EIS O CORDEIRO DE DEUS

(Jo 1, 29-34)

 

29 No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30 Dele é que eu disse: Depois de mim, vem um homem que passou adiante de mim, porque existia antes de mim. 31 Eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim batizar com água’. 32 E João deu testemunho, dizendo: ‘Vi o Espírito descer, como uma pomba vindo do céu, e permanecer sobre ele. 33 Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para batizar com água disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo’. 34 E eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus”.

 

 

Em Jo 1, 29-31 diz: “No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim, vem um homem que passou adiante de mim, porque existia antes de mim. Eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim batizar com água”.

João Batista pregava e continuava a batizar em Betânia, a que está no outro lado do Jordão. Assim o assinala o evangelista para a distinguir de uma segunda Betânia, próxima de Jerusalém. Ali João dava testemunho de Jesus àqueles que acorriam a ele: Eu não sou o Cristo (Jo), dirá a uma legação de sacerdotes e levitas enviada de Jerusalém, enquanto a expectativa à volta da chegada do Messias era já muito grande: “O Evangelho deste domingo leva-nos uma vez mais às margens do Jordão, onde, trinta anos depois do seu nascimento, João Batista prepara os homens para a vinda do Senhor. E quando ele vê Jesus que vinha ao seu encontro, diz: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo... Estamos acostumados às palavras Cordeiro de Deus, e, no entanto, são palavras sempre maravilhosas, misteriosas, são palavras poderosas” (João Paulo II, Homilia, 18-III-1981).

Depois daqueles quarenta dias de jejum no deserto, Jesus não se dirigiu diretamente para a Galiléia, como parecem sugerir os evangelhos sinóticos. São João indica-nos que nessas poucas semanas posteriores se deram acontecimentos que mudaram a sua própria vida.

No dia seguinte do testemunho do Batista diante dos enviados de Jerusalém, viu Jesus que se dirigia para ele. Ao aproximar-se disse: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Este nome tinha ressonâncias muito profundas entre os judeus e fazia referência ao sacrifício redentor do Messias. Os ouvintes conheciam bem o significado do cordeiro pascal, cujo sangue era derramado no altar dos holocaustos em comemoração da noite em que os judeus foram libertados da escravidão no Egito. Também tinham lido muitas vezes as palavras de Isaías em que compara os sofrimentos do Servo de Yahvé, o Messias, com o sacrifício de um cordeiro.

A. Garcia Moreno escreve: “A expressão ‘Cordeiro de Deus’ foi muito meditada e comentada pelos teólogos e autores espirituais; trata-se de um título rico em conteúdo teológico. É um desses recursos da linguagem humana que tenta expressar uma realidade plurivalente e divina. Ou, para dizê-lo melhor, é uma dessas expressões cunhadas por Deus para revelar algo muito importante sobre si mesmo”.

O cordeiro pascal que cada ano era sacrificado no Templo era ao mesmo tempo a recordação da libertação e do pacto que Deus tinha estreitado com o seu povo. Tudo isso era promessa e figura da verdadeira Vítima no sacrifício do Calvário em favor de toda a humanidade. Mais tarde, São Paulo dirá aos primeiros cristãos de Corinto que o nosso Cordeiro pascal, Cristo, foi imolado, e convida-os a uma vida nova, a uma vida santa (VJ).

Edições Theologica comenta: “Pela primeira vez no Evangelho se chama a Cristo ‘Cordeiro de Deus’. Este nome alude ao sacrifício redentor de Cristo. Já Isaías tinha comparado os sofrimentos do Servo de Yahwéh, do Messias, com o sacrifício de um cordeiro (cf. Is 53,7); por outro lado, o sangue do cordeiro pascal, aspergido sobre as portas das casas, tinha servido para livrar da morte os primogênitos dos israelitas no Egito (cf. Ex 12,6-7). Tudo isso era promessa e figura do verdadeiro Cordeiro, Cristo, vítima no sacrifício do Calvário em favor de toda a humanidade. Por isto, São Paulo dirá que ‘o nosso Cordeiro pascal, Cristo, foi imolado’ (l Cor 5,7). A expressão ‘Cordeiro de Deus’ indica também a inocência imaculada do Redentor (cf. l Pd 1,18-20; l Jo 3,5).

