POIS A MINHA CARNE É VERDADEIRAMENTE UMA COMIDA
(Jo
6, 55)
Assim como o alimento corporal é necessário para a vida terrena, a Sagrada Comunhão é necessária para manter a vida da alma. Por isto a Igreja exortou sempre a receber este Sacramento com frequência: "Diariamente, como é de desejar, os fiéis em grande número participem ativamente no Sacrifício da Missa, alimentem-se com coração puro e santo da Sagrada Comunhão, e dêem graças a Cristo Nosso Senhor por tão grande dom. Recordem estas palavras: O desejo de Jesus e da Igreja de que todos os fiéis se aproximem diariamente do sagrado banquete consiste, sobretudo, nisto: que os fiéis, unidos a Deus em virtude do sacramento, tirem dele força para dominar a sensualidade, para se purificarem das culpas leves quotidianas e para evitar os pecados graves, a que está sujeita a humana fragilidade" (Decr. da S. Congregação do Concílio de 20-XII905) (Mysterium fidei). São Francisco de Sales escreve: "O Salvador instituiu o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, que contém realmente a Sua Carne e o Seu Sangue, para que aquele que comer d'Ele viva eternamente; por isso, todo aquele que usa devota e frequentemente deste Sacramento assegura de tal maneira a salvação da sua alma, que é quase impossível que qualquer sorte de má afeição lhe ocasione a morte. Não se pode estar alimentado por esta carne de vida e viver dos afetos da morte (...). Os cristãos que se condenarem ficarão sem saber que replicar quando o justo Juiz lhes fizer ver os insensatos que foram morrer espiritualmente, podendo ter conservado com tanta facilidade a saúde da alma comendo do Corpo que Ele lhes deixou para este fim. Miseráveis, dir-lhes-á, como é que estais mortos, tendo-vos mandado comer o fruto e manjar da vida?" (Introdução à Vida Devota, p. II, c. 20,1), e: "Com que ardor deseja Jesus Cristo vir a nós pela Santa Comunhão! 'Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer'. Desejei ardentemente, falou Ele naquela noite em que instituiu este sacramento de amor. Diz São Lourenço Justiniano: O amor que nos tinha o forçou a falar assim. Para que facilmente cada um pudesse recebê-lo, quis ficar sob as aparências de pão. Se Ele tivesse ficado sob a aparência de algum alimento raro, ou de preço elevado, os pobres ficariam privados dele. Mas não, Jesus quis ficar sob as aparências de pão: custa pouco, em toda parte se encontra, todos poderão achá-lo e recebê-lo em qualquer lugar do mundo. Para que nos animemos a recebê-lo na Sagrada Comunhão, Ele nos exorta com muitos convites: 'Vinde comer o pão e beber o vinho que vos preparei. Comei, amigos e bebei', referindo-se à Eucaristia. Impõe-nos ainda como preceito: 'Tomai e comei: isto é o meu corpo'. Atrai-nos ainda com a promessa do paraíso para que o recebamos: 'Quem come a minha carne, tem a vida eterna. Quem come este pão viverá para sempre'. Ameaça-nos com o inferno, com a exclusão do céu, se nos recusarmos a comungar: 'Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós'. Estes convites, promessas e ameaças, nascem todos do grande desejo que Ele tem de vir a nós neste Sacramento. Mas por que Jesus Cristo deseja tanto que o recebamos na Sagrada Comunhão? Eis a razão. Diz São Dionísio que o amor sempre aspira e tende à união. Os amigos, que se amam de coração, querem estar unidos de tal modo que formem uma só pessoa, diz Santo Tomás. Ora, isto fez o imenso amor de Deus para com os homens. Deus não só se dá a Eles no reino eterno, mas já neste mundo se deixa possuir pelos homens na união mais íntima possível. Dá-se todo sob as aparências de pão no sacramento da Eucaristia. Ali está como atrás de um muro e dali nos olha como através de apertadas grades: 'Ei-lo atrás de nossas