirir honras, senão para salvar sua alma,
infelizmente a tudo atendeu, menos à sua alma? Os mundanos não pensam
no presente e nunca no futuro. São Filipe Néri, falando certa vez em
Roma com um jovem talentoso chamado Francisco Nazzera, assim se
expressou: ‘Tu, meu filho, terás carreira brilhante: serás bom
advogado, depois prelado, a seguir cardeal, quem sabe? talvez Papa…
mas depois? e depois? Ide, disse-lhe em fim pensai nestas últimas
palavras’. Foi Francisco para casa e, meditando no sentido daquelas
palavras ‘e depois? e depois?’ Abandonou os negócios terrenos, deixou
o mundo para ingressar na mesma congregação a que pertencia São Filipe
Néri, e aí ocupar-se somente em servir a Deus. Este é o único negócio,
porque só temos uma alma. Certo príncipe solicitou a Bento XII uma
graça que não podia ser concedida sem pecado. Respondeu o Papa ao
embaixador: ‘Dizei a vosso soberano que, se eu tivesse duas almas,
poderia sacrificar uma por ele e reservar a outra para mim, mas como
só tenho uma, não quero perdê-la’. São Francisco Xavier dizia que no
mundo há um só bem e um só mal. O único bem, salvar-se; condenar-se, o
único mal. A mesma verdade expunha Santa Teresa às suas religiosas:
‘Minhas irmãs, uma alma e uma eternidade’; o que quer dizer: há uma
alma, e perdida esta, tudo está perdido; há uma eternidade, e a alma,
uma vez perdida, para sempre o será. Por isso, Davi suplicava a Deus,
e dizia: Senhor, uma só coisa vos peço: salvai-me a alma, e nada mais
quero.
Com receio e com temor
trabalhai na vossa salvação (Fl 2,12). Quem não receia nem teme
perder-se, não se salvará, porque para se salvar é preciso trabalhar e
empregar violência (Mt 11, 12). Para alcançar a salvação é necessário
que, na hora da morte, apareça a nossa vida semelhante à de Nosso
Senhor Jesus Cristo (Rm 8, 29). Para este fim devemos esforçar-nos em
evitar as ocasiões perigosas e empregar os meios necessários para
conseguir a salvação. ‘O reino dos céus não se dará aos indolentes —
diz São Bernardo, — senão aos que trabalharam no serviço do Senhor’.
Todos desejariam salvar-se, mas sem o menor incômodo. ‘O demônio — diz
Santo Agostinho — trabalha sem repouso para perder-te, e tu,
tratando-se de tua felicidade ou de tua desgraça eterna, tanto te
descuidas?’.
Negócio importante,
negócio único, negócio irreparável. Não há falta que se possa
comparar, diz Santo Eusébio, ao desprezo da salvação eterna. Todos os
demais erros podem ter remédio. Perdidos os bens, é possível
readquirir outros por meio de novos trabalhos. Perdido um emprego,
pode ser recuperado. Ainda no caso de perder a vida, se salvar a alma,
tudo está preparado. Mas para quem se condena, não há possibilidade de
remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma vez a alma, está perdida para
sempre. Só resta o pranto eterno com os outros míseros insensatos do
inferno, cuja pena e maior tormento consiste em pensar que para eles
já não há mais tempo de remediar sua desdita (Jr 8, 20). Perguntai a
esses sábios do mundo, mergulhados agora no fogo infernal,
perguntai-lhes o que sentem e pensam; se estão contentes por terem
feito fortuna na terra, mesmo que se condenaram à eterna prisão.
Escutai como gemem dizendo: Erramos, pois… (Sb 5, 6). Mas de que lhes
serve agora reconhecer o seu erro, quando já a condenação é
irremediável para sempre? Qual não seria o pesar daquele que, tendo
podido prevenir e evitar com pouco esforço a ruína de sua casa, a
encontrasse um dia desabada, e só então considerasse seu próprio
descuido, quando não houvesse já remédio possível?
Esta é a
maior aflição dos réprobos: pensar que perderam sua alma e se
condenaram por sua culpa. Disse Santa Teresa que, se alguém perde, por
sua culpa, um vestido, um anel ou outro objeto, perde a tranquilidade
e, às vezes, não come nem dorme. Qual será, pois, ó meu Deus, a
angústia do condenado quando, ao entrar no inferno, se vir sepultado
naquele cárcere de tormentos, e, atendendo à sua desgraça, considerar
que durante toda a eternidade não há de chegar remédio algum! Sem
dúvida exclamará: ‘Perdi a alma e o paraíso, perdi a Deus; tudo perdi
para sempre, e por quê? Por minha culpa! E se alguém objetar: Mesmo
que cometa este pecado, porque hei de me condenar?… Acaso, não poderei
salvar-me? Responder-lhe-ei: Também pode ser que te condenes’. Ainda
direi que até há mais probabilidade em favor de tua condenação, porque
a Sagrada Escritura ameaça com este tremendo castigo aos pecadores
obstinados, como tu o és neste instante. ‘Ai dos filhos que desertam!’
