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                EIS O 
                CORDEIRO DE DEUS 
          
          (Jo 
          1, 29-34) 
            
          
          “29 
          No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: ‘Eis o Cordeiro 
          de Deus, que tira o pecado do mundo. 
          30 
          Dele é que eu disse: Depois de mim, vem um homem que passou adiante de 
          mim, porque existia antes de mim. 
          31 
          Eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim 
          batizar com água’. 
          32 E João deu 
          testemunho, dizendo: ‘Vi o Espírito descer, como uma pomba vindo do 
          céu, e permanecer sobre ele. 
          33 Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para batizar com água disse-me: 
          ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que batiza 
          com o Espírito Santo’. 
          34 
          E eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus”. 
            
          
            
            
          
          Em Jo 
          1, 29-31 diz: “No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: ‘Eis o 
          Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: 
          Depois de mim, vem um homem que passou adiante de mim, porque existia 
          antes de mim. Eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a 
          Israel, vim batizar com água”. 
          
          João 
          Batista pregava e continuava a batizar em Betânia, a que está no outro 
          lado do Jordão. Assim o assinala o evangelista para a distinguir de 
          uma segunda Betânia, próxima de Jerusalém. Ali João dava testemunho de 
          Jesus àqueles que acorriam a ele: Eu não sou o Cristo (Jo), 
          dirá a uma legação de sacerdotes e levitas enviada de Jerusalém, 
          enquanto a expectativa à volta da chegada do Messias era já muito 
          grande: “O 
          Evangelho deste domingo leva-nos uma vez mais às margens do Jordão, 
          onde, trinta anos depois do seu nascimento, João Batista prepara os 
          homens para a vinda do Senhor. E quando ele vê Jesus que vinha ao seu 
          encontro, diz: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo... 
          Estamos acostumados às palavras Cordeiro de Deus, e, no entanto, são 
          palavras sempre maravilhosas, misteriosas, são palavras poderosas” 
          (João Paulo II, Homilia, 18-III-1981). 
          
          Depois 
          daqueles quarenta dias de jejum no deserto, Jesus não se dirigiu 
          diretamente para a Galiléia, como parecem sugerir os evangelhos 
          sinóticos. São João indica-nos que nessas poucas semanas posteriores 
          se deram acontecimentos que mudaram a sua própria vida. 
          
          No dia seguinte do 
          testemunho do Batista diante dos enviados de Jerusalém, viu Jesus que 
          se dirigia para ele. Ao aproximar-se disse:
          “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do 
          mundo” (Jo 1, 29). Este 
          nome tinha ressonâncias muito profundas entre os judeus e fazia 
          referência ao sacrifício redentor do Messias. Os ouvintes conheciam 
          bem o significado do cordeiro pascal, cujo sangue era derramado no 
          altar dos holocaustos em comemoração da noite em que os judeus foram 
          libertados da escravidão no Egito. Também tinham lido muitas vezes as 
          palavras de Isaías em que compara os sofrimentos do Servo de Yahvé, 
          o Messias, com o sacrifício de um cordeiro. 
          
          A. Garcia Moreno 
          escreve: “A expressão ‘Cordeiro de Deus’ 
          foi muito meditada e comentada pelos teólogos e autores espirituais; 
          trata-se de um título rico em conteúdo teológico. É um desses recursos 
          da linguagem humana que tenta expressar uma realidade plurivalente e 
          divina. Ou, para dizê-lo melhor, é uma dessas expressões cunhadas por 
          Deus para revelar algo muito importante sobre si mesmo”. 
          
          O cordeiro pascal 
          que cada ano era sacrificado no Templo era ao mesmo tempo a recordação 
          da libertação e do pacto que Deus tinha estreitado com o seu povo. 
          Tudo isso era promessa e figura da verdadeira Vítima no sacrifício do 
          Calvário em favor de toda a humanidade. Mais tarde, São Paulo dirá aos 
          primeiros cristãos de Corinto que o nosso Cordeiro pascal, Cristo, foi 
          imolado, e convida-os a uma vida nova, a uma vida santa  
          (VJ). 
          
