JESUS PERCORRIA TODA A GALILÉIA

(Mt 4, 12-23)

 

12 Ao ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galiléia 13 e, deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de Zabulon e Neftali, 14 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galiléia das nações! 16 O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma luz. 17 A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: ‘Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus’. 18 Estando ele a caminhar junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 19 Disse-lhes: ‘Segue-me e eu vos farei pescadores de homens’. 20 Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram. 21 Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. 22 Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram. 23 Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo”.

 

 

Em Mt 4, 12-16 diz: “Ao ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galiléia e, deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de Zabulon e Neftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galiléia das nações! O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma luz”.

Edições Theologica comenta: “São Mateus cita aqui a profecia de Isaías 8, 23-9, 1. A região, que é mencionada com diversas referências (Zabulon, Neftali, para os lados do mar, terra de Além-Jordão), foi invadida pelos assírios pelos anos 734-721 a. C., sobretudo no tempo de Teglatfalasar III. Parte da população hebraica da região foi deportada, ao mesmo tempo que foram trazidos grandes grupos de populações estrangeiras para colonizar o país. Por esta causa, a partir dessa data, na Bíblia é costume chamar-se-lhe ‘Galiléia dos gentios’. O Evangelista, inspirado por Deus, viu o cumprimento da profecia de Isaías nesta vinda de Jesus à Galiléia. Com efeito, esta terra devastada e maltratada em tempo de Isaías, será a primeira a receber a luz da vida e da pregação de Jesus Cristo. Portanto, o sentido messiânico da profecia é claro”.

“...deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum”. Nazara, forma muito rara, atestada por excelentes autoridades: B Z Orígenes k, cf Lc 4, 16: a imensa maioria dos documentos voltou à forma comum Nazaré (BJ).