(Is 30, 1) — diz o Senhor. — ‘Ai daqueles que se afastam de mim’ (Os
7,13). E não pões ao menos, com esse pecado cometido, a tua salvação
eterna em grande perigo e grande incerteza? E qual é este negócio que
assim se pode arriscar? Não se trata de uma casa, de uma cidade, de um
emprego; trata-se, — diz São João Crisóstomo, — de padecer uma
eternidade de tormentos e de perder um paraíso de delícias. E este
negócio, que tanto te deve importar, queres arriscá-lo por um talvez?
‘Quem sabe — dizes, — quem sabe se me condenarei? Espero que Deus mais
tarde me há de perdoar’. E entretanto?… Entretanto, por ti mesmo te
condenas ao inferno. Por acaso te atirarias a um poço, dizendo: talvez
escape da morte? — Não, de certo. Como podes expor tua eterna salvação
numa tão frágil esperança, num quem sabe? Oh! quantos, por causa dessa
maldita falsa esperança, se perderam!… Não sabes que a esperança dos
obstinados no pecado não é esperança, mas presunção e ilusão que não
promovem a misericórdia divina, mas provocam sua indignação? Se dizes
que presentemente não estás em estado de resistir às tentações, à
paixão dominante, como resistirás mais tarde, quando, em vez de
aumentar, te faltará a força pelo hábito de pecar? Por uma parte, a
alma estará mais cega e mais endurecida na malícia, e por outra
faltar-lhe-á o auxílio divino… Acaso, esperas que Deus aumente para ti
suas luzes e suas graças depois que tu hajas aumentado ilimitadamente
tuas faltas e pecados?”
(Santo Afonso Maria de
Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XII, Ponto I, II e III).
Católico, não existe ocupação mais importante aqui na terra, do que
trabalhar para salvar a sua alma.
São
João de Gota, um dos mártires do Japão, foi condenado pelo tirano.
Contava apenas dezenove anos e pouco tempo fazia que entrara na
Companhia de Jesus. Indo seu pai despedir-se dele, o jovem, no momento
de ser crucificado, disse-lhe:
-
Meu pai, a salvação deve preferir-se a tudo. O senhor, para
assegurá-la, não se descuide de nada.
-
Muito obrigado, meu filho! E você, também, aguente firme. Sua mãe e eu
estamos preparados para morrer pela mesma causa.
- E o
generoso pai, tendo beijado seu filho mártir, retirou-se molhado pelo
sangue da generosa vítima.
Católico, não perca tempo, mas trabalhe para salvar a sua alma
imortal: “Salvar a minha alma, tornar-me santo, eis o principal negócio de
minha vida. Ser rico, honrado, prezado, servido, isto não tem valor
algum e será antes um perigo, uma grande desgraça se der ocasião a que
peque ou me leve a descuidar-me de minha salvação – pois na morte
acaba tudo... Com efeito, que me valerá perante Deus, ter feito
fortuna, alcançando posição de destaque e de influência no mundo, ou
gozado de todos os bens da vida, se nada fiz para o céu, se não amei e
servi a Deus, meu derradeiro fim?... A obra de minha salvação é, por
conseguinte, o meu primeiro dever, enquanto tudo o mais não passa de
bagatela”
(São Pedro Julião Eymard, A
Divina Eucaristia, Vol 3).
Católico, jogue a preguiça fora e lute fervorosamente para salvar a
sua alma: “Se tens
coração, recorda bem que maior necessidade não há que a necessidade da
salvação da alma”
(Santo Ambrósio, Serm. 4).
Católico, não deixe o mundo enganar-te com as vaidades, lembre-se de
que a salvação da alma é o negócio mais importante:
“Quem te criou sem te
consultar, não te salvará sem a tua cooperação”
(Santo Agostinho),
e: “É grandíssima
loucura sermos negligentes pela nossa própria salvação, enquanto o
demônio não perde ocasião em perder a nossa alma”
(São João Crisóstomo, Hom.
2 in Epist. 2 Joan.).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 27 de novembro de 2007
|