          Edições Theologica 
          comenta: “Pela primeira vez no Evangelho se 
          chama a Cristo ‘Cordeiro de Deus’. Este nome alude ao sacrifício 
          redentor de Cristo. Já Isaías tinha comparado os sofrimentos do Servo 
          de Yahwéh, do Messias, com o sacrifício de um cordeiro (cf. Is 53,7); 
          por outro lado, o sangue do cordeiro pascal, aspergido sobre as portas 
          das casas, tinha servido para livrar da morte os primogênitos dos 
          israelitas no Egito (cf. Ex 12,6-7). Tudo isso era promessa e figura do 
          verdadeiro Cordeiro, Cristo, vítima no sacrifício do Calvário em favor 
          de toda a humanidade. Por isto, São Paulo dirá que ‘o nosso Cordeiro 
          pascal, Cristo, foi imolado’ (l Cor 5,7). A expressão ‘Cordeiro de 
          Deus’ indica também a inocência imaculada do Redentor (cf. l Pd 
          1,18-20; l Jo 3,5). 
          
          O 
          texto sagrado diz ‘o pecado do mundo’, no singular, para manifestar de 
          modo absoluto que tirou todo o gênero de pecados. Cristo, na verdade, 
          veio livrar-nos do pecado original, que em Adão atingiu todos os 
          homens, e de todos os pecados pessoais. 
          
          O 
          livro do Apocalipse revela-nos que Jesus está triunfante e glorioso 
          nos Céus como o ‘Cordeiro imolado’ (Ap 5, 6-14), rodeado dos santos, 
          dos mártires e das virgens (Ap 7,9.14; 14,1-5), dos quais recebe 
          louvor e glória por ser Deus (Ap 7,10). 
          
          Sendo 
          a Sagrada Comunhão a participação no Sacrifício de Cristo, os 
          sacerdotes pronunciam estas palavras do Batista antes de administrar a 
          Sagrada Comunhão, para suscitar nos fiéis o agradecimento ao Senhor 
          por Se ter entregado à morte para nossa salvação e por Se nos dar como 
          alimento das nossas almas. 
          
          João 
          Batista declara aqui a superioridade de Jesus ao dizer que Ele existia 
          já antes dele, apesar de ter nascido depois. Mostra assim a divindade 
          de Cristo, gerado pelo Pai desde toda a eternidade e nascido de Maria 
          Virgem no tempo. É como se o Batista dissesse: ‘Embora eu tenha 
          nascido antes d'Ele, a Ele não O limitam os laços do Seu nascimento; 
          porque mesmo quando nasce de Sua Mãe no tempo, foi gerado pelo Pai 
          fora do tempo” (In Evangelia Homiliae, 7). 
          
          Com 
          as palavras do v. 31, o Precursor não pretende negar o conhecimento 
          pessoal que tinha de Jesus (cf Lc 1, 36 e Mt 3,14), mas manifestar que 
          conheceu por revelação divina o momento de proclamar publicamente a 
          condição do Senhor como Messias e Filho de Deus, e que compreendeu 
          também que a sua própria missão de Precursor não tinha outra 
          finalidade a não ser dar testemunho de Jesus Cristo”. 
          
