LUXÚRIA: TERCEIRO
VÍCIO CAPITAL
(Mc
7, 22)
“... do coração... procedem... a luxúria”.
FIRME COMO UMA
COLUNA
Vivia em Siracusa, no terceiro século do cristianismo, uma rica e
graciosa jovem chamada Luzia. Os dons da natureza de que estava
adornada, eram nada em comparação com os belos dotes de sua alma. Pura
como um anjo, humilde, modesta, mansa, caridosa, cativava a todos que
dela se aproximavam.
O Cristianismo atravessava, naquela época, dias difíceis, e
professar a fé em Jesus Cristo era considerado um crime digno de
morte. Reconhecida como cristã, Luzia foi conduzida à presença do
governador Pascásio, tristemente célebre por sua ferocidade contra os
cristãos. O tirano, após várias perguntas, vendo que a donzela lhe
respondia sempre com imperturbável coragem, disse-lhe com ar de mofa:
- Quando fores espancada, então te calarás.
Luzia replicou:
- Aos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo não faltarão palavras,
quando estiverem diante dos juízes, porque Ele disse que, em tais
ocasiões, o Espírito Santo, que receberam, falará por eles.
- Então, o Espírito Santo está em ti?
- Sim; todos os que levam vida casta e pura são templos do
Espírito Santo.
- Pois bem; eu te farei cometer um pecado feio para que o Espírito
Santo saia de ti.
- Isto não está em teu poder. Se eu não consinto, a tua violência
brutal só me pode proporcionar uma dupla coroa.
Pascásio, cheio de ira, ordenou aos algozes que a arrastassem a um
lugar de pecado. Mas naquele instante manifestou-se claramente a
virtude do Espírito Santo que estava na casta donzela. Os carrascos
não conseguiram removê-la, pois uma força invisível tornou-a imóvel
como uma coluna.
O tirano teve de a mandar matar ali mesmo.
1.° Natureza.
Assim como quis Deus que andasse anexo um prazer sensível ao alimento,
para ajudar o homem a conservar a vida, assim ligou um prazer especial
aos atos pelos quais se propaga a espécie humana.
Este prazer é,
conseguintemente, permitido às pessoas casadas, contanto que usem dele
para o nobilíssimo fim para que foi instituído o matrimônio, a
transmissão da vida; fora do matrimônio, é rigorosamente interdito
esse prazer. A despeito dessa proibição, há infelizmente em nós, a
partir, sobretudo dos anos da puberdade ou da adolescência, uma
tendência mais ou menos violenta a experimentar esse prazer, até mesmo
fora do matrimônio legítimo. É esta tendência desordenada que se chama
luxúria, e é condenada em dois preceitos do Decálogo: 6.° Guardar
castidade nas palavras e nas obras; 9.° Guardar castidade nos
pensamentos e nos desejos.
Não são, pois,
somente proibidos os atos externos, senão também os atos internos
consentidos: imaginações, pensamentos e desejos. E com toda a razão;
porque, se alguém se demora, de propósito deliberado, em imagens, em
pensamentos desonestos, ou em maus desejos, logo os sentidos se
perturbam, produzindo-se movimentos orgânicos, que muitas vezes serão
prelúdio de atos contrários à pureza. Quem quiser, pois, evitar esses
atos, tem de combater pensamentos e imaginações perigosas.
A luxúria é
um desejo desordenado ou um gozo desregrado do prazer venéreo.
Os pecados contra a
pureza ou pecados de luxúria, podem ser de dois tipos:
a) Luxúria
consumada (se se chega à efusão seminal):
Segundo a
natureza (se dela pode provir novo ser).
Contra a natureza
(por si mesma inapta para a geração).
b) Luxúria não
consumada (não se chega à efusão seminal):
Interna
(pensamentos, desejos, prazer em reviver o passado).
Externa
(olhares, toques, conversas, leituras, beijos; ato impudico em geral).
Os pecados de
luxúria segundo a natureza (união sexual fora do matrimônio) são:
Fornicação: entre
pessoas não casadas. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e
da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos,
bem como para a geração e a educação dos filhos. Além disso, é um
escândalo grave quando há corrupção de jovens.
Adultério: sendo
casado pelo menos um deles. O adultério é uma injustiça. Quem o
comete, falta com seus compromissos, fere o sinal da Aliança que é o
vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e prejudica a
instituição do casamento, violando o contrato que o fundamenta.
Compromete o bem da geração humana e dos filhos, que têm necessidade
da união estável dos pais.
Violação: mediante
violência.