paredes, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades'. Ainda que nós não o vejamos, Ele de lá nos observa e lá está realmente presente. Está presente para deixar-se possuir por nós mas se esconde para que o desejemos. Enquanto não chegamos até o paraíso, Jesus Cristo quer dar-se todo a nós e estar intimamente unido conosco" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, cap. II). Um protestante, meu amigo de infância, homem sincero e de absoluta boa fé, assim me escreveu: "Confesso que de uns tempos para cá não tenho tido um minuto de sossego. Como você sabe, sou um crente evangélico sincero. Fui educado desde pequeno no meio protestante. Conheço as virtudes e os erros da minha gente. Reconheço que há, entre nós, montanhas de preconceitos contra a Igreja de Roma. Tenho dúvidas atrozes. E quando contemplo esse espantoso entusiasmo dos católicos pelos seus congressos eucarísticos; essas manifestações públicas de amor a Jesus Cristo; essa unidade doutrinária que tanto invejamos e tão fortemente contrasta com as nossas divisões e subdivisões; quando considero o permanente milagre da imortalidade dessa Igreja que eu odeio e que me seduz, que eu paradoxalmente combato e respeito, eu sinto, no íntimo, um desejo imenso de não me constituir exceção, de não mais erguer a minha voz para perturbar a harmonia nacional... de me integrar, enfim, nessa Igreja, que é, de fato, a única que tem 'um só Senhor, uma só fé, um só batismo' ... Em consciência, porém, não o poderei fazer enquanto perdurarem essas dúvidas que tanto me angustiam". E entra a falar do dogma da transubstanciação: "Não me é possível acreditar que o corpo e o sangue de Cristo estejam na hóstia que o padre consagra. Continuo a considerar o pão e o vinho da Santa Ceia apenas como símbolos e não como sendo carne, músculos e ossos do Redentor. Escreva-me a respeito. E ore sempre por mim". Eis a resposta que enviei a essa alma sequiosa de luz e de verdade. É uma carta escrita rapidamente, decalcando, aliás, em alguns pontos, o célebre sermão de Monsabré sobre a Santíssima Eucaristia. Meu querido amigo: O final de sua carta me lembrou Santo Agostinho. No livro VI das Confissões, cap. 3 e 4, fala-nos o grande Doutor da Igreja da imensa alegria que lhe inundou o pobre "coração parturiente" ao descobrir que combatera levianamente não o ensino da Igreja, mas aquilo que ele tinha como tal: "Confundia-me, convertia-me e alegrava-me, meu Deus, porque a vossa única Igreja, corpo do vosso único Filho, onde, sendo eu menino, puseram sobre mim o nome de Cristo, não tinha ressaibo daquelas fábulas pueris". Semelhante satisfação terá o meu amigo ao verificar que nos repugna também aos católicos a idéia cafarnaítica da manducação de ossos e músculos na recepção do Santíssimo Sacramento. Não é isto, porém, que a Igreja ensina. O que nós cremos é que o Santíssimo Corpo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo está presente no Sacramento do Altar em força de substância. Você gostaria de ler o estupendo sermão de Monsabré sobre a Divina Eucaristia. O intróito é uma substanciosa lição sobre ... substância. Não se melindre em lhe recordar o que seja substância. Substância é o que faz com que uma coisa seja o que é e não outra. Vemos na árvore os acidentes, mas não vemos a substância da árvore. Além de invisível, a substância dum corpo, em si, não é grande nem pequena: todas as substâncias da terra poderiam subsistir, enquanto substância, sob o perisperma dum grão de milho. A substância do ar, enquanto substância, existe toda inteira na bolha de ar que uma criança aspira do mesmo modo que na imensa atmosfera em meio da qual gira o mundo. A substância da água, enquanto substância, existe toda inteira em cada gota de chuva como no vasto oceano em que vegetam bosques e se