SALVA A TUA ALMA!

(Fl 2, 12)

 

“... operai a vossa salvação com temor e tremor”.

 

 

Católico, não deixe para amanhã, mas lute fervorosamente para salvar a sua alma imortal: “Preciso salvar a minha alma, isto é, ganhar o Céu, evitar a eternidade do inferno. Não há meio-termo. Salvar a minha alma é o fim da minha criação, da minha redenção, é o fim da minha vida” (São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3), e: “Só tenho uma alma, e se perco esta, nada mais tenho a salvar” (Santa Teresa de Jesus).

Feliz daquele que leva a sério a sua salvação!

 

Frei Gil, o bendito leigo franciscano, temendo pela sua salvação, abandona o mundo. Uma gruta às margens de um rio ofereceu-lhe abrigo, e ali vivia todo consagrado ao serviço de Deus. A água cristalina matava-lhe a sede, e as árvores ofereciam-lhe seus frutos. O sol surpreendia-o em oração e as estrelas da noite eram testemunhas de suas assombrosas penitências.

Um dia, três cavaleiros, que andavam à caça, chegaram à gruta de frei Gil. Este recebeu-o amavelmente, entreteve-se com eles sobre coisas espirituais e notou que, embora bons cristãos, gostavam mais do mundo do que de Deus.

Ao despedirem-se, um deles disse:

- Santo bendito, desde hoje recomenda-nos a Deus.

- Em verdade, senhores, vós é que haveis de pedir a Deus por mim, porque tendes mais fé e mais esperança do que eu.

- Como assim? Nós?

- Sim, disse Frei Gil, porque estou aqui retirado de todo trato com os homens, vestido de burel, dormindo no chão, e sempre ando com medo de condenar-me; e vós cercados de prazeres e comodidades, alimentando vícios e paixões, estais tão seguros de vossa salvação! O santo dizia isso ironicamente.

O Santo tinha razão. É preciso assegurar a nossa salvação por meio da penitência, pois a eterna Verdade diz: “Se não fizerdes penitência, perecereis”.

 

Católico, é preciso salvar a alma! Não brinque com coisa séria!

Milhões de católicos se preocupam somente com o bem estar do corpo, deixando completamente de lado a salvação da alma: “O negócio da eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele de que os cristãos mais se esquecem” (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XII, Ponto I).

Que é a alma? A alma é a parte espiritual do homem, pela qual ele vive, entende e é livre. A alma do homem não morre com o corpo, mas vive eternamente porque é espiritual.

Negar a existência da alma humana seria grande absurdo: “a) Prova-a a razão. Sabemos, efetivamente, que a simples matéria não vive, nem sente, nem pensa. Nós vivemos, sentimos e pensamos. Logo, temos um princípio distinto da matéria. b) A Sagrada Escritura  também no-lo prova. Assim, Cristo avisa-nos: ‘Não temais aqueles que só podem fazer mal ao corpo. Temei antes Aquele que pode precipitar a alma e o corpo no Inferno’ (Mt 10, 28). A alma humana tem duas propriedades importantíssimas, que a distinguem do princípio vital dos irracionais: é espiritual e imortal.

A alma humana é espiritual, porque não é corpo nem consta de partes materiais: é um princípio superior à matéria.

Isto se prova porque ela realiza ações que estão acima da matéria. Comparemos, para nos certificarmos, o conhecimento do homem com o dos animais.

1° O conhecimento dos animais refere-se às qualidades materiais dos corpos, que se podem perceber pelos sentidos.

2° O conhecimento do homem: a) refere-se também a seres e qualidades imateriais; b) os próprios seres materiais, conhece-os de modo imaterial; c) é capaz de raciocinar. Três coisas que o animal não consegue.

 

a) O homem conhece seres espirituais, como Deus, e noções imateriais, como as noções de virtude, dever, pátria...

 

b) Conhece os seres materiais de modo imaterial, porque pode afastar deles as qualidades sensíveis e formar as idéias, que são imateriais e abstratas.