Rábano escreve: “Depois que São Mateus falou dos quarenta dias de jejum, da tentação de Cristo e do ministério dos anjos, a continuação prossegue dizendo: ‘Tendo ouvido Jesus que São João havia sido preso”, e: “Não se deve ter dúvida de que isso foi permitido por Deus, já que, contra um homem bom, ninguém pode fazer nada sem que Deus o permita. Prossegue: ‘Retirou-se para a Galiléia’. Isto é, retirou-se da Judéia para não antecipar o tempo oportuno da sua paixão e para dar-nos exemplo de como devemos fugir do perigo” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 6), e também: “Não é desonroso, não se lançar ao perigo, mas sim o é, o não manter-se firme quando se é assolado por ele. Retirou-se da Judéia para acalmar a inveja dos judeus e para cumprir ao mesmo tempo a profecia, desejando convencer aos mestres de todo o mundo que habitavam na Galiléia. Também, é esta a causa que o induziu a afastar-se dos judeus e ir aos gentios; porque o Batista tendo sido preso pelos judeus, obrigaram o Salvador a partir para a Galiléia dos gentios” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,1), e ainda: “Como refere São Lucas, veio a Nazaré, onde havia sido amamentado e ali entrou na sinagoga, onde leu e disse muitas coisas, pelas quais o quiseram lançar de um monte e então desceu a Cafarnaum, de onde diz agora São Mateus: ‘E tendo abandonado a cidade de Nazaré, veio e habitou em Cafarnaum” (A Glosa), e: “Nazaré está na Galiléia e forma uma aldeia no sopé do monte Tabor. Cafarnaum é uma vila na Galiléia dos gentios, perto do lago Genezaré e, por isso, chama-se marítima” (São Jerônimo), e também: “Partiu aos termos de Zabulon e Neftali, onde teve lugar a primeira sujeição penosa dos hebreus, verificada pelos assírios, onde se constatou a primeira infração da lei. Ali ocorreu a primeira pregação do Evangelho, para que seu benéfico influxo nascesse como de um mesmo lugar, tanto para os gentios, como para os judeus” (A Glosa), e ainda: “Deixou Nazaré para convencer a muitos, pregando e fazendo milagres, em cujo ato deixou exemplo aos pregadores para que escolham o melhor tempo e o lugar mais oportuno quando quiserem que sua pregação seja de proveito a muitos de diferentes condições. Prossegue: ‘Para que se cumprisse o que havia dito o Profeta Isaias: Terra de Zabulon e terra de Neftali’. Assim encontra-se na profecia: no começo foi aliviada a terra de Zabulon e a terra de Neftali e agora é engrandecido o caminho do mar, às costas do Jordão, quando passa pelas costas da Galiléia dos gentios” (Remígio), e: “Diz-se que no primeiro tempo, foi aliviada do peso dos pecados porque Nosso Senhor pregou o Evangelho, primeiramente nas regiões das duas tribos; mas agora, sua fé escureceu, dado que muitos judeus permanecem no erro. Aqui, chama mar ao lago de Genezaré, no qual desemboca o Jordão, em cujas margens encontram-se Cafarnaum, Tiberíades, Betsaida e Corazin, região onde Cristo mais pregou. Ou, segundo os hebreus que crêem em Cristo, estas duas tribos de Zabulon e Neftali foram tomadas pelos assírios, ficando a Galiléia deserta. A que o profeta disse que tinha ficado exterminada, porque tolerava os pecados de seu povo. Mas depois todas as tribos que habitavam às costas do Jordão, na Samaria, foram reduzidas à escravidão e dizem: ‘Agora, assegura isto a Escritura, porque este povo foi o primeiro desta região a ser levado à escravidão’. Ela foi também a primeira que viu a luz da pregação do Evangelho, começada por Cristo. Segundo os nazarenos, quando veio Cristo, foi a primeira terra que ficou livre dos erros dos fariseus. Depois, pelo anúncio da Boa Nova do apóstolo São Paulo, foi aumentada, isto é, se multiplicou a pregação nos territórios ocupados pelos gentios” (São Jerônimo, in Isaiam, 9,1), e também: “Estes nominativos diferentes se reduzem em um mesmo verbo, assim: ‘Terra de Zabulon e terra de Neftali, que estão no caminho do mar, às costas do Jordão, a saber, o povo da Galiléia dos Gentios, que andavam entre as trevas, esta foi a primeira região que viu a luz do Evangelho”, etc.” (A Glosa), e ainda: “Adverte-se que há duas Galiléias, uma chamada dos judeus e outra chamada dos gentios. Assim está dividida a Galiléia desde o tempo de Salomão, que deu vinte cidades de Galiléia ao Hiran, rei de Tiro, cuja parte se chamou depois Galiléia dos gentios e as demais dos judeus. Também pode ler-se: ‘Ao outro lado do Jordão da Galiléia dos gentios’; assim direi: ‘Para que visse a luz o povo que andava nas trevas’, nunca pequena, como a dos outros profetas, senão grande, isto é, fala-se da luz d’Aquele que diz no Evangelho: ‘Eu sou a luz do mundo’ (Jo 8). Prossegue: ‘E nasceu a luz para todos aqueles que habitavam na região da sombra da morte’; eu considero que entre a morte e a sombra da morte, a única diferença é de que a morte é própria daqueles que desceram com suas obras ao inferno, e a sombra da morte é própria daqueles que pecam, mas que ainda não têm saído desta vida, porque se querem, podem fazer penitência” (São Jerônimo), e: “Também pode se dizer que os gentios estavam sentados na região da sombra da morte, porque adoravam aos ídolos e aos demônios; os judeus, que praticavam a lei, também estavam nas trevas, porque ainda não conheciam a justiça” (Pseudo–Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 6), e também: “São João Evangelista, antes que Jesus fosse para a Galiléia, falou sobre Pedro, André, Natanael e do milagre de Caná da Galiléia, cujas coisas calaram os demais evangelistas, somente referindo em suas narrações, que Jesus voltou da Galiléia. Em relação a este fato, entende-se que passaram alguns dias em que ocorreram aquelas coisas sobre os discípulos e que são incluídas por São João” (Santo Agostinho, de Consensu Evangelistarum, 2,17), e ainda: “Entretanto, deve se compreender claramente, por que São João disse que Cristo foi para a Galiléia antes que João fosse preso. Porque depois que havia convertido água em vinho, depois de haver descido a Cafarnaum e depois de subir a Jerusalém, está escrito no Evangelho de São João que regressou à Judéia, e batizava, quando São João Batista ainda não havia sido levado à prisão. Aqui se diz que, depois que João foi entregue, retirou-se para a Galiléia, isto é dito por São Marcos. Não se deve interpretar isto como uma contradição, porque João explicou primeiro a vinda do Senhor até a Galiléia, a qual foi verificada antes da prisão de João, porém, faz menção da segunda vinda, quando diz: ‘Que Jesus deixou a Judéia e voltou a Galiléia’ (Jo 4). Os demais evangelistas mencionam apenas esta segunda vinda para a Galiléia, a qual foi posterior à prisão do Batista” (Remígio), e: “Diz-se que São João pregou quase até o final da sua vida, sem escrever, mas tendo noticias dos outros três evangelhos, quis provar a verdade do que se havia dito. Observou que faltavam algumas coisas, especialmente sobre o acontecido nos primeiros dias da pregação do Salvador. É verdade que está incluído nos outros três Evangelhos o que foi feito durante o ano que o Batista esteve na prisão e no dia da sua morte; São Mateus coloca este acontecimento logo após a tentação de Nosso Senhor: ‘Tendo ouvido que João havia sido preso’, etc.; e São Marcos da mesma forma. São Lucas diz, antes de mencionar sobre as obras de Jesus Cristo, que Herodes colocou São João na prisão. Tendo implorado a São João Apóstolo, que referisse o que tinha feito o Salvador antes da prisão de São João, diz: ‘Isto ocorreu no inicio, quando Jesus começou a fazer milagres” (Eusébio de Cesárea, Historia Ecclesiastica, 3,24).