banham monstros. A substância humana, enquanto substância, está toda inteira no corpo frágil duma criança como no de um homem de um metro e oitenta de altura e cem quilos de peso. A substância do trigo, enquanto substância, está toda inteira num só grão como nos celeiros em que se guardam as grandes colheitas. Incendeiem-se todos os celeiros do mundo; salve-se, porém, um só grão, e ele nos restituirá tudo aquilo que perdemos. Não admira, pois, que o Corpo de Nosso Senhor possa estar, no estado de substância, na Santa Hóstia como também em cada parte das espécies, da mesma forma, aliás, como em cada parte do pão está inteira a substância do pão que o Salvador Onipotente transforma na substância do Seu Corpo Santíssimo. Feitas essas considerações, passemos para o terreno bíblico, no qual me sinto perfeitamente à vontade. Abramos o Evangelho do discípulo amado e vejamos o que diz o versículo 41 do capítulo sexto: "Murmuravam de Jesus os judeus por ter dito: 'Eu sou o pão vivo que desceu do céu'. Diziam: 'Não é este, porventura, Jesus, filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como diz, pois: Eu desci do céu?" Jesus, porém, insiste: "Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, porém morreram. Mas o pão que desce do céu é tal que quem dele come não morre. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que darei é a minha carne para a vida do mundo" (Jo 6, 48-51). Jesus afirma claramente a superioridade desse novo manjar sobre o maná do deserto. Se a Eucaristia, diz o Cardeal Gibbons, constasse apenas de pão e vinho comemorativos, seria realmente inferior ao maná; pois este era uma comida sobrenatural, celeste e miraculosa, enquanto que o pão e o vinho são uma comida natural e terrestre. Nessa altura, compreendendo o alcance e a significação da linguagem de Jesus, protestam os ouvintes escandalizados: "Como pode este dar-nos a comer a sua carne?" Exatamente a pergunta de certos racionalistas de hoje. Jesus, porém, em vez de acalmar o auditório, em vez de explicar que falava em sentido figurado, agrava ainda mais a situação: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia; porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e eu nele. Do mesmo modo que o Pai me enviou e como eu vivo pelo Pai, assim também viverá por mim quem me receber em alimento. Este é o pão que desceu do céu; não é como o maná que vossos pais comeram, porém morreram. Quem come este pão viverá eternamente". O auge do escândalo, não é verdade? Não era possível falar mais claro. É verdadeira a doutrina católica, não acha você que era mesmo desta forma que deveria ter falado Nosso Senhor? Por isso, "muitos dos seus discípulos que o tinham escutado disseram: "É dura esta linguagem; quem a pode ouvir?" Aliás, fosse o discurso interpretado figurativamente, não seria assim tão "duro" nem os teria levado a abandonar tal Mestre. Jesus, porém, pergunta: "Isto vos escandaliza? E se virdes subir o Filho do Homem para onde estava antes?" Imagino que neste momento esteja você a retrucar: "Mas Jesus disse: - O espírito é que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que vos disse são espírito e vida". Sim, de fato Nosso Senhor declarou que a carne nada vale. Mas, como observa muito bem o pastor luterano Dr. Rodolfo Hasse, não disse isso a respeito da Sua carne. Se Ele afirmasse: "A minha carne nada vale", se nada valesse a Carne que, consoante Sua própria declaração, Ele deu "para a vida do mundo", ruiriam por terra até mesmo os outros dogmas que o protestantismo ainda aceita... E sentido figurado teria, outrossim, o "subir o Filho do Homem para onde estava antes". Voltemos, porém, ao texto, que, aliás, a nosso ver, anula a interpretação figurativa, por isso que, mesmo depois dessas palavras de