 

Expliquemo-lo com um exemplo. O cão distingue o seu dono do estranho e do mendigo pela voz, as feições, o cheiro, as atitudes e outras condições sensíveis e concretas. Mas nunca poderá dizer para si mesmo: estes três possuem algo de comum, são animais racionais; porque este conceito é algo de imaterial, que os sentidos não podem perceber. O homem faz isto sempre que abstrai as qualidades materiais dos seres, para formar as idéias ou conceitos gerais.

 

c) Além disso, o homem pode raciocinar, o que não pode fazer o animal. É absurdo supor que um cão leia um livro e discuta as idéias do autor, ou que um burro fabrique um computador ou componha uma sinfonia.

Pois bem: como o agir segue o ser, dizemos que, havendo no homem operações imateriais, é necessário que nele exista um princípio imaterial especial — espiritual — que as produza; a este princípio espiritual chamamos alma.

Necessariamente, a natureza de um ser está de acordo com as suas operações. Assim, é impossível que uma pedra tenha respiração e circulação, ou que uma planta veja e sinta prazer. Por isso, havendo como há, no homem, operações imateriais, é necessário que haja nele um princípio i material especial.

 

A alma não morre com o corpo: é imortal. ‘Deus fez o homem imortal’ — escreve o Livro da Sabedoria (2, 23).

 

Diz também o Eclesiastes: ‘Que o pó da terra volte à terra de onde saiu; e o espírito volte a Deus, que lhe deu o ser’ (12, 7).

 

Também a razão, por sua vez, prova a imortalidade da alma:

 

a)Porque, sendo a alma um espírito, não tem em si gérmen algum de corrupção, própria do que é material.

 

O corpo, ao morrer, desagrega-se nos diversos elementos que o compõem e entra em corrupção. A alma humana é simples e espiritual, e não tem nem elementos que se desagreguem, nem matéria que possa corromper-se.

 

b) Porque assim o exige a sabedoria de Deus. Se a alma não fosse imortal, Deus teria posto no homem um desejo de felicidade que jamais poderia satisfazer.

 

Uma vez que nesta vida não pode satisfazer plenamente esse desejo, e iria contra a sabedoria de Deus ter posto na alma uma aspiração tão profunda e poderosa para nunca a satisfazer, é necessário admitir a existência de outra vida, onde essa aspiração possa ter completa realização.

 

c) Porque assim o exige a Justiça de Deus. Pois de outro modo tantas injustiças que se dão no mundo ficariam sem reparação” (Curso de Teologia Dogmática, Pablo Arce e Ricardo Sada).

 

Católico, a alma existe! Louco e estúpido é aquele que se agarra às coisas terrenas, se esquecendo de salvá-la.

 

Vós, os que vendeis vossa alma por um nada (por um prazer momentâneo, pelas riquezas perecíveis, pelo fumo de uma honra vã, etc.), quereis saber o que ela vale? Não vo-lo direi eu; dir-vos-á um pobre índio que viveu nas florestas, mas teve a sorte de conhecer e abraçar a verdade católica. Morrera o Padre de Smedt; morrera, como São Francisco Xavier, com o braço cansado de batizar pagãos e rodeado de uma coroa gloriosa de novos cristãos. Após a sua morte penetraram nas selvas, carregados de ouro e de mulheres, muitos missionários protestantes. Um deles, metodista, procurou conquistar para a sua seita o chefe da tribo do Yacamas, a quem batizara o venerável Smedt. Entre o pastor e o índio entabulou-se este diálogo:

- Quanto dinheiro queres para passares para a nossa religião protestante?

- Muito; respondeu o pele-vermelha.

- Quanto? Duzentos dólares?

- Muito mais.

- Quanto, então? 500.000 dólares?

- Muito mais ainda.

Fala, dize a soma que queres e eu te darei.

O índio fitou-o fixamente nos olhos, atirou às costas sua manta de couro de búfalo e, levantando a mão ao céu, segredou-lhe ao ouvido:

- Dai-me o que vale a minha alma!

 

Católico, por que você se preocupa tanto com as coisas passageiras e se esquece de trabalhar para salvar a sua alma? Lembre-se de que Jesus Cristo morreu na cruz para salvá-la!

Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se ele vier a perder a alma? Estas palavras não são de um articulista, não são de político algum, nem foram ouvidas de uma cátedra de Universidade. Foi o divino Mestre, Verdade eterna, quem as pronunciou. Um dia Jesus depois de ter falado a seus discípulos sobre a abnegação de si mesmos, e desejoso de lhes ensinar a inutilidade das coisas terrenas na salvação da alma, dá a sublime lição que vence os séculos e hoje como então tem a mesma atualidade. Foi à luz desse “Que aproveita” que o jovem São Luiz Gonzaga disse: “Que serve isto para a minha eternidade?” Que um outro jovem morto aos dezessete anos e hoje com as honras dos altares, Santo Estanislau Kostka, disse também: “Eu nasci para as coisas do alto”.

Católico, para que tantas preocupações pelas riquezas, tantos sacrifícios para alcançar as glórias do mundo? Que proveito tirará disso para a vida eterna?

“... operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2, 12).

Edições Theologica comenta: “A perseverança na fé e na caridade até ao fim da vida é um dom de Deus. Pode alcançar-se se não se põem obstáculos às graças que o Senhor dá continuamente. Acerca deste dom, o Concílio de Trento advertiu que ‘todos devem depositar e pôr no auxílio de Deus a mais firme esperança. Porque Deus, se eles não faltam à sua graça, como começou a obra boa, assim a acabará, operando o querer e o atuar’ (De iustificatione, cap. 13). ‘Em prol dos Seus desígnios’: A graça que de Deus outorga a cada um para que possa realizar ações sobrenaturais é uma manifestação da benevolência de Deus, o qual quer que todos os homens se salvem. O homem, portanto, não pode fazer coisa alguma que conduza à vida eterna se não é movido pela graça. Não obstante a graça não suprime a liberdade, pois somos nós que queremos e atuamos. A incapacidade humana para realizar obras meritórias só com as força naturais não há de ser motivo de desânimo. Pelo contrário, constitui uma razão mais de agradecimento a Deus, pois Ele está sempre pronto a enviar-nos o auxílio da Sua graça; assim poderemos operar o bem e fazer que essas boas ações nos sirvam para merecer o Céu. São Francisco de Sales ilustra esta maravilha do amor de Deus com um exemplo: “Quando a terna mãe ensina o seu filhinho a andar, ajuda-o e sustenta-o quando é necessário, deixando-o dar alguns passos pelos sítios menos perigosos e mais planos, tomando-lhe a mão e segurando-o, ou tomando-o nos seus braços e levando-o neles. Da mesma maneira Nosso Senhor tem cuidado contínuo dos passos dos Seus filhos’ (Tratado do amor de Deus, liv. 3, cap. 4). Não obstante, esta solicitude de Deus pelos homens não deve ser tomada como escusa para permanecer inativos. Deus sempre deseja entrar com a Sua graça dentro de cada pessoa (cfr Apc 3. 20), mas não o fará em quem se nega a escutar a Sua voz e fecha o seu coração. Daí a recomendação de São Paulo: ‘Trabalhai com temor e tremor na vossa salvação” (v. 12). É este um convite urgente a secundar a atenção da graça de Deus na nossa alma. O ‘temor’ e o ‘tremor’ são o temor filial de entristecer a quem sabemos que nos ama (cfr 2 Cor 7, 15); este temor filial vai intimamente unido à alegria de servir a Deus (cfr Sl 2, 11) e é dulcificado pela certeza de que o próprio Deus está empenhado em que sejamos santos, ‘sem permitir que o desalento nos domine; se nos determos em cálculos meramente humanos. Para superar os obstáculos, há que começar a trabalhar, metendo-se em cheio nessa tarefa, de maneira que o nosso próprio esforço nos leve a abrir novos caminhos” (São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n° 160)”.

Católico, não tenha preguiça de trabalhar para salvar a sua alma imortal. Trabalhe fervorosamente agora, imitando a Cristo Jesus, para depois descansar no Paraíso.

 

Perguntai a São Paulo o que deveis fazer para vos tornardes semelhantes a Jesus Cristo. São Paulo não vos enganará. Ele é o doutor que mais admiravelmente expõe as leis divinas de nossa perfeição na vida espiritual...

- Santo Apóstolo, temos a fé de Pedro, o discípulo escolhido por Jesus Cristo para seu vigário na terra... Basta-nos?

-   Não basta.

