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                MEIOS 
                DE SANTIFICAÇÃO DA FAMÍLIA 
          
          (Ef 5, 
          25.33) 
            
          
          “E vós, 
          maridos, amais as vossas mulheres... e a mulher respeite o seu marido”. 
            
          
            
            
          
          Por que motivo 
          chora Jesus sobre Jerusalém? A cidade apresentava-se em todo o seu 
          esplendor. O templo refulgia nos raios de luz, que o sol dardejava 
          sobre seu rico telhado chapeado de ouro; as paredes majestosas, na sua 
          impecável alvura ostentavam as formas maciças de sua construção 
          marmórea; entre seus muros reinava paz, alegria e bem estar. Jesus 
          chora, porque, qual negro fantasma, vê surgir atrás do brilho 
          enganador a desgraça da nação, na sua forma mais desoladora. Seus 
          olhos divinos vêem o incêndio gigantesco, os escombros fumegantes, as 
          ruínas tristes e tétricas; em seus ouvidos ecoam os gritos de 
          angústia, as exclamações do desespero, os lúgubres soluços de homens e 
          mulheres em pranto. Eis, porque Jesus chora. Bem podia a cidade 
          afastar tão triste fim; mas se seus habitantes de tudo tratavam, a 
          previsão de Nosso Senhor não os inquietava. 
          
          O Pe. João Batista 
          Lehmann escreve: “A Cidade santa de Jerusalém 
          é uma imagem da alma que, ornada de primores celestes, qual templo do 
          Altíssimo, possuindo um altar, em cima do qual oferece holocaustos e 
          incenso a Deus Supremo, é um encanto para Deus e os Santos. Uma alma, 
          porém, da qual Deus foi expulso; onde reina e domina o pecado; uma 
          alma que se acha sob o domínio de Satanás, onde está a abominação e a 
          devastação: esta alma é comparável a Jerusalém, a cidade sobre a qual 
          Jesus chorou. 
          
          O que digo 
          a respeito da alma, deve-se afirmar em referência à família. A 
          família, sendo de instituição divina, é uma demonstração da divina 
          sabedoria. Homem e mulher, unidos por Deus num vínculo indissolúvel, 
          assim unidos estão, a fim de que mutuamente se santifiquem, 
          santificando ainda os filhos que Deus lhes confiar. O matrimônio é uma 
          escola de santidade; é um instituto onde o divino Espírito Santo 
          principia sua obra santificadora e eficazmente a desenvolve: é um 
          templo em miniatura. Quem nele se deve santificar? Em primeiro lugar 
          os cônjuges mesmos. Não só mutuamente se devem auxiliar em tudo que 
          interessa à vida material; de mãos dadas devem peregrinar ao céu, 
          santificando-se mutuamente”. 
          
          O primeiro meio 
          para santificar a família é o respeito, principalmente no diálogo 
          caridoso: “Já pela palavra; pela palavra 
          animadora e convincente. A palavra usada e empregada nesta sua nobre 
          missão é santificadora e abençoada. A palavra falada por amor, pôde a 
          si aplicar o que disse o profeta Isaias (55) da palavra divina: ‘Ela 
          não volta vazia, isto é, sem fruto; não fica sem efeito’. Para que 
          assim aconteça, é preciso que seja proferida com amor; que faça 
          transparecer o zelo pela salvação da alma; que não seja áspera, 
          rancorosa, iracunda, vingativa e apaixonada. Do contrario, em vez de 
          ser bálsamo, seria veneno. Uma palavra boa, falada em ocasião 
          oportuna, é um remédio poderoso” 
          (Pe. João Batista Lehmann). 
          
          
          Podem-se chamar alguns lares de “pequeno inferno”. Nesses 
          lares, os esposos estão sempre em guerra; às vezes é preciso ser 
          acalmada pelos filhos e vizinhos. 
          
          Como 
          seria agradável a Deus se os esposos, antes de dialogarem, escolhessem 
          as palavras corretas para evitarem ofensas. Lembrem-se os esposos de 
          que prestarão contas a Nosso Senhor de cada palavra grosseira: 
          “Eu vos digo que de toda 
          palavra inútil, que os homens disserem, darão contas no Dia do 
          Julgamento” 
          (Mt 11, 36). Se de uma palavra inútil Nosso Senhor pedirá conta; 
          imagine dos xingos, calúnias, etc.  
          
          Não é 
          nada edificante encontrar um casal se agredindo verbalmente. Aquele 
          que vive longe de Deus não sabe controlar a sua língua nem se preocupa 
          em respeitar o próximo. 
          
          
          Quantos lares já se desmoronaram por causa da língua descontrolada! 
          Onde não existe o respeito, com certeza não há paz nem amor 
          verdadeiro: “Diz-se 
          que um matrimônio é unido quando se vêem os esposos juntos, quando 
          existe entre eles um mesmo parecer, um mesmo modo de agir, quando os 
          dois se amam tanto que não aceitam o que pode impedi-los de estar 
          juntos” 
          (Santa Teresa dos Andes, 
          Carta 138), e:
          “Uma verdadeira esposa 
          ama seu esposo e não o contraria em nada, antes procura agradá-lo em 
          tudo” 
          (Idem. Carta 114). 
          