Incesto: com
pessoas de família ou consanguíneos. O incesto corrompe as relações
familiares e indica como que uma regressão à animalidade. Podemos
ligar ao incesto os abusos sexuais perpetrados por adultos contra
crianças ou adolescentes confiados à sua guarda.
Sacrilégio: com
pessoa consagrada a Deus.
Contra a natureza
são:
Masturbação: ato
solitário de efusão seminal.
Onanismo:
união sexual voluntariamente interrompida para vir a acabar em polução.
Sodomia:
relação carnal entre pessoas do mesmo sexo.
Bestialidade:
luxúria praticada com animais.
2.° Gravidade
destas faltas. A) Toda a vez que se quer ou procura
diretamente o prazer mau, o prazer voluptuoso, há pecado mortal. É
que, de fato, é gravíssima desordem pôr em risco a conservação e
propagação da raça humana. Ora, uma vez que se assentasse como
princípio, que é lícito procurar o prazer da carne em pensamentos,
palavras ou ações fora do uso legítimo do matrimônio, seria impossível
pôr freio ao furor desta paixão, cujas exigências aumentam com as
satisfações que se lhe concedem, e dentro em breve seria frustrado o
fim do Criador. É isto, afinal, o que mostra a experiência: quantos
jovens não há que se tornaram incapazes de transmitir a vida, porque
abusaram do seu corpo! Assim, pois, no prazer mau, diretamente
querido, não há ligeireza de matéria.
B) Há casos,
porém, em que esse prazer, sem ser diretamente procurado, se produz em
consequência de certas ações, aliás, boas ou ao menos indiferentes. Se
não se consente nesse prazer, e, por outro lado, há razão suficiente
para praticar a ação que o ocasiona, não há culpa, e, por conseguinte,
não há que recear. Se, porém, os atos que determinam essas sensações,
não são nem necessários nem seriamente úteis, tais como as leituras
perigosas, as representações teatrais, as conversas levianas, as
danças lascivas, é evidente que entregar-se a essas coisas é pecado de
imprudência mais ou menos grave, segundo a gravidade da desordem assim
produzida e do perigo que há de consentimento.
C) Sob o
aspecto da perfeição, não há, depois do orgulho, obstáculo maior ao
progresso espiritual que o vício impuro. a) Solitárias ou
cometidas com outras pessoas, não tardam essas faltas em produzir
hábitos tirânicos, que paralisam todo o ardor para a perfeição e
inclinam a vontade para as alegrias grosseiras. Gosto da oração,
desejo de qualquer virtude austera, aspirações nobres e generosas;
tudo isso desaparece. b) A alma é invadida pelo egoísmo: o
amor, que se tinha para com os pais ou amigos, estiola-se e desaparece
quase completamente; não resta mais que o desejo de gozar, a todo o
preço dos prazeres maus: é uma verdadeira obsessão. c)
Rompe-se, então, o equilíbrio das faculdades: é o corpo, é a volúpia
que manda; a vontade torna-se escrava desta ignominiosa paixão, e
dentro em breve revolta-se contra Deus, que proíbe e castiga esses
prazeres maus.
d)
Os tristes efeitos desta abdicação da vontade bem depressa se fazem
sentir: a inteligência embota-se e enfraquece, porque a vida desceu da
cabeça para os sentidos: desapareceu o gosto dos estudos sérios; a
imaginação já não pode representar senão baixezas; o coração murcha
pouco a pouco, seca, endurece, não tem outros encantos senão os
prazeres grosseiros, e) Muitas vezes até o próprio corpo é
profundamente atingido: o sistema nervoso, excitado por estes abusos,
irrita-se, enfraquece e “torna-se impróprio
para a sua missão de regulação e defesa”
(Laumonier,
op. Cit., p. 111); os diversos órgãos
já não funcionam senão imperfeitamente; a nutrição faz-se mal, as
forças enfraquecem e não anda longe a tuberculose.
É evidente que uma
alma assim desequilibrada, a animar um corpo débil, não só não pode
pensar mais em perfeição, senão que de dia para dia se afasta dela
para mais longe. Muito feliz será ela; se puder entrar em si a tempo
de assegurar ao menos a salvação.
Importa, pois,
indicar alguns remédios para este vicio grosseiro.
3.° Remédios.
Para resistir paixão tão perigosa, requerem-se: convicções profundas,
a fuga das ocasiões, a mortificação e a oração.
