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          LUXÚRIA: TERCEIRO 
          VÍCIO CAPITAL  
          
          
          (Mc 
          7, 22) 
          
            
          
          
          “... do coração... procedem... a luxúria”. 
          
            
          
            
  
            
          
          FIRME COMO UMA 
          COLUNA 
          
            
          
          Vivia em Siracusa, no terceiro século do cristianismo, uma rica e 
          graciosa jovem chamada Luzia. Os dons da natureza de que estava 
          adornada, eram nada em comparação com os belos dotes de sua alma. Pura 
          como um anjo, humilde, modesta, mansa, caridosa, cativava a todos que 
          dela se aproximavam. 
          
          O Cristianismo atravessava, naquela época, dias difíceis, e 
          professar a fé em Jesus Cristo era considerado um crime digno de 
          morte. Reconhecida como cristã, Luzia foi conduzida à presença do 
          governador Pascásio, tristemente célebre por sua ferocidade contra os 
          cristãos. O tirano, após várias perguntas, vendo que a donzela lhe 
          respondia sempre com imperturbável coragem, disse-lhe com ar de mofa: 
          
          - Quando fores espancada, então te calarás. 
          
          Luzia replicou: 
          
          - Aos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo não faltarão palavras, 
          quando estiverem diante dos juízes, porque Ele disse que, em tais 
          ocasiões, o Espírito Santo, que receberam, falará por eles. 
          
          - Então, o Espírito Santo está em ti? 
          
          - Sim; todos os que levam vida casta e  pura são templos do 
          Espírito Santo. 
          
          - Pois bem; eu te farei cometer um pecado feio para que o Espírito 
          Santo saia de ti. 
          
          - Isto não está em teu poder. Se eu não consinto, a tua violência 
          brutal só me pode proporcionar uma dupla coroa. 
          
          Pascásio, cheio de ira, ordenou aos algozes que a arrastassem a um 
          lugar de pecado. Mas naquele instante manifestou-se claramente a 
          virtude do Espírito Santo que estava na casta donzela. Os carrascos 
          não conseguiram removê-la, pois uma força invisível tornou-a imóvel 
          como uma coluna. 
          
          O tirano teve de a mandar matar ali mesmo. 
          
            
          
            
          
          1.° Natureza.  
          Assim como quis Deus que andasse anexo um prazer sensível ao alimento, 
          para ajudar o homem a conservar a vida, assim ligou um prazer especial 
          aos atos pelos quais se propaga a espécie humana. 
          
          Este prazer é, 
          conseguintemente, permitido às pessoas casadas, contanto que usem dele 
          para o nobilíssimo fim para que foi instituído o matrimônio, a 
          transmissão da vida; fora do matrimônio, é rigorosamente interdito 
          esse prazer. A despeito dessa proibição, há infelizmente em nós, a 
          partir, sobretudo dos anos da puberdade ou da adolescência, uma 
          tendência mais ou menos violenta a experimentar esse prazer, até mesmo 
          fora do matrimônio legítimo. É esta tendência desordenada que se chama 
          luxúria, e é condenada em dois preceitos do Decálogo: 6.° Guardar 
          castidade nas palavras e nas obras; 9.° Guardar castidade nos 
          pensamentos e nos desejos. 
          
          Não são, pois, 
          somente proibidos os atos externos, senão também os atos internos 
          consentidos: imaginações, pensamentos e desejos. E com toda a razão; 
          porque, se alguém se demora, de propósito deliberado, em imagens, em 
          pensamentos desonestos, ou em maus desejos, logo os sentidos se 
          perturbam, produzindo-se movimentos orgânicos, que muitas vezes serão 
          prelúdio de atos contrários à pureza. Quem quiser, pois, evitar esses 
          atos, tem de combater pensamentos e imaginações perigosas. 
          
          A luxúria é 
          um desejo desordenado ou um gozo desregrado do prazer venéreo. 
          
          Os pecados contra a 
          pureza ou pecados de luxúria, podem ser de dois tipos: 
          
          a) Luxúria 
          consumada (se se chega à efusão seminal): 
          
          
                                                                                                                 
           
          
          Segundo a 
          natureza (se dela pode provir novo ser). 
          
          Contra a natureza 
          (por si mesma inapta para a geração). 
          
