JESUS PERCORRIA TODA A GALILÉIA
(Mt 4,
12-23)
“12
Ao ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galiléia
13
e, deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins
de Zabulon e Neftali,
14
para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías:
15
Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do
Jordão, Galiléia das nações!
16
O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na
região sombria da morte, surgiu uma luz.
17
A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer:
‘Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus’.
18
Estando ele a caminhar junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos:
Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar,
pois eram pescadores.
19
Disse-lhes: ‘Segue-me e eu vos farei pescadores de homens’.
20
Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram.
21
Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de
Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as
redes. E os chamou.
22 Eles, deixando
imediatamente o barco e o pai, o seguiram.
23
Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando
o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade
do povo”.
Em Mt
4, 12-16 diz: “Ao
ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galiléia e,
deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de
Zabulon e Neftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta
Isaías: Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região
além do Jordão, Galiléia das nações! O povo que jazia nas trevas viu
uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma
luz”.
Edições Theologica comenta:
“São Mateus cita aqui a
profecia de Isaías 8, 23-9, 1. A região, que é mencionada com diversas
referências (Zabulon, Neftali, para os lados do mar, terra de
Além-Jordão), foi invadida pelos assírios pelos anos 734-721 a. C.,
sobretudo no tempo de Teglatfalasar III. Parte da população hebraica
da região foi deportada, ao mesmo tempo que foram trazidos grandes
grupos de populações estrangeiras para colonizar o país. Por esta
causa, a partir dessa data, na Bíblia é costume chamar-se-lhe
‘Galiléia dos gentios’. O Evangelista, inspirado por Deus, viu o
cumprimento da profecia de Isaías nesta vinda de Jesus à Galiléia. Com
efeito, esta terra devastada e maltratada em tempo de Isaías, será a
primeira a receber a luz da vida e da pregação de Jesus Cristo.
Portanto, o sentido messiânico da profecia é claro”.
“...deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum”.
Nazara, forma muito rara, atestada por excelentes autoridades: B Z
Orígenes k, cf Lc 4, 16: a imensa maioria dos documentos voltou à
forma comum Nazaré (BJ).
Rábano escreve:
“Depois que São Mateus falou dos quarenta dias de jejum, da tentação
de Cristo e do ministério dos anjos, a continuação prossegue dizendo:
‘Tendo ouvido Jesus que São João havia sido preso”,
e: “Não se deve ter
dúvida de que isso foi permitido por Deus, já que, contra um homem
bom, ninguém pode fazer nada sem que Deus o permita. Prossegue:
‘Retirou-se para a Galiléia’. Isto é, retirou-se da Judéia para não
antecipar o tempo oportuno da sua paixão e para dar-nos exemplo de
como devemos fugir do perigo” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 6),
e também:
“Não é desonroso, não se
lançar ao perigo, mas sim o é, o não manter-se firme quando se é
assolado por ele. Retirou-se da Judéia para acalmar a inveja dos
judeus e para cumprir ao mesmo tempo a profecia, desejando convencer
aos mestres de todo o mundo que habitavam na Galiléia. Também, é esta
a causa que o induziu a afastar-se dos judeus e ir aos gentios; porque
o Batista tendo sido preso pelos judeus, obrigaram o Salvador a partir
para a Galiléia dos gentios”
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,1), e ainda:
“Como refere São Lucas, veio
a Nazaré, onde havia sido amamentado e ali entrou na sinagoga, onde
leu e disse muitas coisas, pelas quais o quiseram lançar de um monte e