A)
Convicções profundas, tanto sobre a necessidade de combater este
vício como sobre a possibilidade de o vencer.
a)
O que dissemos da gravidade do pecado da luxúria mostra bem como é
necessário evitá-lo, para não nos expormos às penas eternas. A estes
motivos se podem acrescentar mais dois, tirados de São Paulo: l)
Somos templos vivos da Santíssima Trindade, templos santificados pela
presença do Deus de toda a santidade e por uma participação da vida
divina. Ora, nada contamina mais este templo que o vício impuro que
profana a um tempo o corpo e a alma do homem batizado. 2) Somos
membros de Jesus Cristo, em quem somos incorporados pelo batismo; e,
por conseguinte, devemos respeitar o nosso corpo como corpo do próprio
Cristo. E havíamos de o profanar com atos contrários à pureza?! Não
seria uma espécie de sacrilégio abominável procurar esse prazer
grosseiro que nos abate ao nível dos irracionais?!
b) Há muitos
que dizem que é impossível praticar a continência. Assim pensava Santo
Agostinho antes da conversão. Convertido, porém, a Deus e sustentado
pelos exemplos dos Santos e pela graça dos Sacramentos, compreendeu
que nada há impossível, quando se sabe rezar e lutar. E é bem verdade:
de nós mesmos, somos tão fracos, e o prazer mau é por vezes tão
atraente, que acabaríamos por sucumbir; mas, desde que nos apoiamos na
graça divina e fazemos esforços enérgicos, saímos vitoriosos das mais
violentas tentações. E não se diga que a continência nos jovens é um
obstáculo à saúde: os médicos honestos respondem com o Congresso
internacional de Bruxelas: “É necessário,
sobretudo ensinar à juventude masculina que a castidade e a
continência não somente não são nocivas, mas ainda que estas virtudes
são recomendáveis sob o aspecto puramente médico e higiênico”.
E, com efeito, não se conhece doença alguma que provenha da
continência, ao passo que são inumeráveis as que têm origem na
luxúria.
B) A fuga das
ocasiões. É um axioma espiritual que a castidade se conserva,
sobretudo pela fuga das ocasiões perigosas: quem está convencido da
própria fraqueza, não se expõe inutilmente ao perigo. Quando estas
ocasiões não são necessárias, é dever evitá-las com cuidado, sob pena
de nelas sucumbir: quem se expõe ao perigo, nele perece. Tratando-se,
pois, de leituras, visitas, encontros, representações perigosas, a que
nos podemos furtar sem inconveniente notável, não há que vacilar: em
vez de as irmos buscar, é fugir delas, como de serpente perigosa. Se
não se podem evitar essas ocasiões, então é fortificar a vontade com
disposições interiores que tornem o perigo menos próximo.
É por isso que São
Francisco de Sales declara que, se não é possível evitar as danças, é
necessário ao menos que sejam acompanhadas de modéstia, dignidade e
reta intenção; e, para que estas perigosas recreações não despertem
maus afetos, é bom pensar que, enquanto vai correndo o baile, estão
muitas almas ardendo no inferno pelos pecados cometidos na dança ou
por causa da dança. Quanto mais verdadeiro é isto hoje em dia, que
essas danças exóticas e lúbricas invadiram tantos salões!
Sobre a fuga das
ocasiões, o Pe. João Batista Lehmann escreve:
“Para fugirmos da ocasião perigosa, devemos
antes de tudo rejeitar a desculpa da ocasião não ser próxima, mas
remota. O que se diz ocasião remota para uns pode ser ocasião próxima
para outros. Além disto convém observar um ponto importantíssimo: que
as ocasiões de pecar são muito mais numerosas para pessoas tementes a
Deus, que para os libertinos. Estes já são calejados de malícia, e não
se impressionam mais com certas conversas, leituras, divertimentos e
espetáculos, que perturbariam as almas simples e puras. Sejamos
rigorosamente contra nós próprios, abstendo-nos de tudo que é mundano,
se quisermos agradar a Nosso Senhor e conservar ilibada a virtude”,
e: “Ataca o inimigo enquanto é
pequeno; arranca a erva ruim, logo que aparece”
(São
Jerônimo).
Santo Afonso Maria
de Ligório escreve: “Em
matéria de prazeres sensuais, a ocasião é como uma venda posta diante
dos olhos e que não permite ver nem propósitos, nem instruções, nem
verdades eternas; numa palavra, cega o homem e o faz esquecer-se de
tudo. Tal foi a perdição de nossos primeiros pais: não fugiram da
ocasião. Deus lhes havia dito que não colhessem o fruto proibido.
‘Ordenou Deus — disse Eva à serpente — que não o comêssemos nem
tocássemos’ (Gn 3,3). Mas o imprudente ‘o viu, o tomou e comeu’.