          
                                                                                                                 
           
          
          b)  Luxúria não 
          consumada (não se chega à efusão seminal): 
          
            
          
          Interna 
          (pensamentos, desejos, prazer em reviver o passado). 
          
          Externa 
          (olhares, toques, conversas, leituras, beijos; ato impudico em geral). 
          
            
          
          Os pecados de 
          luxúria segundo a natureza (união sexual fora do matrimônio) são: 
          
            
          
          Fornicação: entre 
          pessoas não casadas. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e 
          da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, 
          bem como para a geração e a educação dos filhos. Além disso, é um 
          escândalo grave quando há corrupção de jovens. 
          
          Adultério: sendo 
          casado pelo menos um deles. O adultério é uma injustiça. Quem o 
          comete, falta com seus compromissos, fere o sinal da Aliança que é o 
          vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e prejudica a 
          instituição do casamento, violando o contrato que o fundamenta. 
          Compromete o bem da geração humana e dos filhos, que têm necessidade 
          da união estável dos pais. 
          
          Violação: mediante 
          violência. 
          
          Incesto: com 
          pessoas de família ou consanguíneos. O incesto corrompe as relações 
          familiares e indica como que uma regressão à animalidade. Podemos 
          ligar ao incesto os abusos sexuais perpetrados por adultos contra 
          crianças ou adolescentes confiados à sua guarda.       
           
          
          Sacrilégio: com 
          pessoa consagrada a Deus.   
          
          
                                       
          
          Contra a natureza 
          são: 
          
          
                                                                                                                 
           
          
          Masturbação: ato 
          solitário de efusão seminal. 
          
          Onanismo: 
          união sexual voluntariamente interrompida para vir a acabar em polução. 
          
          Sodomia:   
          relação carnal entre pessoas do mesmo sexo. 
          
          Bestialidade: 
          luxúria praticada com animais. 
          
            
          
            
          
          2.° Gravidade 
          destas faltas. A) Toda a vez que se quer ou procura 
          diretamente o prazer mau, o prazer voluptuoso, há pecado mortal. É 
          que, de fato, é gravíssima desordem pôr em risco a conservação e 
          propagação da raça humana. Ora, uma vez que se assentasse como 
          princípio, que é lícito procurar o prazer da carne em pensamentos, 
          palavras ou ações fora do uso legítimo do matrimônio, seria impossível 
          pôr freio ao furor desta paixão, cujas exigências aumentam com as 
          satisfações que se lhe concedem, e dentro em breve seria frustrado o 
          fim do Criador. É isto, afinal, o que mostra a experiência: quantos 
          jovens não há que se tornaram incapazes de transmitir a vida, porque 
          abusaram do seu corpo! Assim, pois, no prazer mau, diretamente 
          querido, não há ligeireza de matéria. 
          
          B) Há casos, 
          porém, em que esse prazer, sem ser diretamente procurado, se produz em 
          consequência de certas ações, aliás, boas ou ao menos indiferentes. Se 
          não se consente nesse prazer, e, por outro lado, há razão suficiente 
          para praticar a ação que o ocasiona, não há culpa, e, por conseguinte, 
          não há que recear. Se, porém, os atos que determinam essas sensações, 
          não são nem necessários nem seriamente úteis, tais como as leituras 
          perigosas, as representações teatrais, as conversas levianas, as 
          danças lascivas, é evidente que entregar-se a essas coisas é pecado de 
          imprudência mais ou menos grave, segundo a gravidade da desordem assim 
          produzida e do perigo que há de consentimento. 
          
            
          
          C) Sob o 
          aspecto da perfeição, não há, depois do orgulho, obstáculo maior ao 
          progresso espiritual que o vício impuro. a) Solitárias ou 
          cometidas com outras pessoas, não tardam essas faltas em produzir 
          hábitos tirânicos, que paralisam todo o ardor para a perfeição e 
          inclinam a vontade para as alegrias grosseiras. Gosto da oração, 
          desejo de qualquer virtude austera, aspirações nobres e generosas; 
          tudo isso desaparece. b) A alma é invadida pelo egoísmo: o 
          amor, que se tinha para com os pais ou amigos, estiola-se e desaparece 
          quase completamente; não resta mais que o desejo de gozar, a todo o 
          preço dos prazeres maus: é uma verdadeira obsessão. c) 
          Rompe-se, então, o equilíbrio das faculdades: é o corpo, é a volúpia 
          que manda; a vontade torna-se escrava desta ignominiosa paixão, e 
          dentro em breve revolta-se contra Deus, que proíbe e castiga esses 
          prazeres maus. 
          