O texto sagrado diz ‘o pecado do mundo’, no singular, para manifestar de modo absoluto que tirou todo o gênero de pecados. Cristo, na verdade, veio livrar-nos do pecado original, que em Adão atingiu todos os homens, e de todos os pecados pessoais.

O livro do Apocalipse revela-nos que Jesus está triunfante e glorioso nos Céus como o ‘Cordeiro imolado’ (Ap 5, 6-14), rodeado dos santos, dos mártires e das virgens (Ap 7,9.14; 14,1-5), dos quais recebe louvor e glória por ser Deus (Ap 7,10).

Sendo a Sagrada Comunhão a participação no Sacrifício de Cristo, os sacerdotes pronunciam estas palavras do Batista antes de administrar a Sagrada Comunhão, para suscitar nos fiéis o agradecimento ao Senhor por Se ter entregado à morte para nossa salvação e por Se nos dar como alimento das nossas almas.

João Batista declara aqui a superioridade de Jesus ao dizer que Ele existia já antes dele, apesar de ter nascido depois. Mostra assim a divindade de Cristo, gerado pelo Pai desde toda a eternidade e nascido de Maria Virgem no tempo. É como se o Batista dissesse: ‘Embora eu tenha nascido antes d'Ele, a Ele não O limitam os laços do Seu nascimento; porque mesmo quando nasce de Sua Mãe no tempo, foi gerado pelo Pai fora do tempo” (In Evangelia Homiliae, 7).

Com as palavras do v. 31, o Precursor não pretende negar o conhecimento pessoal que tinha de Jesus (cf Lc 1, 36 e Mt 3,14), mas manifestar que conheceu por revelação divina o momento de proclamar publicamente a condição do Senhor como Messias e Filho de Deus, e que compreendeu também que a sua própria missão de Precursor não tinha outra finalidade a não ser dar testemunho de Jesus Cristo”.