- Temos a caridade para com Deus e o amor para com o próximo, que aprendemos do amigo predileto de Jesus... Basta?

-   Não.

-  Temos a fortaleza heróica demonstrada pelo Batista ante os inimigos... Basta?

-  Não.

- Temos a confiança em Deus que distinguiu o patriarca São José, o qual mereceu ser tido por pai de Jesus... Basta?

- Não basta... escutai o que vos digo: Jesus Cristo é o modelo que deveis ter sempre diante dos olhos... é o retrato que haveis de reproduzir em vosso corpo e em vossa alma. E quem era Jesus Cristo? Era a caridade, era a justiça, a mansidão, a prudência e a paciência... Era a beleza de Deus manifestando-se aos olhos humanos, para que nele nos transformemos. Tendes, pois, de trabalhar, trabalhar muito, até que sejais retratos perfeitos desse divino Modelo...

- Mas, santo Apóstolo, nossa carne é fraca, nosso coração é louco, nossa concupiscência é animal, nossas inclinações perversas, as tentações são muitas, os demônios rodeiam-nos dia e noite, o mundo nos fascina...

- Trabalhai! É preciso imitar a Jesus Cristo. Essa é a única segura garantia de nossa eterna salvação. Se temos a sua graça, temos tudo...

-  Mas isso será trabalho de muitos anos.

- Tendes razão: é trabalho de toda a vida. Mas para isso é que Deus nos pôs no mundo, para isso é a vida. Se não a atendeis assim, estais tristemente equivocados...

Trabalhai! Tendes diante de vós uma eternidade para descansar e gozar de vossas virtudes.

 

Católico, louco, de todos o mais louco, é aquele que não se preocupa com a salvação de sua alma: “Razão tinha São Filipe Néri em chamar de louco ao homem que não trabalhava na salvação de sua alma. Se houvesse na terra homens mortais e homens imortais e aqueles vissem estes se aplicarem às coisas do mundo, procurando honras, riquezas e prazeres terrenos, dir-lhes-iam sem dúvida: ‘Quanto sois insensatos! Podeis adquirir bens eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras, condenando-vos a penas eternas na outra vida!… Deixai-os, pois; nesses bens só devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se acaba com a morte!’ Isto, porém, não é assim: todos somos imortais… Como se haverá, portanto, aquele que, por causa dos miseráveis prazeres do mundo, perde a sua alma?… Como se explica — disse Salviano — que os cristãos creiam no juízo, no inferno, na eternidade, e vivam sem receio de nenhuma dessas coisas?

A salvação eterna não é só o mais importante, senão o único negócio que nesta vida nos impende (Lc 10, 42). São Bernardo deplora a cegueira dos cristãos que, qualificando de brinquedos infantis certos passatempos da infância, chamam negócios sérios suas ocupações mundanas. Maiores loucuras são as néscias puerilidades dos homens. ‘Que aproveita ao homem — disse o Senhor — ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?’ (Mt 16, 26). Se tu te salvas, meu irmão, nada importa que no mundo hajas sido pobre, perseguido e desprezado. Salvando-te, acabar-se-ão os males e serás feliz por toda a eternidade. Mas, se te enganares e te perderes, de que te servirá no inferno haveres desfrutado de todos os prazeres do mundo, teres sido rico e cortejado? Perdida a alma, tudo está perdido: honras, divertimentos e riquezas.