Nosso Senhor, continuaram os discípulos a entender em sentido literal o discurso do Mestre. Tanto assim que, "a partir daí, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com Ele". Tivessem sentido figurado as palavras de Nosso Senhor - a minha carne é verdadeiramente comida, o meu sangue é verdadeiramente bebida -, não acha você que o Bom Pastor se explicaria mais claramente, não consentindo se tresmalhassem tantas ovelhas do Seu Rebanho? Entretanto não só permite, mas ainda, voltando-se para os apóstolos, pergunta: "Quereis também vos retirar?" Preferia ficar inteiramente só a explicar "zuinglianamente" o sentido de suas palavras ... Em sua Primeira Epístola aos Coríntios (11, 23) descreve São Paulo o cumprimento da Grande Promessa feita por Nosso Senhor na Sinagoga de Cafarnaum: "O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, havendo dado graças, o partiu e disse: Tomai e comei; ISTO É O MEU CORPO, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim". Da mesma forma, depois da ceia tomou o cálice dizendo: "Este cálice é o Novo Testamento em meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes". E o Apóstolo, divinamente inspirado, acrescenta: "Quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se pois o homem a si mesmo e assim coma deste pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe indignamente, come e bebe a sua própria condenação, não discernindo o Corpo do Senhor". A Igreja Católica sempre interpretou literalmente as palavras do onipotente Salvador. Os luteranos, com a sua doutrina da consubstanciação, aceitam a presença real do Corpo e do Sangue de Jesus "em, com e sob o pão e o vinho". Calvino pregou a teoria da presença dinâmica. Zuinglio, porém, foi mais além, ensinando que as palavras de Nosso Senhor não tinham o sentido que sempre e universalmente se lhes deu, mas apenas sentido figurado, isto é, que a expressão isto é o Meu Corpo, quer dizer: isto representa o Meu Corpo. Ora, quando Jesus falava figurativamente, suas palavras eram logo seguidas do sentido que tinham. Por exemplo: quando disse - "Guardai-vos do fermento dos fariseus" -, explicou a seguir "que é a hipocrisia". Quando declarou: "Destruí este templo e em três dias o reedificarei", explica o evangelista "falava do templo do seu corpo". Contudo, após essas assombrosas palavras: - "ISTO É O MEU CORPO" - não há explicação alguma! Outro motivo que nos obriga a interpretar literalmente as palavras de Jesus: é que na língua que o Mestre falava, há mais de quarenta verbos para exprimir a idéia de representar! E Nosso Senhor desprezou esses quarenta verbos para usar o verbo ser! Justo considerar, outrossim, que nas proximidades da morte não se usa linguagem figurada, mormente ao se fazer um testamento. Tão pouco é lícito interpretar em sentido figurado palavras testamentárias. E não é, porventura, a Santíssima Eucaristia o Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo? Já percebeu também o meu caro amigo que a interpretação figurativa das palavras de Nosso Senhor implicará necessariamente a negação da sua onipotência, da sua onisciência e da sua misericórdia? Senão vejamos: Jesus Cristo, onisciente, sabia perfeitamente que as ambiguidades prejudicariam enormemente a Sua Família; quebrariam a paz e a união que Ele tanto almejava. Sabia também que os apóstolos, habituados à Sua linguagem, haviam compreendido que o Mestre tinha de se exprimir claramente antes de Sua morte e tanto assim que diziam depois de lhe ouvirem os últimos discursos: "Eis que agora falas abertamente. E nada dizes por parábolas e não é necessário que ninguém te interrogue" (Jo 16,29-30). Certos os zuinglianos, estaria mergulhada quase toda a cristandade na mais grosseira de todas as idolatrias. E os luteranos