então desceu a Cafarnaum, de onde diz agora São Mateus: ‘E tendo
abandonado a cidade de Nazaré, veio e habitou em Cafarnaum”
(A Glosa),
e:
“Nazaré está na Galiléia e
forma uma aldeia no sopé do monte Tabor. Cafarnaum é uma vila na
Galiléia dos gentios, perto do lago Genezaré e, por isso, chama-se
marítima” (São Jerônimo),
e também:
“Partiu aos termos de Zabulon
e Neftali, onde teve lugar a primeira sujeição penosa dos hebreus,
verificada pelos assírios, onde se constatou a primeira infração da
lei. Ali ocorreu a primeira pregação do Evangelho, para que seu
benéfico influxo nascesse como de um mesmo lugar, tanto para os
gentios, como para os judeus” (A
Glosa), e ainda: “Deixou Nazaré para
convencer a muitos, pregando e fazendo milagres, em cujo ato deixou
exemplo aos pregadores para que escolham o melhor tempo e o lugar mais
oportuno quando quiserem que sua pregação seja de proveito a muitos de
diferentes condições. Prossegue: ‘Para que se cumprisse o que havia
dito o Profeta Isaias: Terra de Zabulon e terra de Neftali’. Assim
encontra-se na profecia: no começo foi aliviada a terra de Zabulon e a
terra de Neftali e agora é engrandecido o caminho do mar, às costas do
Jordão, quando passa pelas costas da Galiléia dos gentios”
(Remígio),
e:
“Diz-se que no primeiro
tempo, foi aliviada do peso dos pecados porque Nosso Senhor pregou o
Evangelho, primeiramente nas regiões das duas tribos; mas agora, sua
fé escureceu, dado que muitos judeus permanecem no erro. Aqui, chama
mar ao lago de Genezaré, no qual desemboca o Jordão, em cujas margens
encontram-se Cafarnaum, Tiberíades, Betsaida e Corazin, região onde
Cristo mais pregou. Ou, segundo os hebreus que crêem em Cristo, estas
duas tribos de Zabulon e Neftali foram tomadas pelos assírios, ficando
a Galiléia deserta. A que o profeta disse que tinha ficado
exterminada, porque tolerava os pecados de seu povo. Mas depois todas
as tribos que habitavam às costas do Jordão, na Samaria, foram
reduzidas à escravidão e dizem: ‘Agora, assegura isto a Escritura,
porque este povo foi o primeiro desta região a ser levado à
escravidão’. Ela foi também a primeira que viu a luz da pregação do
Evangelho, começada por Cristo. Segundo os nazarenos, quando veio
Cristo, foi a primeira terra que ficou livre dos erros dos fariseus.
Depois, pelo anúncio da Boa Nova do apóstolo São Paulo, foi aumentada,
isto é, se multiplicou a pregação nos territórios ocupados pelos
gentios” (São
Jerônimo, in Isaiam, 9,1), e
também: “Estes nominativos diferentes se
reduzem em um mesmo verbo, assim: ‘Terra de Zabulon e terra de Neftali,
que estão no caminho do mar, às costas do Jordão, a saber, o povo da
Galiléia dos Gentios, que andavam entre as trevas, esta foi a primeira
região que viu a luz do Evangelho”, etc.”
(A Glosa),
e ainda: “Adverte-se que há duas Galiléias,
uma chamada dos judeus e outra chamada dos gentios. Assim está
dividida a Galiléia desde o tempo de Salomão, que deu vinte cidades de
Galiléia ao Hiran, rei de Tiro, cuja parte se chamou depois Galiléia
dos gentios e as demais dos judeus. Também pode ler-se: ‘Ao outro lado
do Jordão da Galiléia dos gentios’; assim direi: ‘Para que visse a luz
o povo que andava nas trevas’, nunca pequena, como a dos outros
profetas, senão grande, isto é, fala-se da luz d’Aquele que diz no
Evangelho: ‘Eu sou a luz do mundo’ (Jo 8). Prossegue: ‘E nasceu a luz
para todos aqueles que habitavam na região da sombra da morte’; eu
considero que entre a morte e a sombra da morte, a única diferença é
de que a morte é própria daqueles que desceram com suas obras ao
inferno, e a sombra da morte é própria daqueles que pecam, mas que
ainda não têm saído desta vida, porque se querem, podem fazer
penitência” (São
Jerônimo), e:
“Também pode se dizer que os gentios estavam sentados na região da
sombra da morte, porque adoravam aos ídolos e aos demônios; os judeus,
que praticavam a lei, também estavam nas trevas, porque ainda não