            
          
          d) 
          Os tristes efeitos desta abdicação da vontade bem depressa se fazem 
          sentir: a inteligência embota-se e enfraquece, porque a vida desceu da 
          cabeça para os sentidos: desapareceu o gosto dos estudos sérios; a 
          imaginação já não pode representar senão baixezas; o coração murcha 
          pouco a pouco, seca, endurece, não tem outros encantos senão os 
          prazeres grosseiros, e) Muitas vezes até o próprio corpo é 
          profundamente atingido: o sistema nervoso, excitado por estes abusos, 
          irrita-se, enfraquece e “torna-se impróprio 
          para a sua missão de regulação e defesa” 
          (Laumonier, 
          op. Cit., p. 111); os diversos órgãos 
          já não funcionam senão imperfeitamente; a nutrição faz-se mal, as 
          forças enfraquecem e não anda longe a tuberculose. 
          
            
          
          É evidente que uma 
          alma assim desequilibrada, a animar um corpo débil, não só não pode 
          pensar mais em perfeição, senão que de dia para dia se afasta dela 
          para mais longe. Muito feliz será ela; se puder entrar em si a tempo 
          de assegurar ao menos a salvação. 
          
          Importa, pois, 
          indicar alguns remédios para este vicio grosseiro. 
          
            
          
          3.° Remédios. 
          Para resistir paixão tão perigosa, requerem-se: convicções profundas, 
          a fuga das ocasiões, a mortificação e a oração. 
          
          A) 
          Convicções profundas, tanto sobre a necessidade de combater este 
          vício como sobre a possibilidade de o vencer. 
          
          a) 
          O que dissemos da gravidade do pecado da luxúria mostra bem como é 
          necessário evitá-lo, para não nos expormos às penas eternas. A estes 
          motivos se podem acrescentar mais dois, tirados de São Paulo: l) 
          Somos templos vivos da Santíssima Trindade, templos santificados pela 
          presença do Deus de toda a santidade e por uma participação da vida 
          divina. Ora, nada contamina mais este templo que o vício impuro que 
          profana a um tempo o corpo e a alma do homem batizado. 2) Somos 
          membros de Jesus Cristo, em quem somos incorporados pelo batismo; e, 
          por conseguinte, devemos respeitar o nosso corpo como corpo do próprio 
          Cristo. E havíamos de o profanar com atos contrários à pureza?! Não 
          seria uma espécie de sacrilégio abominável procurar esse prazer 
          grosseiro que nos abate ao nível dos irracionais?! 
          
          b) Há muitos 
          que dizem que é impossível praticar a continência. Assim pensava Santo 
          Agostinho antes da conversão. Convertido, porém, a Deus e sustentado 
          pelos exemplos dos Santos e pela graça dos Sacramentos, compreendeu 
          que nada há impossível, quando se sabe rezar e lutar. E é bem verdade: 
          de nós mesmos, somos tão fracos, e o prazer mau é por vezes tão 
          atraente, que acabaríamos por sucumbir; mas, desde que nos apoiamos na 
          graça divina e fazemos esforços enérgicos, saímos vitoriosos das mais 
          violentas tentações. E não se diga que a continência nos jovens é um 
          obstáculo à saúde: os médicos honestos respondem com o Congresso 
          internacional de Bruxelas: “É necessário, 
          sobretudo ensinar à juventude masculina que a castidade e a 
          continência não somente não são nocivas, mas ainda que estas virtudes 
          são recomendáveis sob o aspecto puramente médico e higiênico”. 
          E, com efeito, não se conhece doença alguma que provenha da 
          continência, ao passo que são inumeráveis as que têm origem na 
          luxúria. 
          
            
          
          B) A fuga das 
          ocasiões. É um axioma espiritual que a castidade se conserva, 
          sobretudo pela fuga das ocasiões perigosas: quem está convencido da 
          própria fraqueza, não se expõe inutilmente ao perigo. Quando estas 
          ocasiões não são necessárias, é dever evitá-las com cuidado, sob pena 
          de nelas sucumbir: quem se expõe ao perigo, nele perece. Tratando-se, 
          pois, de leituras, visitas, encontros, representações perigosas, a que 
          nos podemos furtar sem inconveniente notável, não há que vacilar: em 
          vez de as irmos buscar, é fugir delas, como de serpente perigosa. Se 
          não se podem evitar essas ocasiões, então é fortificar a vontade com 
          disposições interiores que tornem o perigo menos próximo. 
          