também... E por quê? Por culpa... de Nosso Senhor; não lhe parece? Porque Ele não foi claro; porque desprezou mais de quarenta verbos que significam representar, para usar impropriamente, o verbo ser; porque, quando já não se expressava por parábolas, sabendo que os discípulos estavam entendendo literalmente as suas palavras, quando fazia o seu Testamento, usou... linguagem figurada!!!! E mais: sabendo que, no futuro, a maioria absoluta dos cristãos interpretaria literalmente as palavras da Consagração! Veja até onde iremos ao analisar mais a fundo a teoria de Zuinglio, rejeitada, aliás, por João Calvino e anatematizada por Lutero. E além de negarem implicitamente a onipotência, a onisciência e a misericórdia de Cristo nosso Redentor, parece não perceberem os zuinglianos que, logicamente, teriam de concluir pela... insinceridade de Nosso Senhor... que pede insistentemente, repetidamente na Sua Oração Pontifical que os discípulos sejam um, que sejam perfeitos na unidade (Jo 17, 11-26) e, no entanto; com Suas palavras propositadamente e inexplicavelmente figuradas, lança, Ele mesmo, o germe da discórdia e da mais horrenda idolatria! Admitindo a interpretação zuingliana, estaríamos considerando desastrada a obra de Cristo e por culpa do próprio Cristo, que se não explicou claramente quando podia e quando mais do que nunca o deveria fazer. São as conclusões lógicas a que você chegará se quiser estudar o assunto acuradamente, à luz da Bíblia. Aliás, se as espécies sacramentais não passassem de figura, seria inadmissível que alguém se tornasse réu do Corpo do Senhor pelo fato de comungar indignamente. Então desrespeitar o retrato do Presidente será o mesmo que assassiná-lo? Pois a Bíblia diz, de modo claríssimo, que aquele que comunga indignamente se torna "réu do Corpo e do Sangue do Senhor, não discernindo o Corpo do Senhor". E que dizem da Eucaristia os primeiros Padres da Igreja, discípulos dos Santos Apóstolos, que preferiam morrer a negar o menor artigo de sua fé? De capital importância o testemunho desses campeões da Verdade, que professavam a mesmíssima doutrina que os católicos de hoje sustentamos a respeito da Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Santíssima Eucaristia. Impossível reproduzir, num espaço desse, mais do que umas poucas frases de alguns dos vultos mais representativos do pensamento cristão nos primeiros séculos da nossa era. Assistamos reverentes, pois, a esse rápido e impressionante desfile de Santos e Doutores, que nos dirão da crença da Igreja Antiga em relação à Divina Eucaristia: SANTO INÁCIO de ANTIOQUIA: "... a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a mesma que padeceu pelos nossos pecados" (Carta aos cristãos de Esmirna). SÃO JUSTINO: "Este alimento chamamos Eucaristia; do qual não é lícito participar senão o que crê que nossa doutrina é verdadeira e que tenha sido purificado com o batismo para perdão dos pecados e para regeneração, e viva como Cristo ensinou. Porque estas coisas não as tomamos como pão ordinário e bebida ordinária senão que, assim como, pelo Verbo de Deus, havendo-se encarnado Jesus Cristo Nosso Salvador, teve carne e sangue para nossa salvação, assim também se nos ensinou que o alimento eucaristizado mediante a palavra da oração procedente d'Ele... é a carne e o sangue daquele Jesus, que encarnou" (Apol. primeira - Goodspeed, 74 ss; QUASTEN, 14-21; MG 6, 428 s. 432). SANTO IRENEU: "... Ele tomou o pão, que é algo da criação e deu graças dizendo: 'Isto é o meu corpo'. E da mesma maneira afirmou que o cálice, que é da nossa criação terrena, era seu sangue; e ensinou a nova oblação do Novo Testamento, a qual, recebendo-a dos apóstolos a Igreja, oferece em todo o mundo a Deus... acerca da qual Malaquias profetizou" (segue-se o