conheciam a justiça”
(Pseudo–Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 6),
e também:
“São João Evangelista, antes que Jesus fosse para a Galiléia, falou
sobre Pedro, André, Natanael e do milagre de Caná da Galiléia, cujas
coisas calaram os demais evangelistas, somente referindo em suas
narrações, que Jesus voltou da Galiléia. Em relação a este fato,
entende-se que passaram alguns dias em que ocorreram aquelas coisas
sobre os discípulos e que são incluídas por São João”
(Santo Agostinho, de Consensu
Evangelistarum, 2,17), e ainda:
“Entretanto, deve se
compreender claramente, por que São João disse que Cristo foi para a
Galiléia antes que João fosse preso. Porque depois que havia
convertido água em vinho, depois de haver descido a Cafarnaum e depois
de subir a Jerusalém, está escrito no Evangelho de São João que
regressou à Judéia, e batizava, quando São João Batista ainda não
havia sido levado à prisão. Aqui se diz que, depois que João foi
entregue, retirou-se para a Galiléia, isto é dito por São Marcos. Não
se deve interpretar isto como uma contradição, porque João explicou
primeiro a vinda do Senhor até a Galiléia, a qual foi verificada antes
da prisão de João, porém, faz menção da segunda vinda, quando diz:
‘Que Jesus deixou a Judéia e voltou a Galiléia’ (Jo 4). Os demais
evangelistas mencionam apenas esta segunda vinda para a Galiléia, a
qual foi posterior à prisão do Batista”
(Remígio), e:
“Diz-se que São João
pregou quase até o final da sua vida, sem escrever, mas tendo noticias
dos outros três evangelhos, quis provar a verdade do que se havia
dito. Observou que faltavam algumas coisas, especialmente sobre o
acontecido nos primeiros dias da pregação do Salvador. É verdade que
está incluído nos outros três Evangelhos o que foi feito durante o ano
que o Batista esteve na prisão e no dia da sua morte; São Mateus
coloca este acontecimento logo após a tentação de Nosso Senhor: ‘Tendo
ouvido que João havia sido preso’, etc.; e São Marcos da mesma forma.
São Lucas diz, antes de mencionar sobre as obras de Jesus Cristo, que
Herodes colocou São João na prisão. Tendo implorado a São João
Apóstolo, que referisse o que tinha feito o Salvador antes da prisão
de São João, diz: ‘Isto ocorreu no inicio, quando Jesus começou a
fazer milagres” (Eusébio de
Cesárea, Historia Ecclesiastica, 3,24).
“O povo
que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região
sombria da morte, surgiu uma luz”.
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
“A humanidade caminhou nas
trevas até que a luz brilhou na terra quando Jesus nasceu em Belém...
Essa estrela brilhante da manhã envolveu com a sua luminosidade Maria,
José, os pastores e os Magos. Depois, ocultou-se durante anos na
pequena cidade de Nazaré, e o Senhor viveu a vida normal dos seus
conterrâneos. Na realidade, continuava a iluminar a vida dos homens,
pois com esse ocultamento ao longo dos anos de Nazaré nos mostrou que
a vida normal pode e deve ser santificada. Agora, depois de ter
deixado Nazaré e de ter sido batizado no Jordão, vai a Cafarnaum para
iniciar o seu ministério público”,
e: “Viu Mateus esta
profecia feita realidade sob seus olhos. A luz que ilumina a Galiléia
e de lá de difunde em todo o mundo é Cristo; Mateus o conheceu,
seguiu, ouviu, e quer transmitir a jubilosa notícia à terra inteira” (Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena).
Vivamos unidos a Cristo Jesus, luz do mundo, e não tropeçaremos, mesmo
que tenhamos que passar por muitas dificuldades:
“Ficai, luz de minha alma,
porque já é tarde. Sombras densas que não vêm de vós, estão para
cobrir-me... No meu desalento, na minha tristeza sinto a necessidade
de algo que eu mesmo não consigo chamar pelo nome. É de vós que tenho
necessidade!”
(J. H. Newman, Maturidade
Cristã).
Em Mt
4, 17 diz: “A partir
desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: ‘Arrependei-vos,
porque está próximo o Reino dos Céus”.