          São João 
          Crisóstomo escreve: “São Mateus fala 
          propriamente da vinda do Salvador ao batismo, mas São João parece 
          indicar que Jesus foi pela segunda vez ver o Batista depois do 
          batismo. E isto, o prova pelo o que se segue: ‘Porque tendo visto o 
          Espírito Santo que descia...etc. Parece que os evangelistas 
          distribuíram o tempo desta narração. Porque São Mateus, passando em 
          silêncio, ao que sucedeu antes que o Batista fosse preso, passa a se 
          ocupar do que sucedeu depois; mas São João se detém especialmente nos 
          tempos que precederam à prisão do Batista. Por isso disse: ‘No dia 
          seguinte, viu’, etc. Porque veio ver o Batista uma segunda vez, depois 
          do batismo se conhece porque o havia batizado entre muitos, para que 
          não se cresse que o Salvador tinha vindo com os demais, que acudiam 
          ora para confessar os pecados, ora para purificar-se no rio através da 
          penitência. Por isso sucedeu que, dando ocasião a São João de anular 
          esta suspeita, São João antecipou-se com estas palavras. Por isso 
          segue: ‘E diz, eis aqui o Cordeiro de Deus’, etc. O que era tão puro, 
          que podia apagar os pecados dos outros, manifesta desde então, que não 
          vinha confessar seus pecados senão a dar ocasião a São João para que 
          falasse com Ele. Veio também pela segunda vez para que aqueles que já 
          haviam ouvido as coisas anteriores, vejam confirmado o que se lhes 
          haviam dito e ouvissem outra vez novas coisas. Por isto diz: ‘Eis aqui 
          o Cordeiro de Deus’, manifestando que Este é Aquele que era esperado 
          em outro tempo e recordando a profecia de Isaías segundo a que aquelas 
          sombras que existiam na lei de Moisés, os conduziram mais facilmente 
          da figura à realidade” (In Ioannem, Hom. 
          16), e:  
          “E se o Cordeiro de Deus é 
          inocente, também São João é o cordeiro. Ou acaso, não é inocente 
          também? Porém, todos procedem daquela descendência de quem disse Davi: 
          ‘E fui concebido no pecado’ (Sl 50,7). Dessa maneira, somente é 
          Cordeiro Aquele que não vem ao mundo desse modo. E na realidade, não 
          havia sido concebido em pecado, nem sua mãe teve pecado quando o 
          levava no seu ventre, pois ela O havia concebido sendo Virgem, e sendo 
          Virgem lhe havia dado à luz. Porque lhe havia concebido através da fé, 
          e por meio da mesma o havia tido em seu seio” (Santo 
          Agostinho, In Ioannem, Tract. 4), e também: “Se ofereciam no templo, cinco classes de 
          animais (três da terra: o bezerro, a ovelha e a cabra; dois do ar: a 
          rola e a pomba; e das ovelhas eram levadas três: o carneiro, a ovelha 
          e o cordeiro). Somente se faz menção do cordeiro, que é das raças das 
          ovelhas. Nos holocaustos diários, se ofereciam um cordeiro pela manhã 
          e outro pela tarde. Que outra oblação pode fazer-se todos os dias, que 
          seja digna de ser inteligente senão o Verbo florido e vigoroso, 
          chamado por antonomásia o Cordeiro? Portanto, isto se considerará como 
          a oblação da manhã, em quanto refere-se à frequência com que a alma se 
          detém nas coisas divinas, dada a condição de nossa alma, que não pode 
          sempre estar nos conceitos altíssimos por estar unida ao corpo, que é 
          terreno e pesado. Desta palavra, segundo a qual chamamos a Jesus 
          Cristo, Cordeiro, podemos deduzir as demais coisas e por qual razão 
          nos inclinamos às coisas temporais, à maneira que nos tendemos à 
          chegada da tarde. E ele que ofereceu este cordeiro para o santificar, 
          foi o mesmo Deus escondido no homem, grande sacerdote, que disse: ‘Ninguém separará minha alma de mim, porque sou eu quem a deponho’ 
          (Jo 10,18). Por isso disse: ‘Cordeiro de 
          Deus’, porque Ele, tomando sobre si nossas aflições e tirando os 
          pecados de todo mundo, recebeu a morte como batismo. E não passa sem 
          correção para Deus, nada o que fazemos contrário à sua Lei, a qual há 
          de cumprir-se ainda à custa das maiores dificuldades”
          (Orígenes, 
          In Ioannem, 
          Tom. 6), e ainda: “Se chama Jesus Cristo, 
          Cordeiro de Deus, porque Deus Pai aceitou a morte de Jesus Cristo por 
          nossa salvação; ou, o que é o mesmo, quando se entregou à morte por 
          nós. E assim, como costumamos dizer, esta oferenda é de tal homem, 
          isto é, a que tal homem ofereceu; assim Jesus Cristo se chama Cordeiro 
          de Deus, quem havia se entregado à morte por nossa salvação. Porém, 
          aquele cordeiro que tinha servido antes, na forma de figura, não tinha 
          mancha alguma; mas este levou sobre si as manchas ou os pecados de 
          todos os homens, porque tirou o mundo do perigo em que se encontrava, 
          sob o castigo de Deus. Por isso acrescenta: ‘Eis aqui o que tira o 
          pecado do mundo’. Não disse: O que tirará, senão o que tira o pecado 
          do mundo, como se sempre houvesse estado fazendo o mesmo. Não tirou o 
          pecado unicamente quando padeceu, senão desde então até os nossos 
          dias. Não é sacrificado constantemente (porque somente se tem 
          oferecido uma vez por nossos pecados), porém sempre está tirando os 
          pecados através de sua oblação”  (Teofilacto), 
          e:  “Se tira o pecado ao gênero 
          humano em absoluto, quando muda nossa corrupção pela glória da 
          incorrupção. E não podemos estar livres de culpa até que nos livremos 
          do corpo por meio da morte” (São 
          Gregório, Moralium, 8, 32), e também:
          “E por que não disse: os pecados do mundo, 
          senão o pecado? Disse unicamente pecado, referindo-se ao pecado no 
          sentido universal, como dissemos que o homem foi expulso do Paraíso, 
          para que se entenda todo o gênero humano”  
          (Teofilacto), e ainda: 
          “Se chama pecado do mundo ao pecado original, que é o pecado comum a 
          todos os homens, cujo pecado, como todos os demais que a este pode 
          acrescentar; Jesus Cristo, nos tira através da sua graça” 
          (São Beda), e: “E Ele que não tomou pecado 
          algum quando tomou nossa natureza. É o mesmo que tira o nosso pecado. 
          Já sabemos que dizem alguns: nós tiramos os pecados aos homens porque 
          somos santos. Porém, se não fosse santo o que batiza, como tira o 
          pecado do outro, sendo ele um homem cheio de pecado? Contra estas 
          questões leiamos agora: ‘Eis aqui o que tira o pecado do mundo’, para 
          que não creiam os homens que são eles quem tira o pecado a outros 
          homens” (Santo Agostinho,  
          Ut sup), 
          e também:  “Assim 
          como os sacrifícios legais se referiam como por laço de parentesco ao 
          oferecimento do Cordeiro, também agora ao sacrifício deste Cordeiro se 
          acrescenta outras oblações, como são, a meu modo de entender, os 
          derramamentos de sangue dos mártires, com cuja paciência, confissão e 
          prontidão se embotam as maquinações dos maus, inclinando-se ao bem”
          (Orígenes), e ainda:
          “Veio após mim, porque nasceu depois de mim. E 
          foi feito antes que eu, porque é anterior a mim” 
          (Santo Agostinho, 
          In Ioannem, 
          Tract. 4), e:  “E 
          manifesta as causas desta precedência quando acrescenta: ‘Porque era 
          antes de mim’. Como se dissesse claramente: Mesmo que eu tenha nascido 
          antes que Ele, a Ele não o limita o tempo do seu nascimento; porque 
          mesmo quando nasce de sua mãe no tempo, foi engendrado pelo Pai fora 
          do tempo” (São Gregório, 
          