São João Crisóstomo escreve: “São Mateus fala propriamente da vinda do Salvador ao batismo, mas São João parece indicar que Jesus foi pela segunda vez ver o Batista depois do batismo. E isto, o prova pelo o que se segue: ‘Porque tendo visto o Espírito Santo que descia...etc. Parece que os evangelistas distribuíram o tempo desta narração. Porque São Mateus, passando em silêncio, ao que sucedeu antes que o Batista fosse preso, passa a se ocupar do que sucedeu depois; mas São João se detém especialmente nos tempos que precederam à prisão do Batista. Por isso disse: ‘No dia seguinte, viu’, etc. Porque veio ver o Batista uma segunda vez, depois do batismo se conhece porque o havia batizado entre muitos, para que não se cresse que o Salvador tinha vindo com os demais, que acudiam ora para confessar os pecados, ora para purificar-se no rio através da penitência. Por isso sucedeu que, dando ocasião a São João de anular esta suspeita, São João antecipou-se com estas palavras. Por isso segue: ‘E diz, eis aqui o Cordeiro de Deus’, etc. O que era tão puro, que podia apagar os pecados dos outros, manifesta desde então, que não vinha confessar seus pecados senão a dar ocasião a São João para que falasse com Ele. Veio também pela segunda vez para que aqueles que já haviam ouvido as coisas anteriores, vejam confirmado o que se lhes haviam dito e ouvissem outra vez novas coisas. Por isto diz: ‘Eis aqui o Cordeiro de Deus’, manifestando que Este é Aquele que era esperado em outro tempo e recordando a profecia de Isaías segundo a que aquelas sombras que existiam na lei de Moisés, os conduziram mais facilmente da figura à realidade” (In Ioannem, Hom. 16), e: “E se o Cordeiro de Deus é inocente, também São João é o cordeiro. Ou acaso, não é inocente também? Porém, todos procedem daquela descendência de quem disse Davi: ‘E fui concebido no pecado’ (Sl 50,7). Dessa maneira, somente é Cordeiro Aquele que não vem ao mundo desse modo. E na realidade, não havia sido concebido em pecado, nem sua mãe teve pecado quando o levava no seu ventre, pois ela O havia concebido sendo Virgem, e sendo Virgem lhe havia dado à luz. Porque lhe havia concebido através da fé, e por meio da mesma o havia tido em seu seio” (Santo Agostinho, In Ioannem, Tract. 4), e também: “Se ofereciam no templo, cinco classes de animais (três da terra: o bezerro, a ovelha e a cabra; dois do ar: a rola e a pomba; e das ovelhas eram levadas três: o carneiro, a ovelha e o cordeiro). Somente se faz menção do cordeiro, que é das raças das ovelhas. Nos holocaustos diários, se ofereciam um cordeiro pela manhã e outro pela tarde. Que outra oblação pode fazer-se todos os dias, que seja digna de ser inteligente senão o Verbo florido e vigoroso, chamado por antonomásia o Cordeiro? Portanto, isto se considerará como a oblação da manhã, em quanto refere-se à frequência com que a alma se detém nas coisas divinas, dada a condição de nossa alma, que não pode sempre estar nos conceitos altíssimos por estar unida ao corpo, que é terreno e pesado. Desta palavra, segundo a qual chamamos a Jesus Cristo, Cordeiro, podemos deduzir as demais coisas e por qual razão nos inclinamos às coisas temporais, à maneira que nos tendemos à chegada da tarde. E ele que ofereceu este cordeiro para o santificar, foi o mesmo Deus escondido no homem, grande sacerdote, que disse: ‘Ninguém separará minha alma de mim, porque sou eu quem a deponho’ (Jo 10,18). Por isso disse: ‘Cordeiro de Deus’, porque Ele, tomando sobre si nossas aflições e tirando os pecados de todo mundo, recebeu a morte como batismo. E não passa sem correção para Deus, nada o que fazemos contrário à sua Lei, a qual há de cumprir-se ainda à custa das maiores dificuldades” (Orígenes, In Ioannem, Tom. 6), e ainda: “Se chama Jesus Cristo, Cordeiro de Deus, porque Deus Pai aceitou a morte de Jesus Cristo por nossa salvação; ou, o que é o mesmo, quando se entregou à morte por nós. E assim, como costumamos dizer, esta oferenda é de tal homem, isto é, a que tal homem ofereceu; assim Jesus Cristo se chama Cordeiro de Deus, quem havia se entregado à morte por nossa salvação. Porém, aquele cordeiro que tinha servido antes, na forma de figura, não tinha mancha alguma; mas este levou sobre si as manchas ou os pecados de todos os homens, porque tirou o mundo do perigo em que se encontrava, sob o castigo de Deus. Por isso acrescenta: ‘Eis aqui o que tira o pecado do mundo’. Não disse: O que tirará, senão o que tira o pecado do mundo, como se