Pseudo-Crisóstomo
escreve: “Deve pregar a justiça de Jesus Cristo, aquele que possa
mortificar seu corpo, aquele que despreza as coisas do século e aquele
que não deseja a glória em vão. Por isso se diz: ‘Desde então começou
a pregar’. Isto é, desde que tentado, venceu a fome no deserto,
desprezou a avareza no monte e feriu a glória em vão no templo;
começou a pregar, desde que São João foi preso. Porque se houvesse
começado a pregar quando São João pregava, haveria tirado mérito à
pregação deste, a qual teria parecido supérflua, comparada com a de
Jesus Cristo. Assim ocorre com o sol e o luzeiro da manhã, que
aparecendo juntos, o fulgor do sol escurece a beleza do luzeiro”
(Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom
6), e:
“Por isso, não pregou até que
São João fosse preso: porque temeu que o auditório fosse dividido. Não
tendo o Batista feito nenhum milagre, todo o povo teria ido com o
Salvador” (São João Crisóstomo,
Homiliae in Matthaeum, Hom 14,1),
e também:
“Nisto manifesta também que
ninguém deve desprezar a pregação de um inferior. De onde diz o
Apóstolo: Se alguém fala estando sentado, cale o superior”
(Rábano),
e ainda:
“Assim, se propôs (Cristo)
com muita sabedoria, começar sua pregação nesta época, não para
confundir a doutrina de São João, senão para confirmá-la ainda mais,
para demonstrar que era um testemunho verdadeiro”
(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum
super Matthaeum, Hom 6), e:
“Com isto demonstra
que Ele era Filho do mesmo Deus, de quem o Batista havia sido profeta,
e por isso diz: ‘Fazei penitência”(São
Jerônimo), e também:
“Não realizou em
seguida a pregação da justiça que todos conheciam, senão a penitência
que todos necessitavam. Quem se atreverá a dizer: quero ser bom e não
posso? A penitência é a repressão da vontade; e se os males não os
aterram (para que façais penitência), pelo menos que os bens os
deleitem. E prossegue. Aproxima-se, então, o Reino dos céus, isto é, a
felicidade do Reino de Deus, como se dissesse: ‘Preparai através da
penitência’, porque se aproxima o tempo de vosso galardão”
( Idem, Opus Imperfectum super
Matthaeum, Hom 6), e ainda:
“Note-se que não diz:
aproxima-se o reino dos cananeus, nem dos jebuseus, senão o Reino dos
céus. A lei oferecia os bens temporais, mas o Senhor oferecia o Reino
dos céus” (Remígio),
e:
“Veja que nesta pregação nada
diz de si mesmo; o qual realmente, era muito conveniente, porque ainda
não havia sido formada uma opinião sobre Ele. Começando, então, não
disse nada grave como tinha feito o Batista: que o machado estava
preparado para cortar a árvore e outras coisas, senão que no começo
falou de coisas agradáveis evangelizando o Reino dos céus”
(São João Crisóstomo, Homiliae in
Matthaeum, Hom 14,1-2), e também:
“Também pode se dizer em
sentido místico, que uma vez preso o Batista, Cristo começou a pregar,
porque terminada a lei, em seguida nasceu o Evangelho”
(São Jerônimo).
Edições Theologica comenta: “O versículo indica a transcendência do momento inicial da pregação
pública de Jesus, que começa pela proclamação da iminência do Reino de
Deus. Jesus entronca na proclamação de João Batista:
pode apreciar-se uma
coincidência até literal entre a segunda frase deste versículo e Mt 3,
2. Esta coincidência sublinha a função que teve São João Batista como
profeta e precursor de Jesus. Tanto o Batista como Nosso Senhor exigem
o arrependimento, a penitência, como condição prévia para o
acolhimento do Reino de Deus que começa.
O reinado
de Deus sobre os homens é tema central da Revelação de Jesus Cristo,
como o tinha sido no Antigo Testamento. Mas então, o Reino de Deus
tinha tido uma matização que se pode chamar teocrática: Deus reinava
sobre Israel tanto no espiritual como no temporal, e, por meio dele,
submeteria ao Seu domínio as outras nações. Agora Jesus irá explicando
de modo progressivo a renovada natureza deste Reino de Deus, que
chegou à sua plenitude, situando-o no seu plano espiritual de amor e
santidade, e purificando-o dos desvios nacionalistas dos judeus”.