“O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma luz”.

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: “A humanidade caminhou nas trevas até que a luz brilhou na terra quando Jesus nasceu em Belém... Essa estrela brilhante da manhã envolveu com a sua luminosidade Maria, José, os pastores e os Magos. Depois, ocultou-se durante anos na pequena cidade de Nazaré, e o Senhor viveu a vida normal dos seus conterrâneos. Na realidade, continuava a iluminar a vida dos homens, pois com esse ocultamento ao longo dos anos de Nazaré nos mostrou que a vida normal pode e deve ser santificada. Agora, depois de ter deixado Nazaré e de ter sido batizado no Jordão, vai a Cafarnaum para iniciar o seu ministério público”, e: “Viu Mateus esta profecia feita realidade sob seus olhos. A luz que ilumina a Galiléia e de lá de difunde em todo o mundo é Cristo; Mateus o conheceu, seguiu, ouviu, e quer transmitir a jubilosa notícia à terra inteira” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Vivamos unidos a Cristo Jesus, luz do mundo, e não tropeçaremos, mesmo que tenhamos que passar por muitas dificuldades: “Ficai, luz de minha alma, porque já é tarde. Sombras densas que não vêm de vós, estão para cobrir-me... No meu desalento, na minha tristeza sinto a necessidade de algo que eu mesmo não consigo chamar pelo nome. É de vós que tenho necessidade!” (J. H. Newman, Maturidade Cristã).

Em Mt 4, 17 diz: “A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: ‘Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”.

Pseudo-Crisóstomo escreve: “Deve pregar a justiça de Jesus Cristo, aquele que possa mortificar seu corpo, aquele que despreza as coisas do século e aquele que não deseja a glória em vão. Por isso se diz: ‘Desde então começou a pregar’. Isto é, desde que tentado, venceu a fome no deserto, desprezou a avareza no monte e feriu a glória em vão no templo; começou a pregar, desde que São João foi preso. Porque se houvesse começado a pregar quando São João pregava, haveria tirado mérito à pregação deste, a qual teria parecido supérflua, comparada com a de Jesus Cristo. Assim ocorre com o sol e o luzeiro da manhã, que aparecendo juntos, o fulgor do sol escurece a beleza do luzeiro” (Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 6), e: “Por isso, não pregou até que São João fosse preso: porque temeu que o auditório fosse dividido. Não tendo o Batista feito nenhum milagre, todo o povo teria ido com o Salvador” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,1), e também: “Nisto manifesta também que ninguém deve desprezar a pregação de um inferior. De onde diz o Apóstolo: Se alguém fala estando sentado, cale o superior” (Rábano), e ainda: “Assim, se propôs (Cristo) com muita sabedoria, começar sua pregação nesta época, não para confundir a doutrina de São João, senão para confirmá-la ainda mais, para demonstrar que era um testemunho verdadeiro” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 6), e: “Com isto demonstra que Ele era Filho do mesmo Deus, de quem o Batista havia sido profeta, e por isso diz: ‘Fazei penitência”(São Jerônimo), e também: “Não realizou em seguida a pregação da justiça que todos conheciam, senão a penitência que todos necessitavam. Quem se atreverá a dizer: quero ser bom e não posso? A penitência é a repressão da vontade; e se os males não os aterram (para que façais penitência), pelo menos que os bens os deleitem. E prossegue. Aproxima-se, então, o Reino dos céus, isto é, a felicidade do Reino de Deus, como se dissesse: ‘Preparai através da penitência’, porque se aproxima o tempo de vosso galardão” ( Idem, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 6), e ainda: “Note-se que não diz: aproxima-se o reino dos cananeus, nem dos jebuseus, senão o Reino dos céus. A lei oferecia os bens temporais, mas o Senhor oferecia o Reino dos céus” (Remígio), e: “Veja que nesta pregação nada diz de si mesmo; o qual realmente, era muito conveniente, porque ainda não havia sido formada uma opinião sobre Ele. Começando, então, não disse nada grave como tinha feito o Batista: que o machado estava preparado para cortar a árvore e outras coisas, senão que no começo falou de coisas agradáveis evangelizando o Reino dos céus” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,1-2), e também: “Também pode se dizer em sentido místico, que uma vez preso o Batista, Cristo começou a pregar, porque terminada a lei, em seguida nasceu o Evangelho” (São Jerônimo).