Que responderás a Jesus Cristo no dia do juízo? Se um rei enviasse um embaixador a uma grande cidade, a fim de tratar de um negócio importante, e esse ministro, em vez de ali dedicar-se à missão que lhe fora confiada, só se ocupasse de banquetes, festas e espetáculos, de modo que por sua negligência fracassasse a negociação, que contas poderia dar ao rei à sua volta? Do mesmo modo, ó meu Deus, que conta poderá dar ao Senhor no dia do juízo, aquele que, colocado neste mundo, não para divertir-se, nem enriquecer, nem adquirir honras, senão para salvar sua alma, infelizmente a tudo atendeu, menos à sua alma? Os mundanos não pensam no presente e nunca no futuro. São Filipe Néri, falando certa vez em Roma com um jovem talentoso chamado Francisco Nazzera, assim se expressou: ‘Tu, meu filho, terás carreira brilhante: serás bom advogado, depois prelado, a seguir cardeal, quem sabe? talvez Papa… mas depois? e depois? Ide, disse-lhe em fim pensai nestas últimas palavras’. Foi Francisco para casa e, meditando no sentido daquelas palavras ‘e depois? e depois?’ Abandonou os negócios terrenos, deixou o mundo para ingressar na mesma congregação a que pertencia São Filipe Néri, e aí ocupar-se somente em servir a Deus. Este é o único negócio, porque só temos uma alma. Certo príncipe solicitou a Bento XII uma graça que não podia ser concedida sem pecado. Respondeu o Papa ao embaixador: ‘Dizei a vosso soberano que, se eu tivesse duas almas, poderia sacrificar uma por ele e reservar a outra para mim, mas como só tenho uma, não quero perdê-la’. São Francisco Xavier dizia que no mundo há um só bem e um só mal. O único bem, salvar-se; condenar-se, o único mal. A mesma verdade expunha Santa Teresa às suas religiosas: ‘Minhas irmãs, uma alma e uma eternidade’; o que quer dizer: há uma alma, e perdida esta, tudo está perdido; há uma eternidade, e a alma, uma vez perdida, para sempre o será. Por isso, Davi suplicava a Deus, e dizia: Senhor, uma só coisa vos peço: salvai-me a alma, e nada mais quero.

Com receio e com temor trabalhai na vossa salvação (Fl 2,12). Quem não receia nem teme perder-se, não se salvará, porque para se salvar é preciso trabalhar e empregar violência (Mt 11, 12). Para alcançar a salvação é necessário que, na hora da morte, apareça a nossa vida semelhante à de Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 8, 29). Para este fim devemos esforçar-nos em evitar as ocasiões perigosas e empregar os meios necessários para conseguir a salvação. ‘O reino dos céus não se dará aos indolentes — diz São Bernardo, — senão aos que trabalharam no serviço do Senhor’. Todos desejariam salvar-se, mas sem o menor incômodo. ‘O demônio — diz Santo Agostinho — trabalha sem repouso para perder-te, e tu, tratando-se de tua felicidade ou de tua desgraça eterna, tanto te descuidas?’.

Negócio importante, negócio único, negócio irreparável. Não há falta que se possa comparar, diz Santo Eusébio, ao desprezo da salvação eterna. Todos os demais erros podem ter remédio. Perdidos os bens, é possível readquirir outros por meio de novos trabalhos. Perdido um emprego, pode ser recuperado. Ainda no caso de perder a vida, se salvar a alma, tudo está preparado. Mas para quem se condena, não há possibilidade de remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma vez a alma, está perdida para sempre. Só resta o pranto eterno com os outros míseros insensatos do inferno, cuja pena e maior tormento consiste em pensar que para eles já não há mais tempo de remediar sua desdita (Jr 8, 20). Perguntai a esses sábios do mundo, mergulhados agora no fogo infernal, perguntai-lhes o que sentem e pensam; se estão contentes por terem feito fortuna na terra, mesmo que se condenaram à eterna prisão. Escutai como gemem dizendo: Erramos, pois… (Sb 5, 6). Mas de que lhes serve agora reconhecer o seu erro, quando já a condenação é irremediável para sempre? Qual não seria o pesar daquele que, tendo podido prevenir e evitar com pouco esforço a ruína de sua casa, a encontrasse um dia desabada, e só então considerasse seu próprio descuido, quando não houvesse já remédio possível?