sempre houvesse estado fazendo o mesmo. Não tirou o pecado unicamente quando padeceu, senão desde então até os nossos dias. Não é sacrificado constantemente (porque somente se tem oferecido uma vez por nossos pecados), porém sempre está tirando os pecados através de sua oblação” (Teofilacto), e: “Se tira o pecado ao gênero humano em absoluto, quando muda nossa corrupção pela glória da incorrupção. E não podemos estar livres de culpa até que nos livremos do corpo por meio da morte” (São Gregório, Moralium, 8, 32), e também: “E por que não disse: os pecados do mundo, senão o pecado? Disse unicamente pecado, referindo-se ao pecado no sentido universal, como dissemos que o homem foi expulso do Paraíso, para que se entenda todo o gênero humano” (Teofilacto), e ainda: “Se chama pecado do mundo ao pecado original, que é o pecado comum a todos os homens, cujo pecado, como todos os demais que a este pode acrescentar; Jesus Cristo, nos tira através da sua graça” (São Beda), e: “E Ele que não tomou pecado algum quando tomou nossa natureza. É o mesmo que tira o nosso pecado. Já sabemos que dizem alguns: nós tiramos os pecados aos homens porque somos santos. Porém, se não fosse santo o que batiza, como tira o pecado do outro, sendo ele um homem cheio de pecado? Contra estas questões leiamos agora: ‘Eis aqui o que tira o pecado do mundo’, para que não creiam os homens que são eles quem tira o pecado a outros homens” (Santo Agostinho, Ut sup), e também: “Assim como os sacrifícios legais se referiam como por laço de parentesco ao oferecimento do Cordeiro, também agora ao sacrifício deste Cordeiro se acrescenta outras oblações, como são, a meu modo de entender, os derramamentos de sangue dos mártires, com cuja paciência, confissão e prontidão se embotam as maquinações dos maus, inclinando-se ao bem” (Orígenes), e ainda: “Veio após mim, porque nasceu depois de mim. E foi feito antes que eu, porque é anterior a mim” (Santo Agostinho, In Ioannem, Tract. 4), e: “E manifesta as causas desta precedência quando acrescenta: ‘Porque era antes de mim’. Como se dissesse claramente: Mesmo que eu tenha nascido antes que Ele, a Ele não o limita o tempo do seu nascimento; porque mesmo quando nasce de sua mãe no tempo, foi engendrado pelo Pai fora do tempo” (São Gregório, In Evang. Hom. 7), e também: “Oh Ário! Escuta: Não disse que foi criado antes de mim, senão que era antes de mim. Ouça também isto os sectários de Paulo de Samosata, que ensina que não nasceu da Virgem, porque mesmo dela tomou o modo de existir, como existiu antes do precursor? Pois bem se sabe que o precursor tinha seis meses mais que o Salvador quanto à humana geração” (Teofilacto), e ainda: “E para que não pareça que dá testemunho Dele pelo parentesco, porque era seu parente segundo a carne, disse: ‘Eu não o conhecia’. E segundo a razão natural sucedeu assim, porque São João havia estado sempre no deserto. Ademais, os milagres que haviam ocorrido quando Jesus era pequeno (como o que teve lugar a respeito dos Magos e alguns outros) haviam verificado muito tempo antes, e São João era demasiado pequeno. De modo que, mesmo estando entre os homens, era desconhecido de todos. Por isso acrescentou: ‘Se não para que se manifeste em Israel’, etc. Daqui se deduz que aqueles milagres que alguns dizem terem feito Jesus, quando era pequeno, são mentiras e ficções. Porque se Jesus houvesse feito milagres desde os seus primeiros anos, ninguém o tinha desconhecido, nem mesmo o Batista, nem as pessoas teriam necessitado de um precursor que o manifestasse. E não era Jesus Cristo quem necessitava de batismo, nem havia razão nenhuma para aquela purificação que há de demonstrar a fé que existe em Cristo” (São João Crisóstomo, In Ioannem, Hom. 16), e: “Quando o Senhor foi conhecido, era em vão que lhe preparassem o caminho, porque Ele mesmo, se oferece, como caminho aos que o conhecem. E assim, não durou por muito tempo o batismo de São João senão até que deu a conhecer o Deus da humanidade. E, ademais, para dar-nos o exemplo desta virtude e nos ensinar a obter a salvação através do batismo, recebeu Ele, o batismo do servo. E para que não fosse preferido o batismo do servo ao batismo do Senhor, outros foram batizados com o mesmo batismo do servo. Porém, os que foram batizados com o batismo do servo; também convinha serem batizados com o batismo do Senhor. Porque os que são batizados com o batismo do Senhor não necessitam do batismo do servo” (Santo Agostinho, In Ioannem, Tract. 5).