Edições Theologica comenta: “O versículo indica a transcendência do momento inicial da pregação pública de Jesus, que começa pela proclamação da iminência do Reino de Deus. Jesus entronca na proclamação de João Batista: pode apreciar-se uma coincidência até literal entre a segunda frase deste versículo e Mt 3, 2. Esta coincidência sublinha a função que teve São João Batista como profeta e precursor de Jesus. Tanto o Batista como Nosso Senhor exigem o arrependimento, a penitência, como condição prévia para o acolhimento do Reino de Deus que começa.

O reinado de Deus sobre os homens é tema central da Revelação de Jesus Cristo, como o tinha sido no Antigo Testamento. Mas então, o Reino de Deus tinha tido uma matização que se pode chamar teocrática: Deus reinava sobre Israel tanto no espiritual como no temporal, e, por meio dele, submeteria ao Seu domínio as outras nações. Agora Jesus irá explicando de modo progressivo a renovada natureza deste Reino de Deus, que chegou à sua plenitude, situando-o no seu plano espiritual de amor e santidade, e purificando-o dos desvios nacionalistas dos judeus”.

A pregação de Nosso Senhor é orientada para o conversão e salvação; não se encontra nela nada de política ou outras coisas terrenas.

Em Mt 4, 18-22 diz: “Estando ele a caminhar junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: ‘Segue-me e eu vos farei pescadores de homens’. Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram. Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram”.