          In Evang. Hom. 7), e também:
          “Oh Ário! Escuta: Não disse que foi criado 
          antes de mim, senão que era antes de mim. Ouça também isto os 
          sectários de Paulo de Samosata, que ensina que não nasceu da Virgem, 
          porque mesmo dela tomou o modo de existir, como existiu antes do 
          precursor? Pois bem se sabe que o precursor tinha seis meses mais que 
          o Salvador quanto à humana geração”  
          (Teofilacto), 
          e ainda:  “E para 
          que não pareça que dá testemunho Dele pelo parentesco, porque era seu 
          parente segundo a carne, disse: ‘Eu não o conhecia’. E segundo a razão 
          natural sucedeu assim, porque São João havia estado sempre no deserto. 
          Ademais, os milagres que haviam ocorrido quando Jesus era pequeno 
          (como o que teve lugar a respeito dos Magos e alguns outros) haviam 
          verificado muito tempo antes, e São João era demasiado pequeno. De 
          modo que, mesmo estando entre os homens, era desconhecido de todos. 
          Por isso acrescentou: ‘Se não para que se manifeste em Israel’, etc. 
          Daqui se deduz que aqueles milagres que alguns dizem terem feito 
          Jesus, quando era pequeno, são mentiras e ficções. 
          Porque se Jesus houvesse feito milagres 
          desde os seus primeiros anos, ninguém o tinha desconhecido, nem mesmo 
          o Batista, nem as pessoas teriam necessitado de um precursor que o 
          manifestasse. E não era Jesus Cristo quem necessitava de batismo, nem 
          havia razão nenhuma para aquela purificação que há de demonstrar a fé 
          que existe em Cristo” (São João 
          Crisóstomo,  In Ioannem, Hom. 16), e:
          “Quando o Senhor foi 
          conhecido, era em vão que lhe preparassem o caminho, porque Ele mesmo, 
          se oferece, como caminho aos que o conhecem. E assim, não durou por 
          muito tempo o batismo de São João senão até que deu a conhecer o Deus 
          da humanidade. E, ademais, para dar-nos o exemplo desta virtude e nos 
          ensinar a obter a salvação através do batismo, recebeu Ele, o batismo 
          do servo. E para que não fosse preferido o batismo do servo ao batismo 
          do Senhor, outros foram batizados com o mesmo batismo do servo. Porém, 
          os que foram batizados com o batismo do servo; também convinha serem 
          batizados com o batismo do Senhor. Porque os que são batizados com o 
          batismo do Senhor não necessitam do batismo do servo”
          (Santo Agostinho, 
          In 
          Ioannem, Tract. 5). 
          