Em Jo 1, 32-34 diz: “E João deu testemunho, dizendo: ‘Vi o Espírito descer, como uma pomba vindo do céu, e permanecer sobre ele. Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para batizar com água disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo’. E eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus”.

Edições Theologica comenta: “Para confirmar a divindade de Jesus Cristo, o evangelista recolhe o testemunho do Precursor sobre o Batismo de Jesus. É um dos momentos cume da vida do Senhor em que se revela o mistério da Santíssima Trindade.

A pomba é símbolo do Espírito Santo, de quem se diz no Gn 1, 2 que revoava sobre as águas. Com este sinal cumprem-se as profecias de Is 11,2-5; 42,1-2, segundo as quais o Messias estaria cheio da força do Espírito Santo. O Batista manifesta a grande diferença entre o seu batismo e o de Cristo; em Jo 3, Jesus falará deste novo Batismo na água e no Espírito (cf. At 1,5; Tt 3,5).

‘O Filho de Deus’ : É de notar que a expressão tem artigo no texto original, o que quer dizer que João Batista confessa diante dos seus ouvintes o caráter sobrenatural e transcendente do messianismo de Cristo, tão distante da idéia político-religiosa que tinham forjado os dirigentes do judaísmo”.

São João Crisóstomo escreve: “São João tinha dito grandes coisas do Salvador, o que era bastante suficiente para que se assombrassem quanto os ouviam (como aquele de que Ele somente poderia tirar os pecados do mundo inteiro). Querendo fazer isto mais acreditável, o referia a Deus e ao Espírito Santo. E como alguém poderia perguntar a São João, como tens conhecido tu a este? Lhe responde que, pela vinda do Espírito Santo. Por isto segue: ‘E João deu testemunho: dizendo que viu o Espírito que descia” (In Ioannem, Hom. 16), e: “Jesus não foi ungido pelo Espírito Santo, quando este desceu sobre Ele na forma de pomba depois de batizado; porque então, se dignou prefigurar seu corpo, isto é, sua Igreja, na qual especialmente os batizados recebem o Espírito Santo. E é muito absurdo crer que, tendo já trinta anos (cuja idade tinha, quando foi batizado por João), recebesse o Espírito Santo, e que este viesse sobre Ele sem pecado, como sem pecado havia recebido o batismo. E se bem que é verdade o que se tem escrito de seu servo e precursor: ‘que este seria cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe’ (Lc 1,15), e este que havia sido engendrado por pai humano já havia recebido o Espírito Santo ao ser concebido no ventre de sua Mãe. O que deverá entender-se e crer-se de Jesus Cristo enquanto homem, cuja concepção, mesmo se verificou na carne, não foi carnal, senão espiritual?” (São Agostinho , De Trin., 15, 27), e também: “E não dizemos com isto, que Jesus Cristo tivesse unicamente, verdadeiro corpo, nem que o Espírito Santo se deixasse ver pelos homens de uma maneira enganosa. Porque assim como não convinha que o Filho de Deus enganasse aos homens, assim também o Espírito Santo. Mas não era difícil à onipotência de Deus, que havia tirado todo o universo do nada, fazer que um verdadeiro corpo de pomba aparecesse em realidade sem o concurso natural de outros animais da mesma espécie, assim como também lhe teria sido difícil formar um verdadeiro corpo nas entranhas da Virgem, sem a cooperação do homem” (Idem. De Agone Christiano, cap. 22), e ainda: “De duas maneiras visíveis manifesta o Espírito Santo: através da figura de uma pomba, quando desce sobre o Salvador depois de batizado, e através do fogo, quando desce sobre os apóstolos no dia em que estavam reunidos. No primeiro caso, nos representa a simplicidade; no segundo, o fervor. Portanto, para que não sejam enganados os que recebem a santificação, lhes manifesta através de uma pomba, e para que a simplicidade não permaneça fria, se demonstra através do fogo. E não chama a atenção que as línguas estivessem separadas. Não queiramos temer a dissipação, e conheçamos a unidade da pomba. E assim devia dar-se a conhecer o Espírito Santo quando vinha sobre o Senhor, com o fim de que cada um compreenda que quando tem o Espírito Santo, deve ser simples como a pomba e ter com os seus irmãos verdadeira paz, significada pelas carícias que se fazem as pombas. Também se acariciam os corvos, mas picam-se uns aos outros, porém a picada das pombas é inocente por natureza; ademais, os corvos alimentam-se de carne morta, e as pombas não têm este costume, se não alimenta-se das sementes da terra. Se bem, é verdade que as pombas parecem que choram quando estão em amores, não nos deve chamar a atenção, que o Espírito Santo queira dar-se a conhecer em forma de pomba, porque Ele intercede por nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26). Porém, o Espírito Santo não geme em si mesmo, senão em nós, porque nos faz gemer. O que conhece que vive sob a pressão desta mortalidade terrena, e que está errante longe de Deus, em tanto que geme por isto, geme bem, porque o Espírito Santo lhe ensinou a gemer. Porém há muitos que gemem pelo bem-estar da terra, ou por ver-se abrumados de danos, ou por doença corporal, ou por outra coisa parecida; neste caso não gemem com o gemido da pomba. De que outra maneira ia representar o Espírito Santo para significar a unidade, senão através da pomba? (Ct 6,8) Desta maneira poderia dizer a sua Igreja depois de formada: minha pomba é só uma. E como se devia figurar-se a humildade senão pela ave simples e que geme? Ali apareceu toda a Beatíssima Trindade. O Pai na voz que dizia: ‘Tu és meu Filho muito amado’ ( Lc 3, 22), o Espírito Santo na forma de pomba. E nesta Trindade foram enviados os Apóstolos a batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19) (Idem. In Ioannem, Tract. 6, sparsim), e: “E disse que descansou sobre Ele, porque o Espírito Santo vem sobre todos os fiéis. Porém, permanece sempre de uma maneira especial unicamente sobre nosso mediador, porque o Espírito Santo nunca se separa da humanidade de Cristo, de cuja divindade procede. Mas, como disse aos seus discípulos a respeito ao mesmo Espírito Santo: ‘Convosco permanecerá’ (Jo 14,17). Como é que permanece sobre Jesus Cristo como uma figura especial? Isto, o compreenderemos mais rápido se conhecemos os dons do Espírito Santo. Porque este sempre permanece nos seus escolhidos através de seus dons: a mansidão, a humildade, a fé, a esperança e a caridade, sem os quais não pode chegar-se à vida eterna” (São Gregório, Moralium, 2, 41), e também: “E para que não se creia que Jesus Cristo necessitou que viesse o Espírito Santo, como nos sucede, anula também esta suspeita, dando a conhecer que a vinda do Espírito Santo unicamente tem por objetivo a manifestação de Jesus Cristo. Por isto segue: ‘E eu não o conhecia; porém Aquele que me enviou a batizar com água, me disse: sobre Aquele que tu vires descer o Espírito Santo, e repousar sobre Ele, é Este...” (São João Crisóstomo, In Ioannem, Hom. 16), e ainda: “Quem enviou São João? Se dissermos que foi o Pai, não mentimos; o mesmo se dissermos que foi o Filho. Porém, é melhor dizer que foram o Pai e o Filho. E como dizia então, que não conhecia Aquele que o havia enviado? E se ainda, não conhecia Aquele por quem quis ser batizado, disse temerariamente: ‘Eu devo ser batizado por ti’ Portanto o conhecia. E então porque disse: ‘Eu não o conhecia?” (Santo Agostinho, In Ioannem, Tract. 5), e: “Porém quando disse: ‘não o conhecia’, se refere a um tempo anterior e não ao tempo que estava perto do batismo quando não queria batizar-lhe, dizendo: ‘Eu devo ser batizado por ti” (São João Crisóstomo, Ut sup), e também: “Convinha, pois, que fosse batizado, Aquele que é o Filho Unigênito de Deus, e não é adotado. Os filhos adotados exercem de ministros para com o Filho Único. Pois, o Único tem potestade; os adotados têm ministério” (Santo Agostinho, In Ioannem, Tract. 7).