Pseudo-Crisóstomo escreve: “Jesus Cristo chama os apóstolos antes de dizer ou fazer nada, para que nada lhes fosse oculto, nem das palavras, nem das obras de Jesus Cristo; para que depois podessem dizer com toda segurança: não podemos deixar de dizer o que temos visto e ouvido. Por isso se diz: Caminhando Jesus ao longo do mar da Galiléia” (Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e: “O mar da Galiléia é o mesmo lago de Genezaré; o mar de Tiberíades é o lago das Salinas” (Rábano), e também: “Com toda oportunidade, o que há de pescar os pescadores, vai pelos lugares onde tem pesca. E por isso prossegue: Viu dois irmãos, Simão, que depois se chamou Pedro e André, seu irmão” (A Glosa), e ainda: “Viu, não só corporalmente, senão de uma maneira espiritual, olhando seus corações” (Remígio), e: “Os chamou quando estavam em suas ocupações, manifestando que convêm colocar a obrigação de seguir a Jesus Cristo antes de qualquer ocupação. De onde prossegue: lançando as redes ao mar, o que correspondia ao oficio daqueles, prossegue: ‘eram pescadores” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,2), e também: “Não escolheu reis, ou senadores, ou filósofos, ou oradores, mas escolheu homens que eram simples, pobres e ignorantes pescadores” (Santo Agostinho, Sermões, 197, 2), e ainda: “Se houvesse sido escolhido um douto, acaso houvesse dito que havia sido escolhido por si mesmo e que o tinha merecido por sua sabedoria. Nosso Senhor Jesus Cristo, querendo humilhar  os soberbos, não procurou um pescador em um orador, senão que, de um pescador tirou um que havia de mandar. São Cipriano foi um grande orador, mas antes esteve Pedro que era pescador” (Santo Agostinho, in Ioannem, 7, 17), e: “Os artesãos profetizavam com seu trabalho a graça da dignidade futura; porque assim como jogam a rede na água e não sabem que tipo de peixe haverão de pegar, da mesma forma, o sábio quando joga as redes da sua palavra sobre o povo, não sabe os que haverão de se aproximar a Deus. Porém, aceitarão sua pregação, os chamados por Deus” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e também: “Deus fala destes pescadores, através de Jeremias, dizendo: ‘Lhes enviarei meus pescadores os quais os pescarão’. Por isso acrescenta: ‘Vinde após mim” (Remígio), e ainda: “Não tanto com os pés, como com o afeto e a imitação. ‘E vos farei pescadores de homens” (A Glosa), e: “Isto é, mestres. E com a rede da palavra de Deus, conquistarás os homens do mundo tempestuoso e perigoso, onde os homens não andam, porque são feridos. Porque o diabo, quando os empurra ao mal, onde os homens se devoram uns aos outros como os peixes mais fortes devoram aos mais jovens, para que, trasladados, vivam na terra como membros do corpo de Cristo” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e também: “Pedro e André não tinham visto Jesus Cristo fazer milagres. Nada tinham ouvido do galardão eterno e, entretanto, ao ouvir a voz do Salvador, esqueceram de tudo que acreditavam possuir. De onde segue: Na mesma hora abandonaram suas redes e o seguiram” (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 5,1), e ainda: “Os discípulos nomeados não seguiram a Cristo buscando a honra de sábios, senão o preço do seu trabalho. Conheciam quão preciosa é a alma humana, quão grata é sua santidade na presença de Deus e quão grande é a recompensa oferecida” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e: “Acreditaram em uma promessa tão grande, e compreenderam através dos sermões que ouviram que eles poderiam convocar outros homens” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom. 14,2), e também: “Desejando estas coisas, seguiram a Cristo, deixando tudo ao redor; com isso, nos ensinaram que ninguém pode aferrar-se às coisas da terra e ir perfeitamente ao céu” (Idem, Homiliae in Matthaeum, Hom 7), e ainda: “Nestas coisas, mostra-se um modelo, para aqueles que tudo deixam por seguir a Jesus Cristo e se oferece também uma lição àqueles que postergam a Deus, inclusive suas afeições carnais. De onde se diz: E partindo dali, viu outros dois irmãos. Observe-se que os chama de dois em dois, como em outro lugar se lê, que os enviou a pregar também de dois em dois” (A Glosa), e: “Aqui, se insinua que aquele que não tem caridade com outro, não deve tomar a seu cargo a pregação: são dois os princípios da caridade e esta não pode ocorrer com menos de duas pessoas” (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 17,1), e também: “Colocou com muita propriedade, os fundamentos da Igreja sobre a caridade fraterna; para que subindo como a seiva pelo tronco da árvore chegue até os ramos. E o fez sobre a caridade natural, para que a caridade fosse mais forte, não só pela graça, senão também pela natureza. Por isso diz: irmãos. Assim fez Deus no Antigo Testamento, colocando em Moisés e Aarão o fundamento do seu edifício. Mas como a graça do Novo