          
          Em Jo 1, 32-34 diz:
          “E João deu 
          testemunho, dizendo: ‘Vi o Espírito descer, como uma pomba vindo do 
          céu, e permanecer sobre ele. Eu não o conhecia, mas aquele que me 
          enviou para batizar com água disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o 
          Espírito descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo’. E 
          eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus”. 
          
          
          Edições Theologica comenta:
          “Para confirmar a divindade de Jesus Cristo, o 
          evangelista recolhe o testemunho do Precursor sobre o Batismo de 
          Jesus. É um dos momentos cume da vida do Senhor em que se revela o 
          mistério da Santíssima Trindade. 
          
          A 
          pomba é símbolo do Espírito Santo, de quem se diz no Gn 1, 2 que 
          revoava sobre as águas. Com este sinal cumprem-se as profecias de Is 
          11,2-5; 42,1-2, segundo as quais o Messias estaria cheio da força do 
          Espírito Santo. O Batista manifesta a grande diferença entre o seu 
          batismo e o de Cristo; em Jo 3, Jesus falará deste novo Batismo na 
          água e no Espírito (cf. At 1,5; Tt 3,5). 
          
          ‘O 
          Filho de Deus’ : É de notar que a expressão tem artigo no texto 
          original, o que quer dizer que João Batista confessa diante dos seus 
          ouvintes o caráter sobrenatural e transcendente do messianismo de 
          Cristo, tão distante da idéia político-religiosa que tinham forjado os 
          dirigentes do judaísmo”. 
          