 

“Ó Verbo! Ó Jesus! Quão belo sois! Quão grande! Quem chegará a conhecer-vos? Quem poderá compreender-vos? Ah! Fazei-me, ó Jesus, conhecer-vos e amar-vos.

Vós que sois a luz, enviai um vosso raio sobre minha pobre alma, a fim de que possa ver e compreender! Deixai-me pôr em vós o olhar, ó Beleza infinita! Velai um pouco os esplendores de vossa glória, a fim de que possa eu contemplar e ver vossas perfeições divinas.

Abri-me os ouvidos! Quem me dera ouvir vossa voz e meditar vossos divinos ensinamentos! Abri-me também o espírito e a inteligência, a fim de que vossa palavra chegue até meu coração, experimente-a e a compreenda.

Suscitai em mim grande fé em vós, a fim de que cada palavra vossa seja luz que me esclareça, a vós me atraia, e me leve a seguir-vos em todos os caminhos da justiça e da verdade.

Ó Jesus, ó Verbo, sois meu Senhor, meu único Mestre, falai! Quero ouvir-vos e pôr em prática vossa palavra. Vossa palavra quero ouvir, porque sei que vem do céu. Quero ouvi-la, meditá-la, praticá-la, porque em vossa palavra há vida, alegria, paz e felicidade.

Falai! Sois meu Senhor e Mestre, só a vós quero escutar” (A. Chevrier, O verdadeiro discípulo, p. XVIII).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 15 de janeiro de 2008

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Eis o Cordeiro de Deus”

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