Testamento é muito maior que a do Antigo, edificou o primeiro povoado sobre uma só fraternidade e o segundo sobre duas. Disse São Tiago, o de Zebedeu, e a seu irmão João que estavam com seu pai Zebedeu no barco, remendando suas redes, o qual é indício de uma extrema pobreza. Remendavam as velhas porque não tinham como comprar umas novas. E explica ao mesmo tempo, a grande caridade deles, porque em tanta pobreza favoreciam seu pai, tanto que o levavam consigo no barco, não porque ele pudesse ajudar-lhes com seu trabalho, senão para que se consolasse com sua presença” (Pdeudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e ainda: “Não é pequena esta demonstração de piedade: suportar com gosto a pobreza, alimentar-se com seu justo trabalho, viver juntos pela virtude do amor, ter consigo e cuidar de seu pai” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,2), e: “Não nos atrevemos a estimar quanto seja o mérito dos primeiros que se prestaram velozes a pregar, que sendo tão pobres que, todavia consertavam suas redes, as lançavam ao mar; somente Jesus Cristo era quem podia apreciar seu mérito. Acaso se diz que aqueles lançavam suas redes por Pedro que pregou o Evangelho, mas não o escreveu” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e também: “Chamando-os, nada lhes ofereceu, como aos primeiros... Prossegue: “Eles, tendo deixado seu pai e suas redes, o seguiram” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom 14,2), e ainda: “Três coisas devem deixar aqueles que vêm a Jesus Cristo: as lerdezas carnais que se figuram nas redes; o gosto pelas coisas do mundo, figurado no barco e a família, figurada no pai. Deixaram, assim, o barco para serem constituídos em governadores da barca da Igreja. Deixaram as redes, para não trazer mais peixes à cidade da terra, senão para que conduzissem aos homens às regiões eternas do céu. Deixaram um pai, para que lhes fosse constituído em pais espirituais de todos”  (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom 7), e: “É-nos ensinado, nestes que deixam seu oficio, sua pátria  e sua casa para seguir a Jesus Cristo, a não deter-nos pelas preocupações da vida secular, nem pelo costume de viver na casa paterna” (São Hilário, in Matthaeum, 3), e também: “Designa-se misticamente este mundo pelo mar, em atenção à amargura da suas águas e à constante agitação. Galiléia significa volúvel ou roda, e representa a volubilidade do mundo. Andou Jesus junto ao mar, quando veio a viver entre nós, através da encarnação. Por estes dois irmãos, designam-se os dois povoados, que foram criados por Deus Pai, aos que viu quando se voltou a eles com misericórdia. Por Pedro, que quer dizer conhecedor, e se chama Simão, isto é, obediente, designa-se o povo judeu, porque conheceu a Deus através da lei e o obedeceu através de seus princípios. André quer dizer viril ou decoroso, e entende-se por ele ao povo gentio, que tendo conhecido a Deus, persevera firme na fé. Chamou a estes povos quando enviou seus pregadores, dizendo: ‘Vinde após mim’, isto é, abandonai ao enganador e segui ao Criador. Foram os Apóstolos constituídos em pescadores de homens destes povos, isto é, em pregadores, havendo deixado as barcas, isto é, os desejos carnais e as redes, isto é, as concupiscências do mundo, e seguiram a Jesus Cristo. Por São Tiago  entende-se também ao povo judeu, que venceu ao demônio pelo conhecimento de Deus. Por São João entende-se ao povo gentio, que se salvou unicamente pela graça. Zebedeu, a quem deixaram, entende-se como fugitivo ou caído, significa o mundo que passa e o demônio que caiu do céu. Por Pedro e André que jogaram as redes ao mar, designam-se aqueles que são chamados por Deus na primeira idade, jogando da barca de seus corpos, as redes da concupiscência carnal, no mar deste mundo. Por São Tiago e João, remendando as redes, se designam aqueles que vêm a Cristo depois dos pecados e em presença das adversidades, recuperando o que perderam” (Remígio), e ainda: “As duas barcas são figuras de duas Igrejas: aquela que foi chamada pela circuncisão e aquela que foi chamada pelo prepúcio. Qualquer fiel se converte em Simão, obedecendo a Deus; em Pedro, conhecendo seu pecado; em André, sofrendo com valor os trabalhos; e em São Tiago , rejeitando os vícios” (Rábano), e: “Parece que São João atribui tudo à graça de Deus. Portanto, só fala da vocação de quatro Apóstolos, através dos quais se designa a pregação nas quatro partes do mundo” (A Glosa), e também: “Também figura-se nisto o número dos quatro futuros evangelistas” (Santo Hilário, in Matthaeum, 3), e ainda: “Por isso, também se designam as quatro virtudes principais: a prudência se refere a São Pedro, pelo conhecimento de Deus; a justiça, a Santo André, pelo vigor das suas obras; a fortaleza, a São Tiago, pelos seus triunfos sobre o demônio; e a moderação a São João, pelo efeito da divina graça” (Remígio).