          É por isso que São 
          Francisco de Sales declara que, se não é possível evitar as danças, é 
          necessário ao menos que sejam acompanhadas de modéstia, dignidade e 
          reta intenção; e, para que estas perigosas recreações não despertem 
          maus afetos, é bom pensar que, enquanto vai correndo o baile, estão 
          muitas almas ardendo no inferno pelos pecados cometidos na dança ou 
          por causa da dança. Quanto mais verdadeiro é isto hoje em dia, que 
          essas danças exóticas e lúbricas invadiram tantos salões! 
          
          Sobre a fuga das 
          ocasiões, o Pe. João Batista Lehmann escreve: 
          “Para fugirmos da ocasião perigosa, devemos 
          antes de tudo rejeitar a desculpa da ocasião não ser próxima, mas 
          remota. O que se diz ocasião remota para uns pode ser ocasião próxima 
          para outros. Além disto convém observar um ponto importantíssimo: que 
          as ocasiões de pecar são muito mais numerosas para pessoas tementes a 
          Deus, que para os libertinos. Estes já são calejados de malícia, e não 
          se impressionam mais com certas conversas, leituras, divertimentos e 
          espetáculos, que perturbariam as almas simples e puras. Sejamos 
          rigorosamente contra nós próprios, abstendo-nos de tudo que é mundano, 
          se quisermos agradar a Nosso Senhor e conservar ilibada a virtude”, 
          e: “Ataca o inimigo enquanto é 
          pequeno; arranca a erva ruim, logo que aparece”
          (São 
          Jerônimo). 
          
          Santo Afonso Maria 
          de Ligório escreve: “Em 
          matéria de prazeres sensuais, a ocasião é como uma venda posta diante 
          dos olhos e que não permite ver nem propósitos, nem instruções, nem 
          verdades eternas; numa palavra, cega o homem e o faz esquecer-se de 
          tudo. Tal foi a perdição de nossos primeiros pais: não fugiram da 
          ocasião. Deus lhes havia dito que não colhessem o fruto proibido. 
          ‘Ordenou Deus — disse Eva à serpente — que não o comêssemos nem 
          tocássemos’ (Gn 3,3). Mas o imprudente ‘o viu, o tomou e comeu’. 
          Começou a admirar a maçã, colheu-a depois com a mão, até que por fim 
          comeu dela. Quem voluntariamente se expõe ao perigo, nele perecerá (Ecl 
          3,27). Adverte São Pedro que o demônio anda ao redor de nós, 
          procurando a quem devorar. Para tornar a entrar numa alma donde foi 
          expulso, diz São Cipriano, somente aguarda a ocasião oportuna. Quando 
          a alma se deixa seduzir pela ocasião do pecado, o inimigo se apoderará 
          novamente dela e a devorará irremediavelmente. O abade Guerico diz que 
          Lázaro ressuscitou com as mãos e pés atados, e por isso ficou sujeito 
          à morte. Infeliz daquele que ressuscitar e ficar preso nos laços das 
          ocasiões do pecado! Apesar de sua ressurreição, tornará a morrer. Quem 
          quiser salvar-se, precisa renunciar, não somente ao pecado, mas também 
          às ocasiões de pecado, isto é, deve afastar-se deste companheiro, 
          daquela casa, de certas relações de amizade… Poderá alguém objetar 
          que, ao mudar de vida, abandonou inteiramente o fim ilícito em suas 
          relações com determinadas pessoas e que, portanto, já não há receio de 
          tentações. A propósito, recordarei o que se conta de certa espécie de 
          ursos da Mauritânia, que vão à caça de macacos. Estes animais, ao ver 
          o inimigo, trepam para o alto das árvores. O urso estende-se junto ao 
          tronco, fingindo-se morto, e quando os macacos, confiados, descem ao 
          solo, levanta-se, apanha-os e os devora. Tal é a astúcia do demônio: 
          persuade que as tentações estão mortas e quando os homens condescendem 
          com as ocasiões perigosas, apresenta-lhes de súbito a tentação que os 
          faz sucumbir. Quantas almas infelizes, que praticavam a oração, que 
          frequentavam a comunhão e que se podiam chamar santas, deixaram-se 
          prender nos tentáculos do inferno, porque não evitaram as más 
          ocasiões. Lê-se na História Eclesiástica que uma senhora virtuosa, no 
          tempo da perseguição aos cristãos, dedicava-se à piedosa obra de 
          recolher e enterrar os corpos dos mártires. Entre eles encontrou um 
          que ainda respirava. Levou-o para casa, tratou-o e chegou a curá-lo. 
          Aconteceu, porém, que pela ocasião próxima, essas duas pessoas, que se 
          podiam chamar santas, perderam primeiramente a graça de Deus e depois 
          até a fé cristã” 
          (Preparação para a Morte, Consideração XXXI, Ponto III). 
          