conhecido texto de Malaquias 1,11). TERTULIANO: "A carne se alimenta com o corpo e o sangue de Cristo para que a alma se nutra de Deus" (Sobre a ress. da carne - KROYMANN: CSEL 47,3 pág. 36 s; OEHLER, 2, 478; ML 2, 806 A-B). SANTO ATANÁSIO: "Verás os levitas que levam os pães e o cálice com o vinho e o colocam sobre a mesa. Enquanto não terminarem as preces e invocações, é pão somente e cálice; mas uma vez terminadas as grandes e admiráveis preces, então o pão se faz corpo e o cálice sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo". SANTO AMBRÓSIO: "Este pão é pão antes das palavras sacramentais; mas uma vez que receba a consagração, de pão se faz carne de Cristo" (Dos sacramentos, C. 4 n. 14 - Textos Euc. Primitivos, vol. I pág. 362-363). "Talvez digas: Vejo outra cousa. Como me asseguras que recebo o corpo de Cristo?... Moisés levava em sua mão uma vara; lançou-a ao chão e ela se transformou numa serpente. Segura a serpente pela cauda e eis que volta a ser o que por natureza era. Vês, pois, como, pela virtude do profeta, duas vezes se transmudou a natureza da serpente. Corriam límpidas as águas dos rios do Egito; de repente salta o sangue dos mananciais ... Logo, pela oração do profeta, cessa o sangue nos rios, correndo novamente a água natural. Por todos os lados estava bloqueado o povo hebraico, de um lado pelos egípcios, de outro pelo mar. Levanta Moisés a sua vara e a água se separa e se congela, formando-se, entre verdadeiras muralhas, uma estrada transitável. O Jordão, retrocedendo contra a natureza, volta à sua fonte. Não está bem claro que se mudou a natureza das águas do mar e do curso dos rios? Andava sedento o povo; tocou Moisés uma pedra e dela jorrou água cristalina. Não operou a graça sobrenatural, fazendo com que da pedra saísse a água que ela por si não tem? O rio Mara era tão amargo que o povo não podia dessedentar-se. Deita Moisés um madeiro à água e esta perde instantaneamente o amargor... Nos tempos do profeta Eliseu cai na água o ferro do machado de um dos filhos dos profetas, afundando-se incontinente. Corre suplicante a Eliseu o que perdera o ferro. Lança Eliseu um pau à água e o ferro aparece, fato, como vemos, preternatural, por isso que, por sua natureza, mais pesado é o ferro do que a água. Donde concluímos que mais poderosa é a graça do que a natureza... Se tanto pode a bênção de um homem, que chegou a mudar a própria natureza, que diremos da consagração divina, na qual operam as palavras de Nosso Senhor? Pois este Sacramento que recebes se faz com as palavras de Cristo. Ora, se tanto pôde a palavra de Elias, que fez baixar o fogo do céu, não poderá a palavra de Cristo mudar a natureza dos elementos? Das obras do universo leste que "Ele falou e foram feitas, Ele mandou e foram criadas. POIS A PALAVRA DE CRISTO, QUE PÔDE FAZER DO NADA O QUE NÃO ERA, NÃO PODE MUDAR AS COISAS QUE SÃO NAQUILO QUE NÃO ERAM?" (Dos Mistérios, 50-52). SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Tanto escreveu o príncipe dos oradores cristãos a respeito do Santíssimo Sacramento, que foi cognominado "o Doutor da Eucaristia". Dificílimo, porém, destacar uma frase dentre as muitíssimas que pronunciou sobre o assunto. Focalizaremos, por isso, um ou outro pensamento do insigne Patriarca: "Quantos dizem agora: Quisera ver sua forma, sua figura, seus vestidos, seu calçado!' Pois ei-lo aí, que O vês e O tocas e O comes. Desejas ver os seus vestidos, mas Ele se te dá a Si mesmo, não só para que O vejas mas para que O toques e O comas e O recebas dentro de ti" (Hom. 82). "Saiamos, pois, daquela mesa como leões, respirando fogo, terríveis para Satanás, com o pensamento fixo em nosso Capitão e no amor que nos mostrou. Na verdade, muitas vezes os pais entregam os filhos para que outros