Começou a admirar a maçã, colheu-a depois com a mão, até que por fim
comeu dela. Quem voluntariamente se expõe ao perigo, nele perecerá (Ecl
3,27). Adverte São Pedro que o demônio anda ao redor de nós,
procurando a quem devorar. Para tornar a entrar numa alma donde foi
expulso, diz São Cipriano, somente aguarda a ocasião oportuna. Quando
a alma se deixa seduzir pela ocasião do pecado, o inimigo se apoderará
novamente dela e a devorará irremediavelmente. O abade Guerico diz que
Lázaro ressuscitou com as mãos e pés atados, e por isso ficou sujeito
à morte. Infeliz daquele que ressuscitar e ficar preso nos laços das
ocasiões do pecado! Apesar de sua ressurreição, tornará a morrer. Quem
quiser salvar-se, precisa renunciar, não somente ao pecado, mas também
às ocasiões de pecado, isto é, deve afastar-se deste companheiro,
daquela casa, de certas relações de amizade… Poderá alguém objetar
que, ao mudar de vida, abandonou inteiramente o fim ilícito em suas
relações com determinadas pessoas e que, portanto, já não há receio de
tentações. A propósito, recordarei o que se conta de certa espécie de
ursos da Mauritânia, que vão à caça de macacos. Estes animais, ao ver
o inimigo, trepam para o alto das árvores. O urso estende-se junto ao
tronco, fingindo-se morto, e quando os macacos, confiados, descem ao
solo, levanta-se, apanha-os e os devora. Tal é a astúcia do demônio:
persuade que as tentações estão mortas e quando os homens condescendem
com as ocasiões perigosas, apresenta-lhes de súbito a tentação que os
faz sucumbir. Quantas almas infelizes, que praticavam a oração, que
frequentavam a comunhão e que se podiam chamar santas, deixaram-se
prender nos tentáculos do inferno, porque não evitaram as más
ocasiões. Lê-se na História Eclesiástica que uma senhora virtuosa, no
tempo da perseguição aos cristãos, dedicava-se à piedosa obra de
recolher e enterrar os corpos dos mártires. Entre eles encontrou um
que ainda respirava. Levou-o para casa, tratou-o e chegou a curá-lo.
Aconteceu, porém, que pela ocasião próxima, essas duas pessoas, que se
podiam chamar santas, perderam primeiramente a graça de Deus e depois
até a fé cristã”
(Preparação para a Morte, Consideração XXXI, Ponto III).
C) Há, porém,
ocasiões que se não podem evitar: são as que encontramos cada dia em
nós e fora de nós, e que não é possível vencer senão pela
mortificação.
a) Com os
olhos é necessário ter resguardo muito particular, porque os
olhares imprudentes inflamam os desejos, e estes arrastam a vontade.
Eis o motivo por que Nosso Senhor Jesus Cristo declara que todo aquele
que põe os olhos numa mulher com concupiscência já cometeu adultério
em seu coração; e acrescenta que, se o nosso olho direito é ocasião de
escândalo, é arrancá-lo, isto é,
afastar energicamente o olhar do objeto que nos escandaliza. Esta
modéstia dos olhos é tanto mais necessária hoje em dia, quanto é mais
certo o perigo de encontrar quase por toda a parte pessoas e objetos
capazes de excitar tentações.
b)
O sentido do tato é ainda mais perigoso porque facilmente
provoca impressões sensuais que tendem a prazeres maus; é necessário,
pois, abster-se desses toques ou carícias que não podem deixar de
excitar as paixões.
c) O coração
deve ser também mortificado pela luta contra as amizades sensíveis e
perigosas. Quanto às pessoas que se preparam para o matrimônio, é
claro que virá um momento em que lhes é permitido ligarem-se por um
amor legítimo, mas que tem de permanecer casto e sobrenatural; devem,
pois, evitar quaisquer sinais de afeição contrários às leis da
decência, refletindo que a sua união, para ser abençoada por Deus, há
de ser pura. Aquelas, porém, que são ainda muito novas para pensarem
no matrimônio, devem, precaver-se contra essas afeições sensíveis e
sensuais, que, amolecendo o coração, o preparam a perigosas
capitulações. Não se brinca impunemente com o fogo. E, depois, se se
exige da pessoa, que se quer esposar, um coração puro, não é de
justiça que o que se oferece o seja também?
d) Enfim, uma
das mortificações mais úteis é a aplicação enérgica e constante ao
dever de estado. A ociosidade é má conselheira; o trabalho, pelo
contrário, absorvendo-a nossa atividade inteiramente, afasta-nos a
imaginação, o espírito e o coração dos objetos perigosos.