            
          
            
          
          C) Há, porém, 
          ocasiões que se não podem evitar: são as que encontramos cada dia em 
          nós e fora de nós, e que não é possível vencer senão pela 
          mortificação.  
          
          a) Com os 
          olhos é necessário ter resguardo muito particular, porque os 
          olhares imprudentes inflamam os desejos, e estes arrastam a vontade. 
          Eis o motivo por que Nosso Senhor Jesus Cristo declara que todo aquele 
          que põe os olhos numa mulher com concupiscência já cometeu adultério 
          em seu coração; e acrescenta que, se o nosso olho direito é ocasião de 
          escândalo, é arrancá-lo, isto é, 
          afastar energicamente o olhar do objeto que nos escandaliza. Esta 
          modéstia dos olhos é tanto mais necessária hoje em dia, quanto é mais 
          certo o perigo de encontrar quase por toda a parte pessoas e objetos 
          capazes de excitar tentações.          
          
          b) 
          O sentido do tato é ainda mais perigoso porque facilmente 
          provoca impressões sensuais que tendem a prazeres maus; é necessário, 
          pois, abster-se desses toques ou carícias que não podem deixar de 
          excitar as paixões. 
          
          c) O coração 
          deve ser também mortificado pela luta contra as amizades sensíveis e 
          perigosas. Quanto às pessoas que se preparam para o matrimônio, é 
          claro que virá um momento em que lhes é permitido ligarem-se por um 
          amor legítimo, mas que tem de permanecer casto e sobrenatural; devem, 
          pois, evitar quaisquer sinais de afeição contrários às leis da 
          decência, refletindo que a sua união, para ser abençoada por Deus, há 
          de ser pura. Aquelas, porém, que são ainda muito novas para pensarem 
          no matrimônio, devem, precaver-se contra essas afeições sensíveis e 
          sensuais, que, amolecendo o coração, o preparam a perigosas 
          capitulações. Não se brinca impunemente com o fogo. E, depois, se se 
          exige da pessoa, que se quer esposar, um coração puro, não é de 
          justiça que o que se oferece o seja também? 
          
          d) Enfim, uma 
          das mortificações mais úteis é a aplicação enérgica e constante ao 
          dever de estado. A ociosidade é má conselheira; o trabalho, pelo 
          contrário, absorvendo-a nossa atividade inteiramente, afasta-nos a 
          imaginação, o espírito e o coração dos objetos perigosos. 
           
          
            
          
          D) A oração.
          a) O Concílio de Trento ensina que Deus não manda nada 
          impossível, mas exige que façamos o que podemos e rezemos para 
          alcançar a graça de fazer o que por nós mesmos não podemos. Esta 
          prescrição aplica-se, sobretudo à castidade que oferece, para a maior 
          parte dos cristãos, ainda quando vivem no santo estado do matrimônio, 
          dificuldades especiais. Para delas triunfar, é mister rezar 
          frequentemente e meditar sobre as grandes verdades; estas ascensões 
          frequentes da alma para Deus desapegam-nos pouco a pouco das alegrias 
          sensuais e levam-nos para as alegrias puras e santas. 
          