os sustentem. Eu, porém, - diz Ele -, os alimento com minha própria carne, a Mim mesmo me dou como alimento" (Hom. 46). "Pois a minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue verdadeiramente bebida' (Jo 6, 55). Que quer dizer isto? Significa que este é o alimento verdadeiro que conserva a alma, ou que devem crer em suas palavras de modo a estarem seguros de que não fala por enigmas ou parábolas, mas que na realidade há que comer-se o Seu corpo" (Hom. 47). SÃO JERÔNIMO: "... o pão que o Senhor partiu e deu aos seus discípulos é o corpo do Salvador, pois lhes disse Ele: "Tomai e comei, isto é o meu corpo" (Carta 120; a Hebidia). "Santo Exupério, bispo de Tolosa, a exemplo da viúva de Sarepta, faminto, dá de comer aos outros; e com o rosto macerado pelos jejuns, atormenta-se com a fome alheia... Ninguém mais rico do que ele, que leva o Corpo do Senhor num cestinho de vime e o Sangue num recipiente de cristal" (Carta 125, ao monge Rústico). SANTO AGOSTINHO: "Isto que agora estás vendo sobre o altar de Deus é pão e vinho; mas este pão e este vinho, juntamente com a Palavra, se muda no corpo e no sangue do Verbo... "Porque sofreu por nós, encomendou à nossa veneração o seu corpo e o seu sangue neste Sacramento". "E, em seguida, vem, entre as preces santas que terás de ouvir, o fazer, por virtude da Palavra, o corpo e o sangue de Cristo. Se prescindes da Palavra, o pão é pão, e o vinho é vinho. Acrescenta a Palavra e já é outra coisa. Que outra coisa? O corpo e o sangue de Cristo. Prescinde, digo, da Palavra, e o pão é pão, e o vinho é vinho. Acrescenta a Palavra e teremos o Sacramento" (Sermão sobre os sacramentos no domingo da Páscoa - Textos Euc. Primitivos, Pe. J. Solano, S. J. - B. A. C. págs. 218 e 220). SÃO CIRILO de ALEXANDRIA: "E disse (Jesus) de modo demonstrativo: Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue, para que não penses que as coisas que aparecem sejam uma figura; mas, por um ato inefável do Deus onipotente, as oblações são realmente transformadas no corpo e no sangue de Cristo; e nós, participando delas, recebemos a força vivificadora e santificadora de Cristo" (Coment. a S. Mat.). "Ele mesmo disse: 'Eu sou o pão vivo, que desceu do céu; o que comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei é a minha própria carne. Em verdade vos digo que se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós'. Portanto, se comermos a carne de Cristo, o Salvador de todos nós, e bebermos seu precioso sangue, temos a vida em nós; tornamo-nos como que uma só coisa com Ele, permanecendo Nele e, ao mesmo tempo, tendo-O em nós" (Coment. a S. Lucas). "Porque o alimento do maná serve para mui breve tempo, e uma vez satisfeita a necessidade do corpo e afugentada a fome já não serve para nada, por isso que não pode dar a vida eterna aos que o comem. Não era, pois, verdadeiro alimento nem pão do céu, evidentemente. O Santo Corpo de Cristo, porém, é realmente o verdadeiro alimento, que nutre para a imortalidade e para a vida eterna" (Coment. a S. João). "O que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele'. Porque assim como, ao se fundirem dois pedaços de cera, fica um totalmente no outro, assim, da mesma maneira, creio eu, o que recebe a carne de Cristo, nosso Salvador, e bebe seu precioso sangue, como Ele mesmo disse, forma como que uma mesma coisa com Ele, mesclado e de certo modo confundido com Ele, ficando ele em Cristo e Crispo nele" (Coment. a S. João).
Pe. Divino Antônio Lopes FP Anápolis, 29 de abril de 2008
Bibliografia
Bíblia Sagrada São Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota Eurípides Cardoso de Menezes, Aos irmãos separados Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo
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