D) A oração.
a) O Concílio de Trento ensina que Deus não manda nada
impossível, mas exige que façamos o que podemos e rezemos para
alcançar a graça de fazer o que por nós mesmos não podemos. Esta
prescrição aplica-se, sobretudo à castidade que oferece, para a maior
parte dos cristãos, ainda quando vivem no santo estado do matrimônio,
dificuldades especiais. Para delas triunfar, é mister rezar
frequentemente e meditar sobre as grandes verdades; estas ascensões
frequentes da alma para Deus desapegam-nos pouco a pouco das alegrias
sensuais e levam-nos para as alegrias puras e santas.
b) À oração
deve-se juntar a recepção frequente dos sacramentos, l) Quando um se
confessa frequentemente e acusa francamente as faltas ou imprudências
cometidas contra a pureza, a graça da absolvição, junta com os
conselhos que se recebem, fortifica singularmente a vontade contra as
tentações. 2) Esta graça corrobora-se ainda com a comunhão frequente:
a união íntima com Aquele, que é Deus de toda a santidade, amortece a
concupiscência, torna a alma mais sensível aos bens espirituais e
desapega-se assim dos prazeres grosseiros. Pela confissão e comunhão
frequentes é que São Filipe Neri curava os jovens, escravos do vício
impuro; e ainda hoje não há remédio mais eficaz, tanto para preservar
como para fortificar a virtude. Se tantos jovens e donzelas escapam ao
contágio do vício, é porque encontram na prática da religião uma arma
contra as tentações que os assediam. É certo que esta arma exige
coragem, energia, esforços muitas vezes renovados; mas com a oração,
com os sacramentos e com uma vontade firme, triunfa-se de todos os
obstáculos.
Santo Afonso Maria
de Ligório escreve:
“A oração, além disso, é a mais
poderosa arma para nos defendermos dos nossos inimigos. Quem não se
serve dela, está perdido. Nem duvida o Santo em afirmar que Adão caiu,
porque não se recomendou a Deus na hora da tentação. ‘Adão pecou,
porque não rezou’. O mesmo escreveu São Gelásio, falando dos anjos
rebeldes: ‘Receberam em vão a graça divina... e porque não rezaram...
caíram’.
São Carlos Borromeu, em
uma carta pastoral, adverte que, entre os meios que Jesus Cristo nos
recomendou no Evangelho, deu o primeiro lugar à oração. Ele quis que
nisso se distinguissem a Igreja Católica das seitas, querendo que de
um modo especial ela se chamasse casa de oração. ‘Minha casa será
chamada casa de oração’ (Mt 21,13). Conclui São Carlos Borromeu, na
mesma carta, que a oração é o princípio, o progresso e o complemento
de todas as virtudes. Por isso nas trevas, nas misérias e nos perigos
em que nos achamos, não temos nenhum outro em quem fundar nossas
esperanças, senão levantar nossos olhos a Deus e pela oração impetrar
de sua misericórdia a nossa salvação. ‘Como não sabemos o que devemos
fazer, dizia o rei Josafá, não nos resta outro meio do que levantar os
nossos olhos para Vós’ (2Cr 20, 12). E assim também fazia Davi, não
encontrando outro meio para se livrar dos seus inimigos do que rogar
continuamente ao Senhor, que o libertasse de suas ciladas: ‘Os meus
olhos se elevam sempre ao Senhor; porquanto Ele tirará o laço de meus
pés’ (SI 25, 15). E assim não cessava de rezar o real profeta,
dizendo: ‘Olha para mim e tem piedade de mim porque sou pobre e só’.
‘Chamei a ti, Senhor, salva me, para que guarde os teus mandamentos’
(SI 118, 146). ‘Senhor, volvei para mim os vossos olhos, tende piedade
de mim e salvai-me, porque sem Vós nada posso e fora de Vós, não
encontro quem possa ajudar-me”
(A Oração), e:
“Entre todos os
remédios contra as tentações, o mais eficaz e mais necessário, o
remédio dos remédios, é suplicar a Deus o seu auxílio e continuar a
pedir enquanto durar a tentação”
(Idem, A Prática do
amor a Jesus Cristo).
Pe. Divino Antônio
Lopes FP.
Anápolis, 01 de
março de 2008
Bibliografia
Escritura Sagrada
Santo Afonso Maria
de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo
Mnr Cauly, Curso de
Instrução Religiosa – O Catecismo Explicado
Catecismo da Igreja
Católica
Santo Afonso Maria
de Ligório, A Oração
Ricardo Sada e
Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral
Adolfo Tanquerey,
Compêndio de Teologia Ascética e Mística
Pe. João Batista
Lehmann, Euntes... Praedicate!
Santo Afonso Maria
de Ligório, Preparação para a Morte
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