A pregação de Nosso
Senhor é orientada para o conversão e salvação; não se encontra nela
nada de política ou outras coisas terrenas.
Em Mt 4, 18-22 diz:
“Estando ele a caminhar junto ao mar da
Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André,
que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes:
‘Segue-me e eu vos farei pescadores de homens’. Eles, deixando
imediatamente as redes, o seguiram. Continuando a caminhar, viu outros
dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o
pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. Eles, deixando
imediatamente o barco e o pai, o seguiram”.
Pseudo-Crisóstomo escreve: “Jesus Cristo chama os apóstolos antes de dizer ou fazer nada, para
que nada lhes fosse oculto, nem das palavras, nem das obras de Jesus
Cristo; para que depois podessem dizer com toda segurança: não podemos
deixar de dizer o que temos visto e ouvido. Por isso se diz:
Caminhando Jesus ao longo do mar da Galiléia”
(Opus Imperfectum super
Matthaeum, Hom 7),
e: “O mar da Galiléia é o mesmo lago de Genezaré; o mar de Tiberíades é
o lago das Salinas” (Rábano),
e também: “Com toda oportunidade, o que há de
pescar os pescadores, vai pelos lugares onde tem pesca. E por isso
prossegue: Viu dois irmãos, Simão, que depois se chamou Pedro e André,
seu irmão” (A Glosa),
e ainda: “Viu, não só corporalmente, senão de
uma maneira espiritual, olhando seus corações”
(Remígio),
e: “Os chamou quando estavam em suas
ocupações, manifestando que convêm colocar a obrigação de seguir a
Jesus Cristo antes de qualquer ocupação. De onde prossegue: lançando
as redes ao mar, o que correspondia ao oficio daqueles, prossegue:
‘eram pescadores” (São
João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,2),
e também:
“Não escolheu reis, ou
senadores, ou filósofos, ou oradores, mas escolheu homens que eram
simples, pobres e ignorantes pescadores”
(Santo Agostinho, Sermões, 197, 2),
e ainda: “Se houvesse sido
escolhido um douto, acaso houvesse dito que havia sido escolhido por
si mesmo e que o tinha merecido por sua sabedoria. Nosso Senhor Jesus
Cristo, querendo humilhar os soberbos, não procurou um pescador em um
orador, senão que, de um pescador tirou um que havia de mandar. São
Cipriano foi um grande orador, mas antes esteve Pedro que era
pescador” (Santo Agostinho, in
Ioannem, 7, 17), e:
“Os artesãos
profetizavam com seu trabalho a graça da dignidade futura; porque
assim como jogam a rede na água e não sabem que tipo de peixe haverão
de pegar, da mesma forma, o sábio quando joga as redes da sua palavra
sobre o povo, não sabe os que haverão de se aproximar a Deus. Porém,
aceitarão sua pregação, os chamados por Deus”
(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum
super Matthaeum, Hom 7), e
também:
“Deus fala destes pescadores,
através de Jeremias, dizendo: ‘Lhes enviarei meus pescadores os quais
os pescarão’. Por isso acrescenta: ‘Vinde após mim”
(Remígio),
e ainda: “Não tanto com os pés, como com o
afeto e a imitação. ‘E vos farei pescadores de homens”
(A Glosa),
e: “Isto é, mestres. E com a rede da palavra
de Deus, conquistarás os homens do mundo tempestuoso e perigoso, onde
os homens não andam, porque são feridos. Porque o diabo, quando os
empurra ao mal, onde os homens se devoram uns aos outros como os
peixes mais fortes devoram aos mais jovens, para que, trasladados,
vivam na terra como membros do corpo de Cristo”
(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum
super Matthaeum, Hom 7), e
também:
“Pedro e André não tinham
visto Jesus Cristo fazer milagres. Nada tinham ouvido do galardão
eterno e, entretanto, ao ouvir a voz do Salvador, esqueceram de tudo
que acreditavam possuir. De onde segue: Na mesma hora abandonaram suas
redes e o seguiram” (São
Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 5,1),
e ainda: “Os discípulos
nomeados não seguiram a Cristo buscando a honra de sábios, senão o
preço do seu trabalho. Conheciam quão preciosa é a alma humana, quão
grata é sua santidade na presença de Deus e quão grande é a recompensa
oferecida” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7),
e:
“Acreditaram em uma promessa
tão grande, e compreenderam através dos sermões que ouviram que eles
poderiam convocar outros homens”