Edições Theologica comenta: “Os quatro discípulos conheciam já o Senhor (Jo 1, 35-42). A breve convivência com Jesus deve ter produzido uma atração imperiosa nas suas almas. Cristo preparava assim a vocação destes homens. Agora trata-se já daquela vocação eficaz, que os moveu a abandonar todas as suas coisas para O seguir e ser Seus discípulos. Por cima dos defeitos humanos – que os Evangelhos não dissimulam – ressalta, sem dúvida e de modo exemplar, a generosidade e prontidão com que os Apóstolos corresponderam ao chamamento divino.

O leitor atento poderá descobrir a admirar a terna simplicidade com que os evangelistas relataram, para sempre, as circunstâncias da vocação destes homens no meio dos seus afazeres cotidianos”.

São Josemaría Escrivá escreve: “Deus tira-nos das trevas da nossa ignorância, do nosso caminho incerto entre os acontecimentos da história e chama-nos com voz forte, como um dia o fez com Pedro e André” (Cristo que passa, n° 45), e: “Diálogo divino e humano, que transformou a vida de João e de André, de Pedro, de Tiago e de tantos outros; que preparou os seus corações para escutarem a palavra imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto ao mar da Galiléia” (Idem, n° 108).

São de salientar as palavras com que a Sagrada Escritura descreve a entrega imediata destes apóstolos. Pedro e André deixaram imediatamente as redes e seguiram-No. Do mesmo modo, Tiago e João deixaram imediatamente a barca e o pai e seguiram-No. Deus passa e chama. Se não se Lhe responde imediatamente, Ele pode continuar o Seu caminho e nós podemos perdê-Lo de vista. A passagem de Deus pode ser rápida; seria triste que ficássemos para trás, por querermos segui-Lo levando conosco muitas coisas que não serão senão peso e estorvo.

Se Cristo Jesus nos chama a segui-Lo, não deixemos para depois, mas, com generosidade e desapego, sigamos os passos do Senhor: “Nada há que possa ser um atrativo para a alma que só busca a Deus; e eu mesma me espanto ao considerar esta indiferença a respeito mesmo daquilo que antes me entusiasmava. Minha única felicidade, agora, é só viver com meu Jesus. Nele encontro em grau infinito tudo o que minha alma pode ambicionar” (Santa Teresa dos Andes, Carta 157).

Será que existe maior felicidade do que a de servir a Deus? Claro que não! Imitemos então o exemplo dos Apóstolos e sigamo-Lo imediatamente, sem dar ouvidos para as críticas de parentes e amigos: “Quando a vida de família, as comodidades do mundo se apresentarem a ti,, quando todas as pessoas insistirem afirmando que tu vais enterrar tua vida e tão jovenzinha, quando te disserem que espere um pouco mais, que examines se tens verdadeira vocação conhecendo o mundo, etc., se existe em tua alma amor, nada te deterá. Jesus te espera. Vem logo perder-se entre seus braços divinos” (Idem, Carta 130).

Feliz daquele que segue imediatamente a Nosso Senhor; que O segue sem olhar para trás: “A voz de Deus manda mais e eu devo seguir Jesus ao fim do mundo se Ele o quiser. N’Ele encontro tudo. Só Ele ocupa meu pensamento. E tudo o mais, fora d’Ele, é sombra, aflição e vaidade. Por Ele deixarei tudo...” (Idem, Diário 11).

Aquele que diz não a Nosso Senhor, corre grande risco de se perder eternamente: “Corre grande perigo de condenar-se quem não segue o chamado de Deus só para satisfazer os pais” (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, cap. XI).

Em Mt 4, 23 diz: “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo”.

Nosso Senhor não se acomodava, mas percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas e curando os enfermos.

Sejamos também nós fervorosos missionários! Descruzemos os braços e deixemos a “poltronice” de lado; com o coração cheio de zelo e amor pelas almas, percorramos cidades, povoados e campos, dizendo a todos que sem Cristo a vida não tem sentido: “Nenhum crente, nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos” (João Paulo II, Carta Encíclica “Redemptoris Missio”, 3), e: “Nada mais frio do que um cristão que não se preocupa com a salvação dos outros” (São João Crisóstomo, Homilia 20, 4: PG 60, 162-164).

O católico não foi deixado na terra para servir a Satanás e o mundo, nem para viver de braços cruzados: “Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto; não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos” (São João Crisóstomo, Hom. X in 1Tm.; Migne, PG LXII, 551).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 23 de janeiro de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Jesus percorria toda a Galiléia”

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