          São João 
          Crisóstomo escreve: “São João tinha dito 
          grandes coisas do Salvador, o que era bastante suficiente para que se 
          assombrassem quanto os ouviam (como aquele de que Ele somente poderia 
          tirar os pecados do mundo inteiro). Querendo fazer isto mais 
          acreditável, o referia a Deus e ao Espírito Santo. E como alguém 
          poderia perguntar a São João, como tens conhecido tu a este? Lhe 
          responde que, pela vinda do Espírito Santo. Por isto segue: ‘E João 
          deu testemunho: dizendo que viu o Espírito que descia” 
          (In 
          Ioannem, Hom. 16), e: “Jesus não foi ungido 
          pelo Espírito Santo, quando este desceu sobre Ele na forma de pomba 
          depois de batizado; porque então, se dignou prefigurar seu corpo, isto 
          é, sua Igreja, na qual especialmente os batizados recebem o Espírito 
          Santo. E é muito absurdo crer que, tendo já trinta anos (cuja idade 
          tinha, quando foi batizado por João), recebesse o Espírito Santo, e 
          que este viesse sobre Ele sem pecado, como sem pecado havia recebido o 
          batismo. E se bem que é verdade o que se tem escrito de seu servo e 
          precursor: ‘que este seria cheio do Espírito Santo desde o ventre de 
          sua mãe’ (Lc 1,15), e este que havia sido engendrado por pai humano já 
          havia recebido o Espírito Santo ao ser concebido no ventre de sua Mãe. 
          O que deverá entender-se e crer-se de Jesus Cristo enquanto 
          homem, cuja concepção, mesmo se verificou na carne, não foi carnal, 
          senão espiritual?” (São Agostinho 
          , De Trin., 15, 27), e também:  
          “E não dizemos com isto, que Jesus Cristo 
          tivesse unicamente, verdadeiro corpo, nem que o Espírito Santo se 
          deixasse ver pelos homens de uma maneira enganosa. Porque assim como 
          não convinha que o Filho de Deus enganasse aos homens, assim também o 
          Espírito Santo. Mas não era difícil à onipotência de Deus, que havia 
          tirado todo o universo do nada, fazer que um verdadeiro corpo de pomba 
          aparecesse em realidade sem o concurso natural de outros animais da 
          mesma espécie, assim como também lhe teria sido difícil formar um 
          verdadeiro corpo nas entranhas da Virgem, sem a cooperação do homem” 
          (Idem. 
          De Agone Christiano, 
          cap. 22), e ainda: “De duas maneiras 
          visíveis manifesta o Espírito Santo: através da figura de uma pomba, 
          quando desce sobre o Salvador depois de batizado, e através do fogo, 
          quando desce sobre os apóstolos no dia em que estavam reunidos. No 
          primeiro caso, nos representa a simplicidade; no segundo, o fervor. 
          Portanto, para que não sejam enganados os que recebem a santificação, 
          lhes manifesta através de uma pomba, e para que a simplicidade não 
          permaneça fria, se demonstra através do fogo. E não chama a atenção 
          que as línguas estivessem separadas. Não queiramos temer a dissipação, 
          e conheçamos a unidade da pomba. E assim devia dar-se a conhecer o 
          Espírito Santo quando vinha sobre o Senhor, com o fim de que cada um 
          compreenda que quando tem o Espírito Santo, deve ser simples como a 
          pomba e ter com os seus irmãos verdadeira paz, significada pelas 
          carícias que se fazem as pombas. Também se acariciam os corvos, mas 
          picam-se uns aos outros, porém a picada das pombas é inocente por 
          natureza; ademais, os corvos alimentam-se de carne morta, e as pombas 
          não têm este costume, se não alimenta-se das sementes da terra. Se 
          bem, é verdade que as pombas parecem que choram quando estão em 
          amores, não nos deve chamar a atenção, que o Espírito Santo queira 
          dar-se a conhecer em forma de pomba, porque Ele intercede por nós com 
          gemidos inefáveis (Rm 8,26). Porém, o Espírito Santo não geme em si 
          mesmo, senão em nós, porque nos faz gemer. O que conhece que vive sob 
          a pressão desta mortalidade terrena, e que está errante longe de Deus, 
          em tanto que geme por isto, geme bem, porque o Espírito Santo lhe 
          ensinou a gemer. Porém há muitos que gemem pelo bem-estar da terra, ou 
          por ver-se abrumados de danos, ou por doença corporal, ou por outra 
          coisa parecida; neste caso não gemem com o gemido da pomba. De que 
          outra maneira ia representar o Espírito Santo para significar a 
          unidade, senão através da pomba? (Ct 6,8) Desta maneira poderia dizer 
          a sua Igreja depois de formada: minha pomba é só uma. E como se devia 
          figurar-se a humildade senão pela ave simples e que geme? Ali apareceu 
          toda a Beatíssima Trindade. O Pai na voz que dizia: ‘Tu és meu Filho 
          muito amado’ ( Lc 3, 22), o Espírito Santo na forma de pomba. E nesta 
          Trindade foram enviados os Apóstolos a batizar em nome do Pai, do 
          Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19)” 
          (Idem.
          In Ioannem, Tract. 6, sparsim), e:  
          “E disse que descansou sobre Ele, porque o 
          Espírito Santo vem sobre todos os fiéis. Porém, permanece sempre de 
          uma maneira especial unicamente sobre nosso mediador, porque o 
          Espírito Santo nunca se separa da humanidade de Cristo, de cuja 
          divindade procede. Mas, como disse aos seus discípulos a respeito ao 
          mesmo Espírito Santo: ‘Convosco permanecerá’ (Jo 
          14,17). Como é que permanece sobre Jesus Cristo como uma figura 
          especial? Isto, o compreenderemos mais rápido se conhecemos os dons do 
          Espírito Santo. Porque este sempre permanece nos seus escolhidos 
          através de seus dons: a mansidão, a humildade, a fé, a esperança e a 
          caridade, sem os quais não pode chegar-se à vida eterna” 
          (São 
          Gregório,  Moralium, 2, 41), e também:  
          “E para que não se creia que Jesus Cristo 
          necessitou que viesse o Espírito Santo, como nos sucede, anula também 
          esta suspeita, dando a conhecer que a vinda do Espírito Santo 
          unicamente tem por objetivo a manifestação de Jesus Cristo. Por isto 
          segue: ‘E eu não o conhecia; porém Aquele que me enviou a batizar com 
          água, me disse: sobre Aquele que tu vires descer o Espírito Santo, e 
          repousar sobre Ele, é Este...”  
          (São João 
          Crisóstomo,  In Ioannem, Hom. 16), e ainda:
          “Quem enviou São João? Se dissermos que foi o 
          Pai, não mentimos; o mesmo se dissermos que foi o Filho. Porém, é 
          melhor dizer que foram o Pai e o Filho. E como dizia então, que não 
          conhecia Aquele que o havia enviado? E se ainda, não conhecia Aquele 
          por quem quis ser batizado, disse temerariamente: ‘Eu devo ser 
          batizado por ti’ Portanto o conhecia. E então porque disse: ‘Eu não o 
          conhecia?”  (Santo Agostinho,
          