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom. 14,2), e também:
“Desejando estas coisas, seguiram a Cristo, deixando tudo ao redor;
com isso, nos ensinaram que ninguém pode aferrar-se às coisas da terra
e ir perfeitamente ao céu” (Idem, Homiliae in Matthaeum, Hom 7),
e ainda:
“Nestas coisas, mostra-se um
modelo, para aqueles que tudo deixam por seguir a Jesus Cristo e se
oferece também uma lição àqueles que postergam a Deus, inclusive suas
afeições carnais. De onde se diz: E partindo dali, viu outros dois
irmãos. Observe-se que os chama de dois em dois, como em outro lugar
se lê, que os enviou a pregar também de dois em dois”
(A Glosa),
e: “Aqui, se
insinua que aquele que não tem caridade com outro, não deve tomar a
seu cargo a pregação: são dois os princípios da caridade e esta não
pode ocorrer com menos de duas pessoas”
(São Gregório Magno, Homiliae in
Evangelia, 17,1), e também:
“Colocou com muita
propriedade, os fundamentos da Igreja sobre a caridade fraterna; para
que subindo como a seiva pelo tronco da árvore chegue até os ramos. E
o fez sobre a caridade natural, para que a caridade fosse mais forte,
não só pela graça, senão também pela natureza. Por isso diz: irmãos.
Assim fez Deus no Antigo Testamento, colocando em Moisés e Aarão o
fundamento do seu edifício. Mas como a graça do Novo Testamento é
muito maior que a do Antigo, edificou o primeiro povoado sobre uma só
fraternidade e o segundo sobre duas. Disse São Tiago, o de Zebedeu, e
a seu irmão João que estavam com seu pai Zebedeu no barco, remendando
suas redes, o qual é indício de uma extrema pobreza. Remendavam as
velhas porque não tinham como comprar umas novas. E explica ao mesmo
tempo, a grande caridade deles, porque em tanta pobreza favoreciam seu
pai, tanto que o levavam consigo no barco, não porque ele pudesse
ajudar-lhes com seu trabalho, senão para que se consolasse com sua
presença” (Pdeudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7),
e ainda:
“Não é pequena esta
demonstração de piedade: suportar com gosto a pobreza, alimentar-se
com seu justo trabalho, viver juntos pela virtude do amor, ter consigo
e cuidar de seu pai” (São João
Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,2), e:
“Não nos atrevemos a estimar
quanto seja o mérito dos primeiros que se prestaram velozes a pregar,
que sendo tão pobres que, todavia consertavam suas redes, as lançavam
ao mar; somente Jesus Cristo era quem podia apreciar seu mérito. Acaso
se diz que aqueles lançavam suas redes por Pedro que pregou o
Evangelho, mas não o escreveu” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7),
e também:
“Chamando-os, nada lhes
ofereceu, como aos primeiros... Prossegue: “Eles, tendo deixado seu
pai e suas redes, o seguiram”
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,2), e ainda:
“Três coisas devem deixar
aqueles que vêm a Jesus Cristo: as lerdezas carnais que se figuram nas
redes; o gosto pelas coisas do mundo, figurado no barco e a família,
figurada no pai. Deixaram, assim, o barco para serem constituídos em
governadores da barca da Igreja. Deixaram as redes, para não trazer
mais peixes à cidade da terra, senão para que conduzissem aos homens
às regiões eternas do céu. Deixaram um pai, para que lhes fosse
constituído em pais espirituais de todos” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7),
e: “É-nos
ensinado, nestes que deixam seu oficio, sua pátria e sua casa para
seguir a Jesus Cristo, a não deter-nos pelas preocupações da vida
secular, nem pelo costume de viver na casa paterna”
(São Hilário, in Matthaeum, 3),
e também:
“Designa-se misticamente este
mundo pelo mar, em atenção à amargura da suas águas e à constante
agitação. Galiléia significa volúvel ou roda, e representa a
volubilidade do mundo. Andou Jesus junto ao mar, quando veio a viver
entre nós, através da encarnação. Por estes dois irmãos, designam-se
os dois povoados, que foram criados por Deus Pai, aos que viu quando
se voltou a eles com misericórdia. Por Pedro, que quer dizer
conhecedor, e se chama Simão, isto é, obediente, designa-se o povo
judeu, porque conheceu a Deus através da lei e o obedeceu através de
seus princípios. André quer dizer viril ou decoroso, e entende-se por
ele ao povo gentio, que tendo conhecido a Deus, persevera firme na fé.