Esta é a maior aflição dos réprobos: pensar que perderam sua alma e se condenaram por sua culpa. Disse Santa Teresa que, se alguém perde, por sua culpa, um vestido, um anel ou outro objeto, perde a tranquilidade e, às vezes, não come nem dorme. Qual será, pois, ó meu Deus, a angústia do condenado quando, ao entrar no inferno, se vir sepultado naquele cárcere de tormentos, e, atendendo à sua desgraça, considerar que durante toda a eternidade não há de chegar remédio algum! Sem dúvida exclamará: ‘Perdi a alma e o paraíso, perdi a Deus; tudo perdi para sempre, e por quê? Por minha culpa! E se alguém objetar: Mesmo que cometa este pecado, porque hei de me condenar?… Acaso, não poderei salvar-me? Responder-lhe-ei: Também pode ser que te condenes’. Ainda direi que até há mais probabilidade em favor de tua condenação, porque a Sagrada Escritura ameaça com este tremendo castigo aos pecadores obstinados, como tu o és neste instante. ‘Ai dos filhos que desertam!’ (Is 30, 1) — diz o Senhor. — ‘Ai daqueles que se afastam de mim’ (Os 7,13). E não pões ao menos, com esse pecado cometido, a tua salvação eterna em grande perigo e grande incerteza? E qual é este negócio que assim se pode arriscar? Não se trata de uma casa, de uma cidade, de um emprego; trata-se, — diz São João Crisóstomo, — de padecer uma eternidade de tormentos e de perder um paraíso de delícias. E este negócio, que tanto te deve importar, queres arriscá-lo por um talvez? ‘Quem sabe — dizes, — quem sabe se me condenarei? Espero que Deus mais tarde me há de perdoar’. E entretanto?… Entretanto, por ti mesmo te condenas ao inferno. Por acaso te atirarias a um poço, dizendo: talvez escape da morte? — Não, de certo. Como podes expor tua eterna salvação numa tão frágil esperança, num quem sabe? Oh! quantos, por causa dessa maldita falsa esperança, se perderam!… Não sabes que a esperança dos obstinados no pecado não é esperança, mas presunção e ilusão que não promovem a misericórdia divina, mas provocam sua indignação? Se dizes que presentemente não estás em estado de resistir às tentações, à paixão dominante, como resistirás mais tarde, quando, em vez de aumentar, te faltará a força pelo hábito de pecar? Por uma parte, a alma estará mais cega e mais endurecida na malícia, e por outra faltar-lhe-á o auxílio divino… Acaso, esperas que Deus aumente para ti suas luzes e suas graças depois que tu hajas aumentado ilimitadamente tuas faltas e pecados?” (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XII, Ponto I, II e III).

Católico, não existe ocupação mais importante aqui na terra, do que trabalhar para salvar a sua alma.

 

São João de Gota, um dos mártires do Japão, foi condenado pelo tirano. Contava apenas dezenove anos e pouco tempo fazia que entrara na Companhia de Jesus. Indo seu pai despedir-se dele, o jovem, no momento de ser crucificado, disse-lhe:

-  Meu pai, a salvação deve preferir-se a tudo. O senhor, para assegurá-la, não se descuide de nada.

- Muito obrigado, meu filho! E você, também, aguente firme. Sua mãe e eu estamos preparados para morrer pela mesma causa.

- E o generoso pai, tendo beijado seu filho mártir, retirou-se molhado pelo sangue da generosa vítima.

Católico, não perca tempo, mas trabalhe para salvar a sua alma imortal: “Salvar a minha alma, tornar-me santo, eis o principal negócio de minha vida. Ser rico, honrado, prezado, servido, isto não tem valor algum e será antes um perigo, uma grande desgraça se der ocasião a que peque ou me leve a descuidar-me de minha salvação – pois na morte acaba tudo... Com efeito, que me valerá perante Deus, ter feito fortuna, alcançando posição de destaque e de influência no mundo, ou gozado de todos os bens da vida, se nada fiz para o céu, se não amei e servi a Deus, meu derradeiro fim?... A obra de minha salvação é, por conseguinte, o meu primeiro dever, enquanto tudo o mais não passa de bagatela” (São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol 3).

Católico, jogue a preguiça fora e lute fervorosamente para salvar a sua alma: “Se tens coração, recorda bem que maior necessidade não há que a necessidade da salvação da alma” (Santo Ambrósio, Serm. 4).

Católico, não deixe o mundo enganar-te com as vaidades, lembre-se de que a salvação da alma é o negócio mais importante: “Quem te criou sem te consultar, não te salvará sem a tua cooperação” (Santo Agostinho), e: “É grandíssima loucura sermos negligentes pela nossa própria salvação, enquanto o demônio não perde ocasião em perder a nossa alma” (São João Crisóstomo, Hom. 2 in Epist. 2 Joan.).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 27 de novembro de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Salva a tua alma”

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