          In Ioannem, Tract. 5), e:
          “Porém quando disse: ‘não o conhecia’, se 
          refere a um tempo anterior e não ao tempo que estava perto do batismo 
          quando não queria batizar-lhe, dizendo: ‘Eu devo ser batizado por ti” 
          (São João Crisóstomo, 
          
          Ut sup), e também: 
          “Convinha, pois, que fosse batizado, Aquele que é o Filho Unigênito de 
          Deus, e não é adotado. Os filhos adotados exercem de ministros para 
          com o Filho Único. Pois, o Único tem potestade; os adotados têm 
          ministério”  (Santo Agostinho,
          
          In Ioannem, Tract. 7). 
            
          
          “Ó 
          Verbo! Ó Jesus! Quão belo sois! Quão grande! Quem chegará a 
          conhecer-vos? Quem poderá compreender-vos? Ah! Fazei-me, ó Jesus, 
          conhecer-vos e amar-vos. 
          
          Vós 
          que sois a luz, enviai um vosso raio sobre minha pobre alma, a fim de 
          que possa ver e compreender! Deixai-me pôr em vós o olhar, ó Beleza 
          infinita! Velai um pouco os esplendores de vossa glória, a fim de que 
          possa eu contemplar e ver vossas perfeições divinas. 
          
          
          Abri-me os ouvidos! Quem me dera ouvir vossa voz e meditar vossos 
          divinos ensinamentos! Abri-me também o espírito e a inteligência, a 
          fim de que vossa palavra chegue até meu coração, experimente-a e a 
          compreenda. 
          
          
          Suscitai em mim grande fé em vós, a fim de que cada palavra vossa seja 
          luz que me esclareça, a vós me atraia, e me leve a seguir-vos em todos 
          os caminhos da justiça e da verdade. 
          
          Ó 
          Jesus, ó Verbo, sois meu Senhor, meu único Mestre, falai! Quero 
          ouvir-vos e pôr em prática vossa palavra. Vossa palavra quero ouvir, 
          porque sei que vem do céu. Quero ouvi-la, meditá-la, praticá-la, 
          porque em vossa palavra há vida, alegria, paz e felicidade. 
          
          
          Falai! Sois meu Senhor e Mestre, só a vós quero escutar” 
          (A. Chevrier, O verdadeiro discípulo, p. XVIII). 
            
			  
          
          
          Pe. Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 15 de janeiro de 2008 
           
           
            
			  
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