Chamou a estes povos quando enviou seus pregadores, dizendo: ‘Vinde
após mim’, isto é, abandonai ao enganador e segui ao Criador. Foram os
Apóstolos constituídos em pescadores de homens destes povos, isto é,
em pregadores, havendo deixado as barcas, isto é, os desejos carnais e
as redes, isto é, as concupiscências do mundo, e seguiram a Jesus
Cristo. Por São Tiago entende-se também ao povo judeu, que venceu ao
demônio pelo conhecimento de Deus. Por São João entende-se ao povo
gentio, que se salvou unicamente pela graça. Zebedeu, a quem deixaram,
entende-se como fugitivo ou caído, significa o mundo que passa e o
demônio que caiu do céu. Por Pedro e André que jogaram as redes ao
mar, designam-se aqueles que são chamados por Deus na primeira idade,
jogando da barca de seus corpos, as redes da concupiscência carnal, no
mar deste mundo. Por São Tiago e João, remendando as redes, se
designam aqueles que vêm a Cristo depois dos pecados e em presença das
adversidades, recuperando o que perderam”
(Remígio),
e ainda:
“As duas barcas são figuras
de duas Igrejas: aquela que foi chamada pela circuncisão e aquela que
foi chamada pelo prepúcio. Qualquer fiel se converte em Simão,
obedecendo a Deus; em Pedro, conhecendo seu pecado; em André, sofrendo
com valor os trabalhos; e em São Tiago , rejeitando os vícios”
(Rábano),
e:
“Parece que São João atribui
tudo à graça de Deus. Portanto, só fala da vocação de quatro
Apóstolos, através dos quais se designa a pregação nas quatro partes
do mundo” (A Glosa),
e também:
“Também figura-se nisto o
número dos quatro futuros evangelistas”
(Santo Hilário, in Matthaeum, 3),
e ainda: “Por isso, também se
designam as quatro virtudes principais: a prudência se refere a São
Pedro, pelo conhecimento de Deus; a justiça, a Santo André, pelo vigor
das suas obras; a fortaleza, a São Tiago, pelos seus triunfos sobre o
demônio; e a moderação a São João, pelo efeito da divina graça”
(Remígio).
Edições Theologica comenta:
“Os quatro discípulos
conheciam já o Senhor (Jo 1, 35-42). A breve convivência com Jesus
deve ter produzido uma atração imperiosa nas suas almas. Cristo
preparava assim a vocação destes homens. Agora trata-se já daquela
vocação eficaz, que os moveu a abandonar todas as suas coisas para O
seguir e ser Seus discípulos. Por cima dos defeitos humanos – que os
Evangelhos não dissimulam – ressalta, sem dúvida e de modo exemplar, a
generosidade e prontidão com que os Apóstolos corresponderam ao
chamamento divino.
O leitor
atento poderá descobrir a admirar a terna simplicidade com que os
evangelistas relataram, para sempre, as circunstâncias da vocação
destes homens no meio dos seus afazeres cotidianos”.