          O segundo meio 
          de santificação, mais poderoso ainda, aplicável sempre e em todo 
          lugar, é o exemplo: “O bom exemplo é uma 
          prática muda, porém eloquentíssima. Já os antigos diziam: palavras 
          incitam, exemplos arrastam. O bom exemplo unido ao amor entre os 
          esposos faz milagres. Quantas vezes aconteceu e acontece, que uma 
          santa esposa com seu exemplo, seu amor, sua palavra animadora 
          conseguiu e consegue a conversão de seu esposo! Muitos homens se 
          tornaram os apóstolos, os salvadores de suas esposas” 
          (Pe. João Batista Lehmann). 
          
          Na 1ª Carta de São 
          Pedro 3, 1-2 diz: “Da mesma maneira, vós, 
          mulheres, sujeitai-vos aos vossos maridos, para que, ainda quando 
          alguns não creiam na Palavra, sejam conquistados sem palavras, pelo 
          comportamento de suas mulheres, ao observarem o vosso comportamento 
          casto e respeitoso”. 
          
          Na história da 
          Igreja, muitas esposas converteram os maridos pagãos ou afastados de 
          Deus. Santo Agostinho conta com emoção o exemplo de sua mãe, Santa 
          Mônica: “Serviu (o seu marido) como senhor e 
          esforçou-se para o ganhar para Ti, falando-lhe de Ti com os seus 
          costumes, com os quais a fazia formosa e reverentemente amável e 
          admirável diante dos seus olhos. De tal modo tolerou as injúrias das 
          suas infidelidades que jamais teve com ele sobre este ponto a menor 
          zanga, pois esperava que a Tua misericórdia viria sobre ele e, crendo 
          em Ti, se faria casto (...). Por último, conseguiu também ganhar para 
          Ti o seu marido no fim da sua vida, não tendo de lamentar nele sendo 
          fiel o que tinha tolerado sendo infiel” 
          (Confissões, IX, 9, 19 e 22). 
          
          A mulher que vive 
          santamente é o sol da família: 
          “A família tem um brilho do sol que lhe é próprio; a esposa. Ouvi o 
          que a Sagrada escritura afirma e sente a respeito dela: A graça da 
          mulher dedicada é a delícia do marido. Mulher santa e pudica é graça 
          primorosa. Como o sol que se levanta nas alturas do Senhor, assim 
          o encanto da boa esposa na casa bem-ordenada (Eclo 26, 16. 19. 21). 
          
          Realmente, 
          a esposa e mãe é o sol da família. É sol por sua generosidade e 
          dedicação, pela disponibilidade constante e pela delicadeza e atenção 
          em relação a tudo quanto possa tornar agradável a vida do marido e dos 
          filhos. Irradia luz e calor do espírito. Costuma-se dizer que a vida 
          de um casal será harmoniosa quando cada cônjuge, desde o começo, 
          procura não a sua felicidade, mas a do outro. Todavia, este nobre 
          sentimento e propósito, embora pertença a ambos, constitui 
          principalmente uma virtude da mulher. Por natureza, ela é dotada de 
          sentimentos maternos e de uma sabedoria e prudência de coração que a 
          faz responder com alegria às contrariedades; quando ofendida, inspira 
          dignidade e respeito, à semelhança do sol que ao raiar alegra a manhã 
          coberta pelo nevoeiro e, quando se põe, tinge as nuvens com seus raios 
          dourados. 
          
          A esposa é 
          o sol da família pela limpidez do seu olhar e o calor da sua palavra. 
          Com seu olhar e sua palavra penetra suavemente nas almas, acalmando-as 
          e conseguindo afastá-las do tumulto das paixões. Traz o marido de 
          volta à alegria do convívio familiar e lhe restitui a boa disposição, 
          depois de um dia de trabalho ininterrupto e muitas vezes esgotante, 
          seja nos escritórios ou no campo, ou ainda nas absorventes atividades 
          do comércio ou da indústria. 
          
          A esposa é 
          o sol da família por sua natural e serena sinceridade, sua digna 
          simplicidade, seu distinto porte cristão; e ainda pela retidão do 
          espírito, sem dissipação, e pela fina compostura com que se apresenta, 
          veste e adorna, mostrando-se ao mesmo tempo reservada e amável. 
          Sentimentos delicados, agradáveis expressões do rosto, silêncio e 
          sorriso sem malícia e um condescendente sinal de cabeça: tudo isso lhe 
          dá a beleza de uma flor rara, mas simples que, ao desabrochar, se abre 
          para receber e refletir as cores do sol. 
          