          b) À oração 
          deve-se juntar a recepção frequente dos sacramentos, l) Quando um se 
          confessa frequentemente e acusa francamente as faltas ou imprudências 
          cometidas contra a pureza, a graça da absolvição, junta com os 
          conselhos que se recebem, fortifica singularmente a vontade contra as 
          tentações. 2) Esta graça corrobora-se ainda com a comunhão frequente: 
          a união íntima com Aquele, que é Deus de toda a santidade, amortece a 
          concupiscência, torna a alma mais sensível aos bens espirituais e 
          desapega-se assim dos prazeres grosseiros. Pela confissão e comunhão 
          frequentes é que São Filipe Neri curava os jovens, escravos do vício 
          impuro; e ainda hoje não há remédio mais eficaz, tanto para preservar 
          como para fortificar a virtude. Se tantos jovens e donzelas escapam ao 
          contágio do vício, é porque encontram na prática da religião uma arma 
          contra as tentações que os assediam. É certo que esta arma exige 
          coragem, energia, esforços muitas vezes renovados; mas com a oração, 
          com os sacramentos e com uma vontade firme, triunfa-se de todos os 
          obstáculos. 
          
          Santo Afonso Maria 
          de Ligório escreve: 
          “A oração, além disso, é a mais 
          poderosa arma para nos defendermos dos nossos inimigos. Quem não se 
          serve dela, está perdido. Nem duvida o Santo em afirmar que Adão caiu, 
          porque não se recomendou a Deus na hora da tentação. ‘Adão pecou, 
          porque não rezou’. O mesmo escreveu São Gelásio, falando dos anjos 
          rebeldes: ‘Receberam em vão a graça divina... e porque não rezaram... 
          caíram’. 
          São Carlos Borromeu, em 
          uma carta pastoral, adverte que, entre os meios que Jesus Cristo nos 
          recomendou no Evangelho, deu o primeiro lugar à oração. Ele quis que 
          nisso se distinguissem a Igreja Católica das seitas, querendo que de 
          um modo especial ela se chamasse casa de oração. ‘Minha casa será 
          chamada casa de oração’ (Mt 21,13). Conclui São Carlos Borromeu, na 
          mesma carta, que a oração é o princípio, o progresso e o complemento 
          de todas as virtudes. Por isso nas trevas, nas misérias e nos perigos 
          em que nos achamos, não temos nenhum outro em quem fundar nossas 
          esperanças, senão levantar nossos olhos a Deus e pela oração impetrar 
          de sua misericórdia a nossa salvação. ‘Como não sabemos o que devemos 
          fazer, dizia o rei Josafá, não nos resta outro meio do que levantar os 
          nossos olhos para Vós’ (2Cr 20, 12). E assim também fazia Davi, não 
          encontrando outro meio para se livrar dos seus inimigos do que rogar 
          continuamente ao Senhor, que o libertasse de suas ciladas: ‘Os meus 
          olhos se elevam sempre ao Senhor; porquanto Ele tirará o laço de meus 
          pés’ (SI 25, 15). E assim não cessava de rezar o real profeta, 
          dizendo: ‘Olha para mim e tem piedade de mim porque sou pobre e só’. 
          ‘Chamei a ti, Senhor, salva me, para que guarde os teus mandamentos’ 
          (SI 118, 146). ‘Senhor, volvei para mim os vossos olhos, tende piedade 
          de mim e salvai-me, porque sem Vós nada posso e fora de Vós, não 
          encontro quem possa ajudar-me” 
          (A Oração), e:
          “Entre todos os 
          remédios contra as tentações, o mais eficaz e mais necessário, o 
          remédio dos remédios, é suplicar a Deus o seu auxílio e continuar a 
          pedir enquanto durar a tentação”
          (Idem, A Prática do 
          amor a Jesus Cristo). 
          
             
          
            
          
          Pe. Divino Antônio 
          Lopes FP. 
          
          Anápolis, 01 de 
          março de 2008 
          
            
          
          Bibliografia 
          
            
          
          Escritura Sagrada 
          
          Santo Afonso Maria 
          de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo 
          
          Mnr Cauly, Curso de 
          Instrução Religiosa – O Catecismo Explicado 
          
          Catecismo da Igreja 
          Católica 
          
          Santo Afonso Maria 
          de Ligório, A Oração 
          
          Ricardo Sada e 
          Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral 
          
          Adolfo Tanquerey, 
          Compêndio de Teologia Ascética e Mística  
          
          Pe. João Batista 
          Lehmann, Euntes... Praedicate! 
          
          Santo Afonso Maria 
          de Ligório, Preparação para a Morte 
          
            
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