São
Josemaría Escrivá escreve:
“Deus tira-nos das trevas da
nossa ignorância, do nosso caminho incerto entre os acontecimentos da
história e chama-nos com voz forte, como um dia o fez com Pedro e
André” (Cristo que
passa, n° 45), e:
“Diálogo divino e
humano, que transformou a vida de João e de André, de Pedro, de Tiago
e de tantos outros; que preparou os seus corações para escutarem a
palavra imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto ao mar da Galiléia” (Idem, n° 108).
São
de salientar as palavras com que a Sagrada Escritura descreve a
entrega imediata destes apóstolos. Pedro e André deixaram
imediatamente as redes e seguiram-No. Do mesmo modo, Tiago e João
deixaram imediatamente a barca e o pai e seguiram-No. Deus
passa e chama. Se não se Lhe responde imediatamente, Ele pode
continuar o Seu caminho e nós podemos perdê-Lo de vista. A passagem de
Deus pode ser rápida; seria triste que ficássemos para trás, por
querermos segui-Lo levando conosco muitas coisas que não serão senão
peso e estorvo.
Se
Cristo Jesus nos chama a segui-Lo, não deixemos para depois, mas, com
generosidade e desapego, sigamos os passos do Senhor:
“Nada há que possa ser um
atrativo para a alma que só busca a Deus; e eu mesma me espanto ao
considerar esta indiferença a respeito mesmo daquilo que antes me
entusiasmava. Minha única felicidade, agora, é só viver com meu Jesus.
Nele encontro em grau infinito tudo o que minha alma pode ambicionar”
(Santa Teresa dos
Andes, Carta 157).
Será
que existe maior felicidade do que a de servir a Deus? Claro que não!
Imitemos então o exemplo dos Apóstolos e sigamo-Lo imediatamente, sem
dar ouvidos para as críticas de parentes e amigos:
“Quando a vida de família, as
comodidades do mundo se apresentarem a ti,, quando todas as pessoas
insistirem afirmando que tu vais enterrar tua vida e tão jovenzinha,
quando te disserem que espere um pouco mais, que examines se tens
verdadeira vocação conhecendo o mundo, etc., se existe em tua alma
amor, nada te deterá. Jesus te espera. Vem logo perder-se entre seus
braços divinos” (Idem,
Carta 130).
Feliz daquele que
segue imediatamente a Nosso Senhor; que O segue sem olhar para trás:
“A voz de Deus manda mais e eu devo seguir
Jesus ao fim do mundo se Ele o quiser. N’Ele encontro tudo. Só Ele
ocupa meu pensamento. E tudo o mais, fora d’Ele, é sombra, aflição e
vaidade. Por Ele deixarei tudo...”
(Idem, Diário 11).
Aquele que diz não a
Nosso Senhor, corre grande risco de se perder eternamente:
“Corre grande perigo de condenar-se quem não
segue o chamado de Deus só para satisfazer os pais”
(Santo Afonso Maria de Ligório, A
Prática do amor a Jesus Cristo, cap. XI).
Em Mt 4, 23 diz:
“Jesus percorria toda a Galiléia,
ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando
toda e qualquer doença ou enfermidade do povo”.
Nosso
Senhor não se acomodava, mas percorria toda a Galiléia, ensinando nas
sinagogas e curando os enfermos.
Sejamos também nós fervorosos missionários! Descruzemos os braços e
deixemos a “poltronice” de lado; com o coração cheio de zelo e amor
pelas almas, percorramos cidades, povoados e campos, dizendo a todos
que sem Cristo a vida não tem sentido:
“Nenhum crente, nenhuma
instituição da Igreja pode esquivar-se deste dever supremo: anunciar
Cristo a todos os povos”
(João Paulo II, Carta Encíclica “Redemptoris Missio”, 3),
e: “Nada mais frio do
que um cristão que não se preocupa com a salvação dos outros”
(São João Crisóstomo, Homilia 20, 4: PG 60, 162-164).
O
católico não foi deixado na terra para servir a Satanás e o mundo, nem
para viver de braços cruzados:
“Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos
faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o
nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos,
como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre
os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos;
a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer
seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a
esse ponto; não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas
obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos
comportássemos como verdadeiros cristãos”
(São João Crisóstomo, Hom. X in 1Tm.; Migne, PG LXII, 551).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 23 de janeiro de 2008
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