          Ah, se 
          pudésseis compreender como são profundos os sentimentos de amor e de 
          gratidão que desperta e grava no coração do pai e dos filhos, 
          semelhante perfil de esposa e de mãe!” 
          (Da Alocução do Papa Pio 
          XII a um grupo de recém-casados). 
          
          O 
          esposo que dá bom exemplo é coluna fortíssima da família. Não é 
          necessário pregar sobre o bom exemplo com os lábios, mas sim, com a 
          vida: “O bom exemplo é 
          um sermão que todos podem pregar. Com ele pode fazer-se mais fruto nas 
          almas, do que com muitos discursos que só recreiam os ouvidos. O 
          pregar com a palavra nem a todos é concedido; mas pregar com o exemplo 
          a ninguém é defeso. O bom exemplo é um sermão que todos entendem e que 
          se pode pregar a cada hora do dia, não só na Igreja, mas na rua e em 
          casa. Como não há de ser maior o seu fruto?” 
          (Pe. Alexandrino 
          Monteiro). 
          
          O meio, 
          porém, mais eficaz, e de todo indispensável para a santificação dos 
          esposos no matrimônio, é a oração: 
          “Instituída, ordenada, recomendada e abençoada por Deus, é a oração o 
          meio por excelência de levar os homens à santidade. Nas mãos dos 
          esposos então é, poderosíssima e infalível, quando se trata dos fins 
          sobrenaturais do matrimônio, que é a santificação deles mesmos e dos 
          filhos que Deus lhes deu. Embora Deus exija às vezes a prova da 
          constância, da humildade e da confiança, certo é que não deixa 
          desatendidas as orações feitas pela santificação do lar. ‘Pai nosso’ 
          nenhum, ‘Ave-Maria’ nenhuma, se perde quando dirigidos ao Pai do Céu 
          nas intenções indicadas. Abençoado o lar, onde os esposos recorrem ao 
          poderoso meio de santificação que é a oração. O lar, onde se reza, é 
          como o templo da Cidade Santa onde reside Deus. O lar, a que Deus 
          abençoou com a presença de filhos, é uma escola de santificação. Para 
          que os possa ser na verdade, Jesus Cristo elevou o matrimônio à 
          dignidade de sacramento, conferindo aos esposos graças especiais, que 
          os tornem idôneos para o cumprimento fiel dos seus árduos e graves 
          deveres” (Pe. João Batista Lehmann). 
          
          O que se pode 
          esperar de um casal que não reza? Que passa horas e horas diante da 
          televisão juntamente com os filhos? Que anda de botecos em botecos? 
          Que perambula, desocupado, pelas ruas da cidade? Que se envolve 
          somente com as coisas passageiras desse mundo? Nada que edifique! 
          
          O casal que reza 
          permanece firme e suporta as provações que surgem pelo caminho; mas o 
          casal que não reza se desmorona diante de qualquer obstáculo. 
          
          O Papa João Paulo II 
          escreve: “A oração familiar tem as suas 
          características. É uma oração feita em comum, marido e mulher juntos, 
          pais e filhos juntos. A comunhão na oração é, ao mesmo tempo, fruto e 
          exigência daquela comunhão que é dada pelos sacramentos do batismo e 
          do matrimônio. Aos membros da família cristã podem aplicar-se de modo 
          particular as palavras com que Cristo promete a sua presença: 
          ‘Digo-vos ainda: se dois de vós se unirem, na terra, para pedirem 
          qualquer coisa, obtê-la-ão de meu Pai que está nos céus. Pois onde 
          estiverem reunidos, em meu nome, dois ou três, eu estou no meio 
          deles’. 
          
          A oração 
          familiar tem como conteúdo original a própria vida de família, que em 
          todas as suas diversas fases é interpretada como vocação de Deus e 
          atuada como resposta filial ao seu apelo: alegrias e dores, esperanças 
          e tristezas, nascimento e festas de anos, aniversários de núpcias dos 
          pais, partidas, ausências e regressos, escolhas importantes e 
          decisivas, a morte de pessoas queridas, etc., assinalam a intervenção 
          do amor de Deus, na história da família, assim como devem marcar o 
          momento favorável para a ação de graças, para a impetração, para o 
          abandono confiante da família ao Pai comum que está nos céus. A 
          dignidade e a responsabilidade da família cristã como Igreja doméstica 
          só podem, pois, ser vividas com a ajuda incessante de Deus, que não 
          faltará, se implorada com humildade e confiança na oração”
          (Exortação Apostólica 
          “Familiaris Consortio”, 59). 
          
          Feliz do casal que 
          troca a televisão pelo oratório; que ao invés de assistir as novelas 
          podres, rezam o Santo Terço, lêem a Sagrada Escritura e a vida dos 
          santos. 
            
			  
          
          Pe. Divino Antônio 
          Lopes FP. 
          
          Anápolis, 12 de 
          janeiro de 2008 
           
           
            
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